terça-feira, 29 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9961: Efemérides (96): Guidaje foi há 39 anos: a coluna que rompeu o cerco, em 10 de maio de 1973 (Amílcar Mendes, ex-1º Cabo Cmd, 38ª CCmds, 1972/74)


02 Novembro 2005

Guiné 63/74 - CCLXV: Apresenta-se o 1º Cabo Comando Mendes (38ª CCmds, 1972/74)

Caro Luis Graça, camarada comando Briote:

Vou-vos falar um pouco de mim. Assentei praça no longínquo ano de 1971 no antigo RAL 1, em Outubro. Ofereci-me para os Comandos onde cheguei em Dezembro de 1971 (CIOE/ Lamego). Completei o curso em Junho de 1972, mês a que cheguei à Guiné, a 26. Iniciei a 2ª parte do curso em Mansoa, na mata do Morés, onde tive o primeiro contacto com o IN. Recebi o crachá de Comando em Agosto, com o posto de 1º cabo.

Em Fevereiro de 1974 terminei a comissão mas só regressei a Portugal em Julho de 1974. As histórias pelo meio ficam para outra altura, e tambem as fotos, neste momento tenho o scanner fora de serviço.

Se quiserem saber mais alguma coisa é só perguntarem.

Um grande abraço para todos os ex-combatentes, em especial os Comandos.

Só mais um pormenor, a minha companhia foi a 38ª Companhia de Comandos, os Leopardos.A. Mendes
1. Amílcar Mendes é um dos nossos mais antigos 
grã-tabanqueiros. Publica-se acima uma cópia do poste de 2 de novembro de 2005 em que ele se apresentou ao pessoal do blogue, que na altura ainda só eram umas escassas dezenas de "tertulianos", como então chamávamos aos membros da nossa "tertúlia", hoje Tabanca Grande.  

O  ex-1º Cabo Comando,  depois de ter estado na 38ª CCmds (Guiné, 1972/74), ficou no Regimento de Comandos da Amadora até 1980, dando instrução.  Hoje tem um táxi na Praça de Lisboa. Há tempos confidenciou-nos: "Enquanto estive na Guiné fui escrevendo uma espécie de diário que, com muito gosto, irei aqui partilhar com toda a tertúlia, porque sei que muito do que escrevi apenas fará sentido para aqueles que trilharam os mesmos caminhos nesses longínquos, difíceis e já saudosos anos".


São o seu caderno de notas e as memória ainda bem vivas da sua atividade operacional no TO da Guiné que lhe permitem falar com autoridade da coluna que "rompeu" o cerco a Guidaje, em 10 de maio de 1973. Há questões de pormenor que ele pode ainda esclarecer, com a ajuda de outros camaradas "que estavam lá"... Por exemplo,  no portal da Liga dos Combatentes não há registo de mortos, em combate, no dia 11 de maio de 1973, por que ao que parece o PAIGC estava também ocupado em tratar dos seus mortos e feridos (,segundo a versão de Moura Calheiros).  Por outro lado, os cadáveres em decomposição na zona do Cufeu (o A. Mendes diz que contou 15 quando lá passou em 10 de maio de 1973, a caminho de Guidaje) (*) tanto seriam das NT como do PAIGC (, já que a zona fora bombardeada antes pela FAP, possivelmente a 8). 

Por outro lado, confirma-se que os 2 gr comb da valorosa 38ª CCmds regressaram a Mansoa, ao CAOP 1, não a 13, ao fim da tarde.  

Sobre esta coluna, vd. o que o Moura Calheiros escreveu no seu livro, A Última Missão, pp. 444/445; este autor diz que esta coluna, com 8 grupos de combate - incluindo os 2 da 38ª CCmds - partiu de Binta a 10, de madrugada; o mesmo diz o José Manuel Pechorro e a história da 38ª CCmds; o Amílcar também já me confirmar a data, que é 10 e não 11, como aparece por lapso nos postes de outubro de 2006. A 12, morrem  o Raimundo e o Viegas morrem a 12...).

