segunda-feira, 24 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17279: (D)o outro lado do combate (Jorge Araújo) (7): a última carta de Amílcar Cabral, enviada em 19/1/1973, a Pedro Pires, com diretivas para o reforço da luta na região de Quitafine



Guiné > Região do Tombali > Quitafine, assinalada com elipse, na zona a cor laranja. Quitafine faz fronteira com a Guiné-Conacri (área 3.736 km²)

Fonte: https://peccaviconsulting.files.wordpress.com/2017/01/political-map-of-guinea-bis.gif (com a devida vénia...)


Fundação Mário Soares > Casa Comum > Arquivo Amílcar Cabral > s/d > s/l> O comandante Pedro Pires com dois combatentes do PAIGC

Citação:
(1963-1973), "Comandante Pedro Pires com dois combatentes do PAIGC", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43495 (2017-3-31)



Colaborador permanente do nosso blogue, Jorge Araújo (ex-fur mil op especiais da CART 3494. Xime e Mansambo, 1971/74) é professor universitário, doutorado em ciências do desporto. Este texto foi nos enviado a 7 de abril último, com a seguinte nota:  "Conforme ontem te dei conta, anexo mais um pequeno trabalho a incluir na série 'D(o) outro lado do combate', tendo este por tema de partida a 'última carta de Amílcar' enviada a Pedro Pires,  a poucas horas de ser assassinado. Recordo que a sua publicação só deve acontecer depois do texto relacionado com "Pedro Pires e a Mina..." (*)

A ÚLTIMA CARTA DE AMÍLCAR CABRAL [1924-1973] A PEDRO PIRES ESCRITA MOMENTOS ANTES DO SEU ASSASSINATO (19 de janeiro de 1973)



1. INTRODUÇÃO

Ao projectar este pequeno texto historiográfico, utilizando como fonte privilegiada, uma vez mais, «o outro lado do combate», título destes meus escritos temáticos, fi-lo procurando valorar o que é percebido do objecto em análise (factos narrados), por um lado, colocando-o à disposição do universo dos ex-combatentes que sobre ele lhe possam adicionar algo mais, por outro, organizando-o a partir da triangulação da informação produzida pelos seus diversos actores, e por eles publicitada em diferentes momentos e contextos.

Considero-o, por isso, um modesto contributo, quiçá reforço, ao que foi sendo referido, comentado, discutido, esclarecido, analisado, durante as duas últimas semanas neste espaço de partilha, com destaque para os temas inseridos nos P17138 e P17162, da autoria do nosso camarada António Martins Matos (ten gen pilav ref).

Daí que, como questão de partida, o objecto em análise está relacionado com as novas diretrizes idealizadas por Amílcar Cabral (1924-1973), enviadas em carta datada de 19 de janeiro de 1973, ao seu camarada do Conselho de Guerra, cmdt Pedro Pires (que viria a ser a última), naquela ocasião a supervisionar as actividades da guerrilha nos territórios da Frente Sul [mapa acima], uma vez que passadas poucas horas de as ter escrito, o seu autor seria assassinado por membros do seu próprio partido, em Conacri, tema amplamente dissecado no blogue [exs. P15683 e P16510, entre outros].

Estas novas orientações propostas por Amílcar Cabral, que não teria a oportunidade de conhecer os resultados, acabariam, porém, por influenciar os tempos que se seguiram, transformando os cenários da guerra-de-guerrilha ao longo do ano de 1973 e os palcos das três frentes (Norte, Sul e Leste) onde cada um dos actores se movimentava. 

Esse ano, todos nós o sabemos, foi um ano farto de ocorrências de grande significado individual e colectivo, sendo que uma grande parte delas acabariam por ficar gravadas, para sempre, como efemérides no âmbito da historiografia da guerra no CTIGuiné.


2. A ÚLTIMA CARTA DE AMÍLCAR CABRAL A PEDRO PIRES

- Diretrizes para o prosseguimento da luta armada (1973) 

A poucas horas de ser assassinado, em Conacri, por elementos do seu próprio partido ligados à sua segurança pessoal, como foi referido na introdução, Amílcar Cabral escrevia uma missiva ao Cmdt Pedro Pires, dando-lhe novas diretrizes quanto ao que deveria ser feito a partir de então na zona da fronteira sul do território, identificando ao detalhe as acções a executar por cada grupo, o seu número de elementos e respectivo armamento a utilizar, bem como a competente cronologia.

