Tavira > Cismi > 1963 > Adeus, Tavira > Da esquerda para a direita, Rui Lobo, António Clemente, Mário Fitas e um quarto elemento não identificado. O Clemente acaba de entrar para a nossa Tabanca Grande, com o nº 462, pela mão do seu e nosso camarigo Mário Fitas (*)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
domingo, 19 de dezembro de 2010
Guiné 63/74 - P7474: Resenha histórica da CCAÇ 764 (Aldeia Formosa, Colibuia, Cumbijã, 1965/66): Pela garra se conhece o leão (Parte I) (António Clemente)
Tavira > Cismi > 1963 > Adeus, Tavira > Da esquerda para a direita, Rui Lobo, António Clemente, Mário Fitas e um quarto elemento não identificado. O Clemente acaba de entrar para a nossa Tabanca Grande, com o nº 462, pela mão do seu e nosso camarigo Mário Fitas (*)
Guiné 63/74 - P7473: Tabanca Grande (255): António Clemente (CCAÇ 764, Aldeia Formosa, Colibuía, Cumbijã, 1965/66), apresentado pelo seu camarigo de Tavira, Mário Fitas
Guiné 63/74 - P7472: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (10): Maneiras distraídas de viver a vida… (José Eduardo Oliveira)
1. O nosso Camarada José Eduardo Oliveira* (JERO) (ex-Fur Mil da CCAÇ 675, Binta, 1964/66), enviou-nos em 14 de Dezembro de 2010 a seguinte mensagem:
Camarigos,
Como entramos na semana do NATAL votos de Boas Festas. Boa saúde para vós e para os vossos. Com calma e com algum dinheiro para gastos. Mais fornicados do que estamos será difícil. Mas se a amizade que une se mantiver forte teremos sempre alguma coisa a que nos agarrar.
Mando mais um texto dentro do "estilo" Blogando e Andando. Acho que no nosso blogue terá lugar uma "estória" que não seja só relativa a recordações de guerra. Afinal passaram trinta e tal anos... para uns e quarenta e tal anos para outros... Como é o meu caso.
O Fernando foi um homem de valor. Trabalhou e subiu na vida graças aos seus méritos. E era bom em tudo que se metia.
Os responsáveis da Volkswagen diziam que este carro era impossível de capotar ou virar-se.
O Fernando conseguiu essa proeza!
Mas não se ficou por aí…
Na encosta de um vale lindíssimo, no sopé da Serra dos Candeeiros perto do local onde terá passado o exército de D. Afonso Henriques quando em 1147 (*), conquistou Santarém aos Mouros, havia (e ainda há) o Restaurante do Carrascal.
Queria mesmo era comer o bacalhau “à Maria Matos”. E o vizinho da mesa insistia.
(*) - Em 1147, a moura renegada Zuleiman apresentou-se nos paços de Coimbra na presença de D. Pedro Afonso, irmão do primeiro rei de Portugal, surpreendendo o infante com a revelação que aquela seria a melhor altura para conquistar Santarém.
Um grande abraço de Alcobaça do vosso irmão na guerra e na paz,
JERO
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Nota de M.R.:
19 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7471: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (9): Como vejo o Natal (José Corceiro)
Guiné 63/74 - P7471: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (9): Como vejo o Natal (José Corceiro)
1. Mensagem de José Corceiro (ex-1.º Cabo TRMS, CCaç 5 - Gatos Pretos , Canjadude, 1969/71), com data de 18 de Dezembro de 2010:
Caros amigos, Luís Graça, Carlos Vinhal, E. Magalhães.
Natal feliz para todos.
Atendendo à quadra Natalícia, envio este escrito que publicarão se acharem que vale a pena.
Um abraço e Boas Festas
Foi no dia de Natal de 2009, que me foi concedido o passaporte para ingressar na Tabanca Grande. Já passou um ano e tenho a sensação que foi ontem!
Esta noção desfasada da mensuração do tempo, será consequência da força da saudade do ontem? Estarei a ser espicaçado pelo desejo de voltar ao passado da minha meninice? Ou está-me a invadir o sentimento de regresso às origens? Não será este um sinal de que a velhice me começa a rondar?! Pois já tenho dois netos para contar histórias!
Ao fazer uma retrospectiva da apreciação da minha presença, durante este ano, no Blogue, quero exteriorizar o meu apreço por todos os tertulianos, porque duma maneira ou outra, têm-me enriquecido o conhecimento, através da leitura que faço dos vossos artigos, que tenho lido com muito interesse, assim como desejo confessar a minha gratidão por lerem os meus. Permitam-me que divulgue o meu testemunho, do quão benéfico e salutar têm sido os momentos de empenho, que dediquei ao Blogue, pois raro é o dia que passo sem visitá-lo, e alguns dias mais que uma vez. Não posso deixar de manifestar a minha estima por todos os tertulianos, embora só conheça pessoalmente cinco, mas para todos a minha incondicional admiração; pois aceito as qualidades e respeito as opiniões diversificadas de cada um!
