quarta-feira, 18 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2958: E os nossos assobios vão para... (1): Um embaixador que não honra Portugal... (Luís Graça / Pepito)



Vídeo (0' 32''): © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Vídeo alojados em: You Tube >Nhabijoes




Vídeo (1' 07''): © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Vídeo alojados em: You Tube >Nhabijoes

Dois pequenos excertos do discurso do Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação de Portugal, Prof Doutor João Gomes Cravinho, na sessão de encerramento do Simpósio Internacional de Guileje, Bissau, Hotel Palace, 7 de Março de 2008. A atitude do embaixador português em Bissau - entrou mudo e saiu calado - contrastou com a jovialidade e a simpatia do Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, o Prof Doutor João Gomes Cravinho.

Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 2008) > Sessão de encerramento > Na mesa, o Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Prof Doutor João Gomes Cravinho, e o Prof Doutor Luís Moita.

Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 2008) > Sessão de encerramento > Isabel Miranda, presidente da Comissão Organizadora do Simpósio.

Guiné-Bissau > Bissau > Fortaleza da Amura > Simpósio Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 2008) > Visita de homenagem aos túmulos de Amílcar Cabral e de outros dirigentes históricos do PAIGC > O Pepito e a Alice.


Guiné-Bissau > Simpósio Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 2008) > Visita ao Cantanhez > Travessia do Rio Cacine > 2 de Março de 2008 > O nosso camarada Carlos Silva, à esquerda, e o Dr. Frederico Silva, conselheiro da Embaixada Portuguesa em Bissau, o nº 2 da hierarquia.

Fotos: © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. [Ediçãoe legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Há notícias que de vez em quando nos deixam tristes. Em especial aquelas que dizem respeito ao nosso país e à Guiné-Bissau, aos portugueses, aos nossos amigos guineenses... No dia 11 de Junho transacto, recebi uma dessas, de um amigo, que muito prezo e respeito,o Carlos Schwarz, mais conhecido por Pepito, fundador e director executivo da mais respeitada e seguramente a maior ONG guineense, a AD - Acção para o Desenvolvimento, que vai já a caminho dos 17 anos de existência. 

A AD é uma ONG com uma presença insubstituível e marcante na vida económica, social e cultural da Guiné-Bissau. E que, além do mais, tem uma conduta ética e socialmente responsável. Recentemente foi apresentado e aprovado e divulgado o seu relatório de actividades de 2007, cuja leitura recomendo.

O Pepito é, desde Dezembro de 2005, membro da nossa tertúlia, e um grande entusiasta da amizade Portugal/Guiné-Bissau, do reforço da nossa cooperação, da preservação da memória da guerra colonial/luta de libertação, da lusofonia... Para quem não o conhece, acrescentarei que é, profissionalmente, engenheiro agrónomo, formado em Portugal pela mesma prestigiada escola que formou o Amílcar Cabral, quase trinta anos antes, o ISA/UTL - Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa, onde conta, de resto, inúmeros amigos e condiscípulos. A sua mãe, ainda viva e leitora assídua do nosso blogue, com noventa e tal anos, vive em Portugal. O seu pai, Artur Augusto Silva (1913-1912), nascido em Cabo Verde, foi um advogado notável, um cidadão corajoso, um escritor talentoso, e um lusoguineense de alma e coração.

Tratando-se de uma mensagem privada, não a vou transcrever. Mas é importante saber, no mínimo, quais são as más notícias que ele me mandou de Bissau. No essencial, o Pepito relatou-me, compreensivelmente indignado, as circunstâncias em que a sua filha mais velha, Pepa, de nacionalidade portuguesa, filha de mãe portuguesa (Isabel Levy Ribeiro), foi (mal) tratada na Embaixada de Portugal em Bissau, no próprio dia de Portugal, de Camões e das Comunidades . Por ordens expressas do embaixador, um segurança barrou-lhe o caminho, impedindo-a de se juntar aos restantes compatriotas em dia de festa...

