Texto de João Tunes (2004) (ex-alferes milicano no Pelundo e, depois, em Catió). Reproduzido com a devida vénia. Do seu Blogue > Bota Acima
1 de Abril de 2004 > Memória de Teixeira Pinto / Canchungo (Guiné-Bissau – 1970)
Meto-me no jipe e faço-me à estrada que liga Pelundo a Teixeira Pinto (hoje Canchungo). O tempo está quente e muito húmido. A camisa está quase colada ao corpo e os braços e a cara estão peganhentos por causa do suor que não se evapora. Não estranho, já estou habituado.Vou sozinho no jipe. A estrada sempre foi segura. A zona está mais que controlada. Seria um mero passeio se não tivesse uma missão a cumprir.
Levo comigo a inseparável G3 (a noiva negra dos tempos de guerra) e uma espingarda de pressão de ar de fabrico polaco que comprei na última ida a Bissau e que convem ter à mão para apanhar rolas que possam servir de base para um petisco de convívio no dia seguinte. A missão é de rotina. Tinha de trocar os códigos de cifras desactualizadas por outros novos. Tenho tempo de chegar e de voltar. Dá para encher os olhos com o verde vivo do arvoredo cerrado e as milhentas espécies de aves de muitas cores.
Conduzo devagar, apenas com uma mão a segurar o volante. A outra mão assenta no joelho mas bem perto da coronha da G3. Não é por nada. A zona é segura mas aqueles sítios são magníficos para uma emboscada. Olá se são. Levo as cifras comigo, e embora estejam desactualizadas, nunca fiando porque elas, mesmo assim, dariam jeito ao PAIGC. Sem problemas. Tirando o calor e a humidade.
Entro no comando militar da zona, trato do que tenho a tratar. Os oficiais convidam-me para almoçar, o que já contava. Aceito com gosto. Malta porreira e com pessoas que é um encanto conversar. Para mais, em Teixeira Pinto, a comida era óptima para os padrões da colónia. Spínola tinha levado, para Teixeira Pinto, a sua elite de oficiais, na aposta de transformar o "chão manjaco" num caso de sucesso de adesão das populações à sua política e de contenção da guerrilha.
O comando era ocupado pelo Coronel Paraquedista Alcino, um bonacheirão e homem que muito sabia de guerra. Abaixo dele, havia o Major Passos Ramos, responsável pelas operações, o Major Pereira da Silva, responsável pelas informações militares e o Major Osório, condecorado com Torre e Espada e várias Cruzes de Guerra, que era o homem dos combates.
Na parte guerreira, vários oficiais fuzas, todos eles recheados de condecorações por bravura em combate. A seguir ao almoço, havia sempre um convívio relax no bar de oficiais, onde dava para se descontraírem as conversas, pondo-se a escrita em dia enquanto se bebiam uns (infindáveis) digestivos.
Não me diziam grande coisa os oficiais de combate. Com eles, as histórias andavam por repetição de feitos em golpes de mão ocorridos algures. Ainda por cima, agora tinham pouco para contar, porque a zona estava tranquila e as operações especiais eram só de quando em vez para os casos de haver informações de movimentos entre bases da guerrilha ou de infiltração desta nalguma aldeia. Até se mostravam um pouco nervosos com a inércia a que estavam amarrados.
Um dos dois tenentes fuzileiros (ia na terceira comissão na Guiné, sempre como voluntário) dizia até que, se aquilo continuasse assim, não queria mais Guiné e ia mas era oferecer-se como voluntário para o Vietname. Ele gostava e queria guerra. Ambos os tenentes fuzileiros (Brito e Benjamim) haveriam de fazer, mais tarde, outras guerras em serviço spinolista como a célebre sublevação de 11 de Março de 1975 e, depois, entrariam nas operações do MDLP sob a direcção de Alpoim Galvão.
Quanto ao Major Osório, sempre de t-shirt branca, pouco falava mas era muito respeitado. Aquilo era gente de acção e quando a não tinham, cediam à espera tensa e ansiosa de mais acção. Em resumo, eram guerreiros em descanso forçado. Além da bravura na guerra, só lhes sobrava bravura para descarregarem o sexo numa ou noutra adolescente a quem deitavam mão e que se limitavam a abrir as pernas e os olhos, num misto de espanto, de medo e de ausência de prazer.
O Major Pereira da Silva, de enormes bigodes revirados, não parecia um militar. Mal enfiado dentro da farda, o homem era um intelectual. Falava todos os dialectos usados na zona, conhecia de fio a pavio todos os usos e costumes das tribos da Guiné, andava sempre pelas aldeia a completar os seus conhecimentos e a farejar informações úteis. Em colaboração com a Pide, dirigia a rede de informadores e era o negociador com os cisionistas do PAIGC, dispostos a entregarem-se. Era um comunicador excelente e um homem completíssimo em cultura(s) africana(s). Dava gosto ouvi-lo e aprender com ele, tanto mais que tinha, para com os africanos, uma autêntica reverência cultural, particularmente quando se tratava dos manjacos.
O Major Passos Ramos era o crâneo do comando militar. O pensador de toda a estratégia e o homem que fazia as sínteses do cumprimento da missão para toda a zona. Excelente conversador e homem culto, o Major Passos Ramos irradiava encanto e inteligência. Era um oposicionista manifesto e assumido ao regime e tinha, inclusive, participado na Revolta da Sé. Quando encontrava um miliciano chegado de fresco ou vindo de férias, ele imediatamente rumava a conversa para as actividades oposicionistas e pedia previsões sobre quando o regime iria cair.Spínola estava encantado com o andamento das coisas no “chão manjaco”.
Tudo ia bem ou parecia andar. E os oficias de Teixeira Pinto eram mesmo a sua nata. Eram militares profissionais de primeira água que faziam a guerra o melhor que sabiam e podiam. A meio da tarde, regressei a Pelundo. Sem problemas. Apenas com mais suor que aquele que tinha levado na ida. Mas sem rolas, porque faltara pachorra para caçadas. Passado pouco tempo, desterraram-me para o Sul da Guiné, onde a guerra era bem mais quente. Efeito subsidiário da pena de prisão de três dias que apanhara por me ter recusado a cumprir a ordem de um Tenente-Coronel para bater num Cabo.
Fiz, então, a última viagem de jipe do Pelundo até Teixeira Pinto para apanhar o avião que me levaria, em trânsito, até Bissau. Mas, antes de embarcar no avião, não faltaram os três majores na pista para darem abraços de despedida (e de solidariedade).
O adeus do major Passos Ramos foi o mais emotivo porque tinha ganho uma especial empatia comigo, alimentada de cumplicidade política e de estima pessoal. Ainda hoje me parece sentir nas costas o toque afectivo das palmas das suas mãos. Foi a última vez que vi Pelundo e Teixeira Pinto. E os três majores.
Já colocado em Catió, tive notícias dos três majores e meus amigos. Notícias que correram mundo.Toda a guerrilha do PAIGC, no "chão manjaco" e noutras zonas do norte,” tinha decidido” render-se e passar para o lado do exército colonial. Era a cereja no cimo do bolo. Estava tudo tratado até ao pormenor. Havia fardas portuguesas já prontas para os guerrilheiros vestirem logo que chegassem a Teixeira Pinto e estava tudo tratado sobre patentes e instalações das famílias. Cada antigo guerrilheiro teria casa e comida e o soldo correspondente à sua nova patente e em igualdade com os militares europeus. Aquela seria a grande vitória política e militar do General Spínola. Precisamente na altura em que quase toda a gente considerava a guerra na Guiné como já perdida.
Os guerrilheiros colocaram uma única condição. Fariam a sua rendição em plena mata, junto a Pelundo, mas os oficiais portugueses que fossem receber os guerrilheiros teriam de comparecer desarmados. Como prova de confiança. Várias fontes confirmam que Spínola quis ir em pessoa presidir à rendição e só foi disso dissuadido no último minuto. A delegação para aceitar a rendição das forças do PAIGC foi constituída pelos Majores e meus amigos Osório, Pereira da Silva e Passos Ramos. Foram ao encontro dos guerrilheiros, ultraconfiantes, sem armas, num jipe vulgar e sem qualquer escolta. Felizes pelo sucesso iminente.
Chegados ao local de encontro, os três majores foram retalhados a tiro de kalashnikov e acabados de matar à catanada. Sem dignidade e com requintes de barbárie. Spínola, o seu estado-maior e os majores tinham-se enganado sobre o PAIGC. A manha e a paciência dos guerrilheiros tinha sido maior que as tecidas pelas melhores inteligências do exército colonial e da Pide. Spínola perdeu os seus três melhores oficiais na Guiné de uma única vez. Eu perdi três amigos. Sem honra nem glória.
O “chão manjaco” voltou ao ferro e ao fogo adormecidos. Os tenentes fuzileiros de Teixeira Pinto interromperam a ociosidade mal-amada. Não faltavam, agora, oportunidades de fazerem o gosto ao gatilho, à granada e à faca de mato. Era a hora de matar pretos, as fodas nas pretas que esperassem. Tudo tem o seu tempo.
Recebi a notícia com o mesmo espanto que toda a gente. Como tinha sido possível? Ali estava uma pergunta sem resposta e que me ecoa até aos dias de hoje. Não podia ter resposta mas isso não evitou um frémito de emoção profunda. Verdade que guerra é guerra, e quem lá vai, dá e leva. Mas ainda hoje sinto uma enorme tristeza de saudade das conversas que nunca se irão repetir com os Majores Pereira da Silva e Passos Ramos.
No 25 de Abril de 1974, senti uma enorme frustação por não os abraçar nas ruas de Lisboa e, em vez disso, ter de ver o focinho patibular de Spínola na Televisão a presidir à Junta de Salvação. Resta-me a memória de Teixeira Pinto. Perdão, de Canchungo.
João Tunes (1).
Notas de L.G.
(1) Há mais posts deste autor sobre a Guiné e a guerra colonial. Por exemplo:
João Tunes > Bota Acima > 29 de Abrld e 2004 > Pelundo I e Pelundo II (inclui fotos do aquartelamento)
João Tunes > Bota Acima > 7 de Abril de 2004 > Jogo de Cartas (Texto delicioso onde relata as noites, chatas p'ra burro, em que era obrigado a jogar king com os eu comandante, o tenente-coronel Romeira;as bravatas sexuais dos tugas; e a porrada que apanhou por recusar bater num cabo de transmissões sob o seu comando, porrada essa que o levou do Pelundo até ao Catió).
(2) O blogue Bota Acima deu origem a outros: por exemplo, Água Lisa (que vai na 3ª edição)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 11 de agosto de 2005
quarta-feira, 10 de agosto de 2005
Guiné 63/74 - P148: Humor de caserna: 'A minha vida, contada, dava um filme' (Vítor Junqueira)
© Vitor Junqueira (2005)
1. Texto de Vitor Junqueira , que é membro do nossa tertúlia de ex-combatentes da Guiné (ex-alferes miliciano, CCAÇ 2753, Mansabá, 1970/72):
Entre os meus papéis encontrei esta lista com os títulos dos filmes que passavam nos principais cinemas do país nos finais da década de 60. Alguém estabeleceu um elo de ligação, irónico, entre esses títulos e certos momentos importantes da vida de um combatente. Quero partilhar o "achado" convosco.
Vitor Junqueira.
2. Comentário de L.G.
Eu já tive ocasião de dizer ao Vitor que este documento era uma maravilha!... De facto, quem disse que nós, os tugas, não tínhamos sentido de humor ? Eu acho que o humor é, além de um sinal de inteligência, uma forma muito nossa de ser e de estar que nos ajuda a enfrentar e aguentar as situações difíceis…
Para um mancebo a tropa sempre constituiu, entre nós, um verdadeiro ritual de passagem. Para os mancebos da nossa geração, a passagem implicava também em 90 e tal por cento dos casos (tirando os filhos de algo, mais os cegos, os surdos e os mudos) um bilhete de ida (e nem sempre de volta) até ao Ultramar, a uma das três frentes da guerra colonial: Angola, Guiné, Moçambique...
O documento que o Vitor nos mandou é constituído por duas imgens, em formato.jpg, de uma lista, dactilografada, que tem por título "A Vida de um Militar na Guiné Atravez (sic) do Cinema". A qualidade da digitalziação não é boa, pelo que transcrevo as duas partes, corrigidindo alguns erros de ortografia e/ou dactilografia. A segunda parte da lista (continuação) é aqui inserida sob a forma de imagem, a título meramente exemplificativo.
Esta lista, bem humorada, faz sobretudo a equivalência entre as situações do dia-a-dia de uma aquartelamento no mato e os títulos dos filmes que passavam na época nos nossos cinemas... Ainda me lembro de alguns!
Desconhece-se o autor. Possívelmente era alguém de transmissões, que tinha tempo e vagar para estas coisas... Talvez um cabo operador cripto, um especialista que não esconde a sua crítica à hierarquia e aos pequenos privilégios que davam as divisas e os galões: Clube de Sargentos = Casino Royal (possível referência à tendendência para a jogatana e a batota por parte de furriéis e sargentos); Clube de Oficiais = Hotel Internacional (as instalações dos oficiais eram, sempre, apesar de tudo, melhores do que as barracas e os abrigos onde dormia o Zé Soldado); Oficiais = Os insaciáveis; Especialistas = Milionários sem vintém... Também transparece aqui que a ideia de que ser sargento de messe (= golpe de mestre à napolitana) era uma forma rápida... e socialmente aceite ou tolerada de aumentar o pé de meia durante a comissão!
O autor é também possivelmente alguém que esteve numa zona quente, junto à fronteira norte ou sul, já que o turra é indentificado com o "perigo que vem da fronteira"... Curiosamente não há tanta referência à vida concreta dos operacionais no mato: a emboscada, a mina, o rocket, a costureirinha, o capim, os feridos, os mortes, o golpe de mão, etc.
Não deixa também de ser interessante a representação da enfermeira (paraquedista): "o amor desceu em paraquedas"... Durante a comissão toda (= noites sem fim), a enfermeira-paraquedista era a única mulher branca que o Zé Soldado podia ver, ao vivo, embora de camuflado e de relance, em caso de evacuação de um ferido grave, quer no mato, quer no aquartelamento... Era, para muitos, uma visão quase celestial e sobretudo altamente erótica...
Ainda me lembro a perturbação e a excitação que causava, entre os "básicos" de Bambadinca, a chegada de um helicóptero com uma enfermeira-paraquedista... Em contrapartida, o furriel enfermeiro da unidade era associado a carniceiro e assassino... No caso da CCAÇ 12, o pessoal era mais gentil, embora brincalhão e travesso, pelo que o nosso furriel enfermeiro Martins era simplesmente o Pastilhas (um profissional competentíssimo... mas o que ele sofreu connosco!).
Outra das obsessões do militar na Guiné era a contagem dos dias que faltavam para a chegada dos periquitos e para o fim da comissão...E, por fim, inevitamente, a referência à ida às tabancas (= sarilho de fraldas), o convívio com as bajudas (= amor sem barreiras), o taquinho e o copos (= amores clandestinos), o tempo de lazer e de prazer do Zé Soldado...
A vida de um militar na Guiné através do cinema (1):
Partida de Lisboa = Passaporte para o desconhecido
Chegada à Guiné = As duas faces do perigo
Transmissões = O perigo é a minha profissão
Comissão = Noites sem fim
Apresentações = Eu, eu... e os outros
Alojamento = Este é o meu mundo
Messe = Por favor não comam os malmequeres
Clube de Especialistas = A grande vitória
Clube de Sargentos = Casino Royal
Clube de Oficiais = Hoel Internacional
Enfermaria = As loucuras do dr. Jerry
Secretaria dos TAP = Por favor não incomode
Secção de Fardamento = Pijama para dois
Comunicações = Este difícil amor
Metereologia = E tudo o vento levou
Linha da Frente = Com jeito vai
Grupo Operacional Aéreo = Os gloriosos malucos das máquinas [voadoras]
Companhia de Transportes = A ultrapassagem
Oficiais = Os insaciáveis
Sargentos = Os profissionais
Praças = A família Trapp
Especialistas = Milionários sem vintém
Oficial de Dia = Sua Excelência, o Mordomo
Enfermeiras = O amor desceu em paraquedas
Enfermeiros = O assassino
Médico = O homem da mala preta
A vida de um militar na Guiné através do cinema (continuação):
Sargento de messes = Golpe de mestre à napolitana
Formaturas = Eram duzentos irmãos
Saída à porta de armas = Duelo ao pôr do sol
Ordem de serviço = Os Dez Mandamentos
Justiça e disciplina = Arquivo K
Condecorações = A Cruz de Ferro
Castigos = Adeus ilusões
Prisão = Longe da multidão
Dispensas = Uma réstea de azul
Recolher = Servidão humana
Não ir de férias = Restos de um pecado
Ir de férias = O prémio
Avião semanal = A esperança nunca morre
TAP = O último recurso
Bissau = Vida sem rumo
Tabancas = Sarilho de fraldas
Bajudas = Amor sem barreiras
Vinho, tabaco, etc. = Amores clandestinos
Ida ao mato = Um campista em puros
Turras = O perigo vem da fronteira
Ataque ao quartel = A visita
Fim da comissão = Com a felicidade na alma
Louvor = Não sou digno de ti
Substituto = O espião que veio do frio
Último dia da Guiné = O dia mais longo
Partida para Lisboa = África adeus
Chegada a Lisboa = Europa de noite
Primeira noite em Lisboa = Um homem e uma mulher
Passagem à disponibilidade = O adeus às armas
1. Texto de Vitor Junqueira , que é membro do nossa tertúlia de ex-combatentes da Guiné (ex-alferes miliciano, CCAÇ 2753, Mansabá, 1970/72):
Entre os meus papéis encontrei esta lista com os títulos dos filmes que passavam nos principais cinemas do país nos finais da década de 60. Alguém estabeleceu um elo de ligação, irónico, entre esses títulos e certos momentos importantes da vida de um combatente. Quero partilhar o "achado" convosco.
Vitor Junqueira.
2. Comentário de L.G.
Eu já tive ocasião de dizer ao Vitor que este documento era uma maravilha!... De facto, quem disse que nós, os tugas, não tínhamos sentido de humor ? Eu acho que o humor é, além de um sinal de inteligência, uma forma muito nossa de ser e de estar que nos ajuda a enfrentar e aguentar as situações difíceis…
Para um mancebo a tropa sempre constituiu, entre nós, um verdadeiro ritual de passagem. Para os mancebos da nossa geração, a passagem implicava também em 90 e tal por cento dos casos (tirando os filhos de algo, mais os cegos, os surdos e os mudos) um bilhete de ida (e nem sempre de volta) até ao Ultramar, a uma das três frentes da guerra colonial: Angola, Guiné, Moçambique...
O documento que o Vitor nos mandou é constituído por duas imgens, em formato.jpg, de uma lista, dactilografada, que tem por título "A Vida de um Militar na Guiné Atravez (sic) do Cinema". A qualidade da digitalziação não é boa, pelo que transcrevo as duas partes, corrigidindo alguns erros de ortografia e/ou dactilografia. A segunda parte da lista (continuação) é aqui inserida sob a forma de imagem, a título meramente exemplificativo.
Esta lista, bem humorada, faz sobretudo a equivalência entre as situações do dia-a-dia de uma aquartelamento no mato e os títulos dos filmes que passavam na época nos nossos cinemas... Ainda me lembro de alguns!