Estamos na quadra Natalícia, festa de eleição nobre da família! Para mim, o Natal são momentos mágicos, de recordações vividas na minha aldeia durante a minha infância, onde com simplicidade e sem ostentação, na noite de consoada predominava o afecto e a união, em que a família se reunia à volta da lareira a crepitar, pois era frequente que no exterior estivesse a nevar! Nesta noite, na mesa de consoada, não podia faltar o bacalhau cozido com batatas e couves, regado com azeite novo já extraído do lagar, que tinham um sabor muito especial, assim como era obrigatório enfeitar a mesa com filhoses, rabanadas e o arroz-doce decorado com canela. Era hábito, após consoar, as famílias irem assistir à celebração da missa do galo, e ao sair da igreja todo o povo se dirigia ao adro, para degelar as mãos, na fogueira do madeiro que ardia, obra da juventude que organizava e acendia a fogueira do Natal, para louvar e aquecer o Menino Jesus.
Natal, é sinónimo de amor, em que devemos compartilhar com os irmãos um pouco de ternura, doçura, compaixão e compreensão, para com aqueles que por diversas contingências da vida, vivem num desabitado gélido, triste e sombrio, que já não sabem dar, nem pedir, e vivem num silêncio que os remete à saudade deles próprios e precisam da nossa solidariedade.
Natal, é dar prendas, que as crianças ansiosamente esperam que lhe sejam colocadas no sapatinho, e o nosso gesto é gratificado pelos olhitos das crianças, que mais parecem duas luzentes estrelas.
Natal, é presépio atapetado com os sedosos musgos verdes, serpenteado com os trilhos por onde caminham as figurinhas típicas de barro, a levar os presentes ao Menino.
Natal, são cânticos de louvor alusivos à festa, entoados na missa com muito fervor.
– Alegrem-se o céu e a terra/ Cantemos com alegria/ Já nasceu o Deus Menino/ Filho da Virgem Maria… - Oh! Meu, Menino Jesus/ Oh! Meu, menino tão belo/ Logo vieste nascer/ Na noite do caramelo!
Natal, é beijar o Deus Menino no fim da missa, que se reveste dum simbolismo ímpar, não será Natal, sem a acção de beijar o Menino.
Natal, é confraternizar com os amigos, aos quais se deseja felicidade, e na companhia dos quais se bebe um mata bicho.
Natal, é tristeza, lembrando aqueles que já não se sentam connosco à mesa.
Natal, é saudade da nossa meninice, e dos tempos passados.
Natal, foi também sofrimento e melancolia em Canjadude, na Guiné, onde passei o de 69 e o de 70, com os meus camaradas da CCAÇ 5.
Natal de 1970 em Canjadude, Guiné, no refeitório. Lado direito com máquina a tiracolo Corceiro, Viriato, sentado José Carlos Freitas, atrás deste Pinto, com cinturão Faria atirador, atrás deste Pimenta, de óculos Faria de transmissões, Santos, Coias e Almeida.
Natal de 1970 em Canjadude. Cenário que me serviu para fazer o cartão de boas festas de Natal. Neste caso o do Viriato.
Natal, é alegria, ao desejar a todos os membros da Tabanca Grande que sejam bafejados com bênçãos de Momentos de Serenidade, Paz, Compreensão, Tranquilidade, Fraternidade e União. Haja Amor. A Vida sem Amor não tem qualquer sentido! A vida é tão curta e a empreitada de vivê-la é tão difícil, e quando começamos a aprender a vivê-la, já é hora de partir e deixá-la. Vamos caminhar e viver calmamente, porque tudo passa, e se transforma. Haja Espírito de Natal, durante todo o Ano que se apróxima!
Feliz Natal e um Abraço para todos
José Manuel Silva Corceiro
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 18 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7467: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (8): Noite de Natal de 1969 em Bissau (Carlos Pinheiro)
Guiné 63/74 - P7470: Notas de leitura (179): A Luta Pelo Poder na Guiné-Bissau, de Álvaro Nóbrega (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
A tese de mestrado de Álvaro Nóbrega é um trabalho digno de crédito, abre portas, favorece discussões salutares, alarga o horizonte polémico do conflito e da violência entre guineenses fora do contexto da luta armada.
É mais uma achega bibliográfica que justifica a indispensabilidade do blogue para a consulta dos estudiosos.
E após esta pausa sigo para os meus deveres na Operação Tangomau.
Um abraço do
Mário
A luta pelo poder na Guiné-Bissau
Beja Santos
Que a África é o continente com maior número de conflitos instalados parece ser matéria inquestionável. O que se passa neste momento na Costa do Marfim arrisca a repetir-se noutros pontos. Há situações adormecidas na Somália, Ruanda, Serra Leoa, Zaire, Zimbabué, Nigéria e (oxalá não fosse) a Guiné-Bissau. É um continente que conhece um processo tumultuoso na sua democratização. Os tempos difíceis da Guiné-Bissau tem vivido prendem-se com uma lógica do uso do poder que não vem de ontem. É o historial dessa lógica que levou Álvaro Nóbrega a lançar-se numa tese de mestrado que tomou em conta a longa tradição dos factores de conflito na Guiné e toda a problemática das crises de liderança que emergem da luta armada até à actualidade.
O resultado é estimulante e abre pistas bem curiosas para melhor compreender a Guiné-Bissau da actualidade (“A luta pelo poder na Guiné-Bissau”, por Álvaro Nóbrega, ISCSP – Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, 2003).
