domingo, 11 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9596: In Memoriam (113): Ex-Soldado de Cavalaria José Aldeia Soares da CCAV 1748, pela sua morte ocorrida em 29 de Fevereiro, ex-sem abrigo de Odivelas (José Martins)

In Memorian do sem-abrigo

Soldado de Cavalaria Nº Mec 01210166
JOSÉ ALDEIA SOARES

Foi mobilizado para servir na Guiné, integrado na Companhia de Cavalaria nº 1748, formada no Regimento de Cavalaria nº 7 (já extinto), aquartelado em Lisboa, sob o comando da Capitão Miliciano de Infantaria Emilio Augusto Pires.

Embarcou para a Guiné em 20 de Julho de 1967 onde chegou no dia 25, ficando instalada em Bissau, com a missão de protecção e segurança das instalações e das populações da área.

Entre 12 e 20 de Setembro desse ano, escalonadamente, seguiu para Bula, a fim de efectuar o treino operacional, tomando parte patrulhamentos, emboscadas e batidas nas regiões de Inquida, Quitamo, Blequisse e Bofe, recolhendo a Bissau em 6 de Outubro de 1967.

Em 8 desse mês a companhia assume a responsabilidade pelo subsector de Contubuel, destacando pelotões para Sare Bacar e Sumbungo, sendo este deslocado para Geba e posteriormente para Dulo-Gengele.
Em 18 de Fevereiro de 1969 a subunidade é rendida, fica transitóriamente em Bissau e segue para Farim, onde assume a reponsabilidade deste subsector, integrado no dipositivo do Comando Operacional nº 3, até 1 de Julho de 1969,

Regressa à metrópole em 7 de Junho de 1969.


O José Aldeia Soares, no local onde passou os últimos anos da sua vida

Escrevi acerca dele e do seu irmão António, companheiro dos seus últimos anos, no post 4992* numa Carta Aberta ao Presidente da Liga dos Combatentes e à Presidente da Câmara Municipal de Odivelas.

O José Aldeia Soares era um dos sem abrigo, parece que de estimação, de Odivelas, já que nada ou pouco se fez por eles.

Com o José troquei apenas umas breves palavras, que transcrevo:

P - Posso fazer-lhe uma pergunta?
R – Se quiser…
P – Foi combatente do Ultramar?
R – Na Guiné.
P – Qual era a sua Companhia?
R – Cavalaria 7.
P – Onde esteve?
R – Bissau… Bafatá…
P – Não se lembra da sua unidade?
R – Nunca devia ter ido para lá!

Tendo sido hospitalizado no Hospital de Santa Maria, foi transferido para o Hospital Pulido Valente, onde veio a falecer em 29 de Fevereiro.



A situação do sem-abrigo José e António já tinha sido alvo de notícia do JN - Jornal de Notícias, de 6/4/2010. (Cabeçalho aqui reproduzido, com a devida vénia)...


Ao seu irmão António e companheiro de jornada de há muitos anos a esta parte e Combatente em Angola, os Combatentes da Guiné enderessam-lhe um abraço solidário.

Cabe aqui, e em forma de reconhecimento, do empenho sempre demonstrado pelo Sr. António Agostinho Pereira Pinto, pelo interesse que sempre dispensou a estes nossos camaradas, levando-lhe toda a assistência de que necessitavam, e o seu irmão ainda precisa.

Foi este mesmo cidadão que providenciou o seu funeral digno e cristão, tendo sido inumado no Cemitério de Odivelas, em 2 de Março de 2012, na campa n.º 110 da Secção M, na presença de autoridades locais.

Que o José Aldeia Soares descanse agora, dos trabalhos que esta vida lhe reservou e, fazemos votos de que tenha sido o último sem abrigo a viver sem ter a dignidade que todo o ser humano merece.

Cabe, neste espaço, recordar as palavras ditas por Madre Teresa da Calcutá, beatificada em 19 de Outubro de 2003 pelo Papa João Paulo II, na sua visita a Lisboa em 1982: “Aos outros pertence e compete encontrar os meios e as soluções para acabar com a pobreza. A nós pertence-nos amar os pobres”.

