1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Dezembro de 2010:
Malta,
Foi na verdade um dia de emoções fortes.
Não mais entrara naquele quartel nem percorrera assim Bambadinca. Não me fora dado supor, nem ninguém me alertara para esta expectativa do direito a uma pensão militar, se nosso alfero nos vem cumprimentar certamente que nos traz a recompensa devida… o dia de amanhã terá igualmente o seu torvelinho de emoções, quando sair do Bairro Joli tenho o meu querido Mamadu Djao à espera, iremos ao porto de Bambadinca visitar o que dele resta.
Haverá mais surpresas à porta da casa do Fodé. Depois, iremos em excursão até Samba Juli, Lorde Torcato poderá estar atento com o que lhe será dado a conhecer. E depois Fá Mandinga, coutada do Jorge Cabral. Serei mal recebido, paciência, mas a missão será cumprida.
Um abraço do
Mário
Operação Tangomau (6)
Beja Santos
Bambadinca, recordações da casa dos mortos
1. O Tangomau dormiu mal, não lhe falta discernimento para as dores que se avizinham, hoje chegam soldados, há perguntas inevitáveis, as respostas serão facadas que chegam ao osso. Negociou com o patrão de costa, Fodé Dahaba, que o dia deve ser reservado à primeira imersão em Bambadinca, o lugar entre os lugares. Em dois anos que foram vividos ininterruptamente na região, aqui descobriu as delícias da amizade, aqui se reforçaram os cânones da solidariedade, Bambadinca alimentava os estômagos, as armas, os transportes e as comunicações, desde o Cuor até ao Xitoli, de Udunduma às bolanhas do Poindon.
Levantou-se cedo, depois do banho de caneco foi fazer leituras em frente a Bambadinca e às bolanhas de Ponta Nova e de Finete. Mesmo antes das 8 horas, chegam Calilo e Iaguba, ingerido o pequeno-almoço seguimos para o mercado, o dono da casa está sem viatura, impõe-se andar com a lista das compras à procura do possível e do impossível. O possível pode dar pelo nome de margarina, açúcar, batata inglesa, carne, farinha, ovos. O impossível anda à volta dos legumes. Entregues as compras, mentalizado para os encontros e as visitas, a Renault Express entre no Bambadincazinho e pára à porta do homem grande que já anda aos gritos, chegaram soldados milícias. Depois de suplicar pela enésima vez ao Fodé que o deixe de tratar por Dr. Mário, os visitantes lançam-se nos seus braços. Quem são eles? Madjo Baldé, o n.º 18, anuncia ter 64 anos e recorda que acompanhou todas as andanças da operação “Anda Cá”; Djiné Baldé, o 21, surpreende pela dignidade, pelo porte, pela doçura da voz; apresenta-se um tenente de uma Companhia Africana, Aladji Jamanca, vem por curiosidade, sabia da visita através do seu primo Fodé. O Tangomau pergunta por Sadibi Camara, Sila Sabali e Tomani Sanhá, há hesitações, ninguém sabe onde vive mas pelo menos a resposta foi de que estão vivos. Trazem cumprimentos da família de Mamadu Baldé, que foi comandante das milícias de Amedalai e da família de Cherno Baldé, que foi comandante do pelotão de Demba Taco. Os presentes anunciam que ainda hoje vai chegar Arafan Dembó, o Zé Finete, maqueiro na dita povoação. O Tangomau pergunta-lhes se têm notícias de Ieró Djaló, o soldado milícia de Missirá que deixou fugir o prisioneiro durante a operação “Anda Cá” e Madjo Baldé esclarece que ele já foi informado mas vive longe, para cima de Sonaco; o outro Ieró Djaló, o primeiro guarda-costas do Tangomau, também conhecido por Nova Lamego, está também informado desta viagem, irá telefonar ao Fodé, espera vir à festa. Calilo vai levar Aidja a um choro na Bantajã mandinga, quem vai acompanhar o Tangomau e seus camaradas é Iaguba. E começa a excursão de Bambadincazinho para as memórias do quartel de Bambadinca.
Disse-se em comentário a um anterior álbum fotográfico que ainda existe o porto do Xime. É totalmente falso. Os vestígios do porto do Xime são estas estacas, as canoas pertencem a pescadores e do outro lado temos a bolanha do Enxalé. Ninguém entende a fúria depredadora que leva à perda de infra-estruturas com o significado que tinha o porto do Xime. O Tangomau não acreditava no que estava a ver. Nem previa que o porto de Bambadinca se encontrava numa desolação parecida.
2. No mercado de Bambadincazinho dá-se uma ligeira guinada para a direita e fica-se em frente dos restos da porta de armas que dava para os itinerários do Xime, à direita, e Mansambo e Xitole, à esquerda. Até se fica com a ilusão que se está a entrar no quartel, o equipamento que se avista não está desfigurado. Os amargos de boca vão aparecer mais adiante. A capela aparece recuperada, ao lado funciona uma escola das irmãs missionárias, o Tangomau pede autorização para visitar o templo. Alguém vem abrir a porta, foi pena terem-se perdido as imagens do seu interior. O Tangomau rezou pelos seus mortos, memorizou as diferenças e sensibilizou-se com as semelhanças entre o passado e o presente. Quase em delírio, até viu a imagem do António Ribeiro Teixeira (o Teixeira das Transmissões) que lhe por amor de Deus que o libertasse da incumbência em ajudar a vestir o morto, estava enojado com aquela carne fria. O Tangomau rasgou como pôde as costas da camisa e compôs o falecido enquanto o Teixeira olhava para o lado, a fugir da assombração.
Saiu da capela, passou ao largo do quartel, verificou que a enfermaria era uma ruina, menos ruina estava a secção automóvel (pelo menos o edifício estava telhado) e desceu a rampa. Aqui a tensão nervosa sobrepôs-se, a rampa perdeu a compostura, é um declive escalavrado, com as gretas das águas impiedosas da época das chuvas. Aquela é a rampa da vida do Tangomau, desce-a e sobe-a perante o olhar atónito de Iaguba. Madjo Baldé sossega-o: Mário, sufre, Mário tem paciência. Mas o Tangomau não tem paciência nenhuma, está indignado com a descompostura daqueles lugares fundamentais da sua existência; e brada para os céus: “isto não se faz!”, “Bambadinca não merecia este tratamento”. A estrada encurtou, é um simples caminho pedonal, das crianças, dos pescadores e dos moradores do que resta de Bambadinca. Até ao porto, sucedem-se os escombros, os da Casa Gouveia, da Ultramarina, há mesmo armazéns abandonados em plena agonia. Lamentavelmente, perderam-se as imagens da conversa com a D. Rosa, uma das professoras de Bambadinca, que queria à viva-força ficar com um dos livros destinados à população de Missirá e Finete; perdeu-se a imagem da Mariama gorda, toda enfeitada, era a outra lavadeira do alferes Machado, ele dera esta incumbência ao Tangomau; como se perderam as imagens do interior da casa do Sr. Rendeiro, felizmente habitada por família numerosa. Do que resta desta artéria outrora buliçosa segue imagem esclarecedora.
Ninguém explicou satisfatoriamente ao Tangomau de quem era este armazém, ele até pensou tratar-se do estanco de José Maria Tavares. São estes vestígios espectrais, estas ruinas de povoação fantasma que falam da Bambadinca dos anos 60 e 70, que os militares conheceram.
3. A excursão encaminha-se para o porto, ou para o que dele resta. Antes, porém, é tal o peso da nostalgia, o Tangomau vai perguntando nas moranças vizinhas do Geba estreito onde está o resto da estrada que levava ao ponto de cambança. E fala no nome de Mufali, o canoeiro. Alguém indica o caminho, também ele reduzido a um vestígio. Em frente, também o que resta da estrada que atravessava a bolanha de Finete. Olhando à esquerda, vêem-se canoas. O Tangomau volta-se, às arrecuas, foge dali espavorido. E será por ali que amanhã começará o dia. Volta a subir a rampa, pára em frente da antiga casa do chefe de posto, hoje residência do representante político. Vá lá, está compostinha, não lhe subtraíram a dignidade. A mãe de água apodreceu.
