terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 – P9546: (Ex)citações (175): Não canto loas ao inimigo para apoucar os meus (António J. P. Costa)

1. Mensagem do nosso camarada António José Pereira da Costa, Coronel Reformado (ex-Alferes de Art.ª na CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69 e ex-Capitão de Art.ª e CMDT da CART 3494/BART 3873, Mansabá, Xime e Mansambo, 1972/74), com data de 27 de Fevereiro de 2012:

Camarada
Sinceramente não contava com esta reacção por parte da rapaziada do blog.
Acho que devo defender-me dos comentários que foram feitos sobre aquilo que eu disse*.

1. - Para o Mexia Alves, o abraço do costume e recordar-lhe que "se para estas guerras não dou mais" deve começar a guardar as esmolas.

Claro que o porta-aviões estava encomendado e o submarino só não foi entregue por motivos...
Contudo, talvez a procurar prevenir para não ter que remediar foram adquiridos dois sistemas de armas AA Crotale e não creio que tenha sido para dar uns tostões à fábrica francesa. Isso quer dizer que as coisas poderiam precipitar-se e os condutores da guerra sabiam disso.

Quanto à questão dos "ses", coisa que em História não há, parece-me que cais sempre nela. A tua atitude é do treinador que depois do jogo perdido diz que se o jogo durasse mais dez minutos ainda ganhávamos "aquilo".
Sei que vais voltar a dar para estas guerras e isso não tem que ver com a tua "palavra de honra".
É feitio, pronto!
Mais um Ab e a gente vê-se no dia 21ABR.


2. - Aos camaradas que têm dificuldade em aceitar o que disse, sugiro que leiam, entre outros, os documentos que o "Tabanqueiro 530" tem vindo a apresentar. Claro que são apenas documentos... embora oficiais e classificados ao mais alto nível. Como são antigos, não serão muito credíveis. Quero também dizer que não escrevo mentirinhas, nem aldrabices e muito menos faço bulir a desinformação.
Era o que faltava, vir tentar mentalizar homens da minha idade!

Também rejeito, por completo, a teoria de que os bravos/orgulhosos/decididos/valentíssimos/impolutos/patriotas guerrilheiros do PAIGC "davam cada dia maize duro na criminoso colonialista tuga" imperialista/colonialista/salazarista/fascista/basket-bolista/futebolista/alpista e outros terminados em -ista que éramos nós. Não perfilho o gosto tão português de dizer mal de nós. Mas, não abdico da capacidade de apontar onde as coisas correram mal. Tenho para mim que é mais construtivo de que fingir que nada de mau ou errado se passou, em nome de uma qualquer forma de patriotismo, qualquer que seja o âmbito que se considere

Não canto loas ao inimigo para apoucar os meus e não cultivo o nacional-porreirismo de que afinal somos todos "bestialmente" amigos e camaradas, mas também não me move qualquer espécie de ódio em relação aos guerrilheiros do PAIGC. Estou até firmemente convencido que o fenómeno sociológico a que chamamos guerra colonial/do ultramar/de África foi um problema criado pelos portugueses, sofrido pelos portugueses e resolvido pelos portugueses, quer eles vivessem e/ou tivessem nascido em Portugal, na Guiné, em Angola ou em Moçambique. Já dei a minha opinião sobre a questão da guerra ganha ou perdida na revista oficiosa do Exército, sinal de que as minha opiniões não estão muito longe da posição oficial. Não estou só, nesta maneira de pensar como se vê por diversas intervenções de outros camaradas no blog


3. - Ao Zé Brás quero desejar um feliz Dia das Mentiras, cheio de aficion e com a alegria de uma celebração de camaradagem e companheirismo. Se saltares à praça, não te esqueças de que isso já não é o que era e que a tradição (nem sempre) é o que era.
Um Ab., sorte e alegria


4. - Ao António Martins de Matos quero que dizer que li atenta e demoradamente os artigos da "Mais Alto" e, na perspectiva do "utente ou beneficiário", teci as considerações que ali ficam. Sou do tempo em que os FIAT bombardeavam e "o pessoal" baixava as cabeças, sentia o ar a tremer e podíamos ver os números dos aviões, em 1968. Nesse tempo, tínhamos correio duas e (às vezes) três vezes, por semana trazido pela "Avionette" DO 27. Vinha também o médico, o padre e até o comandante do batalhão. No dia em que fui colocado em Cacine, ia no DO um cabo da Engenharia que ia montar um disjuntor no poço do quartel.

Em 1971- inícios de 73 as coisas não se tinham modificado muito. Depois do aparecimento do Strella, recordo-me de ter visto os detalhes do Nord do Cor. Moura Pinto a voar sobre a estrada para e de Farim. O Velho era mesmo valente! Por experiência própria e com testemunhas (Ribeiro Faria e Joaquim dos Reis) verifiquei que as condições eram agora outras, as possíveis.

Como, por acaso sou português, o Exército é o meu exército e a FAP é a minha FAP, com tudo o que tenham de bom e de mau. Num dado momento histórico qualquer país ou civilização é caracterizada pelas suas instituições funcionando, como funcionaram ou funcionam.