Que propõe o investigador, acima de tudo? Identificar os mais salientes factores endógenos que contribuem para exercício da violência no poder e para compreender a resposta do poder político local na resolução dos conflitos. Para tal, o estudioso recorreu a trabalho de campo, procedeu à história oral, mergulhou nos arquivos, rodeou-se de bibliografia elementar, assim chegou a uma cartografia onde foi posicionando os instrumentos da sua análise, vejamos a que conclusões acabou por chegar, em consonância com a sua pesquisa e análise.
Primeiro, questionando a Guiné-Bissau como unidade política autónoma, desvela que apesar da exiguidade de recursos, o país possui algumas condições para manter a sua integridade: possui uma língua franca, o crioulo, hoje a generalidade da população usa-a supletivamente ao português; não há incompatibilidade étnica estrutural, se bem que o peso do direito costumeiro tenha uma importância indiscutível; não há uma clivagem agressiva entre etnias politicamente descentralizadas (caso dos Balantas ou Felupes) e etnias politicamente centralizadas (caso dos Papéis ou dos Bijagós), a zona islamizada do país não revela pretensões hegemónicas e muito menos fundamentalistas; a apropriação de terras não tem gerado conflitos étnicos, pelo contrário verifica-se que a ocupação do território após a independência se tem desenvolvido pacificamente; o espaço urbano de Bissau é o verdadeiro quebra-cabeças do país, a cidade cresce anarquicamente, a qualidade dos serviços é paupérrima e os habitantes não dispõem dos equipamentos minimamente necessários para se falar numa qualidade de vida satisfatória; se não há fome o mesmo não significa que não haja carências alimentares, graças aos recursos piscícolas e ao uso da terra a base da auto-sustentação permite que não se morra de fome; enfim, país maioritariamente agrícola, dependente de uma monocultura (caju), com elevadas riquezas na plataforma continental marítima, a Guiné-Bissau dá pouca esperança aos seus trabalhadores especializados, dispõe de muito poucas indústrias, não investe não habilitações técnico-profissionais, criou a habituação e a resignação na dependência da ajuda internacional.
Segundo, a Guiné tem uma longa tradição de violência, e não só dos autóctones contra os portugueses. Álvaro Nóbrega convoca a historiografia para nos recordar o que foi a via-sacra das operações militares das autoridades portuguesas até 1936, os conflitos interétnicos, a violência das tradições (aqui entendidas como os cerimoniais animistas que envolvem oferendas de vitimas e a imolação de animais, a feitiçaria, o peso da justiça tradicional, os infanticídios rituais, a antropofagia, o roubo de gado, isto para já não falar na prática social corrente das sociedades escravocratas). Nomeadamente a partir da luta armada, a Guiné-Bissau viu-se confrontada com o novo tipo de conflito latente, entre a modernidade sociopolítica e cultural e o peso da lógica tradicional. Logo a seguir à independência, o PAIGC acreditou que bastava fuzilar ou demitir as autoridades tradicionais e substitui-las pelos comités de tabanca para que o país desse um salto para a modernidade. Nada aconteceu assim, depois do golpe de 14 de Novembro de 1980 voltou-se ao compromisso com o direito costumeiro, a justiça tradicional e o poder dos chefes locais. Violência dissimulada ocorreu entre a burguesia cabo-verdiana que dominou ideologicamente o PAIGC e os combatentes guineenses; no entretanto, com a morte de Amílcar Cabral que, como se veio a descobrir, era o único produtor ideológico singular, o pensamento político dentro do PAIGC conheceu altos e baixos e atracções pelo socialismo tipo soviético até pulsões da mais descarada liberdade de mercado. Que detém o poder do dia possui uma visão patrimonial do Estado, constrói os seus mecanismos de recompensas materiais, cria cadeias de lealdade, destitui e nomeia a seu belo prazer.
Terceiro, o autor vem interrogar toda esta luta pelo poder a partir dos nacionalistas que se afirmaram na Casa de Estudantes do Império, prossegue com a análise da especificidade guineense da passagem à luta armada, descreve os acontecimentos do Congresso de Cassacá, em que Amilcar Cabral mandou punir os comandantes torcionários que aterrorizavam as populações, recorda o assassinato de Amílcar Cabral e o estranhíssimo silêncio que continua a envolver a conspiração, enuncia os crimes perpetrados e os ajustes de contas com quem foi leal com as autoridades portuguesas, explica as razões do chamado “Movimento Reajustador” e a repressão subsequente, demissão de políticos, golpes de Estado fantoches, perseguições pessoais, etc. A partir do momento em que o comunismo colapsou, até mesmo os radicais do PAIGC se aperceberam que devia haver mudança, entretanto chegara-se ao colapso económico, ao défice público permanente, dentro do PAIGC estalaram as facções e a aura messiânica de Nino Vieira caminhou para o acaso. Assim se chegou ao conflito de 1998 – 1999 que veio exaurir a Guiné, levar Nino Vieira ao exílio, ao assassínio bárbaro do brigadeiro Ansumane Mané e à ascensão do demagogo Cumba Ialá, por sua vez forçado a demitir-se depois de uma presidência de tragicomédia.