O poilão é imponente, lança tentáculos até ao fim dos tempos, não haverá fúria da natureza capaz de o desalojar. Aquela instalação vem do tempo da guerra e a mãe de água, ou o que dela resta ergue um olhar ufano, do alto da sua desdita. O que mais impressionou o Tangomau é que este é um recanto muito próximo da Bambadinca onde ele viveu.
4. Ganhou-se coragem, é a vez de entrar no quartel. À porta, quem acolhe o grupo é o Tenente-Coronel Seco Mané, o Comandante Militar da Unidade. Surpreende-se com a visita, o Tangomau mostra-lhe os livros com as imagens do interior e do exterior. Entra-se no corredor do edifício dos oficiais, o Tangomau apresenta as versões daquele tempo: aqui vivia o tenente da secretaria, lá ao fundo os oficiais superiores… segue-se em cortejo para messe. Aqui é o desabar de emoções, choro compulsivo, era inimaginável encontrar tal transfiguração. Aqui, era o lugar dos lugares, o verdadeiro ponto de chegada ou de partida, não só para comer ou desabafar, não só para escrever aerogramas ou para ler o jornal de seis semanas antes.
Aqui era a vida de relação, o seu epicentro. Por isso, como um boneco de palha, o Tangomau caiu por terra, magoado com a insensibilidade dos homens. O Tenente-Coronel pede-lhe para não chorar, só que a indignação do Tangomau é mais forte, percorre os espaços, ocorrem-lhe imagens, sente cheiros, pressente vultos, parece ter entrado em transe. Vai recuperando lentamente, estaca na velha estrada onde se formava a longa coluna de abastecimento ao Xitole, recorda que havia uma outra porta de armas junto à rampa, mas esta desapareceu. Há ainda uma deambulação em torno do refeitório das praças, por detrás da antiga escola. Aqui o abalo demolidor foi menor, há instalações aproveitadas, no meio construíram o novo equipamento escolar. O Tangomau sente o peso das emoções, pede para voltar. No regresso, uma nova emoção forte: Sadjo Seidi, o bondoso e valoroso Sadjo Seidi, mesmo contido, acolhe-o de braços abertos. Veio de bicicleta dos confins do Xime, mal lhe chegou a notícia de que o Tangomau arribara.
Sadjo Seidi está à esquerda, Madjo Baldé no centro e Djiné Baldé à direita, Fodé está cortado. Solucei abraçado a Sadjo Seidi, foi um dos feridos da operação “Tigre Vadio”, aliás o único ferido do Pel Caç Nat 52. Ele ia na coluna da frente quando entrámos, com total surpresa, no interior do acampamento de Belel. No desespero, a sentinela disparou a sua bazuca, Sadjo guarda no peito as marcas de alguns estilhaços. Mas o mais importante é que Sadjo veio dizer publicamente que nunca esquecera a dívida que tinha com o Tangomau, contas afectivas antigas que não vem ao caso aqui contar. Vai ser um dos momentos mais consoladores de todos estes encontros.
5. O Tangomau cai em si, começa-se a fazer luz sobre um ritual até agora indecifrável. Na verdade, cada vez que chega alguém, retira cuidadosamente de um bolso do interior da camisa a sua documentação militar, umas vezes cuidadosamente resguardado com plástico, outras vezes um papel amarelecido e esquartejado pelo uso. Dado o caso de Fodé o ter chamado à parte, amanhã é o dia de Samba Juli e de Fá, ele propõe mesmo um dia de visita a Finete e Malandim, é, no decurso desta conversa que ele pergunta a Fodé porque é que lhe mostram invariavelmente a documentação militar. Sibilino, este adianta: “Eles já sabem que não tens os poderes do presidente da República, mas acreditam que tu vais resolver o problema da pensão de reforma, não lhes passa pela cabeça que não vieste para os ajudar, vê o que podes fazer”. O Tangomau disparata com Fodé, escrevera-lhe dando-lhe conta dos seus intentos, era impossível que Fodé pudesse invocar ignorância sobre a impossibilidade de prometer pensões ou de encontrar uma solução justa para estes militares que, em tantos casos, tinham combatido mais dez anos sob a égide da bandeira portuguesa.
Irado, o Tangomau procurou esclarecer os presentes do que o trouxera à Guiné. Fez questão de que Fodé passasse tudo para crioulo. Tudo foi ouvido em silêncio e depois ouviu-se o comentário resignado: faça-se a vontade de Deus. O dia caminha para o zénite, foram emoções a mais, o Tangomau ainda dá dois dedos de conversa a todos os presentes, pede para regressar a pé e só, até ao Bairro Joli. Tem assim mais uma oportunidade de disfrutar a descida da rampa, inflectir pela bolanha, pejada de lírios brancos, formam um tapete deslumbrante. Quando chega a casa, a bola de fogo do sol caminha para o acaso. É o instantâneo da hora mais procurada, pois a luz despede-se triunfal, como se dissesse: até amanhã, eu sou o segredo da vida, faça-se noite para amanhã se fazer dia. Há que meditar sobre tudo o que aconteceu, ganhar coragem para o dia que irá nascer.
Dentro de segundos, extinguir-se-á o dia. Este é o ocaso dos trópicos, o refulgente astro-rei lança a derradeira radiação solar. É a imagem perene que o Tangomau guarda das travessias da bolanha de Finete. A última luz a anunciar o manto da noite. E a prenunciar que amanhã há um novo dia, o eterno recomeço.
Fotos: © Mário Beja Santos (2010). Direitos reservados.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 17 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7456: Notas de leitura (178): Breves Considerações Sobre Plâncton - Copépodes da Guiné, de Dr.ª Emerita Marques (Mário Beja Santos)
Vd. último poste da série de 15 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7440: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (5): Do Bambadincazinho para Ponta Varela
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 18 de dezembro de 2010
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Guiné 63/74 - P7461: Tabanca Grande (254): António Rodrigues Pereira, ex-Fur Mil At Inf da 1ª CCAÇ do BCAÇ4612/74 (Cumeré, Jabadá e Brá,1974)
1. Mais um Camarada nosso se perfila na formatura virtual desta Tabanca Grande, o António Rodrigues Pereira (ex-Fur Mil At Inf da 1ª CCAÇ do BCAÇ4612/74, Cumeré, Jabadá e Brá - 1974), tendo-nos enviado um texto humorístico e algumas fotos da praxe.
Camaradas,
A convite do meu Amigo Magalhães Ribeiro, que como sabeis foi furriel miliciano na CCS do meu batalhão, aqui estou a responder ao desafio de me juntar a esta grande tertúlia de camaradas da Guiné.
Assim, cumprindo as regras do blogue, envio uma curta e divertida estória da minha estadia no confortável e airoso ressort de Jabadá e algumas das fotos do meu álbum de memórias.
Matar mosquitos a… tiro de G3
Quando chegamos ao Cumeré, fomos informados que estava estabelecido um cessar-fogo com o PAIGC e, que, devido a esse facto, estávamos proibidíssimos de dar qualquer tiro.
Um belo dia, finda a nossa comissão em Jabadá e aguardávamos o nosso regresso a Bissau, para o nosso embarque de regresso à Metrópole, mais ou menos pelas 21h00, ouviu-se um tiro para os lados da coberta da nossa companhia.
Nesse momento, estavam comigo em amena cavaqueira o Fur Mil OpEsp José Martins Olo e mais alguns camaradas, e, é claro, que desatamos de imediato a correr em direcção ao local de onde tinha surgido o som da detonação.
Uma vez lá chegados, deparamo-nos com alguns camaradas a beber e a rirem-se alarvemente, “encharcados” em álcool, de tal modo que nem o tradicional 4 conseguiam fazer.
Perguntamos o que tinha acontecido e logo um deles se prontificou, dizendo: “Há bidões de vinho aqui perto e nós encontramo-los!”
Eles e não só, pois, pelo menos, um terço da companhia também tinha encontrado e não esteve pelos ajustes.
É caso para dizer que foi tudo corrido à “mangueirada” (sim à letra), pois eles estavam a tirar o vinho dos bidões c/ uma mangueira.
Quanto ao tiro, o nosso camarada Santos, cuja alcunha era Leão (ver a origem no fim), acabou por confessar ter sido o autor do disparo, dizendo: - Eu estava a ser todo mordido pelos mosquitos e dei um tiro para eles fugirem.
