quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5300: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - I Parte (José Manuel Pechorrro)

1. Primeira parte de um trabalho relacionado com a actividade do PAIGC na zona de Guidaje em Abril/Maio de 1973, enviado pelo nosso camarada José Manuel Pechorro, ex- 1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 19, Guidaje, 1971/73, em mensagem do dia 29 de Setembro de 2009:


O ASSÉDIO DO IN A GUIDAGE

De Abril a 09 de Maio de 1973

Parte I


A partir de Março 1973, o PAIGC na região fronteiriça no Senegal, Cumbamory, a cerca de 5kms, armazenava grande quantidade de diverso material bélico. Algum considerado de elevado nível, pensando-se que o seu destino seria o Oio, no interior da nossa Guiné.

De surpresa, a 03 de Abril (Terça-feira), a FAP cerca das 5 horas da madrugada bombardeou o Cumbamori, causando 5 mortos e vários feridos. Ouvimos e sentimos as explosões. O IN não chegou a utilizar os mísseis que dizia possuir na base. Os aviões passaram pertinho do nosso quartel, contra o vento e a baixa altitude, quase roçando as árvores.


O DIA DOS MÍSSEIS STRELA

Passados três dias, somos atacados em Guidage.
Levantei-me cedo, no dia 6 de Abril de 1973, uma Sexta-feira.
A manhã estava resplandecente, com o Sol a incidir já quente. Os pássaros faziam-se notar. Os lagartos esverdeados apareciam nos troncos das árvores. A população mostrava-se já activa.

As praças ao serviço do BENG 447, adidas à CCaç 19, laborando.
Os carpinteiros tinham iniciado a cobertura das casas com chapa de zinco na tabanca, ouvindo-se martelar. O serralheiro comandava o levantamento e colocação de um depósito em chapa de 5.000 a 10.000 litros, ao lado do motor-gerador, destinado a abastecer o quartel e a população de água.
Defronte da Secretaria, do lado da povoação, observava o esforço de quem trabalhava.

Obs: - O fornecedor da madeira para o reordenamento da tabanca era Carlos Vieira, irmão do guerrilheiro Nino Vieira. Com serração em Binta

Pelas 07,45 horas, o sobressalto! Soam com uma nitidez assustadora as armas automáticas do IN dentro do TN. Muito perto do arame, entre as árvores mais próximas e camuflados no capim, em terreno plano. De local inesperado, de fronte da caserna do 1.º Pelotão e da tabanca, do lado de Fajonquito.

Avistei mulheres e bajudas no carreiro, iam ou vinham da nascente, onde tomam banho e lavam a roupa na bolanha, fora do arame farpado. Muito próximas, atiraram com as trouxas ao chão e fugiram da zona perigosa.

Não recordo o sítio donde copiei esta foto. Com a devida vénia

Alcancei o Posto de Rádio, num raio, que tem defronte os bidons cheios de terra, sobrepostos. A porta estava fechada! Tive dificuldade em abri-la.
Todos reagindo em movimento louco para os abrigos e valas; saltam e deitam-se alguns ao chão, havendo quem choque entre si. Outros rastejam para detrás dos bidons e a parede, e das grossas árvores que estão em frente do edifício do Comando. Começam os rebentamentos dos RPG`s, os estilhaços e balas varrem.
Consegui entrar. Pediu-se apoio aéreo, directamente à BA12 em Bissalanca, mas os Fiat`s não apareceram. Mais tarde pensei que a acção se destinava a atraí-los!

O IN atacou do lado direito. Avista-se a caserna do 1.º Pelotão. Entre esta e o edifício do Comando, a Enfermaria.
Foto cedida pelo 1.º Cabo Radiotelegrafista Janeiro, alentejano.


A guarnição respondeu quase de imediato. Ouvem-se as nossas G3 e HK; dilagramas, morteiradas 60 e 81mm, caíram em cima deles. Os obuses 10,5 tentando atingi-los na fuga.
Durou 15 minutos. Retirou o IN não estimado, para Facã – Sambuiá, com cerca de 5 mortos e feridos graves, segundo informações recebidas, possivelmente para o acampamento de Uália, dentro do nosso território.
Voluntariosos, perto de 2 GCOMB, iniciaram uma perseguição imediata ao PAIGC, passando o arame. O nosso comandante Cap Mil Inf José Vicente Teodoro de Freitas sensatamente conteve os restantes.