De referir que o seu assassinato já havia sido por si vaticinado como uma forte probabilidade para o fim da sua vida (morte), ficando célebre a frase que lhe é atribuída - “se alguém me há-de fazer mal, é quem está aqui entre nós. Ninguém mais pode estragar o PAIGC, só nós próprios”.

Em função do acima exposto, importa dar conta de que esta narrativa só foi possível elaborar depois de consultados, com a devida vénia, os arquivos da Casa Comum, Fundação Mário Soares, em particular a vasta correspondência escrita/manuscrita por Amílcar Cabral, donde foi seleccionada a carta acima referida. Ela será transcrita na íntegra, mas intercalada com outras referências extraídas do vasto espólio disponibilizado por este blogue, com o superior objectivo de aprofundamento desta problemática.

O original será colocado no final, assim como referida a sua fonte. Eis, abaixo, o conteúdo da carta em título [revisão e fixação de texto: JA].

“Acabo de receber a mensagem [dos serviços de inteligência (secretos)?] sobre a concentração do inimigo em Cacine com o objectivo de ocupar posições no Sector”.

[Será que se refere à Directiva n.º 2/73, de 8 de janeiro de 1973, do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné (?), onde cria o Comando Operacional n.º 5 (COP 5), para o qual foi designado, como seu Cmdt, Alexandre da Costa Coutinho e Lima, à data major de art, e hoje cor art ref. (P2677)].

Recupero a missão do COP 5, constituída por 8 pontos. Neste contexto apenas irei referir os primeiros seis, a saber:

1. Intercepta o corredor de Guileje, especialmente pela implantação de minas e armadilhas e execução de fogos de interdição.

2 .Executa acções de reconhecimento na faixa fronteiriça, por forma a detectar novas linhas de infiltração IN na sua ZA [zona de acção], com vista ao oportuno desenvolvimento de acções de contra-penetração.

3. Acaba com o IN na sua zona de acção, aniquilando-o, capturando-o, ou, no mínimo, expulsando-o para o exterior do TO.

4. Procura alargar a sua área de actividade de contra-guerrilha, por acções de reconhecimento no corredor de Guileje em ordem a intensificar o esforço de contra-penetração e por acções de golpe de mão sobre a área de Quitafine.

5. Assegura a defesa eficiente dos aglomerados populacionais ocupados pelas NT e o socorro em tempo oportuno dos reordenamentos da sua ZA [zona de acção].

6. Garante as condições de segurança necessárias à execução de movimentos nos itinerários do Sector, em especial Gadamael-Guileje e Cacine-Cameconde. 

Em função dos objectivos acima, Amílcar Cabral escreve, como procedimentos de ataque: 

"Penso que devemos tomar medidas imediatas para verificar a informação dada [omite a sua origem; acaso se refira à Directiva n.º 2/73, essa informação chega-lhe dez dias após a sua aprovação/publicação] e estar prontos a enfrentar o inimigo. Pois, como sempre, a melhor defesa é o ataque. Por isso proponho:

1. Deves deslocar-te à fronteira de Quitafine, se a tua saúde o permite, para coordenar a acção dos combatentes na área. 

2. Mobilizar no Sector, para a acção, todas as forças regulares e locais.

3. Levar para lá a artilharia que está na fronteira de Kandiafara, com as suas dotações em homens, incluindo o Grad [foguetão de 122 mm]. Se possível fazer um ataque a Quebo [Aldeia Formosa] antes de retirar a artilharia pesada para Quitafine.

4. Os artilheiros de antiaérea que estão ainda na fronteira (vinte e tal homens) devem levar para Quitafine 3 peças [AA] ZGU-14, 5 mm para fazer emboscadas a helicópteros, apoiados pela infantaria.

5. Enviar a Quitafine os 15 homens da infantaria que estão em Gadamael. Vou ver a possibilidade de mandar mais alguns elementos de infantaria para lá, antes do fim do mês [de janeiro de 1973], o que é muito difícil.

6. Montar emboscadas, mesmo com poucos homens na área Cacine-Cameconde, com forças regulares. As forças locais devem estar vigilantes nas outras áreas.

7. Minar todas as vias de comunicação terrestres do inimigo, com minas anticarro e antipessoais.

Foguetão 122 mm. 
Foto de Nuno Rubim (2007)
8. Atacar o mais breve possível, inclusivo com Grad [foguetão de 122 mm] se houver condições para usar essa arma. Atacar duro com canhões, morteiros e bazucas RPG-7.

9. Dar ordens aos políticos para preparar as populações, que devem esconder bem as colheitas e tomar medidas de defesa contra os bombardeamentos.

