Guiné > Região de Gabu> Nova Lamego > CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Natal de 1967 > O capelão Moita, à civil, à esquerda, junto de um dos miúdos que transportavam uma "capelinha", uma réplica em miniatura, com um presépio lá dentro, iluminado por uma vela; à direita, o Virgílio Teixeira.
Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Depois de ler esta bela história do Mário Dias, sobre o Natal em Bissau, talvez me passasse pela cabeça ter visto por alturas do Natal, antes ou depois, porque os Natais eram passados junto do comando e CCS do Batalhão (BCAÇ 1933) estas manifestações, embora não tenha nenhum facto exacto em mente.
Contudo, e a propósito, isto passava-se cá, na minha infância também se cantavam as Janeiras e os Natais, junto das portas dos senhores, com cantigas alusivas que ainda me lembro delas perfeitamente, eram os peditórios para o 'menino Jesus', quer dizer para nós que fazíamos parte dos grupos, e era até rentável para as guloseimas que não tínhamos. Mas isto é outra história.
Ao ler este texto: "Grupos de 3 ou 4 crianças, transportavam pequenas casas feitas com armações de finas tiras de cana ou material semelhante revestidas com papel de seda de várias cores. Com um coto de vela aceso no seu interior, resplandeciam como se de vitrais se tratasse. E como havia algumas tão bem construídas e belas!... A catedral de Bissau, a casa do governador, o edifício da Administração Civil, ou simples casas saídas da fértil fantasia do seu construtor. Também havia quem desse asas à criatividade e aparecesse com navios, aviões e de quanto a imaginação fosse capaz.
"Iam parando em cada casa, ora à porta quando situada ao rés do passeio, ora penetrando nos pequenos jardins das mais recuadas, e um deles, portador de uma garrafa vazia e de um pequeno ponteiro de ferro batia o ritmo: tintim, tintim. tintim… Então, ao compasso que o “tocador de garrafa” ordenava, todos rompiam nesta cantilena: ( por sinal bem afinados)"
... Lembrei-me do meu Poste, sobre o Tema 055, em Nova Lamego, na época do Natal, de ver estes grupos de miúdos com umas coisas que na altura disse não saber o que eram. Pelo ao nosso editor para ver então esse Poste - que não encontro o número nem a sua publicação, mas era sobre o Nosso Capelão Moita, e cujo texto retirei e coloquei aqui:
(...) F8 – O capelão Moita junto de um grupo de Djubis com objectos religiosos de Natal, não sei o que é aquilo. NL, Dezembro 67.
Pedia então para o Mário Dias, ou outro camarada que saiba disto, se aquela peça que os miúdos apresentam iluminada, não seria uma dessas referidas.por ele.
Parabéns ao editor por esta publicação, e agora peço que tente desvendar este dilema, podemos estar na presença das tais ´casinhas ou outras coisas´, feitas de qualquer coisa...
E assim acabaram estas festas natalícias....
2. Comentário do nosso editor LG:
Heureca, Virgíliio, é isso mesmo!... Tens olho clínico!... Essa tradição do Natal crioulo, descrita pelo Mário Dias, e vivida por ele em 1952, em Bissau, vais tu ainda encontrá-la em Nova Lamego, 15 anos depois, em 1967!...
Aqui está, como prometido, o teu comentário elevado à categoria de poste !... Aqui tens a foto em questão (a nº 8), depois de reeditada para dar mais destaque aos miúdos que seguram nas mãos a "igreja" em minitura, em papel... e um presépio lá dentro!... Não é a a igreja de Nova Lamego, que só tinha uma torre, mas pode ser a de Bissau ou de Bafatá...
Aqui está, como prometido, o teu comentário elevado à categoria de poste !... Aqui tens a foto em questão (a nº 8), depois de reeditada para dar mais destaque aos miúdos que seguram nas mãos a "igreja" em minitura, em papel... e um presépio lá dentro!... Não é a a igreja de Nova Lamego, que só tinha uma torre, mas pode ser a de Bissau ou de Bafatá...
Que coisa linda!...Deviam ser miúdos de famílias cristãs, também as havia em Bambadinca e Bafatá, mas eu na noite de Natal, pelo menos a de 1969, passei-a... destacado na "Missão do Sono" a aguardar as costas dos senhores do comando e da CCS do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)...
Vê aqui o poste que tu não conseguiste localizar (**)
Lembrei-me, entretanto, que o nosso amigo (e camarada) Manuel Amante da Rosa tem um poste antigo sobre esta tradição, a que eu chamo o Natal crioulo da Guiné (***). Escreveu ele:
(...) Muito provavelmente muitos dos membros da nossa Tabanca Grande que tenham passado um Natal na Guiné, terão visto e escutado grupos de crianças que, festeiramente, andavam de porta em porta com pequenos presépios ou casas de papel, iluminadas com vela por dentro, mais uns bonecos articulados, alguns com caricas de garrafas de cervejas pregadas em tábuas de ocasião a chocalhar, acompanhando um coro, por vezes desafinado. São gratas recordações dessa tradição que ainda hoje persistem em Bissau.(...)