Sofremos 3 feridos graves e 8 ligeiros. A população sofreu 1 ferido grave e 1 ligeiro. Tivemos sorte. A experiência dos 18 confrontos anteriores com o IN ajudou!
Um dos feridos graves foi o soldado do BENG José Crespo Silva, que se encontrava em cima do telhado de uma casa de chão térreo do reordenamento da população, na tabanca. Pediu-se a sua evacuação para o HM 241.

Ataque emotivo e o mais próximo do arame, de todos os que aconteceram com a CCaç 19.
Terá sido vingança?

Uma DO-27 pilotada pelo Fur PilAv João Manuel Baltazar da Silva, de Santa Isabel – Lisboa, partiu cedo de Bissalanca acompanhado do Alf Mil Médico, do COP 3, João Manuel Cantante Santos Silva, da Amadora e o nosso 1.º Sargento Sapador João Agostinho Gonçalves Oliveira Figueira. Vinham na avioneta do Sector que habitualmente nos visitava, todas as Sextas-feiras, para prestar assistência médica, no posto da enfermaria, aos militares, população de Guidage e Senegaleses que em grande número aqui se deslocam. Entregar também géneros frescos para a cozinha. Pelas 09,45h, deixaram de ter contacto via rádio com os aquartelamentos. Começando logo a temer-se o pior, que se tinha despenhado ou que teria sido alvejada.

Chega uma DO-27 que evacua o militar ferido do BENG 447 José Crespo Silva, para Bissau. Deu apoio a Enf Pára-quedista Giselda Antunes.

Os 2 GCOMB suspenderam a perseguição. Voltam com um civil nativo da povoação, ferido gravemente na coxa, ficou entre o IN e o nosso fogo. Foi encontrado na estrada entre os regos dos rodados das viaturas, onde tentou abrigar-se, atingido por estilhaço de uma das nossas granadas de óbus.

A Enfermeira Giselda voltou num segundo DO-27 que tentou chegar a Guidage, para evacuar o membro da população; no percurso foram alvejados por um missil Strela, que o não atingiu, mas os comandos do avião ficaram danificados pela acção da onda de choque e tiveram que aterrar de urgência em Bigene…

Para evacuar o civil ferido na coxa, outra DO-27 veio de Bissalanca, pilotada pelo Fur PilAv António Carvalho Ferreira, de Paços Ferreira, acompanhado pelo 1.º Cabo Enf Cóias da FAP; na base BA12 encontrava-se na altura de passagem o Maj Inf Jaime Frederico Mariz Alves Martins, natural da Amadora, nosso Cmdt do COP 3, que aproveitou a boleia a fim de visitar Guidage e se inteirar da situação. Pareceu-me um homem voluntarioso e satisfeito com a nossa actuação, do modo como respondemos ao IN. Animou o pessoal, deu-me um aperto de mão e umas leves palmadas nas costas.

Afirmou-se que ouviram o Maj Mariz ordenar ao piloto que iam observar a zona onde se teria despenhado a avioneta ou sido atingida. O Fur António Ferreira respondeu que era arriscado.
Descolaram, entrando no Senegal, fizeram meia-lua e voaram em direcção à mata de Sambuiá (?), em TN, e desapareceram. Nunca mais foram encontrados.

O Pessoal dirigiu-se apressado para o refeitório, ao iniciar a refeição, ouvimos um estrondo, obrigando alguns a tentar de imediato as valas ou os abrigos. Pensaram tratar-se de saída de peça de artilharia do IN, lado do Samoge ou de Sambuiá. Era cerca das 13,15 h.

Nota:
Ao Maj Mariz ouvi dizer, uma vez, em conversa com o nosso comandante que o nosso maior (Gen Spínola) se tinha encontrado secretamente, ali perto numa tabanca, com o Presidente Senghor, do Senegal, a fim de preparar contacto com Amílcar Cabral.

Amílcar Cabral, um tempo antes de ser assassinado, declarou em Cumbamori, devido às lamentações e cansaço da população apoiante do PAIGC, que estava farta de sofrer e cansada da guerra, que ia declarar a independência e, se as potências, não obrigassem Portugal a dá-la, e os portugueses não cedessem, ele entrava em negociações e acabava com a guerra! Pediu que aguentassem mais 1 ou 2 anos.

Uma esquadrilha de 2 FIAT`s G-91 realizou buscas, arriscadas.
Afirmaram que a nossa zona estava operacionalmente relaxada.
Foram também alvejados. Um míssil passou demasiado perto do avião que sentiu a onda de choque. O piloto ao observar a saída, segundo deu a perceber, puxou uma alavanca, levou o Fiat a cair e evitou o projéctil!
Escutando as conversas via rádio, mostraram calma, serenidade e sangue frio.