10. Vou pôr tudo em marcha para que mais munições cheguem aí com urgência, se ainda não foram."


Quanto ao foguetão de 122 mm, a que o PAIGC chamou de arma especial, cujo tubo se apresenta na imagem ao lado, as suas características e outras informações de interesse geral podem ser consultadas no P1828, da responsabilidade do cor art ref Nuno Rubim, onde se refere, ainda, a existência de um tubo igual no Museu Militar de Lisboa, em Santa Apolónia, que segundo se julga saber é o exemplar capturado em Cufar, precisamente em janeiro de 1973.
E continua:

"Já era de prever que o inimigo fará tentativas para reocupar Quitafine e possivelmente o Boé Oriental. Os tugas pretendem evitar a reunião da Assembleia Nacional Popular, por isso querem as áreas em que poderemos pensar fazer a reunião."

[Esta viria a realizar-se oito meses depois na região do Boé, em 23 de setembro desse ano, local onde, no dia seguinte, foi proclamada a Independência do Estado da Guiné-Bissau].

"Temos de encarar a actividade do inimigo com calma e decisão, para fazer tudo para liquidar o maior número possível das suas forças vivas. Temos grandes dificuldades de homens, mas devemos fazer a guerra com os homens que temos.

Se não podes tu mesmo ir a Quitafine (área da fronteira de Ba-Kulontó), manda para aí camaradas capazes. Penso que o Bota [Cmdt Bouta N’Batcha] deve seguir para aí, deixando alguém no seu lugar. O Bobo Keita [1939-2009] que regressou para a missão, poderá também ajudar.

Por hoje é tudo, ficando aguardando notícias tuas sobre a evolução da situação. Saúde e bom trabalho. O melhor abraço do camarada. Amílcar Cabral."



2.1. A análise dos pontos 6: o da Directiva e o de Amílcar Cabral

Procurando confrontar cada um dos pontos 6, quer o da Directiva n.º 2/73, quer a execução da proposta avançada por Amílcar Cabral, prevista para a área Cacine-Cameconde, nada foi encontrado de muito relevante na investigação, em particular no itinerário Cacine-Cameconde, quando comparado com o de Gadamael-Guileje, este sim, já amplamente dissecado neste espaço.


Como reforço da investigação, foi consultada, no blogue, a Unidade de Quadricula instalada nessa zona naquela época. Constatamos que entre os anos de 1972 [jan] e 1973 [out] foi/era a CCAÇ 3520 [Estrelas do Sul], uma Companhia de Madeirenses, mobilizada pelo BII 19 (Funchal), que garantia a actividade operacional entre Cacine e Cameconde. Como as referências no blogue são escassas (uma dezena) e os factos relevantes terem uma relação directa com essa variável, esta narrativa ficará amputada, certamente, de outros elementos mais significativos, em particular na dicotomia causas/efeitos da sua missão, enquanto actividade operacional.


O que se sabe é que ela se iniciou em 24 janeiro de 1972, por efeito da sua chegada ao porto de Cacine após concluído o IAO no Cumeré, para render a CCAÇ 2726 [1970/72], viagem efectuada a bordo da LDG “Montante”, ainda que até 22 de fevereiro se tenha verificado o período de sobreposição.


Guiné> Região de Tombali > Cacine, 24 de janeiro de 1972 > Chegada da CCAÇ 3520 ao porto de Cacine a bordo da LDG "Montante".
(Foto do alf mil Juvenal Candeias, com a devida vénia: poste P4961).

Em Cacine ficou instalada a maioria do contingente da Unidade, com um grupo de combate destacado em Cameconde, que era substituído mensalmente, em regime de rotação. Cameconde era então o Destacamento das NT mais a sul da Guiné, local situado a cerca de sete quilómetros da sede, sem população civil, e onde existia também um pelotão de artilharia com obuses de 14 mm. Entre os dois locais era realizada uma coluna diária, de ida e volta, com recurso à competente picagem.

A propósito desse contexto e da coluna diária que se fazia entre Cacine-Cameconde, o ex-cap mil op esp Alexandre A. M. Margarido, que foi o 4.º Cmdt da CCAÇ 3520, refere que Cameconde “era um daqueles locais onde apenas os combatentes portugueses conseguiam manter-se durante anos, sem enlouquecerem, face à falta de condições mínimas de subsistência. Inclusive a água e os mantimentos tinham que ser transportados, numa coluna diária por um trilho rasgado na selva. As altas temperaturas dentro dos abrigos, os insectos, as cobras que deslizavam da selva durante a noite, procurando o calor dessas fortificações, autênticos fornos, a exposição a atiradores e às flagelações por RPG, tudo isso, recuando 40 anos [hoje, 45] nas minhas memórias, era impensável ser suportado nos dias de hoje” [P11129].

