1. O nosso camarada António Rodrigues, ex-Soldado Condutor Auto da 1ª CCAV do BCAV 8323 (Bolama, Pirada, Paunca, Sissaucunda, Bajocunda, Copá e Buruntuma, 1973/74) enviou-nos o seguinte texto.
COPÁ – JANEIRO DE 1974
A minha 1ª CCAV / BCAV 8323 tinha as suas forças aquarteladas em Bajocunda e Copá.
Este texto sobre os acontecimentos em Copá no início de Janeiro de 1974 foi retirado das minhas memórias da Guerra na Guiné.
Chegámos ao dia 3 de Janeiro de 1974 e foi um dia mais ou menos calmo como de costume, embora durante a tarde enquanto jogávamos futebol na pista de aviação em Copá, se ouvissem fortes rebentamentos na direcção de Canquelifá, que soubemos depois estava a ser violentamente flagelado com armas pesadas, mas tal era ainda nessa altura o nosso àvontade, que, apesar de ouvirmos tantos rebentamentos e tão próximo de nós mantivemo-nos a jogar à bola no exterior do arame farpado e realmente até ao fim do dia nada de anormal nos aconteceu. Deitamo-nos como de costume cerca das 20h30 ou 21h00, embora ficasse como era normal um homem de sentinela em cada abrigo.
O nosso baptimo de fogo
Eram 23h30 em ponto do dia 3 de Janeiro de 1974, quando o Manuel Vicente Antunes que àquela hora fazia reforço no meu abrigo, gritou, ao mesmo tempo que ouviamos um rebentamento, que saíssemos da cama porque havia perigo, mas não foi necessário o grito do sentinela, pelo menos para mim que ao ouvir o rebentamento saltei imediatamente da cama e vim para ao pé da vala ver o que se passava.
Quase no mesmo momento todos os meus camaradas de abrigo estavam fora da cama e a nossa primeira reacção àquele rebentamento e aos outros que se lhe seguiram, é que seriam rebentamentos do obús 10,5, arma da nossa artilharia instalada em Canquelifá e que estavam a bater a zona depois de terem sido atacados durante a tarde.
Entretanto, um dos meus camaradas de abrigo foi ao posto de transmissões saber o que na realidade se passava e na verdade de Canquelifá não havia notícias, mas o Alferes que comandava o pelotão de Africanos que já tinha mais experiência do que nós disse-lhe: "Vai avisar os teus camaradas que se previnam que este fogo é de armas inimigas"; e assim estávamos realmente pela primeira vez a ser atacados por armas inimigas e a enfrentar a realidade daquela guerra. Era este o nosso baptismo de fogo.
As primeiras granadas passavam por cima de Copá e iam rebentar aí a uns 2 Km de distância, entre Copá e Bajocunda, elas vinham bastante alternadas, atiravam 3 morteiradas, deixavam passar dez minutos e voltavam a atirar outras três e assim sucessivamente. Entretanto perante o que estava a acontecer, lembrei-me dum conselho que me tinha dado o Amândio Noversa com a experiência que ele já tinha e que era o seguinte: “Sempre que oiças um rebentamento seja ele de que arma for, atira-te para o chão e tenta abrigar-te porque isso pode valer-te a vida”.
E eu ao lembrar-me disso, fiz precisamente o que devia, meti-me dentro da vala a aguardar o que viria a acontecer, entretanto os rebentamentos continuavam de 10 em 10 minutos e cada vez a aproximarem-se mais do nosso aquartelamento o que nos dava a impressão de o fogo estar a ser comandado por rádio. Enquanto isto acontecia, os restantes meus camaradas que se mantinham fora da vala diziam: "O Rodrigues é um cagão, tem medo a isto só está bem no buraco", palavras não eram ditas e eis que ali junto a nós cai a primeira granada, (pois que elas se tinham vindo a aproximar lentamente) e, ao rebentar, os estilhaços bateram com violência no telhado de chapa do nosso abrigo, foi então que os meus camaradas se abrigaram também na vala convencidos do perigo em que estávamos, e diziam uns: "Ai N.ª Srª de Fátima"; outros, "Ai minha Mãezinha"; e depois diziam todos, o "O Rodrigues sempre tinha razão em se ter protegido porque isto está feio".
Entretanto as bombas continuavam a cair, é curioso que a dada altura duas em cada três granadas caiam ali próximas, mas não rebentavam, entravam na terra a uma profundidade cerca de 5 metros e então dizíamos nós uns para os outros, "Amanhã não vão faltar aí granadas inteiras", dizíamos isto porque era de noite e apenas as ouvíamos cair, mas elas perfuravam a terra e desapareciam pelo chão dentro.
A dada altura, ainda deste primeiro ataque, as granadas começaram a cair com maior intensidade sobre o abrigo ou posto onde eu me encontrava, a nossa falta de experiência disse-nos naquele momento que devíamos abandonar o posto e irmos para outro menos apoquentado, porque na verdade o abrigo 7 era naquela noite o que estava a ser mais atingido e por isso não hesitamos em nos mudarmos todos para o abrigo 1 que ficava ali mesmo ao lado e ali ficamos à espera do que iria acontecer, uma vez que não dispunhamos de armas com que pudéssemos responder, a arma mais forte que tinhamos era um morteiro 81 cujo alcance máximo, segundo me recordo, era cerca de 5 Km e a distância a que estava o inimigo era superior, por isso a nossa resposta limitou-se a um ou dois disparos de morteiros.