Segundo o Pepito, a razão (absurda) para tal atitude, inédita nos anais da história recente, de 33 anos, da Embaixada Portuguesa (1), terá sido o facto de a Pepa não ter alegadamente cumprimentado o senhor embaixador. Este ter-lhe-á gritado, com modos muito pouco ou nada próprios de um embaixador, de um cavalheiro, de um homem e de um português o seguinte:

- A senhora não me cumprimentou, ponha-se na rua!
E agora passo a citar o comentário do Pepito, pai naturalmente indignado por uma atitude tão grosseira como aparentemente inexplicável do representante máximo de Portugal na nossa irmã Guiné-Bissau:

"Nada de especial se isso não tivesse a ver com o nosso Simpósio de Guiledje. É que a sua organização e financiamento passou-lhe [, ao Embaixador,] completamente ao lado. Não porque nós, da organização, assim o quisessemos, mas porque ele, na modorra da sua vida diplomática, nunca tivesse feito algo para se envolver na organização do Guiledje. Bem que nós insistimos e aí estão as cartas para o provar.

"Como o Simpósio foi um sucesso (até hoje não houve uma única voz contra) e está sempre a ser citado (ainda no Parlamento guineense, há 2 dias atrás), ele sentiu-se desprestigiado, para não dizer outra coisa".


A Pepa, que é uma mulher casada, mãe, profundamente empenhada, como profissional e como cidadã estrangeira, no estudo e na preservação do património natural da Guiné-Bissau (e em especial da sua fauna), terá sido apenas vítima de um acesso momentâneo de mau humor do nosso embaixador ? Parece que não, segundo o nosso amigo Pepito que alega que o embaixador, não podendo vingar-se no pai, humilhou a filha, o elo mais fraco da cadeia...

Não seria um acto isolado e insólito, mas antes deliberado, de discriminação dos dirigentes da AD, nas pessoas do Pepito (director executivo) e da Isabel Miranda (que foi a presidente da Comissão Organizadora do Simpósio).

De facto , foi a primeira vez, em 33 anos, que o Pepito e a Isabel Miranda não foram convidados para a festa do dia de Portugal, de Camões e das Comunidades...

E termina o Pepito:

"Apenas levo ao teu conhecimento este facto, em primeiro lugar pela nossa amizade e depois porque afinal fazes parte da história... Todos os participantes portugueses se recordarão do desinteresse completo como o Embaixador de Portugal os (não) recebeu em Bissau"

2. Na qualidade de fundador e principal editor deste blogue, mas também amigo do Pepito, da sua família, da AD, dos seus colaboradores e sobretudo do povo da Guiné-Bissau, tenho a obrigação de publicitar aqui a minha solidaridade com a Pepa, o Pepito e a Isabel Miranda:

Meu querido amigo Pepito:

Fiquei mesmo colado, literalmente, à cadeira, quando acabei de ler a tua mensagem. Como português, sinto-me envergonhadoo e revoltado com o que vos aconteceu: em primeiro lugar à tua filha, Pepa, que é cidadã portuguesa como eu; e depois a ti e à Isabel Miranda, que não são apenas simples cidadãos guineenses, são grandes amigos de Portugal e dos portugueses, e são duas pessoas, de grande nível, cívico, moral, intelectual e humano, que representam o melhor que a Guiné-Bissau tem, e a quem se deve muito do sucesso do Simpósio Internacional de Guileje, em que eu tive a honra de participar, com mais amigos e camaradas da Guiné, que fazem parte do nosso blogue.

Pepito: O que está feito, mal feito, não tem reparação, e ainda para mais sendo imputado â pessoa de um representante institucional de Portugal, do Estado Português, logo feito em nome de Portugal e dos portugueses. E desgraçadamente por alguém que,sendo embaixador, faz uma interpretação abusiva do seu papel e do seu cargo, confundido a nossa embaixada com a sua casa (memo que ele viva, fisicamente, no mesmo espaço).

