Porto, dia 16 de Junho de 1968 > O Soldado José Lima da Silva da CCAÇ 1496/BCAÇ 1876, condecorado com uma Cruz de Guerra.
1. Mensagem do nosso camarada José Lima da Silva*, ex-Soldado da CCAÇ 1496/BCAÇ 1876, Bissum, Pirada e Bula, 1966/67, com data de 17 de Agosto de 2011:
Camaradas
Li o mail que me enviaram, está tudo bem e passo a responder a algumas questões que me colocaram àcerca da minha passagem pela Guiné.
A condecoração foi proposta pelo Comandante do Pelotão Diamantino Pereira Monteiro, porque ao estarmos praticamente cercados pelo inimigo e sendo eu o municiador da bazuca, não estava a ser municiado pelo resto Secção que se dispersou, tendo eu próprio que me deslocar até junto de cada um, para me abastecer e servir o apontador.
Passou-se mais ou menos assim, quando que seriam e, deviam os camaradas na minha retaguarda, de mão em mão, fazerem-me chegar as granadas.
Bom mas isso já passou, apenas fica para História.
A cerimónia de condecoração aconteceu no dia 10 de Junho de 1968, na praça Almeida Garrett (Avenida dos Aliados, Porto).
Como já havia passado à disponibilidade, o fardamento para a cerimónia, recebi de véspera no antigo quartel da CICA 1 no Porto, onde tive que pernoitar e ter ordem unida, hoje não faria isso, mas como não era apenas eu que lá estava para o mesmo efeito...
Para aquele efeito, o fardamento não tinha armas, era simples.
Desculpem, mas não vos vou falar muito da minha passagem pela Guiné, e quanto a fotografias, não tenho, porque vivi numa casa com alguma humidade, e pensando que as tinha muito bem protegidas, não tinha, porque depois de mudar de casa, fui arrumar tudo e estavam irreconhecíveis, não havendo forma de as recuperar.
Tenho outra condecoração, mais ligeira e, sem o mesmo valor (pelo menos para mim), condecoração essa que aconteceu no dia 28 de Maio de 1969 em Braga, no antigo Estádio 28 Maio. Nessa cerimónia também houve desfile militar, mas eu e outros, que também lá estavam para o mesmo efeito, vestíamos à civil, afinal era para nos dar a Medalha de Expedição e Campanha da Tropa Portuguesa, o porquê não sei porque não ouvi o discurso, nem estou muito interessado agora em saber.
OBS:- Se por acaso vier ter alguns momentos bons que me façam lembrar correctamente alguns episódios passados na Guiné, contar-vos-ei.
Saudações de amizade e consideração por todos.
JLS
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 16 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8678: Tabanca Grande (296): José Lima da Silva, ex-Soldado da CCAÇ 1496/BCAÇ 1876 (Bissum, Pirada e Bula, 1966/67)
Vd. último poste da série de 29 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4266: Louvores e condecorações (7):O 10 de Junho de 1973 - Um louvor, uma estrada e suas gentes: Cadique/Jemberém (António Manuel da Conceição Santos)
- Em tempo:
Por que foram suscitadas dúvidas quanto à designação do local onde o nosso camarada José Lima da Silva recebeu a sua condecoração em 1968, esclarece-se que a então Praça do Município, na cidade do Porto, se passou a designar como Praça Gen Humberto Delgado a partir do dia 30 de Janeiro de 1975.
Carlos Vinhal
23AGO2011
14 comentários:
Sr Lima
Recebeu uma condecoração por merecimento devido a um acto de bravura que só o enaltece e deve-se orgulhar disso. Conheço o seu comandante de pelotão desde longa data, é um homem sério e justo, por isso não admira que o tivesse proposto para tal recompensa. Contudo há uma afirmação sua que me desgostou. Diz que se fosse hoje não pernoitaria no quartel para relembrar a ordem unida e receber o fardamento.Porquê? Era alguma desonra? Tenho a mesma idade que o sr e se fosse preciso por qualquer razão voltar a vestir a farda do Exército Português fá-lo-ia com muito orgulho.E não tenho a sua condecoração.
Realmente era pena que o Exercito não cuidasse melhor da apresentação dos seus combatentes que se honraram no campo de batalha, mesmo comparando com os outros ramos das FA. Mas isso é outra questão.Mais uma vez o felicito. Exponha a sua condecoração em local visível em sua casa.É uma HONRA
Saudações militares doutro combatente
G.Tavares
Caro José Silva
Não sou eu que te vou tecer "louvores" pela Condecoração que recebeste. Se a recebeste, foi porque alguém, o teu comandante mais directo, quis realçar a tua acção durante uma operação militar, pelo que informou superiormente do sucedido.
Foste o único a "recolher" as granadas necessárias para a ocasião. Já disso tínhamos conhecimento, porque foi publicado, logo a seguir à tua adesão à Tabanca Grande, o louvor que proporcionou a atribuição da condecoração.
Já reconheci, no texto, a modéstia com que falas da condecoração. Não a escondas. Os teus filhos e netos hão-de gostar de a ver e ouvir as tuas histórias. Todos temos histórias, sendo umas "mais tristes e outras menos alegres". Foi a guerra que nos coube, e a guerra é sempre GUERRA:
Orgulho-me de ser teu camarada, mais novo, mas camarada. Recebeste a MEDALHA DA CRUZ DE GUERRA, no dia em que cheguei a Nova Lamego, para me apresentar na C. Caç 5.
No peito dos Combatentes, há sempre um coração que bate FORTE, pela Pátria.
Muito obrigado ao anónimo que me corrigiu. Trata-se na verdade da Praça Gen Humberto Delgado.
Tive de apagar o seu comentário porque violava os nossos princípios ao não estar assinado.