De resto, só com a triangulação de fontes e uma aprofundada pesquisa de arquivo podemos esclarecer pontos sobre os quais pode haver pequenas divergências factuais (por ex, nº e data das colunas; nº total de baixas, mortos e feridos; forças que integraram as escoltas às diversas colunas). O objetivo da publicação destes postes sobre os 39 anos da batalha de Guidaje (uma das mais duras da toda a história da guerra colonial nos três teatros de operações) é também a de suscitar o aparecimento de novos depoimentos, de colmatar lacunas de informação e de sobretudo de homenagear os vivos e os mortos, todos os nossos camaradas que deram melhor de si  (algumas dezenas, a sua própria vida) no "inferno de Guidaje".

Juntamos aqui os 4 postes do A. Mendes sobre o "inferno de Guidaje" (*), publicados em outubro de 2006. Foram feitas correções de datas.







38ª CCmds (1972/74) > História da unidade > Excertos (documento disponibilizado pelo Amílcar Mendes)


 A CAMINHO DE GUIDAJE

por Amílcar Mendes
Resumo:

9 de Maio de 1973 > O 2º e o 4º grupos [da 38ª Cmds] vão hoje fazer uma escolta a uma coluna de Mansoa para Farim.

13 de Maio de 1973 > Regressei hoje a Mansoa. Cinco dias fora. Meu Deus, foram os piores dias da minha vida. Irei tentar descrever tudo o que passei. Os horrores da guerra! Nunca pensei que fosse possível acontecer o que vi. Terrível de mais para ser verdade.  




9 de Maio de 1973

Saímos de Mansoa [, sede do CAOP1,]  com destino a Farim, com uma coluna que leva abastecimentos para a fronteira. Íamos só com a missão de chegar a Farim e voltar. Passámos a noite em Farim, mas fala-se já que não iremos voltar. A coluna que viemos acompanhar, destina-se a Guidaje.


Guidaje, onde nenhuma coluna consegue chegar. Fala-se aqui que da útima coluna que tentou passar: ficaram pelo caminho mais de 20 mortos. Guidaje onde a situação é caótica, onde a aviação já não dá cobertura. 

Em Farim assisti à chegada do que restou da última coluna que tentou passar. Vi militares chegarem a pé, sozinhos, completamente aterrados com o que passaram.

Continuamos em Farim e com a chegada da noite ficamos a saber que somos nós quem vai seguir com a coluna para Guidaje.



pelido  Nome  Posto  Ramo  Teatro de operações  Data  Motivo  
GERALDES MANUEL MARIA RODRIGUES GERALDES SoldExércitoGuiné10/05/1973  Combate  
MANÉ ABDULAI MANÉ 1CabExércitoGuiné10/05/1973  Combate  
REDONDO ANTÓNIO JÚLIO CARVALHO REDONDO SoldExércitoGuiné10/05/1973  Combate  
SADJÓ SADJÓ SADJÓ SoldExércitoGuiné10/05/1973  Combate  
SANHÁ MAMADU LAMINE SANHÁ SoldExércitoGuiné10/05/1973  Combate  
TURÉ JANCON TURÉ SoldExércitoGuiné10/05/1973  Combate  
ApelidoNomePostoRamoTeatro de operaçõesDataMotivo

 Fonte: Liga dos Combatentes > Mortos no Ultramar













10 de Maio de 1973

Saímos de madrugada de Farim com destino a Guidaje. Primeiro a Binta, onde os picadores se irão juntar aos nossos grupos. Daí entramos na maldita da picada. Os picadores seguem na frente.

Nota-se na picada o efeito das minas, autênticas crateras. Serão 16 km de picada até Guidaje. Um pelotão de Binta irá conosco até meio do percurso, depois iremos sós. Na frente os picadores lá vão detectando e rebentando minas, a cada hora apenas andamos para aí 2 km. Sabemos que de Guidaje saiu a CCAÇ 19, africana, para vir ao nosso encontro.