Desconhece-se o autor. Possívelmente era alguém de transmissões, que tinha tempo e vagar para estas coisas... Talvez um cabo operador cripto, um especialista que não esconde a sua crítica à hierarquia e aos pequenos privilégios que davam as divisas e os galões: Clube de Sargentos = Casino Royal (possível referência à tendendência para a jogatana e a batota por parte de furriéis e sargentos); Clube de Oficiais = Hotel Internacional (as instalações dos oficiais eram, sempre, apesar de tudo, melhores do que as barracas e os abrigos onde dormia o Zé Soldado); Oficiais = Os insaciáveis; Especialistas = Milionários sem vintém... Também transparece aqui que a ideia de que ser sargento de messe (= golpe de mestre à napolitana) era uma forma rápida... e socialmente aceite ou tolerada de aumentar o pé de meia durante a comissão!
O autor é também possivelmente alguém que esteve numa zona quente, junto à fronteira norte ou sul, já que o turra é indentificado com o "perigo que vem da fronteira"... Curiosamente não há tanta referência à vida concreta dos operacionais no mato: a emboscada, a mina, o rocket, a costureirinha, o capim, os feridos, os mortes, o golpe de mão, etc.
Não deixa também de ser interessante a representação da enfermeira (paraquedista): "o amor desceu em paraquedas"... Durante a comissão toda (= noites sem fim), a enfermeira-paraquedista era a única mulher branca que o Zé Soldado podia ver, ao vivo, embora de camuflado e de relance, em caso de evacuação de um ferido grave, quer no mato, quer no aquartelamento... Era, para muitos, uma visão quase celestial e sobretudo altamente erótica...
Ainda me lembro a perturbação e a excitação que causava, entre os "básicos" de Bambadinca, a chegada de um helicóptero com uma enfermeira-paraquedista... Em contrapartida, o furriel enfermeiro da unidade era associado a carniceiro e assassino... No caso da CCAÇ 12, o pessoal era mais gentil, embora brincalhão e travesso, pelo que o nosso furriel enfermeiro Martins era simplesmente o Pastilhas (um profissional competentíssimo... mas o que ele sofreu connosco!).
Outra das obsessões do militar na Guiné era a contagem dos dias que faltavam para a chegada dos periquitos e para o fim da comissão...E, por fim, inevitamente, a referência à ida às tabancas (= sarilho de fraldas), o convívio com as bajudas (= amor sem barreiras), o taquinho e o copos (= amores clandestinos), o tempo de lazer e de prazer do Zé Soldado...
A vida de um militar na Guiné através do cinema (1):
Partida de Lisboa = Passaporte para o desconhecido
Chegada à Guiné = As duas faces do perigo
Transmissões = O perigo é a minha profissão
Comissão = Noites sem fim
Apresentações = Eu, eu... e os outros
Alojamento = Este é o meu mundo
Messe = Por favor não comam os malmequeres
Clube de Especialistas = A grande vitória
Clube de Sargentos = Casino Royal
Clube de Oficiais = Hoel Internacional
Enfermaria = As loucuras do dr. Jerry
Secretaria dos TAP = Por favor não incomode
Secção de Fardamento = Pijama para dois
Comunicações = Este difícil amor
Metereologia = E tudo o vento levou
Linha da Frente = Com jeito vai
Grupo Operacional Aéreo = Os gloriosos malucos das máquinas [voadoras]
Companhia de Transportes = A ultrapassagem
Oficiais = Os insaciáveis
Sargentos = Os profissionais
Praças = A família Trapp
Especialistas = Milionários sem vintém
Oficial de Dia = Sua Excelência, o Mordomo
Enfermeiras = O amor desceu em paraquedas
Enfermeiros = O assassino
Médico = O homem da mala preta
A vida de um militar na Guiné através do cinema (continuação):
Sargento de messes = Golpe de mestre à napolitana
Formaturas = Eram duzentos irmãos
Saída à porta de armas = Duelo ao pôr do sol
Ordem de serviço = Os Dez Mandamentos
Justiça e disciplina = Arquivo K
Condecorações = A Cruz de Ferro
Castigos = Adeus ilusões
Prisão = Longe da multidão
Dispensas = Uma réstea de azul
Recolher = Servidão humana
Não ir de férias = Restos de um pecado
Ir de férias = O prémio
Avião semanal = A esperança nunca morre
TAP = O último recurso
Bissau = Vida sem rumo
Tabancas = Sarilho de fraldas
Bajudas = Amor sem barreiras
Vinho, tabaco, etc. = Amores clandestinos
Ida ao mato = Um campista em puros
Turras = O perigo vem da fronteira
Ataque ao quartel = A visita
Fim da comissão = Com a felicidade na alma
Louvor = Não sou digno de ti
Substituto = O espião que veio do frio
Último dia da Guiné = O dia mais longo
Partida para Lisboa = África adeus
Chegada a Lisboa = Europa de noite
Primeira noite em Lisboa = Um homem e uma mulher
Passagem à disponibilidade = O adeus às armas
terça-feira, 9 de agosto de 2005
Guiné 63/74 - P147: Malan Mané, guerrilheiro, vinte anos, mandinga (Luís Graça)
Excertos do Diário de um Tuga. L.G.
Guiné. Bambadinca. 3 de Setembro de 1969 (revisto)
Malan Mané. Vinte e poucos anos ? Vinte ? Menos de vinte ? Talvez da idade dos nossos soldados mais novos. Temos alguns com dezasseis ou dezassete. Não tenho qualquer jeito para advinhar a idade dos africanos. Mas ele próprio não saberia responder. Aqui ninguém tem certidão de nascimento, cédula pessoal ou bilhete de identidade. Para a tropa, do recrutamento local, é-se escolhido a olhómetro: altura, peso, massa muscular… A idade não conta. Experiência de combate, quase todos a têm, os fulas desta região…
Malan Mané. Mandinga do regulado do Cuor, lá para os lados do Enxalé. Podia ter sido nosso soldado. Temos dois mandingas na nossa companhia [CCAÇ 12]: Malan Nanqui e Ussumane Sissé… Mas há mais outros dois Malan, de etnia fula: Malan Baldé e Malan Jau…
Malan Mané. Roqueteiro do bigrupo de Mamadu Indjai, um comandante de guerrilha famoso, também ele de etnia mandinga. Veste um dolmen, velho, de cor já irreconhecível. Calças rotas no joelho. Apresenta-se descalço. Está deprimido, talvez aterrorizado. Cair, vivo, nas mãos dos tugas é pior desgraça do que do que ser morto em combate – deve ter ele pensado muitas vezes no mato. Ou se calhar nunca pensou nisso. É uma pergunta que não ele entende ou a que não quer responder. Pelo menos, em público, neste cenário de circo, enjaulado como um animal selvagem, rodeado de hominídeos... Os paras, esses, não tiveram grande dificuldade em desatar-lhe a língua. Bastou-lhes encostar a faca de mato à barriga. Foi apanhado com o seu RPG-2 na mata do Rio Biesse, na região de Camará, lá para os lados de Candamã, quando o céu desabou em cima dele (1).
Está agora às ordens do comando do sector [L1]. De mãos algemadas, metido numa gaiola de jardim zoológico. Espectáculo degradante. A Convenção de Genebra sobre os prisioneiros de guerra não se aplica aqui . Oficialmente o meu país não está em guerra com ninguém, com nenhum outro estado soberano. Oficialmente não há nem pode haver prisoneiros de guerra no meu país, do Minho a Timor, passando pela Guiné.
Malan Mané é bandido. Homem do mato. Turra (2). Faz-me lembrar o Gungunhana, passeado em gaiola por Lisboa, em 1896, como troféu de caça do Mouzinho de Albuquerque. Está aqui mesmo ao lado das instalações do rancho [refeitório dos praças]. Entre a escola e o posto administrativo.
Há um correpio de gente que vem ver o turra (sic) capturado pelos paras [na Op Nada Consta, em 28 de Agosto, no sub-sector de Mansambo] (1). Participámos na operação. Mas a nós, ao Pelotão de Caçadores Nativos e aos gajos de Mansambo coube-nos fazer o papel da tropa-macaca.
Básicos, cozinheiros, padeiros, pintores, carpinteiros, fiéis de depósito de géneros, faxinas de bar, maqueiros, corneteiros, mecânicos auto-rodas, desempanadores, condutores auto, escriturários, amanuenses, quarteleiros, sapadores, ajudantes de capelania, operadores de transmissões, radiolegrafistas, cabos cripto, municiadores e apontadores de metralhadora Browning, caçadores e suas presas, todo o mundo tem hoje espectáculo de borla. Até a senhora professora, a única branca que reside dentro do perímetro do aquartelamento, espreita à janela da escola. Deve estar a olhar para o prisioneiro como o bicho do mato que lhe apareceu nos pesadelos nocturnos. Ou talvez não. Nunca lhe soube a idade nem o nome. Vejo-a agora de relance. E pergunto-me como terá reagido ela ao ataque ao aquartelamento em 28 de Maio de 1969. Se calhar portou-se com mais dignidade do que alguns dos militares que deveriam saber defender a sua unidade (3).
Intriga-me a situação desta estranha personagem: uma mulher branca, mestre escola, talvez à beira da reforma, que insiste em viver aqui, no cú do mundo. Numa terra inóspita. Não sei donde veio. O chefe de posto é de Cabo Verde, como manda a tradição. Desde, pelo menos, os tempos de Honório Pereira Barreto, comendador da Ordem de Cristo, tenente-coronel de Artilharia de segunda linha, governador de Bissau, de Cacheu e da província da Guiné, por carta de 24 de Janeiro de 1885...
Na realidade, a Guiné é (ou foi) uma colónia de Cabo Verde. Missionários e missionárias, oriundos da Europa, nem sequer os há aqui. Comerciantes tugas, só dois, perfeitamente cafrealizados, como se dizia no vocabulário colonial e racista dos europeus do Séc. XIX que exploravam estas paragens inóspitas.
Os dois tugas vivem fora do perímetro do quartel. Um deles tem um bando de filhos, de mãe negra. O Rendeiro. Já nos convidou para lá ir comer a sua famosa galinha à cafriela. Fala dos filhos com ternura. Uma das raparigas está a estudar na Metrópole. Contou-nos a sua história. Veio da Murtosa, salvo erro, muito jovem ainda. Aos dezassete anos. Compra mancarra, vende arroz. Procura cultivar boas relações com a tropa. Acho-o demasiado afável.
Mas voltando ao Malan Mané: uns mandam-lhe piropos, outros dão-lhe um cigarro. Ou oferecem-lhe uma garrafa de cerveja, que ele recusa, delicadamente, como bom muçulmano que deve ser. Não entende as provocações que lhe dirigem:
- Então, pá, quantos tugas já mataste com o teu rocket ?
Há ordens, do comando, para o tratar bem. Tem-se mostrado colaborante. E para começar nada como um bom prato de bianda, arroz com mafé. Come com dignidade. No mato a vida é dura. Uma refeição por dia, um maço de cigarros por mês. Farda e botas novas só para os chefes. Bajudas, manga di sabe, também só para os chefes, imagino. Todos iguais, mas uns mais iguais do que outros.
Tinha começado a aprender o português há pouco tempo. Sabe algumas letras do alfabeto latino. Não sei se chegou a aprender o Alcorão. Com a guerra, a sociedade mandinga desintegrou-se. Muitos mandingas foram no mato. Com os balantas e os beafadas. Mas só fala o crioulo e o seu dialecto mandinga O crioulo é a língua tanto do colonizador como do PAIGC. Ninguém se entende nesta Babel sem o crioulo que é uma genial criação dos homens, de diferentes grupos étnicos, que querem comunicar entre si. O exército não faz, porém, qualquer esforço para nos ensinar o crioulo.
Malan fala pouco, a custo. As suas respostas às minhas perguntas são lacónicas, arrancadas a ferro e misturadas com um leve sorriso resignado. Procuro transmitir-lhe sinais de simpatia e de compaixão.
Foi no mato ainda djubi [não posso precisar a idade]. Não deve ter conhecido outra vida. Chefe da tabanca levara menino e mulher para o Morès com medo de avião dos tugas. Primeiro deram-lhe uma semi-automática Simonov (uma arma bem melhor que a nossa velha Mauser que está distribuída ao pessoal das tabancas em autodefesa). Começou como milícia: fazia segurança à tabanca e ao pessoal que ia lavrar a bolanha. Mais tarde, é promovido a combatente como municiador do RPG-2. Passou depois a apontador. Há um ano atrás foi ferido em combate, no Xime, quando atacava lancha grande em Ponta Varela.
Sabia quem era o novo homem grande Bissau.
- E homem grande di bó ?, perguntei-lhe eu.
- Amílcar Cabral. – Respondeu-me, de pronto, não sem uma certa expressão de orgulho (ou foi impressão minha ?). Não, nunca o tinha visto. Só o conhecia de nome e de retrato. Comissário político falava dele e da "luta di partido africano".
O intérprete é o Abibo Jau, o bom gigante epiléptico com o seu metro e noventa e tal de altura e os seus mais de 100 quilos de peso. Não sei quem lhe descobriu o seu talento para torcionário. Pertence ao 3º Gr Comb, do Alferes Rodrigues. É visível o medo que o Abibo inspira ao Malan Mané. Um fula e um mandinga, frente a frente. Velhos ajustes de contas com a memória colectiva de cada grupo vêm provavelmente ao de cima.
Fulas e mandingas já foram os donos destas terras. Cada um, no seu tempo. Teixeira Pinto vingou os aristocráticos mandingas, ao subjugar os fulas. Em contrapartida, deixou a estes os papéis subalternos, mais sujos, do aparelho de repressão administrativo-militar. Os pobres dos fulas tornam-se os maus da fita, aos olhos dos outros povos da Guiné. Aqui, pelo menos na zona leste, os mandingas e os balantas têm um ódio de estimação aos fulas. Um ódio que é recíproco. O poder sempre soube dividir (e aterrorizar) para reinar.
Malan é franzino e frágil, embora de estatura normal. Uma criança crescida na guerra. Procuro tranquilizá-lo. Mas não adianta. Vêm buscá-lo para mais interrogatórios. O interrogador do BCAÇ 2852 é o famigerado sargento do cavalo marinho do PEL REC INFO. Não posso com estes gajos. Fazem o trabalho sujo. Trabalham em estreita colaboração com os pides de Bafatá.
Explorando-se o seu estado físico e psicológico, e muito provavelmente sob tortura ou ameaças físicas, o Malan Mané acabou por dar com a língua nos dentes e revelar mais algumas informações preciosas, comprometendo a segurança dos seus companheiros. Foi a minha primeira grande decepção em relação aos guerrilheiros do PAIGC. Ingenuamente, julgava-os da estatura humanal, moral e até intelectual de um Che Guevara ou de um Amílcar Cabral.
Acredito que a escola de guerrilha do PAIGC tenha formado já grandes combatentes e comandantes. Mas o pobre do Malan Mané não é muito diferente dos meus soldados e de mim próprio: fomos todos apanhados na rede como cães vadios; somos todos vítimas da História; nascemos no sítio e na data errados… Se eu fosse guinéu, muito provavelmente estaria a combater, com ou sem convicção, num dos dois lados da barricada.
PS – O Malan Mané, se eu hoje ainda for vivo, terá por volta de 55 anos. Há muito que ultrapassou a esperança média de vida, à nascença, estimada para os homens da sua geração. Se alguém o descobrir, lá para os lados do Enxalé ou nalguma outra tabanca do antigo regulado do Cuor, mandem-lhe um abraço meu.
A última vez que o vi, ia preso por uma corda, à guarda do Iero Jau (4). Foi gravemente ferido por um diligrama nosso, no assalto a um acampamento da guerrilha na Ponta do Inglês. Na madrugada do dia 7 de Setembro de 1969 (4). Não sei se sobreviveu aos ferimentos. O Iero Jau morreu. Morreu a meu lado. O Malan, também a meu lado, ficou gravemente ferido e foi evacuado para Bissau. Mesmo que tenha sobrevivido e chegado a ver a independência da sua terra por que lutou, não sei o que lhe terá acontecido depois. Não sei como é que o PAIGC, organizado à boa maneira marxista-leninista, terá lidado com este e outros casos de colaboracionismo de antigos combatentes, feitos prisioneiros. Colaboracionismo ? Delação ? Traição ?
Um homem não nasce herói. Mas eu posso testemunhar que o Malan Mané tentou resistir, tentou ludibriar-nos. Não demos com o acampamento à primeira, em 25 de Agosto de 1969. Ele alegou que o capim estava muito alto e que se perdera. O tanas! O tipo conhecia aquilo de cor e salteado, de olhos vendados. Resistiu enquanto pôde, o pobre diabo. Só lá voltámos, à toca do lobo, no dia 7 de Setembro (Op Pato Real).
Os espíritos da floresta (bons ou maus, quem sabe distingui-los ?) não lhe perdoaram. Se ele morreu, de morte natural, em consequência dos seus ferimentos, ou de morte matada, dentro da lógica infernal dos movimentos revolucionários que acabam sempre por devorar os seus filhos, espero ao menos que o seu fantasma continue a vaguear, agora mais tranquilo, pela orla da bolanha do Poidon, com o seu RPG-2 ao ombro, ou a sua velha Simonov a tiracolo, guardando desta vez os bons espíritos da terra. Para que eles iluminem o presente e o futuro daquela terra onde um dia nasceu uma criança, de seu nome, Malan Mané, e a quem cedo, talvez demasiado cedo, deram uma arma e uma bandeira. E onde nós fomos soldados contra a nossa própria guerra. Eu, pelo menos, fui. L.G. (10.08.2005)
____
Notas (L.G.)