P.S.: A alcunha de “Leão” com que foi baptizado o nosso camarada Santos, natural de Rio Maior, deveu-se ao facto que, na altura, ter constado na sua terra, por afirmações de diversas pessoas que tinham visto um animal a monte, parecido com um… leão.
Isto passou a história, e esta a notícia com direito a televisão e tudo, que mandou vários jornalistas entrevistar as testemunhas do acontecimento.
Um deles era o saudoso Fernando Peça.
Daí surgiu a ideia de alcunhar o nosso amigo e camarada Santos, carinhosamente, de “Leão”.
Aquartelamento de Jabadá
Aquartelamento de Jabadá > Edifício das transmissões, camarata do Comandante de Companhia, bar de sargentos e oficiais, cozinha e refeitório, e secretaria
Emfermaria, central eléctrica, bar dos praças e depósito de géneros
Depósito de água, padaria e cozinha
Willis carregado com o Alf Mil Araújo e uma cambada de furriéis milicianos da companhia Cumeré > Furriéis Martins, Olo e Eu
Um abraço para todos,
António Pereira
Fur Mil At Inf da 1ª CCAÇ do BCAÇ 4612/74
António Pereira
Fur Mil At Inf da 1ª CCAÇ do BCAÇ 4612/74
Emblemas de colecção: © Carlos Coutinho (2010). Todos os direitos reservados
Fotos: © António Pereira (2010). Todos os direitos reservados
__________
__________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
5 de Novembro de 2010 < Guiné 63/74 - P7227: Tabanca Grande (253): Carlos Carvalho, ex-Fur Mil da CCAV 2749/BCAV 2922, Piche e Ponte Caium, 1970/72, residente em Fânzeres, Gondomar, irmão da nossa querida Júlia Neto
5 de Novembro de 2010 < Guiné 63/74 - P7227: Tabanca Grande (253): Carlos Carvalho, ex-Fur Mil da CCAV 2749/BCAV 2922, Piche e Ponte Caium, 1970/72, residente em Fânzeres, Gondomar, irmão da nossa querida Júlia Neto
Guiné 63/74 - P7460: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (6): Uma história de Natal (José da Câmara)
1. Mensagem de José da Câmara (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Guiné, 1971/73), com data de 17 de Dezembro de 2010:
Meu caro amigo Carlos Vinhal,
Junto encontrarás uma História de Natal. Para ti, para os nossos amigos da Tabanca, para os vossos familiares.
Um abraço do tamanho do oceano que nos une,
José Câmara
O MURAL DO PAI NATAL DA TABANCA GRANDE 2010 (6)
Uma história de Natal
Em 1971, o Destacamento de São João foi o palco da meu primeiro Natal passado na Guiné, o terceiro passado fora do aconchego familiar sanguíneo e o segundo entre uma família diferente, uma família militar.
Preparei-me a preceito para aquela noite. Vesti o meu melhor facto multicolorido, adornei a cintura com as melhores jóias que possuía, umas que faziam Pum e outras faziam Pam quando devidamente utilizadas. Acabei por dar o braço à minha companheira de todos os dias que, em abono da verdade, nunca se fazia rogada em me acompanhar e estava sempre preparada para qualquer cerimónia eventual. Foi esse espírito de colaboração que me fez apaixonar por ela.
Quando cheguei à messe de oficiais e sargentos já lá se encontravam alguns graduados. Os outros chegariam logo a seguir. Reparei, com alguma mágoa, que a única praça presente era o militar de serviço. Porque éramos poucos nunca cheguei a perceber os porquês dessas decisões, que não eram minhas.
A minha companheira ao aperceber-se da presença de algumas amigas alinhadas e encostadas à parede entendeu fazer o mesmo. Para que não se sentisse envergonhada perante as amigas, eu coloquei-lhe nos braços os meus adornos. No dizer dela, sentia-se bem e envaidecida com eles junto ao peito.
Entre os convivas do momento, as conversas foram rolando pelas picadas das recordações familiares, de histórias de outros natais na Guiné e não só e das diferentes experiências pessoais de cada um. Tudo em nome de uma sã camaradagem.
Entre o calar de cada história éramos entretidos com o striptease masculino, muito em voga no tempo, providenciado pelo John Walker. As puras donzelas que ajudavam a alegrar a noite, as loirinhas Cuca e Sagres, invejosas do John, não paravam de dar o seu pézinho de dança e retorciam-se sensualmente com as carícias e os beijos que lhes dávamos. Também não faltou quem pedisse um ar de graça ao velho Vinho a Granel que todos os dias se deliciava com banhos de sol ao fundo na parada, sem estragar a pele. Certamente que invejávamos a capacidade do velho amigo, fosse ele Tinto ou Branco, para aguentar, sem queixas, as carícias do astro rei dos trópicos.
A noite já ia um pouco avançada e alegrada de prazeres, ofertas dos deuses bacos, quando soou a hora do jantar.
A ementa especial dessa noite tinha como entrada uma sopa de legumes, à moda da cidade, uma raridade por aquelas bandas e a primeira vez que acontecia desde que eu chegara ao Destacamento, havia várias semanas, e javali assado no forno, à moda do nosso cozinheiro. Para sobremesa tínhamos aquilo que tinha sido um grande chocolate americano, lembrança da minha madrinha de guerra, que chegou feito em papas, obra de sua majestade o calor africano, que ninguém ousou tocar.
Em boa verdade, foi uma delícia de jantar!
A besta suína que nos servia de repasto tivera a infelicidade de perder um ajuste de contas com um militar nativo. Os dentes grandes da fera, sua única defesa, foram insuficientes perante a heroicidade do nosso camarada, gentio da Guiné. Este acto de bravura, bem merecedor do reconhecimento público dos camaradas, foi pago em folhas de serviço apropriadas e medalhas ultramarinas, tantas quanto nos pediu, às quais acrescentamos mais algumas e os nossos agradecimentos.
O jantar já ia adiantado, quando alguém se lembrou que não tínhamos agradecido as iguarias que devorávamos com apetite e regávamos ainda melhor. Natal não é Natal se não rezarmos ao Menino e agradecermos a Deus as iguarias presenteadas.
A primazia da reza coube ao Furriel Miliciano Teixeira, do Pel Caç Nat 66 que, por ironia das voltas que demos pelo território guineense, eu fui substituir no Palácio do Governador.
O Teixeira era um homem casado e já sabia o que era ser pai. Calmamente, pegou num pedaço de pão e partiu-o em dois bocados sensivelmente iguais. Após este primeiro gesto, próprio de quem está habituado às grandes ribaltas, que espicaçou a curiosidade dos presentes, botou oratória que não ficou muito longe destas palavras:
- Hoje, se em minha casa apenas houvesse este pão para a consoada, era assim que o partia. Dava esta metade à minha filhinha. A outra metade (juntando a palavra ao gesto) partia-a em dois bocados diferentes e dava a parte maior à minha esposa. Nessa altura, como a minha filhinha já tinha acabado de comer o seu pão, eu dava-lhe o bocadinho que era para mim!
O prato do Teixeira não mingava. Pelo contrário enchia-se tal era o caudal das ribeiras que lhe desciam em cascata pela cara. Por simpatia, o Fur Mil João Fevereiro, homem de grande arcaboiço, do mesmo pelotão, também tinha dado o seu nome a uma jovem que o aguardava nas províncias alentejanas, também fazia o mesmo.
Os alferes Cavaqueira (? - a memória falha-me na certeza do nome) e Ribeiro, e os furriéis Carvalho, André e eu eram as outras testemunhas daquela extremosa manifestação de amor.
Ninguém ficou insensível àquela manifestação. Um pouco por todas aquelas caras de meninos, feitos homens à pressa, se viam lagoas, à altura dos olhos, prestes a transbordar.
Levantei-me, dirigi-me à minha companheira e aos meus adornos, peguei-lhes com sensibilidade desusada, dei as boas noites aos meus camaradas e dirigi-me ao encontro da escuridão que pairava sobre o Destacamento de São João. Não fui o único maricas dessa noite!
Com o coração apertado pelas saudades, procurei no firmamento pela estrela Alva.
