1. Mensagem de Natal do nosso Camarada Belarmino Sardinha (ex-1º Cabo Radiotelegrafista STM, 1972/74, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau), com data de 17 de Dezembro:
Caríssimos Editores, Camaradas e Amigos,
Envio, pois quase tinha prometido, um apontamento sobre o que era a guerra do STM, dentro e fora de Bissau. Espero que contribua para ajudar a perceberem as nossas funções.
Junto uma foto do calhamaço que nos era distribuído e servia de Breviário, Missal ou Bíblia durante todo o tempo.
Publiquem se estiver conforme esperado e virem que tem interesse.
O que era o STM?
Este espaço onde nos encontrarmos e discutimos as nossas opiniões serve igualmente para nos identificarmos e esclarecermos sobre coisas. A propósito disso e por surgirem dúvidas, talvez pelo número reduzido de militares que movimentou em relação à generalidade da tropa que prestou serviço em Angola, Moçambique e Guiné, levaram-me a escrever estas linhas na expectativa de conseguir explicar como funcionava e estava organizado o pessoal do STM (Serviço de Telecomunicações Militares) e não SPM (Serviço Postal Militar) com o qual é confundido sem motivo, já o mesmo não acontecendo com os outros Radiotelegrafistas.
A razão é apenas essa, esclarecer ou ajudar a perceber o que faziam os militares do STM, como estavam organizados, de quem dependiam directamente, como eram destacados etc.
Todos os comentários de ajuda a melhorarem esta explicação serão bem-vindos. Prestarei igualmente os esclarecimentos possíveis para as dúvidas que eventualmente subsistam.
Finda a recruta, os encaminhados para a especialidade de Radiotelegrafistas eram mandados para o Regimento de Transmissões, no Porto, em Arca D’Água, onde ficavam sujeitos ao ensino sobre os rádios utilizados, o seu funcionamento, a exploração das redes e a aprendizagem do código ou linguagem Morse para comunicação. O curso tinha a duração de 6 (seis) meses para Radiotelegrafistas e de metade deste tempo para Operadores de Mensagens, Telefonistas ou Operadores de Telex, todas estas especialidades dadas nesta unidade.
O que eram então os Radiotelegrafistas do STM (Serviço de Telecomunicações Militares)?
Acabada a especialidade de Radiotelegrafista, os seleccionados e destinados ao STM eram encaminhados para a Escola Prática de Transmissões, em Lisboa, à Graça, para serem colocados em unidades de estágio, com a duração de três meses. Durante esse tempo todas as comunicações eram feitas em código Morse. Findo o estágio, por norma, acontecia a mobilização mais mês menos mês. Este estágio era feito nos quartéis-generais e em quartéis de instrução militar, tais como, Vendas Novas, Mafra, Tavira etc.
Esta situação, operadores do STM, levava a que a mobilização ocorresse mais tarde do que para a maioria das especialidades, obrigando a um tempo de tropa superior.
Os operadores Radiotelegrafistas não seleccionados, a maioria, ficavam no Regimento de Transmissões onde faziam os serviços normais do quartel (salvo os serviços de guarda, reforço e fascina a cargo dos novos instruendos), ou eram enviados para quartéis onde exerciam as suas especialidades, mas como operadores em fonia, operadores de mensagens, telefonistas ou de telex, até serem mobilizados e integrados em Batalhões e/ou Companhias Independentes.
Devo referir que todos os Radiotelegrafistas que faziam parte dos Batalhões ou Companhias e asseguravam, em fonia, a ligação com o quartel, entre grupos ou com o centro de mensagens e com o comando não eram do STM.
Reportando-me apenas à Guiné, embora esteja em crer ter sido igual para Angola e Moçambique, os operadores do STM só trabalhavam em código Morse e eram sempre rendição individual.
Chegados à Guiné, o local de recepção e permanência era o Agrupamento de Transmissões, em Santa Luzia, junto ao QG, uma unidade independente deste e onde fazíamos toda a nossa vida, excepto o serviço da especialidade que era prestado nas instalações dentro do QG, assim como partilhado era o refeitório da CCS do QG, até à construção do nosso refeitório, bar de oficiais e bar de sargentos em 1973.