José Marcelino Martins
10 de Março de 2012
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 22 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4992: Ser solidário (37): Carta Aberta em prol dos ex-combatentes sem abrigo do Concelho de Odivelas (José Martins)

Vd. último poste da série 27 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9542: In Memoriam (112): Lembranças de Cherno Suane, falecido em 24 de Fevereiro de 2012 (Mário Beja Santos)

28 comentários:

Anónimo disse...

Caro José martins, mais "uma" que te ficamos a dever. Mais uma história de vida triste e lamentável. Devia fazer "mais" a Liga dos Combatentes e as outras associações de ex-combatentes.Afinal o José Aldeia Soares estava sinalizado. Ou não estava!? Continuo a pensar que o que faz a minha Companhia (CCaç. 675).Graças ao ex-Alferes Tavares sabemos as direcções de quase todos os nossos camaradas.Fazemos todos os anos convívios.Sabemos uns dos outros e ajudamos quem precisa.E, em termos de saúde, o nosso ex-Alferes Médico Martins Barata quando contactado dá sempre uma "mãozinha". Que o José Aldeia Soares repouse em paz.Em vida já teve o "inferno"...Abraço fraternal, José Martins.

MANUELMAIA disse...

CAMARIGOS EX-COMBATENTES,


INFORMA-NOS O ZÉ MARTINS DO PASSAMENTO DE MAIS UM VETERANO GUINÉU,INFELIZMENTE SEM ABRIGO.

A CADA DIA PASSADO, A CADA MORTE OCORRIDA NESTA LAMENTÁVEL SITUAÇÃO DE SEM ABRIGO,MAIOR É A MINHA INDIGNAÇÃO,MAIS CRESCE ESTA RAIVA E ÓDIO VISCERAL CONTRA ESTA MALDITA E ASQUEROSA CORJA QUE TEM SENTADO O SEU NAUSEABUNDO TRASEIRO NAS CADEIRAS DO PODER DESTE PAÍS QUE JÁ FOI DIGNO E QUE SABIA HONRAR OS SEUS MORTOS.
DESCANSA EM PAZ JOSÉ ALDEIA SOARES!

Luís Graça disse...

Que atroz ironia, meu caro Zé Martins, a do contraste entre o anúncio da marca de sapatos (e os seus predicados de conforto, com belas mulheres em cada lado, uma secretária e outra enfermeira)... e o miserável poiso onde o nosso pobre camarada Soares terá morrido...

Em tempos como estes, estas imagens começam perigosamente a banalizar-se... Por isso tu, Zé, mereces o nosso aplauso por, ao menos, teres evitado que o Soares fosse lançado à "vala comum" do esquecimento...

Parece que em Fevereiro morreram mais 4 mil pessoas que a média para este mês nos últimos dez anos... segundo do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA). Estamos a falar de um total estimado de 14 mil óbitos. Na última década (entre 2002 e 2010), mortalidade média mensal, para o mês de fevereiro, situou-se nos 10 mil óbitos...

Entre as razões apontadas parea este "excessso de mortalidade", estaria a vaga de frio deste inverno e o vírus (este ano mais agressivo) da gripa sazonal, que todos os anos mata uns dois ou três milhares de portugueses...

A rapaziada com 65 ou mais anos de idade está já no grupo mais mais vulnerável... Acrescente-se os efeitos, que se começam a fazer sentir, da crise, da pobreza, da miséria...

Entre as vítimas estarão seguramente mais camaradas que fizeram a guerra do ultramar, tal como o Soares... Tenhamos ao menos vergonha, como povo, da ocorrência de tantos casos (como este/estes), que a comunicação social nem sequer se dá ao trabalho de noticiar em duas linhas, porque é "natural morrer-se quando se é velho"...

Anónimo disse...

Mais que indignação sinto revolta.
Por cada um de nós que morre,também morremos um pouco, para mais nestas condições.
É verdade que aumentaram substancialmente os óbitos,devido ao vírus H3-N1,que até nem é extrema virulento, por isso a causa está principalmente nas condições degradantes em que cada vez mais estão os nossos idosos.
Tenho doentes que abandonaram os tratamentos oncológicos por não terem dinheiro para as deslocações, outros não fazem a terapêutica adequada...isto começa a parecer uma eutanásia passiva..
Quando uma Senhora Politica diz em plena televisão, eu vi, que a partir de uma certa idade não vale a pena tratar..isto é o quê.
Estamos dominados por tecnocratas e "economês"..