Veio depois um T6 e quando se preparava para actuar foi atingido, explodindo! Pilotado pelo Oficial de Operações do GO 1201 Maj PilAv Rolando Frederico Mantovanni Borges Filipe, de Socorro – Lisboa. Chegou até nós o estrondo. Apresentou-se na Unidade e voluntariou-se para efectuar a missão em que acabou por perder a vida.

Num só dia e na zona operacional de Guidage morrem dois Furriéis e um Major pilotos da FA; um Major do Cop 3; um Alferes Miliciano Médico; um 1.º Sargento; um 1.º cabo Enfermeiro e um civil nativo: 8 pessoas.
Juntam-se ao piloto do Fiat G-91 atingido na zona de Afiá, no sul, perto de Aldeia Formosa, onde perdeu a vida o Cmdt do GO 1201 Ten Cor PilAv José Fernando Almeida Brito, em 28/03/1973.
O aparecimento dos mísseis terra-ar vem condicionar a acção da nossa aviação nesta guerra de guerrilha na província da Guiné. Criou confusão na FA, quase a tornando inoperacional, notou-se durante alguns dias. Deixa de fazer evacuação de feridos e mortos nos locais mais arriscados.

Seguiram-se várias batidas diárias e exaustivas, efectuadas por todos os aquartelamentos e uma força operacional, a Companhia de Pára-quedistas, ida da BA 12.

A CCP (?)/BCP 12, ao procurar vestígios das aeronaves no solo, sofre forte emboscada, de 0,5 a 1 hora debaixo de fogo nutrido e é obrigada a retirar com um ferido grave, para Bigene. Esta deu-se em terreno plano, à beira de uma bolanha, suponho em Samoge, pelas 14 horas, no dia 09.4.1973. O combate notou-se perfeitamente em Guidage.
Fiquei impressionado com a personalidade do Comandante desta Operação, que dirigiu e apoiou, sitiado em Bigene, via rádio, a acção das NF.
No Posto de Rádio, sempre à escuta, acompanhámos as conversas entre os intervenientes.
Nestes dias, um Destacamento de Fuzileiros de Ganturé teve também um violento confronto e com os mesmos resultados, nesta mesma região, segundo me parece.

No dia seguinte e nesta zona, a referida CCP (a 121?), detectou restos do DO-27 do Sector. Encontrou carbonizados os corpos do Alf Mil médico João Silva, do 1.º Sarg Figueira e do Fur PilAv Baltazar da Silva, em tamanho reduzido.
Numa árvore estava pregada uma ordem de serviço, pertença da CCaç 19.

Até aqui, tenho passado as noites no dormitório dos operadores de Transmissões. Eu e o meu colega Op Cripto Hilário optámos pelo Centro Cripto para onde mudámos as camas com colchão de espuma. Debaixo da placa de cimento é mais seguro, porque as casernas dos 4 pelotões, o Centro de Cripto, o Posto de Trasmissões e a Enfermaria têm placa de betão.


AS NOTICIAS
Algo vai acontecer!


Continua a chegar material de guerra a Cumbamori.
O PAIGC está a retirar a população das regiões onde estão situadas as suas bases, mais 7 kms para o interior da nação vizinha.
Nos primeiros dias de Abril, 9 elementos do grupo do FAI SISSÉ, guerrilheiro combativo e dinâmico, desertaram para a Gâmbia. Motivo: medo das futuras acções contra Guidage, onde costumam ter quase sempre pesadas baixas e mortes.

Um informador de confiança insistiu para que pedíssemos o reforço da guarnição, com uma Companhia e usar de todas as precauções. Foi solicitado, mas não atendido.
Apareceram indivíduos com uma manada de 40 a 50 vacas, a pastar na zona da fronteira, rente à bolanha. Com tantos pastos, porquê ali? Certamente descobrir e accionar possíveis minas por nós plantadas. Cada animal tem 4 patas, aumentando a possibilidade de accionamento. Se alguma ficasse mutilada, o pior que acontecia era ser comprada e transportada pela nossa Companhia. Comprovaram não haver campos de minas.

