quinta-feira, 27 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12904: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (35): Grande e sentida homenagem ao Pepito (1949-2014), no bairro do Quelelé, em Bissau, onde fica a sede da ONDG e a casa de família

  
Guiné-Bissau > Bissau > Quelelé > Campo polivalente do Quelelé > 18 de março de 2014 > Homenagem da AD ao Pepito > Cartaz com o célebre frase com que acaba o texto autiobiográfico ("A sombra do pau torto") que o Pepito escreveu em 2008, que nos ofereceu depois de um memorável jantar na  nossa casa  de Alfragide e que o nosso blogue publicou em primeira mão, em 31/7/2008 (*):

 "Recomeçámos tudo mais uma vez, menos por convicção, mais por tradição. Hoje as nossas duas netas, Sara e Clara, sabem que desistir é perder e recomeçar é vencer."...

Foi também com essa convicção, de que "desistir é perder e recomeçar é vencer", que a  Isabel  ("Belocas", para a família e os amigos mais íntimos) e as filhas, Cristina e Catarina, regressaram há dias para  a sua casa no bairro do Quelelé, em Bissau... onde estão grande parte das suas memórias e das suas vidas de trabalho, de resistência, de amor... Sim, por que recomeçar é preciso, Isabel, Cristina, Catarina, Ivan, Henrique, João, Clara!


Guiné-Bissau > Bissau > Quelelé > Campo polivalente > 18 de março de 2014 > Homenagem da AD ao Pepito > O José Filipe Fonseca, da AD, no uso da palavra. É um velho amigo do Pepito e cofundador da AD:

"Em 1991, incluído num grupo de guineenses do qual faziam parte José Filipe Fonseca, Nelson Dias, Isabel Miranda, Roberto Quessangue e Rui Miranda, entre outros, criámos uma organização não-governamental, a Acção para o Desenvolvimento (AD), que pretendia promover uma ética de desenvolvimento local centrada no homem e não no crescimento económico. A AD surgia assim para dar continuidade e potenciar de forma mais aberta as actividades de vulgarização do DEPA." (Carlos Schwarz, " A sombra do pau torto", 2008).



Guiné-Bissau > Bissau > Quelelé > Campo polivalente > 18 de março de 2014 > Homenagem da AD ao Pepito > A Isabel Miranda (se não erro...), no uso da palavra.  É a presidente da direção da AD, casada com o Rui Miranda: conheci o casal em 2008.



Guiné-Bissau > Bissau > Quelelé > Campo polivalente > 18 de março de 2014 > Homenagem da AD ao Pepito > O Rui Miranda (se não erro...), outro cofundador da AD, e marido da Isabel Miranda. As fotos publicadas no sítio da AD não trazem legendas...  Rui Miranda foi nosso camarada no tempo da guerra colonial, o Pepito tratava-o por "nosso furriel".


Guiné-Bissau > Bissau > Quelelé > Campo polivalente do Quelelé > 18 de março de 2014 > Homenagem da AD ao Pepito >  A família mais próxima: as filhas Cristina e Catarina, a viúva, Isabel, e o irmão, Henrique (que vive em Lisboa).



Guiné-Bissau > Bissau > Quelelé > Campo polivalente do Quelelé > 18 de março de 2014 > Homenagem da AD ao Pepito > O  irmão, Henrique Schwarz (que vive em Lisboa, enquanto o outro João vive em Paris, e a mãe, Clara Schwarz, de 99 anos, vive em Paço de Arcos, Oeiras).



Guiné-Bissau > Bissau > Quelelé > Campo polivalente > 18 de março de 2014 > Homenagem da AD ao Pepito >  Mais um amigo dos muitos amigos do Pepito transmitindo as suas condolência à Isbael. (Se não erro,  o homem que abraça a Isabel é o Mussa Candé, da Associação dos Moradores de Quelelé.)

Legendas de Luís Graça. Fotos da AD - Acção para o Desenvolvimento.


1. Imagens da homenagem ao Pepito,  Carlos Augusto Schwarz da Silva (Bissau, 1949-Lisboa, 2014), por parte dos funcionários e parceiros da AD, bem como dos seus muitos amigos e admiradores. É no bairro do Quelelé que fica a sede da AD e a casa do Pepito e da Isabel bem como de outros amigos próximos (por ex., o Nelson Gomes).