De tudo isto, que conclui o investigador? A complexidade do carácter nacional em que, curiosamente, “a diversidade é uma riqueza, mas contém em si um potencial de conflito”; o PAIGC continua a ser o eixo central do sistema político, com desavenças e reconciliações; na Guiné-Bissau, a luta política não pode ser dissociada da violência que terá as suas raízes no passado militar de muitos dos dirigentes do PAIGC; regista-se uma cristalização do pensamento de Cabral, ele é utilizado arbitrariamente, oportunisticamente ou, em desespero de causa, como o único cimento possível para invocar a lógica nacional; se durante a luta armada, e até 1980, os militares estavam enquadrados pelos dirigentes políticos, com Nino Vieira o poder militar superlativou-se e é hoje uma roda livre na cultura do poder. A retoma pela subordinação do militar ao político é uma das pedras essenciais para que se possa vir a falar na sinceridade e justeza do processo democrático.
Álvaro Nóbrega analisa com rigor todas as peças deste conflito, a leitura do seu estudo é recomendável para quem queira perceber a essência e a expressão do conflito permanente em que vive a classe política na Guiné-Bissau e como está divorciada dos reais interesses das populações.
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 18 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7462: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (6): Bambadinca, recordações da casa dos mortos
Vd. último poste da série de 17 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7456: Notas de leitura (178): Breves Considerações Sobre Plâncton - Copépodes da Guiné, de Dr.ª Emerita Marques (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P7469: Parabéns a você (191): Humberto Reis, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 12 e João Melo, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAV 8351 (Tertúlia / Editores)
Cartoon: © Miguel Pessoa, Coronel Pilav Ref (2010). Todos os direitos reservados
1. Neste domingo, 19 de Dezembro de 2010, estão de parabéns os nossos camaradas Humberto Reis (ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71) e João Melo (ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAV 8351, Tigres de Cumbijã, Cumbijã, 1972/74).
Estamos em conformidade a felicitar estes nossos amigos tertulianos neste dia festivo, fazendo votos de que o gozem em pleno junto de seus familiares e amigos.
São também nossos desejos que tenham uma longa vida, plena de qualidade, junto das pessoas que mais amam
Daqui enviamos aos camaradas Humberto e João um abraço de parabéns da tertúlia e dos editores.
CV
2. Comentário de L.G.:
Carlos, meu querido editor de serviço, permite-me que abuse dos meus privilégios de editor e acrescente mais alguns baites ao teu poste de parabéns ao nossos queridos camarigos Humberto Reis e João Melo. Um que eu conheço, particularmente, e outro que não conheço, a não ser virtualmente, o João Melo, um valente Tigre do Cumbijã. (Conheço, em contrapartida, o tigre-mor, que o Vasco da Gama, ex-Cap Mil da CCAV 8351, o tigre de Buarcos).
Embora no "estaleiro", com uma dor ciática na perna esquerda que poderá pôr a causa a minha presença à frugal mesa deste Natal (um gajo não se quer nem se deixar convencer que já pertence, de jure et de facto, ao Clube dos SEXAS, que é uma forma eufemística de dizer brigada do reumático da guerra colonial, logo em vias de extinção...), eu não posso deixar de exarar aqui os meus votos de parabéns que são devidos ao meu camarigo Humberto Reis, que faz hoje mais um aninho de vida a somar aos belos 63 que já trazia do antecedente...
Une-nos, de facto, uma bela camarigagem, que vem dos princípios de 1969, do Campo Militar de Santa Margarida, em que nos conhecemos, passando a saber, ambos, que estávamos mobilizados para o TO da Guiné, integrando uma tal CCAÇ 2590 (mais tarde, CCAÇ 12), companhia independente que iria ser formada por soldados guineenses do recrutamento local... Somos, portanto, da 1º geração da CCAÇ 12, uma espécie de pais-fundadores... (A CCAÇ 12 foi extinta em Agosto de 1974 e a maior parte dos nossos camaradas guineenses, exactamente 100, os que se juntaram aos quadros e especialistas metropolitanos, já morreram, de morte violenta ou natural, conforme tristes notícias que há dias soube através de carta que me chegou da Guiné-Bissau).
Estamos, pois, a falar de mais de 2 anos e tal de convívio, que se estreitou na Guiné pela nossa dupla condição de operacionais e inquilinos do mesmo quarto, em Bambadinca e co-proprietários do mesmo mini-frigorífico a petróleo... Acresce o facto de sermos hoje vizinhos, em Alfragide, mas raramente nos vermos, a não ser aqui na nossa Tabanca Grande... Daí ser (e cada vez mais) apropriado dizer que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!
Do nosso tempo de Guiné, e do seu álbum fotográfico ainda tentei recuperar alguma fotografias menos conhecidos dos tabanqueiros periquitos, mostrando facetas inesperados de um ranger no TO da Guiné como, por exemplo, esta que se publica...
E a ele, e ao João Melo, desejo um dia em grande, com muita genica e ganas de voltar a repetir, para o ano, a façanha de estarem vivos!!!... Quanto ao Natal de 2010, que seja pelo menos melhor do que os Natais que passámos nas noites (frias e medonhas) de Dezembro, na Guiné daqueles tempos...
Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados
Notas de CV:
Vd. postes de:
19 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5499: Parabéns a você (56): Humberto Reis (ex-Fur Mil At Inf Op Esp, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71) (Luís Graça)
19 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5497: Parabéns a você (55): João Melo, ex-1.º Cabo Cripto da CCAV 8351 (Editores)
Vd. último poste da série de 17 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7453: Parabéns a você (190): Fernando Gouveia, ex-Alf Mil Rec Inf, Bafatá, 1968/70 (Tertúlia / Editores)
sábado, 18 de dezembro de 2010
Guiné 63/74 - P7468: Os nossos camaradas guineenses (28): Sete mil antigos combatentes a necessitar de assistência social, segundo Baciro Djá, citado pela Lusa (Nelson Herbert)
Data: 18 de Dezembro de 2010 20:05
Assunto: Guineenses que lutaram ao lado de Portugal na guerra colonial
Finalmente uma ideia brilhante, ainda que para ser consubstanciada em proposta de lei, no parlamento guineense. Diga-se, proposta que vem em linha de conta da tal problemática por mim levantada em tempos num poste e a propósito do impacto da africanização da guerra colonial... nas cíclicas crises de instabilidade vivida nas últimas três décadas, na Guiné Bissau...
Deêm o destino que bem convier ao texto !
Mantenhas
Nelson Herbert
2. Notícia da Lusa, de 7 do corrente [, reproduzida aqui com a devida vénia]:
Bissau 07, dez (Lusa) – O deputado do PAIGC Baciro Djá defendeu que o Estado da Guiné-Bissau devia incluir os guineenses que lutaram ao lado do exército português no pacote de assistência e reinserção social no âmbito da reforma da defesa.
"No fundo, o processo de reforma do setor de defesa e segurança é para criar um ambiente de paz e reconciliação na Guiné-Bissau. Naturalmente que as tropas que estiveram do lado de Portugal colonial, são guineenses", afirmou Baciro Djá.
O deputado diz ter esta posição pelo conhecimento que tem do programa de reforma do setor de defesa e segurança da Guiné-Bissau, dado ter sido o primeiro responsável pelo projeto, como anterior presidente do Instituto de Defesa Nacional.
"Se queremos na verdade viver em paz e fazer uma reconciliação e resolver problemas sociais na Guiné-Bissau, temos que ter em conta a situação desses cidadãos guineenses, porque hoje não se coloca a questão de índole político, coloca-se, isso sim, uma questão de natureza social, de justiça social", observou Baciro Djá.
Para o deputado, a questão dos guineenses que serviram no exército português, deve ser encarada como sendo da responsabilidade da Guiné-Bissau e de Portugal.
"É uma responsabilidade de Portugal, mas Portugal hoje é um parceiro e irmão da Guiné-Bissau, pelo que temos que buscar caminhos de entendimento para a resolução desta questão que nos diz respeito", sublinhou o parlamentar.
"Temos que buscar caminhos de convergência. Portugal tem sido solidário com a Guiné-Bissau e, nesta perspetiva, devemos colaborar, incluindo a questão dos ex-soldados guineenses do exército português no pacote da assistência social", frisou Baciro Djá, apontando que as pessoas a serem abrangidas não ultrapassam sete mil.
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Último poste desta série > 21 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7152: Os nossos camaradas guineenses (27): Dandi, natural de Jol, no chão manjaco, capitão da companhia de milícias do Pelundo, agraciado com Cruz de Guerra pelo Gen Spínola em 1972, fuzilado pelo PAIGC em 1975 (Manuel Resende / Augusto Silva Santos)
Guiné 63/74 - P7467: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (8): Noite de Natal de 1969 em Bissau (Carlos Pinheiro)
1. Mensagem de Carlos Manuel Rodrigues Pinheiro (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70), com data de 17 de Dezembro de 2010:
Caro Carlos Vinhal
Boas Festas para toda a Tabanca e para todos os Tabanqueiros Camarigos.
Cá vai mais uma pequena "estória", verdadeira como as outras, que procura relatar a Noite de Natal de 1969 no Centro de Mensagens do STM no QG/Bissau.
Se achares por bem a sua publicação, claro que seria para mim muito agradável poder dar a recordar a alguns e a conhecer a muitos outros, um pormenor importante numa noite importante.
Se isto vier a ser publicado, agradeço o teu habitual aviso.
Um abraço
Carlos Pinheiro
Noite de Natal de 1969 em Bissau
Nesta época natalícia há recordações da Guerra que nos vêm mais à memória e o melhor, antes que seja tarde é passá-las para o papel.
Era véspera de Natal de 1969 e, se bem que a guerra por vezes abrandasse, nunca parava. Era talvez a noite do ano em que mais cautelas havia, em que quem estava de serviço estava mesmo operacional, bem desperto, com os olhos e os ouvidos bem abertos não fosse o diabo tecê-las. E havia sítios e posições que nunca podiam ser descuradas. Por exemplo, na minha guerra, no STM do QG de Bissau, que comunicava com o mato, com todos os COPs, todos os Agrupamentos, todos os Batalhões, todas as Companhias e até muita outras subunidades, através das quatro redes de rádio (grafia) existentes, que comunicava com a Metrópole, em grafia e em fonia e às vezes até por teleimpressor 1), com o Batalhão de Telegrafistas na Graça, onde era a Direcção Nacional do STM, que depois encaminhava as mensagens para os destinos, que comunicava com a Marinha e com a Força Aérea através de teleimpressor quando funcionava, ou, na sua falta, pelos estafetas de serviço que levavam as mensagens em mão, mediante protocolo, ao Oficial de Dia à Unidade destinatária, a nossa guerra nunca podia parar. E as antenas colocadas ali bem perto, na Antula, eram o suporte e a garantia de que as mensagens chegavam aos seus destinos.