Não sou agora capaz, em pormenor e sem falha, dizer todos os quartéis da Guiné com posto do STM, mas posso assegurar que, Aldeia Formosa, Bafatá, Bambadinca, Bigene, Bissorã, Bolama, Catió, Cufar, Farim, Gadamael, Guidage, Guileje, Mansoa, Nova Lamego e Teixeira Pinto tinham. Eram coordenados pelo posto director, Bissau, que os dividia em cindo redes, Norte, Sul, Sul2, Leste e Oeste.
Os militares do STM colocados em qualquer quartel ou aquartelamento na Guiné não dependiam do Comandante do Batalhão, nem de qualquer Comandante de companhia. Eram ali colocados pelo Agrupamento de Transmissões e dele ficavam dependentes, embora sujeitos às normas estabelecidas dentro desse quartel até serem substituídos. Por norma, a maioria dos operadores passava metade ou dois terços da comissão num ou mais quartéis do interior sendo depois chamado para Bissau onde acabava a comissão no posto director.
O responsável de cada Posto do STM tinha a obrigação de fazer relatórios semanais que enviava em correio fechado para o Agrupamento de Transmissões, referindo a sua actividade e o desenrolar dos acontecimentos, bem como informar sobre o decorrer do serviço e do pessoal. Tinha ainda a responsabilidade de proceder às alterações dos códigos, semanalmente, de acordo com as directrizes previamente recebidas em envelope fechado.
Nos locais ditos mais quentes eram normalmente cabos os responsáveis pelo Posto do STM, sendo os furriéis, por escassez ou outra razão lá colocados apenas por questões disciplinares e por períodos limitados de tempo. Haverá excepções, mas não as conheço.
Através do STM, sempre em código Morse, eram trocadas as mensagens com Bissau e os restantes postos do STM de cada grupo, em norma cinco por sector, incluindo Bissau. Do STM era transmitido e recebido, além das mensagens que faziam o dia-a-dia dos quartéis, o relatório diário, cifrado, com a vida e actividade operacional desse dia e recebida a indicação para o dia seguinte.
Lembro também que, locais como Aldeia Formosa ou Guileje não dispunham de qualquer outro contacto com Bissau. Julgo que o mesmo acontecia com Gadamael, Catió, Cufar e Guidage. Já Bafatá, Mansoa, Nova Lamego, Teixeira Pinto ou Bolama eram privilegiados, alguns destes locais, além de telefone dispunham ainda de uma rede chamada Storno. Quanto a Farim, Bigene e Bambadinca desconheço quais os meios de que dispunham além do STM.
Esta forma reduzida de explanar a funcionalidade do STM não completa as suas tarefas já que, em Mansoa, era ainda gravada, por vezes com muito má qualidade, a escuta feita à Rádio Conakry e Senegal que posteriormente seguia para Bissau, Agrupamento de Transmissões, Serviço de Escuta. Digamos que toda a informação e actividade de um quartel passavam pelo STM, assim como a dos destacamentos que lhe fizessem parte.
Os postos de STM ficavam destacados de todos os outros locais e abrigavam os operadores do STM e os equipamentos. Nos locais onde havia apenas o posto de rádio, composto, em norma, por 3 ou 4 operadores, um era o cabo que, além de operador, era também chefe do posto.
Contudo, devo referir que os operadores Cripto e os Radiotelegrafistas do Batalhão ou Companhia, coordenados por um Alferes ou Furriel de Transmissões, nada tinham a ver com o STM. Tinham como funções prepararem as mensagens segundo as directrizes superiores e traçarem o funcionamento do centro de mensagens e dos serviços dos Radiotelegrafistas e operadores Cripto colocados no Batalhão ou Companhia.
Justifica-se por isso a dificuldade em encontrar no blogue camaradas com quem tenha partilhado a comissão, por estarmos quase isolados, pelo reduzido número de camaradas e pela pouca permanência nos locais por onde passávamos. Mas ainda não perdi a esperança de ver aqui mais alguns entre os quais, pelo menos mais um dos 15 ou 16 magníficos que comigo partiram de Lisboa, Figo Maduro, em rendição individual no dia 15 que era já 16, mas acabou por ser 17 de Junho de 1972.