Quanto à Região de Quitafine, a sul de Cacine, cuja base era considerada o “santuário do PAIGC” na opinião do camarada Juvenal Candeias, alf mil da mesma Unidade [P4961 e P11127], este acrescenta que aí o PAIGC “estava fortemente instalado, numa mata que era densa e intransponível e provido de dispositivos de segurança, que tornavam os nossos movimentos impossíveis, salvo com utilização de meios excepcionais. Com trilhos minados e sentinelas avançadas [algumas em cima de árvores] permitiam-lhes uma tranquilidade apenas quebrada pelos obuses de 14 mm, disparados do nosso destacamento de Cameconde."

Dispunham, como efectivos [forças regulares], “um grupo especial de 20 lança-granadas, responsável pelas constantes flagelações a Cameconde, que era apoiado por um bigrupo disperso pela zona de Cassacá e Banir (onde se supunha estar o comando). Estes efectivos eram reforçados por uma vasta população armada em autodefesa [forças locais], distribuídas pelas tabancas de Ponta Nova, Bijine, Dameol, Cassacá, Banir, Campo, Cassebexe e Caboxanque, entre outras. O respectivo reabastecimento era regular e seguro [como se depreende na carta de Amílcar Cabral], feito a partir da fronteira com a Guiné-Conacri, através de vários rios, em especial o Caraxe e o Camexibó."
Como prática operacional, “as forças na região furtavam-se sistematicamente ao contacto [aliás, como em todas as frentes], optando por uma estratégia defensiva de protecção às populações que controlava, privilegiando as flagelações e a colocação de engenhos explosivos”. [Vd. postes P4961 e P11127].


2.2.  A carta de Amílcar Cabral enviada a Pedro Pires em 19 de janeiro de 1973, na véspera de ser assassinado





Fonte: Portal Casa Comum

Instituição: Fundação Mário Soares

Pasta: 07166.001

Assunto: Comunica que recebeu a mensagem sobre a concentração do inimigo em Cacine. Propõe que se averigue a veracidade da informação e apresenta as instruções para o ataque na mesma área, mobilizar homens e armamento para a região e zonas circundantes, montar emboscadas, minar as vias terrestres, preparar as populações para a defesa contra os bombardeamentos.

Remetente: Amílcar Cabral.

Destinatário: Pedro Pires

Data: Sexta, 19 de Janeiro de 1973

Observações: Anexa cópia.

Fundo: Pedro Verona Pires

Tipo Documental: Correspondência

Citação:

(1973), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_34467 (2017-4-24)


3. Conclusão

Pelo exposto se conclui que na época em análise as NT e a guerrilha organizavam-se em função das informações que circulavam entre os dois lados da fronteira, obtidas em “fontes privilegiadas” (ou “secretas”), influenciando depois todas as acções no terreno, bem como o sentido de cada uma delas, definidas nas políticas, finalidades e objectivos, e nas formas que as acções práticas deveriam tomar: as individuais e as colectivas.

Jorge Araújo, 3/4/2017
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Nota do editor

8 comentários:

Antº Rosinha disse...

O Comandante Pedro Pires, é dos poucos estudantes do império, que se passou, e que de vez em quando se pronuncia sobre a política e dos problemas africanos e sobre a guerra contra o colonialismo português.

Penso que depois da Independência, poucas, ou nenhuma vez, terá visitado oficialmente a Guiné Bissau.

Mas tem uma ideia muito clara sobre a política a seguir por todos os países africanos, que ele expressa mais ou menos assim:

"África não está em condições de viver em democracia, como muitos lhe querem impor".

E ele tem razão, por mal dos pecados africanos, Pedro Pires tem sempre razão.

Até tem razão de não por os pés em Bissau.

Anónimo disse...

"Temos de encarar a actividade do inimigo com calma e decisão, para fazer tudo para liquidar o maior número possível das suas forças vivas. Temos grandes dificuldades de homens, mas devemos fazer a guerra com os homens que temos." (...) (Amílcar Cabral).


É óbvio que, em janeiro de 1973, Amílçar cabral estava, também ele, cansado da guerra... E tinha graves problemas de recrutamento de gente para a guerrilha. Tal como nós, que fomos obrigados a recorrer cada vez mais ao recrutamento de jovens (e menos jovens...) guineenses.

Amílcar Cabral contava sobretudo com o crescente reconhecimento internacional... .Ia jogar tudo no plano diplomático e político, e na declaração unilateral da independência.

