terça-feira, 1 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3008: O caso do embaixador de Portugal em Bissau (4): Não ao linchamento popular... (João Tunes / J. Mexia Alves)

1. Mensagem do João Tunes, cujo reaparecimento no nosso blogue eu só posso saudar, com amizade e apreço [O João está habitualmente no seu blogue Água Lisa (6)]:

Caro Luís,

Tenho assistido perplexo a esta guerra contra o embaixador português na Guiné. Decerto uma guerra fundamentada e justa, do ponto de vista dos seus promotores e dos indignados seguidores. Mas com uma componente emocional desbragada e uma tremenda carga agressiva nas palavras como se meio mundo desatasse, por um incidente que não testemunhou, à morteirada contra os muros da nossa embaixada em Bissau.

Claro que não ponho em causa o testemunho do Pepito nem da filha. Muito menos a gravidade da invocada falta de educação. Mas custa-me que se fuzile um embaixador português sem direito a legítima defesa, como me custaria para qualquer comum cidadão, delinquente que fosse. O MNE tem um orgão de fiscalização da actividade diplomática (não sei como se chama mas sei que o tem). Não seria mais correcto dirigir para aí a exigência da abertura de um inquérito à ocorrência e depois o apuramento das responsabilidades? Porque, como está a ser, não passa de um linchamento por justiça popular. Façam-no se o blogue para aí se voltar, mas fica aqui dito que não alinho em condenações sumárias. A mim basta-me fazer-te chegar esta declaração pois já não tenho idade para andar a dar tiros em embaixadores em incidentes que implicam no relacionamento do nosso país com países estrangeiros, o que pressupõe uma gravidade de intervenção que não se compadece com a leviandade de seguir-se a reboque da versão de uma das partes.

Abraço do
João Tunes

2. Também o Joaquim Mexias Alves nos acaba de mandar a seguinte mensagem sobre o caso do Embaixador de Portugal em Bissau:

Caro Luís e Camaradas;

Este caso do Embaixador tem andado a incomodar-me e tenho procurado palavras para exprimir o que queria dizer.

Já não preciso, pois o João Tunes encarregou-se disso, por isso, pedindo-lhas emprestadas, faço minhas as suas palavras.

É preciso saber tudo, o que aconteceu, o que pode ter acontecido, e o que já podia ter acontecido antes.

Os serviços respectivos que investiguem e decidam em conformidade, informando os interessados.

Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves

3. De igual modo o J. L. Vacas de Carvalho, nos manda dizer: "Por mim aguardo até saber mais detalhes. Zé Luis"...


O Zé Luís, que é amigo da mulher do senhor embaixador, já nos tinha dito que ele, o senhor embaixador, era a educação em pessoa.. E eu respondi-lhe que, no mínimo, ele não fora feliz connosco, em Bissau, durante o Simpósio Internacional de Guileje (29/2 a 1/7/2008) e não parece ter sido educado para com uma lusoguineense e para com dois outros nossos amigos guineenses...

4. Comentário de L.G.:

Sou particularmente sensível às palavras do João Tunes: temos que saber gerir as nossas emoções, e nomeadamente em público, no blogue... Falei originalmente em "assobios e pateadas". Claro que estava a falar em termos metafóricos... Não quis inflamar a caserna e, muito menos, incentivá-la a pegar na G3 e no morteiro 60... Manifestei a minha solidariedade à Cristina, ao Pepito e à Isabel Miranda... Manifestei também a minha indignação (e é difícil fazê-lo sem alguma emoção, já que nenhum de nós é propriamente um animal de sangue frio...). Mas também estabeleci os meus próprios limites e as minhas regras. Retomo o que então escrevi (1):

(...) Pepito: Não conheço senão a tua versão dos acontecimentos. Todos os conflitos têm o verso e o reverso. Não creio, todavia, que tenham sido dadas quaisquer explicações (muito menos apresentadas desculpas) pelo senhor embaixador ou pela embaixada, relativamente a este incidente... Mas, conhecendo-te como te conheço, acredito na tua palavra e na tua versão dos factos. Herdaste do teu pai a verticalidade, a coragem e a honestidade intelectual. Não irias seguramente fazer deste incidente um caso público, a não ser por razões de dignidade (...).

Estou (ou estava na altura) seguramente mais preocupado com os nossos amigos guineenses e com as pequenas mazelas e sequelas que, eventualmente, este caso (algo insólito) possa (ou pudesse) ter nas relações de amizade e de cooperação entre nós todos... É fundamental que a Embaixada de Portugal em Bissau seja uma referência e um motivo de orgulho para todos nós, portugueses e guineenses. Quanto à falta de consideração e de respeito pelos antigos combatentes, a começar pelo Terreiro do Paço... bom, a isso infelizmente já estamos de há muito habituados. Não devíamos estar, mas estamos...

Resta-me dar, aqui, por encerrado este caso, a menos que os próprios serviços de relações públicas da Embaixada de Portugal em Bissau queiram - o que me parece de todo improvável - appresentar e divulgar, através do nosso blogue, a sua versão dos acontecimentos.

Não sei como funcionam os nossos representantes diplomáticos, quais são as suas regras de ser e de estar, a sua cultura profissional e institucional. Julgo que tradicionalmente cultivam o low-profile, uma vez que têm de ser discretos... A própria palavra diplomacia, pelas conotações que foi ganhando ao longo dos tempos, não parece ser compatível com a ideia de simplicidade, transparência, fairness, que esperamos hoje de uma administração pública pós-moderna... Pela nossa parte, queremos continuar a ser um blogue, aberto, emocional e socialmente inteligente, tolerante, plural, ético e friendly... Não somos seguramente um blogue caceteiro...

_________

Nota de L.G.:

3 comentários:

Anónimo disse...

Será que atacaram a embaixada com morteiros??? Não me parece... O que eu vi foi algumas pessoas um tanto aborrecidas pelo procedimento de um membro do nosso governo, mais nada. Aliás, se isto se passasse em França,diria o mesmo..

Luís Graça disse...

Comentário, de 1 de Julho de 2008, do J. Armando Almeida, enviado aos nossos editores, com conhecimento ao João Tunes:

Camaradas:

Após a leitura da posição do João Tunes sobre este assunto, não posso, nem devo, deixar de manifestar e manifestar-lhe a minha mais que completa concordância com o que acaba de escrever.

Creio serem muito sensatas e lúcidas as suas palavras, com o devido respeito, naturalmente, pela opinião de todos os que já se manifestaram.

Um abraço

J. Armando Almeida

jotarmando@gmail.com

Carlos Vinhal disse...

Em minha opinião não devemos fazer comentários ofensivos sem conhecermos concretamente os factos. Uma coisa é divulgar e comentar o sucedido, outra é ofender.