Um abraço para todos,
Belarmino Sardinha
1º Cabo Radiotelegrafista STM
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Nota de MR:
Vd. último poste do autor em:
20 comentários:
Belarminho:
Informação muito oportuna e útil... Reconheço a minha ignorância, ainda hoje, em relação a muitos aspectos da organização e funcionamento da NT no TO da Guiné...
Estou-te muito grato. E aproveito para te desejar boas festas. Daqui do norte, e sabendo que o Cadaval tambén foi atingido pelo mau tempo, tal como a minha terra, Lourinhã, espero que estejas bem, e que a tua casa não tenho sofrido danos. Um abraço afectuoso. Luís
Amigo Belarmino
O STM ainda ficava distanciado do QG um par de quilómetros e a sua segurança era feita pelo pessoal do
600 de Stª Luzia. Se a memória não me
trai depois de terminada a estrada alcatroada que passava em frente ao 600 continuava-se em frente por estrada em terra batida e a certa altura virava-se à esquerda por uma picada que ia desembocar no STM. Fui lá uma vez de noite com um alferes da minha Companhia que era o Oficial de Dia e foi fazer a ronda ás sentinelas.
Um abraço
Armandino Alves
Belarmino Sardinha.
A exposição que acabas de fazer é de um permenor brilhante ao ponto de me fazer relembar o seguinte:
As Companhia Individuias (caso da minha) eram formadas por 1 Furriel, 6 Soldados (Transmissões de Infantaria) julgo que tiravam o curso em Campolide - 2 Cabos Rádios Telegrafistas ( Reg. Tº - Arca Água Porto)que foi o meu caso.
Nunca trabalhei com morsse, mas sim em fonia e durante algum tempo como operador de menssagens.
É de salientar além do morse aprendido durante a especialidade e mesmo ja em Bissau o IAO foi feito á base de morsse e depois na Companhia aprendedi a trabalhar com fonia ensinado por os colegas que vieram de Campolide.Pois não apreendi a funcionar com os stornos, avp 1 etc (mas sim com o racal?).
Recordo que em Cufar existia STM e contactos com Bissau pelo seguinte:
Inicio 73 estava no COP 4 e os operadores o STM trabalhavam numa viatura montada para o efeito.
Quanto aos contactos com Bissau na altura da confusão de Guilege e Gadamael,assisti algumas vezes o meu comandante a falar para o com.chefe (por causa da falta apoio aéro) só não recordo a via,telefone,storno??
Um abraço
Eduardo Campos
Um primeiro reparo.
Faltou-me Mansabá, que tinha também posto de STM.
Camarada Armandino.
Obrigado pelo teu comentário. É provável que tenhas razão, mas para "periquito" que sou em relação a ti, as coisas eram já diferentes. Eu ainda comecei por almoçar e jantar na CCS do QG e acabei já no nosso refeitório. Quilómetros de distância não, pois nós passávamos internamente numa abertura que havia e ligava as duas instalações e o posto director do STM, onde prestávamos serviço também era lá.
Quando cheguei à Guiné já existia uma primeira porta d'armas, na estrada de Santa Luzia, aí a 1Km (um) antes dos quartéis (QG, Transmissões, Intendência etc), sob a responsabilidade da PM.
Um abraço
Belarmino Sardinha
AMIGO BELARMINO,
AO LER-TE,RELEMBREI O SERVIÇO DE ESCUTA.
CHEGUEI A FAZER UM TESTE(TENDO OBTIDO APROVAÇÃO)NOS SERVIÇOS DE ESCUTA EM BISSAU(NA ALTURA ESTAVA EU EM BISSUM)NO SENTIDO DE FUGIR AO MATO...