Também tínhamos já nessa altura o fac-simile, equipamento arcaico e nada funcional mas, que mesmo assim, foi o precursor do fax que apareceu muitos anos depois, e que só servia para fazer explorações esporádicas com o BT em Lisboa. Chegámos a ter, só para vista, na altura da visita do Director da Arma de Transmissões à Guiné, um teleimpressor pretensamente “ligado” ao Batalhão de Mansoa. Mas isso são contas de outro rosário.
Com o nosso macaquito, companheiro de todas as noites.
Nessa noite de Natal, depois de um jantar mais que atribulado que chegou a meter uma marcha até à messe de oficiais e ao "palácio das confusões" (messe de sargentos) onde os senhores estavam numa grande janta e o pessoal de serviço sem direito a nada, (a CCS/QG, vá-se lá saber porquê, tinha-se esquecido de nós) depois deste pequeno incidente se ter resolvido, e sem que a nossa guerra tivesse alguma vez parado, nessa noite que devia ser de paz, recebemos uma mensagem zulu, (relâmpago), duma unidade do mato de que já não me recordo, e que tinha estado a ser flagelada, a pedir somente, vejam bem, um FRAPIL, porque no ataque tinham ficado sem gerador e dentro em pouco ficariam sem comunicações uma vez que as baterias de emergência não aguentariam muito.
Já era tarde, talvez mais de meia-noite, quando isto aconteceu. Eu era o Chefe de Turno do Centro de Mensagens, como fui tantas vezes. Foi só chamar-se o motorista, ainda me lembro, o Mamadu Djaló que mais tarde foi motorista de táxi na cidade, que estava encostado no Unimog e pormo-nos a caminho do Batalhão do Serviço de Material, ali à Bolola, e entregar a mensagem ao Oficial de Dia para providenciar no sentido do solicitado chegar ao seu destino logo de manhã cedo. E assim aconteceu. Lá foi um Allouette III, bem cedinho, cumprir esta missão importante, de que nós tivemos logo o reporte quando o FRAPIL foi instalado e começou a cumprir a sua missão recolocando o rádio no ar.
Situações idênticas à que acabo de relatar, e outras muitíssimo mais graves, eram frequentes, sempre em resultado duma Guerra em que dois lados estavam empenhados. Mas esta, pelo simbolismo do dia, pela solidão da noite, pela saudade de outros Natais, nunca foi esquecida.
Nessa noite, como era habitual, os rádios nunca pararam, mas este caso foi de facto o mais relevante que aqui recordo com nostalgia.
Resta relembrar, quando havia noites calmas, e isso também acontecia por vezes, mesmo assim os rádios nunca paravam, porque de vez em quando, o Posto Director fazia os chamados QTRs, só para confirmar que os Postos estavam permanentemente em escuta. E a CHERET, estava sempre de ouvido bem aberto.
1) Teleimpressor – Equipamento de transmissão de mensagens escritas com teclado e rolo de papel acopulado, com gravador de fita, que foi o precursor do Telex que entretanto caiu em desuso.
Carlos Pinheiro
1º Cabo Op. Msgs.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 18 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7464: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (7): (Joaquim Mexia Alves / José Martins / Mário Migueis da Silva / José Manuel Matos Dinis)
Guiné 63/74 - P7466: Memória dos lugares (118): Destruição do Mercado Central Bissau (2) (Nelson Herbert)
1. O nosso Amigo e Jornalista da Voz da América (VOA), Nelson Herbert (foto à esquerda), sempre atento ao evoluir do nosso blogue, enviou-nos a seguinte mensagem complementando a informação lançada em anteriores postes sobre a mesma matéria.
Amigos, Envio em "Attached" duas fotografias do Mercado Municipal de Bissau... ou melhor do que restou daquele espaço, depois de alvejado por obuses disparados pela Junta Militar aquando do conflito civil de 1998/99 na Guiné-Bissau... Se a memória não me falha... a foto foi por mim sacada uns dias depois do Mercado ter sido atingido... E claro, com o fim do conflito foi alvo de restauração... e nesse caso contrariando a probabilidade, o "raio" acabou por abater-se pela segunda vez, sobre o mesmo alvo... já que um incêndio na década de 2000, destruía por completo aquele edifício, no coração da cidade de Bissau! Dêem-lhes a utilização que acharem conveniente!
Um Bom Natal... e um Novo Ano Cheio de Actividades... para o bem do Blogue!
Mantenhas
Nelson Herbert
Fotos: © Nelson Herbert (2010). Todos os direitos reservados
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
18 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7463: Memória dos lugares (117): Destruição do Mercado Central Bissau (Rui Fernandes)
Guiné 63/74 - P7465: (Ex)citações (121): A política dos povos é algo demasiadamente importante para ser entregue a militares (José Belo)
Caros Camaradas e Amigos.