Sobre a ONGD AD, fundada pelo Pepito e mais uma cinquentena de guineenses, convirá dizer o seguinte: (i) em 2012, em termos de recursos financeiros, mobilizou  mais de  542 milhões de CFA, o equivalente a cerca de  827 mil euros (1 euro=655,957 CFA); metade dessas receitas era proveniente de fundos  da União Europeia; (ii) dava  trabalho a mais de 3 dezenas de profissionais; (iii) tinha um significativo impacto na vida de diversas comunidades onde desenvolvia projetos (Bissau, região do Cacheu, região de Tombali); e, por fim, (iv) as suas contas eram auditadas.

Fotos da AD - Acção para o Desenvolvimento (2014), página na Net e página no Facebook. Aqui reproduzidas com a devida vénia... (**)

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(**) Último poste da série >  17 de março de 2014 > Guiné 63/74 - P12849: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (34): Homenagem nacional e internacional ao Pepito, organizada pelos seus amigos e colaboradores, um mês depois da sua morte: 3ª feira, 18 de março, em Bissau, no Quelelé, no seu "chão"... Seguramente que ele não quereria um "choro" à moda tradicional, mas sim uma festa onde os seus valores, os seus sonhos, os seus projetos e a sua equipa fossem celebrados como um legado vivo, fecundo e proativo... (Luís Graça)

4 comentários:

Anónimo disse...

Reproduzido com devida vénia da página do Facebook de Helena Nosolini Embaló, antiga ministra da Economia no Governo da Guiné-Bissau, liderado por Carlos Gomes Junior, dep+osto pelo golpe de estado de 12/13 de abril de 2012:


https://www.facebook.com/helena.nosoliniembalo

Helena Nosolini Embalo
21/2 perto de Dakar


Um combate permanente, um exemplo de vida !

Para mim, Pepito simbolizou sempre um exemplo. Um exemplo de inteligência, de perseverança e de competência. Lembro-me, naquela época no início dos anos oitenta, quando me encontrava em Lisboa a estudar, o quanto me sentia orgulhosa de estar ao lado « deles », do Pepito e da Belocas, os ícones da minha fase pré-adulta, nas suas curtas passagens em Lisboa, em missão de serviço. Lembro-me como me senti revoltada quanto ambos deixaram o DEPA (o Estado) e admirei a coragem com que assumidamente criaram a ONG « AD » e das lutas que travaram contra as práticas do poder vigente muito hostis à emergência da sociedade civil. Lembro-me (da última vez que o vi com vida), da forma despretenciosa e audaciosa como concebeu a minha « saída » do país logo após o golpe de Estado de 2012.

Mesmo quando o passar dos anos foi embaciando o fervor revolucionário do pós-independência, Pepito em nenhum momento se converteu à logica do liberalismo económico ou se rendeu à fidelização preversa da política-partidaria. O seu combate sempre foi o desenvolvimento da terra que o viu nascer. A sua ambição foi sempre fazer dos « camponeses » e das comunidades rurais, os propulsores do progresso e da dinâmica económica e social.
Mesmo que se pudesse discordar por vezes de aspectos centrais das suas orientações ideológicas, todos lhe reconhecemos a sua capacidade de emergir nos contextos mais complexos e precários, e lá quando mais ninguém esperava, ele reaparecia com ideias e projectos arrojados para implementar. Nos últimos anos da sua vida surpreendeu-nos com a sua faceta de um homem preocupado com as raízes historicas e a cultura do seu povo, disso são testemunhos, entre outros, as iniciativas e obras (museu e simposio de Guiledgi, e recentemente o mausuleu de Cacheu) que ajudou a erguer para resgatá-las.

Curiosamente, este seu inconformismo, este seu combate permanente fez realçar a grandeza de sua figura e transformá-lo num exemplo de vida e de esperança !

Obrigada, Pepito!

Hélder Valério disse...

Caros camaradas

Esta homenagem é mais que justa!
O Pepito foi um exemplo de determinação, de força de vontade, de capacidade de resistência e também de visão.
É daquele tipo de 'massa' da qual se fazem o progresso e o desenvolvimento dos povos pois isso não sucede de 'geração espontânea' mas sim pelo exemplo de trabalho, dedicação, clarividência e persistência.

