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quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14152: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (95): Mais uma pequena história... Em honra do Cessna dos TAGP e do Comandante Pombo (Mário Migueis da Silva)




Foto do Cessna, vermelho, pilotado pelo Comandante Pombo, dos Transportes Aéreos Civis da Guiné



Mário Migueis
 da Silva
1. Em mensagem de hoje, 15 de Janeiro de 2015, o nosso camarada Mário Migueis da Silva (ex-Fur Mil Rec Inf, CCS/BART 2917 e CCAÇ 2701,  Bambadinca e Saltinho, 1970/72), enviou-nos uma história passada com o Comandante Pombo, que assim se junta às já publicadas.


O Comandante Pombo > Outubro de 1972

por Mário Migueis da Silva


Dedicara a manhã exclusivamente às despedidas dos meus amigos fulas e mandingas das tabancas do Saltinho e de Madina-Contabane, régulo Sambel, mulheres e filhos incluídos, com os quais, em sinal de reconhecimento pela hospitalidade e cordialidade com que sempre me distinguiram, “parti” algumas coisinhas, meras recordações, enfim, com destaque para umas bonitas peças de fazenda que, com razoável antecedência, encomendara em Bafatá.

Agora, com a coluna pronta a seguir para o Xitole, onde, em troca de mais um saco de correio para a malta ávida de notícias e palavras de afecto, me deixariam à guarda do piloto de uma avioneta que fazia habitualmente a ligação com Bissau, mal tinha tempo para, com a bucha na boca, carregar para cima da GMC a meia dúzia de sacos e malas cheios de artefactos de valor meramente estimativo: dois batuques, um korá, uma espécie de cavaquinho, um violino acabaçado com arco provido de cordas de rabo de cavalo, manuscritos diversos, peças de artesanato várias – faltava saber se a pequena aeronave teria espaço para tanta tralha.

- Não há problema nenhum, até porque você é o único passageiro – sossegou-me o comandante Pombo, piloto do Cessna, que, já em plena pista, dava os últimos retoques no acondicionamento da carga, antes de levantar voo.

Pois é verdade, meus caros, era ele, o próprio, o melhor, o mais experiente, o mais espectacular de todos os pilotos civis de sempre em céus africanos, o já lendário comandante Pombo, com quem nunca tinha viajado, mas de quem ouvia falar à boca cheia desde que, dois anos atrás, chegara à Guiné.

Com um dos batuques em cima dos joelhos – que foi a solução encontrada –, enquanto subíamos em grande estilo, pouco menos que na vertical, ousei lembrar timidamente para a minha esquerda:
- Comandante, olhe que hoje é sexta-feira, 13!...
- Dia da segunda aparição em Fátima, não é?!...

E, acto imediato, iniciou o voo picado de despedida à pista, número que não deixava nunca de dedicar ao pessoal de terra.

Esposende, 14 de Janeiro de 2015
Mário Migueis
____________

Nota do editor:

Último poste da série de 14 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P13148: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (94): Ainda o Comandante Pombo, a quem convidámos para partilhar connosco as suas histórias e memórias... (Maria João Pombo / Amaral Bernardo)

2 comentários:

Hélder Valério disse...

Caros camaradas

Foi em boa hora que se deu mais visibilidade a esta personalidade, o incontornável Comandante Pombo, de quem tanta gente tem recordações fortes.

E tendo em conta que a sua actividade profissional se prolongou para além do momento da independência do território certamente que as suas memórias serão úteis para melhor compreender alguns acontecimentos.

O relato do Mário Miguéis, para além de nos dar a conhecer mais um episódio das acções do Cmdt. Pombo ilustra também o seu (dele) senso de humor 'venenoso' ao fazer o seu tradicional voo picado quando o Mário pensava que se 'safava' por ter o instrumento ao colo.....

Hélder S.

Luís Graça disse...

Miguéis: Que maravilha de história!... O diálogo final é delicioso...

Tu, além de cartunista (e não cartoonista...), tens talento para contar histórias, que é coisa que eu não tenho...Para a poesia, ainda vá lá...

"Invejo" os contistas!... E os cartunistas!... Mas, enfim, ainda bem que os talentos estão bem distribuídos na nossa Tabanca Grande. E ainda está por aparecer o homem-orquestra!

O comandante Pombo e a filha Maria João vão adorar esta história... Eu nunca andei no teco-teco do comandante Pombo, mas acho que o teu elogio é mais do que justo...


O comandanet Pombo é mais um português dos muitos que se fizeram ao mundop e que nos honram a todos... Impressionante é apreço e o carinho que a malta da Guiné lhe dedica, passados estes anos todos!...

Um abração. Luis