Um senegalês apresentou-se em Guidage, acompanhado de um milícia das NT. O milícia tinha sido capturado no sul da província, foi levado para Cumbamori e dali para Ziguinchor, onde encontrou o tal sujeito (CONE SANE), rapaz novo e com bom aspecto. Os militares logo afirmaram que era turra. Assim como um refugiado, seu compatriota, que se encontrava havia alguns dias no reordenamento e que voltou para o Senegal. Ambos demonstraram conhecer-se. Percorreu o quartel. Chegou a comer no refeitório das praças, na sua maioria brancos. Presenciou e avaliou o ataque do dia 6 de Abril, examinando a nossa reacção. Entrou no perímetro defensivo do quartel e fingiu ajudar os soldados durante a luta. Foi logo afastado, não passando a sua atitude despercebida. Afirmava ser estudante e ter tido problemas no liceu, em Dakar. Depois de muito insistir foi-lhe passado passaporte para Bissau, via Farim, passando por Binta.

No dia 17 de Abril (Terça-feira), a coluna auto em que seguia, accionou 2 minas anti-pessoais, que causaram a morte ao 1.º Sarg AC, Octávio José Horta, da Secretaria, pertencente à CCaç 19 (CArt 3521), ex-comando em Angola no ano de 1961. Seguia o 1.º Sargento a pé, a corta mato, perto da estrada como precaução, pois tínhamos informação que estava minada. Ao detectarem a primeira todos ficaram imóveis, só o 1.º Sarg Horta se mexeu, num repente desloca-se, deita-se tentando levantá-la. Accionou uma segunda com o peito e, morreu! O estudante senegalês ao presenciar ficou indisposto. Em Farim, ao ser interrogado pela DGS, foi preso, depois de admitir ser agente do PAIGC.

O outro refugiado senegalês foi também detido no dia em que voltou a Guidage (ainda durante o cerco) e confessou ser militante IN. De observar que o Partido mandou dois especialistas e não confiou nas informações obtidas. Notou-se a infiltração na população senegalesa que nos visita de gente suspeita. Vêm em grande número a fim de comercializar, mas principalmente receber assistência médica que na realidade não existe em vastas zonas, do outro lado do território, situação agravada pela seca.

No dia 1.º de Maio (Terça-feira) pelas 18,15h, quando nos preparávamos para jantar, grupo IN não estimado, flagelou com morteiro 82 mm, sem consequências. Segundo fonte aceitável, os atacantes tiveram mortos e também feridos. A nossa reacção fora boa.

Individualidades de certa influência em Farim (homens grandes), especialmente entidades religiosas muçulmanas (Mandingas), reclamaram a substituição da CCaç 19, por uma metropolitana. Mandaram a população realizar colecta, pois Guidage iria passar uma grande provação.

Presenciei actos religiosos: Orações e cinza na cabeça dos jovens; matança de carneiros e deram a carne aos mais necessitados, a fim de Alá ter piedade deles.

Alguns soldados negros abordaram o comando, lamentando:

- Se não efectuarmos patrulhamentos à zona operacional da nossa Companhia, qualquer dia seremos agarrados à mão dentro de Guidage!

De facto, a partir de certa altura pouco saíamos, quase só para realizar colunas auto a Binta.
No dia seguinte aproximei-me de Malan Sissé, soldado da CCaç 19, filho de ex-Régulo Mandinga. A sua família foi maltratada pelo IN, e anda na guerra desde o início. Perguntei o que dizia da situação? Respondeu:

- Oh nosso cabo, os brancos já não querem lutar!

Mostrou preocupação no que se referia à sua família. Casado com 2 mulheres: uma em Binta ou Farim e outra em Guidage. Com um filho, pelo menos; este, na escola em Farim, mostrava inteligência e o pai pensava mandá-lo para a metrópole estudar.

(Ver Guiné 63/74 - P4751: Histórias do Jero (1): João Turé…)
Do sítio -
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/

Que terá acontecido ao Malan Griffon Sissé e aos soldados da CCaç 19, depois da independência?

O roncar de motores de viaturas à noite, chamou a atenção dos militares, que se referiram a eles como sendo dos turras, dentro do TN. Começaram por se ouvir primeiro na tabanca, local mais silencioso, fora do alcance do barulho do gerador de energia eléctrica.
Ouviam-se rebentamentos de morteiro e canhão sem recuo, as NT não lançaram as granadas, só podiam ter sido os guerrilheiros. Confirmamos, perguntando aos outros quartéis. Devem fazer a regulação de tiro para o lado do CUFEU, a fim de melhorar o rendimento nas futuras acções contra as colunas auto ou movimentos portugueses.
Contrariando o habitual, batia-se a zona quase todos os dias com morteiro 81, explodindo as granadas nos sítios mais prováveis da presença do IN.