Alguém escreveu: "A política dos povos é algo demasiadamente importante para ser entregue a militares."
A ter-se em conta os exemplos nacionais dos últimos 80 e tal anos, muito de verdadeiro haverá na afirmação.
De todos os Ramos das Forcas Armadas e da maioria das Armas do Exército existem bons exemplos de Generais e Almirantes que melhor imagem teriam na História se não tivessem abandonado casernas vocacionais por grandiosas missões de salvação nacional nas ribaltas políticas mais variadas. Sem querer de modo algum ofender o Camarada da Guiné que neste blogue publicou o poste sob o título: "Será que o PAIGC queria ganhar a guerra?", colocando-o em companhia de alguns destes senhores-históricos, permito-me alguns comentários de "desbocado". E, "desbocado", por (hoje), não me identificar de modo algum com as outras classificações possíveis apresentadas pelo autor no início do poste.
Tendo em conta que as visões de vitórias nos horizontes das guerras coloniais são sempre mais evidentes quanto elevadas as perspectivas (e passe a ironia involuntária quanto ao elevado das perspectivas de aviadores lá nos altos azuis); é óbvio que em nada se poderão comparar com as "visöes" de um par de botas enterradas na lama das bolanhas, sejam estas de "tropa macaca" ou "especial".
É claro que nisto de... altitudes, seria injusto a referência única às geográficas.
Do alto de sedes de Batalhão, (onde as intelectualidades dos pobres dos combatentes nunca atingiam níveis analíticos de outras especialidades por lá existentes), a tal altitude visionária de certezas absolutas feita ainda hoje é evidente. Não sei se seria a água podre que tantos foram obrigados longos meses a beber, se a comida indigna de animais que chegava às marmitas dos destacamentos isolados, o dormir no chão de um alpendre de palhota (época das chuvas incluída!), que acabaram por criar péssimos campos de cultura para tais visões de vitórias evidentes junto destes... "mais desfavorecidos".
Aparentemente na sua busca de um... clarinho, clarinho, para militar entender... o autor do poste simplificou (talvez em demasia), uma muito vasta e complexa realidade política e militar, tanto aos níveis locais e nacional, como, não menos, internacional. Se no entanto, buscamos com estas nossas tão inocentes trocas de opiniões atingir um certo (e saudável!) humor, a frase posta em suposto pensamento de políticos nacionalistas guineenses: "Estávamos tão bem sem termos que ganhar a guerra", obterá talvez o mesmo sentido humorístico se colocada no pensamento de alguns dos Barões Galaico-Portugueses, antes de um tal príncipe A. Henriques se ter lembrado de criar todas as condições de base para a grave crise económica que hoje tanto atormenta o nosso querido Portugal.
Um grande abraço desde Estocolmo.
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 16 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7295: (Ex)citações (109): Alguns considerandos muito intimistas (José Belo)
Vd. poste de 16 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 – P7452: FAP (57): Será que a cúpula do PAIGC queria ganhar a guerra? (António Martins de Matos)
Vd. último poste da série de 15 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7439: (Ex)citações (120): Destruição e incêndio do Mercado Central de Bissau (Francisco Henriques da Silva)
Guiné 63/74 - P7464: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (7): (Joaquim Mexia Alves / José Martins / Mário Migueis da Silva / José Manuel Matos Dinis)
1. Em mensagem do nosso camarigo Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 16 de Dezembro de 2010:
NOITE DE NATAL NA GUINÉ
Os olhos bem abertos tentam rasgar a noite escura que tem à sua frente.
Ouve o silêncio da mata da Guiné, e aqui e ali o rápido crioulo, que sai de cada tabanca, onde os soldados já recolhidos, põe em dia a conversa.
Tudo naquele ambiente lhe nega o Natal!
As gotas de suor que teimam em descer da sua testa até ao pescoço, fruto do calor e da humidade insuportáveis, que o fazem estar a milhas de distância do frio da sua terra, que tão bem convida à lareira!
O copo de whisky na mão, uma mão cheia de caju, coisas que nada têm a ver com o vinho tinto encorpado da ceia de Natal, a acompanhar o peru recheado, ou o “eterno” e fiel amigo!
O silêncio avassalador da mata que o rodeia, o receio entranhado de que esta noite de Natal seja aproveitada para fazer uma festa, festa que nada tem a ver com a vida, mas apenas com a morte!
E aqueles homens que o rodeiam, “família” agora presente e obrigatória, tão dentro do seu coração como a outra, a sua, (que tão distante está), mas diferente, bem diferente nos hábitos e nas atitudes!
Não, esta não é decididamente uma noite de Natal!
Revolvem-se-lhe as entranhas do pensamento e da memória!
É a primeira vez, nos seus curtos vinte e dois anos, que passa o Natal fora da família.
Um nó apertado toma-lhe a garganta, e uma lágrima teimosa aparece nos seus olhos.
Não, não pode ser!
Que raio de homem seria, que raio de testemunho daria a todos aqueles que com ele vieram e nele confiam, nele vêem a esperança de regressar à família, ou dos outros que agora estão consigo e querem continuar com as suas famílias, nas suas tabancas, nas suas vidas.