Desculpem os meus desabafos.

C.Martins

José Marcelino Martins disse...

O nosso Camarada de Armas não morreu na rua.
Foi levado para o Hospital de Santa Maria e, posteriormente, para o Hospital Pilido Valente, onde encontrou o seu fim.

Pelo menos teve, na morte, o que a vida lhe retirou: um abrigo e atenção médica, infelismente, tarde.

Luís Graça disse...

O José Aldeia Soares (c.1946-2012) não morreu exatamente na rua, morreu numa cama de hospital, sozinho como um cão... Teria 66 anos... É fácil fazer demagogia com casos como este... Se não fora o JN e o Zé Martins, nem sequer saberíamos da sua simples passagem pro este vale de lágrimas...

Que o seu nome, ao menos, fique ao lado dos outros camaradas nossos que já morreram, e que estiveram (e continuarão a estar) ligados à nossa Tabanca Grande. O Soares pertencia a uma companhia, a CCAV 1748, que nem sequer tem aqui um representante...

A minha proposta -emborta correndo o risco de ser interpretado - é que ele seja aceite, a título póstumo, como nosso camarada da Guiné... Que o seu caso mantenha desperta também a nossa consciência crítica. Que através do seu nome façamos também um pequena homenagem a todos quantos, dos nossos camaradas da Guiné, vivem como sem-abrigo, em estado de abandono, solidão, doença e miséria...

Gostaria de conhecer, sobre este assunto, a sensibilidade dos restantes 522 membros da Tabanca Grande (menos, naturalmente, "os 19 que da lei da morte se foram libertando") 1ue no tal perfazem 541...

Bom resto de domingo. Luis Graça

Luís Graça disse...

... Ah!, ao José Aldeia Soares deveria também juntar-se o nome do Cherno Suane, antigo 1º cabo do Pel Caç Nat 52 e da 2ª Companhia de Comandos Africanos, também recentemente falecido...

São dois casos paradigmáticos, e que tiveram algum eco no nosso blogue... No caso do Cherno, o Beja Santos, seu antigo comandante, deu-lhe voz.

Luís Graça disse...

... Quis dizer:

"A minha proposta - embora correndo o risco de ser MAL interpretado - é que ele seja aceite, a título póstumo, como nosso camarada da Guiné... Que o seu caso mantenha desperta também a nossa consciência crítica. Que através do seu nome façamos também um pequena homenagem a todos quantos, dos nossos camaradas da Guiné, vivem como sem-abrigo, em estado de abandono, solidão, doença e miséria"...

Carlos Vinhal disse...

O que leva as pessoas à condição de sem-abrigo? Querem elas ser reintegradas na sociedade?
Ser ex-combatente dá algum estatuto especial a um sem-abrigo? Foi o facto de terem combatido na guerra colonial que levou alguns a esta situação? Não haveria já uma predisposição para a incapacidade de integração plena na sociedade? E esta mesma sociedade perante os sem abrigo, como se comporta? Que diferença há entre o sem abrigo que vive e morre na rua (não foi o caso deste nosso camarada que morreu com dignidade num hospital) e os velhos encontrados cadáveres dentro de suas casas ao fim de semanas, meses e anos, em aldeias recônditas ou até nas grandes cidades como Lisboa e Porto?
Queremos respostas. Os governos não são culpados de tudo. A sociedade e cada um de nós tem a sua quota parte. Basta olharmos para a porta ao lado da nossa.
Quantos de nós nem sequer cumprimentamos o nosso vizinho ou fazêmo-lo a contragosto?
Carlos Vinhal

Rui Silva disse...

Descansa em paz José Soares.
A sorte que te faltou ou que te a fizeram faltar, seja ao menos compensada na tranquilidade da vida eterna.
Deus te acolha no Seu Reino

Rui Silva

Anónimo disse...

Caros camaradas

Sinto vergonha e revolta por saber que camaradas nossos, que deram a este país o melhor da sua juventude, acabam a sua vida deste modo, sem a dignidade que lhes é devida, e sem que os poderes instalados nada façam.
Cada vez me enoja mais esta podridão.