Pepito: A única consolação é que tens (e podes contar sempre com) a nossa solidariedade e a certeza de que, aqueles de nós que te conhecem, como fundador e director executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento, independentemente de serem ou não teus amigos, estão contigo, com a Pepa e com a Isabel Miranda, e irão levar, ao conhecimento do Governo Portugués e do seu Ministério dos Negócios Estrangeiros, os seus veementes protestos por este incompreensível, insólito, deselegantíssimo, reprovável comportamento de um diplomata português, que humilha, em público, uma jovem cidadã portuguesa, querendo aparentemente vingar-se do pai, que é uma figura pública, um homem grande, da Guiné-Bissau, e de uma das suas mais próximas colaboradoras, a Isabel Miranda, presidente da AD.

Pepito: Não conheço senão a tua versão dos acontecimentos. Todos os conflitos têm o verso e o reverso. Não creio, todavia, que tenham sido dadas quaisquer explicações (muito menos apresentadas desculpas) pelo senhor embaixador ou pela embaixada, relativamente a este incidente... Mas, conhecendo-te como te conheço, como homem honrado,  acredito na tua palavra e na tua versão dos factos. Herdaste do teu pai a verticalidade, a coragem e a honestidade intelectual. Não irias seguramente fazer deste incidente um caso público, a não ser por razões de dignidade.

Tratando-se de um acto público, praticado em território português (que é, simbólica e legalmente, uma embaixada), por um representante do Estado Português, eu não só posso como devo relacioná-lo com outros actos públicos que, no passado, envolveram o mesmo representante diplomático de Portugal em Bissau.

Quero com isto dizer que não estou a infringir as próprias normas bloguísticas, que criei, e que me impedem de me imiscuir nos assuntos, políticos, internos, da actual República da Guiné-Bissau. Isto é um assunto que envolve também cidadãos guineenses, mas que diz respeito sobretudo aos portugueses. Ora o mínimo que posso escrever, é que o senhor embaixador envergonha-me, a mim, como português e como amigo da Guiné-Bissau. Lamento-o dizer, mas ele não honra Portugal nem os portugueses.

Não o conheço pessoalmente, embora estivessemos juntos, a escassos metros, em três ocasiões, por ocasião do Simpósio Internacional de Guileje, na primeira semana de Março de 2008:

(i) Estivemos juntos, eu e um grupo numeroso de portugueses, e o embaixador, no Palace Hotel de Bissau, na sessão de inauguração e na sessão de encerramento do Simpósio Internacional de Guileje; o represenante português ignorou, pura e simplesmente, a presença dos antigos combatentes portugueses, e de outros convidados, conferencistas, tanto portugueses como estrangeiros, incluindo figuras intelectualmente prestigiadas como o Prof Luís Moita, vice-reitor da UAL- Universidade Autónoma de Lisboa, ou o Prof Patrick Chabal, de nacionalidade francesa, mas vivendo em Inglaterra, e que é considerado o melhor biógrafo de Amílcar Cabral. A sua atitude - entrou mudo e saiu calado - contrastou com a jovialidade, a elegância, a competência, o fair play e a simpatia do Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, o Prof Doutor João Gomes Cravinho, de cujo discurso publicamos acima um pequeno excerto.

Cruzámo-nos ainda com o embaixador, eu e mais uma numerosa delegação portuguesa, na sede do Governo da Guiné-Bissau, tendo o primeiro ministro feito questão nos receber, amavelmente, de resto, juntamente com a senhora Ministra dos Antigos Combatentes da Liberdade da Pátria. (O mesmo aconteceria, a seguir, com o Chefe de Estado, 'Nino' Vieira)... Nesse dia, 6 de Março de 2008, o embaixador acompanhava o Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, na audiência que, julgo, terá antecedido a nossa.