Passar na bolanha do Cufeu é impossível descrever o que encontramos sem sentir um aperto na alma: dezenas de viaturas trucidadas pelas minas. Os cadáveres pelo chão são festim para os abutres. É uma loucura. Pedaços das viaturas projetadas a ezenas de metros pela acção das minas. Estrada cheia de abatizes. Tentamos não olhar. Nunca vi tanto morto, nossos e do IN, deixados para trás ao longo da picada.

A coluna, à saída da bolanha do Cufeu, pára. Ouve-se ao longe tiros e rebentamentos. A companhia que vinha ao nosso encontro [, a CCAÇ 19,], caiu numa emboscada na ponte. Pelo rádio ouvimos o oficial que comanda a companhia emboscada pedir apoio aéreo, porque o IN é em muito maior número e ele diz que está a ser dizimado. Chegam dois Fiats e tentam dar cobertura à companhia emboscada mas dizem que é impossível porque o IN esta demasiado próximo.


Ouço então o apelo mais dramático, ouvido em toda a minha vida: Pela rádio o oficial que comandava a companhia emboscada apela à aviação:

- BOMBARDEIEM TUDO! A NÓS, INCLUINDO! A SITUAÇÃO É DESESPERADA! ESTAMOS A SER TODOS MORTOS, POIS OS GAJOS SÃO EM NÚMERO MUITO SUPERIOR!

A aviação nega-se a cumprir o apelo. Nós estamos a cerca de 3 km da emboscada. Nem pensar em lá chegar para ajudar. Demasiado longe num local cheio de minas e outros obstáculos. Os Fiats sobrevoam-nos e avisam-nos de que o IN está próximo. Faz isso para evitar ser bombardeado.



Continuamos a caminho de Guidaje. Quem ainda seguia nas viaturas salta para o chão. Ouve-se um rebentamento! Foi uma mina! O 1º cabo Filipe ao saltar pisou uma mina! Ficou logo ali sem um pé! Recebe os primeiros cuidados na picada e é posto numa viatura.

Seguimos, seguimos a um ritmo alucinante para chegar antes da noite.

Mais um morto na picada. Pisou uma mina. Ficou irreconhecível, metade do tamanho. É enrolado num poncho, posto no estrado de uma viatura. E continuamos (Esse morto mais tarde iria ser sepultado em Guidaje onde ficou).


Uma viatura pisa uma mina mas só ficou sem o rodado e continua assim mesmo.

Chegamos ao local da emboscada da CCAÇ 19 (**). Só encontramos mortos. Mortos e mais mortos. Nossos e do IN. Ficam para trás. E ali irão ficar para sempre. Já andámos há cerca de 10h na picada e Guidage já não está longe.

Já com Guidaje à vista subimos para as viaturas e eu sigo naquela só com três rodados, e onde segue o morto.

Chegamos a Guidaje! É a primeira coluna a chegar de há três semanas a este tempo. A população vem receber-nos com gritos de alegria, dá-nos água, trata-nos com carinho, sentem que o isolamento acabou.


Assim que entramos no destacamento, somos brindados com um ataque de morteirada. Com a noite vamos para as valas, que é onde se vive em Guidaje! O Filipe está num abrigo a soro, fui vê-lo e ele delirava a chamar pela família.

Durante a noite iremos sofrer mais 4 ataques e um deles será mortal.

Chega a noite. Mais um ataque. Desta vez e canhão sem recuo e morteirada. O IN sabe que esta uma Companhia de Comandos na vala e vai tentar a todo o custo causar-nos baixas, o que infelizmente vai conseguir. Nas valas, em estado de alerta, é impossível dormir. De bom em Guidaje só o facto de não haver mosquitos.

[No dia 11 de Maio de 1973, não há registo de mortos no portal da Liga dos Combatentes > Mortos no Ultramar. ]

12 de Maio de 1973

Cerca das três horas da manhã rebenta um violento ataque ao destacamento que é de meter medo. O IN deve ter as coordenadas das valas pois o fogo acerta todo dentro das valas. O barulho rebenta com os ouvidos. Dura cerca de 30 m. São centenas de projécteis. É de dar em doido!