O PAIGC continuava entretanto a disparar de 10 em 10 minutos sobre Copá, pelo que só se resolveram a parar eram duas horas da madrugada do dia seguinte, precisamente no momento em que o luar desapareceu, foi aí que o primeiro ataque a Copá desde que lá chegamos terminou. Viemos a saber mais tarde que o destacamento de Copá sempre foi um dos que ao longo da guerra sofreu regularmente fortes flagelações, aliás não era difícil qualquer um de nós encontrar provas mais do que evidentes do que tinha lá acontecido muitas vezes.
Os Guerrilheiros dispararam nessa noite, sobre Copá, 58 granadas, mais de metade das quais caíram fora do aquartelamento.
Felizmente naquela noite não houve problemas de maior, nem sequer o mais leve ferimento, mas a ideia que nos ficou foi que o barulho que fizemos durante a noite da passagem de ano serviu ao inimigo para ponto de referência, que aproveitou para apontar as armas a Copá e depois acabou de acertar, através de rádio, próximo do local.
Mas o ataque desse dia foi apenas um pequeno aviso, passaram-se os dias 4, 5 e 6 com relativa calma, para o dia 7 marcou-se novamente a coluna que dias antes tinha sido interrompida, mas nesse dia veio mesmo a realizar-se, só que, chegada a meio do percurso (Massacunda Maunde) foi atacada por uma forte emboscada feita nesse local pelo PAIGC.
Eram cerca das 9.30h da manhã, estava eu e os homens que nesse dia estavam de serviço à água junto ao poço onde tirávamos a água em Copá, a dado momento ouvimos um forte rebentamento na direcção de Massacunda, logo seguido de um enorme tiroteio, lembramo-nos logo que seria a nossa coluna que estava a ser emboscada, ficamos um pouco suspensos e logo um furriel nos chamou e disse que largássemos a água porque tinhamos que ir em socorro dos nossos camaradas. Nós assim fizemos, eu peguei no carro imediatamente e regressamos para dentro do arame farpado, formou-se o pelotão que arrancou imediatamente para o local, em Copá ficamos apenas 5 ou 6 homens mais ou menos, um por cada abrigo, pois ainda tínhamos connosco mais alguns soldados Africanos.
7 de Janeiro de 1974: o dia mais infernal por que já passei
7 de Janeiro de 1974: o dia mais infernal por que já passei
Na mesma altura em que saiu o pelotão, partiu também para outra zona do mato, nos arredores de Copá na direcção da fronteira com o Senegal, um Africano civil que era nosso informador, que passadas algumas horas chegava com más notícias, disse-nos ele que ali próximo o PAIGC estava estacionado com várias viaturas carregadas de munições para atacar Copá, o que na verdade se veio a concretizar nesse mesmo dia.
Na verdade esse dia 7 de Janeiro de 1974 foi para a minha companhia e particularmente para o pelotão destacado em Copá, o dia mais infernal que lá passamos e que, eu já mais esquecerei.
Na verdade esse dia 7 de Janeiro de 1974 foi para a minha companhia e particularmente para o pelotão destacado em Copá, o dia mais infernal que lá passamos e que, eu já mais esquecerei.
Entretanto do local da emboscada chegava-nos via rádio a notícia mais concreta do que tinha acontecido, dois mortos – o Soldado Rui Silveira Patrício e o 1.º Cabo António Aguiar Ribeiro [1], os primeiros mortos do meu Batalhão.
Os dois faziam parte do 3.º Grupo de Combate da 1.ª CCAV/BCAV 8323, que eu recordo com muita saudade, havia também quase todo o pelotão que fazia segurança à coluna bastante ferido, nomeadamente, o Alferes Santos que o comandava e outro homem com uma perna partida, um outro que acabou por perder uma vista e ainda hoje tem o corpo cravado de estilhaços, para além de duas viaturas Berliet destruídas: a primeira porque accionou a mina anti-carro e o condutor Sousa foi cuspido pelo ar e caiu ao chão, ficou com as partes superiores das pernas pisadas, porque bateu com elas no volante ao ser cuspido e arranhou uma perna ao cair, a sua carga era parte do pessoal que fazia segurança; a segunda ia carregada de munições de G3 e granadas de morteiro 81 e 60, na cabine desta viatura seguia o Soldado Condutor Abílio Correia Sabino Magalhães e o Rui Patrício mais o Aguiar Ribeiro.
O Correia saltou abaixo sem problemas, mas nesse mesmo momento os outros dois camaradas já tinham sido atingidos com um tiro, o Rui Patrício ainda desceu da viatura e disse ao Correia que ia morrer, o que aconteceu naquele preciso momento, o Aguiar Ribeiro já ferido abrigou-se debaixo da Berliet que entretanto começou a explodir as munições que trazia tendo ficado reduzida a um monte de ferros espalhados pela picada, o que deu origem a que o Aguiar Ribeiro morresse completamente calcinado pelo fogo, pois que para além das munições começarem a explodir, o PAIGC ainda continuou a atacar durante bastante tempo, tendo usado Minas Anti-Carro e Anti-Pessoais, RPG2, RPG7 Morteiros e armas automáticas.