Como Operador Cripto notei que algo se iria passar, assim como o pessoal de Transmissões.
Os indícios de uma coisa grave, a Operação Amílcar Cabral do PAIGC

(Continua)
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 1 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5039: Tabanca Grande (176): José Manuel Pechorro, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 19, Guidaje (1971/73)

4 comentários:

Anónimo disse...

Caro Amigo Pechorro:

Quero antes de mais felicitar-te pelo texto sobre os antecedentes de (Maio) em Guidaje, ajuda e muito, a perceber como o IN. teve maior liberdade de movimentos a partir de Abril.
Mais informação, e mais precisão sobre as quedas das aeronaves, e das infelizes mortes dos nossos camaradas da FA.

Descreves muito bem as manobras de infiltração de elementos ligados ao IN.

Espero a segunda parte do texto para alinhavar mais umas coisas sobre, esses maus indícios, e sobre a serração instalada em Binta pertença do Carlos Vieira, irmão do Nino, (altos negócios, segundo diziam na altura).

Na minha opinião a picada nessa altura servia apenas para esporádicas colunas.

Faltou o elemento essencial que eram os patrulhamentos, que originaram muito do que viria a acontecer, em Binta os nossos 2 Grupos eram mais solicitados para a protecção ao corte de cibos.
Do lado de Guidaje, já o dizes no texto não existiam por parte da 19ª Ccad.

Continua para eu tentar perceber, como fomos nós a ter de fazer uma coluna de noite para Guidaje.
Um forte abraço do
Manuel Marinho

Juvenal Amado disse...

Meu caro Pechorro
O que tu também relatas é uma verdadeira odisseia para a qual não parecia haver solução.
Não foi por falta de valor da nossa tropa nem dos nossos pilotos que a situação descampou.
De notar a qualidade de tropas especiais (paras e fuzos)utilizadas
À uns anos li um relato do Salgueiro Maia sobre a defesa de Guidaje onde ele relata os heróicos acontecimentos. Penso que este teu relato é percursor desses momentos.
Como o camarada Marinho também eu fico à espera da segunda parte do teu relato.

Um abraço
Juvenal Amado

Miguel disse...

Achei muito interessante a descrição dos factos de 6 de Abril, que são bastante fiéis ao que aconteceu. Não quero no entanto deixar de apresentar umas pequenas correcções e algumas achegas ao que foi dito.
Quando se refere o Comandante da Base de Bissalanca, situado em Bigene, suponho que será o Comandante das Forças Pára-quedistas envolvidas na busca e não alguém da Base Aérea.
O TCor. Brito foi abatido na zona de Afiá, no sul, no dia 28 de Março - a 25 de Março foi abatido o Ten. Pessoa, mas este foi recuperado no dia seguinte.
O Maj. Mantovanni não era 2º Comandante do GO1201 - aliás esse lugar não existia, era o Oficial de Operações do GO1201 (um Major) quem substituia o Cmdt Grupo na sua indisponibilidade. O Maj. Mantovanni era o oficial de ligação da Força Aérea no Quartel General, em Bissau; para efeitos de voo estava adido à Esqª 121, onde voava T-6 e DO-27. Nesse dia 6 de Abril apresentou-se na Unidade e voluntariou-se para efectuar a missão em que acabou por perder a vida.
O militar do BENG ferido no ataque da manhã (José Crespo Silva - o "Zé de Guidaje" referido num poste já publicado neste blogue) foi evacuado num DO-27 com o apoio da Enfermeira Giselda; esta ainda voltou a Guidaje num 2º DO-27 com o Fur. Carvalho, para evacuar o civil ferido; no percurso foram alvejados por um Strela e tiveram que aterrar em Bigene. Para substituir este avião saíu então de Bissau outro DO-27 pilotado pelo Fur. Ferreira, levando o Maj. Mariz e o Enfermeiro (1ºCb Cóias) - o avião que é referido no poste - e que nunca mais foi encontrado.
Com estes comentários apenas pretendo esclarecer e/ou complementar alguns factos que estão ainda hoje bem presentes na nossa memória, não tirando qualquer mérito ao que é descrito no Poste de forma tão pormenorizada.
Abraço. Miguel Pessoa

Anónimo disse...

O relato do camarada Pechorro é precioso dado que o autor, dada a sua função de operador cripto, teve acesso a toda a informação classificada.

Aguardo, com expectativa, a continuação do relato circunstanciado da saga de Guidage que vem reforçar a identidade do blogue.
Abraço do ex-capitão Morais Silva (infante-artilheiro combatente em Angola e na Guiné)