TRADUZI DIRECATAMENTE DO FRANCÊS PARA PORTUGUÊS( LÍNGUA QUE CONHECIA BASTANTE BEM,NÃO TIVESSE OBTIDO EM EXAME DE 5ºANO DO LICEU.18 VALORES À DISCIPLINA...),SÓ QUE,A MINHA CUNHA ERA DE UM AMIGO,ALFERES MILICIANO ADVOGADO QUE ESTAVA NA JUSTIÇA EM BISSAU, E CURIOSAMENTE QUEM ACABARIA POR PREENCHER O LUGAR FOI UM OUTRO FURRIEL DA MINHA COMPANHIA CUJA CUNHA ERA DE TENENTE CORONEL...
A VIDA É ISTO MESMO...
TESTA-ME A CONSOLAÇÃO DE SABER QUE SE ACASO,EM VEZ DO NAVEGA, TIVESSE SIDO EU A IR PARA BISSAU,NUNCA TERIA CONHECIDO O CANTANHEZ E NUNCA PODERIA POR EXEMPLO ZURZIR NO NOSSO BEM AMADO ALMEIDA BRUNO,POIS NESSA ALTURA ESTARIA AO SEU NÍVEL DE GUERRILHEIRO DO SOLAR DOS DEZ...
UM GRANDE ABRAÇO
MANUEL MAIA
Amigo Belarmino.Não nos conhecemos mas eu "preparei-vos a cama" em Bissau,pois vi nascer de raiz(desde as terraplanagens) o AGR.TM. de Bissau e, se esteve em Aldeia Formosa,talvez tenha dormido na minha cama "salvo seja" pois eu estive lá de Abril a Setembro de 1970,lá atrás perto do arame farpado em frente à bolanha onde na noite de 3 de Junho caiu um "orgão de Staline" que me fez dar uma cabeçada na parede.Tenho algumas fotos do sitio,talvez tenhamos oportunidade de as ver.BOM ANO.
Ex Fur. MIl. STM Vitor Raposeiro. Setúbal.
Esqueci-me do meu Link
vitoraposeiro@gmail.com
Mais uma vez Bom Ano
Vitor
Eduardo Campos,
Vitor Raposeiro
e
Manuel Maia
Para o Eduardo. É verdade, esqueci-me de falar nas carrinhas do STM, primeiro posto utilizado, mas certamente esqueci-me ainda de mais coisas.
Sobre essas carrinhas, quando cheguei à Guiné estava no Agrupamento um Radiotelegrafista que tinha tido um acidente com uma e por isso já tinha pago na altura 10.000$00, respondido em tribunal e já um ano a mais de comissão e continuava à espera do resultado.
Para o Vitor. Desculpa, mas vou tratar-te por tu, são regras da casa. Obrigado por teres preparado o terreno, mas olha que ainda tinha alguns ressaltos. Não sei se já fazes parte da Tabanca, mas que tal começares a abrir o livro? Se já o fizeste, desculpa a minha desatenção.
Manel,
Não perdes uma oportunidade.Mas olha que o AB em tempos foi operacional. Só não ficaste no serviço de escuta porque fazias falta para acabar com a guerra a sério, vê lá se não foi o que aconteceu quando acabaste a comissão.
Desculpa hoje ser em minúsculas, mas não era só para ti.
Um abraço geral,
Belarmino Sardinha
Parabéns pela explicação da função.