(1) Sobre a Op Nada Consta, vd. post de 30 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXX: A CAÇ 12 em operação conjunta com a CART 2339 e os paraquedistas (Agosto de 1969)
(2) Vd. post de 25 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LXXXI: Cartazes de propaganda dirigidos aos "homens do mato"
(3) Bambandinca foi atacada ("flagelada", segundo a expressão, mais light, das autoridades militares locais), no dia 28 de Maio de 1969, "durante 40 minutos", por um grupo de uma centena de guerrilheiros ("elementos IN"), usando um forte dispositivo militar que incluiu, entre outros, 3 canhões sem recuo, além de vários morteiros, lança-rockets e armas automáticas. Apesar da envergadura do ataque, houve apenas 2 feridos entre as NT. Por razões disciplinares, todos os oficiais superiores do BCAC 2852 foram punidos pelo Com-Chefe, na sequência desta ousada iniciativa do PAIGC, conduzida em resposta à grande operação de limpeza no Sector L1 a que foi dado o nome de código Op Lança Afiada (8 a 18 de Março de 1969).Vd. post de 31 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXXI: As grandes operações de limpeza (Op Lança Afiada, Março de 1969)
(4) Vd. post de 8 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXLVI: Setembro/69 (Parte I) - Op Pato Rufia ou o primeiro golpe de mão da CCAÇ 12
Guiné. Bambadinca. 3 de Setembro de 1969 (revisto)
Malan Mané. Vinte e poucos anos ? Vinte ? Menos de vinte ? Talvez da idade dos nossos soldados mais novos. Temos alguns com dezasseis ou dezassete. Não tenho qualquer jeito para advinhar a idade dos africanos. Mas ele próprio não saberia responder. Aqui ninguém tem certidão de nascimento, cédula pessoal ou bilhete de identidade. Para a tropa, do recrutamento local, é-se escolhido a olhómetro: altura, peso, massa muscular… A idade não conta. Experiência de combate, quase todos a têm, os fulas desta região…
Malan Mané. Mandinga do regulado do Cuor, lá para os lados do Enxalé. Podia ter sido nosso soldado. Temos dois mandingas na nossa companhia [CCAÇ 12]: Malan Nanqui e Ussumane Sissé… Mas há mais outros dois Malan, de etnia fula: Malan Baldé e Malan Jau…
Malan Mané. Roqueteiro do bigrupo de Mamadu Indjai, um comandante de guerrilha famoso, também ele de etnia mandinga. Veste um dolmen, velho, de cor já irreconhecível. Calças rotas no joelho. Apresenta-se descalço. Está deprimido, talvez aterrorizado. Cair, vivo, nas mãos dos tugas é pior desgraça do que do que ser morto em combate – deve ter ele pensado muitas vezes no mato. Ou se calhar nunca pensou nisso. É uma pergunta que não ele entende ou a que não quer responder. Pelo menos, em público, neste cenário de circo, enjaulado como um animal selvagem, rodeado de hominídeos... Os paras, esses, não tiveram grande dificuldade em desatar-lhe a língua. Bastou-lhes encostar a faca de mato à barriga. Foi apanhado com o seu RPG-2 na mata do Rio Biesse, na região de Camará, lá para os lados de Candamã, quando o céu desabou em cima dele (1).
Está agora às ordens do comando do sector [L1]. De mãos algemadas, metido numa gaiola de jardim zoológico. Espectáculo degradante. A Convenção de Genebra sobre os prisioneiros de guerra não se aplica aqui . Oficialmente o meu país não está em guerra com ninguém, com nenhum outro estado soberano. Oficialmente não há nem pode haver prisoneiros de guerra no meu país, do Minho a Timor, passando pela Guiné.
Malan Mané é bandido. Homem do mato. Turra (2). Faz-me lembrar o Gungunhana, passeado em gaiola por Lisboa, em 1896, como troféu de caça do Mouzinho de Albuquerque. Está aqui mesmo ao lado das instalações do rancho [refeitório dos praças]. Entre a escola e o posto administrativo.
Há um correpio de gente que vem ver o turra (sic) capturado pelos paras [na Op Nada Consta, em 28 de Agosto, no sub-sector de Mansambo] (1). Participámos na operação. Mas a nós, ao Pelotão de Caçadores Nativos e aos gajos de Mansambo coube-nos fazer o papel da tropa-macaca.
Básicos, cozinheiros, padeiros, pintores, carpinteiros, fiéis de depósito de géneros, faxinas de bar, maqueiros, corneteiros, mecânicos auto-rodas, desempanadores, condutores auto, escriturários, amanuenses, quarteleiros, sapadores, ajudantes de capelania, operadores de transmissões, radiolegrafistas, cabos cripto, municiadores e apontadores de metralhadora Browning, caçadores e suas presas, todo o mundo tem hoje espectáculo de borla. Até a senhora professora, a única branca que reside dentro do perímetro do aquartelamento, espreita à janela da escola. Deve estar a olhar para o prisioneiro como o bicho do mato que lhe apareceu nos pesadelos nocturnos. Ou talvez não. Nunca lhe soube a idade nem o nome. Vejo-a agora de relance. E pergunto-me como terá reagido ela ao ataque ao aquartelamento em 28 de Maio de 1969. Se calhar portou-se com mais dignidade do que alguns dos militares que deveriam saber defender a sua unidade (3).
Intriga-me a situação desta estranha personagem: uma mulher branca, mestre escola, talvez à beira da reforma, que insiste em viver aqui, no cú do mundo. Numa terra inóspita. Não sei donde veio. O chefe de posto é de Cabo Verde, como manda a tradição. Desde, pelo menos, os tempos de Honório Pereira Barreto, comendador da Ordem de Cristo, tenente-coronel de Artilharia de segunda linha, governador de Bissau, de Cacheu e da província da Guiné, por carta de 24 de Janeiro de 1885...
Na realidade, a Guiné é (ou foi) uma colónia de Cabo Verde. Missionários e missionárias, oriundos da Europa, nem sequer os há aqui. Comerciantes tugas, só dois, perfeitamente cafrealizados, como se dizia no vocabulário colonial e racista dos europeus do Séc. XIX que exploravam estas paragens inóspitas.
Os dois tugas vivem fora do perímetro do quartel. Um deles tem um bando de filhos, de mãe negra. O Rendeiro. Já nos convidou para lá ir comer a sua famosa galinha à cafriela. Fala dos filhos com ternura. Uma das raparigas está a estudar na Metrópole. Contou-nos a sua história. Veio da Murtosa, salvo erro, muito jovem ainda. Aos dezassete anos. Compra mancarra, vende arroz. Procura cultivar boas relações com a tropa. Acho-o demasiado afável.
Mas voltando ao Malan Mané: uns mandam-lhe piropos, outros dão-lhe um cigarro. Ou oferecem-lhe uma garrafa de cerveja, que ele recusa, delicadamente, como bom muçulmano que deve ser. Não entende as provocações que lhe dirigem:
- Então, pá, quantos tugas já mataste com o teu rocket ?
Há ordens, do comando, para o tratar bem. Tem-se mostrado colaborante. E para começar nada como um bom prato de bianda, arroz com mafé. Come com dignidade. No mato a vida é dura. Uma refeição por dia, um maço de cigarros por mês. Farda e botas novas só para os chefes. Bajudas, manga di sabe, também só para os chefes, imagino. Todos iguais, mas uns mais iguais do que outros.
Tinha começado a aprender o português há pouco tempo. Sabe algumas letras do alfabeto latino. Não sei se chegou a aprender o Alcorão. Com a guerra, a sociedade mandinga desintegrou-se. Muitos mandingas foram no mato. Com os balantas e os beafadas. Mas só fala o crioulo e o seu dialecto mandinga O crioulo é a língua tanto do colonizador como do PAIGC. Ninguém se entende nesta Babel sem o crioulo que é uma genial criação dos homens, de diferentes grupos étnicos, que querem comunicar entre si. O exército não faz, porém, qualquer esforço para nos ensinar o crioulo.
Malan fala pouco, a custo. As suas respostas às minhas perguntas são lacónicas, arrancadas a ferro e misturadas com um leve sorriso resignado. Procuro transmitir-lhe sinais de simpatia e de compaixão.
Foi no mato ainda djubi [não posso precisar a idade]. Não deve ter conhecido outra vida. Chefe da tabanca levara menino e mulher para o Morès com medo de avião dos tugas. Primeiro deram-lhe uma semi-automática Simonov (uma arma bem melhor que a nossa velha Mauser que está distribuída ao pessoal das tabancas em autodefesa). Começou como milícia: fazia segurança à tabanca e ao pessoal que ia lavrar a bolanha. Mais tarde, é promovido a combatente como municiador do RPG-2. Passou depois a apontador. Há um ano atrás foi ferido em combate, no Xime, quando atacava lancha grande em Ponta Varela.
Sabia quem era o novo homem grande Bissau.
- E homem grande di bó ?, perguntei-lhe eu.
- Amílcar Cabral. – Respondeu-me, de pronto, não sem uma certa expressão de orgulho (ou foi impressão minha ?). Não, nunca o tinha visto. Só o conhecia de nome e de retrato. Comissário político falava dele e da "luta di partido africano".
O intérprete é o Abibo Jau, o bom gigante epiléptico com o seu metro e noventa e tal de altura e os seus mais de 100 quilos de peso. Não sei quem lhe descobriu o seu talento para torcionário. Pertence ao 3º Gr Comb, do Alferes Rodrigues. É visível o medo que o Abibo inspira ao Malan Mané. Um fula e um mandinga, frente a frente. Velhos ajustes de contas com a memória colectiva de cada grupo vêm provavelmente ao de cima.
Fulas e mandingas já foram os donos destas terras. Cada um, no seu tempo. Teixeira Pinto vingou os aristocráticos mandingas, ao subjugar os fulas. Em contrapartida, deixou a estes os papéis subalternos, mais sujos, do aparelho de repressão administrativo-militar. Os pobres dos fulas tornam-se os maus da fita, aos olhos dos outros povos da Guiné. Aqui, pelo menos na zona leste, os mandingas e os balantas têm um ódio de estimação aos fulas. Um ódio que é recíproco. O poder sempre soube dividir (e aterrorizar) para reinar.
Malan é franzino e frágil, embora de estatura normal. Uma criança crescida na guerra. Procuro tranquilizá-lo. Mas não adianta. Vêm buscá-lo para mais interrogatórios. O interrogador do BCAÇ 2852 é o famigerado sargento do cavalo marinho do PEL REC INFO. Não posso com estes gajos. Fazem o trabalho sujo. Trabalham em estreita colaboração com os pides de Bafatá.
Explorando-se o seu estado físico e psicológico, e muito provavelmente sob tortura ou ameaças físicas, o Malan Mané acabou por dar com a língua nos dentes e revelar mais algumas informações preciosas, comprometendo a segurança dos seus companheiros. Foi a minha primeira grande decepção em relação aos guerrilheiros do PAIGC. Ingenuamente, julgava-os da estatura humanal, moral e até intelectual de um Che Guevara ou de um Amílcar Cabral.
Acredito que a escola de guerrilha do PAIGC tenha formado já grandes combatentes e comandantes. Mas o pobre do Malan Mané não é muito diferente dos meus soldados e de mim próprio: fomos todos apanhados na rede como cães vadios; somos todos vítimas da História; nascemos no sítio e na data errados… Se eu fosse guinéu, muito provavelmente estaria a combater, com ou sem convicção, num dos dois lados da barricada.
PS – O Malan Mané, se eu hoje ainda for vivo, terá por volta de 55 anos. Há muito que ultrapassou a esperança média de vida, à nascença, estimada para os homens da sua geração. Se alguém o descobrir, lá para os lados do Enxalé ou nalguma outra tabanca do antigo regulado do Cuor, mandem-lhe um abraço meu.
A última vez que o vi, ia preso por uma corda, à guarda do Iero Jau (4). Foi gravemente ferido por um diligrama nosso, no assalto a um acampamento da guerrilha na Ponta do Inglês. Na madrugada do dia 7 de Setembro de 1969 (4). Não sei se sobreviveu aos ferimentos. O Iero Jau morreu. Morreu a meu lado. O Malan, também a meu lado, ficou gravemente ferido e foi evacuado para Bissau. Mesmo que tenha sobrevivido e chegado a ver a independência da sua terra por que lutou, não sei o que lhe terá acontecido depois. Não sei como é que o PAIGC, organizado à boa maneira marxista-leninista, terá lidado com este e outros casos de colaboracionismo de antigos combatentes, feitos prisioneiros. Colaboracionismo ? Delação ? Traição ?
Um homem não nasce herói. Mas eu posso testemunhar que o Malan Mané tentou resistir, tentou ludibriar-nos. Não demos com o acampamento à primeira, em 25 de Agosto de 1969. Ele alegou que o capim estava muito alto e que se perdera. O tanas! O tipo conhecia aquilo de cor e salteado, de olhos vendados. Resistiu enquanto pôde, o pobre diabo. Só lá voltámos, à toca do lobo, no dia 7 de Setembro (Op Pato Real).
Os espíritos da floresta (bons ou maus, quem sabe distingui-los ?) não lhe perdoaram. Se ele morreu, de morte natural, em consequência dos seus ferimentos, ou de morte matada, dentro da lógica infernal dos movimentos revolucionários que acabam sempre por devorar os seus filhos, espero ao menos que o seu fantasma continue a vaguear, agora mais tranquilo, pela orla da bolanha do Poidon, com o seu RPG-2 ao ombro, ou a sua velha Simonov a tiracolo, guardando desta vez os bons espíritos da terra. Para que eles iluminem o presente e o futuro daquela terra onde um dia nasceu uma criança, de seu nome, Malan Mané, e a quem cedo, talvez demasiado cedo, deram uma arma e uma bandeira. E onde nós fomos soldados contra a nossa própria guerra. Eu, pelo menos, fui. L.G. (10.08.2005)
____
Notas (L.G.)
(1) Sobre a Op Nada Consta, vd. post de 30 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXX: A CAÇ 12 em operação conjunta com a CART 2339 e os paraquedistas (Agosto de 1969)
(2) Vd. post de 25 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LXXXI: Cartazes de propaganda dirigidos aos "homens do mato"
(3) Bambandinca foi atacada ("flagelada", segundo a expressão, mais light, das autoridades militares locais), no dia 28 de Maio de 1969, "durante 40 minutos", por um grupo de uma centena de guerrilheiros ("elementos IN"), usando um forte dispositivo militar que incluiu, entre outros, 3 canhões sem recuo, além de vários morteiros, lança-rockets e armas automáticas. Apesar da envergadura do ataque, houve apenas 2 feridos entre as NT. Por razões disciplinares, todos os oficiais superiores do BCAC 2852 foram punidos pelo Com-Chefe, na sequência desta ousada iniciativa do PAIGC, conduzida em resposta à grande operação de limpeza no Sector L1 a que foi dado o nome de código Op Lança Afiada (8 a 18 de Março de 1969).Vd. post de 31 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXXI: As grandes operações de limpeza (Op Lança Afiada, Março de 1969)
(4) Vd. post de 8 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXLVI: Setembro/69 (Parte I) - Op Pato Rufia ou o primeiro golpe de mão da CCAÇ 12
segunda-feira, 8 de agosto de 2005
Guiné 63/74 - P146: Setembro/69 (Parte I) - Op Pato Rufia ou o primeiro golpe de mão da CCAÇ 12 (Luís Graça)
Extractos de: História da CCAÇ 12: Guiné 69/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores nº 12. 1971. Cap. II. 11-13. Selecção e notas de L.G.
Resumo: A CCAÇ 2590/CCAÇ 12, composta por quadro metropolitanos, chegados à Guiné em finais de Maio de 1969 (1), e por soldados africanos, praticamente todos oriundos do chão fula que tinham feito a sua instrução básica e de especialidade em Contuboel (2), é dada como operacional, a partir de 18 de Julho de 1969.
Colocada em Bambadinca (Sector L1), como unidade de intervenção, fica pronta a actuar às ordens de qualquer um dos sectores da Zona Leste da Guiné (em especial dos Sectores L1, L3 e L5). Tem o seu baptismo de fogo logo imediatamente a seguir, em Madina Xaquili, no sub-sector de Galomaro (3).
3. Setembro/69 (Parte I) – Op Pato Rufia ou primeiro assalto a um objectivo IN
O guerrilheiro [Malan Mané] que foi aprisionado pelos paraquedistas [na Op Nada Consta, realizada em conjunto com a CCAÇ 12 e outras forças] (4) ficou depois à disposição do BCAÇ 2852 [, na sede do sector L1, em Bambadinca ]. Explorando-se o seu estado psicológico, obtiveram-se informações que levariam à localização de um outro acampamento IN no sub-sector do Xime.
Tratava-se de um destacamento avançado a escassas horas do Xime, composto por 5 cubatas paralelamente à estrada Xime-Ponta do Inglês, do lado oeste, internadas na mata 150 metros.
Um RPG-2, com o respectivo porta-granadas. Em russo: Ruchnoi Protivotankovii Granatomet (RPG-2). Uma temível arma que data do princípio dos anos 50. Deixou, entretanto, de ser usada pelo exército russo. Mas foi muito popular entre os exércitos de guerrilha em todo o mundo. Era a bazuca dos pobres... É uma arma muito leve (tubo= 2,86kg.; tubo + granada= 4,48 kg.) e de fácil manobra. Alcance efectivo= 100 metros. Fonte: The Sword of Motherland Foundation (2005), com a devida vénia.
O prisioneiro estivera lá três meses antes, e na altura os efectivos eram de cerca de 40 homens, incluindo um grupo especial de roqueteiros que todas as manhãs se deslocavam para a Ponta Varela afim de atacar as embarcações em circulação no Rio Geba. O armamento era constituído por RPG-2 (seis) e armas ligeiras (5).
Com base nestas informações planeou-se imediatamente Op Pato Rufia afim de executar um golpe de mão sobre o acampamento em referência, com o prisioneiro a servir de guia.
O início do golpe de mão estava previsto para a madrugada do dia 25 de Agosto, mas o guia [, o prisioneiro Malan Mané,] perdeu-se devido à escuridão e à altura do capim sendo mais [recomendável fazer um, ilegível ] prévio reconhecimento da área.
A 27 de Agosto, o 2º Gr Comb [da CCAÇ 12] e forças da CART 2520 [Xime] detectariam uma casa de mato abandonada e uma granada de morteiro 60 que não foi levantada por não apresentar garantias de segurança, a escassas centenas de metros do acampamento IN cujos trilhos de acesso foram devidamente reconhecidos pelo prisioneiro.
No regresso ao Xime verificou-se que o trilho, feito pelas NT dois dias antes, estava minado nos pontos de confluência com a estrada da Ponta do Inglês, tendo os picadores detectado cinco minas anti-pessoal. Tornava-se evidente que o IN fora alertado e que [redobrara] de vigilância a partir de então.
A 7 de Setembro, repetia-se a Op Pato Rufia, com a seguinte composição e articulação das forças:
(i) Dest A: CCAÇ 12 a 3 Gr Comb (+);
(ii) Dest B: CART 2520 a 2 Gr Comb (+);
(iii) Dest C: PEL CAÇ NAT 53, 63 e 52 (-).
Desenrolar da acção:
A progressão iniciou-se pelas 1.30h da noite, atingindo-se as proximidades do local do acampamento já perto da madrugada. Os Dest B e C dirigiram-se para os seus locais de emboscada, enquanto o Dest A formava em linha paralelamente à estrada.
Sabia-se que o IN tinha uma sentinela avançada e que os elementos do grupo dormiam com as armas à cabeceira. A aproximação através do capim alto e da mata densa facilmente denunciava as NT.
E, de facto, ainda mal o Dest A tinha iniciado a progressão en linha quando foi alvejado por duas rajadas de pistola-metralhadora que deram o sinal de alarme. Imediatamente as NT começaram a ser batidas por fogo de lança-rockets e armas automáticas a que reagiram prontamente.
Foi nessa altura que um dilagrama, ao ser descavilhado, rebentou à boca da arma, por deficiência da alavanca de segurança, tendo atingido o prisioneiro Malan Mané (6) e o Soldado Iero Jau (2º Gr Comb) que o conduzia e que teve morte quase instantânea. Entretanto já tinham sido feridos o 1º Cabo Mateus (3º Cr Comb) com um tiro no joelho e dois picadores da milícia [do Xime].
Continuando a progressão, e tendo ficado 1 Gr Comb (-) a montar segurança aos feridos, atingiu-se o acampamento constituído por 9 cubatas, para quatro a cinco homens cada, e que o IN tinha abandonado precipitadamente. Na fuga urn pequeno grupo foi cair na zona de emboscada do Dest B que abriu fogo, tendo o IN reagido com um disparo de RPG-2 que causou vários feridos ligeiros às NT.