Descansa em Paz

Camarada José Soares

Manuel Marinho

Anónimo disse...

José Martins

O meu reconhecimento pelos teus abnegados esforços, para que não existam mais camaradas nossos a vegetar nas ruas deste país.

Bem-hajas

Um abraço

Manuel Marinho

Anónimo disse...

Luís

A tua proposta é muito digna e muito actual, se somos desprezados como combatentes, o nosso blogue deve estar na primeira linha a dizer presente, e a fazer a justa homenagem que sugeres, e nada melhor que o seu nome figurar na lista do blogue.

Abraço
Manuel Marinho

Anónimo disse...

Diz o anónimo da CCaç675,
« Devia fazer "mais" a Liga dos Combatentes e outras associações de ex-combatentes», eu respondo-lhe assim: Uns são a voz do Dono, os outros, oportunistas que viram nos combatentes, uma forma de se autopromoverem, financeira e socialmente. Não há pois uma verdadeira associação de Combatentes, há na realidade aquelas de que falei atrás e que tinham obrigação de zelar pela defesa daqueles que dizem representar, mas NÃO representam , e depois existem uma data de "capelinhas" que representam os mais diversos grupos de armas e especialidades, que não estão vocacionados para este tipo de trabalho e que não ouso criticar, porque efectivamente não é essa a sua função.

Sei que houveram e ainda há alguns (os mais teimosos/perseverantes se preferirem) combatentes, que generosamente deram o seu contributo para a criação de um Organismo que possa unir as diversas sensibilidades e trabalhar em prol dos combatentes, mas infelizmente há outras forças a dividirem para reinar.

Obrigado José Martins por este gesto de solidariedade.

A.Almeida

Torcato Mendonca disse...

Caros Camaradas

Li. Escrevo o mínimo para assunto para assunto tão importante. Creio que vocês dizem já muito, muito!
Agradeço ao José Martins, concordo com a sugestão (ões) do Luís Graça, o que o Vinhal escreve merece muita reflexão e debate e muito mais em outros comentários.
Não tenho a certeza mas creio que: - em cada dez sem abrigo de Lisboa, três são ex-combatentes...
O que se passa no País -tenho orgulho em ser Português - é lastimável; o que acontece, e aqui é trazido este exemplo, é uma ignomínia para quem combateu em nome de Portugal.
Eu, tu, ele...sabemos.
Sinto-me culpado. Eu sou culpado por não denunciar e lutar para a mudança de situações destas.Pagar quotas...para quê e porquê?...alivia a consciência???
Perde-se tempo com discussões estéreis por aqui. Aliviam e, por outro lado,a pluralidaade e o contraditório são regra de ouro.Talvez devêssemos discutir mais assuntos como estes ora levantados. No poste e comentários.
Abraços T.

Luís Graça disse...

Escrever que se morre num hospital como um cão...É forte, talvez forte de mais...É uma força de expressão.

Nasce-se e morre-se sozinho, são dois grandes momentos solitários da vida... E eu sei que não é fácil "humanizar" a morte e o morrer, mesmo num hospital do Serviço Nacioanld e saúde... O hospital é cada vez mais o terminal da morte...

Felizmente que o Soares, mesmo sem abrigo, era cidadão português, não morreu à porta do hospital, por não ser elegível", por não ter seguro de saúde, por não ter dinheiro... Como acontece noutros sítios no mundo... Defendo o direito à saúde... Qu fique claro.

Luís Graça disse...

Estranho... Há um grande silêncio na Net, sobre a CCAV 1748... Não se reúne ? Não faz convívios ? Alguém sabe algo mais sobre estes camaradas... ?

José Botelho Colaço disse...

Zé sobre o teu alvitre que resposta obtiveste do presidente da câmara de Odivelas?

Um abraço amigo.
Colaço.

Carlos Silva disse...

