quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24047: (In)citações (230): Nunca digas adeus, até sempre! (José Belo, Key West, Flórida)


Em Key West, lá na Florida do furacões, no Sloppy Joe's Bar, haverá sempre alguém, com uma alma lusitana, a qualquer hora do dia ou  da noite, a beber uma ginginha (ou um daiquiri bem geladinho), o mesmo é dizer a dar de beber à dor... e à saudade. Quem sabe, se o nosso leitor passar  um dia por lá,  se não dá de caras com o nosso Zé Belo... Que  os bons irãs do poilão da Tabanca Grande, mesmo à distância, lhe deem longa vida e saúde agora lá nos States e mantenham fluídas as nossas comunicações.

José Belo, jurista, gestor de conflitos, mediador cultural... o nosso luso-sueco-lapão, cidadão do mundo, efectivou-se como membro (registado) da Tabanca Grande em 8 de março de 2009 mas ele já estava desde 6/6/2007, entrada pela mão do Zé Teixeira, também ele "Maioral" (*)

(i) tem repartido a sua vida até agora entre a Lapónia (sueca), Estocolmo e os EUA (Key West, Florida, conforme as estações do ano e os quatro humores;

(ii) foi nomeado por nós régulo (jubilado e vitalício) da Tabanca da Lapónia: recusamo-nos a aceitar que ele se despeça do cargo: afinal todos os anos pela primavera, corria o boato de que a Tabanca da Lapónia ia morrer para logo a seguir ressuscitar, como a Fénix Renascida (*); 

(iii) na outra vida (todos temos mais do que uma), foi alf mil inf, CCAÇ 2381, "Os Maiorais", Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70): também ele participou numa guerra, como todas as guerras, "absurda e inútil";

(iv) é, legalmente, cap inf ref (mas poderia e deveria ser coronel) do exército português;

 (v) durante anos alimentou, no nosso blogue, a série "Da Suécia com Saudade"; 

(vi) tem 240  referências no nosso blogue.


1. Mensagem do Joseph Belo:

Data - domingo, 5/02/2023, 22:58

Assunto - Na boa companhia da fadista clássica (!) Hermínia Silva

Caro Luís

Os anos passam, as idades aumentam, as adaptações cómodas tornam-se… saudáveis!

Depois de ter ressuscitado pelo menos quatro vezes (o que, mesmo usando os parâmetros da Bíblia Sagrada,  é inaceitável!) é tempo da quase mítica Tabanca da Lapónia encerrar definitivamente o portão voltado à imensidão Árctica. (**)

As tentações e decadências da floridiana Key West acabam por sobrepor-se na vida deste hermita lusitano. O tal luso-lapão factualmente único, dentro do espírito épico (!) do que… se mais terra houvera lá chegáramos!

Quanto às fronteiras extremas da Tabanca Grande, 
substitui-se simplesmente o extremo do extremo
norte europeu pelo extremo do extremo sul norte-americano. (Certamente que isto dos “extremos” saltitantes terá algo a ver com um capitão extremista de um impossível de esquecer… PREC!)

Foi numa procura de comunicação com Amigos e Camaradas da Guiné que procurei levar até aí alguns dos exotismos do dia a dia dentro do Círculo Polar Árctico. Sentindo orgulho em amizades que hoje não existiriam sem o meio de ligações que tem sido a Tabanca Grande.

Se julgam que neste momento de despedida se ouve na Lapónia sueca um clássico e triste hino fúnebre,  enganam-se. Ecoa nesta escura imensidão gelada o... Fado da Mariquinhas, cantado na versão clássica da tão nossa Hermínia Silva!

Um grande abraço do JBelo



2. Nova mensagem do Joseph Belo:

Data - terça, 7/02/2023, 05:43  
Assunto - Pare! Escute! Olhe!

Caro Luís

Por vezes a saudade e as distâncias acabam por nos colocar o… ”carro à frente dos bois “! O texto que te enviei está demasiado pessoal ao referir uma mudança, importante para mim e para alguns amigos próximos, mas que acaba por se tornar o tal “conversar com o meu umbigo”.

Texto escrito sobre o joelho, surgido ao constatar uma mudança radical de um “marco geodésico” nos “limes” da Tabanca. Mas, mais não se trata do que… subjectivismos!

Os sentimentos e avaliações de fora para dentro são por vezes bem díspares dos efectuados de dentro para fora. É uma das lições de “tarimba” para os que estão mais de quatro décadas totalmente afastados do… ”dentro”!

Ficará portanto o texto ao critério editorial.

Um grande abraço, JBelo


3. Resposta do Luís Graça  

Data - terça, 7/02/2023, 11:48  

Querido amigo e camarada:

Fico, às vezes, na dúvida sobre o que é pessoal, reservado e intransmissível, de circulação e partilha mais restrita (entre familiares, amigos...). Ía-te pôr essa questão... Mas, se me dás luz verde ou amarela intermitente, terei todo o gosto em publicar no nosso blogue as tuas mensagens sempre originiais e com o seu quê de sabedoria e mistério (como, aliás, acabo de o fazer, às tuas duas últimas).