Naquela noite de Natal de 1971, ela foi a testemunha silenciosa das minhas lágrimas e da minha prece. Pelos meus familiares e pela minha madrinha de guerra. Pelos meus amigos e camaradas. Pela CCaç 3327 e pela minha secção que não conseguia arrancar do coração.
Dei uma volta pelos postos de vigia. Para uma pequena conversa com os sentinelas, todos eles gentios da Guiné. Também eram gente. O Natal pouco ou nada lhes dizia, mas eles já me diziam muito. Senti-me melhor!
Hoje, passados todos estes anos sobre aquele inesquecível Natal de 1971, continuo a olhar para o firmamento e a procurar a estrela que foi minha companheira cúmplice daquela noite e de muitas outras.
Ainda continuo a ouvir aquele sussurrar cálido e suave como a brisa da noite guineense, quando nos despedimos antes de me retirar para o reino de Morpheus:
- O Menino é um presente de amor e carinho, de amizade e compreensão, que se dá com alegria. Mantem-no bem perto do coração como companheiro de todos os dias!
Hoje, com vossa licença, vou parar o meu trenó às vossas portas. Deixem que o meu companheiro, o Menino, entre nas vossas casas e se sente às vossas mesas. Ele precisa de descansar um pouco e nenhum lugar melhor para o fazer, que no seio das vossas famílias.
Dos States, do fundo do coração, para todos vós e famílias Boas Festas e Bons Anos!
José Câmara
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 20 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7149: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (22): Aventuras em terras manjacas
Vd. último poste da série de 17 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7457: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (5): Boas-Festas da Tertúlia
Meu caro amigo Carlos Vinhal,
Junto encontrarás uma História de Natal. Para ti, para os nossos amigos da Tabanca, para os vossos familiares.
Um abraço do tamanho do oceano que nos une,
José Câmara
O MURAL DO PAI NATAL DA TABANCA GRANDE 2010 (6)
Uma história de Natal
Em 1971, o Destacamento de São João foi o palco da meu primeiro Natal passado na Guiné, o terceiro passado fora do aconchego familiar sanguíneo e o segundo entre uma família diferente, uma família militar.
Preparei-me a preceito para aquela noite. Vesti o meu melhor facto multicolorido, adornei a cintura com as melhores jóias que possuía, umas que faziam Pum e outras faziam Pam quando devidamente utilizadas. Acabei por dar o braço à minha companheira de todos os dias que, em abono da verdade, nunca se fazia rogada em me acompanhar e estava sempre preparada para qualquer cerimónia eventual. Foi esse espírito de colaboração que me fez apaixonar por ela.
Quando cheguei à messe de oficiais e sargentos já lá se encontravam alguns graduados. Os outros chegariam logo a seguir. Reparei, com alguma mágoa, que a única praça presente era o militar de serviço. Porque éramos poucos nunca cheguei a perceber os porquês dessas decisões, que não eram minhas.
A minha companheira ao aperceber-se da presença de algumas amigas alinhadas e encostadas à parede entendeu fazer o mesmo. Para que não se sentisse envergonhada perante as amigas, eu coloquei-lhe nos braços os meus adornos. No dizer dela, sentia-se bem e envaidecida com eles junto ao peito.
Entre os convivas do momento, as conversas foram rolando pelas picadas das recordações familiares, de histórias de outros natais na Guiné e não só e das diferentes experiências pessoais de cada um. Tudo em nome de uma sã camaradagem.
Entre o calar de cada história éramos entretidos com o striptease masculino, muito em voga no tempo, providenciado pelo John Walker. As puras donzelas que ajudavam a alegrar a noite, as loirinhas Cuca e Sagres, invejosas do John, não paravam de dar o seu pézinho de dança e retorciam-se sensualmente com as carícias e os beijos que lhes dávamos. Também não faltou quem pedisse um ar de graça ao velho Vinho a Granel que todos os dias se deliciava com banhos de sol ao fundo na parada, sem estragar a pele. Certamente que invejávamos a capacidade do velho amigo, fosse ele Tinto ou Branco, para aguentar, sem queixas, as carícias do astro rei dos trópicos.
A noite já ia um pouco avançada e alegrada de prazeres, ofertas dos deuses bacos, quando soou a hora do jantar.
A ementa especial dessa noite tinha como entrada uma sopa de legumes, à moda da cidade, uma raridade por aquelas bandas e a primeira vez que acontecia desde que eu chegara ao Destacamento, havia várias semanas, e javali assado no forno, à moda do nosso cozinheiro. Para sobremesa tínhamos aquilo que tinha sido um grande chocolate americano, lembrança da minha madrinha de guerra, que chegou feito em papas, obra de sua majestade o calor africano, que ninguém ousou tocar.
Em boa verdade, foi uma delícia de jantar!
A besta suína que nos servia de repasto tivera a infelicidade de perder um ajuste de contas com um militar nativo. Os dentes grandes da fera, sua única defesa, foram insuficientes perante a heroicidade do nosso camarada, gentio da Guiné. Este acto de bravura, bem merecedor do reconhecimento público dos camaradas, foi pago em folhas de serviço apropriadas e medalhas ultramarinas, tantas quanto nos pediu, às quais acrescentamos mais algumas e os nossos agradecimentos.
Destacamento de São João - Militares nativos preparando o Javali que foi servido na Noite de Natal de 1971
O jantar já ia adiantado, quando alguém se lembrou que não tínhamos agradecido as iguarias que devorávamos com apetite e regávamos ainda melhor. Natal não é Natal se não rezarmos ao Menino e agradecermos a Deus as iguarias presenteadas.
A primazia da reza coube ao Furriel Miliciano Teixeira, do Pel Caç Nat 66 que, por ironia das voltas que demos pelo território guineense, eu fui substituir no Palácio do Governador.
O Teixeira era um homem casado e já sabia o que era ser pai. Calmamente, pegou num pedaço de pão e partiu-o em dois bocados sensivelmente iguais. Após este primeiro gesto, próprio de quem está habituado às grandes ribaltas, que espicaçou a curiosidade dos presentes, botou oratória que não ficou muito longe destas palavras:
- Hoje, se em minha casa apenas houvesse este pão para a consoada, era assim que o partia. Dava esta metade à minha filhinha. A outra metade (juntando a palavra ao gesto) partia-a em dois bocados diferentes e dava a parte maior à minha esposa. Nessa altura, como a minha filhinha já tinha acabado de comer o seu pão, eu dava-lhe o bocadinho que era para mim!
O prato do Teixeira não mingava. Pelo contrário enchia-se tal era o caudal das ribeiras que lhe desciam em cascata pela cara. Por simpatia, o Fur Mil João Fevereiro, homem de grande arcaboiço, do mesmo pelotão, também tinha dado o seu nome a uma jovem que o aguardava nas províncias alentejanas, também fazia o mesmo.
Os alferes Cavaqueira (? - a memória falha-me na certeza do nome) e Ribeiro, e os furriéis Carvalho, André e eu eram as outras testemunhas daquela extremosa manifestação de amor.
Ninguém ficou insensível àquela manifestação. Um pouco por todas aquelas caras de meninos, feitos homens à pressa, se viam lagoas, à altura dos olhos, prestes a transbordar.
Levantei-me, dirigi-me à minha companheira e aos meus adornos, peguei-lhes com sensibilidade desusada, dei as boas noites aos meus camaradas e dirigi-me ao encontro da escuridão que pairava sobre o Destacamento de São João. Não fui o único maricas dessa noite!
Com o coração apertado pelas saudades, procurei no firmamento pela estrela Alva.
Naquela noite de Natal de 1971, ela foi a testemunha silenciosa das minhas lágrimas e da minha prece. Pelos meus familiares e pela minha madrinha de guerra. Pelos meus amigos e camaradas. Pela CCaç 3327 e pela minha secção que não conseguia arrancar do coração.
Dei uma volta pelos postos de vigia. Para uma pequena conversa com os sentinelas, todos eles gentios da Guiné. Também eram gente. O Natal pouco ou nada lhes dizia, mas eles já me diziam muito. Senti-me melhor!
Hoje, passados todos estes anos sobre aquele inesquecível Natal de 1971, continuo a olhar para o firmamento e a procurar a estrela que foi minha companheira cúmplice daquela noite e de muitas outras.