Surdo sou um bocado. É da PDI! Dei a minha opinião sobre as consequências de um dado facto e creio ser inegável que naqueles dias houve uma viragem no curso dos acontecimentos.


5. - Finalmente quero dizer que achei um piadão àquela do Graça Abreu e do touro às arrecuas. É uma imagem humorística, mas não vi ao que vem. Parabéns pela ideia, de qualquer modo! Também não entendi nada daquela viagem à meditação oriental. Nunca fui à China, nem sequer a Macau, por isso tenho dificuldade em interpretar as afirmações do filósofo Zi Ping Pong (Cap. 69, Vs 96) produzidas no tempo da pedra lascada ou até antes. Parecem-me deslocadas, pois falei de coisas muito diferentes: aviões, guerra, artilharia e outras minudências bélicas.

Da China só conheci o Livro Vermelho do camarada Nove Sete Um. Tinha até um exemplar encadernado, mas, como era vermelho (o livro) ofereci-o ao Benfica para a Sala de Troféus do Estádio da Luz. De qualquer modo teve piada.
Um Ab e acho que deve continuar a cultivar a sua veia humoristica-tauromáquica-meditativa. Os Gatos Fedorentos que se cuidem...


Um Ab.
Agradeço a atenção que tiveram para me ouvir
António J. P. Costa
+1 Reformado
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 24 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9527: FAP (65): Mísseis Strela, a viragem na guerra... (António J. Pereira da Costa)

Vd. último poste da série de 9 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 – P9465: (Ex)citações (174): A mágoa de, no meu País, os bravos, os vivos e os mortos, não terem o reconhecimento e o respeito do seu sacrifício, que merecem (Rui Dias Moreira)

12 comentários:

José Botelho Colaço disse...

Mais uma vez o coronel Pereira da Costa põe em evidência a sua educação e fomenta as suas teses, com as quais se me é permitido, concordo plenamente.

Um abraço.
Colaço

Anónimo disse...

(ganda lição!)
________________________________
Dá l'cença q'sublinhe?

"Não canto loas ao inimigo para apoucar os meus e não cultivo o nacional-porreirismo de que afinal somos todos "bestialmente" amigos e camaradas, mas também não me move qualquer espécie de ódio em relação aos guerrilheiros do PAIGC."

É para se ver melhor.

SNogueira

Joaquim Mexia Alves disse...

Meu caro António

Obrigado pela tua resposta.

Respondo-te não para voltar ao tema, a que não voltarei, "nem que me morda todo", mas para te dizer que os "ses" são teus.

Ora repara no que escreveste anteriormente:
O passo seguinte seria algo que se previa, também de há muito: o “fornecimento” de aviões MIG 17 ao PAIGC, operados por pilotos estrangeiros. Nunca chegou a ser dado, mas o “número de sobrevoos não autorizados” não parava de subir, em todos os documentos de informações recebidos nas unidades e não nos esqueçamos do Antonov que apodrecia na placa da BA 12, com os distintivos da Guiné Conacri (que nunca o reconheceu como seu) depois de ter aterrado, por engano, em território da Guiné Bissau.

A BA 12 era particularmente vulnerável a um ataque aéreo com consequências imprevisíveis, especialmente se a unidade não conseguisse reagir projectando força contra o atacante. E se fossem as instalações portuárias onde podemos incluir as da SACOR? E se no momento do ataque estivesse um navio a desembarcar ou a embarcar tropas?

Vês, os "ses" são teus.

O abraço amigo do costume de quem percorreu caminhos da Guiné, contigo.

Anónimo disse...

"Estou até firmemente convencido que o fenómeno sociológico a que chamamos guerra colonial/do ultramar/de África foi um problema criado pelos portugueses, sofrido pelos portugueses e resolvido pelos portugueses, quer eles vivessem e/ou tivessem nascido em Portugal, na Guiné, em Angola ou em Moçambique."

...e ai esta uma "sabia" e "cristalina" sintese...


Mantenhas

Nelson Herbert

antonio graça de abreu disse...

Meu caro coronel

Não sou eu que afirmo, são palavras do ten. general António Martins de Matos, corajosos piloto de Fiats e DOs nos céus da Guiné, 1972/1974 que diz, a propósito do seu texto::

"Há no entanto uma série de considerações que estão erradas, as mais notórias referem-se ao modo como os aviões apoiam as Forças terrestres.(...)Quanto ao apoio ter sido reduzido, acho que ele (cor. Pereira da Costa)
deve ser surdo."

O meu coronel reconhece agora "surdo sou um bocado."
E o pior surdo é o que não quer ouvir, digo eu, mas não é de certeza o caso do meu coronel.

No que me diz respeito, o meu coronel leu ao invés o meu texto a propósito de touros e forcados, a que achou "um piadão". Não falei em nenhum "touro às arrecuas" mas sim do grupo de forcados do Zé Brás às arrecuas diante do touro, o que é completamente diferente.