Os dois faziam parte do 3.º Grupo de Combate da 1.ª CCAV/BCAV 8323, que eu recordo com muita saudade, havia também quase todo o pelotão que fazia segurança à coluna bastante ferido, nomeadamente, o Alferes Santos que o comandava e outro homem com uma perna partida, um outro que acabou por perder uma vista e ainda hoje tem o corpo cravado de estilhaços, para além de duas viaturas Berliet destruídas: a primeira porque accionou a mina anti-carro e o condutor Sousa foi cuspido pelo ar e caiu ao chão, ficou com as partes superiores das pernas pisadas, porque bateu com elas no volante ao ser cuspido e arranhou uma perna ao cair, a sua carga era parte do pessoal que fazia segurança; a segunda ia carregada de munições de G3 e granadas de morteiro 81 e 60, na cabine desta viatura seguia o Soldado Condutor Abílio Correia Sabino Magalhães e o Rui Patrício mais o Aguiar Ribeiro.
O Correia saltou abaixo sem problemas, mas nesse mesmo momento os outros dois camaradas já tinham sido atingidos com um tiro, o Rui Patrício ainda desceu da viatura e disse ao Correia que ia morrer, o que aconteceu naquele preciso momento, o Aguiar Ribeiro já ferido abrigou-se debaixo da Berliet que entretanto começou a explodir as munições que trazia tendo ficado reduzida a um monte de ferros espalhados pela picada, o que deu origem a que o Aguiar Ribeiro morresse completamente calcinado pelo fogo, pois que para além das munições começarem a explodir, o PAIGC ainda continuou a atacar durante bastante tempo, tendo usado Minas Anti-Carro e Anti-Pessoais, RPG2, RPG7 Morteiros e armas automáticas.
Para além dos mortos e feridos e das referidas viaturas, destruíram o dinheiro que seguia nessa coluna para pagamento do anterior mês de Dezembro a todos os militares Europeus e Africanos que se encontravam em Copá, foi ainda destruído todo o correio destinado a Copá, que incluía os postais de Boas Festas e lembranças dos nossos Familiares que, dadas as circunstâncias não chegaram a tempo do Natal e tendo sido ali destruídas não pudemos recebê-las.
Para socorro dos camaradas que sofreram a emboscada, para além do Grupo de Combate de Copá, partiu de Bajocunda mais um Grupo de Combate da 1.ª CCAV / BCAV 8323 e de Pirada, comandados pelo próprio Comandante de Batalhão, partiram mais 2 Grupos de Combate da 3.ª CCAV / BCAV.
Estas forças de socorro levantaram 6 minas antipessoais e destruíram 1, levantaram uma Anti-carro, tendo recolhido a Bajocunda e a Copá respectivamente pelas 20h00.
Guiné > Zona leste > Pirada > Copá > 1.ª CCAV/ BCAV 8323 (1973/74) > Berliet destruída pro mina A/C na emboscada de 7 de janeiro de 1974 na picada Copá-Bajocunda. Foto de António Rodrigues. Cortesia do blogue da Associação dos Combatentes do Concelho de Arganil.
Guiné > Zona leste > Pirada > Copá > 1.ª CCAV/ BCAV 8323 (1973/74) > Berliet destruída pro mina A/C na emboscada de 7 de janeiro de 1974 na picada Copá-Bajocunda. Foto de António Rodrigues. Cortesia do blogue da Associação dos Combatentes do Concelho de Arganil.
Foto: © António Rodrigues. (2013). Todos os direitos reservados.
Ataque a Copá no mesmo dia durante várias horas (das 17h00 às 22h20), ficando a guarnição reduzida a 29 homens
Mas nesse dia as coisas más não tinham terminado, aí, às cinco horas da tarde desse mesmo dia, com apenas pouco mais de um homem em cada posto (porque o restante do pelotão ainda se encontrava no local da emboscada) concretizavam-se as informações que tinhamos recebido de manhã e Copá às dezassete horas em ponto começava a ser atacado de novo pela artilharia do PAIGC.
Os poucos que ali nos encontravamos metemo-nos nas valas de G3 na mão à espera do que desse e viesse, pois mais uma vez não tinhamos armas com capacidade de lhes darmos resposta e com dois homens em cada posto lá fomos aguentando o fogo de morteiros 120 e 82 que carregava sobre nós persistentemente, só cerca das 20H00 é que entrou o restante pelotão em Copá debaixo de fogo, quando a maioria da população aos gritos se punha em fuga das suas tabancas que ardiam infernalmente e fugiam em direcção à Republica do Senegal cuja fronteira ficava dali a 3 Kms.
Mas nesse dia as coisas más não tinham terminado, aí, às cinco horas da tarde desse mesmo dia, com apenas pouco mais de um homem em cada posto (porque o restante do pelotão ainda se encontrava no local da emboscada) concretizavam-se as informações que tinhamos recebido de manhã e Copá às dezassete horas em ponto começava a ser atacado de novo pela artilharia do PAIGC.
Os poucos que ali nos encontravamos metemo-nos nas valas de G3 na mão à espera do que desse e viesse, pois mais uma vez não tinhamos armas com capacidade de lhes darmos resposta e com dois homens em cada posto lá fomos aguentando o fogo de morteiros 120 e 82 que carregava sobre nós persistentemente, só cerca das 20H00 é que entrou o restante pelotão em Copá debaixo de fogo, quando a maioria da população aos gritos se punha em fuga das suas tabancas que ardiam infernalmente e fugiam em direcção à Republica do Senegal cuja fronteira ficava dali a 3 Kms.
Juntamente com a população fugiram (desertaram) praticamente todos os militares Africanos que ali se encontravam em reforço da Guarnição, ficando apenas em Copá naquela noite, um Alferes e um furriel Europeus que comandavam esse Pelotão de Africanos, juntamente connosco o 4.º Grupo de Combate da 1.ª CCAV/BCAV 8323 num total de 29 homens.