Filomena
Camarada Belarmino
Parabens pela descrição pormenorizada que fez do STM. Eu também lá estive, também fui em rendição individual, mas para o BCAÇ 1911, que acabou por vir no UIGE em que eu tinha ido. Porque já tinha experiência do STM de vários meses no Q.G.II RM/Tomar, como Operador de Mensagens, especialidade tirada no RTM/Porto/Arca d'Água e um pequeno estágio no BT-Batalhão de Telegrafistas na Graça/Lisboa. Um dia perguntei onde era o STM em Bissau e lá me apresentei. Fui presente ao Cmdt do Destacamento do STM, era assim que se chamava aquele serviço, Capitão Bento Soares que depois de me ouvir fez o favor de me chamar dos Adidos em Brá onde estava à espera de colocação. Ali passei 25 meses tendo como chefe directo o malogrado Sargento Caldas da Silva infelizmente já desaparecido. Estive algumas vezes indigitado para ir para o mato, COP3 e COP5, mas acabei por fazer a comissão toda em Bissau debaixo de uma ventoinha. Reparei que entre a minha comissão, Outº/68 a Novº/70 se fizeram progressos. As nossas instalações naquela altura eram bem perto do SPM, tudo dentro do QG e entretanto foi formada a Companhia de Transmissões cujo primeiro Cmdt foi o Capitão Góís Ferreira. Havia também o PRMMT Pelotão de Reabastecimento e Manutenção de Material de Transmissões cujo primeiro responsável era um Sargento ajudante que não me recordo o nome. Havia ainda o Centro emissor da Antula e no meu tempo só existiam 4 redes de rádio (grafia), Norte, Sul, Leste e Oeste. Comiamos na CCS/QG quando estávamos de serviço e quando estávamos de folga iamos matar a malvada ao Santos, logo à saída de Santa Luzia, à esquerda de quem descia. Aquelas grandes febras, com as "orelhas fora do prato", davam que fazer mas eram sempre engolidas. Apesar de tudo, foram tempos que ainda hoje recordo com alguma nostalgia e alguma saudade. Um dos serviços complementares, que fazia de forma voluntária e que mais gozo me dava era interpretar as noticias da Presse Lusitania que o RADIOT Irineu apanhava em morse e que eu depois passava ao stencil e depois pelo duplicador para então ir distribuir pelas Unidades Militares de Bissau. Era o jornal possivel com as noticias possiveis que a Metropole deixava difundir.
Um abraço
Carlos Pinheiro
Ex-1º cabo Op.Msgs.
Carlos Pinheiro,
Mais uma vez um "velhinho" a dar informações, óptimo, só falta isto deixar de ser apenas um comentário, há muita coisa que ainda não se sabe da evolução, não só do Agrupamento, como veio a chamar-se, como da rede que dizes serem só 4 (quatro)na tua altura, mas que e entretanto passou a 5 (cinco) com a Sul2 a que pertencia Bolama e outras duas unidades não muito castigadas.
Quanto aos restaurantes, mantinha-se o que dizes, mas apareceu outro já em 1973, julgo não estar a falhar na data, mais decorado, digamos até fino, que dava pelo nome de NINHO.
Não sei se também já fazes parte da Tabanca, peço desculpa pelo meu desconhecimento, mas era uma boa altura para dizeres o que sabes e que eu não disse por desconhecimento ou esquecimento.
Um abraço
Belarmino Sardinha
Pois. De facto já tenho escrito algumas coisas mas publicado pouco. Mas ontem, talvez pela época que estamos a viver, lembrei-me duma noite de Natal, a de 69, em que estava de Chefe de Turno ao Centro de Mensagens do STM/QG em que se passaram algumas peripécias que eu vivi e relatei. Mas penso não ter sido ainda publicada.
De facto só nós todos é que podemos fazer a história daquele período crítico das nossas vidas. Um dia, um Domingo como hoje, cheguei para entrar de serviço pelas 20h e o Furriel que fui substituir como Chefe de Turno tinha uma FBP em cima da secretária porque, segundo disse tinha sido informado, estava planeado um ataque a Bissau. Claro que eu já tinha algum tempo daquilo e conhecia bem a FBP, antes que houvesse azar meti-a na gaveta da Secretária e avisei o meu substituto às 8 da manhã que estava ali aquela preciosidade. E não era eu dentro de quatro paredes que ia salvar a honra do convento com um brinquedo daqueles que disparava em todas as direcções mesmo sem lhe tocarmos.
Foi muito tempo “a virar frangos” como dia há dias um amigo meu num artigo de jornal. Lá, foram 25 meses, 10 dias e não sei quantas horas, depois de já ter 13 meses disto cá quando recebi a msg no STM/QG/Tomar da TECOMUNICATERRA para o CHEMILDOIS a mandar-me apresentar no BT na Graça. Era a tal mobilização de que eu já pensava já estar dispensado.