Entretanto já os Gr Comb do Dest A tinham literalmente saqueado as casas de mato, recolhendo documentos, livros didácticos, folhetos de propaganda e objectos pessoais (inclusive maços de tabaco russo), além de material de guerra.
À ordem, as forças dos 3 Dest reuniram-se no local do acampamento e colaboraram numa batida minuciosa à zona a fim de detectar os vestígios deixados pelo IN que retirou, disperso, em debandada, na direcção de Buruntoni e Ponta Varela.
Além de vários feridos prováveis, o IN sofreu 2 mortos confirmados (posteriormente).
Feita a evacuação dos feridos, os 3 Dest receberam ordem de retirar. Entre Gundagué Beafada e Madina Colhido foram vários rebentamentos na área do acampamento. Presumindo que as NT ainda estivessem no local, o IN fizera fogo de reconhecimento na direcção do Buruntoni.
Por volta das l6h, as nossas forças chegavam ao aquartelamento do Xime, tendo o Dest A transportado em maca o cadáver do soldado Iero Jau (7).
O material capturado pelo Dest A (CCAÇ 12), no valor de 10.825$00, foi o seguinte:
Granadas de LGFog-RPG-2= 30
Granadas de Mort 60 = 6
Granadas de mão defensivas = 2
Minas anti-pessoal = 3
Munições 7,62 Pist Metr PPSH = 610
Munições 7,62 Esp Aut Kalashnikov e Met Lig Degtyarev = 88
Carregadores Esp Aut Kalashikov c/bolsa = 3
Carregadores Metr Lig Degtyarev=2
Carregadores Pist Metr. PPSH = 2
Cartuchos propulsores = 2
Cargas suplementares de RPG-2 = 34
Saco de campanha = 1
Cantil = 1
Marmita = 1
Almotolias =2
Até ao fim do mês, os grupos IN do Xime manifestar-se-iam três vezes:
(i) a 24 emboscando na área de Poindon/Ponta Varela forças da CART 2520 que tiveram um ferido;
(ii) a 28, flagelando em Darsalame Baio com costureirinhas [pistolas metralhadoras PPSH] e rockets o 1º e o 3º Gr Comb da CCAÇ 12 durante a Op Prato Raso;
(iii) e a 29, desencadeando uma emboscada contra forças da CART 2339 [Mansambo] que sofreram um morto e um ferido grave, na estrada Mansambo-Bambadinca.
(Continua)
________
Notas (L.G.)
(1) Vd. post de 23 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LXXVI: (i) A bordo do Niassa; (ii) Chegada a Bissau .
Vd. ainda +post, com a mesma data > Guiné 69/71 - LXXIV: A nossa mobilização para o CTI da Guiné (CCAÇ 12)
(2) Vd. post de 29 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LXXXVI: No 'oásis de paz' de Contuboel (1969)
(3) Vd. post de 29 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LXXXVIII: O baptismo de fogo da CCAÇ 12, em farda nº 3, em Madina Xaquili (Julho de 1969)
(4) Vd. post de 30 de Junho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXX: A CAÇ 12 em operação conjunta com a CART 2339 e os paraquedistas (Agosto de 1969)
(5) Sobre o armamento da guerrilha, vd. post de 16 de maio de 2005 > Guiné 69/71 - XIX: O festival das kalash, das 'costureirinhas', dos rockets e dos katiousha .
Uma apresentação e uma descrição minuciosas do RPG-2, o temível lança-rockets usado pelos guerrilheiros do PAIGC, podem ser lidos no sítio russo, em inglês, dedicado à história militar da Rússia (The Sword of Motherland Foundation).
(6) O dilagrama que provocou este trágico acidente era empunhado por um graduado da CCAÇ 12, que não era apontador habitual de diligrama do seu grupo de combate. No relatório omite-se, por conveniência ou cumplicidade, este facto grave. O Iero Jaló, de etnia fula, morreu ao meu lado. O Malan Mané, o prisioneiro, de etnia mandinga, foi gravemente ferido, tendo sido evacuado para Bissau. Gostaria de saber o que é feito dele hoje: se conseguiu sobreviveu aos ferimentos, se ainda é vivo, se se lembra, à distância de 36 anos, destes loucos meses de Agosto e Septembro de 1969...
(7) Fomos no dia seguinte enterrá-lo na sua aldeia, no regulado do Cossé (se não me engano...). Teve honras militares. Lembro-me do ridículo atroz da cerimónia...
Resumo: A CCAÇ 2590/CCAÇ 12, composta por quadro metropolitanos, chegados à Guiné em finais de Maio de 1969 (1), e por soldados africanos, praticamente todos oriundos do chão fula que tinham feito a sua instrução básica e de especialidade em Contuboel (2), é dada como operacional, a partir de 18 de Julho de 1969.
Colocada em Bambadinca (Sector L1), como unidade de intervenção, fica pronta a actuar às ordens de qualquer um dos sectores da Zona Leste da Guiné (em especial dos Sectores L1, L3 e L5). Tem o seu baptismo de fogo logo imediatamente a seguir, em Madina Xaquili, no sub-sector de Galomaro (3).
3. Setembro/69 (Parte I) – Op Pato Rufia ou primeiro assalto a um objectivo IN
O guerrilheiro [Malan Mané] que foi aprisionado pelos paraquedistas [na Op Nada Consta, realizada em conjunto com a CCAÇ 12 e outras forças] (4) ficou depois à disposição do BCAÇ 2852 [, na sede do sector L1, em Bambadinca ]. Explorando-se o seu estado psicológico, obtiveram-se informações que levariam à localização de um outro acampamento IN no sub-sector do Xime.
Tratava-se de um destacamento avançado a escassas horas do Xime, composto por 5 cubatas paralelamente à estrada Xime-Ponta do Inglês, do lado oeste, internadas na mata 150 metros.
Um RPG-2, com o respectivo porta-granadas. Em russo: Ruchnoi Protivotankovii Granatomet (RPG-2). Uma temível arma que data do princípio dos anos 50. Deixou, entretanto, de ser usada pelo exército russo. Mas foi muito popular entre os exércitos de guerrilha em todo o mundo. Era a bazuca dos pobres... É uma arma muito leve (tubo= 2,86kg.; tubo + granada= 4,48 kg.) e de fácil manobra. Alcance efectivo= 100 metros. Fonte: The Sword of Motherland Foundation (2005), com a devida vénia.
O prisioneiro estivera lá três meses antes, e na altura os efectivos eram de cerca de 40 homens, incluindo um grupo especial de roqueteiros que todas as manhãs se deslocavam para a Ponta Varela afim de atacar as embarcações em circulação no Rio Geba. O armamento era constituído por RPG-2 (seis) e armas ligeiras (5).
Com base nestas informações planeou-se imediatamente Op Pato Rufia afim de executar um golpe de mão sobre o acampamento em referência, com o prisioneiro a servir de guia.
O início do golpe de mão estava previsto para a madrugada do dia 25 de Agosto, mas o guia [, o prisioneiro Malan Mané,] perdeu-se devido à escuridão e à altura do capim sendo mais [recomendável fazer um, ilegível ] prévio reconhecimento da área.
A 27 de Agosto, o 2º Gr Comb [da CCAÇ 12] e forças da CART 2520 [Xime] detectariam uma casa de mato abandonada e uma granada de morteiro 60 que não foi levantada por não apresentar garantias de segurança, a escassas centenas de metros do acampamento IN cujos trilhos de acesso foram devidamente reconhecidos pelo prisioneiro.
No regresso ao Xime verificou-se que o trilho, feito pelas NT dois dias antes, estava minado nos pontos de confluência com a estrada da Ponta do Inglês, tendo os picadores detectado cinco minas anti-pessoal. Tornava-se evidente que o IN fora alertado e que [redobrara] de vigilância a partir de então.
A 7 de Setembro, repetia-se a Op Pato Rufia, com a seguinte composição e articulação das forças:
(i) Dest A: CCAÇ 12 a 3 Gr Comb (+);
(ii) Dest B: CART 2520 a 2 Gr Comb (+);
(iii) Dest C: PEL CAÇ NAT 53, 63 e 52 (-).
Desenrolar da acção:
A progressão iniciou-se pelas 1.30h da noite, atingindo-se as proximidades do local do acampamento já perto da madrugada. Os Dest B e C dirigiram-se para os seus locais de emboscada, enquanto o Dest A formava em linha paralelamente à estrada.
Sabia-se que o IN tinha uma sentinela avançada e que os elementos do grupo dormiam com as armas à cabeceira. A aproximação através do capim alto e da mata densa facilmente denunciava as NT.
E, de facto, ainda mal o Dest A tinha iniciado a progressão en linha quando foi alvejado por duas rajadas de pistola-metralhadora que deram o sinal de alarme. Imediatamente as NT começaram a ser batidas por fogo de lança-rockets e armas automáticas a que reagiram prontamente.
Foi nessa altura que um dilagrama, ao ser descavilhado, rebentou à boca da arma, por deficiência da alavanca de segurança, tendo atingido o prisioneiro Malan Mané (6) e o Soldado Iero Jau (2º Gr Comb) que o conduzia e que teve morte quase instantânea. Entretanto já tinham sido feridos o 1º Cabo Mateus (3º Cr Comb) com um tiro no joelho e dois picadores da milícia [do Xime].
Continuando a progressão, e tendo ficado 1 Gr Comb (-) a montar segurança aos feridos, atingiu-se o acampamento constituído por 9 cubatas, para quatro a cinco homens cada, e que o IN tinha abandonado precipitadamente. Na fuga urn pequeno grupo foi cair na zona de emboscada do Dest B que abriu fogo, tendo o IN reagido com um disparo de RPG-2 que causou vários feridos ligeiros às NT.
Entretanto já os Gr Comb do Dest A tinham literalmente saqueado as casas de mato, recolhendo documentos, livros didácticos, folhetos de propaganda e objectos pessoais (inclusive maços de tabaco russo), além de material de guerra.
À ordem, as forças dos 3 Dest reuniram-se no local do acampamento e colaboraram numa batida minuciosa à zona a fim de detectar os vestígios deixados pelo IN que retirou, disperso, em debandada, na direcção de Buruntoni e Ponta Varela.
Além de vários feridos prováveis, o IN sofreu 2 mortos confirmados (posteriormente).
Feita a evacuação dos feridos, os 3 Dest receberam ordem de retirar. Entre Gundagué Beafada e Madina Colhido foram vários rebentamentos na área do acampamento. Presumindo que as NT ainda estivessem no local, o IN fizera fogo de reconhecimento na direcção do Buruntoni.
Por volta das l6h, as nossas forças chegavam ao aquartelamento do Xime, tendo o Dest A transportado em maca o cadáver do soldado Iero Jau (7).
O material capturado pelo Dest A (CCAÇ 12), no valor de 10.825$00, foi o seguinte:
Granadas de LGFog-RPG-2= 30
Granadas de Mort 60 = 6
Granadas de mão defensivas = 2
Minas anti-pessoal = 3
Munições 7,62 Pist Metr PPSH = 610
Munições 7,62 Esp Aut Kalashnikov e Met Lig Degtyarev = 88
Carregadores Esp Aut Kalashikov c/bolsa = 3
Carregadores Metr Lig Degtyarev=2
Carregadores Pist Metr. PPSH = 2
Cartuchos propulsores = 2
Cargas suplementares de RPG-2 = 34
Saco de campanha = 1
Cantil = 1
Marmita = 1
Almotolias =2
Até ao fim do mês, os grupos IN do Xime manifestar-se-iam três vezes:
(i) a 24 emboscando na área de Poindon/Ponta Varela forças da CART 2520 que tiveram um ferido;
(ii) a 28, flagelando em Darsalame Baio com costureirinhas [pistolas metralhadoras PPSH] e rockets o 1º e o 3º Gr Comb da CCAÇ 12 durante a Op Prato Raso;
(iii) e a 29, desencadeando uma emboscada contra forças da CART 2339 [Mansambo] que sofreram um morto e um ferido grave, na estrada Mansambo-Bambadinca.
(Continua)
________
Notas (L.G.)
(1) Vd. post de 23 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LXXVI: (i) A bordo do Niassa; (ii) Chegada a Bissau .
Vd. ainda +post, com a mesma data > Guiné 69/71 - LXXIV: A nossa mobilização para o CTI da Guiné (CCAÇ 12)
(2) Vd. post de 29 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LXXXVI: No 'oásis de paz' de Contuboel (1969)
(3) Vd. post de 29 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LXXXVIII: O baptismo de fogo da CCAÇ 12, em farda nº 3, em Madina Xaquili (Julho de 1969)
(4) Vd. post de 30 de Junho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXX: A CAÇ 12 em operação conjunta com a CART 2339 e os paraquedistas (Agosto de 1969)
(5) Sobre o armamento da guerrilha, vd. post de 16 de maio de 2005 > Guiné 69/71 - XIX: O festival das kalash, das 'costureirinhas', dos rockets e dos katiousha .
Uma apresentação e uma descrição minuciosas do RPG-2, o temível lança-rockets usado pelos guerrilheiros do PAIGC, podem ser lidos no sítio russo, em inglês, dedicado à história militar da Rússia (The Sword of Motherland Foundation).
(6) O dilagrama que provocou este trágico acidente era empunhado por um graduado da CCAÇ 12, que não era apontador habitual de diligrama do seu grupo de combate. No relatório omite-se, por conveniência ou cumplicidade, este facto grave. O Iero Jaló, de etnia fula, morreu ao meu lado. O Malan Mané, o prisioneiro, de etnia mandinga, foi gravemente ferido, tendo sido evacuado para Bissau. Gostaria de saber o que é feito dele hoje: se conseguiu sobreviveu aos ferimentos, se ainda é vivo, se se lembra, à distância de 36 anos, destes loucos meses de Agosto e Septembro de 1969...
(7) Fomos no dia seguinte enterrá-lo na sua aldeia, no regulado do Cossé (se não me engano...). Teve honras militares. Lembro-me do ridículo atroz da cerimónia...
domingo, 7 de agosto de 2005
Guiné 63/74 - P145: Bissalanca, Bambadinca, Anura... ou três fotos com legenda (1) (Marques Lopes)
Textos e fotos avulsos, enviados pelo A. Marques Lopes, coronel, DFA, na situação de reforma, e membro da tertúlia dos ex-combatentes da Guiné:
1. Este avião foi capturado à Guiné-Conakry em 27 de Março de 1968. Estava eu, nos princípios de Maio desse ano, à espera da DO [Dormier] que me havia de levar a Barro quando o vi.
O sentinela da Polícia Aérea que estava a montar guarda explicou-me o que era. Preparei-me para tirar uma fotografia, mas ele disse:
Não pode tirar fotografia, meu alferes, é proibido!". Perante isso, disse-lhe simplesmente:
- Vira a cara para o lado e já não vês nada... - E tirei a fotografia.
2. Almoço no Clube de Caça da Anura, em 1998. Eu sou o segundo do lado direito, no primeiro plano. O segundo do lado esquerdo, no primeiro plano, é o Rocha, economista casado com a Juvelina Cabral (irmã do Amílcar Cabral), que moravam na altura em Bissau (estão actualmente em Angola).
Mesmo de frente, o homem de bigodes é o comandante do navio mercante que trouxe os portugueses quando se deu o golpe de Ansumane Mané; ao seu lado direito está o gestor da GUIPOR (empresa detentora da exploração do Porto de Bissau, na altura em mãos de portugueses).
3. Alô, pessoal que esteve em Bambadinca!
Em 1998, passei também por Bambadinca. Esta é a Casa do Camilo. Lembram-se? Ele já está lá, pelo menos, há várias dezenas de anos... Estou com a minha amiga Lita. O rapaz negro [noutra foto, não inserida aqui] é o tal Cinq, meu companheiro de várias viagens.
Comentário do Humberto Reis (ex-furriel miliciano, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71, e também membro da nossa tertúlia):
Eu, com esse nome, Camilo, só me lembro de uma casa comercial em Bafatá, ao lado da fábrica do gelo.
Em Bambadinca só me recordo de dois comerciantes portugueses: (i) o Zé Maria cá em baixo próximo do cais, do lado esquerdo de quem ia para o aquartelamento; (ii) e lá em cima, mas do lado direito, o Rendeiro. Este último lembro-me de o ver na RTP, em 74/75, na época dos retornados, em Castelo Branco ou na Covilhã.
PS - O Didinho deu-me conhecimento destes novos portais sobre a Guiné-Bissau. São portais sedeados em Portugal, como vêem, embora se apresentem, ou se façam apresentar, como sendo de cariz oficial do Governo da Guiné-Bissau. Que se estará a preparar?
Têm em comum o facto de a concepção, o desenho, a edição e a publicação serem da responsabilidade do nosso já conhecido Fernando Casimiro (Didinho). a Vale a pena ir consultando (os três sítios), para ver as semelhanças... e as diferenças.
Os endereços dos dois novos portais são os seguintes:
Portal Nacional da República da Guiné-Bissau
Guiné-Bissau: Portal do Governo
1. Este avião foi capturado à Guiné-Conakry em 27 de Março de 1968. Estava eu, nos princípios de Maio desse ano, à espera da DO [Dormier] que me havia de levar a Barro quando o vi.
O sentinela da Polícia Aérea que estava a montar guarda explicou-me o que era. Preparei-me para tirar uma fotografia, mas ele disse:
Não pode tirar fotografia, meu alferes, é proibido!". Perante isso, disse-lhe simplesmente:
- Vira a cara para o lado e já não vês nada... - E tirei a fotografia.
2. Almoço no Clube de Caça da Anura, em 1998. Eu sou o segundo do lado direito, no primeiro plano. O segundo do lado esquerdo, no primeiro plano, é o Rocha, economista casado com a Juvelina Cabral (irmã do Amílcar Cabral), que moravam na altura em Bissau (estão actualmente em Angola).
Mesmo de frente, o homem de bigodes é o comandante do navio mercante que trouxe os portugueses quando se deu o golpe de Ansumane Mané; ao seu lado direito está o gestor da GUIPOR (empresa detentora da exploração do Porto de Bissau, na altura em mãos de portugueses).
3. Alô, pessoal que esteve em Bambadinca!
Em 1998, passei também por Bambadinca. Esta é a Casa do Camilo. Lembram-se? Ele já está lá, pelo menos, há várias dezenas de anos... Estou com a minha amiga Lita. O rapaz negro [noutra foto, não inserida aqui] é o tal Cinq, meu companheiro de várias viagens.
Comentário do Humberto Reis (ex-furriel miliciano, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71, e também membro da nossa tertúlia):
Eu, com esse nome, Camilo, só me lembro de uma casa comercial em Bafatá, ao lado da fábrica do gelo.
Em Bambadinca só me recordo de dois comerciantes portugueses: (i) o Zé Maria cá em baixo próximo do cais, do lado esquerdo de quem ia para o aquartelamento; (ii) e lá em cima, mas do lado direito, o Rendeiro. Este último lembro-me de o ver na RTP, em 74/75, na época dos retornados, em Castelo Branco ou na Covilhã.
PS - O Didinho deu-me conhecimento destes novos portais sobre a Guiné-Bissau. São portais sedeados em Portugal, como vêem, embora se apresentem, ou se façam apresentar, como sendo de cariz oficial do Governo da Guiné-Bissau. Que se estará a preparar?