Pode repeti-lo.
Carlos Vinhal
Eu ainda não percebi onde o Camarada
Lima,se arrepende,se do acto que co_
meteu ou de ter ficado para a Histó_
ria de ter ajudado a salvar a vida aos seus camaradas,que tal como eles
e afinal todos os que andamos na
"tal"guerra que foi "injusta",em que
só nós fomos os maus da "fita"blá
blá.Não me diga que os vendilhões do templo ao longo destes anos to_
dos,lhe têm massacrado os ouvidos
com acusações e atentados à sua di_
gnidade,fazendo-o pensar o pior de
si e de que a razão está só do ou_
tro lado?
Alberto Guerreiro.
Caro camarada José Lima
Desconheço quais seriam as regras militares quando recebeste a condecoração, de qualquer modo estavas na situação de disponibilidade o que em termos práticos eras civil pelo que não vejo razão da suposta obrigatoriedade em estares fardado juntamente com outros camaradas.
Lamentável foi a farda que te disponibilizaram.
Um alfa bravo
C.Martins
Caro C. Martins,
Levantas uma questão interessante: por que não receber à civil? É verdade que "disponibilidade" integra a categoria de "tropas activas" (vi isto agora na minha caderneta militar). Basta notar, aliás, que, até aos 45 anos qualquer homem tinha que apresentar documento militar para se deslocar ao estrangeiro. Parece que isto nem sempre era exigido. Mas comigo aconteceu ter quase ficado em terra (e já estaria pelos 40 anos) porque o Guarda Republicano exigia a minha autorização de saída. O graduado de serviço resolveu a situação.
Se calhar, com o rigor burocrático do Exército, a pernoita, pequeno almoço, talvez almoço destes camaradas no quartel teve direito a entrada em Ordem de Serviço, na rubrica "adidos" ou coisa do género, a fim de entrar nas contas da Unidade.
Precisamos urgentemente de um Sargento do quadro, dos antigos, para nos ajudar a compreender estas coisas. Quem o descobre?
Quanto à farda: também não gostei. As boinas são ainda as dos primórdios, farfalhudas.
Um abraço,
Carlos Cordeiro
Numa descrição tão simples e sem delongas, do amigo José Lima da Silva, fica demonstrado como era-mos umas marionetes nas mãos do Estado Novo, que necessitou desde sempre de encenar, para sustentar o 'para áfrica e em força' e o 'Portugal, uno e indivisivel'. O post de José Silva, na minha boca (melhor na minha escrita) seria um perjúrio ou outra coisa qualquer, para alguns membros da Tabanca Grande.
P´la minha parte fico agradecido pelo teu indesmentivel post.
Um abraço para todos e cada um.
Carlos Filipe
ex- CCS BCAÇ3872 Galomaro/71
A situação de disponibilidade segue-se ao serviço efectivo normal durante seis anos. O cidadão na disponibilidade pode ser convocado por motivo excepcional ou em caso de guerra
José Gusmão
... observação ao co-editor:
Para quê, "emendar" a História?!
Todos nós sabemos que, em 1968, o topónimo do local onde decorreu o cerimonial daquele "10 de Junho", não era, com toda a certeza, «Praça General Humberto Delgado»...!
.
... ao precedente "anónimo": não «tábem», nem 'tá mal.
De facto, no topo da Avenida dos Aliados, até 1975 o topónimo era simplesmente "Praça do Município" (também popularmente designada Praça Almeida Garrett, devido à estátua existente no local).
Para esclarecimento total e definitivo, a actual Praça Gen Humberto Delgado, no Porto, foi assim rebatizada em 30 de Janeiro de 1975. Chamava-se então Praça do Município.
Em tempos idos ter-se-á chamado Praça Sidónio Pais.
Informação recolhida junto da Câmara Municipal do Porto.
Carlos Vinhal
Em dezembro de 74 fui convocado para me apresentar no BC5 em campolide, onde se fazia o espólio da Guiné.
Lá fui à civil, evidentemente,e o motivo era para receber uma condecoração e retroactivos a que tinha direito. O Sr.Coronel que me recebeu disse-me que iria desfilar em continência uma companhia em minha honra (sic).Dispensei diplomaticamente tal honra E DURANTE TODO ESTE PROCESSO NUNCA ME FOI EXIGIDO OU SE QUER FOI AFLORADO QUE TINHA QUE ESTAR FARDADO, daí a minha estranheza que tal tivesse sido exigido ao camarada José Lima e aos restantes camaradas.Seria por já se estar no prec ?Por serem simples soldados ?
Tanto quanto sei, estar na disponibilidade significa estar disponível para ser chamado novamente a cumprir serviço militar, o que sucedeu com todos os capitães milicianos, mas o estatuto é de civil enquanto tal.
C.Martins
A Medalha da Cruz de Guerra, criada pelo decreto 2870, de 30Novde 1916, para premiar actos e feitos de bravura praticados em campanha. Esta condecoração recebeu notoriedade durante a Primeira Guerra Mundial e durante a Guerra do Ultramar, apresentando em cada época um cunho ligeiramente diferente. Divide-se em 1ª,2ª,3ª,4ª classe, por ordem decrescente de importância.É a terceira na ordem de precedência das condecorações individuais( usadas no lado esquerdo do peito) (Extraído da Wikipédia).
É pena que o poder político tenha vindo a denegrir os militares junto dos seu concidadãos e gerando uma apatia destes por aqueles que um dia arriscaram a vida em cumprimento dum juramento que fizeram dizendo "... mesmo com sacrificio da própria vida".
Veja-se o exemplo doutros exércitos que nas festas do dia dos seus países onde desfilam antigos combatentes ostentando as medalhas ganhas no campo de batalha.José Gusmão
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