Ainda continuo a ouvir aquele sussurrar cálido e suave como a brisa da noite guineense, quando nos despedimos antes de me retirar para o reino de Morpheus:
- O Menino é um presente de amor e carinho, de amizade e compreensão, que se dá com alegria. Mantem-no bem perto do coração como companheiro de todos os dias!
Hoje, com vossa licença, vou parar o meu trenó às vossas portas. Deixem que o meu companheiro, o Menino, entre nas vossas casas e se sente às vossas mesas. Ele precisa de descansar um pouco e nenhum lugar melhor para o fazer, que no seio das vossas famílias.
Dos States, do fundo do coração, para todos vós e famílias Boas Festas e Bons Anos!
José Câmara
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 20 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7149: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (22): Aventuras em terras manjacas
Vd. último poste da série de 17 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7457: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (5): Boas-Festas da Tertúlia
Guiné 63/74 - P7459: Memória dos lugares (117): De Mansambo (que não vinha no mapa) até à ponte do Rio Udunduma (Carlos Marques Santos)
Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Localização da Ponte sobre o Rio Udunduma, afluente do Rio Geba (ou Xaianga), a meio caminho entre Bambadinca e Xime... A ponte foi dinamitada e parcialmente destruída por acção do PAIGC, na noite de 28/29 de Maio de 1969, por ocasião do ataque a Bambadinca (quatro/cinco km a nordeste), levado a cabo por 2 bigrupos (cerca de 100 homens)... A partir desse ataque, passou a ser destacado um grupo de combate para defender este ponto nevrálgico...
Durante anos, até à construção da nova estrada (alcatroada) Xime-Bambadinca, milhares e milhares de homens e viaturas, desembarcados em LDG no Xime passaram por aqui a caminho do leste (e vice-versa)...
Pormenor da carta de Bambadinca (1955), 1/50000.
1. Comentário do CMS [, Carlos Marques Santos, ex-Fur Mil, CART 2339, Fá e Mansambo, 1968/69) ao poste P7458:
Começo como o Torcato, Combatente, Amigo, Camarada e Camarigo:
Companheiros e famílias,
ABRAÇÃO, primeiro de NATAL e segundo de BOM 2011.
Ponte dos Fulas, Jagarajá, Udunduma... é tudo é parte da minha vida, vivida e partilhada.
MINAS... ???
ARMADILHAS... ???
EMBOSCADAS... ???
Etc.., Etc..., !!!
A história responderá!!!
Udunduma, a 29 de Maio 1969, de madrugada, eu estava lá... Ataque a Bambadinca ??? Pergunto...
Triângulo - Xime - Xitole - Bambadinca. Um epicentro... Mansambo, 1968/69.Um Aquartelamento, fortificado, anti, não sabemos a quê...
8 Mortos, 43 feridos, 35 evacuados para Lisboa, 4 Comandantes de Companhia...
Eu, no dia 29 de Maio inaugurava, horas depois do suposto ataque a Bambadica aquilo a que posteriormente se chamou o Destacamento da Ponte do Rio Udunduma (*).
Nota saí com o "meu" pelotão, o 3.º, de madrugada.
Existiu? Ou é ficção ????
CMSANTOS
CART 2339
Mansambo ( que não existia no mapa) (**)... E hoje também... destruído completamente.
_____________
Notas de L.G.:
(*) Vd.poste de 4 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXIX: Os Solitários da CART 2339 na Ponte do Rio Undunduma e em Fá
(...) Li no Blogue (...) uma referência ao pontão do Rio Udunduma.
Eu e os meus camaradas da CART 2339 estivemos lá. Em 28 de Maio de 1969 ouvimos rebentamentos para aqueles lados e pensámos ser na tabanca Moricanhe. Afinal, para nosso espanto, era mesmo em Bambadinca, sede do Batalhão [, BCAÇ 2852, 1968/70].
Dia 29, pela 5.30 da manhã, seguimos para reforço da sede de Batalhão. 15 dias. Salvo erro com o Pel Caç Nat 63, estivemos em tendas (panos de tenda com botões), em vigília constante, àquela que era uma passagem importante [, a ponte sobre o Rio Udunduma, na estrada Xime-Bambadinca]. Depois disso, outros, e até da nossa CART 2339, estiveram lá. Nós, CART 2339, abandonámos [a ponte] em 12 de Julho de 1969.
Entretanto dali, e depois de uma série de ataques, em Amedalai, Mansambo e Xime, Bambadinca e outra vez Bambadinca, fomos para reforço a Fá (Mandinga), nosso aquartelamento de acolhimento, pois havia indicações de que poderia ser atacado.
O meu pelotão - e eu era o furriel mais velho e por ausência quase sistemática do Alferes, competia-me o comando - intitulou-se de Os Solitários, pois por norma estava em diligência. Que palavra tão bonita. (...)
Reproduzido no poste de 29 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1130: A CART 2339, em socorro de Bambadinca, e na defesa da ponte do Rio Udunduma (Carlos Marques dos Santos)
28 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXCIX: Mansambo, um sítio que não vinha no mapa (1): a água da vida
29 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CD: Mansambo, um sítio que não vinha no mapa (2): as CART 2339, 2714, 3493 e 3494
30 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CDI: Mansambo, um sítio que não vinha no mapa (3): Memórias da CART 2339
(***) Último poste desta série >
28 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXCIX: Mansambo, um sítio que não vinha no mapa (1): a água da vida
29 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CD: Mansambo, um sítio que não vinha no mapa (2): as CART 2339, 2714, 3493 e 3494
30 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CDI: Mansambo, um sítio que não vinha no mapa (3): Memórias da CART 2339
(***) Último poste desta série >
10 de Dezembro de 2010 A> Guiné 63/74 - P7418: Memória dos lugares (115): As colunas logísticas ao Xitole e Saltinho no tempo do Paulo Santiago (1970/72) e do Joaquim Mexia Alves (1971/73)
Guiné 63/74 - P7458: Blogpoesia (97): Roteiro poético-sentimental para o viajante do triângulo Xime-Bambadinca-Xitole, com um Oscar Bravo ao camarigo Joaquim Mexia Alves (Luís Graça)
Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bambadinca > 3 de Março de 2008 > O antigo quartel das NT (CCS/BCAÇ 2852, 1968/70; CCAÇ 12, 1969/71; CCS/BART 2917, 1970/72...) e a antiga bolanha > No regresso a Bissau, depois de uma visita ao sul, à região do Cantanhez, no ãmbito do Simpósio Internacional de Guiledje (1-7 de Março de 2008), eu e o Nuno Rubim, fizemos um pequeno desvio para visitar Bambadinca...
As instalações de sargentos (à esquerda) e oficiais (à direita) eram agora ocupadas pelo exército guineense... Chegámos a uma hora inconveniente, a da sesta... Trocámos cumprimentos com os oficiais presentes (incluindo o comandante, à civil, de camisola interior, bem como um coronel inspector da artilharia que estava ali, de máquina fotográfica e óculos escuros, em serviço, vindo de Bissau...). Fotos que falam por si... Estupidamente, não quis ver o meu antigo quarto (*)...
Fotos: © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados
1. Texto de L.G., a partir do poste de 13 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2633: Memórias dos lugares (4): Mato Cão (Joaquim Mexia Alves, Pel Caç Nat 52, 1972/73)
Com um agradecimento, muito emocionado, ao Joaquim pela ternura do roteiro que ele fez para mim, em 27 de Fevereiro de 2008, antes de eu partir para a Guiné, e de que só no regresso, infelizmente, tomei conhecimento... LG
(i) Recado para uma ida à Guiné
por Joaquim Mexia Alves
Vai, Luís,
Para essa terra quente
Que viveu dor e sofrimento
Para se fazer País.
Vai e leva o meu abraço
Porque num dia,
Num momento,
Também aí fui feliz.
Passa por Mansoa
E sobe para Mansabá
E ao carreiro da morte
Pára e contempla
Das árvores do Morés
O seu porte.
Deixa uma lágrima
E um voto
Por todos os que aí ficaram.
Depois desce a Jugudul
E segue a estrada nova
Que tanto sacrifício me deu.