Cheguei cá, depois de 9 dias de mar e céu no CARVALHO ARAUJO, na sua última viagem, precisamente no dia da invasão de Conakri de que se começou logo a falar no cais. E eu que tinha conhecimento da msg em claro sobre a operação fiquei calado que nem um rato. Só não sabia o dia. Não sei se por responsabilidade da função que tinha exercido se por medo da PIDE que tudo ouvia e tudo sabia. Sabes, os gajos um dia foram ao CMsgs para nos levar a todos por causa duma fuga de transmissões acerca duma operação que deu fiasco. Era a deslocação de uma série de obuses para flagelarem determinada posição IN. Houve fuga de transmissões, mas entre um Companhia e um Pelotão destacado. A cifra tinha passado do CODOPER para o CODARTE, salvo erro, e aí a rapaziada do outro lado deu à sola e foi uma noite inteira a fazer fogo e só se gastaram munições. Resultado zero.
Quanto a Restaurantes do meu tempo em Bissau, eram vários para além do Santos Farta Brutos. Era o Portugal, o Internacional, o Solar do Dez, a Solmar, o Zé da Amura, das Palmeiras em Brá, do Pelicano e muitos mais de que agora não me lembro.
Vou passar a intervir mais. Tenho muita coisa escrita e ainda muita na cabeça que ainda funciona menos mal.
Um abraço
Carlos Pinheiro
Caro BS,
Obrigado por partilhares esta exaustiva informação sobre o funcionamento do STM. É pena que camaradas de outras especialidades não façam o mesmo. Temos já aqui no blogue informações sobre a formação dos enfermeiros e maqueiros e sua actuação em termos operacionais e no apoio às populações. Deve haver informações sobre outras especialidades, mas agora não tenho presente.
Talvez este teu poste sirva como exemplo para outros camaradas. Acredito que seja porque pensam que não faziam nada de especial ou que era do conhecimento de todos. Mas temos que pensar que há pessoas que não estiveram "lá" e que, por motivo de estudo, simplesmente por curiosidade ou por outro motivo qualquer, gostariam de ter informações sobre a orgânica da nossa tropa. Que faziam, por exeemplo, os sapadores? Com que problemas se debatiam os mecânicos em companhias isoladas e que ferramentas e material tinham para terem as viaturas a funcionar? Havia revisões rotineiras? Onde eram formados? Tinham já conhecimentos de mecânica na vida civil? E o pessoal da alimentação, sempre tão mal-amado, etc., etc., etc.
Uma coisa é o que dizem os livros. Outra - e esta é a que mais interessa - é a actuação nas circunstâncias concretas. E isto só podemos ficar a saber pelos "actores" no terreno.
Um abraço,
Carlos Cordeiro
Olá Belarmino,
Julgo que estivemos no mesmo ano no Rtm (Porto) a tirar a especialidade de radiotelegrafista, Fui colocado no dia 04JUL71 passando para RTm a partir do dia 07NOV71, data também, da minha promoção para 1º cabo.Fui mobilizado em Dezembro do mesmo ano para servir na Guiné pertencendo à CART3494 do BART3873 sediado em Bambadinca.
Também te quero dizer que trabalhávamos em morse e em fonia conforme os postos que comunicávamos. Bambadinca tinha para além do STM dois svc de trms. um:como posto dirigido por Nova Lamego, onde se incluía Bafatá e Galomaro e outro como posto director do grupo: Xime, Mansambo e Xitole. Voçês eram de facto uns senhores, tinham um equipamento excelente era um morse muito limpinho, com os Rádio Marconi, enquanto nós tínhamos de comunicar em grafia com os velhinhos ANG-RC9, em fonia com o racal TR-28 para além dos AVP-1 e mais tarde o storno, com QSA 5/5
Também fiz estágio no quartel de trms, não me recordo se alguma vez lá almocei ou dormi porque a maior parte do tempo em que lá estive ia ficar a casa do responsável ou um dos responsáveis do STM do quartel de TRMS. Chamava-se:
José J. Caldas Silva 1º Sargento trms
mais conhecido pelo sarg. Caldas
SPM 0158
AB, Sousa de Castro
ps: enviarei fotografia por e-mail do quartel de TRMS
Caro STM Belarmino
Muito obrigado pelo teu texto. Vai ser útil para novos esclarecimentos e novas histórias.