A nossa artilharia [, Pel Art 24, de Guidaje] (**) responde ao fogo e lá se consegue parar o ataque. Terminado o ataque vamos fazer a contagem e duas vozes não respondem. Um, o Soldado Comando Raimundo, meu camarada de grupo, um moço da [Azambuja], a quem nunca mais ouvirei a sua voz; outro, um soldado condutor [, o Viegas, do CAOP 1] que tinha vindo connosco. Ficaram os dois desfeitos na vala com morteirada 120 mm.



Apelido  Nome  Posto  Ramo  Teatro de operações  Data  Motivo  
RAIMUNDO JOSÉ LUIS INÁCIO RAIMUNDO SoldExércitoGuiné12/05/1973  Combate  
VIEGAS DAVID FERREIRA VIEGAS SoldExércitoGuiné12/05/1973  Combate  
ApelidoNomePostoRamoTeatro de operaçõesDataMotivo

Fonte: Liga dos Combatentes > Mortos no Ultramar  









Ainda durante a noite iremos sofrer novo ataque mas mais ligeiro. Com a chegada da manhã os rostos de tristeza vão-se descobrindo mas é preciso reagir. Com um ano de guerra, o factor morte já não nos afecta assim tanto, já aprendemos a conviver com ela de perto, só temos de arranjar maneira de a ir iludindo.

Recebemos ordens para sair para a mata. Vem outra coluna a caminho, escoltada pelo Fuzos [ 1 gr comb da DFE 1 e um gr comb do DFE 4, comandados pelo 1º ten Meireles de Amorim, mais um gr comb da CCAÇ 3,] e nós vamos ao seu encontro para lhes dar apoio até  Guidaje. 

Antes de sair, fui ao abrigo-enfermaria (?) ver o Filipe: continua inconsciente, a perna começa a gangrenar e tem que ser evacuado com urgência, mas isso está fora de questão pois os misseis Strela estão à espreita da nossa aviação.

Fomos ao encontro da coluna e,  assim que chegamos ao destacamento, novo ataque. Pelas minhas contas tera sido o 6º. Com a noite voltamos para as valas.


O estado psicológico era tal que quando no silêncio se ouvia um barulho de alguma coisa a bater corríamos logo para a vala. No ataque à chegada dos fuzileiros, o furriel Marchão do meu grupo ficou crivado de estilhaços mas sobreviveu.

 
Amanhece em Guidaje. Logo ao alvorecer sofremos mais um ataque (o 8º). Recebemos ordem de saída para a mata. Vamos montar uma emboscada nos trilhos, já dentro do território do Senegal. Parece uma auto-estrada este trilho tal é o movimento de população. Revistamos ao acaso. Numa mulher encontramos documentação militar que apreendemos. Depois de cerca de três horas de controlo, retiramo-nos para o quartel.

A coluna vai hoje [, 13,] regressar a Binta-Farim. Ao meio do dia mais um ataque ao destacamento. A meio da tarde começa-se a organizar a coluna para o regresso mas durante os preparativos sofremos mais dois ataques e é a confusão, com as viaturas paradas no meio do destacamento e a morteirada a cair.


Assisti durante os ataques a um espectáculo insólito: enquanto durava o fogo, um oficial, nesta caso o Comandante, caminhava sereno pelo meio da confusão dando ordens e tentando manter a calma, alheio aos ataques e aos gritos. Esse senhor era o [Tenente-] Coronel Correia de Campos, que comandava o COP 3, ao qual a minha companhia ficou dependente enquanto esteve em Guidaje.

O Comandante achou perigoso a coluna seguir nesse dia [, 12,] pois fazia-se noite e concerteza o IN iria estar emboscado à nossa espera. Durante a noite sofremos mais ataques. Creio que no total e no curto tempo que aqui estivemos, sofremos pelo menos 15 ataques ao destacamento.

13 de maio de 1973


Logo ao alvorecer [, pelas 6h00,] a coluna põe-se a caminho. Fazemos a picada de volta e à medida que avançamos, voltamos a passar pelos cenários de morte. Os corpos estão a caminho de esqueletos, devorados pelos jagudis. O cheiro é insuportável, por vezes dá náuseas. Acho que pelo resto da minha vida nunca mais vou esquecer este local maldito!