Passa por Portogole
E mais à frente um bocado
Sobe ao Mato Cão,
E fica ali sentado
Com uma cerveja na mão
A assistir ao Pôr-do-Sol.
Agora que vês Bambadinca,
Depois de parares um pouco,
Segue em frente
Pela estrada do meu suor
A caminho do Mansambo,
Que fica à tua direita.
Na Ponte dos Fulas
Vai a pé,
Ali para a tua esquerda,
Sim, dentro da mata,
Vá, anda,
Porque vais encontrar,
Se agora não me engano,
Uma mata de caju
Onde o macaco cão
Faz barulho que ensurdece.
Volta à estrada
Para o Xitole
E, quando lá chegares,
Senta-te naquela varanda,
Mesmo que destruída,
(reconheci-a entre mil),
E bebe por mim um uísque
Em memória do Jamil.
Segue para o Saltinho,
Banha-te naquelas águas
E não pares,
Arranja um barco
E sobe o Corubal.
Quando chegares ao Xime,
Desembarca na lama preta
E sobe por um bocado,
Apenas para ver a vista.
Regressa ao Geba.
Lá está a Nau Catrineta
Que tem muito que contar,
Embarca agora nela,
Deixa a maré te levar,
Porque assim à noite
Estarás em Bissau, a varar.
Já é tarde,
Estás cansado,
No físico, no coração,
Então senta-te no Pelicano,
E come…
Um ninho de camarão.
Vai, Luís,
Leva-me contigo,
Mata feridas, mata mágoas,
Mata saudades até,
E abraça por mim
A Guiné…
Joaquim Mexia Alves
Monte Real, 27 de Fevereiro de 2008
(ii) Roteiro poético-sentimental
por Luís Graça
Passei por alguns dos sítios
que tu me sugeriste,
a alta velocidade,
com enormes ganas de parar...
Quis controlar as minhas emoções,
quando a vontade era de chorar;
segui em frente,
mesmo querendo ficar;
não tirei fotografias,
com muita raiva minha,
por que me estava a armar em forte...
Tinha apenas em mente o sul,
nunca o leste,
nunca o norte...
Queria apenas mostrar a mim mesmo
que estava a passar o teste
da catarse...
Que eu, de facto,
já tinha esquecido a Guiné
e o seu cheiro a morte...
Não esqueci, claro está...
E a Guiné, para mim, era apenas o Corubal,
a perigosa margem direita do Corubal,
o Geba,
a Ponta Varela,
a maldita Ponta do Inglês,
o triângulo Xime-Bambadinca-Xitole,
a tristeza
das tabancas fulas em autodefesa,
o cerco ao regulado de Badora,
o estrangulamento do regulado Corubal,
o deserto do regulado do Cuor...
A Guiné era o Geba,
o Xaianga,
o Geba Estreito,
Finete,
Mato Cão,
Missirá,
a Missirá do Tigre,
Santa Helena,
Mero,
Fá Mandinga,
a Fá do Alfero Cabral...
Ah!, e os Nhabijões,
de triste memória.
Era também Contuboel,
a do Renato Monteiro,
o homem da piroga.
Era também Bafatá...
Os tocadores de kora
e os ourives
e os ferreiros,
mandingas.
Ah!, o Bataclã,
e a sacana
da amorosa Helena de Bafatá,
mais o bife com ovo a cavalo
na Transmontana.
Era isto e pouco mais.
Joaquim,
desta vez fui a Mansoa,
a Mansoa da tua CCAÇ 15,
onde nunca tinha ido...
À procura de bianda para o almoço,
imagina!...
Mas não segui para Mansabá
e muito menos para o carreiro
da morte no Morés...
Acabei por ir almoçar
ao restaurante
do Hotel Rural de Uaque...
Tive depois um convite,
do camarigo Zé Teixeira
e do seu grupo de beduínos,
comilões,
para ir comer leitão a Jugudul…
Leitão em Jugudul, imagina!,
como antigamente,
o leitão dos balantas de Nhabijões,
atropelado pelo burrinho da tropa
(no relatório, alguém escrevia:
animal subversivo e suicidário)
Mas outros deveres,
os trabalhos do Simpósio Internacional de Guileje,
me retiveram em Bissau,
num hotel todo chique,
de muitas estrelas
num céu esburacado de papel de cenário...
Passei pelo teu/nosso Mato Cão,
pelos cerrados palmeirais do Mato Cão,
como cão
em vinha vindimada,
vi o cotovelo do Geba Estreito,
onde nos emboscávamos,
para montar segurança às embarcações,
admirei a extensa bolanha de Finete,
passei por Bambadinca,
vi vacas, magricelas, a pastar
na imensão da sua bolanha,
triste bolanha outrora verdejante,
parei em Bambadinca no regresso,
revisitei as ruínas do meu quartel,
não ousei sequer entrar no meu antigo quarto,
não tive estômago
ou sangue
ou fel
ou coragem
ou sequer desejo...
Tomei a seguir a estrada,
alcatroada
(que não havia no nosso tempo)
de Mansambo - Xitole - Saltinho...
Não parei em Mansambo,
por falta de dístico,
nem no teu Xitole.
Apenas no Saltinho,
porque estava no programa turístico...
Mas lembrei-te de ti,
que me encomendaste
este roteiro poético-sentimental,
pedestre,
p'ra fazer ao pé coxinho...
Lembrei-me de ti
e do David, o Guimarães,
do Torcato, o Mendonça
do CMS,
o nosso Carlos Marques dos Santos,
do Mário, do Beja, do Tigre,
do Jorge,
do Bilocas,
do Humberto, o Reis,
do Tony, o Levezinho,
do cripto GG,
o nosso arcanjo São Gabriel,
do Fernando Marques,
do Jaquim Fernandes,
do Tê Roda,
e de tantos outros,
sem esquecer o puto Umaré Baldé,
que a morte já levou,
em Portugal,
nem muito menos o portuguesíssimo José Carlos,
de seu apelido Suleimane Baldé,
1º cabo, de 1ª classe,
um coração de ouro,
um homem doce,
enfim, todos os camarigos
da minha CCAÇ 12,
e de outras unidades com quem convivi,
em Bambadinca,
e arredores,
entre Julho de 1969
e Março de 1971...
Desculpa-me,
mas não bebi um uísque,
por ti e por mim,
à memória do Jamil.
Só bebi um uisquinho no avião
de regresso a Lisboa,
que as bactérias e os vírus na Guiné-Bissau
é quem mais ordenam...
E eu que gostava tanto, como tu,
do nosso uísquinho,
(coisa boa, não é ?!),
com uma ou duas pedras de gelo
e água de Perrier.
Não subi o Corubal, confesso,
mas fui a Cussilinta,
ver os rápidos,
a Cussilinta onde nunca tinha ido
nem poderia,
e foi com contida emoção
que revi os palmeirais
que bordejam o rio,
e o que resta da floresta-galeria...
Não, também não passei
pelo Xime,
nem pela Ponte Coli,
muito menos pela triste Ponte do Udunduma,
porque não é esse agora o caminho
de quem agora vem de Bissau,
e estrada só há uma.
Não tomei o velho barco,
ronceiro,
da outrora soberana e imperial Casa Gouveia
nem me sentei na esplanada do Pelicano,
como sugeria o teu roteiro.
E das ostras, só provei a sopa,
uma colher,
na casa do Pepito,
no bairro do Quelélé...
Agora, vais a Quinhamel para comer ostras,
que a cólera é endémica na capital da Guiné!...
Como vês, fui frugal,
espartano,
sanitarista...
Fui mau.
Mas um dia prometo
seguir à risca
o teu plano,
voltar ao Mato Cão,
e à bolanha de Finete,
e à Ponta do Inglês,
e à margem direita do Corubal...
Camarigo,
já foram demasiadas emoções
para uma semana só...
Em todo o caso,
sempre gostei mais daquela terra
no tempo das chuvas
e do capim alto
e das miríades de insectos
à volta dos candeeiros
na noite espessa e húmida...
Mas adorei,
confesso que adorei,
a tua sugestão,
o teu projecto,
o teu roteiro poético-sentimental...
Quem sabe, talvez o faremos
pelo nosso próprio pé...