Têm em comum o facto de a concepção, o desenho, a edição e a publicação serem da responsabilidade do nosso já conhecido Fernando Casimiro (Didinho). a Vale a pena ir consultando (os três sítios), para ver as semelhanças... e as diferenças.
Os endereços dos dois novos portais são os seguintes:
Portal Nacional da República da Guiné-Bissau
Guiné-Bissau: Portal do Governo
Guiné 63/74 - P144: Bibliografia de uma guerra (11): Salgueiro Maia (Jorge Santos)
Selecção e notas de Jorge Santos.
AUTOR: Salgueiro Maia
TÍTULO: Capitão de Abril – Histórias da Guerra do Ultramar e do 25 de Abril
EDITORA: Editorial Notícias
ANO: 1994
SINOPSE: “A minha geração, talvez por ter nascido ainda com o cheiro da Segunda Guerra Mundial, teve a característica de ser saudavelmente gregária; assim, e em confronto com as novas gerações, o sentimento colectivo dominava o individual; desde os bancos da escola que nos organizámos de modo a fazer face ao inimigo comum, os professores e todo o tipo de autoridade; este sentimento foi a base de tudo o que fizemos a seguir”.
Nota sobre o autor: Fernando José Salgueiro Maia, o Capitão de Abril, nasceu a 1 de Julho de 1944, em Castelo de Vide, filho de Francisco da Luz Maia e de Francisca Silvéria Salgueiro. Fez a instrução na escola primária de São Torcato, em Coruche; e os estudos secundários, em Tomar e em Leiria, para onde se desloca com o pai, empregado da CP (Caminhos de Ferro).
Fonte: Centro de Documentação 25 de Abril (© 1996)
Aos vinte anos, em Outubro de 1964, Salgueiro Maia entra para a Academia Militar, em Lisboa. Em 1966 apresenta-se na EPC (Escola Prática de Cavalaria), em Santarém, para frequentar o tirocínio. Parte, em 1968, para o Norte de Moçambique integrado na 9ª Companhia de Comandos. Promovido a capitão em 1970, parte em Julho de 1971 para a Guiné à frente da Companhia de Cavalaria 3420. Esteve em Bula. Foi director do jornal da sua unidade, Os Progressitas. (vd. post de 7 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - XCVI: Salgueiro Maia, director de jornal de caserna).
Regressou a Portugal em 1973, e ficou colocado na EPC. Começam então as reuniões do MFA (Movimento das Forças Armadas). Salgueiro Maia, delegado da arma de Cavalaria, faz parte da Comissão Coordenadora do Movimento.
Em 25 de Abril de 1974, comanda a coluna de carros de combate que, partindo de Santarém, foi cercar os ministérios no Terreiro do Paço, em Lisboa. Comandou a seguir o cerco ao Quartel do Carmo onde se encontrava refugiado Marcelo Caetano forçando-o à rendição. A sua acção no cerco ao Quartel do Carmo constitui uma das mais belas imagens do 25 de Abril de 1974.
Como aconteceu com muitos outros militares de Abril, a hierarquia militar acabou por discriminá-lo, ao colocá-lo nos Açores de onde só regressará em 1979 para comandar o Presídio Militar de Santa Margarida.
Por fim, em 1984 regressou à sua unidade EPC. Faleceu em 4 de Abril de 1992. Está sepultado em Castelo de Vide, no talhão dos combatentes. Logo após o 25 de Abril, o então largo Oliveira Salazar em Castelo de Vide passou a ser designado por Largo Capitão Maia.
No 25º aniversário do 25 de Abril (1999), a Direcção do Grupo de Amigos de Castelo de Vide, ciente de representar, neste particular o sentir dos seus conterrâneos, depositou cravos na sua sepultura, juntamente com um texto de agradecimento pelo seu papel na restituição da Liberdade aos portugueses. Esse grupo de amigos não esconde o orgulho ter entre os seus conterrâneos um dos mais generosos capitães de Abril, que recusou honrarias e cargos políticos.
Outros sítios sobre Salgueiro Maia (1944-1992):
Vidas Lusófonas > Salgueiro Maia, militar, capitão de Abril: 1944-1992, por Carlos Loures
AUTOR: António Sousa Duarte
TÍTULO: Salgueiro Maia - Fotobiografia
EDITORA: Âncora
ANO: 2004
SINOPSE: Incluem-se nesta obra artigos de jornais (por exemplo,a notícia da sua partida para a Guiné, em Julho de 1971) bem como cartas e outros documentos pessoais do capitão de Abril. E também testemunhos da sua actividade cultural, as viagens, as licenciaturas que fez em Sociologia e em Antropologia, a concepção de um pequeno museu militar na Escola Prática de Cavalaria, em Santarém.
Mas nesta obra, que contém fotos de Rui Ochôa e Alfredo Cunha, é retratado o homem dedicado, informal nas cerimónias públicas como nos piqueniques familiares, irónico e dono de uma lucidez implacável. O o mesmo que pede à sua mulher, Natércia, que o fotografe com as cicatrizes na barriga, após uma operação a que foi sujeito e no decorrer da doença que viria vitimá-lo. Fonte: Nair Alexandra, in revista «Actual» (Expresso), de 22/5/2004.
AUTOR: António Sousa Duarte
TÍTULO: Salgueiro Maia – Um Homem da Liberdade
EDITORA: Âncora
ANO: 2000
SINOPSE: "Na modéstia e isenção do seu comportamento e na honradez do seu carácter, foi uma referência. Compreendeu como poucos o papel que deve caber aos militares numa sociedade democrática. Deveria, por isso, ter sido melhor apreciado na instituição militar. A melhor maneira de honrarmos a sua memória é continuarmos a construir o país de liberdade e solidariedade, sem discriminações nem injustiças, que ele sonhou para todos os portugueses". Mário Soares (in Prefácio)
FADO SALGUEIRO MAIA
Traz a tua força, amigo,
Traz também o coração
Que nós estamos contigo
P'ra cumprir a revolução.
Traz também teus olhos verdes,
Luz de uma esperança calada,
Traz também a tua aura,
De homem puro, madrugada.
Meu amor, livro de História,
Nobre raíz de imbondeiro,
Trazes no fundo do peito,
O grito da liberdade, Salgueiro
Maia, dum Maio maduro,
Fruto de Abril conquistado,
Maia, passo de coragem
Dum Portugal bem fadado.
(Letra e Música- Valéria Mendez)
AUTOR: Salgueiro Maia
TÍTULO: Capitão de Abril – Histórias da Guerra do Ultramar e do 25 de Abril
EDITORA: Editorial Notícias
ANO: 1994
SINOPSE: “A minha geração, talvez por ter nascido ainda com o cheiro da Segunda Guerra Mundial, teve a característica de ser saudavelmente gregária; assim, e em confronto com as novas gerações, o sentimento colectivo dominava o individual; desde os bancos da escola que nos organizámos de modo a fazer face ao inimigo comum, os professores e todo o tipo de autoridade; este sentimento foi a base de tudo o que fizemos a seguir”.
Nota sobre o autor: Fernando José Salgueiro Maia, o Capitão de Abril, nasceu a 1 de Julho de 1944, em Castelo de Vide, filho de Francisco da Luz Maia e de Francisca Silvéria Salgueiro. Fez a instrução na escola primária de São Torcato, em Coruche; e os estudos secundários, em Tomar e em Leiria, para onde se desloca com o pai, empregado da CP (Caminhos de Ferro).
Fonte: Centro de Documentação 25 de Abril (© 1996)
Aos vinte anos, em Outubro de 1964, Salgueiro Maia entra para a Academia Militar, em Lisboa. Em 1966 apresenta-se na EPC (Escola Prática de Cavalaria), em Santarém, para frequentar o tirocínio. Parte, em 1968, para o Norte de Moçambique integrado na 9ª Companhia de Comandos. Promovido a capitão em 1970, parte em Julho de 1971 para a Guiné à frente da Companhia de Cavalaria 3420. Esteve em Bula. Foi director do jornal da sua unidade, Os Progressitas. (vd. post de 7 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - XCVI: Salgueiro Maia, director de jornal de caserna).
Regressou a Portugal em 1973, e ficou colocado na EPC. Começam então as reuniões do MFA (Movimento das Forças Armadas). Salgueiro Maia, delegado da arma de Cavalaria, faz parte da Comissão Coordenadora do Movimento.
Em 25 de Abril de 1974, comanda a coluna de carros de combate que, partindo de Santarém, foi cercar os ministérios no Terreiro do Paço, em Lisboa. Comandou a seguir o cerco ao Quartel do Carmo onde se encontrava refugiado Marcelo Caetano forçando-o à rendição. A sua acção no cerco ao Quartel do Carmo constitui uma das mais belas imagens do 25 de Abril de 1974.
Como aconteceu com muitos outros militares de Abril, a hierarquia militar acabou por discriminá-lo, ao colocá-lo nos Açores de onde só regressará em 1979 para comandar o Presídio Militar de Santa Margarida.
Por fim, em 1984 regressou à sua unidade EPC. Faleceu em 4 de Abril de 1992. Está sepultado em Castelo de Vide, no talhão dos combatentes. Logo após o 25 de Abril, o então largo Oliveira Salazar em Castelo de Vide passou a ser designado por Largo Capitão Maia.
No 25º aniversário do 25 de Abril (1999), a Direcção do Grupo de Amigos de Castelo de Vide, ciente de representar, neste particular o sentir dos seus conterrâneos, depositou cravos na sua sepultura, juntamente com um texto de agradecimento pelo seu papel na restituição da Liberdade aos portugueses. Esse grupo de amigos não esconde o orgulho ter entre os seus conterrâneos um dos mais generosos capitães de Abril, que recusou honrarias e cargos políticos.
Outros sítios sobre Salgueiro Maia (1944-1992):
Vidas Lusófonas > Salgueiro Maia, militar, capitão de Abril: 1944-1992, por Carlos Loures
AUTOR: António Sousa Duarte
TÍTULO: Salgueiro Maia - Fotobiografia
EDITORA: Âncora
ANO: 2004
SINOPSE: Incluem-se nesta obra artigos de jornais (por exemplo,a notícia da sua partida para a Guiné, em Julho de 1971) bem como cartas e outros documentos pessoais do capitão de Abril. E também testemunhos da sua actividade cultural, as viagens, as licenciaturas que fez em Sociologia e em Antropologia, a concepção de um pequeno museu militar na Escola Prática de Cavalaria, em Santarém.
Mas nesta obra, que contém fotos de Rui Ochôa e Alfredo Cunha, é retratado o homem dedicado, informal nas cerimónias públicas como nos piqueniques familiares, irónico e dono de uma lucidez implacável. O o mesmo que pede à sua mulher, Natércia, que o fotografe com as cicatrizes na barriga, após uma operação a que foi sujeito e no decorrer da doença que viria vitimá-lo. Fonte: Nair Alexandra, in revista «Actual» (Expresso), de 22/5/2004.
AUTOR: António Sousa Duarte
TÍTULO: Salgueiro Maia – Um Homem da Liberdade
EDITORA: Âncora
ANO: 2000
SINOPSE: "Na modéstia e isenção do seu comportamento e na honradez do seu carácter, foi uma referência. Compreendeu como poucos o papel que deve caber aos militares numa sociedade democrática. Deveria, por isso, ter sido melhor apreciado na instituição militar. A melhor maneira de honrarmos a sua memória é continuarmos a construir o país de liberdade e solidariedade, sem discriminações nem injustiças, que ele sonhou para todos os portugueses". Mário Soares (in Prefácio)
FADO SALGUEIRO MAIA
Traz a tua força, amigo,
Traz também o coração
Que nós estamos contigo
P'ra cumprir a revolução.
Traz também teus olhos verdes,
Luz de uma esperança calada,
Traz também a tua aura,
De homem puro, madrugada.
Meu amor, livro de História,
Nobre raíz de imbondeiro,
Trazes no fundo do peito,
O grito da liberdade, Salgueiro
Maia, dum Maio maduro,
Fruto de Abril conquistado,
Maia, passo de coragem
Dum Portugal bem fadado.
(Letra e Música- Valéria Mendez)
Guiné 63/74 - P143: A imprensa militar (Marques Lopes)
Texto do A. Marques Lopes:
Há tempos o Jorge Santos mandou-nos uma lista dos títulos da imprensa militar publicada na Guiné durante a guerra. Eu próprio digitalizei as referências bibliográficas completas desssas publicações, constantes do livro Imprensa Militar Portuguesa - Catálogo da Biblioteca do Exército. Trata-se de uma edição da Biblioteca do Exército de 2003. A responsabilidade da edição é do coronel Alberto Ribeiro Soares, então Director da Biblioteca (não sei se ainda é).
Como podem ver pelos dois que aqui deixo, cada jornal tem o nome da unidade que o publicava, o director da publicação, o anos em que foi publicado, os exemplares existentes na Biblioteca do Exército e, no final, a referência, para quem quizer fazer consultas.
Existem outra publicações das unidades que estiveram em Angola, Moçambique, Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe, Timor e, até, em tempo mais recuados, das que estiveram na Índia.
É um belíssimo trabalho da responsabilidade do coronel Ribeiro Soares e uma base muito importante para quem quizer estudar a psicologia e o sentimento dos combatentes, tendo, embora em conta que a maior parte destas publicações eram dirigidas pelos comandantes das unidades. Mas alguma coisa hão-de dizer.
Há tempos o Jorge Santos mandou-nos uma lista dos títulos da imprensa militar publicada na Guiné durante a guerra. Eu próprio digitalizei as referências bibliográficas completas desssas publicações, constantes do livro Imprensa Militar Portuguesa - Catálogo da Biblioteca do Exército. Trata-se de uma edição da Biblioteca do Exército de 2003. A responsabilidade da edição é do coronel Alberto Ribeiro Soares, então Director da Biblioteca (não sei se ainda é).
Como podem ver pelos dois que aqui deixo, cada jornal tem o nome da unidade que o publicava, o director da publicação, o anos em que foi publicado, os exemplares existentes na Biblioteca do Exército e, no final, a referência, para quem quizer fazer consultas.
Existem outra publicações das unidades que estiveram em Angola, Moçambique, Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe, Timor e, até, em tempo mais recuados, das que estiveram na Índia.
É um belíssimo trabalho da responsabilidade do coronel Ribeiro Soares e uma base muito importante para quem quizer estudar a psicologia e o sentimento dos combatentes, tendo, embora em conta que a maior parte destas publicações eram dirigidas pelos comandantes das unidades. Mas alguma coisa hão-de dizer.
Guiné 63/74 - P142: Antologia (14): Invasão de Conacri, o último combate da marinha portuguesa (Jorge Santos)
Este texto chegou à nossa caixa de correio por mão do Jorge Santos, sempre atento a tudo o que se diz e escreve sobre a guerra colonial.
Foi publicado num jornal semanário, da comunidade luso-americana. Reproduzi-lo aqui, com a devia vénia:
Eduardo Mayone Dias: Carta da Califórnia: Último Combate da Marinha Portuguesa. Portuguese Times, New Bedford, Mass. nº 1706, de 3 de Março de 2004.
________
Em 1958 a Guiné-Conakry conseguiu a independência e Sekou Touré tornou-se o seu Presidente, instituindo um governo de nítido carácter esquerdista. A sua política ditatorial levou a uma forte resistência dentro do país.(1) É pois fácil compreender que este governo se oporia a qualquer sistema colonialista e se mostraria favorável a apoiar movimentos autonomistas, como era o PAIGC.
Foi pois nestas circunstâncias que esta nação se tornou a principal base logística e de treino dos guerrilheiros chefiados por Amílcar Cabral. As quatro vedetas do PAIGC, com uma deslocação de 66 toneladas, podiam atingir uma velocidade superior a 40 nós. Estavam armadas com duas peças anti-aéreas e dois tubos lança-torpedos. Dada a sua mobilidade e poder de fogo constituíam evidentemente uma grave ameaça para Portugal. De facto não lhes seria difícil acercar-se durante a noite ao porto de Bissau sem serem detectadas e afundar qualquer navio aí atracado, incluindo um dos paquetes então utilizados como transportes de tropas. Entre estas unidades contava-se
o Niassa (I), o primeiro navio mercante a ser requisitado para esse serviço, com
capacidade para receber mais de 3000 homens.
Foi por esta altura que o Capitão-Tenente Alpoim Calvão, especializado em operações de mergulhadores-sapadores, concebeu um plano para pôr fora de acção estas vedetas, tanto as da Guiné-Conakry como as do PAIGC. O método consistiria em conduzir equipas de homens-rãs em lanchas, durante a noite, até ao porto de Conakry. Aí os militares portugueses aporiam minas-lapa no costado das vedetas potencialmente inimigas.
Terminada a sua missão, esse contingente regressaria a Bissau, ainda a coberto das trevas. Dentro de poucas horas as minas explodiriam. Uma vez afundadas as vedetas, esperava-se que a autoria da operação não fosse determinada. No fundo era um plano que deveria ser desenvolvido com a maior discrição, já que Portugal não se encontrava em estado de guerra com a Guiné-Conakry e portanto não seria, sob um ponto de vista legal, justificável um ataque às suas forças.
O projecto mereceu o apoio do então Brigadeiro António de Spínola, Governador e Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné, o que possivelmente contribuiu para que fosse também aprovado pelo Chefe do Estado-Maior da Armada, decerto com a aquiescência de entidades superiores. Com o caminho agora aberto, Alpoim Galvão deslocou-se à Áfrical do Sul na companhia de um inspector da Direcção Geral de Seguraça (DGS), a sucessora da PIDE. Tratava-se de adquirir nesse país as minas necessárias para a execução desta audaciosa empresa. (Recorde-se que a União Sul-Africana foi o único país deste Continente que de forma activa cooperou com Portugal na luta contra os movimentos autonomistas.) Obtido o material desejado, Alpoim Galvão escondeu-o na sua bagagem e assim o levou para Lisboa, de onde depois
seguiu para a Guiné.
A fase seguinte consistia em obter dados sobre as instalações portuárias de Conakry. Nem em Lisboa nem em Bissau se tornou possível encontrar uma planta da cidade, de modo que houve que optar por uma observação in loco. Para isso destinou-se uma lancha que durante a noite entraria no porto, camuflada como pertencendo ao PAIGC. A unidade escolhida, a meados de Setembro de 1969, foi a lancha Sagitário. Para manter a ilusão, determinou-se que no caso de a embarcação ser avistada, apenas tripulantes africanos pudessem ser vistos na coberta. Um cabo de fuzileiros (2), ostentando boné de oficial, aparentaria ser o comandante.
Dando uma volta para simular ter vindo do sul, a lancha entrou no porto de Conakry às duas horas da noite de 17 de Setembro sem qualquer incidente, embora no seu trajecto se houvesse cruzado com alguns barcos de pesca. O seu radar pôde determinar a localização exacta dos cais. Tudo correu bem e preparavam-se para iniciar o regresso quando deixou de funcionar o gerador da lancha, o que obrigou a que fosse fundeada ainda dentro do porto. Criaram-se naturalmente momentos de grande tensão a bordo mas conseguiu-se reparar a avaria sem grande demora e a embarcação pôde atingir Bissau a são e salvo.
O magnífico êxito desta operação incentivou Alpoim Galvão a alargar o escopo da seguinte, a que seria dado o nome de código "Mar Verde" (II). Havia conhecimento da existência em Conakry de 26 prisioneiros de guerra portugueses (3) e o empreendedor oficial propôs a Spínola tentar a sua libertação, proposta com que o Comandante-Chefe entusiasticamente concordou. Mais do que isso, alvitrou também a destruição das instalações do PAIGC no porto.