Há que encontrar ânimo, razões para festejar a noite de Natal, visto que a fé adormecida, o afasta da espiritualidade em tempos vivida.
E as razões, encontra-as na terra onde está!
Afinal na sua terra agora distante faz frio para lareira, mas verdade é que Jesus Cristo nasceu em Belém, que é um lugar quente e húmido!
E os presépios fazem-se com musgo, o que, se não está enganado, é coisa que não existe onde Jesus nasceu!
E ainda mais, pois Jesus nasceu num curral segundo uns, ou numa gruta segundo outros, o que é bastante parecido com o abrigo em que agora vive!
Ah, afinal não está assim tão longe do Natal!
Um sorriso já lhe baila nos lábios! Já se sente mais feliz, mais em paz, mais em família, mais em Natal!
E depois… depois segundo se diz, “Natal é sempre que um homem quiser”, e ele decide entender isto como um convite a fazer a paz, a fazer o bem, a acolher e a dar-se, pois sempre que um homem assim faz, “faz-se Natal” também.
Sem pensar em mais nada, abraça com força e alegria os que estão ao seu lado, e depois vai de tabanca em tabanca, e grita bem alto lá para dentro:
- Feliz Natal, e paz aos homens de boa vontade!
Monte Real, 16 de Dezembro de 2010
Com esta história agora inspirada, (que não se passou, mas podia ter passado), desejo a todos os meus camarigos um Santo e Feliz Natal!
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2. Mensagem de José Marcelino Martins* (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 15 de Dezembro de 2010:
Desejo de boas festas para todos e um abraço
José Martins
3. Mensagem de Mário Migueis da Silva (ex-Fur Mil Rec Inf Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72), com data de 18 de Dezembro de 2010:
Caro amigo:
Uma vez mais fiz uma péssima gestão do tempo e agora, já com os meus filhos à minha volta para o Natal, não tenho disponibilidade para fazer, em tempo útil, a "brincadeira desenhada" que tinha nos meus planos. Vai ter que ficar para o Natal de 2011, esperemos que já sem crise.
À falta de melhor, envio-te meia dúzia de letras e um desenho original, tudo "confeccionado" em Bambadinca, quarenta anos atrás (Santa Maria!!!...), por alturas do meu primeiro Natal longe de casa. É o meu modesto contributo para o mural do nosso querido blogue, que, reconheço, merecia da minha parte um maior empenho.
Fico-me com um grande abraço e os meus votos de Boas Festas.
Mário MIgueis
O GATITO
Uma mesa. E na mesa, um brinquedinho de corda, em forma de gato, que anda e mexe o rabo. E diverte quatro camaradas meus, que se juntaram à sua volta. Riem, falam-lhe quase ao ouvido, tocam-lhe no rabito tremeliques, parecem crianças. E, no entanto, orgulham-se, e com razão, de pertencerem já ao rol da velhice, que dezassete meses de Guiné é muito. Ah, pois é, e então para quem, como eu, acabou de completar o primeiro mês!...
Mas, a verdade é que o gatinho de latão é mesmo giro. É giro e faz-me lembrar as palavras do velhinho Roda, no dia em que cheguei a Bambadinca. Tendo-me encontrado, sentado na cama, a olhar para o tecto, deu-me uma palmada nas costas e disse a sorrir:
- Ouve lá, ó pira, tu, aqui, ou arranjas com que te entreteres ou ficas apanhado num instantinho! Pensar é manga de aborrecido!...
E assim é na realidade. A velhice que o diga. Pensar?... Antes mexer no rabo do gato!...
Bambadinca, 15 de Dezembro de 1970
Mário Migueis
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4. Mensagem José Manuel Matos Dinis* (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 16 de Dezembro de 2010:
Meus Amigos,
Acho que já aqui vos revelei que sou ateu, pelo que o Natal, para mim, devia ser uma prática contínua, de todos os dias, conforme o dito popular. Da maneira como se apresenta perante a sociedade onde vivo, faz-se anunciar como uma trégua nos desfavores da vida quotidiana. Qual trégua? As pessoas esfolam-se em correrias nervosas para comprar, comprar, festejar, festejar, desejarem ao tio, ao primo, ao padrinho, à madrinha, ao colega e à colega, num frémito alucinante do que se tornou um conjunto de obrigações obecessivas, e que nos deixam à mingua de tudo, e, ainda, com o sentimento de termos falhado aqui, ali, em toda a parte.
E tesos... quando não empenhados.
No entanto, agradeço verdadeiramente os vossos votos natalícios, porque, em alguma medida, o Natal faz parte da minha cultura, e tiveram o cuidado de me incluir no lote das vossas referências, além de que é sempre bom receber esse género de votos camarigos, de mensagens optimistas, de propósitos que concorram para a nossa felicidade.
Nesta medida, também gostaria de formular votos de Natal tranquilo, com muitas alegrias, e que o próximo ano nos reserve sorte para nos mantermos à margem dos problemas mundiais que, aqui em Portugal, como na Guiné e em toda a parte, vão acentuar a crise, as relações entre as oligarquias, e as consequências derivantes para os povos, a que talvez possamos fazer frente, se imbuídos de espírito coeso e fraterno.
Abraça-vos o
JD
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 17 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7460: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (6): Uma história de Natal (José da Câmara)