quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16508: Os nossos seres, saberes e lazeres (174): Uma viagem em diagonal pelos países dos eslavos do Sul (1) (Mário Beja Santos

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Maio de 2016:

Queridos amigos,
Era um sonho antigo, fazer uma diagonal ou uma tangencial pelo que foi a Jugoslávia, uma simples amostra, para ver se gostava e aspirava a mais. Foi sucesso absoluto. Haja saúde e uns euros de reserva e volto a esta natureza. Momentos houve em que andei de boca aberta e olho arregalado, caso de Split, o imperador Diocleciano (que era dálmata) mandou construir aqui um grandioso palácio (de 295 a 305 depois de Cristo), é um palácio-fortaleza onde o seu mausoléu é hoje uma impressionante catedral. Pois vive-se dentro de Split à sombra da grandiosidade deste palácio imperial.
Eu depois conto.

Um abraço do
Mário


Uma viagem em diagonal pelos países dos eslavos do Sul (1)

Beja Santos


A primeira imagem é a da gare ferroviária de Belgrado, há aqui vestígios de cultura vai para 7 mil anos, aqui confluem os rios Sava e o Danúbio, e daqui parto amanhã até ao fundo do Montenegro a horas que me permitirão ver muitas e muitas florestas da Sérvia. Está prevista uma viagem emocionante de aproximadamente 500 quilómetros, 254 túneis e 435 pontes, deve ter custado uma fortuna. Sempre ouvi comentários vagos e reticentes sobre as belezas de Belgrado. Ver-se-á adiante que a capital da República da Sérvia, a antiga capital da Jugoslávia tem muitíssimo a oferecer a quem vem explorar tesouros.




Fiz muitas contas antes de me afoitar a esta digressão pela Sérvia (de raspão), pelo Montenegro, Croácia, Trieste e Veneza. Graças ao Booking.com hoje encontra-se hospedagem por escassos euros. Saído do meu albergue, um belíssimo espécime Arte Deco com os degraus escalavrados mas com muita gente a fazer pinturas, atirei-me à procura da pompa sérvia, as ligações com a arte italiana, a do império austro-húngaro, por exemplo, são por de mais evidentes. Entrei no Hotel Moscovo, de 1906, não esquecer que os sérvios são fundamentalmente ortodoxos e bons aliados da Rússia, e foi este o ambiente que eu encontrei, acho que vale a pena por aqui dormir e comer, quando se tem abonos apreciáveis.



Belgrado surpreende pelos recantos de grande beleza, por muita habitação degradada ou envelhecida, espaços vazios. Esta é a parte histórica da cidade, do outro lado do Sava e do Danúbio há uma nova Belgrado, rutilante, deve ser a coqueluche da modernidade. Com estes milénios todos em cima, Belgrado conheceu saques e destruições violentas. Quando os exércitos de Adolfo Hitler tiveram que vir repentinamente ajudar os exércitos italianos na Grécia, Belgrado sofreu intenso bombardeamento, teve perdas irreparáveis, como a sua biblioteca nacional, desapareceram em cinzas documentos únicos. De um lado vislumbro o parlamento, que já foi federal, em 2006 Montenegro abandonou a Sérvia e até tem como moeda o euro. Aos poucos, a federação diluiu-se e houve ruturas sanguinolentas, não esquecer os apertões à economia da Eslovénia, o ferro e fogo com a Croácia e o fogo e ferro com a Bósnia Herzegóvina. No lado oposto ao Parlamento está o Palácio Presidencial e mesmo ao lado a homenagem ao Prémio Nobel Ivo Andric (1892-1975), galardoado em 1961, tempos depois as Publicações Europa-América editavam A Ponte sobre o Drina, foi no caixote de livros para a Guiné, ficou reduzido a cinzas em Março de 1969. Obrigado pela companhia que me deste!


Saltar para o futuro não é incompatível em manter o remanescente desses equipamentos que foram ou são motivo de orgulho. Não esqueço as cabines telefónicas britânicas, de uma beleza insuperável, percebo que as comunicações móveis trouxeram mudanças radicais. Mas gostei muito de ver esta caixa de correio, encontrei outras semelhantes, tem igualmente uma beleza insuperável, oxalá que os sérvios vão continuando a mandar cartas uns aos outros. E veja se este edifício dos correios, um quase palácio-fortaleza, a denotar que havia respeitabilidade nacional pelas suas comunicações.



A manhã vai alta, tem que dosear a energia, pela frente perfilam-se mais 13 dias em que é preciso dar à perna e estar muito atento aos usos e costumes destes eslavos do Sul (por isso é que se chamava Jugoslávia). Entusiasma-me esta arquitetura, o reino da Sérvia e depois a Jugoslávia foram contaminados por muita arte italiana, austríaca, alemã e mesmo francesa, fazia parte do ar do tempo. Olho para esta fachada e não teria dificuldade em acreditar ser património alemão, austríaco ou francês. Não acham? Vou à procura de uma boa sopa adobada, talvez de um prato de gulache e vou atirar-me, salvo seja, à arquitetura religiosa sérvia em Belgrado.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16487: Os nossos seres, saberes e lazeres (173): From London to Surrey (3) (Mário Beja Santos

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