Meus Amigos & Camaradas

Mais uma vez vem à baila uma situação critica de um camarada.
Já aqui denunciei situações precárias de camaradas e até já se falou sobre o assunto a propósito do Bodo Jau na Ortigosa I, com o Juvenal e com o Vasco Gama que aventou a hipótese de constituir uma associação exclusivamente para apoiar os nossos camaradas em tais situações.
Creio que o Mexia até tem alguns fundos para o efeito, mas não sei se já teve aplicação prática.
Parece-me que o Gualter também se dedica a voluntariado e acções de solidariedade.
Nós Ajuda Amiga, também temos ajudado com vestuário e alimentação alguns camaradas africanos que estão na penúria devido ao desemprego.
Enfim... a palavra solidariedade é bonita e boa quando tem aplicação pratica em tempo oportuno e não para depois da morte.
Sempre ouvi dizer que “ fazer bem, é em vida e não após a morte”.
Deste modo, vir para aqui com blás, blás, desculpem-me mas é pura hipocrisia...
Se querem ser solidários demonstrem na prática.
Venham acções concretas
De facto compete à "corja" solucionar esses problemas, mas já que não solucionam e se podemos fazer alguma coisa, para atenuar o sofrimento desses nossos camaradas ou de outros seres humanos, mesmo pouco que seja, seria muito bom.
Não só, mas também no meu BCaç ajudamos e dói muito quando uma mãe, que chegou a telefonar para nós dizendo que não tinha de comer para dar aos filhos... e lá fomos apoiar.
Ora reconheço que somos uma gota no oceano e não conseguimos acudir a todas as situações que se nos deparam, mas se lhes dermos o nosso apoio ficam mais reconfortados, e com isto quero transmitir mais uma situação de um outro camarada do meu BCaç, já falecido em consequência de doença grave e que nós apoiámos, pois na altura ainda se conseguiu reunir cerca de 400 cts, embora lhe tivesse dito que iríamos tentar ajudar e ele respondeu-me ..... Mesmo que o resultado seja 000, já me sinto reconfortado com o vosso apoio e solidariedade... faleceu 2 ou 3 meses depois de levarmos a efeito a nossa iniciativa que não lhe salvou a vida, mas faleceu sabendo que estávamos ao lado dele.
Portanto, meus amigos venham acções em vida e não "in memoriam", agora o Zé Aldeias, que descanse em Paz e a ele tanto lhe faz que lhe façam ou não uma homenagem a título póstumo e que o considerem membro do blogue/tabanca...
Com um abraço amigo
Carlos Silva

Luís Graça disse...

Entendo as palavras do Carlos Silva como um apelo à ação... e uma denúncia do blá-blá... Não tenho feitio para dizer à mão esquerda o que faço com a mão direita... Admito, no entanto, que, pessoalmente, deveria fazer muito mais do que faço, pelo outros, para além do blá-blá que é o blogue (ou de que é acusado o blogue que fazemos aqui todos os dias)...

Admiro o Carlos Silva, o Carlos Fortunato, o Manuel Joaquim, e outros camaradas que estão à frente da "Ajuda Amiga" e de outras ONG, e que fazem coisas concretas para pessoas concretas, em Portugal e na Guiné-Bissau...


Infelizmente, o objetivo deste blogue é, sempre foi, desde o início, muito mais limitado:

Recordo o que somos:

"(...) Somos sensíveis aos problemas (de saúde, de reparação legal, de reconhecimento público, de dignidade, etc.) dos nossos camaradas e amigos, incluindo os guineenses que combateram, de um lado e de outro. Mas enquanto comunidade (virtual) não temos nenhum compromisso para com esta ou aquela causa por muita justa ou legítima que ela seja.

"(...)Em todo o caso, a solidariedade, a amizade e a camaragem são valores que procuramos cultivar todos os dias." (...)

Temos aqui um espaço, que é apenas um ponto de partida para, a título individual ou grupal, tomarmos iniciativas concretas no campo da solidariedade... O "In Memoriam" é apenas o título de uma série que criámos para dar conta do passamento de camaradas nossos... É pretensioso, por ser em latim?... É o mínimo que podemos fazer ? Não sei, fica aqui, mais do que a dúvida, a inquietação, trazida pelo Carlos Silva...

Um Alfa Bravo. Luis

Anónimo disse...

O anónimo da CCaç. 675 sou eu José Eduardo Reis de Oliveira, também conhecido por JERO, autor do primeiro comentário.As minhas desculpas aos tertulianos.
Grande abraço para todos, JERO

José Marcelino Martins disse...