Ao fim da manhã já estamos a chegar a Binta quando surge mais um acidente: um militar da tropa da Província pisa uma mina, dá por ela e fica com o pé lá em cima... É uma mina de descompressão e poucas hipóteses tem de lá sair com vida.

Põe-se areia a volta. Cobre-se o corpo de roupa mas ele salta rápido. Não morre mas fica sem o pé. Durante a minha viajem de regresso na Berliet que seguia à minha frente, ia o Filipe com a perna já em adiantado estado de gangrena. Irá sobreviver. Somos amigos, ele vive no Porto e ainda hoje recordamos esse tempo, o que nos dá vontade de chorar!


Chegamos a Binta e o Filipe é logo evacuado! A coluna não pára. Seguimos para Farim e daí logo em direção a Mansoa.

É a alegria geral! Que saudades da rapaziada! Chegamos a casa!...
- FORAM OS PIORES DIAS DA MINHA VIDA!- Pensava eu. 


A malta faz perguntas mas a nós não nos apetecia responder, só para não voltarmos a pensar naquele inferno. Ao diabo com Guidaje!~(Como eu estava enganado, mas ainda não o sabia!). [O Amílcar Mendes voltará lá em 29 de maio, na escolta a uma outra coluna logística].

Comentário: Ainda hoje sonho com Guidaje! Algumas coisas do que aconteceram foram tão reais que iriam ficar gravadas na minha memória até chegar ao STRESS!

Sentir na carne não é o mesmo que me sentar a escrever sobre um acontecimento. Isso é ficção e, pelo que vou lendo, há muitos ficcionistas que se arvoram em paladinos da verdade. Paz à sua alma!... (**)

A. Mendes


Texto e fotos: © Amilcar Mendes (2006). / Blogue Luis Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

_________________

Notas do editor:

(*) Vd. este e os postes anexos a este > 4 de abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2719: Guidaje, Maio de 1973: Só na bolanha de Cufeu, contámos 15 cadáveres de camaradas nossos (Amílcar Mendes)

(**) Segundo informação do nosso camarada José Manuel Pechorro, o pessoal da CCAÇ 19, do recrutamento local, era de etnia mandinga. O Pel Art 24, por sua vez, era constituído sobretudo por pessoal balanta.

Do José Manuel Pechorro, vd. também os seguintes postes:

19 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5300: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - I Parte (José Manuel Pechorrro)

21 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5310: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - II Parte (José Manuel Pechorrro)

16 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5479: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - Agradecimento e algumas informações (José Manuel Pechorro)

4 de Abril de 2010 Guiné 63/74 - P6105: (Ex)citações (63): O Ten Cor Correia de Campos foi um dos heróis de Guidaje (José Manuel Pechorro)


(***) Último poste da série > 28 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9954: Efemérides (61): Guidaje foi há 39 anos: Operação "Mamute Doido" (2): Desenrolar da emboscada na zona do Cufeu (António Dâmaso)

10 comentários:

Luís Graça disse...

O Moura Calheiros, baseado na informação “oficiosa” das NT (relatórios, mensagens…) diz que a coluna partiu de Binta, dia 10, às 5h30, com uma escolta de 7 gr com – 5 do BCAÇ 4512, 2 da 38ª CCmds, mais 1 secção do Pel Mor 4274.

E nela seguiam 2 ten cor: o Antunes Vaz, cmdt do BCAÇ 4512 e o próprio Correia de Campos, cmdt do COP 3.

Ao seu encontro, vieram de Guidage, para picar o itinerário até Genicó, 2 gr comb CCAÇ 3, comandados pelo alf mil Silva Soeiro, e e outros 2 da CCAÇ 19. Uns picavam até ao Cufeu, e depois os outros até Genicó...

Mas perto do Cufeu, há tremenda emboscad (100 gajos do PAIGC, com morteiro, canhão s/r, etc.).