O plano da "Mar Verde" iria no entanto continuar a ser ampliado. Já desde 1964 as autoridades portuguesas tinham mantido contactos com o FNLG, o Front de Libération National Guinéen, uma organização que fortemente se opunha ao regime de Sekou Touré. Pensava-se mesmo em autorizar o FNLG a criar bases em território da Guiné Portuguesa para daí lançar operações militares.
Encarou-se então a hipótese de usar forças armadas do FNLG para colaborarem na Operação "Mar Verde", o que, esperava-se, poderia levar à deposição de Sekou Touré e à instalação de um governo mais avesso a uma hostilidade a Portugal. De novo Spínola, agora já promovido ao posto de general, alinhou com esta iniciativa. Pouco a pouco a operação ia assumindo um decidido carácter de bola de neve.
A utilização de forças do FLNG neste empreendimento implicava vários problemas. Um deles consistia nas desfavoráveis repercussões internacionaisde um golpe de estado fomentado num país estrangeiro pelo Governo Português.Também os elementos da organização se encontravam dispersos por vários países africanos e tornava-se imperioso reuni-los e trazê-los sob o maior sigilo até ao território da Guiné Portuguesa, onde seriam treinados. Uma vez aí foram levados à ilha de Soga, de onde não lhes era permitido sair, a fim de que se mantivesse absoluto silêncio sobre a sua presença. Embora muitos deles houvessem já servido no exército colonial francês ou no da Guiné-Conakry, foram submetidos a uma intensa preparação, dirigida por
instrutores portugueses, que durou de Janeiro a Novembro de 1970. Conseguido o assentimento do Presidente do Conselho de Ministros, Marcelo Caetano, com a condição de que não fosse deixado em Conakry qualquer indício da intervenção portuguesa, tudo estava preparado para lançar a "Mar Verde", apesar dos graves riscos políticos que poderia desencadear.
Ao fim da tarde de 19 de Novembro zarpou da ilha de Soga (III) uma força naval comandada por Alpoim Galvão e constituída por quatro lanchas de fiscalização e duas de desembarque. A bordo seguiam uns 200 homens do FLNG, fuzileiros guineenses e uma companhia de comandos também africanos.
Apoiadas por um avião da Força Aérea Portuguesa, estas unidades navegaram para o sul e conseguiram atingir as imediações de Conakry, sem a sua presença ter sido observada, pelas vinte horas do dia 21 de Novembro. As lanchas fundearam depois em pontos diferentes, esperando a hora do desembarque, marcada para a uma e trinta da madrugada de domingo, dia 22.
O primeiro passo a ser dado era o da neutralização de todas as vedetas, o que também impediria qualquer resistência séria. Dessa missão encarregou-se uma equipa de catorze fuzileiros africanos, comandados por um jovem oficial europeu. Em absoluto silêncio tomaram lugar em botes de borracha. A um lado de um pontão encontraram as quatro vedetas do PAIGC, amarradas entre si, e do lado oposto as três da Guiné-Conakry. No pontão avistaram uma sentinela, que se lhes afigurou estar adormecida. Um grumete aproximou-se em silêncio e matou a sentinela com uma punhalada. Vieram em seguida os restantes membros da equipa, que através das escotilhas lançaram para o interior das vedetas granadas de mão que liquidaram os tripulantes que aí se encontravam e causaram vários incêndios. Isso alertou um posto instalado no telhado de um armazém da doca, de onde começou a ser feito fogo de metralhadora.
Apesar de ter sofrido alguns feridos, a equipa pôde regressar aos botes, deixando em chamas as vedetas, que pouco mais tarde explodiram. Pela uma e quarenta largaram de outras lanchas dez botes transportando uma equipa destinada a tomar posse de um complexo militar a perto de sete quilómetros da cidade. Alguns dos botes embaraçaram-se em armações de pesca, o que atrasou o desembarque. A equipa dividiu-se então em três grupos. O primeiro encaminhou-se para a prisão La Montaigne, onde se encontravam
detidos os prisioneiros portugueses. Após um breve combate com os guardas, os prisioneiros foram libertados.
O objectivo do segundo grupo era o ataque a instalações do PAIGC, o que foi alcançado com a destruição de cinco edifícios e algumas viaturas. Também foram abatidos alguns militantes do partido.
O terceiro grupo, após um violento combate com os defensores, arrasou um complexo de milícias e uma residência de férias de Sekou Touré. Poderá admitir-se que o ataque ao segundo alvo teria sido concebido com o fim de eliminar o Presidente, o que não aconteceu.
De outra lancha largaram três equipas. A primeira assaltou o quartel da Guarda Republicana e libertou cerca de 400 presos políticos, alguns dos quais pegaram em armas e se juntaram aos atacantes. Essa lancha atracou ao cais do Yacht Club e desembarcou as outras duas equipas. Uma delas ocupou a central eléctrica e cortou a energia para a cidade, com o propósito de desorientar os defensores e facilitar a retirada dos atacantes. O terceiro grupo ocupou sem resistência um campo militar e destroçou uma coluna motorizada que acorrera ao local. Pelas quatro da manhã haviam sido alcançados com êxito e apenas ligeiras baixas os objectivos situados na parte norte da cidade.
Já na parte sul a acção não decorreu com tanto sucesso. Uma equipa vinda para terra à uma da manhã, comandada por um alferes guineense e encarregada de ocupar a estação emissora de rádio, não conseguiu chegar ao seu destino por falta de orientação. Sete outras equipas todavia cumpriram as suas missões no interior da cidade sem grande resistência, com a excepção da encontrada no quartel da Gendarmerie. Neste recontro foi destruída uma coluna de blindados. No palácio presidencial também não foi possível encontrar Sekou Touré.
Ainda outra equipa, a que fora dada ordem de ocupar o aeroporto e destruir os aviões de caça Mig que se deviam aí encontrar fracassou no seu intento. A caminho, um tenente guineense desertou, levando consigo vinte homens.(5) O comandante da equipa, um capitão pára-quedista europeu, prosseguiu no seu trajecto mas teve a surpresa de não encontrar no aeroporto os Migs, que dias antes haviam sido transferidos para outro local.
O propósito inicial de Alpoim Galvão era de permanecer em Conakry até que o governo de Sekou Touré fosse derrubado. Considerando contudo que como os Migs não tinham sido destruídos, o que poderia constituir um grave perigo para as suas embarcações, decidiu-se por uma rápida retirada. Aliás soube-se mais tarde que os aparelhos não estavam operacionais, dada a falta de preparação dos seus pilotos. Desanimou-o também a constatação de que o FLNG não reunia as condições para um eficaz apoio popular na sua tentativa de subir ao poder.
A partida de Conakry teve lugar já depois do nascer do sol e o regresso a Bissau processou-se sem obstáculos de maior, embora tivessem sido feitos quatro tiros de morteiro em direcção a uma das lanchas. A flotilha aportou à ilha de Soga no dia seguinte, a meio da tarde.
A meticulosidade com que a Operação "Mar Verde" foi planeada e executada revelou-se verdadeiramente notável ao nível militar. As vedetas foram postas fora de combate, várias instalações do PAOGC inutilizadas e os prisioneiros portugueses libertados. O custo humano orçou apenas por três mortos e três feridos graves. No plano político resultou no entanto num estrondoso fracasso. Sekou Touré continuou no poder e Amílcar Cabral não foi aprisionado ou abatido, como seria decerto o secreto desejo de muitos.
É contudo curioso notar que "Mar Verde" representou a única acção de envergadura realizada em qualquer das três frentes das campanhas coloniais por forças de combate predominantemente africanas. (5) De todos os modos, no fundo foi um esforço tão inútil como todos os outros levados a efeito durante os longos anos da guerra colonial, rematada pela via política sem se terem obtido os resultados propostos.
__________
NOTAS
(1) Através da sua obra Poèmes militants (1978), Sekou Touré tornou-se também conhecido como poeta.
(2) Recorde-se que o Corpo de Fuzileiros Navais faz parte da Marinha de Guerra Portuguesa.
(3) O aprisionamento de militares portugueses em África era um segredo rigorosamente imposto pela censura aos meios de comunicação social.
(4) Parece que este oficial foi mais tarde executado por ordem de Sekou Touré.
(5) A deserção do tenente guineense com os seus homens constituiu um incidente que ilustra a continuada relutância portuguesa de empregar forças africanas em missões de combate contra a guerrilha.
__________
Notas de L.G.
(I) Vd. pot de 23 de Junho de 2005> Guiné 69/71 - LXXVI: (i) A bordo do Niassa; (ii) Chegada a Bissau
(II) Vd. post de 4 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXXXVII: Antologia (12): Op Mar Verde
(III) No arquipélago dos Bijagós: vd. mapa da Guiné-Bissau
Foi publicado num jornal semanário, da comunidade luso-americana. Reproduzi-lo aqui, com a devia vénia:
Eduardo Mayone Dias: Carta da Califórnia: Último Combate da Marinha Portuguesa. Portuguese Times, New Bedford, Mass. nº 1706, de 3 de Março de 2004.
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Em 1958 a Guiné-Conakry conseguiu a independência e Sekou Touré tornou-se o seu Presidente, instituindo um governo de nítido carácter esquerdista. A sua política ditatorial levou a uma forte resistência dentro do país.(1) É pois fácil compreender que este governo se oporia a qualquer sistema colonialista e se mostraria favorável a apoiar movimentos autonomistas, como era o PAIGC.
Foi pois nestas circunstâncias que esta nação se tornou a principal base logística e de treino dos guerrilheiros chefiados por Amílcar Cabral. As quatro vedetas do PAIGC, com uma deslocação de 66 toneladas, podiam atingir uma velocidade superior a 40 nós. Estavam armadas com duas peças anti-aéreas e dois tubos lança-torpedos. Dada a sua mobilidade e poder de fogo constituíam evidentemente uma grave ameaça para Portugal. De facto não lhes seria difícil acercar-se durante a noite ao porto de Bissau sem serem detectadas e afundar qualquer navio aí atracado, incluindo um dos paquetes então utilizados como transportes de tropas. Entre estas unidades contava-se
o Niassa (I), o primeiro navio mercante a ser requisitado para esse serviço, com
capacidade para receber mais de 3000 homens.
Foi por esta altura que o Capitão-Tenente Alpoim Calvão, especializado em operações de mergulhadores-sapadores, concebeu um plano para pôr fora de acção estas vedetas, tanto as da Guiné-Conakry como as do PAIGC. O método consistiria em conduzir equipas de homens-rãs em lanchas, durante a noite, até ao porto de Conakry. Aí os militares portugueses aporiam minas-lapa no costado das vedetas potencialmente inimigas.
Terminada a sua missão, esse contingente regressaria a Bissau, ainda a coberto das trevas. Dentro de poucas horas as minas explodiriam. Uma vez afundadas as vedetas, esperava-se que a autoria da operação não fosse determinada. No fundo era um plano que deveria ser desenvolvido com a maior discrição, já que Portugal não se encontrava em estado de guerra com a Guiné-Conakry e portanto não seria, sob um ponto de vista legal, justificável um ataque às suas forças.
O projecto mereceu o apoio do então Brigadeiro António de Spínola, Governador e Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné, o que possivelmente contribuiu para que fosse também aprovado pelo Chefe do Estado-Maior da Armada, decerto com a aquiescência de entidades superiores. Com o caminho agora aberto, Alpoim Galvão deslocou-se à Áfrical do Sul na companhia de um inspector da Direcção Geral de Seguraça (DGS), a sucessora da PIDE. Tratava-se de adquirir nesse país as minas necessárias para a execução desta audaciosa empresa. (Recorde-se que a União Sul-Africana foi o único país deste Continente que de forma activa cooperou com Portugal na luta contra os movimentos autonomistas.) Obtido o material desejado, Alpoim Galvão escondeu-o na sua bagagem e assim o levou para Lisboa, de onde depois
seguiu para a Guiné.
A fase seguinte consistia em obter dados sobre as instalações portuárias de Conakry. Nem em Lisboa nem em Bissau se tornou possível encontrar uma planta da cidade, de modo que houve que optar por uma observação in loco. Para isso destinou-se uma lancha que durante a noite entraria no porto, camuflada como pertencendo ao PAIGC. A unidade escolhida, a meados de Setembro de 1969, foi a lancha Sagitário. Para manter a ilusão, determinou-se que no caso de a embarcação ser avistada, apenas tripulantes africanos pudessem ser vistos na coberta. Um cabo de fuzileiros (2), ostentando boné de oficial, aparentaria ser o comandante.
Dando uma volta para simular ter vindo do sul, a lancha entrou no porto de Conakry às duas horas da noite de 17 de Setembro sem qualquer incidente, embora no seu trajecto se houvesse cruzado com alguns barcos de pesca. O seu radar pôde determinar a localização exacta dos cais. Tudo correu bem e preparavam-se para iniciar o regresso quando deixou de funcionar o gerador da lancha, o que obrigou a que fosse fundeada ainda dentro do porto. Criaram-se naturalmente momentos de grande tensão a bordo mas conseguiu-se reparar a avaria sem grande demora e a embarcação pôde atingir Bissau a são e salvo.
O magnífico êxito desta operação incentivou Alpoim Galvão a alargar o escopo da seguinte, a que seria dado o nome de código "Mar Verde" (II). Havia conhecimento da existência em Conakry de 26 prisioneiros de guerra portugueses (3) e o empreendedor oficial propôs a Spínola tentar a sua libertação, proposta com que o Comandante-Chefe entusiasticamente concordou. Mais do que isso, alvitrou também a destruição das instalações do PAIGC no porto.
O plano da "Mar Verde" iria no entanto continuar a ser ampliado. Já desde 1964 as autoridades portuguesas tinham mantido contactos com o FNLG, o Front de Libération National Guinéen, uma organização que fortemente se opunha ao regime de Sekou Touré. Pensava-se mesmo em autorizar o FNLG a criar bases em território da Guiné Portuguesa para daí lançar operações militares.
Encarou-se então a hipótese de usar forças armadas do FNLG para colaborarem na Operação "Mar Verde", o que, esperava-se, poderia levar à deposição de Sekou Touré e à instalação de um governo mais avesso a uma hostilidade a Portugal. De novo Spínola, agora já promovido ao posto de general, alinhou com esta iniciativa. Pouco a pouco a operação ia assumindo um decidido carácter de bola de neve.
A utilização de forças do FLNG neste empreendimento implicava vários problemas. Um deles consistia nas desfavoráveis repercussões internacionaisde um golpe de estado fomentado num país estrangeiro pelo Governo Português.Também os elementos da organização se encontravam dispersos por vários países africanos e tornava-se imperioso reuni-los e trazê-los sob o maior sigilo até ao território da Guiné Portuguesa, onde seriam treinados. Uma vez aí foram levados à ilha de Soga, de onde não lhes era permitido sair, a fim de que se mantivesse absoluto silêncio sobre a sua presença. Embora muitos deles houvessem já servido no exército colonial francês ou no da Guiné-Conakry, foram submetidos a uma intensa preparação, dirigida por
instrutores portugueses, que durou de Janeiro a Novembro de 1970. Conseguido o assentimento do Presidente do Conselho de Ministros, Marcelo Caetano, com a condição de que não fosse deixado em Conakry qualquer indício da intervenção portuguesa, tudo estava preparado para lançar a "Mar Verde", apesar dos graves riscos políticos que poderia desencadear.
Ao fim da tarde de 19 de Novembro zarpou da ilha de Soga (III) uma força naval comandada por Alpoim Galvão e constituída por quatro lanchas de fiscalização e duas de desembarque. A bordo seguiam uns 200 homens do FLNG, fuzileiros guineenses e uma companhia de comandos também africanos.
Apoiadas por um avião da Força Aérea Portuguesa, estas unidades navegaram para o sul e conseguiram atingir as imediações de Conakry, sem a sua presença ter sido observada, pelas vinte horas do dia 21 de Novembro. As lanchas fundearam depois em pontos diferentes, esperando a hora do desembarque, marcada para a uma e trinta da madrugada de domingo, dia 22.
O primeiro passo a ser dado era o da neutralização de todas as vedetas, o que também impediria qualquer resistência séria. Dessa missão encarregou-se uma equipa de catorze fuzileiros africanos, comandados por um jovem oficial europeu. Em absoluto silêncio tomaram lugar em botes de borracha. A um lado de um pontão encontraram as quatro vedetas do PAIGC, amarradas entre si, e do lado oposto as três da Guiné-Conakry. No pontão avistaram uma sentinela, que se lhes afigurou estar adormecida. Um grumete aproximou-se em silêncio e matou a sentinela com uma punhalada. Vieram em seguida os restantes membros da equipa, que através das escotilhas lançaram para o interior das vedetas granadas de mão que liquidaram os tripulantes que aí se encontravam e causaram vários incêndios. Isso alertou um posto instalado no telhado de um armazém da doca, de onde começou a ser feito fogo de metralhadora.
Apesar de ter sofrido alguns feridos, a equipa pôde regressar aos botes, deixando em chamas as vedetas, que pouco mais tarde explodiram. Pela uma e quarenta largaram de outras lanchas dez botes transportando uma equipa destinada a tomar posse de um complexo militar a perto de sete quilómetros da cidade. Alguns dos botes embaraçaram-se em armações de pesca, o que atrasou o desembarque. A equipa dividiu-se então em três grupos. O primeiro encaminhou-se para a prisão La Montaigne, onde se encontravam
detidos os prisioneiros portugueses. Após um breve combate com os guardas, os prisioneiros foram libertados.
O objectivo do segundo grupo era o ataque a instalações do PAIGC, o que foi alcançado com a destruição de cinco edifícios e algumas viaturas. Também foram abatidos alguns militantes do partido.
O terceiro grupo, após um violento combate com os defensores, arrasou um complexo de milícias e uma residência de férias de Sekou Touré. Poderá admitir-se que o ataque ao segundo alvo teria sido concebido com o fim de eliminar o Presidente, o que não aconteceu.
De outra lancha largaram três equipas. A primeira assaltou o quartel da Guarda Republicana e libertou cerca de 400 presos políticos, alguns dos quais pegaram em armas e se juntaram aos atacantes. Essa lancha atracou ao cais do Yacht Club e desembarcou as outras duas equipas. Uma delas ocupou a central eléctrica e cortou a energia para a cidade, com o propósito de desorientar os defensores e facilitar a retirada dos atacantes. O terceiro grupo ocupou sem resistência um campo militar e destroçou uma coluna motorizada que acorrera ao local. Pelas quatro da manhã haviam sido alcançados com êxito e apenas ligeiras baixas os objectivos situados na parte norte da cidade.
Já na parte sul a acção não decorreu com tanto sucesso. Uma equipa vinda para terra à uma da manhã, comandada por um alferes guineense e encarregada de ocupar a estação emissora de rádio, não conseguiu chegar ao seu destino por falta de orientação. Sete outras equipas todavia cumpriram as suas missões no interior da cidade sem grande resistência, com a excepção da encontrada no quartel da Gendarmerie. Neste recontro foi destruída uma coluna de blindados. No palácio presidencial também não foi possível encontrar Sekou Touré.
