
1. Finalmente apanhamos, no Facebook da Tabanca Grande, um comentário, sincero, espontâneo, singelo, de agradecimento às nossas enfermeiras paraquedistas (*), por parte de um camarada nosso que foi helievacuado em 17 de janeiro de 1968, na zona de Portogole.
Estamos a falar do Carlos Parente (**). nosso grão-tabanqueiro nº 889 (portanto, de entrada recente). Foi sold at inf, CCAÇ 1787 (1967/69), foi gravemente ferido no decurso da Op Escudo Negro, a norte de Porto Gole, já na região do Oio, cerca de dois meses e meio depois de chegar ao CTIG..
Olá, boa gente, quando falamos em condecoração isso é para quem dá uns chutos numa bola ou canta umas cantilenas. Isto com o devido respeito, claro, mas lembar aqueles que tombaram pela Pátria, melhor é esquecer...
Tal como aquelas heroínas, que ao lado de pilotos, paraquedistas, vinham do céu como de verdadeiros anjos se tratasse para socorrer os soldados que rastejavam no mato. Tudo isto é gente de quem não se fala!
Aproveito para dar um abraço muito mas muito forte aquela que no dia 17 de janeiro de 1968 me socorria no mato entre Portogole e Mansoa, depois de ter passado a noite ali única e simplesmente com o carinho possível dos meus irmãos de guerra que não esqueço nunca....
Quem sabe se essa linda jovem tem um diário e porventura venha a ler isto, eu fui apanhado por uma detonação de uma armadilha que me deixou desventrado com fraturas várias, mas como de noite não haavia socorro aéreo, fiquei toda a noite a pedir a Deus que não me deixasse morrer ali tão longe de todos que amava. E essa enfermeira, como que adivinhasse, a primeira coisa que me disse foi: "Meu amor, se depender de mim não morres aqui"...
Sei que já não conseguia falar mas estava lúcido e estas palavras ficaram para a vida. Depois de mais de um ano de internamento e muito sofrimento, ainda vou estando por cá, por vezes com limitações mas estou cá.
Abraço grande para todos que me estão a aturar e não esqueço essas lindas jovens que em condições tão difíceis nos ajudavam e que ninguém fala nelas, perdoai este chato.
Fonte: Facebook da Tabanca Grande Luís Graça, 6 de fevereiro de 2025, 10:37
(*) Último poste da série > 24 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26420: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (3): Estimativa: podemos apontar para 2,6 evacuações, em média, por dia, só de militares gravement feridos, entre princípios de 1963 e meados de 1974 ?
Vd. também postes de;
14 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26388: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (1): Uma portuguesa, mulher de um furriel, perdida num aquartelamento do Nordeste... (Giselda Pessoa)
(**) 21 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25667: Tabanca Grande (559): Carlos Parente, ex-sold at inf, CCAÇ 1787 (Bula, Bissau, Empada e Quinhamel, 1967/69). vive em Viana do Castelo e senta-se agora à sombra do no nosso poilão, no lugar nº 889
6 comentários:
O nosso blog tem sempre publicações de grande interesse, mas esta, do nosso camarada Carlos Parente, por nos revelar um episódio muito singular, uma evacuação salvífica, à última hora, tocou-me muito profundamente. Ademais acaba por ser, em si mesma, uma merecidíssima homenagem às nossas enfermeiras paraquedistas a quem devemos o seu empenho e saber, no salvamento de muitas vidas. Lembrei-me de outras situações vividas por mim, em Bolama, em 10 de Julho de 1972, em Buba, no dia 30 de Julho do mesmo ano, depois em diversas evacuações em Mampatá, durante o ano terrível de 1973. Eu também as homenageio, mesmo quando já nada havia a fazer. A propósito : a guerra é indubitavelmente o evento mais estúpido que dois ou mais seres humanos conseguem realizar. Obrigado, Carlos Parente.
Carvalho de Mampatá
O Manuel Serôdio, que era fur mil, desta CCAÇ 1787 (e que vive agora em França), estava lá, nessa operação, e diz, no nosso Facebook, que a evacuação foi muito complicada. Foi graças ao Serôdio que o Parente se juntou à Tabanca Grande... O Mundo é Pequeno...
Linda homenagem prestada a quem a merece.
Lindas as palavras da camarada enfermeira paraquedista quando chegou junto do camarada Carlos Parente.
Abraço fraterno
Eduardo Estrela
Maria Arminda Santos (comentário no Facebook da Tabanca Grande, hoje, 0:48):
Li o ecrito e o agradecimento do Carlos Parente. Em meu nome ( que felizmente ainda estou por cá) e em nome das que já partiram o meu muito obrigada e continuação de boa saúde. Também em 1968 estive na Guiné, mas não fui eu a enfermeira que lhe prestou o socorro. Talvez a Júlia, a Amália, Manuela, Maria do Céu Chaves ou a Rosa Exposto, que me lembro, estiveram também na Guiné,nessa data. As três primeiras, já faleceram.
Obrigada ao Tabanqueiro Chefe Luis Graça, por estes presentes. Um abraço
Grande abraço
Um grande abraço... De quem ? E para quem ?
Enviar um comentário