A CCAÇ 19 tem 8 mortos, oito feridos graves e 16 feridos ligeiros. Não consegue recuperar os mortos que são abandonados , no Cufeu… O Alf Mil Soeiro vê-se sozinho oito homens, 4 dos quais o abandonam, o grupo anda perdido e só chegam a Guidaje no dia seguinte... Uma história épica, que eu desconhecia… A cvoluna de Binta, beneficiando do “sacrifício” da força que veio de Guiidaje e que foi destroçada, acaba por chegar a Guidaje ao fim da tarde, sem ser atacada, apenas com, um morto e dois feridos graves, devido às minas (vd. Moura Calheiros, pp., 444/445).

antonio graça de abreu disse...

Tenho pela 38ª. Companhia de Comandos o maior respeito e admiração.
Estive com eles em Teixeira Pinto e Mansoa e são objecto de textos
fraternos no meu Diário da Guiné.
A 9 de Maio de 1973 fui com eles, quatro unimogs do CAOP 1
e mais 40 homens da 38ª., e muito mais tropa e algumas viaturas civis,
até Cutia. A grande coluna seguiu depois para Farim.
Tenho fotografia na pág. 82 do meu Diário da Guiné, á frente num unimog com os homens da 38ª. em Cutia.
O destino destes homens não era Guidage que só começara a embrulhar a sério há dois dias,
o destino era Farim, e a história das vacas que associei à ida da coluna para Farim
é verdadeira, escrevi na altura,está no post 9943 e eu não ia inventar. Só que chegados a Farim, ninguém pensou mais em vacas,
Guidage começava a ser impiedosamente flagelada e os homens da 38ª, mais os unimogs e condutores do
CAOP 1 seguiram noutra coluna para Guidage, uma viagem de morte, também para o meu condutor do CAOP 1, David Viegas.
É possível que alguns dos comandos da 38º. nem sequer tenham ouvido falar em vacas, de início pensou-se
que iam apenas até Farim fazendo a escolta e reforçando a coluna. A ideia de no regresso trazer vacas de Farim para Mansoa deve ter partido dos majores do CAOP 1.
Mas o meu relato bate certo com o do Amilcar Mendes.

A 25 de Maio, quase toda a 38ª, seguiu novamente para Guidage.
Tenho comigo fotografias deles formados na parada de Mansoa, antes de partirem,
e faço referência a tudo isto na página 105 do meu Diário da Guiné.
O Amílcar Mendes foi para Guidage na primeira leva, a da morte e da loucura. Na segunda, os homens que já lá haviam estado creio que
permaneceram em Mansoa, ou em Brá, Bissau.
Pode existir sempre um qualquer erro no que escrevi, mas o essencial corresponde às realidades que todos vivemos.
Tenho muita confiança nos dados do meu Diário da Guiné.
O impressionante relato do Amilcar Mendes é a nossa História, com todos os Hs grandes. Foi mesmo guerra e estes são os factos da guerra.
É com eles, e não com opiniões de letrados que ignoram a verdade e a realidade
que se faz a nossa História.

Abraço,

António Graça de Abreu
António Graça de Abreu

Anónimo disse...

Caro Luís

Esta coluna parte para Guidaje a 10 e regressa a 13 a Farim, o camarada Amílcar Mendes, até publicou as cópias dos relatórios da 38ª Ccmds referentes a esta coluna.

Quanto às baixas mortais das 1ª e 2ª colunas, são estas.

1ª – Coluna / Dias 8 / 9 Maio:


1º Cabo Milº Bernardo Moreira Castro Neves 1ª/Bcaç 4512

Sold António Júlio Carvalho Redondo 3ª/Bcaç 4512

Fur Arnaldo Marques Bento Ccaç 14

Sold Lassana Calissa Ccaç 14


2ª – Coluna/ Dia 10:

Manuel Maria Rodrigues Geraldes (2ª/ Bcaç 4512)
(enterrado em Guidaje)

Baixas mortais da Ccaç 19ª, que saem ao encontro desta coluna:

1º Cabo Abdulai Mané Ccaç 19

Sold Jancon Turé Ccaç 19

Sold Mamadu Lamine Sanhá Ccaç 19

Sold Sadjó Sadjó Ccaç 19

Sold Suleimane Dabó Ccaç 19

Estes corpos ficaram no terreno, portanto contam-se 9 desditosos camaradas das NT, o que não contradiz o testemunho do Amílcar, porque as baixas do IN foram em número superior, e presumo que não tivessem sido todos levados.