Ainda outra equipa, a que fora dada ordem de ocupar o aeroporto e destruir os aviões de caça Mig que se deviam aí encontrar fracassou no seu intento. A caminho, um tenente guineense desertou, levando consigo vinte homens.(5) O comandante da equipa, um capitão pára-quedista europeu, prosseguiu no seu trajecto mas teve a surpresa de não encontrar no aeroporto os Migs, que dias antes haviam sido transferidos para outro local.
O propósito inicial de Alpoim Galvão era de permanecer em Conakry até que o governo de Sekou Touré fosse derrubado. Considerando contudo que como os Migs não tinham sido destruídos, o que poderia constituir um grave perigo para as suas embarcações, decidiu-se por uma rápida retirada. Aliás soube-se mais tarde que os aparelhos não estavam operacionais, dada a falta de preparação dos seus pilotos. Desanimou-o também a constatação de que o FLNG não reunia as condições para um eficaz apoio popular na sua tentativa de subir ao poder.
A partida de Conakry teve lugar já depois do nascer do sol e o regresso a Bissau processou-se sem obstáculos de maior, embora tivessem sido feitos quatro tiros de morteiro em direcção a uma das lanchas. A flotilha aportou à ilha de Soga no dia seguinte, a meio da tarde.
A meticulosidade com que a Operação "Mar Verde" foi planeada e executada revelou-se verdadeiramente notável ao nível militar. As vedetas foram postas fora de combate, várias instalações do PAOGC inutilizadas e os prisioneiros portugueses libertados. O custo humano orçou apenas por três mortos e três feridos graves. No plano político resultou no entanto num estrondoso fracasso. Sekou Touré continuou no poder e Amílcar Cabral não foi aprisionado ou abatido, como seria decerto o secreto desejo de muitos.
É contudo curioso notar que "Mar Verde" representou a única acção de envergadura realizada em qualquer das três frentes das campanhas coloniais por forças de combate predominantemente africanas. (5) De todos os modos, no fundo foi um esforço tão inútil como todos os outros levados a efeito durante os longos anos da guerra colonial, rematada pela via política sem se terem obtido os resultados propostos.
__________
NOTAS
(1) Através da sua obra Poèmes militants (1978), Sekou Touré tornou-se também conhecido como poeta.
(2) Recorde-se que o Corpo de Fuzileiros Navais faz parte da Marinha de Guerra Portuguesa.
(3) O aprisionamento de militares portugueses em África era um segredo rigorosamente imposto pela censura aos meios de comunicação social.
(4) Parece que este oficial foi mais tarde executado por ordem de Sekou Touré.
(5) A deserção do tenente guineense com os seus homens constituiu um incidente que ilustra a continuada relutância portuguesa de empregar forças africanas em missões de combate contra a guerrilha.
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Notas de L.G.
(I) Vd. pot de 23 de Junho de 2005> Guiné 69/71 - LXXVI: (i) A bordo do Niassa; (ii) Chegada a Bissau
(II) Vd. post de 4 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXXXVII: Antologia (12): Op Mar Verde
(III) No arquipélago dos Bijagós: vd. mapa da Guiné-Bissau
sexta-feira, 5 de agosto de 2005
Guiné 63/74 - P141: Filmografia e videografia da Guerra Colonial - Guiné (3) (Jorge Santos)
1. Selecção de Jorge Santos:
GUINÉ – ASPECTOS VÁRIOS
Portugal, 1963
Realização: Rogado Godinho
Produção: Centro de Estudos de Antropologia Cultural
Género: Documentário
PRODUÇÕES DO SERVIÇO DE INFORMAÇÕES PÚBLICAS
DAS FORÇAS ARMADAS
MISSÃO NA GUINÉ
Portugal, 1965
Realização: Luís Miranda
Produção: RTP /S.I.P.F.A.
Género: Documentário
GUINÉ 1970
Portugal, 1970
Produção: S.I.P.F.A.
Género: Documentário
PRODUÇÕES DOS SERVIÇOS CARTOGRÁFICOS DO EXÉRCITO
MISSÃO NA GUINÉ 1, 2, 3, 4 e 5
Portugal, 1964
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário
EXÉRCITO NA GUINÉ 1 – Operação “Odette”
Portugal, 1966
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Curta-Metragem
EXÉRCITO NA GUINÉ 2
Portugal, 1966
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário
UMA OPERAÇÃO NA GUINÉ
Portugal, 1966
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário
AUTO-DEFESA - GUINÉ
Portugal, 1967
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário
EXÉRCITO NA GUINÉ 3 E 4
Portugal, 1967
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário
ENGENHARIA NA GUINÉ
Portugal, 1968
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário
FORÇA AÉREA NA GUINÉ 1
Portugal, 1968
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário
MARINHA NA GUINÉ
Portugal, 1968
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário
EXÉRCITO NA GUINÉ 5 – Auto-Defesa das Populações
Portugal, 1968
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário
FORÇA AÉREA NA GUINÉ 2 e 3
Portugal, 1970
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário
MARINHA NA GUINÉ 1 e 2
Portugal, 1970
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário
INSTRUÇÃO DO EXÉRCITO NA GUINÉ
Portugal, 1970
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário
VISITA DE GUINEENSES À METRÓPOLE
Portugal, 1970
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário
PRODUÇÕES DA TELECINE-MORO
GUINÉ 68
Portugal, 1968
Realização: Quirino Simões
Produção: Telecine-Moro
Género: Curta-Metragem
GUINÉ A CAMINHO DO FUTURO
Portugal, 1971
Realização: Quirino Simões
Produção: Telecine-Moro
Género: Documentário
GUINÉ 1
Portugal, 1972
Realização: Abel Escoto
Produção: Telecine-Moro
Género: Documentário
GUINÉ 2
Portugal, 1972
Realizador: Felipe de Solms
Produção: Telecine-Moro
Género: Documentário
GUINÉ 74
Portugal, 1974
Realizador: Quirino Simões
Produção: Telecine-Moro
Género: Documentário
GUINÉ – ASPECTOS VÁRIOS
Portugal, 1963
Realização: Rogado Godinho
Produção: Centro de Estudos de Antropologia Cultural
Género: Documentário
PRODUÇÕES DO SERVIÇO DE INFORMAÇÕES PÚBLICAS
DAS FORÇAS ARMADAS
MISSÃO NA GUINÉ
Portugal, 1965
Realização: Luís Miranda
Produção: RTP /S.I.P.F.A.
Género: Documentário
GUINÉ 1970
Portugal, 1970
Produção: S.I.P.F.A.
Género: Documentário
PRODUÇÕES DOS SERVIÇOS CARTOGRÁFICOS DO EXÉRCITO
MISSÃO NA GUINÉ 1, 2, 3, 4 e 5
Portugal, 1964
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário
EXÉRCITO NA GUINÉ 1 – Operação “Odette”
Portugal, 1966
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Curta-Metragem
EXÉRCITO NA GUINÉ 2
Portugal, 1966
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário
UMA OPERAÇÃO NA GUINÉ
Portugal, 1966
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário
AUTO-DEFESA - GUINÉ
Portugal, 1967
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário
EXÉRCITO NA GUINÉ 3 E 4
Portugal, 1967
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário
ENGENHARIA NA GUINÉ
Portugal, 1968
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário
FORÇA AÉREA NA GUINÉ 1
Portugal, 1968
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário
MARINHA NA GUINÉ
Portugal, 1968
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário
EXÉRCITO NA GUINÉ 5 – Auto-Defesa das Populações
Portugal, 1968
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário
FORÇA AÉREA NA GUINÉ 2 e 3
Portugal, 1970
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário
MARINHA NA GUINÉ 1 e 2
Portugal, 1970
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário
INSTRUÇÃO DO EXÉRCITO NA GUINÉ
Portugal, 1970
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário
VISITA DE GUINEENSES À METRÓPOLE
Portugal, 1970
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário
PRODUÇÕES DA TELECINE-MORO
GUINÉ 68
Portugal, 1968
Realização: Quirino Simões
Produção: Telecine-Moro
Género: Curta-Metragem
GUINÉ A CAMINHO DO FUTURO
Portugal, 1971
Realização: Quirino Simões
Produção: Telecine-Moro
Género: Documentário
GUINÉ 1
Portugal, 1972
Realização: Abel Escoto
Produção: Telecine-Moro
Género: Documentário
GUINÉ 2
Portugal, 1972
Realizador: Felipe de Solms
Produção: Telecine-Moro
Género: Documentário
GUINÉ 74
Portugal, 1974
Realizador: Quirino Simões
Produção: Telecine-Moro
Género: Documentário
Guiné 63/4 - P140: Filmografia e videografia da Guerra Colonial - Guiné (2) (Jorge Santos)
1. Texto do Jorge Santos
GERAÇÃO DE 60 – Movimento Estudantil, Movimentos de Libertação
Portugal, 1989
Realização: Diana Andringa
Edição: RTP
Nota: Registo Vídeo, 1 cassete (180 m)
RESUMO:
Contém depoimentos dos líderes dos movimentos de libertação africanos, líderes do movimento estudantil e alguns políticos portugueses.
GERAÇÃO DE 60 – Presos Políticos, Guerra Colonial
Portugal, 1989
Realização: Diana Andringa
Edição: RTP
Nota: Registo Vídeo, 1 cassete (180 m)
RESUMO:
Contém depoimentos de políticos e militares portugueses.
GUERRA COLONIAL: Estado Novo e Regime Democrático
Portugal, 1995
Realização: Revista Vértice
Edição: Centro de Documentação 25 de Abril
Nota: Registo Vídeo, 2 cassetes (180 m)
RESUMO:
A Guerra Colonial em Angola, Guiné e Moçambique e os deficientes militares das forças armadas.
ANTÓNIO DE SPÍNOLA (Especial Informação)
Portugal, 1995
Realização: Luís Salvador
Edição: (Suana Zarco) - TVI
Nota: Registo Vídeo, 1 cassete (30 m)
RESUMO:
Contém imagens da carreira militar e política de Spínola, vários depoimentos, sobre a Guerra Colonial na Guiné, Amílcar Cabral, o PAIGC, o MDLP.
AS ÚLTIMAS PALAVRAS DE SALGUEIRO MAIA
Portugal, 1995
Realização: Apres. Victor Moura Pinto
Edição: SIC
Nota: Registo Vídeo, 1 cassete (50 m)
RESUMO:
Guerra Colonial, memórias, contendo imagens da Guerra Colonial e do 25 de Abril.
GRANDE REPORTAGEM - De Guillege a Gadamael: O Corredor da Morte
Portugal, 1996
Realização: Manuel Tomás – José Manuel Saraiva
Edição: SIC
Nota: Registo Vídeo, 1 cassete (60 m)
RESUMO:
Encontro de ex-combatentes no local onde foi travada a guerrilha.
GUERRA COLONIAL: Angola, Guiné e Moçambique – Ventos da História: Fases da Guerra
Portugal, 1997
Realização: Anabela Ramalhão de Almeida
Edição: Diário de Notícias
Nota: Registo Vídeo, 1 cassete (130 m)
RESUMO:
Abrange o período da Guerra Colonial compreendido entre 1961 e 1969.
GUERRA COLONIAL: Histórias de Campanha na Guiné
Portugal, 1998
Realização: Diário de Notícias
Edição: Diário de Notícias
Nota: Registo Vídeo, 1 cassete (28 m)
RESUMO:
Depoimentos da Guerra Colonial na Guiné.
GERAÇÃO DE 60 – Movimento Estudantil, Movimentos de Libertação
Portugal, 1989
Realização: Diana Andringa
Edição: RTP
Nota: Registo Vídeo, 1 cassete (180 m)
RESUMO:
Contém depoimentos dos líderes dos movimentos de libertação africanos, líderes do movimento estudantil e alguns políticos portugueses.
GERAÇÃO DE 60 – Presos Políticos, Guerra Colonial
Portugal, 1989
Realização: Diana Andringa
Edição: RTP
Nota: Registo Vídeo, 1 cassete (180 m)
RESUMO:
Contém depoimentos de políticos e militares portugueses.
GUERRA COLONIAL: Estado Novo e Regime Democrático
Portugal, 1995
Realização: Revista Vértice
Edição: Centro de Documentação 25 de Abril
Nota: Registo Vídeo, 2 cassetes (180 m)
RESUMO:
A Guerra Colonial em Angola, Guiné e Moçambique e os deficientes militares das forças armadas.
ANTÓNIO DE SPÍNOLA (Especial Informação)
Portugal, 1995
Realização: Luís Salvador
Edição: (Suana Zarco) - TVI
Nota: Registo Vídeo, 1 cassete (30 m)
RESUMO:
Contém imagens da carreira militar e política de Spínola, vários depoimentos, sobre a Guerra Colonial na Guiné, Amílcar Cabral, o PAIGC, o MDLP.
AS ÚLTIMAS PALAVRAS DE SALGUEIRO MAIA
Portugal, 1995
Realização: Apres. Victor Moura Pinto
Edição: SIC
Nota: Registo Vídeo, 1 cassete (50 m)
RESUMO:
Guerra Colonial, memórias, contendo imagens da Guerra Colonial e do 25 de Abril.
GRANDE REPORTAGEM - De Guillege a Gadamael: O Corredor da Morte
Portugal, 1996
Realização: Manuel Tomás – José Manuel Saraiva
Edição: SIC
Nota: Registo Vídeo, 1 cassete (60 m)
RESUMO:
Encontro de ex-combatentes no local onde foi travada a guerrilha.
GUERRA COLONIAL: Angola, Guiné e Moçambique – Ventos da História: Fases da Guerra
Portugal, 1997
Realização: Anabela Ramalhão de Almeida
Edição: Diário de Notícias
Nota: Registo Vídeo, 1 cassete (130 m)
RESUMO:
Abrange o período da Guerra Colonial compreendido entre 1961 e 1969.
GUERRA COLONIAL: Histórias de Campanha na Guiné
Portugal, 1998
Realização: Diário de Notícias
Edição: Diário de Notícias
Nota: Registo Vídeo, 1 cassete (28 m)
RESUMO:
Depoimentos da Guerra Colonial na Guiné.
Guiné 63/74 - P139: Filmografia e videografia da Guerra Colonial - Guiné (1) (Jorge Santos)
1. Texto do Jorge Santos (1º Gr. Fz., DFA, da Comp. Fuzileiros nº 4, Moçambique, Metangula, Cobué, 1968/70; página pessoal > "rapaziada da Tertúlia" possa completá-los. Logo que tenha mais, envio. Consultar a base de dados sobre o Cinema Português .
UM GRUPO DE TERRORISTAS ATACA
Inglaterra, 1964
Realização: John Sheppard
Produção: BBC
SINOPSE:
Uma reportagem realizada para a BBC, em 1964, que contribuiu para o despertar do mundo sobre a situação da guerra colonial que se travava nas matas da Guiné-Bissau, pela independência do país. A guerrilha p.d. teve início em Janeiro de 1963.
MISSÃO NA GUINÉ
Portugal, 1965
Realização: Luís Miranda
Produção: RTP / Serviço de Informação Pública das Forças Armadas
OPERAÇÃO MAR VERDE
Portugal, 197 (?)
Realização: Henrique Vasconcelos e Rui Araújo
Produção: RTC (Rádio Televisão Comercial)
Distribuição: RTC
SINOPSE:
Durante a guerra nas colónias o soldado português executou somente o seu dever. E um dos momentos em que melhor o executou terá sido durante a invasão e a ocupação da capital da Guiné-Conacri, em 22 de Novembro de 1970.
GUINÉ-BISSAU - INDEPENDÊNCIA
Portugal, 1977
Realização: António Escudeiro
Produção: Francisco de Castro
Fotografia.: António Escudeiro
ACTO DOS FEITOS DA GUINÉ
Portugal, 1980
Produção: Cinequipa
Realização: Fernando Matos Silva
Fotografia: José Luís Carvalhosa
Argumento: Fernando Matos Silva e Margarida Gouveia Fernandes
Música: Fausto
Som: Carlos Alberto Lopes
SINOPSE:
Ficção e realidade misturam-se neste filme, explicando a história da Guiné-Bissau, a colonização portuguesa e a luta de libertação nacional conduzida pelo PAIGC. Imagens reais de guerra e excertos de documentários cruzam-se com imagens e leituras do livro do século XVI História Trágico-Marítima, e textos inspirados pela guerra colonial, e com os pontos de vista ficcionados de personagens emblemáticos: o colono, o retornado, o guerrilheiro, o militar, o pide, o padre, o "descobridor".
MADINA DO BOÉ
Portugal, 1995
Realização: Manuel Costa e Silva, Manuel Tomás
Produção: Quimera do ouro; IPACA/ Estado-Maior do Exército
Fotografia: Rui Poças
Argumento: José Manuel Saraiva
Som: Vasco Barão
SINOPSE:
A operação de retirada de Madina de Boé vista por dois antigos oficiais do Exército Português, volvidos 25 anos, assim como por antigos guerrilheiros do PAIGC que estiveram directamente implicados. É o primeiro documentário sobre a guerra colonial que procura efectuar um levantamento histórico dos acontecimentos que levaram á morte de meia centenas de miliatres portugueses , na travessia do Corubal, no dia 6 de Fevereirod e 1968.( Vd. post de 2 de Agosto > Guiné 63/74 - CXXXIII: O desastre de Cheche, na retirada de Madina do Boé (6 de Fevereiro de 1969)
NINGUÉM NASCE SOLDADO
Portugal/Inglaterra, 1995
Realização: Jo Willems
Produção: Karen O´Brien - Dear Films
Fotografia: Glynn Speeckaert
Música: Vasco Martins
Som: Bart Van Den Bempt
SINOPSE:
As consequências da guerra colonial na população portuguesa, hoje. Três gerações que estiveram envolvidas na guerra: os próprios soldados, os seus pais e os seus filhos. Uma mãe fala do seu filho, morto na Guiné; dois soldados evocam o seu passado, falam do seu presente e do seu futuro; um filho de 25 anos, ainda aguarda o pai, soldado, que veio da guerra mas que nunca regressou ao seio da família.
ANOS DA GUERRA: Guiné 1963-1974
Portugal, 2000
Realização: José Barahona
Produção: Pedro Efe - Acetato / RTP
MONSANTO
Portugal, 2000
Realização: Ruy Guerra
Produção: Animatógrafo - SIC
Fotografia: José António Loureiro
Argumento: Vicente Alves do Ó
Música: Luís Cília
Som: Carlos Pinto
SINOPSE:
O filme centra a sua atenção no stresse pós-traumático que afecta muitos dos ex-combatentes. Um veterano, inadaptado, acaba por perder a noção da realidade e regressar à Guiné no parque de Monsanto.
AMILCAR CABRAL
Portugal, 2001
Realização: Ana Lúcia Ramos
Produção: Paulo de Sousa - Continental Filmes / RTP
Fotografia: José Brinco e Octávio Espírito Santo
Argumento: Ana Lúcia Ramos
Música: Celina Pereira
Som: Vasco Pedroso
SINOPSE:
Retrato simples e eficiente de Amílcar Cabral, o líder do processo de independência da Guiné-Bissau.