Sei que estás, há uns tempos a esta parte, a fazer o luto desse lugar, mágico, onde foste feliz, a tua (e também já um bocadinho nossa) Tabanca da Lapónia... Confesso que, por minha parte, vou ter saudades... Só conheço a Suécia até Kalmar (aliás, da Suécia só conheço Kalmar)... 

Mas deixa-me dizer-te que todos passamos um dia por isso: há que dizer adeus à casa onde nascemos,  à terra onde vivemos parte da nossa vida, ao nosso local de trabalho, aos velhos amores que não voltam mais, aos amigos que morreram, etc. Mas, não, nunca digas adeus, até sempre!... ("Até sempre": é uma expressão portuguesa que se usa para uma despedida quando se prevê uma separação definitiva, como a causada pela morte, ou muito longa e dolorosa.)

Eu, por exemplo, eu e a Alice, sabemos que um dia destes vamos ter que dizer adeus a Candoz... onde investimos tempo, dinheiro, sobretudo afetos... Até fizemos um blogue!... A nossa sociedade (e família), pela lei natural da vida, vai perdendo vigor e liberdade de ação: surgem as doenças, as incapacidades, a morte, etc. Os nossos filhos têm outros sonhos, interesses, preocupações, limitações, lugares... Candoz está a 400 km de Lisboa e a 80 do Porto... Acontece o mesmo noutras famílias, como a tua, a minha, as dos nossos camaradas...

Pessoalmente, não tenho o sentido de propriedade, mas valorizo o pouco que tenho, dividido por Alfragide, Lourinhã e Candoz... Há decisões dolorosas, a da alienação, sobretudo das coisas que são "animadas", as nossas geografias emocionais, as nossas relações... Mas será que essas se perdem? Podemos cultivá-las no jardim da memória (a única coisa que não nos podem tirar...). 

Enfim, talvez o teu texto nos ajude também a saber lidar com a(s) "perda(s)"... 

De qualquer modo, para onde quer que vás (e vais, felizmente,  para mais perto dos teus filhos e netos), sabes que tens sempre aqui alguém que te sabe ouvir e até compreender. Ou pelo menos que faz por isso. Afinal, a Guiné e Portugal, a nossa terra natal, aproximaram-nos. E, além de camaradas, ficámos amigos. Um abração. Luis






"A minha alegre casinha"... A Tabanca da Lapónia (ou pelo menos o casarão)  continua a lá estar, em Abisko, Kiruna, bem perto da terra do Pai Natal... Um poeta deixou lá este escrito à porta: 

É uma casa... portuguesa ? 
Sim, dizem uns, outros, não, 
Não se tem bem a certeza, 
O dono é luso-lapão...

É Belo, não Ruy, José,
E de renas, criador, 
E agora blogador, 
Mas fala pouco... da Guiné...

Diz que o mar o despejou. 
E não é nenhuma facécia, 
Neste reino da Suécia, 
Ele só por amor ficou.

Teve pelo menos 3 blogues. Foram, infelizmente, removidos... E, com muita pena nossa, não foram capturados em tempo útil pelo nosso Arquivo.pt...
Fotos (e legendas): © José Belo (2034). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


4. Nova mensagem do José Belo:
 
Data - terça, 7/02/2023, 16:11  

Assunto - Trovas ao vento que passa

Caro Amigo

Grato pelo teu E-mail. Nele apercebe-se teres compreendido o difícil que é, nas nossas idades, o fecharem-se definitivamente certas portas.

O termo “definitivamente” tem hoje um significado que não é o mesmo de quando tínhamos vinte anos. Alguém terá escrito: “Para se sentir a falta de algo, há que perdê-lo primeiro“.

E lá se cai nas tais subjetividades valorativas quanto ao viver-se (sem um único vizinho!) num círculo de trezentos quilómetros em volta da casa. Para uns assustador pelo total isolamento. Para outros indiscritível na sensação de independência.

Mas quanto aos “fechar de portas”,  o mesmo clássico acima referido terá escrito mais ou menos isto: “Ao atravessar esta porta não estou só saindo de um local mas simplesmente entrando noutros”

Como já te escrevi, a publicação destes subjectivismos (!) fica ao inteiro critério editorial (***).
__________

Notas do editor:


(**) Vd. postes de:

 

28 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22146: Tabancas da Tabanca Grande (3): Morreu a Tabanca da Lapónia, viva a Tabanca da Lapónia!... A notícia da sua morte foi manifestamente exagerada.


16 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20655: Da Suécia com saudade (63): reabrindo a Tabanca da Lapónia, agora ao povo... (José Belo)

(***) Último poste da série > 2 de fevereiro de 2023 > Guiné 61/74 - P24030: (In)citações (229): A matança do porco... do nosso contentamento (Francisco Baptista / Alberto Branquinho / Joaquim Costa / José Belo / Luís Graça / Valdemar Queiroz)

11 comentários:

Anónimo disse...

O nosso Zé Belo sempre soube -dar a volta por cima- às variadas alternativas que a vida lhe tem atirado.
Melhor que muitos desenvolve essas oportunidades.ao mesmo tempo que vai -gozando c'a malta- seja ela tropa,política,jurisprudência,ou negócios.
É uma arte.