Procurem "ultramar.terraweb.bis"

Há mais informação sobre estes nossos camaradas,

Anónimo disse...

Estimados Camaradas.Subscrevo as palavras do Camarada Carlos Vinhal
e se me dão licença,acrescento:Em
boa parte nós também somos culpados
pelo nosso ostracismo.Nunca nos soubemos impôr.Antes de 74 e foi o
sistema que nos mobilisou,não podi_
amos abrir "bico".Depois de 74,co_
meçamos a gritar aos quatro ventos,
dando uma no cravo e outra na ferradura:eramos contra a guerra,
fomos obrigados,a malta do "outro lado" todos boa gentes só nós ti_
nhamos sido vilões.Por outro:servi_
mos a nação com dedicação da pró_
pria vida;ninguém nos respeita e
recorda?.Afinal em que ficamos?Fomos o que fomos(a consci_
ência de cada um, dirá)Somos o que
somos?.Os outros países imperialis_
tas do oeste e de leste,têm feito das boas e nós vemos os ex-comba_
tentes;o povo;os governos a terem
vergonha ou despezo pelos seus
devido ás boas merdas que têm
feito por esse mundo fora após a 2ª
guerra mundial?.Meus Amigos,sou doente do foro oncológico,quer eu viva muito ou pouco tempo,vou partir muito desiludido com tudo o
que se passa no nosso Portugal.Cada
vez temos menos dignidade e estamos
a perder a nossa identidade.Descul_
pem o incomodo.Até sempre.
Carlos Nabeiro--67anos-Setúbal-Por_
tugal.
CISMI-Tavira--1967--EMEM Paço'Dar_
cos-RI15 Tomar.1968/70 ZOT Moçambi_
que.

Hélder Valério disse...

Caros camaradas

Este caso, com o seu desfecho esperado e 'quase' inevitável, tem aqui, através do post e dos vários comentários, assunto sério para se debater, comentar e agir.

Antes do mais quero expressar o meu desgosto pela morte de mais este camarada, endereçando aos familiares os meus sentimentos e constatando que só não ocorre em completo anonimato porque o Zé Martins o publicitou e, já agora, o nosso Blogue lhe deu eco...

Depois, constato que as entidades oficiais, mais uma vez, ficaram 'curtas' no que poderiam fazer para enfrentar e tentar resolver casos como este, principalmente este mesmo, já que tinha tido 'visibilidade'...

Escrevi acima 'poderiam fazer' porque tenho ideia de já ter lido escrito algures 'por aí' (não sei exactamente onde, por isso não escrevo 'por aqui') que às vezes é "preciso saber se essas pessoas querem ser ajudadas, pois alguns parece preferirem esse tipo de vida"... Nessa altura, este tipo de 'argumento' entristeceu-me e irritou-me mas fez-me perceber melhor como as coisas andam, em termos de 'habilidades' para a 'fuga' à solidariedade.

Em seguida temos uma reacção instintiva por parte do Luís, que me parece ser de louvar e de apoiar, que é de integrar o J. Aldeia Soares e não só, na listagem dos nossos amigos que 'já partiram'. Como deixa entender o Carlos Silva isso, para eles, agora, não lhes deve interessar nada, mas para nós é um gesto simbólico, uma forma de dizermos que nos importamos, que os lembramos e relembramos e que pode servir para incentivar mais e melhor atenção para este assunto: o dos ex-combatentes em situação de abandono...

Sobre este assunto e os seus diversos envolvimentos considero que se deve ter em boa conta todas as questões/interrogações colocadas pelo Carlos Vinhal e se as debatermos com a mesma 'profundidade' com que se empenham na 'guerra quase ganha' podemos encontrar algumas possíveis respostas e consequentes acções práticas, até também na linha de 'pensamento para a acção' do Carlos Silva.

É bem verdade que temos algum conhecimento de algumas coisas que vários camaradas, destes que connosco partilham o espaço deste blogue e de outros também, vão fazendo em termos de acções de solidariedade, acções reais, como aquelas (acções) e aqueles (camaradas) que foram citados, sendo que uns se empenham mais no apoio às populações na Guiné e outros nos sem-abrigo, por cá.