Homenagear o Pepito é dar continuidade ao seu trabalho. Ao seu sonho. Às muitas realidades que entretanto foram frutificando com a AD. O Povo da Guiné só tem a ganhar com isso. E o Governo, qualquer governo, se não hostilizar mas, pelo contrário, apoiar ou, pelo menos, não sabotar, nem 'torpedear', pode até beneficiar.

Pelo que vi das fotos parece-me uma cerimónia digna. Pelo que tenho lido, há a vontade e a determinação de prosseguir com as acções previstas e programadas.
Se assim for, o "Pepito" será honrado e toda a sua vida fará sentido.

Faço votos para que sim.
Abraço
Hélder S.

Anónimo disse...


Excerto reproduzido com a devida vénia... Depoimento do jornalista Mussá Baldé

Homenagem: Eng. Pepito, um guineense que semeou desenvolvimento em tudo quanto é parcela da Guiné

Mussá Baldé, Jornalista
02/19/2014 Opiniões

http://www.gbissau.com/?p=9221


(...) Creio ter falado duas ou três vezes com o eng. Pepito. Lembro-me perfeitamente que da primeira vez que falamos foi por causa de um poema meu sobre Cacheu do qual ele terá gostado ao ponto de perguntar quem seria o autor. Um amigo meu, que por sinal trabalha com ele na AD, apresentou-nos.

Conversa breve. És tu o autor daquela obra. Perguntou. E eu, sim, sou, respondi. Estavamos com pressa, tanto eu como ele. A conversa decorreu na sede do Governo. Enquanto jornalista tinha lá ido em reportagem de um acontecimento que seria organizado pela AD. Dias depois recebo um recado em forma de ultimato do Mais-Velho, a forma carinhosa como era tratado pelos seus incansáveis jovens da AD, a sentenciar-me um pedido: Tens que gravar aquele teu poema para o festival Cacheu Caminho de Escravos, o retorno dos Quilombolas.

Ainda pensei em perguntar os porquês, mas em Africa não se discute uma ‘ordem’ de um Mais-Velho dada em cima da sua autoridade forjada na idade e na sabedoria. E uma ‘ordem’ vinda de uma pessoa com carisma e sapiência do eng. Pepito não seria discutida por mim, um catraio imberbe nessas lides do desenvolvimento. Disse para mim, se o eng. Pepito quer um poema meu para engalanar a sua festa dos escravos de Cacheu então assim será. Fi-lo com paixão ao ponto de o poema ‘Catcheu Terra di Rispitu’ fazer parte da colectânea de canções sobre a velha cidade guineense como introdução ao CD.

Das outras vezes que voltei a falar com o eng, Pepito creio que foram em entrevistas com ele. Confesso que tinha pouca proximidade física com o homem, mas isso não me impediu nunca de reparar nas boas ações que levava a cabo neste pequeno mais complicado país. O eng. Pepito era daquelas (poucas) boas almas que existem na Guiné-Bissau.

Era homem comprometido com as causas. Sim, porque para ele as causas eram tantas. Abrir uma escola em Kubompor, ensinar aos meninos de Cassolol como cuidar dos tarrafos, sensibilizar os aldeões de Iemberém como construir fogões melhorados para preservar a floresta de Cantanhez, evocar a celebre batalha e queda do quartel de Quiledje, levar a boa nova para as terras do sul que tão bem conhecia, invocar a história glorificante da decadente mas ainda solene cidade de Cacheu com o seu olhar nostálgico das grandes caravelas a transportar escravos para as Americas e para Europa, falar aos jovens do bairro de Quelelé sobre a participação civica, puxar pelos jovens criadores sobre a importancia da cultura para a afirmação da identidade.

Enfim, o eng. Pepito era um guineense comprometido com as causas desenvolvimentistas.

Muitos guineenses têm feito algo para mudar a vida dos demais, mas poucos têm-no feito com vigor, empenho e dedicação por tantos anos e em várias zonas do país como o eng. Pepito.

Não existe uma unica região da Guiné que não tivesse uma obra semeada ou incentivada pelo eng. Pepito. (...)

José Pedro Neves disse...

"Morreu o Homem, mas ficou a sua Obra". Não a deixem morrer também!!!
Caro Pepito, Paz á sua Alma e que tenha o Eterno Descanso.