Um dia destes,
nesta ou noutra encarnação,
Tu, eu e a malta
de Bambadinca,
da Zona Leste,
que é muita,
e que esteve no sítio tal e tal
e que faz parte da nossa Tabanca Grande...
Obrigado, Joaquim,
até pela ideia
que aos 20 anos se poderia ser feliz.
Ou que a Guiné foi para ti, foi para nós, fado,
fatum,
destino,
destino que o Destino quis.
Vemo-nos em Maio,
no nosso III Encontro Nacional.
13 de Março de 2008 / Revisto hoje
_____________
Notas de L.G.:
Último poste desta série > 16 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7447: Blogpoesia (96): Contrato com o Exército (Manuel Maia)
(*) Vd. poste de 9 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2621: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (3): Pequeno-almoço no Saltinho, a caminho do Cantanhez
(...) No percurso entre Bissau e Saltinho, não tomei grandes notas. Nem tirei fotos. A caravana seguia a boa velocidade. Fui em estrada alcatroada, ao longo do Geba, por sítios que não conhecia, com belíssimas bolanhas, sobretudo na região de Mansoa. No meu tempo, esta estrada, a norte do Geba, estava interdita. Para a Zona Leste ia-se de barco, até ao Xime, até Bambadinca, até mesmo a Bafatá...
Noto que as estradas modernas, como em toda a parte, atraiem as populações... Há mais tabancas, com maior risco de acidentes, à beira do caminho. Uma das nossas viaturas passou por cima de um cabrito. Ninguém porém parou. Há um membro do governo na caravana e leva escolta policial. Há também uma deputada, antiga combatente da liberdade da pátria...
Passo pela bolanha de Finete, agora com direito a tabuleta. Passo em Mato Cão e o Rio Geba Estreito ali tão perto... Imagino um comboio de barcos da Casa Gouveia a aparecer na curva do rio... E nós ou o PAIGC, emboscados. Passo ao largo de Bambadinca, sem aparente emoção. Mas tenho um pensamento positivo ao lembrar os velhos camaradas que andaram por aqui comigo... Cortamos para o sul, mais à frente, perto de Santa Helena, se não me engano...
Não dou conta de passar por Mansambo: do Xitole, retive apenas a fachada de uma mesquita que não existia no meu tempo... Entrevejo as ruínas do Xitole... Passo pelo Rio (seco) de Jagarajá e por Cambesse onde, em 15 de Maio de 1974, teriam morrido os portugueses em combate, segundo o José Zeferino ... A estrada antiga passava ao lado...
A viagem vale pelo Saltinho, o Rio Corubal, as lavadeiras do Corubal... Mas já não há a tensão dramática que percorria a fiada de palmeirais ao longo do Rio, no tempo da guerra... Há também maior desflorestação nesta zona. Os cajueiros são uma praga, na Guiné-Bissau. As bolanhas tendem a ser abandonadas ou a transformar-se em campos de cajueiros... Uma armadilha mortal para os guineenses, para a sua economia, para o seu futuro... O arroz continua a ser a base da alimentação do guineense, de Bissau a Bafatá... Arroz que é importado, em grande parte. (...)
Guiné 63/74 - P7457: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (5): Boas-Festas da Tertúlia
O MURAL DO PAI NATAL DA TABANCA GRANDE 2010 (5)
1. Do nosso camarada António Azevedo Rodrigues, ex-1.º Cabo do Agrupamento 2957 (Bafatá, 1968/70)
Amigos e bons camaradas da Guiné, 1968/70, Bafatá. Para reconhecer o tempo passado, e as pesquisas efectuadas, eis-me chegado ao fim do ano D 2010=40 anos depois da nossa (para alguns) chegada à Guine, e depois de termos alguns estado reunidos uma primeira vez, esperando voltar ao ataque à tabanca ou à bagabaga, que ainda não transpus, mas quero "queremos todos" alcançar, que é na próxima Primavera. Juntar realmente todos, para o que estou a fazer tudo que estiver ao meu alcance para o conseguir, fazer no centro do país, para que todos possam comparecer, e se algum tiver que ser rebocado, espero encontrar reforços para o fazer. Sei que não vai ser fácil, mas com a vontade de todos... aguardo novidades... quem é o primeiro a dizer, sim estou aqui, aí vai mais um... ou, não, não encontro ninguém, não vou, não posso e mais nada... quero JUNTAR MESMO TODOS...
Boas Festas para todos.
____________________
2. Do nosso camarada Victor Garcia, ex-1.º Cabo da CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71)
Aos Amigos Tertulianos
Desejo-vos um Feliz Natal e um bom Ano Novo
____________________
3. Do nosso camarada Mário Beja Santos, ex-Alf Mil do Pel Caç Nat 52 (Missirá e Bambadinca, 1968/70)
Feliz Natal e Bom Ano Novo
BOAS FESTAS
Feliz Natal
Clique no link abaixo:
http://www.jacquielawson.com/preview.asp?cont=1&hdn=0&pv=3169996
____________________
4. Do nosso camarada Jaime Machado, ex-Alf Mil do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70)
____________________
5. do nosso camarada José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf.º da CCAÇ 2381 (Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70)
Pedi emprestado a um poeta amigo, o poema que transcrevo.
Com ele vão os meus mais sinceros votos de SANTO E FELIZ NATAL
Zé Teixeira
Segundo Andamento
Enganam-se os que pensam que só nascemos uma vez.
Para quem quiser ver a vida está cheia de nascimentos.
Nascemos muitas vezes ao longo da infância
quando os olhos se abrem em espanto e alegria.
Nascemos nas viagens sem mapa que a juventude arrisca.
Nascemos na sementeira da vida adulta,
entre invernos e primaveras maturando
a misteriosa transformação que coloca na haste a flor
e dentro da flor o perfume do fruto.
Nascemos muitas vezes naquela idade
onde os trabalhos não cessam, mas reconciliam-se
com laços interiores e caminhos adiados.
Enganam-se os que pensam que só nascemos uma vez.
Nascemos quando nos descobrimos amados e capazes de amar.
Nascemos no entusiasmo do riso e na noite de algumas lágrimas.
Nascemos na prece e no dom.
Nascemos no perdão e no confronto.
Nascemos em silêncio ou iluminados por uma palavra.
Nascemos na tarefa e na partilha.
Nascemos nos gestos ou para lá dos gestos.
Nascemos dentro de nós e no coração de Deus.
José Tolentino Mendonça
12.12.10
____________________
6. Do nosso camarada [José Francisco,] Robalo Borrego, Ten Cor Reformado, Grupo de Artilharia n.º 7 de Bissau e 9.º Pel Art, Bajocunda (Guiné, 1970/72):
Feliz Natal e Bom Ano Novo
Um abraço do
JB
____________________
7. Do nosso camarada Manuel Alheira, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 19 (Guidaje, 1972/74)
Cumprimentos e votos sinceros de um Bom Natal e Feliz Ano 2011.
Um abraço de
Manuel Alheira
____________________
8. Do nosso camarada Sílvio Fagundes de Abrantes (Hoss), ex-Soldado Pára-quedista da CCP 121 / BCP 12 (Bissalanca, 1969/71)
Olá companheiros de luta.
Antes de mais começo por vos desejar um Feliz Natal e um Ano Novo CHEIO DE PROPRIEDADES. Atenção ao sublinhado. Lembram-se do ano novo cheio de propriedades? Era a cultura ao tempo. Mas... não digo mais.
Ora bem bem: o assunto que aqui me trouxe é uma fotografia que circulou na nossa querida Guiné com uma gibóia que engoliu uma vitela, esta era forte demais para a barriga do glutão, que acabou por rebentar e vê-se a cabeça da vitela fora da barriga do réptil. Eu tenho uma foto dessas, só que não sei onde.
Agradecia aos meus amigos e tertulianos que tenham uma foto dessas façam o especial favor de a enviarem cá para o JE.