O seu relato sobre o Natal de outrora na Guiné bate certo com o que que já escrevera, quatro anos antes, o Mário Dias (Poste P367, de 18 de dezembro de 2005).
(...) Outrora e até o início dos anos 70 do século passado, era frequente, nas noites de 24 e 31 de Dezembro, as ruas da cidade de Bissau serem percorridas por grupos de jovens guineenses, oriundos dos Bairros periféricos, que consigo transportavam interessantes réplicas de igrejas e capelas. Eram as “Capelinhas”.
Feitas numa estrutura de madeira muito leve, vulgarmente denominada “tara” (Raphia sp. Exsicc. Esp. Santo 766), eram forradas a papel de seda, contendo, no seu interior, várias pagelas de santos e, ao centro, iluminadas por um coto de vela, o que, no breu da noite, conferia ao conjunto um aspecto de particular carinho.
Os grupos de miúdos percorriam as ruas de Bissau, cantando, de casa em casa, saudando, a troco de 5 tostões, com a seguinte cantilena os moradores (...):
A cantinela era a mesma que já o Mário Dias ouvia em 1952...
E era "acompanhada, sequencialmente pelos famosos bonecos, tipo espantalhos feitos de papelão, presos numa cana ou pequena haste de madeira, com os braços e pernas articulados, graças a um sistema de cordéis interligados, nas costas, dos referidos bonecos. Estes bonecos eram conhecidos pela designação vulgar de Quincões” (...).
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 25 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19334: Memórias dos lugares (382): Bissau, 1952, quando lá passei o meu primeiro Natal, aos 15 anos: uma tradição crioula que se perdeu, as crianças de Bissau, vindas do Chão Papel, Alto do Crim, Cupilon, Gã Beafada, Santa Luzia e outros bairros, que inundavam as ruas com as suas casinhas luminosas ou com os “kinkons” articulados e garrafas para marcar o ritmo, "tintim, tintim, kinkon, kinkon"... (Mário Fernando Roseira Dias, compositor musical, ex-srgt 'comando' reformado, Brá, 1963/65)
(**) Vd. poste de 15 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19017: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XLIII: O alf mil capelão Carlos Augusto Leal Moita
(***) Vd. poste de 11 de janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5628: Antropologia (16): Canções antigas do Natal de Bissau (Manuel Amante da Rosa)
Vê aqui o poste que tu não conseguiste localizar (**)
Lembrei-me, entretanto, que o nosso amigo (e camarada) Manuel Amante da Rosa tem um poste antigo sobre esta tradição, a que eu chamo o Natal crioulo da Guiné (***). Escreveu ele:
Uma "capelinha"... |
O seu relato sobre o Natal de outrora na Guiné bate certo com o que que já escrevera, quatro anos antes, o Mário Dias (Poste P367, de 18 de dezembro de 2005).
Um "quincom"... |
Feitas numa estrutura de madeira muito leve, vulgarmente denominada “tara” (Raphia sp. Exsicc. Esp. Santo 766), eram forradas a papel de seda, contendo, no seu interior, várias pagelas de santos e, ao centro, iluminadas por um coto de vela, o que, no breu da noite, conferia ao conjunto um aspecto de particular carinho.
Os grupos de miúdos percorriam as ruas de Bissau, cantando, de casa em casa, saudando, a troco de 5 tostões, com a seguinte cantilena os moradores (...):
A cantinela era a mesma que já o Mário Dias ouvia em 1952...
E era "acompanhada, sequencialmente pelos famosos bonecos, tipo espantalhos feitos de papelão, presos numa cana ou pequena haste de madeira, com os braços e pernas articulados, graças a um sistema de cordéis interligados, nas costas, dos referidos bonecos. Estes bonecos eram conhecidos pela designação vulgar de Quincões” (...).
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 25 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19334: Memórias dos lugares (382): Bissau, 1952, quando lá passei o meu primeiro Natal, aos 15 anos: uma tradição crioula que se perdeu, as crianças de Bissau, vindas do Chão Papel, Alto do Crim, Cupilon, Gã Beafada, Santa Luzia e outros bairros, que inundavam as ruas com as suas casinhas luminosas ou com os “kinkons” articulados e garrafas para marcar o ritmo, "tintim, tintim, kinkon, kinkon"... (Mário Fernando Roseira Dias, compositor musical, ex-srgt 'comando' reformado, Brá, 1963/65)
(**) Vd. poste de 15 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19017: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XLIII: O alf mil capelão Carlos Augusto Leal Moita
(***) Vd. poste de 11 de janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5628: Antropologia (16): Canções antigas do Natal de Bissau (Manuel Amante da Rosa)