domingo, 11 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14139: Bom ou mau tempo na bolanha (83): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (23) (Tony Borié)

Octogésimo segundo episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.




Dia 15 de Julho de 2014

Companheiros de viagem, este é o resumo do vigésimo quinto dia

Eles viviam no atual Colorado, viviam do que a natureza lhes dava, eram os “Arapahos”, os “Cheyennes”, os “Kiowas” e os “Pawnees”, na região leste, e os “Utes”, no oeste, além de milhares de nativos de tribos diferentes do leste norte-americano que passariam pela região durante o século XIX, quando foram forçados a sair do leste e a emigrar em direcção ao oeste.

Já lá vão alguns anos, tivemos um companheiro de trabalho, oriundo da Colômbia, mais ou menos da nossa idade, o pai tinha trabalhado na construção do “ferrocarril”, como ele dizia, que devia ser o caminho de ferro lá na Colômbia e, quando estava de bom humor, dizia-me que foi com os documentos do pai, que era uma pessoa qualificada, que emigrou para os USA, portanto, nos documentos tinha a idade do pai e, nessa altura já estava qualificado para a “reforma”, mas como era uma pessoa de bem, com muito bons sentimentos, queria continuar a trabalhar por muitos mais anos e, quando estava zangado, principalmente quando não concordava comigo, dizia: - Os portugueses e os espanhóis, o que querem é ouro.


Isto é só uma curiosidade, mas da fama não nos livramos, principalmente os espanhóis, pois foram eles os primeiros exploradores europeus na região durante o século XVI. Chegaram à região vindos do sul, do México, e andavam em busca de metais preciosos, tais como prata ou ouro. Os espanhóis, não tendo encontrado nenhum destes metais preciosos no actual Colorado, não se interessaram em povoar a região, tendo reivindicado posse da região somente em 1706, um pouco tarde, pois 24 anos antes já o francês René-Robert Cavelier tinha reivindicado a posse da região leste do atual Colorado para a coroa francesa e, assim, ter feito parte da colónia francesa de Louisiana, de que já falei por diversas vezes. Mas os espanhóis, talvez pela força de armas, passaram ao controle desta região em 1762 e, sob os termos do “Tratado de Santo Ildefonso”, passaria novamente ao controle dos franceses em 1800, para ser finalmente anexada, como parte da célebre “Compra da Luisiana”, pelos Estados Unidos.

Depois dessas datas, muita água correu no rio Colorado, grandes minas de prata, seriam encontradas, houve corrida ao ouro, o que manteve em alta o crescimento populacional do estado, encontraram grandes reservas de petróleo, embora estas não tenham sido exploradas em grande escala até o início da década de 1900. Em 1870, inauguraram uma linha de caminho de ferro, conectando o Colorado com outras regiões do país, principalmente, Denver com Cheyenne, no estado de Wyoming e, finalmente em Agosto de 1876, o Colorado tornou-se o 38º estado norte-americano.

Tanta conversa, tanto blá, blá, blá, para vos dizer que seguíamos em direcção ao Atlântico pela estrada rápida número 70, depois de entrar no estado do Colorado, pela parte oeste, onde encontrámos grandes planícies, algumas pequenas montanhas, quase sem árvores e sem qualquer vegetação. Era deserto, aparecia uma ou outra pequena povoação, onde nem estação de serviço havia, isto até às proximidades da cidade de Edwards, onde se inicia uma cordilheira de montanhas que se prolonga até próximo da cidade de Denver.



Nestas montanhas, principalmente no inverno, existem grandes áreas que são “estâncias”, onde se praticam desportos de inverno, sendo algumas pequenas cidades famosas que atraem celebridades de todo mundo, passamos por elas, interessando-nos somente a paisagem, mas não deixámos de ver casas de “Millhão de Dolares” nas montanhas que circundam a estrada. Parando numa dessas pequenas cidades para comprar gasolina, o preço era tal alto que usei a gasolina de emergência, que trazia em dois tanques extras, comprada no Alaska.


A estrada, que nesta área, por motivo do intenso inverno, tem muitos “remendos”, faixas mais baixas em algumas zonas, passa lá no fundo, entre montanhas, junto da linha do caminho de ferro e do rio, alternando-se em algumas zonas em que passa o rio em baixo, o caminho de ferro e a estrada por cima, em outras zonas vão lado a lado, tendo subidas, em que numa distância de 10 ou 15 km, a estrada sobe milhares de metros, com três vias, onde a via da direita, a partir de uma certa distância, vai cheia de veículos com as luzes de emergência. Mais à frente já estão veículos parados, com problemas no motor e, ao descer, passado uns quilómetros, já se sente no ar aquele cheiro que vem dos travões, embora recomendem usar o motor para ajudar os travões, onde existem diversas saídas de emergência, com areia, onde já estão alguns veículos pesados.


Nós, tanto nas subidas como nas descidas, usando sempre a linha do meio, fomos andando devagar, mas passámos estas zonas sem dificuldade, chegando à cidade de Denver, que passámos, olhando a cidade que fica no lado sul, sempre com a ajuda do GPS, pois como devem calcular, o nosso destino era o Atlântico. A cidade de Denver é uma grande metrópole, não passa despercebida, muitos cruzamentos de estrada, muito cimento, muito trânsito, todos procurando o seu norte, sul, leste ou oeste, que muitos de nós nunca conseguimos encontrar.


Passando a cidade de Denver, depois de algum tempo na estrada, aparece a planície, quintas, poços de petróleo e moinhos de energia, pastagens de gado, muitas quintas transformadas em zona de caça, plantações de trigo, milho e aveia, zonas desertas e, assim atravessámos a fronteira para o estado de Kansas, continuando com a mesma paisagem até à cidade de Hays, onde dormimos.



Neste dia percorremos 647 milhas, com o preço da gasolina a variar entre $3.44 e $3.57 o galão, que são aproximadamente 4 litros.

Tony Borie, Agosto de 2014
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14116: Bom ou mau tempo na bolanha (81): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (22) (Tony Borié)

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