A CCAÇ 12 foi uma subunidade de intervenção, duramente usada e abusada pelo comando dos BCAÇ 2852 (1968/70) e BART 2917 (1970/72), os senhores da guerra do setor L1 (Zona leste)... Só os graduados e especialistas eram metropolitanos. Todo o restante pessoal era do recrutamento local, de etnia fula e futa fula. Havia 2 mandingas e mais tarde 1 mancanhe de Bissau. Alguns soldados não tinham mais do que 16 anos... A companhia foi extinta em agosto de 1974... Ao longo de cinco de anos de guerra, muitos dos seus elementos foram gravemente feridos em combate. Depois da guerra, alguns foram fuzilados pelos novos senhores da guerra, como o Abibo Jau, o nosso gigante... O pessoal metropolitano da primeira geração (cerca de meia centena, a CCAÇ 2590) não fez exatamente dois anos no TO da Guiné, Fez "apenas" 22 meses (de finais de maio de 1969 a meados de 1971). Para alguns de nós, esses 22 meses ficaram marcados a ferro a fogo, no corpo e na alma... Também os meus filhos nunca me perguntaram: "Pais, tiveste medo ?"... Ou por amor ou por pudor... Se mo tivessem perguntado, ter-lhes-ia respondido: "Só os idiotas e os deuses não têm medo"... (LG).
1. Comentário do nosso leitor de longa data (e camarada, ainda não registado na Tabanca Grande, ) João Silva (ex- fur mil at inf, CCaç 12, Bambadinca e Xime, 1973) (*) (e de quem não temos nenhuma foto):
A minha filha, e não sei porquê, ofereceu-me o livro em questão há cerca de uns 3 meses. Mas, ao iniciar a leitura, reconheço que o fiz sem grande entusiamo, parei logo, quase ao início, quando a autora na pág. 12 escreveu: "A maioria dos combatentes esteve apenas 2 anos na guerra mas penso que terá havido poucos mais momentos transformadores nas suas vidas".
Aquele "apenas" retirou-me a vontade de o ler. Quem considera que 2 anos na guerra é pouco tempo na vida de um jovem na casa dos 20 anos, não tem a mais pequena perceção da realidade.
Tenho dois filhos na casa dos 30 e tal anos e nenhum me perguntou se tive medo. Nem mesmo depois da oferta do livro. Há muitos livros sobre a guerra colonial e nenhum até agora me cativou. O mesmo acontece com a produção cinematográfica/documental.
Talvez porque coloque a fasquia muito alta. Talvez porque a nossa guerra não teve o impacto nem a dimensão de outras. Talvez porque não temos experiência acumulada como os americanos. Talvez porque não temos massa critica. Não sei. Alguns povos têm conseguido, especialmente os americanos, utilizar a tela dos cinemas para exorcizar e muitas vezes de forma crítica a sua participação na guerra.
Destaco a guerra do Vietname, a que mais se aproxima, por excesso, da que conheci na Guiné. Nem todas foram boas obras, como exemplo, Os Boinas Vermelhas. Mas noutros casos foram excelentes como no caso do Caçador, para mim o melhor.
Foto: © Arlindo T. Roda. Todos os direitos reservados [Edição: LG]
1. Comentário do nosso leitor de longa data (e camarada, ainda não registado na Tabanca Grande, ) João Silva (ex- fur mil at inf, CCaç 12, Bambadinca e Xime, 1973) (*) (e de quem não temos nenhuma foto):
A minha filha, e não sei porquê, ofereceu-me o livro em questão há cerca de uns 3 meses. Mas, ao iniciar a leitura, reconheço que o fiz sem grande entusiamo, parei logo, quase ao início, quando a autora na pág. 12 escreveu: "A maioria dos combatentes esteve apenas 2 anos na guerra mas penso que terá havido poucos mais momentos transformadores nas suas vidas".
Aquele "apenas" retirou-me a vontade de o ler. Quem considera que 2 anos na guerra é pouco tempo na vida de um jovem na casa dos 20 anos, não tem a mais pequena perceção da realidade.
São 2 anos em que quase conseguimos recordar cada dia, cada hora e, nalguns casos, passado quase meio século, e garanto que foram extremamente longos.
Tenho dois filhos na casa dos 30 e tal anos e nenhum me perguntou se tive medo. Nem mesmo depois da oferta do livro. Há muitos livros sobre a guerra colonial e nenhum até agora me cativou. O mesmo acontece com a produção cinematográfica/documental.
Talvez porque coloque a fasquia muito alta. Talvez porque a nossa guerra não teve o impacto nem a dimensão de outras. Talvez porque não temos experiência acumulada como os americanos. Talvez porque não temos massa critica. Não sei. Alguns povos têm conseguido, especialmente os americanos, utilizar a tela dos cinemas para exorcizar e muitas vezes de forma crítica a sua participação na guerra.
Destaco a guerra do Vietname, a que mais se aproxima, por excesso, da que conheci na Guiné. Nem todas foram boas obras, como exemplo, Os Boinas Vermelhas. Mas noutros casos foram excelentes como no caso do Caçador, para mim o melhor.
Não sei se este sentimento é partilhado por outros companheiros de armas, porque cada um de nós teve a sua experiência e também a sua missão. Uns foram atiradores, um nome que hoje dito em inglês - sniper - causa logo alguma efervescência, outros, amanuenses, cozinheiros, telegrafistas, mecânicos, etc. Mas quem foi atirador e esteve numa companhia africana teve uma experiência diferente. Não foram muitos deste milhão a que a autora do livro diz terem passado pelo teatro de operações, que o viveram.
É apenas um comentário pessoal e nada mais do que isso. Se chegar a ler o livro, talvez mude a opinião com que fiquei das primeiras páginas.
João Silva, ex- furriel atirador inf, CCaç 12 (Bambadinca e Xime, 1973) (**)
João Silva, ex- furriel atirador inf, CCaç 12 (Bambadinca e Xime, 1973) (**)
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 23 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P144509: Agenda cultural (391): Histórias à volta do livro "Pai, tiveste medo ?!", no âmbito das comemorações do 25 de abril... Com a autora, Catarina Gomes, filha de combatente da guerra colonial, jornalista do Público, hoje, 23, 5ª feira, às 18h00, na Biblioteca-Museu República e Resistência, Lisboa; e e no dia 25, sábado, na Biblioteca Pública Municipal de Setúbal
(**) Último poste da série > 13 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13395: (De) Caras (19): O comerciante Jamil Nasser, libanês, com casa e loja no Xitole, que eu conheci no início da década de 1970 (Joaquim Mexia Alves, José Zeferino e Paulo Santiago)
(**) Último poste da série > 13 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13395: (De) Caras (19): O comerciante Jamil Nasser, libanês, com casa e loja no Xitole, que eu conheci no início da década de 1970 (Joaquim Mexia Alves, José Zeferino e Paulo Santiago)
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