Devo dizer que nessa noite vivemos um autêntico ambiente infernal e de terror com tantas chamas à nossa volta, das tabancas e do milho, que ardiam como gasolina, para além do perigo que representava o calor das chamas próximas das nossas munições que podiam explodir em qualquer momento e nós debaixo de tanto fogo, chamas e bombas não sabia-mos onde protegê-las.
Mas o ataque do PAIGC continuava, agora já noite e com as chamas a servirem-lhe de alvo, mas nós continuavamos sem capacidade de resposta, porque eles estavam a grande distância e as nossas munições eram muito poucas para se gastarem inutilmente, dispunhamos apenas de umas 18 a 20 granadas de morteiro 81, algumas de morteiro 60 e talvez pouco mais de uma dúzia de granadas de mão, que viriam a ser lançadas de dilagramas [2], mas a artilharia do PAIGC não parava o seu ataque e vimo-nos forçados a pedir auxílio a Bissau, que nos mandou um avião Dakota que começou a sobrevoar Copá eram 22h20 da noite, altura em que a artilharia do PAIGC parou com o fogo, tinham decorrido 5 horas e 20 minutos seguidos, que nós aguentamos debaixo de fogo intenso e violento.
Entretanto os estilhaços das bombas tinham rebentado os fios da iluminação eléctrica, visto que tinhamos um gerador próprio e como era de noite o avião não tinha qualquer sinal para nos localizar, então através do rádio o piloto falou para o nosso posto de transmissão e perguntou qual a localização do inimigo, no que foi mais ou menos informado, depois o piloto pediu para lhe fazermos um sinal que consistia no seguinte: como junto das cantinas existiam sempre uns bidões com garrafas de cerveja vazias, utilizamos essas garrafas para fazer uma grande cruz no centro de Copá e enchemo-las com gasóleo, pusemos-lhes uma torcida de pano e acendemo-las de seguida e assim o piloto já nos podia detectar facilmente além de que, esse mesmo sinal lhe servia também de ponto de referência para a partir dali localizar o inimigo.
Feito isto e já sem se ouvir o mais pequeno ruído do inimigo, (porque este, mal ouviu o ruído do avião calou-se imediatamente), o piloto do Dakota tentou localizar o melhor possível a base do PAIGC naquela noite e quando entendeu que estava sobre ela começou a despejar bombas e manteve-se por ali durante cerca de mais de meia hora, espaço de tempo em que nos mantivemos relativamente calmos porque o fogo tinha parado. O avião regressou à base cerca das 23h00. O resultado do bombardeamento do avião deixou-me as maiores dúvidas, porque de noite todos os gatos são pardos.
Mas o PAIGC, ao emboscar nesse mesmo dia de manhã a coluna que nos vinha abastecer de munições e ao atacar em massa Copá nesse dia à tarde apanhando-nos quase desarmados, tinha feito uma acção muito bem planeada e em grande escala, jogava forte na conquista de Copá nesse dia.
Mas mais uma surpresa estava para acontecer, nessa mesma noite aconteceu uma coisa bastante curiosa para nós, o inimigo não satisfeito com o resultado do ataque que tinha terminado minutos antes, ou talvez pensando que estaríamos quase todos mortos, ao aperceber-se que ia ser bombardeado pelo nosso avião, em vez de se retirar para o interior do Senegal, que ficava ali muito próximo e donde provavelmente eles se tinham deslocado, usou uma táctica inesperada, como era noite escura e se podiam deslocar à vontade sem serem vistos pelo avião, saíram do local onde se encontravam e deslocaram-se para junto do nosso aquartelamento, pois sabiam que assim estavam em melhor segurança em relação ao avião, e mal o avião partiu e se foi embora, eram cerca das 23 horas, começamos a ouvir fortes ruídos de motores a trabalhar, dava-nos ideia de serem viaturas que se dirigiam a Copá e a sê-lo àquela hora, eram com certeza do inimigo.
Entretanto quase todos os meus camaradas do Abrigo 7 se foram deitar, pois todos estávamos bastante cansados, mas eu ao ouvir todo aquele estranho ruído tinha um pressentimento de que as coisas ainda não tinham terminado nesse dia e então decidi ficar a pé e fazer companhia ao sentinela, até ver o que ia acontecer.
Devo dizer que debaixo do bombardeamento que sofremos nessa tarde não sofremos o mais pequeno ferimento em ninguém, por isso tenho que acreditar que tínhamos Deus do nosso lado, até porque quando estávamos debaixo de fogo quase todos nós rezávamos uma oração, principalmente o terço a Nossa Senhora, eu sentia bem essa protecção a cada momento. São situações tão aflitivas e angustiantes, em que esperamos a morte a cada segundo que passa que, mesmo os não crentes se juntavam a quem rezava.
Enquanto nessa noite de 7 de Janeiro de 1974, eu esperava pelo resto dos acontecimentos, o que fiz foi rezar mais uma oração a Deus Nosso Senhor, que nos protegesse a todos do que poderia ainda acontecer naquela noite, ainda por cima éramos tão poucos, com a deserção dos Africanos durante aquela tarde estavamos reduzidos a 29 no total.
Novo ataque às 23h50 junto ao arame farpado, com apoio de viatura blindadas e artilharia... Mas Copá resistiu!
E as viaturas encaminhavam-se a toda a força na direcção de Copá e cerca das 23 horas e 50 minutos tudo parou e o ruído deixou de se ouvir, (a falta de iluminação facilitou-lhes as manobras e a instalação à vontade de todo o seu dispositivo) e ficamos na expectativa à espera de mais um momento terrível daquela noite e o meu pressentimento veio a concretizar-se, era exactamente meia noite e dez minutos quando se ouviu o já típico rebentamento que dava início aos ataques do inimigo.
E as viaturas encaminhavam-se a toda a força na direcção de Copá e cerca das 23 horas e 50 minutos tudo parou e o ruído deixou de se ouvir, (a falta de iluminação facilitou-lhes as manobras e a instalação à vontade de todo o seu dispositivo) e ficamos na expectativa à espera de mais um momento terrível daquela noite e o meu pressentimento veio a concretizar-se, era exactamente meia noite e dez minutos quando se ouviu o já típico rebentamento que dava início aos ataques do inimigo.
Aí teve início mais uma hora e cinco minutos horrorosos, infernais e terríveis de enfrentar, aí o inimigo estava 10 metros à nossa frente e trazia uma táctica que estava muito bem montada, tinha junto ao arame farpado 3 secções, separadas alguns metros, o que lhe permitiu fazer fogo de armas ligeiras ininterruptamente durante 1 hora e 5 minutos, porque o fazia por secções e quando uma estivesse sem munições a outra estava já preparada para disparar e assim sucessivamente, mas para além destas secções de homens armados de metralhadoras tinham um auto-blindado (tipo ZIG Russo) junto a uma das secções a apoiá-la com os disparos do seu canhão e na retaguarda destas secções tinham toda a artilharia com que nos tinham atacado durante a tarde, esta encontrava-se a cerca de 1 Km também apoiada por outro auto-blindado do mesmo tipo.
Mas agora a coisa mudava de figura, ainda estavamos todos vivos e de saúde e por isso, como estavamos frente ao inimigo, apesar das armas de que dispunhamos continuarem a ser de capacidade inferior às deles e um número reduzido de munições, iríamos aplicar o melhor das nossas forças para lhe darmos resposta adequada e tentar defender a nossa posição e principalmente a nossa integridade física.
Esquisso de Copá, comas posições das NT e do PAIGC. Autor: António Rodrigues
Uma das primeiras coisas que fizemos a mando de um Furriel, foi lançar uma granada de bazuca do tipo iluminante, que na realidade por uns momentos ilumina tudo por onde passa, o que nos permitiu ver claramente a posição do inimigo e nos ajudou a cumprir a nossa missão com a maior objectividade possível.
Começamos então a disparar na direcção adequada dilagramas, granadas de bazuca, de morteiro 81 e 60, além das metralhadoras Breda, HK-21 e G3, a luta era quase corpo a corpo e muito renhida e a secção que estava do lado norte, apoiada pelo blindado, este estava já a abrir uma entrada para penetrar no nosso aquartelamento, onde progrediu cerca de dez metros para dentro do arame e é aqui que o meu camarada Antunes, acompanhado do 1.º Cabo João Ribeiro, se enchem de coragem, pegam em meia dúzia de granadas de morteiro 60, saltam para fora da vala debaixo de fogo e atiram-nas todas, sobre-o blindado que tentava entrar e que o terá feito recuar, não sei se por acção dessas granadas que não teriam grande efeito sobre tal arma, mas o certo é que quem o comandava resolveu iniciar a retirada naquele momento, mas a confusão era enorme e não sabíamos bem o que se passava com o restante do nosso pessoal, a dado momento aproximou-se do nosso abrigo o Demba, (um soldado Africano do nosso exército que ia em fuga para o Senegal, era o ultimo deles a abandonar-nos) que nos disse que o Alferes Brás já estava preso e nós ficamos ainda mais baralhados e confusos e dissemos até uns para os outros, se calhar esta noite vamos ser feitos prisioneiros do PAIGC, mas felizmente o Alferes Brás ainda não estava preso (e nunca chegou a estar) confirmamos isso quando pouco depois ele gritou em voz alta como costumava fazer, perguntando lá do seu posto, “EI PESSOAL ESTÁ TUDO VIVO ?”
Era verdade, estavamos todos vivos e ninguém com a ajuda de Deus estava ferido, aguentamos o resto daquela hora infernal de tiros e granadas sobre as nossas cabeças, continuamos a defender-nos principalmente através de dilagramas e morteiro 81, este último teve papel importante nessa noite, cujo artilheiro o tirou do tripé (e cujo prato se partiu ao fim dos primeiros disparos) para o poder manobrar da melhor maneira (o próprio Alferes Manuel Brás ajudou a segurar no tubo já quente do morteiro com ajuda de uns panos para não queimar as mãos) e foi esse morteiro 81 que veio a causar os maiores problemas ao inimigo, que ao fim de 1 hora e 5 minutos, teve que retirar, possivelmente com alguns mortos. [3]
Em Copá ficavam enormes incêndios com tudo a arder em grandes chamas e nós os militares e população tinhamos vivido horas amargas e terríveis nesse dia e noite de 7 de Janeiro de 1974 que jamais eu poderei esquecer.
O PAIGC, esse, não conseguiu os objectivos a que se tinha proposto, ao cortar-nos de manhã o abastecimento a Copá e ao atacar-nos à tarde em massa, o seu plano em parte tinha falhado.
Era 1 hora e 15 minutos do dia 8 de Janeiro de 1974 quando o tiroteio acabou e pudemos então descansar um pouco. No dia seguinte de manhã, fomos passar reconhecimento fora do arame farpado e verificamos melhor o que na realidade tínhamos provocado ao inimigo, vimos a entrada que realmente o blindado abriu no arame farpado e numa das secções, junto ao poço de água da pista de aviação, teriam tombado pelo menos dois homens, visto que aí haviam duas postas de sangue separadas por um metro de distância e tinham colados alguns dos muitos invólucros das muitas munições que já tinham disparado (tinham o aspecto de uma Pisa).
A meio da distância entre os dois e cerca de um metro atrás, rebentou uma granada do nosso morteiro 81, o que com certeza terá ferido os homens daquela secção e eles tombaram sobre os invólucros que tinham à sua volta, mas encontramos ainda um carregador e caixas de munições da KALASHNIKOV, maços de tabaco e bonés, mas haviam mais sinais, o blindado que apoiava a artilharia lá mais atrás, tinha vindo socorrer os feridos de que atrás falei, mas como nós insistimos a fazer fogo com as nossas armas, mesmo sabendo que eles estavam em retirada, esse blindado não conseguiu chegar perto dos feridos, pelo que estes foram levados de rastos até ao carro, mas vendo-se atrapalhados não conseguiram meter os feridos logo no carro, pelo que este começou a retirar de marcha atrás sobre o mesmo rodado, enquanto o carreiro que os corpos de rastos marcavam continuava a par do rodado, até que conseguiram carregá-los.
A meio da distância entre os dois e cerca de um metro atrás, rebentou uma granada do nosso morteiro 81, o que com certeza terá ferido os homens daquela secção e eles tombaram sobre os invólucros que tinham à sua volta, mas encontramos ainda um carregador e caixas de munições da KALASHNIKOV, maços de tabaco e bonés, mas haviam mais sinais, o blindado que apoiava a artilharia lá mais atrás, tinha vindo socorrer os feridos de que atrás falei, mas como nós insistimos a fazer fogo com as nossas armas, mesmo sabendo que eles estavam em retirada, esse blindado não conseguiu chegar perto dos feridos, pelo que estes foram levados de rastos até ao carro, mas vendo-se atrapalhados não conseguiram meter os feridos logo no carro, pelo que este começou a retirar de marcha atrás sobre o mesmo rodado, enquanto o carreiro que os corpos de rastos marcavam continuava a par do rodado, até que conseguiram carregá-los.
Entretanto durante todo esse fogo nenhum dos nossos homens ficou ferido, graças a Deus.
A todos os possíveis leitores do relato deste episódio da Guerra na Guiné, abraço com amizade e peço desculpa pela pobreza da minha escrita porque, de facto este não é o meu mister mas penso que me faço entender.
____________________________
[1] O Soldado Rui Silveira Patrício era natural de Stª. Margarida – Conceição do Concelho da Covilhã (encontra-se sepultado no Cemitério Concelhio no talhão dos Combatentes) … O 1º. Cabo António Aguiar Ribeiro era natural de Orca, Concelho do Fundão (encontra-se sepultado no Cemitério de Martianas na freguesia natal)
[2] Granadas de mão lançadas pela Espingarda Automática G3 com munição própria.
[3] Em 2009 soube por um jornalista que se deslocou em 2007 a Copá na Guiné e falou com ex-guerrilheiros, que lhes disseram que, nessa noite entre outros, lhes matamos o comandante da operação.
Foto 1 - Junto ao poço de Copá
Um abraço,
António Rodrigues
Sold Cond Auto da 1ª CCAV / BCAV 8323 (1973/74)
Mini-guião: © Colecção de Carlos Coutinho (2012). Direitos reservados.
[Subtítulos da responsabilidade do editor]
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
15 comentários:
Valente, o nosso pessoal de Copá.
Mas contunuo convencido que os guerrilheiros do PAIGC, na generalidade, não eram grande coisa. 29 homens conseguem residtir a uns duzentos elementos IN, melhor armados, com uma viatura e tudo, e pô-los a recuar.
É por isso que, exceptuando Guileje, não há nenhuma derrota no campo militar da Guiné durante
toda a guerra.
Depois do 25 de Abril é outra conversa, nem mais um só soldado para as colónias.
Abraço,
António Graça de Abreu
É impressionante este relato, nunca li nada assim. Vocês foram Super Heróis e mereciam um lugar na história do Ultramar Português, pela grande coragem e valentia que tiveram perante um inimigo com um poder de fogo muitas vezes superior.
José Nascimento
Lembro-me bem desse período em que que se ouvia as explosões e havia um clarão par leste. No posto de rádio ouvíamos o que lá se estava a passar.
Depois fiz parte da coluna de reabastecimento a Buruntuma onde se esperava um grande ataque inimigo que afinal veio a acontecer com foguetões em Canquelifá.
Foram todas as Berliet da minha companhia. A minha foi carregada de minas e ficaram lá sapadores da minha companhia. Fez parate da segurança à coluna o grupo Marcelino que também por lá ficou.
Tudo isto foi doloroso uma vez que já tínhamos comissão acabada, praticamente e pouco mais de mês depois o meu batalhão foi para Bissau aguardar embarque para casa.