Em nenhuma destas três ocasiões, numa só semana, o senhor embaixador se dignou cumprimentar um único dos muitos portugueses que participaram neste evento e que andaram por Bissau...Nem um mísero Olá, viva, estão bons!? ...

Muitos de nós ficaram chocados e surpresos... Eu e mais alguns amigos e camaradas acabámos por, na altura, não dar excessiva importância ao caso... Acabei por aceitar a explicação do Dr. Frederico Silva, conselheiro da Embaixada, que procurou desculpar o comportamento do nosso embaixador, que alegadamente andaria muito cansado com a preparação da visita, nessa semana, do Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação... (O Dr. Frederico Silva acompanhou-nos na visita ao sul da Guiné, nos dias 1 a 3 de Março de 2008, e teve um relacionamento correcto connosco, um pouco distante, mas correcto)...

Hoje compreendo finalmente o que se passou connosco, com a Pepa, com o Pepito e com a Isabel Miranda: este homem (cujo nome nem sequer menciono, porque eu não falo do indivíduo, mas sim da figura institucional que é pressuposto representar o povo português na Guiné-Bissau e que é um funcionário do corpo diplomático, pago pelos contribuintes portugueses) , este homem, repito, não honra, de facto, Portugal nem os portugueses. Não pode, decididamente, honrar Portugal, ignorando, desprezando ou maltratando os portugueses e os guineenses, amigos de Portugal...

Espero, ao menos, que ele seja uma excepção entre as muitas centenas de funcionários do corpo diplomático e consular, portugueses, espalhados pelo mundo fora, alguns dos quais representados, de resto, no nosso blogue. É por isso que vão para ele os nossos assobios, a nossa maneira cívica, bloguística, metafórica, virtual mas não menos veemente, de mostrar-lhe, a ele e ao Estado Português que ele é pressuposto representar, a nossa indignação como amigos e camaradas da Guiné que somos...

Mas, como tu dizes, Pepito, noutra mensagem posterior, Portugal felizmente "representa-se por pessoas de bem, civilizadas, cultas, como, por exemplo, todos aqueles que vieram participar no Simpósio Internacional de Guiledje e que trouxeram um abraço solidário, mostraram o seu elevado nível de sentimentos, de conhecimento histórico e cultural e que deixaram a todos nós uma imagem do Portugal moderno e civilizado que muito nos calou no coração"...

É essa imagem, Pepito, que eu e todos nós queremos que tu (e a tua família, e os teus amigos, e os teus colaboradores, e o teu povo) guardes de Portugal e dos portugueses até ao resto dos teus dias. Essa imagem leva muitos anos a construir, e não tem preço. Seguramente vai sobreviver a este episódio, infeliz e triste, que nos envergonha e revolta. O somatório da mesquinhez de alguns portugueses (e guineenses) não chega para destruir a nobreza dos nossos dois povos, o português e o guineense.

Luís Graça

PS - Amigos e camaradas:

(i) O email da embaixada de Portugal na Guiné-Bissau é o seguinte:
emb.port.bissau@sol.gtelecom.gw [não tenho a certeza de estar actualizado, pode ter havido mudança de operador]

(ii) O contacto do Governo Português é o seguinte:

http://www.portugal.gov.pt/Portal/PT/Geral/Contactos

(iii) O email institucional do Pepito e da AD é o seguinte:

ad@orange-bissau.com

Estou a fazer uma sugestão, não um apelo: escrevam duas linhas, se assim o entenderem dever fazer, a mostrar a vossa indignação e a vossa solidariedade de amigos e camaradas da Guiné.

________

Nota do editor:

(1) E por falar de embaixadores de Portugal na Guiné-Bissau, leia-se o poste de 25 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1113: Dez razões para ler 'Em tempos de inocência', diário do Embaixador A. Pinto da França (Beja Santos)

Sem comentários: