segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7478: Os nossos seres, saberes e lazeres (27): Victor Garcia, alfacinha e benfiquista, ex-1º Cabo At, CCAV 2639 (Bula, Binar, Capunga, 1969/71): um exemplo e um motivo de orgulho, para todos nós, antigos combatentes, na luta contra a iliteracia informática (Parte I)




Guiné > Região de Cacheu > Carta de Bula (pormenor), 1953, 1/50000 > A CCAV 2639 (1969/71) esteve em Bula, Binar e Capunga... A norte da estrada Bula - Binar - Bissorã (em direcção a Farim), o PAIGC tinha uma das suas bases, Choquemone, um nome mítico, em meados de 1969, quando eu cheguei à Guiné.





1. Já em tempos apresentámos aqui a página, na Net, do nosso camarigo Victor Garcia (*),  ex-1º Cabo At da CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71).

O Victor é hoje já um ás da informática, tendo uma história muito bonita em matéria de luta contra a iliteracia informática... Benfiquista de coração, alfacinha de gema, da freguesia de Marvila,  reformado, ele é um exemplo e um motivo de orgulho para todos nós, antigos combatentes, de quem se ouve dizer, com demasiada frequência, “que burro velho não aprende línguas” (neste caso, saber mexer com um compudor, mandar um mail, consultar um blogue)…

Aqui fica um excerto da verdadeira lição que nos deu, em 2009, a todos nós, seus leitores da sua página na Net:

(...) Esta ideia nasceu porque o meu filho entendeu que eu hoje com 60 anos tinha que ter a mesma capacidade no campo informático que ele tem.

Ele além de logicamente ser mais novo do que eu (hoje com 34 anos) é também um excelente profissional no campo do Web Design estando a laborar numa empresa credenciada do País.

Há cerca de mais ou menos dois anos atrás ofereceu-me alguns livros sobre programas informáticos entre os quais estava o Powerpoint, o qual foi um dos livros técnicos que logo me despertaram a curiosidade.

Pois com esses livros e com a colaboração da minha filha que se prontificou a que fosse instalado um segundo disco no seu computador para que eu pudesse ir praticando as técnicas informáticas, fui iniciando esta nova descoberta.

Com a persistência e com algumas asneiras à mistura lá consegui ir entrando nos programas e acabei por ir fazendo umas brincadeiras que estão englobadas nesta página no sector dos PPS power points.

(...) Acabei por adquirir a minha própria máquina e hoje sou autónomo nesse campo. Entretanto [o meu filho] entendeu que eu seria capaz de fazer a minha página da Internet e no Natal de 2008 ofereceu-me um livro e um programa para construção das páginas.

Achei uma loucura da parte dele mas conseguiu convencer-me de que eu as faria e acabei por meter mãos à obra e pouco a pouco fui fazendo o que está à vista. Sei que não está uma obra de arte mas (...)

Isto acaba por dar razão ao velho ditado, que velhos são os trapos. (...) Victor Garcia.

A sua página na Net merece uma prolongada e atenta visita. Não faltam motivos de interesse, desde documentação fotográfica sobre a sua companhia e o subsector de Bula, a  dezenas e dezenas de trabalhos  seus (eu contei mais de 150!!!)  em "power point" sobre os mais diversos temas: pessoais, locais (nacionais e internacionais), arte, deporto, música, vida animal, calendários, símbolos, transportes,  festivos,  vídeo e flash, vários... 

Destaco três de que gostei: Locais internacionais > Ginéu Bissau; Pessoais > CCAV 2639 e os Kimbas; O Amarelo da Carris... Mas há muitos mais explorar...  incluindo o excelente álbum fotográfico da CCAV 2639, de que reproduzo aqui, em formato extra-largo, alguns imagens seleccionadas e editadas por mim... Com a devida vénia ao nosso camarigo Victor Garcia e votos de um Natal alegre e criativo.






CCAV 2639: Embarque em Lisboa, no T/T Uíge, no Cais da Rocha em 22/10/1969



Chegada a Bissau em 28/10/1969 


Período em Binar (de 2/11/1969 a 20/12/1969) > Em 17/12/1969, na zona operacional do Foncho



Período em Bula (de 20/12/1969 a 10/01/1970) > Em Bula, 6/1/1970, junto ao Héli-Canhão com o Aquino




Período em Capunga (de 10/1/1970 a 25/6/1970) > Reencontro com o irmão, Necas Garcia, em Bissau, em 9/3/1970



Em 2/05/1970, em  Capunga >(Grupo de 7 militares do 3º Pelotão, os Kimbas) > De pé: Pereira, Ferreira, Furriel Serra, João Moura e Nogueira; agachados: Marco Paulo e Torcato





Período em Bula (de 25/6/1970 a 25/7/1970) > Em 7/7/1970 em operação na
zona do Bipo





Período em Capunga (de 25/7/1970 a 24/8/1970) >Em 9/8/1970 em Capunga,  junto da povoação de Capunga, na estrada que liga Bula a Binar




Período em Bula (de 24/8/1970 a 23/10/1970(  > Em 4/9/1970 em Bula, com Aquino, junto do memorial do BCAV 1915 (1967/69).


(Continua)

Fotos (e legendas): © Victor Garcia (2009) (Com a devia vénia...) (Fotos editadas por L.G.) (**)

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Notas de L.G.



(**) Último poste desta série > 14 de Dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7477: Resenha histórica da CCAÇ 764 (Aldeia Formosa, Colibuia, Cumbijã, 1965/66): Pela garra se conhece o leão (Parte II) (António Clemente)

Continuação da publicação de uma pequena resenha histórica da CCAÇ 764, feita pelo ex-Fur Mil António Clemente, residente em Fátima [, foto à esquerda, em Tavira, Dezembro de 1963, onde esteve com o Mário Fitas], feita em homenagem a um camarada morto em Cumbijã, em 15/4/66, o Peitinhos, de seu nome completo Manuel Díquel  (ou Vítor ?) dos Reis Prazeres, natural de Mira de Aire, concelho de Porto de Mós, Sold At 1211/64 (*).  


Segundo o portal Ultramar Terraweb, do nosso camarigo Mário Pires, o segundo nome do Peitinhos era é Vitor... No texto do Clemente, aparece Díquel. (Enfim, temos aqui o pequeno diferendo a esclarecer).


CCAÇ 764 (Aldeia Formosa, Colibuía, Cumbijã, 1965/67), companhia independente > Parte II

por António Clemente


Desde finais de Maio de 1965, a CCAÇ 764 ficou adstrita ao BCAÇ 1861 (Buba,  1965/67), com os seus grupos de combate distribuídos da seguinte forma:  (i) Comando da Companhia e 3º Gr Comb em Aldeia Formosa; (ii) 2º Gr Comb, em Colibuía; (iii)  1º Gr Comb, em Cumbijã, não havendo referência ao 4º Gr Comb. A sua divisa era: Ex ungue leonem (traduzindo o latinório à letra, Pela garra se conhece o leão...).


O António Clemente enviou-nos este trabalho, através do camarigo Mário Fitas, também com a menção expressa de ser um "presente de Natal" para nós, membros da Tabanca Grande, gentileza que já agradecemos e retribuímos,  sentando-o connosco debaixo do nosso gigantesco e mágico poilão, agora ainda mais bonito com as luzinhas do nosso Natal de 2010... (LG)










(Continua)






Guiné > Região de Tombali > Cumbijã > CCAV 8351, Os Tigres de Cumbijã (1972/74) > Um aquartelamento construído de raíz, entregue ao PAIGC em 19 de Agosto de 1974. Foto do ex-Cap Mil Vasco da Gama, natural de Buarcos, e nosso grande camarigo.

Foto: © Vasco da Gama (2010). Direitos reservados

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Nota de L.G.:


(*) Vd. postes de:

Guiné 63/74 – P7476: Parabéns a você (192): José Casimiro Carvalho (ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAV 8350 (Miguel Pessoa & Editores)



1. Completa hoje o seu 59º Aniversário o nosso Camarada José Casimiro Carvalho, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAV 8350 “Piratas de Guileje” - Guileje e Gadamael -, e da CCAÇ “Lacraus de Paunca” -
Gadamael, Guileje, Nhacra e Paúnca -, (1972/74).
Postal ilustrado: © Miguel & Giselda Pessoa (2010). Direitos reservados.

Lamego (?) > s/d > Na foto, o nosso ranger, à esquerda, posa com a Kika (sua filha mais velha), o General Lemps Pires (1930-2009), a Sofia (sua filha mais nova) e o General José Alberto Cardeira Rino (OpEsp/RANGERs)... J. Casimiro Carvalho mora em Vermoim, na Maia, e é casado há 35 anos. A filha Kika tem 34 anos (secretária administrativa) e a Sofia tem 29 (economista). E já tem uma netinha, a Beatriz (nasceu em 2008).





Guiné > Região de Tombali > Cacine > Maio de 1973 > Na altura (22 de Maio de 1973) em que Guileje foi abandonada pelas NT, o J. Casimiro Carvalho estava em Cacine, coordenando o reabastecimento destinado à sua companhia. Os géneros vinham de Bissau, em batelões, até Cacine, e depois em LDM até Gadamael e, por coluna, até Guileje.  Nesta já famosa carta, publicada na série Cartas do corredor da morte, ele conta aos pais a inesperada notícia do abandono do aquartelamento: "Se foi com ordens de Bissau que se abandonou a nossa posição, posso dar graças a Deus e dizer que foi um milagre, mas se foi uma insubordinção nem quero pensar"...  Mas uma coisa é certa: "Guileje ficou à mercê 'deles'. Não sei se as minhas coisas estão lá, ou se os meus colegas as trouxeram, tinha lá tudo [, incluindo o meu querido patacão...], mas paciência!"... 

Já em tempos tínhamos oportuna e justamente agradecido ao nosso camarigo da Maia o carinho e o apreço com que ele nos fez chegar este lote de correspondência. Foi um período doloroso para ele, por motivos óbvios e mais um: o seu velhote, seu cúmplice e confidente na correspondência de Guileje, havia falecido uns tempos antes (LG) .


Fotos: © J. Casimiro Carvalho (2007). Todos os direitos reservados.


2. Em nome do nosso Camarada Luís Graça, colaboradores deste blogue e demais elementos desta tertúlia “tabancal” desejo que no festejo de mais este aniversário, sejas muito feliz junto da tua querida família e que esta data se repita por muitos, bons e férteis anos, plenos de saúde, felicidade e alegria.

Que por muitos mais e boas décadas, este "aquartelamento" de Camaradas & Amigos te possa enviar mensagens idênticas a esta e às que hoje lerás no “cantinho” reservado aos comentários.

Estes são os sinceros e melhores desejos destes teus Amigos e Camaradas, com um grande abraço fraterno
.
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
19 de Dezembro de 2010 >
Guiné 63/74 - P7469: Parabéns a você (191): Humberto Reis, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 12 e João Melo, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAV 8351 (Tertúlia / Editores)

domingo, 19 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7475: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (11): Boas-Festas da Tertúlia

O MURAL DO PAI NATAL DA TABANCA GRANDE 2010 (11)


1. Do nosso camarada António Pimentel, ex-Alf Mil Op Esp da CCS/BCCAÇ 2851, Mansabá e Galomaro, 1968/70:

Para que nos lembremos que o que importa não se embrulha.

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2. Do nosso camarada Luís Dias, ex-Alf Mil da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74:

Caro Amigo/a
Desejo-te um Feliz Natal e um Bom Ano Novo, extensível a toda a tua família.
Um abraço
Luís Dias
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3. Do nosso camarada Victor Barata, ex-Especialista da FAP, BA 12, 1971/73:

São os votos sinceros da "malta" do ar.
Victor
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4. Do nosso camarada Benito Neves, ex-Fur Mil da CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67:

Para todos os tertulianos e suas famílias, votos de um Santo e Feliz Natal e que o Novo Ano seja próspero em todos os aspectos, particularmente em saúde.
Benito Neves
CCAV 1484
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5. Do nosso camarada António Paiva, ex-Soldado Condutor no HM 241, 1968/70:



Caro Carlos


Talvez vá um pouco atrasado, mas não quero deixar passar a quadra sem me juntar aos desejos de BOAS FESTAS.
Desta vez mando o presépio cá de casa.
A todos os tertulianos e suas Famílias desejo um FELIZ E SANTO NATAL, que o 2011 nos traga ao menos a esperança para vermos dias melhores.
Um abraço
António Paiva
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6. Do nosso camarada António Barbosa, ex-Alf Mil Op Esp da 2.ª CART/BART 6523, Cabuca, 1973/74:

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7. Do nosso camarada José Belo, ex Alf Mil Inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, actualmente Cap Inf Ref, a viver na Suécia:

Um pouco da Lapónia com votos para os camaradas de um Feliz Natal e Bom Novo Ano. 
(Foto Dagens Nyetter.)
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8. Do nosso camarada Hilário Peixeiro, ex-Cap Mil, CMDT da CCAÇ 2403, Piche, Fá Mandinga, Olossato e Mansabá, 1968/70:

Votos de Santo e Feliz Natal
Com um abraço
HPeixeiro

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9. Do nosso camarada Herlânder Simões, ex-Fur Mil da CART 2771 e CCAÇ 3477, Nova Sintra e Guileje, 1972/74:

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10. Do nosso camarada Aníbal Magalhães, ex-Alf Mil da CCAÇ 2465/BCAÇ 2861, e Bissum-Naga, 1969/70:

Amigo e camarigo Luís:
Para ti e co-editores um Feliz Natal e Bom Ano Novo
Um abraço
Aníbal Magalhães
CCAÇ 2465/BCAÇ 2861
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 19 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7472: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (10): Maneiras distraídas de viver a vida… (José Eduardo Oliveira)

Guiné 63/74 - P7474: Resenha histórica da CCAÇ 764 (Aldeia Formosa, Colibuia, Cumbijã, 1965/66): Pela garra se conhece o leão (Parte I) (António Clemente)


Tavira > Cismi > 1963 > Adeus, Tavira > Da esquerda para a direita, Rui Lobo, António Clemente, Mário Fitas e um quarto elemento não identificado. O Clemente acaba de entrar para a nossa Tabanca Grande, com o nº 462, pela mão do seu e nosso camarigo Mário Fitas  (*)








CCAÇ 764 (Aldeia Formosa, Colibuia, Cumbijã, 19675/66),  Ex ungue leonem, pela garra se conhece o leão...


Companhia de Caçadores, nº 764, independente (Guiné, 1965/66)






(Continua)

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Nota de L.G.:



Guiné 63/74 - P7473: Tabanca Grande (255): António Clemente (CCAÇ 764, Aldeia Formosa, Colibuía, Cumbijã, 1965/66), apresentado pelo seu camarigo de Tavira, Mário Fitas


Tavira > Cismi > 1963 > Adeus, Tavira > Da esquerda para a direita, Rui Lobo, António Clemente, Mário Fitas e um quarto elemento não identificado



Tavira > Cismi > 1963 > Pelotão de instrução da 2ª companhia, comandada pelo alf Cadete (ao centro, na fotografia). Pergunta o Mário Fitas: "Há por aí malta que saiba onde param os outros todos ?"

Fotos: © Mário Fitas (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados

1. Mensagem do nosso querido camarigo Mário Fitas (ex-Fur Mil Op Esp/Ranger da CCAÇ 763, “Os Lassas”, Cufar, 1965/66), com data de 18 do corrente:


Assunto - De Farda Amarela e Camuflado


Em anexo segue um escrito e uma resenha da CCAÇ 764 que me foi enviada pelo meu camarigo António Pereira Clemente, furriel miliciano da referida Companhia e que foi meu companheiro em Tavira no curso de Agosto a Dezembro de 1963,  fazendo parte do pelotão de instrução do agora Coronel Cadete que tinha na altura o alcunha de Patilhas. Mais tarde voltámos a encontrar no RI 1 mobilizados para a Guiné, onde nos reencontrámos na operação Razia.


A minha vivência com o António Clemente foi e é extraordinária, só não conseguindo trazê-lo para a nossa Tabanca, por não se querer meter na informática.


Seria um bom elemento contando as estórias de Farda amarela e camuflado.


Já que tenho alguns pormenores que podem enriquecer um pouco o seu escrito, informo que o capitão Teixeira era na altura,  com os seus quarenta anos, o capitão operacional mais velho da Guiné. Mais tarde foi substituído pelo hoje tenente General Cardeira Rino, meu instrutor de Operações Especiais em Lamego em Julho/Agosto de 1964.


Todas estas místicas histórias de CUMBIJÃ e arredores, têm tido grande relevo aqui no Blogue, pelas personagens que lá viveram e transcritas em livros. Refiro "Vindimas no Capim",  do nosso camarigo Zé Brás e no meu mal alinhavado "Putos, Gandulos e Guerra".


As dificuldades informáticas e carência de equipamento levaram-me a pedir a colaboração do meu velho amigo Furriel Comando João Parreira,  sempre disponível para trabalhar para a Nossa Tabanca.


Em outro e-mail seguem duas fotos de Tavira, para identificação do António Clemente e da malta do pelotão do então alferes Cadete.


Se virem que é de utilidade para o Blogue, o Clemente deu o consentimento de vos pôr este escrito à consideração.


O velho abraço como é usual, do tamanho do Cumbijã.


Mário Fitas


Fur Mil Op Esp dos Lassas


2. Comentário de L.G. / M.R.:


Grande Lassa, grande ranger, querido camarigo Mário: Que a falta de literacia informática, ou até de computador,  não seja motivo para impedir que o teu e nosso camarada António Clemente seja privado do convívio da Tabanca Grande e da visibilidade que o nosso blogue dá,  levando as nossas histórias e recordações até aos quatro cantos do mundo (incluindo a Guiné-Bissau onde temos gente que nos acompanha diariamente). 


O António vai entrar na nossa Tabanca Grande pela tua mão, e com o todo mérito. Vamos apresentar, em próximos postes, a resenha histórica que ele fez, com tanto carinho, sobre a sua CCAÇ 764, uma companhia, independente, sobre a qual não tínhamos até agora qualquer referência... Transmite ao teu camarada e amigo o que é significa pertencer a esta comunidade virtual de amigos e camaradas da Guiné. Ele passa a ser o camarigo nº 462. Diz-lhe que nos sentimos honrados por albergar, na nossa Tabanca Grande, mais um camarada do caqui amarelo.... 


E quanto a ti, obrigado, pelo teu gesto e camarigagem. Continuanos à espera da nova edição dos Putos, Gandulos e Guerra. Recebe um abraço do tamanho do Corubal. Um santo Natal para ti, e toda a família, incluindo a nossa bailarina. Luís Graça
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Nota de MR / LG:

Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P7472: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (10): Maneiras distraídas de viver a vida… (José Eduardo Oliveira)


1. O nosso Camarada José Eduardo Oliveira* (JERO) (ex-Fur Mil da CCAÇ 675, Binta, 1964/66), enviou-nos em 14 de Dezembro de 2010 a seguinte mensagem:
Camarigos,

Como entramos na semana do NATAL votos de Boas Festas. Boa saúde para vós e para os vossos. Com calma e com algum dinheiro para gastos. Mais fornicados do que estamos será difícil. Mas se a amizade que une se mantiver forte teremos sempre alguma coisa a que nos agarrar.

Mando mais um texto dentro do "estilo" Blogando e Andando. Acho que no nosso blogue terá lugar uma "estória" que não seja só relativa a recordações de guerra. Afinal passaram trinta e tal anos... para uns e quarenta e tal anos para outros... Como é o meu caso.
Maneiras distraídas de viver a vida…

O Fernando foi um homem de valor. Trabalhou e subiu na vida graças aos seus méritos. E era bom em tudo que se metia.
Tinha um sentido de humor muito especial e uma maneira um “bocado distraída” de viver a vida que “era mesmo”… só dele.
Conseguiu virar um Volkswagen (de cor verde alface) numa curva a caminho do seu local de trabalho e andou 100 metros – até à porta da Fábrica – de lado…
Sem sofrer uma beliscadura.
Quem se assustou mais foi o porteiro da Fábrica quando viu o carro aproximar-se em… apoio lateral!

Os responsáveis da Volkswagen diziam que este carro era impossível de capotar ou virar-se.

O Fernando conseguiu essa proeza!

Mas não se ficou por aí…

Na encosta de um vale lindíssimo, no sopé da Serra dos Candeeiros perto do local onde terá passado o exército de D. Afonso Henriques quando em 1147 (*), conquistou Santarém aos Mouros, havia (e ainda há) o Restaurante do Carrascal.
O prato forte da casa era um prato de bacalhau.
Quando serviam o seu célebre “bacalhau à Maria Matos”o restaurante enchia até à porta.
E quase sempre havia que esperar um bom bocado para conquistar um lugar sentado frente a “um” Maria Matos…
O Fernando (primeiro nome do protagonista desta história Fernando da Cruz Santos) aguardava esfomeado que chegasse à mesa o “seu” bacalhau.
Em mesa próxima alguém insistia com o Fernando que ele conhecia diversas pessoas da sua família.
O Fernando ia dando o”troco” possível à conversa… sem muito entusiasmo.

Queria mesmo era comer o bacalhau “à Maria Matos”. E o vizinho da mesa insistia.
- O senhor até conhece e minha mulher!
O Fernando conseguiu comer a primeira garfada e respondeu.
- Então o senhor é casado com…?
- Com a minha mulher!
- Ah pois!
E… finalmente, o Fernando conseguiu comer descansado.
O vizinho falador da mesa mais próxima ficou embatocado.
Com a sua maneira um “bocado distraída” de viver a vida o Fernando desarmava o mais “pintado”… e o mais chato.
Esta história verídica terá cerca de vinte anos.
Ainda esta manhã quando falava com um vizinho “chato”, que me tentava explicar quem era uma pessoa de quem eu não me lembrava… que era filha de “beltrano” e casada com “cicrano” eu me safei contando a história do Fernando.
Portanto o tipo era casado com… a mulher!!!
E escapei-me.
Não tem nada que enganar. Resulta sempre.

(*) - Em 1147, a moura renegada Zuleiman apresentou-se nos paços de Coimbra na presença de D. Pedro Afonso, irmão do primeiro rei de Portugal, surpreendendo o infante com a revelação que aquela seria a melhor altura para conquistar Santarém.
Zuleiman despeitada por ter sido abandonada por Muhamed, o alcaide de Santarém, queria vingar-se dando aos cristãos as informações que tinha sobre a defesa do castelo.
Entretanto, D. Afonso Henriques já tinha enviado o seu cavaleiro Mem Ramires a Santarém para estudar o inimigo e a astúcia e a cautela do cavaleiro foram fulcrais para a decisão do ataque.
Conta a lenda que foi na serra dos Albardos (ou dos Candeeiros) que o primeiro rei de Portugal fez a promessa de construir um mosteiro se Deus lhe desse a vitória.
Mem Ramires segurou a escada contra as muralhas por onde entraram os soldados e Santarém amanheceu cristã.
O mosteiro de Alcobaça foi construído em cumprimento de um voto do primeiro rei de Portugal.

Um grande abraço de Alcobaça do vosso irmão na guerra e na paz,

JERO
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Nota de M.R.:

Guiné 63/74 - P7471: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (9): Como vejo o Natal (José Corceiro)

O MURAL DO PAI NATAL DA TABANCA GRANDE 2010 (9)

1. Mensagem de José Corceiro (ex-1.º Cabo TRMS, CCaç 5 - Gatos Pretos , Canjadude, 1969/71), com data de 18 de Dezembro de 2010:

Caros amigos, Luís Graça, Carlos Vinhal, E. Magalhães.
Natal feliz para todos.
Atendendo à quadra Natalícia, envio este escrito que publicarão se acharem que vale a pena.
Um abraço e Boas Festas


Foi no dia de Natal de 2009, que me foi concedido o passaporte para ingressar na Tabanca Grande. Já passou um ano e tenho a sensação que foi ontem!
Esta noção desfasada da mensuração do tempo, será consequência da força da saudade do ontem? Estarei a ser espicaçado pelo desejo de voltar ao passado da minha meninice? Ou está-me a invadir o sentimento de regresso às origens? Não será este um sinal de que a velhice me começa a rondar?! Pois já tenho dois netos para contar histórias!

Ao fazer uma retrospectiva da apreciação da minha presença, durante este ano, no Blogue, quero exteriorizar o meu apreço por todos os tertulianos, porque duma maneira ou outra, têm-me enriquecido o conhecimento, através da leitura que faço dos vossos artigos, que tenho lido com muito interesse, assim como desejo confessar a minha gratidão por lerem os meus. Permitam-me que divulgue o meu testemunho, do quão benéfico e salutar têm sido os momentos de empenho, que dediquei ao Blogue, pois raro é o dia que passo sem visitá-lo, e alguns dias mais que uma vez. Não posso deixar de manifestar a minha estima por todos os tertulianos, embora só conheça pessoalmente cinco, mas para todos a minha incondicional admiração; pois aceito as qualidades e respeito as opiniões diversificadas de cada um!

Uma vista de parte da minha aldeia, Vale de Espinho.

Estamos na quadra Natalícia, festa de eleição nobre da família! Para mim, o Natal são momentos mágicos, de recordações vividas na minha aldeia durante a minha infância, onde com simplicidade e sem ostentação, na noite de consoada predominava o afecto e a união, em que a família se reunia à volta da lareira a crepitar, pois era frequente que no exterior estivesse a nevar! Nesta noite, na mesa de consoada, não podia faltar o bacalhau cozido com batatas e couves, regado com azeite novo já extraído do lagar, que tinham um sabor muito especial, assim como era obrigatório enfeitar a mesa com filhoses, rabanadas e o arroz-doce decorado com canela. Era hábito, após consoar, as famílias irem assistir à celebração da missa do galo, e ao sair da igreja todo o povo se dirigia ao adro, para degelar as mãos, na fogueira do madeiro que ardia, obra da juventude que organizava e acendia a fogueira do Natal, para louvar e aquecer o Menino Jesus.

Corceiro, há mais de 40 anos na sua terra, Vale de Espinho, no dia de Natal, em que fomos prendados com um forte nevão.

Natal, é sinónimo de amor, em que devemos compartilhar com os irmãos um pouco de ternura, doçura, compaixão e compreensão, para com aqueles que por diversas contingências da vida, vivem num desabitado gélido, triste e sombrio, que já não sabem dar, nem pedir, e vivem num silêncio que os remete à saudade deles próprios e precisam da nossa solidariedade.

Natal, é dar prendas, que as crianças ansiosamente esperam que lhe sejam colocadas no sapatinho, e o nosso gesto é gratificado pelos olhitos das crianças, que mais parecem duas luzentes estrelas.

Natal, é presépio atapetado com os sedosos musgos verdes, serpenteado com os trilhos por onde caminham as figurinhas típicas de barro, a levar os presentes ao Menino.

Natal, são cânticos de louvor alusivos à festa, entoados na missa com muito fervor.

Alegrem-se o céu e a terra/ Cantemos com alegria/ Já nasceu o Deus Menino/ Filho da Virgem Maria… - Oh! Meu, Menino Jesus/ Oh! Meu, menino tão belo/ Logo vieste nascer/ Na noite do caramelo!

Natal, é beijar o Deus Menino no fim da missa, que se reveste dum simbolismo ímpar, não será Natal, sem a acção de beijar o Menino.

Natal, é confraternizar com os amigos, aos quais se deseja felicidade, e na companhia dos quais se bebe um mata bicho.

Natal, é tristeza, lembrando aqueles que já não se sentam connosco à mesa.

Natal, é saudade da nossa meninice, e dos tempos passados.

Natal, foi também sofrimento e melancolia em Canjadude, na Guiné, onde passei o de 69 e o de 70, com os meus camaradas da CCAÇ 5.

Natal de 1970 em Canjadude, Guiné, no refeitório. Lado direito com máquina a tiracolo Corceiro, Viriato, sentado José Carlos Freitas, atrás deste Pinto, com cinturão Faria atirador, atrás deste Pimenta, de óculos Faria de transmissões, Santos, Coias e Almeida.

Natal de 1970 em Canjadude. Cenário que me serviu para fazer o cartão de boas festas de Natal. Neste caso o do Viriato.

Natal, é alegria, ao desejar a todos os membros da Tabanca Grande que sejam bafejados com bênçãos de Momentos de Serenidade, Paz, Compreensão, Tranquilidade, Fraternidade e União. Haja Amor. A Vida sem Amor não tem qualquer sentido! A vida é tão curta e a empreitada de vivê-la é tão difícil, e quando começamos a aprender a vivê-la, já é hora de partir e deixá-la. Vamos caminhar e viver calmamente, porque tudo passa, e se transforma. Haja Espírito de Natal, durante todo o Ano que se apróxima!

Feliz Natal e um Abraço para todos
José Manuel Silva Corceiro
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7467: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (8): Noite de Natal de 1969 em Bissau (Carlos Pinheiro)

Guiné 63/74 - P7470: Notas de leitura (179): A Luta Pelo Poder na Guiné-Bissau, de Álvaro Nóbrega (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Dezembro de 2010:

Queridos amigos,
A tese de mestrado de Álvaro Nóbrega é um trabalho digno de crédito, abre portas, favorece discussões salutares, alarga o horizonte polémico do conflito e da violência entre guineenses fora do contexto da luta armada.
É mais uma achega bibliográfica que justifica a indispensabilidade do blogue para a consulta dos estudiosos.
E após esta pausa sigo para os meus deveres na Operação Tangomau.

Um abraço do
Mário


A luta pelo poder na Guiné-Bissau

Beja Santos

Que a África é o continente com maior número de conflitos instalados parece ser matéria inquestionável. O que se passa neste momento na Costa do Marfim arrisca a repetir-se noutros pontos. Há situações adormecidas na Somália, Ruanda, Serra Leoa, Zaire, Zimbabué, Nigéria e (oxalá não fosse) a Guiné-Bissau. É um continente que conhece um processo tumultuoso na sua democratização. Os tempos difíceis da Guiné-Bissau tem vivido prendem-se com uma lógica do uso do poder que não vem de ontem. É o historial dessa lógica que levou Álvaro Nóbrega a lançar-se numa tese de mestrado que tomou em conta a longa tradição dos factores de conflito na Guiné e toda a problemática das crises de liderança que emergem da luta armada até à actualidade.

O resultado é estimulante e abre pistas bem curiosas para melhor compreender a Guiné-Bissau da actualidade (“A luta pelo poder na Guiné-Bissau”, por Álvaro Nóbrega, ISCSP – Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, 2003).

Que propõe o investigador, acima de tudo? Identificar os mais salientes factores endógenos que contribuem para exercício da violência no poder e para compreender a resposta do poder político local na resolução dos conflitos. Para tal, o estudioso recorreu a trabalho de campo, procedeu à história oral, mergulhou nos arquivos, rodeou-se de bibliografia elementar, assim chegou a uma cartografia onde foi posicionando os instrumentos da sua análise, vejamos a que conclusões acabou por chegar, em consonância com a sua pesquisa e análise.

Primeiro, questionando a Guiné-Bissau como unidade política autónoma, desvela que apesar da exiguidade de recursos, o país possui algumas condições para manter a sua integridade: possui uma língua franca, o crioulo, hoje a generalidade da população usa-a supletivamente ao português; não há incompatibilidade étnica estrutural, se bem que o peso do direito costumeiro tenha uma importância indiscutível; não há uma clivagem agressiva entre etnias politicamente descentralizadas (caso dos Balantas ou Felupes) e etnias politicamente centralizadas (caso dos Papéis ou dos Bijagós), a zona islamizada do país não revela pretensões hegemónicas e muito menos fundamentalistas; a apropriação de terras não tem gerado conflitos étnicos, pelo contrário verifica-se que a ocupação do território após a independência se tem desenvolvido pacificamente; o espaço urbano de Bissau é o verdadeiro quebra-cabeças do país, a cidade cresce anarquicamente, a qualidade dos serviços é paupérrima e os habitantes não dispõem dos equipamentos minimamente necessários para se falar numa qualidade de vida satisfatória; se não há fome o mesmo não significa que não haja carências alimentares, graças aos recursos piscícolas e ao uso da terra a base da auto-sustentação permite que não se morra de fome; enfim, país maioritariamente agrícola, dependente de uma monocultura (caju), com elevadas riquezas na plataforma continental marítima, a Guiné-Bissau dá pouca esperança aos seus trabalhadores especializados, dispõe de muito poucas indústrias, não investe não habilitações técnico-profissionais, criou a habituação e a resignação na dependência da ajuda internacional.

Segundo, a Guiné tem uma longa tradição de violência, e não só dos autóctones contra os portugueses. Álvaro Nóbrega convoca a historiografia para nos recordar o que foi a via-sacra das operações militares das autoridades portuguesas até 1936, os conflitos interétnicos, a violência das tradições (aqui entendidas como os cerimoniais animistas que envolvem oferendas de vitimas e a imolação de animais, a feitiçaria, o peso da justiça tradicional, os infanticídios rituais, a antropofagia, o roubo de gado, isto para já não falar na prática social corrente das sociedades escravocratas). Nomeadamente a partir da luta armada, a Guiné-Bissau viu-se confrontada com o novo tipo de conflito latente, entre a modernidade sociopolítica e cultural e o peso da lógica tradicional. Logo a seguir à independência, o PAIGC acreditou que bastava fuzilar ou demitir as autoridades tradicionais e substitui-las pelos comités de tabanca para que o país desse um salto para a modernidade. Nada aconteceu assim, depois do golpe de 14 de Novembro de 1980 voltou-se ao compromisso com o direito costumeiro, a justiça tradicional e o poder dos chefes locais. Violência dissimulada ocorreu entre a burguesia cabo-verdiana que dominou ideologicamente o PAIGC e os combatentes guineenses; no entretanto, com a morte de Amílcar Cabral que, como se veio a descobrir, era o único produtor ideológico singular, o pensamento político dentro do PAIGC conheceu altos e baixos e atracções pelo socialismo tipo soviético até pulsões da mais descarada liberdade de mercado. Que detém o poder do dia possui uma visão patrimonial do Estado, constrói os seus mecanismos de recompensas materiais, cria cadeias de lealdade, destitui e nomeia a seu belo prazer.

Terceiro, o autor vem interrogar toda esta luta pelo poder a partir dos nacionalistas que se afirmaram na Casa de Estudantes do Império, prossegue com a análise da especificidade guineense da passagem à luta armada, descreve os acontecimentos do Congresso de Cassacá, em que Amilcar Cabral mandou punir os comandantes torcionários que aterrorizavam as populações, recorda o assassinato de Amílcar Cabral e o estranhíssimo silêncio que continua a envolver a conspiração, enuncia os crimes perpetrados e os ajustes de contas com quem foi leal com as autoridades portuguesas, explica as razões do chamado “Movimento Reajustador” e a repressão subsequente, demissão de políticos, golpes de Estado fantoches, perseguições pessoais, etc. A partir do momento em que o comunismo colapsou, até mesmo os radicais do PAIGC se aperceberam que devia haver mudança, entretanto chegara-se ao colapso económico, ao défice público permanente, dentro do PAIGC estalaram as facções e a aura messiânica de Nino Vieira caminhou para o acaso. Assim se chegou ao conflito de 1998 – 1999 que veio exaurir a Guiné, levar Nino Vieira ao exílio, ao assassínio bárbaro do brigadeiro Ansumane Mané e à ascensão do demagogo Cumba Ialá, por sua vez forçado a demitir-se depois de uma presidência de tragicomédia.

De tudo isto, que conclui o investigador? A complexidade do carácter nacional em que, curiosamente, “a diversidade é uma riqueza, mas contém em si um potencial de conflito”; o PAIGC continua a ser o eixo central do sistema político, com desavenças e reconciliações; na Guiné-Bissau, a luta política não pode ser dissociada da violência que terá as suas raízes no passado militar de muitos dos dirigentes do PAIGC; regista-se uma cristalização do pensamento de Cabral, ele é utilizado arbitrariamente, oportunisticamente ou, em desespero de causa, como o único cimento possível para invocar a lógica nacional; se durante a luta armada, e até 1980, os militares estavam enquadrados pelos dirigentes políticos, com Nino Vieira o poder militar superlativou-se e é hoje uma roda livre na cultura do poder. A retoma pela subordinação do militar ao político é uma das pedras essenciais para que se possa vir a falar na sinceridade e justeza do processo democrático.
Álvaro Nóbrega analisa com rigor todas as peças deste conflito, a leitura do seu estudo é recomendável para quem queira perceber a essência e a expressão do conflito permanente em que vive a classe política na Guiné-Bissau e como está divorciada dos reais interesses das populações.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 18 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7462: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (6): Bambadinca, recordações da casa dos mortos

Vd. último poste da série de 17 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7456: Notas de leitura (178): Breves Considerações Sobre Plâncton - Copépodes da Guiné, de Dr.ª Emerita Marques (Mário Beja Santos)