Amigo um relato muito bem escrito uma historia comovente pois houve muitos que passaram coisas quase iguais e algumas um pouco deferentes por isso doulhe os meus parabens pelo sei relato porque tambem por ai andei foi cabo conductor mas tanbem pasei uma ocasiao so nao foi para deus porque aminha hora nao foi chegada
Sem querer puxar a brasa à minha sardinha, é justo que saliente e identifique aqui os dois corajosos Camaradas que nessa longínqua noite de 7 Janeiro de 74 enfrentaram com grande sangue frio uma das duas viaturas blindadas utilizadas pelo PAIGC nessa tentativa de assalto Copá.
Eu estava junto deles, e ainda lhes disse: Cuidado que vocês podem ser atingidos, mas ele não hesitaram.
São eles o Manuel Vicente Antunes, o homem do morteiro 60 que está na foto Nº. 2 de pé em frente do UNIMOG com o braço direito apoiado no mesmo, deste grande Camarada e amigo infelizmente nunca mais ninguém me deu notícias, dele só sei que era de Malpica do Tejo, Concelho de Vila Velha de Rodão, Distrito de Castelo Branco.
O outro é o João Gonçalves Ribeiro um dos meus maiores Amigos, que está na foto Nº. 3 Sentado no poço de Copá onde nos abastecia-mos de água, de chapéu e de mãos nos joelhos. Não tenho qualquer dúvida que, houveram na Guiné muitas situações ainda mais complicadas do que a nossa em Copá, simplesmente muitos dos valentes camaradas que as viveram não se deram ao trabalho de as descrever mas, felizmente existem muitos e bons relatos escritos daquela dura guerra.
A todos os camaradas Ex-combatentes sem excepção, o meu abraço amigo.
António Rodrigues
Caro Rodrigues:
Escreves muito bem, de forma muita clara e pormenorizada. Não há fanfarronice, há uma sucessão de factos narrados de forma muito objectiva. Aquela questão da cruz com garrafas de cerveja e o episódio do Dakota a descarregar bombas em voo noturno são bem a tónica da guerra no período pós- 3 Gs (Guilege, Gadamael e Guidage). Gostaria de recordar, a alguns mais esquecidos, que isto se passou em 1974, pouco antes da aurora de Abril e era o sinal de que, com o advento da nova estação seca, iriamos ter uma reedição dos três Gs. Mas o 25 de Abril veio, felizmente para quem lá estava e para os que, para lá, deveriam ir, inutilmente para os que, por lá, tinham já deixado o seu sangue e as suas vidas.
Um abração
Carvalho de Mampatá
Caro Camarada António Rodrigues
Excelente relato daquilo que passaram, do esforço heróico necessário para aguentar os ataques do IN.
Ao ler este relato lembrei-me da sorte que tive, quando em Dezembro o vosso comandante queria que o meu GC (CCAÇ3491), que juntamente com um GC de madeirenses, tínhamos chegado nesse dia a Pirada para reforçar esta unidade, pretendia que no dia seguinte fossemos reforçar Copá.Quer o meu GC, quer o dos madeirensses, já tínhamos terminado o tempo de comissão em Outubro.Entendi naquela altura refutar esta ideia, porque as ordens que recebera directamente do Coronel do CAOP 2, eram para ir ajudar a defender Pirada e Copá era um destacamento de uma das companhias sediadas em Pirada. Felizmente o Comandante do CAOP 2, defendeu a minha posição e o comandante de Pirada recuou nos seus intentos, embora dizendo que iríamos escoltar uma coluna que iria com munições para Copá. No dia seguinte lá fomos estrada fora, mas após uma pequena ponte que fora destruída por explosivos na véspera, a equipa de sapadores desatou a levantar minas A/C em profusão, sendo que algumas delas, até estavam à vista, parecendo que o IN queria dizer com aquilo que alguma delas acabaria por fazer estragos. O cmdt do Batalhão, que também seguia na coluna, ordenou o regresso a Pirada, não sem que uma das minhas viaturas, ao dar a volta passou junto a uma árvore rebentando uma mina A/P, que apenas produziu danos no pneu. Em seguida recebemos ordem de voltar para Nova Lamego e arrancarmos para Galomaro-Dulombi, a fim de preparar-mos a companhia para receber os "Piras".
Se temos ido reforçar Copá, para além dessa tempestade de fogo, sempre com a hipótese de sofrermos baixas, não teríamos saído de Copá senão em Fevereiro de 1974, quando o resto da companhia e do Batalhão já estavam em Bissau.
Um abraço.
Luís Dias Ex-Alf.milº CCAÇ3491
Bravo, António Rodrigues, ao decidires a divulgação do teu testemunho, narrando os acontecimentos e chamando os seus actores pelo nome. São as pessoas que fazem a história. A coragem e a valentia desse punhado de soldados de Portugal parece simples... Ah, como sabemos quanto difícil!
Quando da nossa conversa no Porto, falaste-me do alferes Brás (futuro juiz) o vosso comandante, como o maior "baldas" às formalidades e ritos castrenses, mas também soldado corajoso, sempre ao lado dos seus comandados.
Um abraço
Manuel Luís Lomba
Caro Camarada Carvalho.
Este meu relato é de facto muito genuíno porque, pus nele a mesma emoção com que o vivi.
A este propósito posso dizer que, tenho um amigo bastante mais novo do que eu, que nem sequer foi tropa, que ao ler as minhas memórias da Guerra me fez o seguinte comentário: "E pá enquanto lia esta tua história conseguis-te por-me na Guiné a viver tudo isto lá no vosso meio".
Um forte abraço meu Amigo.
Caro Camarada Luís Dias!