Manuel Teixeira

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Não sabemos quem é o Manuel Teixeira, tudo indica tratar-se de um nome falso sob o qual se esconde alguém (militar ?) que tomou de ponta o José Belo, ou tem velhas contas para ajustar com ele...

Só comenta postes do Zé Belo... Não temos memória de se interessar por mais nada do que se publica no blogue... É, para todos os efeitos, um anónimo que se esconde, cobardemente, por detrás do baga-baga... E, como tal, indesejável...

Alguns comentários anteriores desse Manuel Teixeira foram considerados como "ciberbullying" e eliminados...

O Zé Belo está no direito de defender o seu bom nome, e dar instruções aos editores para eliminar este e outros comentários semelhantes.

Entre amigos e camaradas da Guiné, representados neste blogue, não pode haver o recurso a difamações, insinuações, ameaças (abertas ou veladas), assassínios de carácter, etc.

Não é preciso lembrar que em Portugal, o Bullying e o Ciberbullying são crimes, puníveis por lei com pena de prisão até cinco anos.

Mais importante ainda: queremos continuar a ter este espaço, na Net, a que chamamos Tabanca Grande, como um sítio decente onde publicar as nossas memórias e trocar ideias sobre a guerra em que participámos, de maneira franca, mas segura e saudável, isto é, sem receio de sermos alvo de intimidações físicas ou verbais...

Tabanca Grande Luís Graça disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tabanca Grande Luís Graça disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tabanca Grande Luís Graça disse...

Zé Belo, lamento profundamente esta agressão gratuita e sobretudo cobarde à tua pessoa, por pare de alguém que se esconde sob um pseudónimo ou um nome falso, que ninguém conhece na Tabanca Grande.

Tu sabes quem (ou desconfiado quem seja este Manel e já nos destes, aos editores, pistas para o identificar e desmascarar.

Nestes casos o melhor é não responder a provocações, não fazendo o jogo dos provocadores. Mas vamos estar atentos. É bom que se saiba que também temos um caixote do lixo.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Somos uma comunidade de antigos combatentes que tem um blogue com regras, princípios e valores. Podemos discordar uns dos outros em muita cois Podemos atacar as ideias, podemos criticar as opiniões, mas não é aceitável atacar as pessoas. O aviso sobre o ciberbullying é válido para outras situações... Felizmente pouco frequentes: afinal, temos sabido, ao longo dos anos, ser um blogue de antigos combatentes que se respeitam mesmo quando discordam ou não gostam do que leem. ..

Hélder Valério disse...

Meus caros amigos José Belo e Luís Graça

Li, com muita atenção, com gosto e com desgosto, os textos deste post (e também os comentários, todos).

Acho que percebi os "estados de espírito" que os textos revelam.
Se eu lamento o encerramento dos portões da Tabanca da Lapónia? Claro que sim!
Onde ia aprender ou conhecer a existência da famosa aguardente de 90º? E os diálogos com as renas? E aquelas imagens de suecas lindas, sorridentes?
Mas, como escreve o Luís, tudo tem um fim e o importante é a lembrança que nos deixa pois isso acaba por ser a garantia de que afinal "não morreu", está na nossa lembrança e enquanto for assim.... tudo bem!

Quanto aos "outros aspetos", laterais e patológicos, há que fazer passar a caravana deixando aquilo que se costuma associar a esta expressão da "caravana a passar" sem se lhe ligar.


Hélder Sousa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Hélder, pelo teu contributo como provedor do leitor... Afinal, o povo é sereno...

Valdemar Silva disse...

É assim mesmo, caro Helder.
Ou não fosse a nossa Tabanca Grande como as igrejas, estrar de portas abertas.
A chatice é quando um visitante se arma em padre-mestre a pregar sermões da outra freguesia.
Mas, bem melhor seria termos vinte e poucos anos, mesmo se nós estivéssemos a jogar matraquilhos à porta do libanês na tabanca de Piche.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Hélder Valério disse...

Pois sim, Valdemar

No Tufico, no lado exterior, perto do pessoal da "ferrugem".
Pelo menos quando estive lá.
Era nesse Tufico que quando ia beber café, lá vinha a pergunta:
"com bolinha ou sem bolinha!"

Saúde, ou melhor "saudinha da boa!"

Hélder Sousa

Valdemar Silva disse...

Helder, e quando o Tufico estava fechado o melhor era ficar na vala a seguir ao jantar.
Quase batia sempre certo, Tufico fechado embrulhanço garantido.
Ele respondia que assim calhou ou com um 'nunca se sabe e fecha'.
Piche era complicado por ter a população à frente do Quartel, embora os ataques fossem do lado da bolanha.
Das várias vezes que por lá passei ou fiquei, nunca apanhei nenhum ataque. A minha/nossa rapaziada dizia que Piche era 'racadação' por conseguirem apanhar granadas da bazuca e do 60 "perdidas", que tinham em falta por esquecimento nas paragens das operações noturnas.

Valdemar Queiroz