Já todos sabemos, mas muitas vezes esquecemos, que a vida é dinâmica, que as sociedades, organizações, etc, estão em constante evolução e em adaptação às suas circunstâncias.
Por isso será muito mais prudente dizer 'no meu tempo' ou então, 'comigo sucedeu assim...' pois a realidade do Armandino quase nos inícios, é necessariamente diferente da do Belarmino e já estamos a ver que também há nuances com as achegas do Vitor Raposeiro e de outros que agora presumo que irão aparecer com textos, para além destes comentários, como poderá ser os casos do Eduardo Campos, Carlos Pinheiro, Carlos Cordeiro.
Posso, por exemplo, dizer que quando fui encarregado de chefiar o posto do STM em Piche, com a missão específica de obter do comando do Batalhão local, BCav 2922, a construção de um edifício ou um espaço próprio para a instalação do posto, recuperando a viatura onde ele funcionava com vista a ser aplicada noutro local (pode ter sido onde se relata) a rede era designada por Leste2 (o que pressupõe, e era verdade, a existência duma Leste1) essa rede era constituída pelo 'posto director' Bissau, Bafatá, Nova Lamego, Piche e Pirada.
Como se vê é um pouco diferente da organização constituinte das redes que é referida no texto e num comentário, mas trata-se não só de um facto real como provavelmente 'datado', ou seja, noutra ocasião seria diferente.
Um abraço
Hélder S.
Caros amigos,
Helder Valério tem toda a razão: com mais achegas e, se possível, com a indicação de datas aproximadas ou do tempo de comissão, podemos vir a ficar com uma ideia - tão clara quanto possível - da estrutura e funcionamento da rede de telecomunicações militares na Guiné.
Venham mais comentários!
Um abraço,
Carlos Cordeiro
É verdade, o bom da vida é a sua evolução, embora por vezes mal utilizada.
Entre Junho de 1972 e Julho de 1974 não houve alterações nas redes, mas é provável que tivesse havido uma Leste1 e Leste2, no tempo que refiro já só existia a rede Leste, composta e aí creio serem os mesmos locais, Bafatá, Nova Lamego, Piche e Pirada, que me faltam também no texto, além de Bissau.
A rede de Norte, era composta por, julgo não errar com Mansabá, Bissau, Mansoa, Farim, Bigene e Mansabá.
Da rede Sul faziam parte além do posto director Bissau, Aldeia Formosa, Catió, Cufar e não me recordo se Guidaje ou Guileje e na Sul2 além de Bissau e Bolama havia mais duas localidades, quais? não me lembro.
Pode ser que a discussão ajude a lembrar, obrigado a todos que deram já o seu contibuto.
Belarmino Sardinha
Olá rapaziada.
Eu tambem pertensi ao STM.
Estive colocado no Posto de Transmissões em NOVA LAMEGO depois de ter passado por Bafatá mais ou menos um mes, entre 1970 a Agosto de 1972 salvo erro.
Tenho pena que nunca tenha visto aqui ninguem que tivesse estado lá comigo nessa altura !!!
Muito obrigado por me ter dado esta oportunidade, é um blog que eu visito muita, muita vez para matar saudades do tempo da Guerra na Guiné.
Obrigado a todos os participantes,
As. Campelo de Sousa.
Esquecime de dizer que este blog está muito bem construido, é totalmento desprovido de ficção, o que o torna numa inesquecivel manta de retalhos e de relatos verdadeiros sobre a guerra na Guiné que nunca ninguem teve a coragem e ousadia de contar! Muitos parabéns ao seu autor.!!!
Ingore era stm: fui o ultimo ce a comandar o posto e ate tinhamos um telefonista voluntario com 17 anos,estive muitas vezes em Bissau sempre no agrupamento de transmissoes e quando me demorava por la fazia servico no posto de radio devido a espera de transporte para Ingore um ab a todos os camaradas .- -...
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