O GC que estava destacado Em Copá pertencia à Companhia de Bajocunda que, por sua vez fazia parte do BCAV/8323 de Pirada.
O pontão a que te referes era sobre o Rio MAUEL JAUBÉ, junto à povoaçao de TABASSAI, entre Pirada e Bajocunda e foi destruído pelo PAIGC com explosivos no dia 8-1-74. Nesse local, acabaria por falecer no dia 31-1-74 um camarada sapador da CCS do meu BCAV/8323 quando levantava mais um campo de minas, tinha já levantado 3 mas, a 4ª. explodiu e infelizmente felo em pedaços.
A coluna a que te referes, que deveria levar munições para Copá e pela qual nós tanto ansiava-mos porque estava-mos com muito poucas munições, só acabaria por chegar a Copá a 13-1-74, depois de várias tentativas, de avanços e recuos, várias emboscadas e vários mortos e feridos naquele percurso.
Por esse motivo, aguentamos o infernal dia 7 de Janeiro gerindo da melhor forma as poucas munições de que dispunha-mos.
Quanto ao facto de vos quererem mandar para Copá já com a vossa comissão terminada, eu também não gostaria de me ver nessa situação.
Enfim, aqueles foram tempos duros de mais para todos nós, agora temos é de olhar em frente e aproveitar bem o tempo que ainda nos resta.
Um forte abraço Luís.
Prezado amigo Manuel Luís Lomba!
Obrigado também pelas tuas simpáticas palavras.
O Alferes Manuel Joaquim Brás foi, em minha opinião, o Homem certo no sítio certo; com a sua forma de comandar, conquistou a total confiança, respeito e simpatia dos seus soldados que o seguiam para todo o lado e, de "Bandalho" do Batalhão, após os acontecimentos de Copá, passou a ser o mais respeitado por todos, inclusive pelo Comandante do Batalhão que, quando regressamos a Pirada o recebeu em lágrimas por ele ter regressado com o seu grupo de combate intacto.
Na minha terra diz-se que, "os homens se vêm nas ocasiões" e foi isso que ele demonstrou a quem chegou a troçar dele.
Não quero deixar de te agradecer mais uma vez e dar-te os parabéns pelo teu belíssimo livro que me ofereces-te, que gostei imenso de ter lido, para mim um dos melhores que li até hoje sobre a guerra na Guiné.
Um forte abraço Manuel e até um dia destes.
Tenho orgulho em dizer que dos 29 bravos do pelotão de Copá dois são da minha terra.
Contou-me um deles que a determinada altura puseram a hipótese de abandonar o destacamento.. questionaram o Alferes Brás sobre o assunto..resposta deste ..podem ir mas eu fico..ficaram todos.
C.Martins
Ainda no dia 9 de Janeiro em Mensagem Nº. 0087/C, emanada do CEM COMANDO CHEFE DA GUINÉ pode ler-se o seguinte: “ Sexa. Manifesta seu muito apreço Comandante, Graduados e Praças Guarnição de Copá, enaltecendo sua valentia, espírito de missão e corajoso comportamento durante forte flagelação noite de 7 para 8 de Janeiro de 74”.
E no seguimento desta, também o CAOP 2 enviou mensagem Nº. 265 de 12 de Janeiro do seguinte teor: “Este Comando congratula-se e associa-se apreciação Comandante-Chefe.”
Camaradas!
Copá era um cú de judas bastante inóspito e isolado, que comandei durante cerca de 15 dias (fui corrido conforme relato já publicado). Um pequeno destacamento fronteiriço, quase desguarnecido, sem condições naturais de defesa, apenas uma aldeia na planicie, enquadrada pelo arame farpado. Quando lá estive, na época sêca, até a água era ferozmente disputada pela tropa e pela população, já que ao fim da manhã, no fundo, restava uns centímetros de lama (na época, acho que só havia um poço na alfeia. Naquele sitio, com a brisa proveniente da deserto, cheguei a ouvir o que parecia tratar-se de um combóio senegalês, que passa numa linha a cerca de 80/100 km a norte. De interessante, apenas recordo uma plantação de cajú, cuja flor tem um delicioso e alcoólico suco, e a bolanha que se prolonga pela fronteira, onde, perigosamente, o meu camarada Ramalho is caçar.
O relato bélico descrito, é expressão da melhor condição dos guerrilheiros que, não só do ponto de vista psicológico, também provaram ter táctica, e enquadrá-la numa estratégia, do que resultaram tantos danos nas NT.
Presto homenagem aos resistentes.
JD
Caro Camarada JD, estou plenamente de acordo com o teu comentário sobre Copá.
Aquilo era de facto um CÚ DE JUDAS e acho que não são necessárias mais palavras para descrever aquele lugar que, por ser como era, contribuía ainda mais para nos sentirmos deprimidos e isolados do mundo.
Quando chegamos a Copá em Novembro de 1973, haviam pelo menos 3 poços:um na pequena pista de aviação junto do arame farpado e que se vê nas fotos 1, 2, e 3 ao fundo do texto, onde nos abastecia-mos diariamente e junto do qual decorreu a acção do PAIGC de 7-1-74. Havia outro mesmo no centro do aldeamento e ainda um terceiro entre as duas fileiras de arame farpado junto à saída do trilho para o Senegal.
Enquanto lá estivemos nunca faltou a água mas, era intragável como era no geral em toda a Guiné.
Quando metia-mos a lata no poço para a tirar, só se viam bichos a rabiar.
Um abraço do António Rodrigues
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