domingo, 18 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10691: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (12): 13.º episódio: Como 5 dias de licença em Bissau se transformaram em 30 na Metrópole

1. Em mensagem do dia 14 de Novembro de 2012, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422, Farim, Mansabá, K3, 1965/67), enviou-nos mais um episódio da sua campanha no K3, dias que fazem parte dos melhores 40 meses da sua vida. E nós acreditamos.


OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA

13º episódio - Como 5 dias de licença em Bissau se transformaram em 30 na Metrópole

Entrementes em inícios de Maio, é-me concedida uma licença de 5 dias a fim de "tirar a carta de condução" em Bissau.

Consegui uma boleia numa coluna que nos havia reabastecido e mesmo sentado cá fora na Daimler, uma auto-metralhadora, também conhecida por "Piolho", que seguia sempre à frente disparando tiros de reconhecimento para os locais de habituais barafundas, cheguei inteiro, pois nada se passou, nem minas nem emboscadas aconteceram.

Chegado que fui às duas da tarde, almocei na Pensão onde me hospedei ali perto do Liceu e fui dormir qual sono dos justos fosse.

Jantado um bruto bife com molhança picante e bem acompanhado por um tinto de garrafa rotulada (vejam bem o luxo...) mais sobremesa, whisky 3 socos 12 anos, e ainda outro a seguir... enfim tudo o que os "pesos" podiam pagar, fui dar um passeio pela cidade para esmoer.

Ali no largo onde se situava o Palácio do Governador e numa esquina da rua que vai para o Hospital e segue para Brá e por aí fora, parei no Café Portugal para novo mata-bicho e dou de caras com um amigo do meu "povo", piloto das FAP. Abraços para cá e para lá, conversámos sobre isto e mais aquilo, e dispôs-se a levar notícias e saudades minhas, à família, o que agradeci. Só que às tantas diz:
- Oh pá porque não vens connosco que t'arranjo um lugar no Skymaster? Partimos depois de amanhã.
- Ai qu'este gajo está tonto... pensei, mas a ideia começou a toldar-me o espírito... a fervilhar-me no bestunto... cada vez mais e mais... eu já ria alarvamente... eu sei lá... eu estava a ficar meio possesso... e disse:
-Porque não? Que terei de fazer? Como resolver isto? Será que? OU SERÁ QUE?

Por sorte e por pesquisas encetadas por nós dois, soubémos que o meu Comandante de Batalhão, chegara de Catió e estava por acaso e felicidade minha no QG, que nem longe dali era. E fomos lá e consegui contactá-lo e prometeu assinar tudo a autorizar se "o teu Comandante de Companhia nada tiver contra". Contacta-o ele que me ligue e amanhã à tarde, passa por cá.

Aqui meto outro amigo ao barulho, fuzileiro medalhado já d'Angola e o que sei é que através dele a ligação através dos rádios militares foi conseguida e na tarde seguinte, lá estava eu de novo, cheio de continências e esperanças... e lá recebi os papéis... passaportes... vacinas e mais ainda, com os votos de Boa Viagem e "goza rapaz" mas volta daqui a 30 dias e fica sabendo "estás bem visto pelo teu Capitão".

INCRÍVEL mas verdadeiro e no outro dia, ao nascer daquele bonito sol, levantámos voo e em boa verdade só me convenci que não sonhava quando parámos nas Canárias, devido a avaria num dos motores do avião o que e como soube só 30 anos depois, era hábito acontecer.

Foram 4 dias magníficos que ali passei, comprei uma Canom, um gravador e um rádio portátil da Sonny e hospedado estive como convidado e à borla nas instalações militares espanholas do aeroporto, até que e reparada a coisa, nos fizemos rumo a Portugal e era já noite quando chegámos, tendo apenas como único transporte para sair dali, rumo à santa terrinha um tal de combóio correio que demorou 8 horas a chegar em vez das duas e meia habituais.

Entontecido ainda pelas aventuras estranhas que me estavam a acontecer, deu para pensar e ainda hoje o faço, nesta frase maravilhosa que alguém escreveu quando me conheceu: "TODOS OS MALANDROS TÊM SORTE"

 (continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10668: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (11): 12.º episódio: Uma experiência como Vagomestre

4 comentários:

Torcato Mendonca disse...

Olá Veríssimo, li e gostei. Escrevo e ainda estou a sorrir.

Os sortudos, como o nome indica, têm sorte e, pelo que descreves os desenrascados completam. Levantas aí um problema: como funcionavam certos "ramos" das NT. Tudo bem e a juventude ajudava. Eu vi sempre as Canárias ao longe...

Continua.
Ab. T.

Hélder Valério disse...

Caro Veríssimo

Tenho acompanhado os relatos dos teus "melhores 40 meses da tua vida", embora não me tenha alongado em comentários.
Mas hoje vou referir alguns pequenos apontamentos: a referência à carta de condução que pretendias ir tirar a Bissau, fez-me recordar o que sobre isso se passou comigo e, sendo assim, em breve o relatarei; a referência à Leitaria Portugal, na Praça do Império, que também gostava de frequentar; a referência aos "três socos" para a garrafa de Dimple; a referência à 'avaria' sobre as Canárias.

Sobre este último caso digo-te que isso que te aconteceu não me causa qualquer tipo de estranheza pois mesmo ainda antes de eu ir para a Guiné (talvez pelos tempos em que já lá andavas) já alguns antigos colegas da Escola Técnica que trabalhavam nas Oficinas de Alverca me falavam das 'compras' nas Canárias, onde se arranjavam rádios, relógios, máquinas fotográficas, etc., a bom preço.

E teres arranjado 'boleia' foi, isso sim, uma feliz conjugação de 'vontades', que mostram bem como é possível conseguir coisas quando as pessoas se empenham e fazem convergir os esforços.

E depois, como dizes, ficaste a pensar na frase "todos os malandros têm sorte", mas não fies nisso...

Abraço
Hélder S.

admor disse...

Caro Veríssimo Ferreira,

Agora percebo o porquê de "Os melhores 40 meses da minha vida".
Quantas vezes vieste de férias e à borla?
Continua a escrever os teus episódios pois acho que têem agradado.
Um grande abraço.
Adriano Moreira

Luis Faria disse...

Caro Veríssimo

Quem tem amigos...
Assim era,é e continuará a ser.

Na minha terra dizia-se em vez de malandros :"todos os diabos têm sorte"! Será que eras na verdade um "malandro dos diabos"?
Abraço
Luis Faria