Dias 12 e 13 no aquartelamento de Guidaje: Baixas mortais:

Sold Cond Auto David Ferreira Viegas Comando Agrup Op nº 1/CTIG

Sold José Luís Inácio Raimundo 38ª Ccmds

Sold Cond Auto Ludjero Rodrigues Silva CCS/Bcaç 4512

Por último, lembro que tenho o P4957, que descreve o que foi a 1ª emboscada.

E correspondendo ao pedido, estou a ultimar uma descrição das colunas (de) para Guidaje, valem o que valerem, mas quero apenas deixar uma nota:

O meu Batalhão 4512, teve 9 baixas, 6 são pela luta por Guidaje.

Um abraço para todos

Manuel Marinho

Anónimo disse...

Caro Luís

Em relação à contituição da coluna do dia 10, não são 5 GrComb do Bcaç 4512, mas apenas 2, um de Nema (2º) e um de Junbembem (2º).

Mas se juntarmos os 2 GrComb da Ccaç 14ª, mais 1 GrComb da Ccaç Afr de Cuntima, dá 5 Grcomb, embora estejam sob o Comando do Bcaç 4512, o Cmdt desta coluna foi o Cmdt do Bcaç 4512, Cor Vaz Antunes

No dia 10 a 2ª coluna é assim constituída:

-1 GrComb (2º) da 1ª /Bcaç 4512 de Nema

-1 GrComb (2º) da 2ª/ Bcaç 4512 de Jumbembem

-2 GrComb da 14ª Ccaç de Farim

-1 GrComb da Ccaç Afr Eventual de Cuntima

-2 GrComb da 38ª Ccmds

-1 Secção do Pel Mort 4274 de Farim

Abraço

Manuel Marinho

Simoa disse...

Amilcar Mendes,
Confirmo que no dia 10Mai73 a CCaç 19 só teve 5 mortos no Cufeu.

Descrimino também:
Olá ex. Alf Mil Anal. Seg Trams José Paragana, agradeço a publicação do Relim 37/73, 29 Jun 73, do COP 3, sediado em Guidage (P10046).
Estava convencido que em 29Jun73 tinhamos recuperados os cinco corpos deixados no terreno, no confronto da CCaç 19 com o PAIGCV… Na realidados foram só três.
O 1º Cabo Cmdo Amilcar Mendes, da 38ª CCmdos, no dia 13 de Maio (salvo erro), durante a coluna Guidage / Binta, afirmou numa postagem deste blog, que tinham enterrados dois corpos da CCaç 19, pensei que eram do PAIGCV, na verdade ele tinha razão foram os da CCaç 19.
Obs.: Vou incluir este comentário nas postagens: 2719, 10000 e 10046.
A todos um Feliz e Santo Natal, e um Bom Ano Novo,
Um abraço,
José Pechorro

Anónimo disse...

a nossa luta foi terrivel agora temos que nos enfrentar com as recordaçois dessa guerra que auos poucos nos vai matando a alma eeste setsses que agora nos vai redusindo lembrando o pessoal que caia emboscadas que caia numa mina e quando ficavam mutilados sem um pe ou braço a reaçao dos que nada tinham era de desespero por nada poder faser ou entao ajudar os mais feridos mas sempre em cima de rajadas de fogo i n fui combatente em angola da 36 comp de comandos que sofrimento foi o nosso no leste e norte de angola uns deixaram la as vidas outros a alma eu embora ferido xeguei mas estou maluco da cabeça tenho pesadelos fui ferido num olho e na clavicula e agora sofro mais porque nos eramos carne para canhao e mesmo feridos tinamos de nos defender senao era a morte por isso numca nos curavamos enfim tristes anos fica aqui o meu contato sou da trofa velho mas dentro do possivel atento as amisades que so os comandos conseguem um abraço jaime correia 961225805

Mário Alberto Vasconcelos disse...