Espero que tenham todos um FELIZ ,,, FELIZ NATAL E QUE O ANO NOVO VOS TRAGA TUDO O QUE MAIS DESEJAREM, PARA VOCÊS E OS VOSSOS MAIS QUERIDOS. são os votos sinceros do vosso sempre amigo,
Hoss
____________________
9. Do nosso camarada Sousa de Castro, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3404/BART 3873 (Xime e Mansambo, 1971/74)
Prezados amigos editores do blogue “luisgraca&camaradasdaguiné”,
Muito sensibilizado fiquei, com tanto carinho que me presentearam no dia em que entrei para o clube dos xexas, não merecia!... Agradeço profundamente, não só aos que se me dirigiram telefonicamente e através do nosso blogue mas também a todos tertulianos em geral aproveitando para desejar que tenham um óptimo Natal na companhia de seus familiares.
Que o Natal nos traga muita paz, amor e felicidade!
Sousa de Castro
____________________
10. Do nosso camarada Raul Albino, ex-Alf Mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851 (Có, Olossato e Mansambá, 1968/70)
Nesta quadra de Natal venho desejar-vos, abrangendo toda a vossa família, um Natal muito Faliz e que tenham umas festas natalícias e de fim de ano repletas de tudo aquilo que mais ambicionarem.
O vosso amigo,
Raul Albino
____________________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 17 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7455: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (4): Boas-Festas da Tertúlia
Guiné 63/74 - P7456: Notas de leitura (178): Breves Considerações Sobre Plâncton - Copépodes da Guiné, de Dr.ª Emerita Marques (Mário Beja Santos)
1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Dezembro de 2010:
Queridos amigos,
Preciso de fazer de quanto em vez uma pequena pausa sobre as memórias da viagem que efectuei no mês passado à Guiné.
Estes copépodes são mesmo um pretexto para mostrar o que já não existe, o Canal Impernal. Com a morte da ponta de Ensalmá, este ecossistema desapareceu. Paz à sua alma.
Um abraço do
Mário
O pretexto foram os copépodes da Guiné…
Beja Santos
A Dr.ª Emerita Marques estudou a sério os copépodes da Guiné, conforme se pode ler na sua conferência feita em 27 de Janeiro de 1950 e publicada nesse ano pela Junta de Investigações Coloniais. Comprei o documento na Feira da Ladra, uns sábados atrás. Sinceramente que o tema não me diz nada, o fundamental para mim são as duas ilustrações que se dão à estampa, nomeadamente a primeira dedicada ao Canal Imperial, hoje inexistente. Quanto aos copépodes, diz a distinta zoóloga:
“O mar é povoado por um número incalculável de seres vivos, tanto animais como vegetais, se encontram espalhados por toda a sua enorme massa de água. Uns limitam-se normalmente ao fundo ou às suas proximidades; outros habitam todo o mar, deslocam-se em todos os sentidos, nadando mesmo contra as correntes. Mas existem muitos outros que, já adultos ou ainda sob a forma larvar, e difundidos desde o fundo até à superfície, se deixam arrastar pelas águas, flutuando passivamente através delas. Estes seres constituem o plâncton, são animais de grandeza microscópica, sobretudo”.
Continuando, a Dr.ª Emerita Marques fala sobre o estudo do plâncton e de colheitas efectuadas pela Missão Zoológica da Guiné, e particularmente chama a atenção para um dos elementos constituintes do plâncton, os copépodes. São pequeníssimos crustáceos que desempenham um papel extraordinariamente importante na cadeia alimentar do mar. São eles que, na companhia de muitas larvas de outros animais, em que predominam crustáceos, constituem parte fundamental do alimento de inúmeros peixes, músculos e até cetáceos. Estes copépodes servem de alimento a sardinhas, arenques e até o bacalhau. Há copépodes marítimos e os de águas doces e salobras.
Os copépodes podem transmitir parasitas pelo que é importante estudá-los em profundidade. A dita Missão Zoológica da Guiné andou a colher exemplares nas águas continentais, identificou-as e toda a conferência decorre sobre a exaltação desta singularidade do mundo microscópico. Não foi esta maravilha da zoologia que me levou a comprar a brochura, foram duas imagens, tal como seguem:
São fotografias da década de 40, a Guiné Portuguesa vive uma fase dinâmica decorrente do impulso dado pela governação de Sarmento Rodrigues. O campo científico foi revolucionado e convém não esquecer que ao lado desta Missão Zoológica esteve outra não menos importante, a Missão Geo-hidrográfica. Os sinais desta missão aparecem no álbum fotográfico em publicação, alusivo à minha recente viagem à Guiné: ainda existem em Ponta Varela e Mato de Cão os leitores das marés, marco fundamental para a boa navegação destes rios.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 16 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7445: Operação Tangomau (Álbum fotográfico de Mário Beja Santos) (4): Dia 22 de Novembro de 2010
Vd. último poste da série de 27 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7347: Notas de leitura (177): Marcelino Marques de Barros, um sábio guineense (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Preciso de fazer de quanto em vez uma pequena pausa sobre as memórias da viagem que efectuei no mês passado à Guiné.
Estes copépodes são mesmo um pretexto para mostrar o que já não existe, o Canal Impernal. Com a morte da ponta de Ensalmá, este ecossistema desapareceu. Paz à sua alma.
Um abraço do
Mário
O pretexto foram os copépodes da Guiné…
Beja Santos
A Dr.ª Emerita Marques estudou a sério os copépodes da Guiné, conforme se pode ler na sua conferência feita em 27 de Janeiro de 1950 e publicada nesse ano pela Junta de Investigações Coloniais. Comprei o documento na Feira da Ladra, uns sábados atrás. Sinceramente que o tema não me diz nada, o fundamental para mim são as duas ilustrações que se dão à estampa, nomeadamente a primeira dedicada ao Canal Imperial, hoje inexistente. Quanto aos copépodes, diz a distinta zoóloga:
“O mar é povoado por um número incalculável de seres vivos, tanto animais como vegetais, se encontram espalhados por toda a sua enorme massa de água. Uns limitam-se normalmente ao fundo ou às suas proximidades; outros habitam todo o mar, deslocam-se em todos os sentidos, nadando mesmo contra as correntes. Mas existem muitos outros que, já adultos ou ainda sob a forma larvar, e difundidos desde o fundo até à superfície, se deixam arrastar pelas águas, flutuando passivamente através delas. Estes seres constituem o plâncton, são animais de grandeza microscópica, sobretudo”.
Continuando, a Dr.ª Emerita Marques fala sobre o estudo do plâncton e de colheitas efectuadas pela Missão Zoológica da Guiné, e particularmente chama a atenção para um dos elementos constituintes do plâncton, os copépodes. São pequeníssimos crustáceos que desempenham um papel extraordinariamente importante na cadeia alimentar do mar. São eles que, na companhia de muitas larvas de outros animais, em que predominam crustáceos, constituem parte fundamental do alimento de inúmeros peixes, músculos e até cetáceos. Estes copépodes servem de alimento a sardinhas, arenques e até o bacalhau. Há copépodes marítimos e os de águas doces e salobras.
Os copépodes podem transmitir parasitas pelo que é importante estudá-los em profundidade. A dita Missão Zoológica da Guiné andou a colher exemplares nas águas continentais, identificou-as e toda a conferência decorre sobre a exaltação desta singularidade do mundo microscópico. Não foi esta maravilha da zoologia que me levou a comprar a brochura, foram duas imagens, tal como seguem:
Canal Impernal, entre o canal do Geba e o rio Mansoa. A bordo do vaporinho Pelundo, ao serviço da Missão Zoológica
Nativos a banharem-se no rio de Catió
São fotografias da década de 40, a Guiné Portuguesa vive uma fase dinâmica decorrente do impulso dado pela governação de Sarmento Rodrigues. O campo científico foi revolucionado e convém não esquecer que ao lado desta Missão Zoológica esteve outra não menos importante, a Missão Geo-hidrográfica. Os sinais desta missão aparecem no álbum fotográfico em publicação, alusivo à minha recente viagem à Guiné: ainda existem em Ponta Varela e Mato de Cão os leitores das marés, marco fundamental para a boa navegação destes rios.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 16 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7445: Operação Tangomau (Álbum fotográfico de Mário Beja Santos) (4): Dia 22 de Novembro de 2010
Vd. último poste da série de 27 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7347: Notas de leitura (177): Marcelino Marques de Barros, um sábio guineense (Mário Beja Santos)
Subscrever:
Mensagens (Atom)