Por último, quanto à China da pedra
lascada, pode crer que terá muito a aprender com a China Antiga, estamos sempre a aprender. Folgo muito por saber que ofereceu o seu Livro Vermelho
do Mao Zedong à sala de troféus do Benfica. Está lá muito bem.
Tal como me aconselha também acho que "deve continuar a cultivar a sua veia humorística."

Não leve a mal este desabafo. Para cada um o seu humor.

Abraço,

António Graça de Abreu

Anónimo disse...

QUANDO AS SENSIBILIDADES FICAM...INSENSÍVEIS!

Só conheço o Cor. Pereira da Costa pela leitura dos seus textos no blogue.

Apenas por coincidência, também estive em Cacine, mas só 2 anos depois de ele lá ter estado.

Explico isto porquê?

Porque, sem saber ainda desta sua nova mensagem, fiz um comentário ao Poste 9527, também da sua autoria.

Nesse comentário, teci algumas considerações sobre um relatório de Hélio Felgueiras, relembrado pelo Juvenal Amado e terminei da seguinte forma:

" E sim. Concordo com a análise lúcida e serena que o Coronel António J. Pereira da Costa faz neste seu texto".

E continuo a concordar. Tendo até estranhado (ou talvez não), a "barreira de fogo cerrado" que se seguiu.

Dir-me-ão agora: Questão de "sensibilidades".

E é aqui que bate o ponto!

É que logo a seguir,no Poste 9528, (recensão do M. Beja Santos ao livro "Os ùltimos Guerreiros do Império"), lemos algumas afirmações de Marcelino da Mata, sobre a situação na Guiné, à data do 25 de Abril, tais como:

-"Só faltava destruir a base do PAIGC de Kadiaf, porque a de Fulamore já o tinha sido...No dia seguinte fui atacar Kadiaf".

-"Havia 60 mil tropas brancos e 40 mil africanos. Só havia mil operacionais. Quem fazia operações eram os Fuzileiros Especiais, os Comandos Africanos e os Pára-quedistas".

-"Em cada destacamento em que havia uma Companhia branca havia 45 milícias. Nos sítios onde a tropa branca não metia o nariz, eram eles quem ia… ".

-"Na Guiné havia 23 Companhias de Caçadores Especiais só de africanos e no fim, quando as Companhias de brancos se vinham embora, eram substituídas por pretos".

-"Muitos brancos iam daqui já politizados e por isso não queriam fazer operações, só disparavam se eram atacados; a maioria dos capitães milicianos que ia para a Guiné, no fim, eram comunistas”.

Curiosamente, aqui, nem fogo cerrado nem ligeiro, apenas se ouviu um silêncio...ensurdecedor!

Terá apenas a ver com as tais SENSIBILIDADES...INSENSÍVEIS.

Um abraço para todos

José Vermelho

Anónimo disse...

Vermelho
Quanto a mim, o silêncio ensurdecedor deve-se apenas à indisponibilidade de todas as "sensibilidades" para comentarem idiotices.
A feroz valentia do homem e a sua disponibilidade para matar e morrer talvez estejam fortemente associadas a este esquisofrénico "papia".
Ou talvez que me meta eu por caminhos de "analista de bagé".
José Brás

Anónimo disse...

Especialmente para o Graça Abreu e sobre a questão dos MIG, remetia-o para o livro que publicou (pág 140). Esta página (e praticamente toda a III parte do livro) relança esta e outras questões... É só tirar as conclusões.
Um Ab. do
António Costa

Torcato Mendonca disse...

Há assuntos, temas aqui trazidos de são eternos nas divergências.

Servem a quem? Talvez a quem não admita o contraditório...

A verdade é feita de quantas mentiras e o que é a verdade e a mentira?

Talvez, espero, nunca se encontre o unânimismo.

Ab T.

António Martins Matos disse...

Se...? E se...? OK.
E se...? E se....? Discordo!!!
Não concordo com os seus "ses", os meus "ses" são mais "ses"!!!!
Se....?
Se eu tivesse juízo não estava aqui a editar "ses..."!!!!

Abraço
AMM

Anónimo disse...

Só para o AMM. Tás a ganhar cólidades, com a idade. Mandas cada vez mais sabedoria. Um Ab do
António Costa

Anónimo disse...

Se cá nevar faz-se cá....se..se..se.

Apesar de ter sido o militar do Exército Português mais condecorado,Marcelino da Mata quando fala dos seus feitos guerreiros, gosta de aumentar um bocadinho é tudo sempre aos milhares, penso que será só uma questão de zeros.
Ele é milhares para aqui e para ali..quase parece..bem não digo.
Em Abril esteve em Cacine com o seu grupo de combate...não sei a fazer o quê..bem também era secreto.
Em kadif o paigc não tinha nenhuma base..aliás na Guiné-Conakry..não tinham o que se pode chamar base, não eram propriamente burros.Aquilo que existia eram pequenos acampamentos dispersos e também pequenos depósitos de armas numa área dispersa, falo especificamente da tão propalada Base de Kandiafara, que não existia, mas sim, a cerca de 5 km para sul, um dispositivo acima descrito.
Estive lá durante as conversações para a retracção das NT.

C.Martins