Se nos aperta as entranhas ler estes relatos, mais aperto foi, com toda a certeza, tê-los experenciado. A todos estes homens, que estiveram em situações como as descritas neste, e noutros teatros de operações, presto a minha mais profunda homenagem.
Tive alguma sorte de me não ver em tais apuros, contudo isso não me permite permanecer na quietude de uma paz interior, que seria egoísta se calado ficasse.
Os ex. combatentes, todos, merecem um reconhecimento pátrio, que anda muito arredio.
Quando foi preciso, chamaram-nos e fomos, mesmo não querendo, por razões diferentes.
Parece ser um plano concertado deixar assentar a poeira por cima dos nossos cadáveres, para final e postumamente reconhecer o valor que demonstramos. Um abraço a todos e paz aos ausentes.

Anónimo disse...

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Ussumane Grifom camara disse...

Bom dia gentes, fico feliz ler essa saudosas historias que envolveram grande combatente. Gostaria se existe alguém aqui que esteve em Binta, guidaji e Cufeu que conhece meus avós Malam Grifom Cisse e Ibu Sonco (soldados) para entrar em contacto através do: ussugrifom@gmail.com ou me adicionar por facebook através do: Ussumane Grifom Camará Matchom.

Muito obrigado!

Unknown disse...

José Casimiro, Luís Graça, Amílcar Mendes, todos os da 38ªCompª. e Comandos em Geral,as minhas saudações, a minha consideração,a minha admiração e amizade. Não estive na Guiné. Fui dos primeiros grupos de Comandos cuja instrução se desenrolou no Norte de Angola, e tivemos por instrutores, entre outros, o nosso Coronel Santos e Castro e o então capitão Oliveira, hoje General.Conquanto tenhamos passado também o nosso bocado, todavia nada que se compare com aquilo por que vocês passaram. Do vosso espírito de sacrifício, do vosso espírito de camaradagem, da vossa coragem e generosa entrega a uma causa tão difícil e tão cruel, só há a dizer: Muito obrigado camaradas, muito obrigado portugueses,muito obrigado homens,muito obrigado heróis.E depois, lançando um olhar sobre tudo isso por que vocês passaram, e olhando a história da nossa Pátria e as relações de amizade, progresso e união que, na sua generalidade, sempre mantivemos com os povos que fomos descobrindo e com os quais nos relacionámos, só uma muito magoada e triste pergunta me vem à consciência: Digam-me, vocês, os que nos fizeram a guerra, em que obras, daquelas que vos fizemos e lá deixámos, aglomerados populacionais, vias de comunicação, escolas, hospitais e, sobretudo, amizade, digam-me, por qual destas obras vocês nos atacaram com tanta sanha, ferocidade e raiva? Em que verdades fundamentaram o vosso ódio tão violento e assassino? Em nome do vosso povo? Estais mesmo certos que foi essa a razão e que ele vive hoje muito melhor agora do que antes, e é mais feliz? Nem vos respondo. Eu conheço bem a natureza do ser humano, seus orgulhos e ambições, suas maldades e mentiras. Portanto, nem vos respondo. E para vocês, nobres camaradas de armas, um abraço de sentida admiração e reconhecimento. Quanto aos nossos que lá ficaram, já lá não estão, que o Senhor os tem já no lugar daqueles que corajosos foram em nome de nenhum interesse pessoal.E, aos que vierem com mazelas limitantes da sua liberdade humana, creiam que os que hoje, por tal razão, não andam, não vêem, ou por outras quaisquer razões se sentem diminuídos, creiam que por isso, terminado o vosso ciclo de participação nesta vida natural e condenada à degradação e inexorável limite, a um passo, a um olhar, a um golpe de asa, a eternidade é vossa, e a vida, integralmente, será a vossa recompensa. Que a todos o Senhor vos abençoe.