Luís Graça

Unknown disse...

Estive em Cameconde de Abril de 1968 a Junho de 1969. Estava na altura a Cartª 1692 que foi substituída pela CCaç 2445.Creio que no inicío de 1969 começaram a construir novas instalações de alojamento. O pessoal da secção dos Morteiros, que tinham um abrigo na parada onde(facultativo) dormiam. O resto do pessoal dormiam nas casernas com tecto de chapas de zinco.Fiz parte(Fur.Milº Artª) do Pelotão de Artª com 2 obuses 10,5. De Abril de 1968 a Junho de 1970 percorri vários destacamentos(Piche, Bigene, Pelundo, Bachile e Binar), Cameconde foi o destacamento com mais segurança. Era um quadrado de 100 mts de lado com abrigos no meio e nos cantos. As colunas de abastecimento (e não só) eram diárias. O abastecimento(diário)de água era feito por uma secção do pessoal de Cameconde. Saudações.


Manuel Reis disse...


Amílcar Cabral era um político astuto e com um sentido da realidade política, social e militar bastante apurado. Foi uma perda para todos a sua morte e não é difícil perceber que a carta que escreveu a Pedro Pires, onde lhe transmite orientações para a condução da guerra acaba por não produzir os seus efeitos e sofre uma inversão total. O palco da guerra deixa de ser a zona de Cacine-Cameconde para se concentrar em Guileje e posteriormente em Gadamael.

Se Amilcar Cabral, homem de diálogo, tivesse conduzido a guerra de libertação até ao seu término, ela nunca assumiria a sede de fuzilamentos a que no final se procedeu.

Saudações de Abril.

Manuel Reis

Cherno AB disse...

Caro amigo Manuel Reis,

Estou de acordo contigo quando dizes que "Amílcar Cabral era um político astuto e com um sentido da realidade política, social e militar bastante apurado", por outro lado precisamos ter algum cuidado e reservas quanto ao conteudo do teu ultimo paragrafo. O Amilcar nunca escondeu o seu odio para com aqueles que nao quiseram aderir a causa da luta e as suas ideias revolucionarias e, nao admiraria que partilhasse esse odio com os restantes militantes civis e militares no seio do PAIGC.

Um abraco Amigo,
ChernAB

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O Cherno faz-se eco do ressentimento de muitos guineenses, e nomeadamente dos fulas, que estiveram do lado das "autoridades portuguesas" de então, derrubadfas no 25 de abril de 1974, para todos os efeitos, do "nosso lado"...

O Amílcar Cabral não escondia, apesar de ser um homem sofisticado e civilizado, o seu desprezo pelos "cães dos colonialistas" (fulas, manjacos, e outros...). Desprezo e ódio não são a mesma coisa, mas podem conduzir aos mesmos trágicos resultados... Ab., LG

Unknown disse...

Bom dia,

Só para que fique resistado, de junho de 1973 a a julho/agosto de 1974 em Cameconde estava colocada a CART.6552, e em Cacine continuava a CCAÇ.3520, esta aleração deveu-se ao reforço da zona em virtude dos acontecimentos de Guilege e Gadamael.
Manuel Ribeiro Ex. Furriel Mil. da CART.6552

Manuel Luís Lomba disse...

Homem de altos méritos sem dúvida, o "sofisticado e civilizado" Amílcar Cabral cultivava um humanismo "selectivo": a execução dos capturados guineenses, combatentes ou oposicionistas ao PAIGC era uma sua ordem permanente.
Em corolário ao I congresso de Cassacá, em princípios de 1964, mandou executar uma meia dúzia de correligionários.
Num episódio da série do Joaquim Furtado, ouvi o Nino Vieira testemunhar que lhe ordenara a execução do "sniper" do PAIGC que, no último momento, decidira não eliminar o general Spínola, numa das suas visitas a tabancas.
Atraiu o enfermeiro Paulo Dias, dissidente do PAIGC e presidente da FLING a um "diálogo -cilada " e mandou-o executar.
Na ante-véspera de viajar para Roma, para receber a bênção de Sua Santidade o papa Paulo VI, mandou liquidar não aderentes no Chão Manjaco e fuzilar o correligionário Abdulai Seck, em Quetafine.
E condenou Rafael Barbosa à morte, à revelia, o verdadeiro fundador do PAI(GC), por ele ter alinhado na Spinolândia...
Os que vieram a executar os militares, as milícias africanas e os opositores políticos ao PAIGC eram seus fiéis seguidores...