O Carlos Silva refere a intenção do Mexia Alves canalizar os proveitos da "Tabanca do Centro" para uma acção do tipo que se tem vindo a referir, sendo que indica também o Vasco da Gama como um dos 'motores' dessa acção. E também parece criticar a iniciativa do nosso Blogue se a mesma se ficar pelo blá-blá do costume.

Quanto ao Blogue, acho que o Luís Graça esclareceu bem o seu âmbito, o que pode potenciar, divulgar, registar, incentivar, etc., mas que não tem 'vocação' para dirigir um 'movimento', ou coisa assim.

A minha experiência neste tipo de acções, de iniciativas, tem a ver com o que foi possível criar para levar à prática a produção do livro do Manuel Maia, o "História de Portugal em sextilhas". O Blogue foi divulgando os poemas, vários camaradas foram-se pronunciando no sentido de que 'seria bom que isso fosse colocado em livro' e então as 'vontades' foram-se juntando, sob a iniciativa do Vasco da Gama, sob a sua direcção, congregaram-se o Dinis e o Belarmino, depois eu, o Rosales e o Zé Brás e o trabalho resultou.

Ou seja, foi pelo Blogue, com o Blogue e também para o Blogue, que incentivou e possibilitou que alguns dos seus membros se unissem num objectivo comum, conseguido, e é essa experiência que entendo dever ser feita.

Abraços
Hélder S.

Ultramar Naveg disse...

_
em complemento à info (22:37 de ontem), do veterano José Martins, relativa a outras notícias que podem/devem ser lidas, em
ultramar.terraweb.biz/Noticia_Odivelas_AntigosCombatentesSemAbrigo

... tb um recente comentário no facebook:
- Odivelas: uma autarquia que adoptou a "pragmática" chinesa (vg República "comunista-capitalista").
Enquanto naquele jovem concelho suburbano, os responsáveis autárquicos acolhiam e patrocinavam uma "evocação dos 25 anos da morte de Machel", mantiveram arrogante alheamento quanto a um caso de gritante indigência, em que permanecem dois veteranos de guerra.

facebook.com/utw.ultramarterraweb/posts/366076170090750?comment_id=4676095&notif_t=like

manuel amaro disse...

Li e compreendo tudo o que aqui foi escrito.
Eu não sei em que data o José Aldeia Soares se "instalou" nas proximidades do Centro Comercial Oceano, em Odivelas.

Lembro-me que, quando eu o conheci, ele era tratado pelos proprietários e clientes do Restaurante, como um voluntário daquele modo de vida.

Era um conversador, característica que foi perdendo com a idade e a degradação.
Os fumadores davam-lhe tabaco.
Eu, que não fumo, ainda contribui com alguns escudos, bastantes vezes, para ajudar a pagar a refeição.
Até há poucos anos, ele não aceitava outro tipo de ajuda que fosse além do tabaco, comida e bebida.

Não estou a fazer a apologia... estou apenas a dizer que não é fácil tratar destes casos, nesta fase.

Mas quando a idade avançou e a saúde desapareceu, aqui sim, o Município, a sua digníssima Presidente, os serviços sociais... não têm desculpa.

O nosso blogue, agora, pouco pode fazer... mas se o que fizer contribuir para a nossa paz espiritual e para avisar Odivelas e os outros 307 Municípios, de que não estão a cumprir com a sua função social, então avancemos com o que já foi aqui proposto.

Um Abraço

Manuel Amaro

Manuel Reis disse...

Já não há palavras!

Repousa em paz camarada amigo.

Manuel Reis

Anónimo disse...

Revoltante

Informa o NAVEG, "que as autoridades autárquicas patrocinaram um evento comemorativo da morte de Samora Machel", enquanto se alheavam de dois casos de indigência de dois veteranos de guerra.
Fizeram-no com o dinheiro de quem ?
Em Moçambique também houve ou há algum caso de reciprocidade, para com algum dos nossos antigos dirigentes ?
Os que aqui têm teses ou se identificam com a orientação politica desses senhores, que se pronunciem.
Oh...não, nós éramos os "maus da fita" e Samora Machel, como todo a gente sabe, foi um "santo".
A mim dá-me "nojo".

C.Martins