UM GRUPO DE TERRORISTAS ATACA
Inglaterra, 1964
Realização: John Sheppard
Produção: BBC
SINOPSE:
Uma reportagem realizada para a BBC, em 1964, que contribuiu para o despertar do mundo sobre a situação da guerra colonial que se travava nas matas da Guiné-Bissau, pela independência do país. A guerrilha p.d. teve início em Janeiro de 1963.
MISSÃO NA GUINÉ
Portugal, 1965
Realização: Luís Miranda
Produção: RTP / Serviço de Informação Pública das Forças Armadas
OPERAÇÃO MAR VERDE
Portugal, 197 (?)
Realização: Henrique Vasconcelos e Rui Araújo
Produção: RTC (Rádio Televisão Comercial)
Distribuição: RTC
SINOPSE:
Durante a guerra nas colónias o soldado português executou somente o seu dever. E um dos momentos em que melhor o executou terá sido durante a invasão e a ocupação da capital da Guiné-Conacri, em 22 de Novembro de 1970.
GUINÉ-BISSAU - INDEPENDÊNCIA
Portugal, 1977
Realização: António Escudeiro
Produção: Francisco de Castro
Fotografia.: António Escudeiro
ACTO DOS FEITOS DA GUINÉ
Portugal, 1980
Produção: Cinequipa
Realização: Fernando Matos Silva
Fotografia: José Luís Carvalhosa
Argumento: Fernando Matos Silva e Margarida Gouveia Fernandes
Música: Fausto
Som: Carlos Alberto Lopes
SINOPSE:
Ficção e realidade misturam-se neste filme, explicando a história da Guiné-Bissau, a colonização portuguesa e a luta de libertação nacional conduzida pelo PAIGC. Imagens reais de guerra e excertos de documentários cruzam-se com imagens e leituras do livro do século XVI História Trágico-Marítima, e textos inspirados pela guerra colonial, e com os pontos de vista ficcionados de personagens emblemáticos: o colono, o retornado, o guerrilheiro, o militar, o pide, o padre, o "descobridor".
MADINA DO BOÉ
Portugal, 1995
Realização: Manuel Costa e Silva, Manuel Tomás
Produção: Quimera do ouro; IPACA/ Estado-Maior do Exército
Fotografia: Rui Poças
Argumento: José Manuel Saraiva
Som: Vasco Barão
SINOPSE:
A operação de retirada de Madina de Boé vista por dois antigos oficiais do Exército Português, volvidos 25 anos, assim como por antigos guerrilheiros do PAIGC que estiveram directamente implicados. É o primeiro documentário sobre a guerra colonial que procura efectuar um levantamento histórico dos acontecimentos que levaram á morte de meia centenas de miliatres portugueses , na travessia do Corubal, no dia 6 de Fevereirod e 1968.( Vd. post de 2 de Agosto > Guiné 63/74 - CXXXIII: O desastre de Cheche, na retirada de Madina do Boé (6 de Fevereiro de 1969)
NINGUÉM NASCE SOLDADO
Portugal/Inglaterra, 1995
Realização: Jo Willems
Produção: Karen O´Brien - Dear Films
Fotografia: Glynn Speeckaert
Música: Vasco Martins
Som: Bart Van Den Bempt
SINOPSE:
As consequências da guerra colonial na população portuguesa, hoje. Três gerações que estiveram envolvidas na guerra: os próprios soldados, os seus pais e os seus filhos. Uma mãe fala do seu filho, morto na Guiné; dois soldados evocam o seu passado, falam do seu presente e do seu futuro; um filho de 25 anos, ainda aguarda o pai, soldado, que veio da guerra mas que nunca regressou ao seio da família.
ANOS DA GUERRA: Guiné 1963-1974
Portugal, 2000
Realização: José Barahona
Produção: Pedro Efe - Acetato / RTP
MONSANTO
Portugal, 2000
Realização: Ruy Guerra
Produção: Animatógrafo - SIC
Fotografia: José António Loureiro
Argumento: Vicente Alves do Ó
Música: Luís Cília
Som: Carlos Pinto
SINOPSE:
O filme centra a sua atenção no stresse pós-traumático que afecta muitos dos ex-combatentes. Um veterano, inadaptado, acaba por perder a noção da realidade e regressar à Guiné no parque de Monsanto.
AMILCAR CABRAL
Portugal, 2001
Realização: Ana Lúcia Ramos
Produção: Paulo de Sousa - Continental Filmes / RTP
Fotografia: José Brinco e Octávio Espírito Santo
Argumento: Ana Lúcia Ramos
Música: Celina Pereira
Som: Vasco Pedroso
SINOPSE:
Retrato simples e eficiente de Amílcar Cabral, o líder do processo de independência da Guiné-Bissau.
quinta-feira, 4 de agosto de 2005
Guiné 63/74 - P138: Antologia (13): Manhã cedo, em Canhagina (Marques Lopes)
1. Texto do A. Marques Lopes:
Caros camaradas:
Para intervalar nesta salutar polémica do quem disse o que disse, envio-vos alguns textos de um autor ainda desconhecido. Faz-nos recordar muitas das nossas vivências.
«...Manhã cedo em Canhagina. A bolanha! Quem diria que a bolanha é um pântano... Após os primeiros dias da época das chuvas é maravilhosa. Estávamos a 23 de Junho. Com uma precisão quase matemática, as chuvas começaram a cair aí por volta do dia 15. Do solo, da vegetação luxuriante desprende-se um vapor que paira sobre as águas e envolve o ambiente. É o calor acumulado durante o período seco. Há quem lhe chame cacimba e quem diga que é prejudicial à boa saúde das vias respiratórias... mas, aos 23 anos, não há cacimba que impeça os pulmões de respirar poesia. Se há coisas belas que eu tenho visto na minha vida, uma delas, é, sem dúvida, a bolanha da Guiné, cercada por palmeiras, cibos e tufos de capim.
" (...) A bicha de pirilau, ao longo de quase trezentos metros, pondo em relevo, na paisagem verde, todas as sinuosidades do antigo carreiro já quase totalmente coberto, movia-se como um réptil enorme, segmentado e escamoso. O silêncio profundo e agradavelmente sombrio da mata era apenas cortado pelo roçar das botas de lona e dos camuflados pelas ervas e folhagens que acompanhavam o carreiro. Ambiente para piqueniques e amor. Na hora em que o intenso sol tropical só conseguiu ainda afastar e diluir a luminosidade doentia libertada durante a noite por aquela vegetação farta de clorofila, mantinha-se o meio termo da frescura agradável que faz da Guiné um dos locais mais belos e repousantes às sete horas da manhã.
"(...) Enterrei os galões no sítio onde jazem tantas noites de amor africano. Achei que não me servia ali a Convenção de Genebra, que o meu futuro de prisioneiro seria melhor se não soubesse o meu posto... Estranho, agora, como é que fui assaltado por essa estúpida ideia de avaliar nesses termos a enrascada em que me encontrava.
"Ali, deitado sobre a terra, desejoso de nela me afundar, como quem dorme com mulher, deixei a minha condição humana. Ali fiquei, alapado como um coelho que segue os passos do caçador à espera do momento oportuno para fugir.
"Levantei a cabeça e espreitei por cima do capim alto. Tendo abandonado as suas posições de combate, os turras avançavam em linha ao longo da clareira, lançando rajadas curtas de costureirinhas e kalashs. Estou a vê-los, numa imagem de ocasião, sem saber ainda se é real se imaginária: fortes, atléticos mesmo, em passadas decididas, senhores da vitória. Despertou em mim o animal cujas reacções são comandadas pelo instinto de sobrevivência e, ao mesmo tempo, o animal especial que eu era: o animal domesticado que eu era para reagir a determinados sinais e estímulos. Mais do que um naturalista, estou agora apto a compreender todo o mecanismo de comportamento do animal encurralado por numerosos caçadores. Não há computador electrónico, por mais perfeito e programado, que consiga dar a solução tão acertada e rapidamente como o maquinismo instintivo da sobrevivência, aliado ao treino para reagir às mais variadas situações.»
2. Já dei os parabéns ao futuro autor de um best seller sobre a guerra da Guiné! O nosso jagudi anda inspirado, criativo e produtivo… Parabéns, coronel! ....Só não sei ainda onde fica Canhagina... ! Também não importa: fica-me a poderosa impressão de, como há trinta e tal anos, atravessar uma bolanha da Guiné... Sém dúvida: com a cacimba (substantivo feminino), às sete da manhã, era um dos lugares mais perturbantes e fascinantes do mundo... Não gostaria de morrer sem voltar a... Canhagima! ... Ou talvez não: estão a matar as bolanhas da Guiné, um dos lugares mais belos da terra. O assassino chama-se... caju. (L.G.).
Caros camaradas:
Para intervalar nesta salutar polémica do quem disse o que disse, envio-vos alguns textos de um autor ainda desconhecido. Faz-nos recordar muitas das nossas vivências.
«...Manhã cedo em Canhagina. A bolanha! Quem diria que a bolanha é um pântano... Após os primeiros dias da época das chuvas é maravilhosa. Estávamos a 23 de Junho. Com uma precisão quase matemática, as chuvas começaram a cair aí por volta do dia 15. Do solo, da vegetação luxuriante desprende-se um vapor que paira sobre as águas e envolve o ambiente. É o calor acumulado durante o período seco. Há quem lhe chame cacimba e quem diga que é prejudicial à boa saúde das vias respiratórias... mas, aos 23 anos, não há cacimba que impeça os pulmões de respirar poesia. Se há coisas belas que eu tenho visto na minha vida, uma delas, é, sem dúvida, a bolanha da Guiné, cercada por palmeiras, cibos e tufos de capim.
" (...) A bicha de pirilau, ao longo de quase trezentos metros, pondo em relevo, na paisagem verde, todas as sinuosidades do antigo carreiro já quase totalmente coberto, movia-se como um réptil enorme, segmentado e escamoso. O silêncio profundo e agradavelmente sombrio da mata era apenas cortado pelo roçar das botas de lona e dos camuflados pelas ervas e folhagens que acompanhavam o carreiro. Ambiente para piqueniques e amor. Na hora em que o intenso sol tropical só conseguiu ainda afastar e diluir a luminosidade doentia libertada durante a noite por aquela vegetação farta de clorofila, mantinha-se o meio termo da frescura agradável que faz da Guiné um dos locais mais belos e repousantes às sete horas da manhã.
"(...) Enterrei os galões no sítio onde jazem tantas noites de amor africano. Achei que não me servia ali a Convenção de Genebra, que o meu futuro de prisioneiro seria melhor se não soubesse o meu posto... Estranho, agora, como é que fui assaltado por essa estúpida ideia de avaliar nesses termos a enrascada em que me encontrava.
"Ali, deitado sobre a terra, desejoso de nela me afundar, como quem dorme com mulher, deixei a minha condição humana. Ali fiquei, alapado como um coelho que segue os passos do caçador à espera do momento oportuno para fugir.
"Levantei a cabeça e espreitei por cima do capim alto. Tendo abandonado as suas posições de combate, os turras avançavam em linha ao longo da clareira, lançando rajadas curtas de costureirinhas e kalashs. Estou a vê-los, numa imagem de ocasião, sem saber ainda se é real se imaginária: fortes, atléticos mesmo, em passadas decididas, senhores da vitória. Despertou em mim o animal cujas reacções são comandadas pelo instinto de sobrevivência e, ao mesmo tempo, o animal especial que eu era: o animal domesticado que eu era para reagir a determinados sinais e estímulos. Mais do que um naturalista, estou agora apto a compreender todo o mecanismo de comportamento do animal encurralado por numerosos caçadores. Não há computador electrónico, por mais perfeito e programado, que consiga dar a solução tão acertada e rapidamente como o maquinismo instintivo da sobrevivência, aliado ao treino para reagir às mais variadas situações.»
2. Já dei os parabéns ao futuro autor de um best seller sobre a guerra da Guiné! O nosso jagudi anda inspirado, criativo e produtivo… Parabéns, coronel! ....Só não sei ainda onde fica Canhagina... ! Também não importa: fica-me a poderosa impressão de, como há trinta e tal anos, atravessar uma bolanha da Guiné... Sém dúvida: com a cacimba (substantivo feminino), às sete da manhã, era um dos lugares mais perturbantes e fascinantes do mundo... Não gostaria de morrer sem voltar a... Canhagima! ... Ou talvez não: estão a matar as bolanhas da Guiné, um dos lugares mais belos da terra. O assassino chama-se... caju. (L.G.).
Guiné 63/74 - P137: Antologia (12): Op Mar Verde (Marques Lopes)
Trecho do livro de Alpoím Calvão De Conakry ao MDLP (1976), seleccionado por A. Marques Lopes (vd. post de 22 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXX: Bibliografia de uma guerra (9): a invasão de Conacri):
A LFG ORION fundeou a NW dos molhes de protecção do porto de Conakry. A maré estava completamente cheia, o vento era nulo, e apenas o clarão da cidade iluminava a noite. Os botes de assalto foram colocados na água e, pelas 00.45, a equipa Victor, do comando do 2.° tenente Rebordão de Brito e composta por 14 elementos, largou discretamente em direcção aos molhes. Encostou ao Dique Norte, localizou exactamente o objectivo e partiu ao ataque.
O grumete FZE Abu Camará eliminou silenciosamente a sentinela, o que permitiu a entrada a bordo das três vedetas P6, que se encontravam a N da ponte do cais bananeiro. Abertas as portas das cobertas foram lançadas granadas de mão ofensivas para o interior das mesmas neutralizando as guarnições. A equipa de assalto atravessou velozmente a ponte e invadiu os restantes navios: mais três vedetas e uma espécie de lancha de desembarque.
Entretanto soara o alarme no porto e o inimigo abriu fogo sobre os nossos elementos que, repetindo a técnica das granadas de mão, eliminaram os focos de resistência a bordo. Os incêndios ateados pelas granadas cresceram rapidamente e, em breve, de bordo da ORION, avistaram-se as bolas de fogo provenientes das explosões das lanchas.
A equipa Victor, que realizou o notabilíssimo trabalho, regressou a bordo pelas 02.10, com dois feridos ligeiros e sem a menor perda de material.
As LFG Dragão e Cassiopeia, transportando a equipa ZULU, fundearam em 5 metros de fundo, na pequena baía a N da península de Conakry, junto aos baixos de La Prudente, cerca das 00.15, a três milhas marítimas do local de abicagem.
Às 01.40 os botes (em número de 10) largaram dos navios. Houve, poucos momentos depois, um pequeno contratempo: alguns botes enrodilharam-se em várias redes de pesca, que não foram avistadas devido à escuridão da noite. Depois de aturado trabalho a desvencilhar os hélices, conseguiu-se o desembarque pelas 02.15.
A equipa dividiu-se em três elementos: o primeiro, comandado pelo 1° tenente Cunha e Silva, dirigiu-se imediatamente à prisão La Montaigne, onde, depois de violenta escaramuça, eliminou a respectiva guarda e libertou os 26 prisioneiros portugueses que lá se encontravam.
O segundo, comandado pelo sub-tenente Falcão Lucas seguiu para o grupo de objectivos do PAIGC. Neutralizou uma série de sentinelas, destruiu 5 edifícios do partido, seis viaturas e abateu vários militantes que se encontravam nas instalações.
Finalmente o terceiro, comandado pelo 2° tenente Benjamim Abreu, encarregou-se do Campo das Milícias e da Villa Silly, residência secundária de Sekou Touré. Com uma decisão notável, o pequeno grupo (22 homens), forçou a entrada do Campo, esmagou a débil estrutura que se começou a formar e, à granada de mão, à bazucada e com bem dirigidas rajadas de metralhadora, pôs fora de combate cerca de 60 milicianos que guarneciam as duas casernas existentes. Prevendo que a guarda da casa de Sekou Touré, tivesse acorrido à defesa dos dois portões de entrada da propriedade, o tenente Benjamim resolveu saltar o muro que separava os dois objectivos e pôde assim, colhendo-a de supresa, eliminar a referida guarda. Sekou Touré ainda não chegara a casa: o quarto de dormir, a cama, impecavelmente aberta, aguardava o ditador Guineense! Incendiado o objectivo, o grupo retirou-se a fim de se juntar ao resto da equipa, o que conseguiu pelas quatro da manhã.
Passou a equipa ZULU a constituir a reserva de manobra do Comandante da operação.
Da LDG Montante, partiram as equipas OSCAR, ÍNDIA e MIK. A primeira, seguiu em botes de borracha conduzidos por pessoal do navio e abicou ao Quartel da Guarda Republicana, pelas 01.35. Para o desembarque das outras duas, a Montante, num alarde de boa manobra, abicou pelas 01.40 ao molhe Yatch Club!
A equipa OSCAR, constituída por efectivos nossos do Front (total 40 homens) e encabeçada pelos alferes Ferreira e Tomás Camará, dirigiu-se discretamente para o portão da entrada. O alferes Ferreira temerariamente tentou dominar a sentinela, a qual se refugiou na casa da guarda. O alferes, ao tentar persegui-lo, foi abatido na soleira da porta por dois homens que se encontravam no interior, os quais abriram nutrido fogo sobre os assaltantes. Valeu a decisão e coragem do furriel de comandos Marcelino da Mata: mergulhou através da janela e na confusão de vidros partidos e cadeiras caídas, etc., abateu os oponentes com uma rajada de AK-47.
O grupo entrou de rompante pelo recinto, colocando-se em posição de enfiar a saída das casernas, enquanto alguns homens corriam para a armaria. Apanhados de supresa, os guardas republicanos tentaram sair das casernas mas foram abatidos na maioria perdendo-se os outros na escuridão da noite.
Ocupado o campo, abriram-se as portas da prisão onde foram encontrados cerca de 400 presos políticos, que retomaram a liberdade no meio de grandes manifestações de alegria (ver relato do Capitão Abou Sommah, ocupante da cela n.° 37). Fez-se em seguida a entrega do campo às forças do FNLG (20 homens), na pessoa do chefe Barry Ibrahima, conhecido por BARRY III e cujas qualidades o tinham feito estimar por todos quantos com ele contactaram.
A equipa ÍNDIA (10 homens, furriel Demda Seca e Thiam do FLNG) atravessou a linha de caminho de ferro de Conakry – Fria e dirigiu-se para a Central. Observou a existência de quatro portas com sentinelas. Eliminou duas, prendeu o encarregado da central e obrigou-o a cortar a luz da cidade. Eram 02.15. Esta acção era primordial para o efeito psicológico que se pretendia obter. O seu sucesso contribuiu bastante para a desorientação verificada.
A equipa MIKE (50 homens) tinha por objectivo o Campo Militar Samory. Em marcha acelerada percorreu o quilómetro que a separava do alvo. Desarmou as sentinelas que estavam nos portões e ocupou o recinto sem efusão de sangue. A tarefa seguinte constituiu em bazucar e destruir os veículos que vinham para o campo carregados de pessoal: foram assim destruídas 16 viaturas com algumas dezenas de soldados. Deitou-se fogo aos edifícios do Estado-Maior e, não havendo mais resistência, a equipa dividiu-se em duas: uma, com o Alferes Sisseco (ferido na boca), que conduziu os nossos elementos feridos para o molhe do Yatch Club; a outra, com o coronel do FNLG DIALLO, o Comandante Assad e o jornalista do JEUNE AFRIQUE Siradiou Diallo, seguiu a ligar-se à equipa ÍNDIA. Por um acaso infeliz os rádios da equipa MIKE ficaram quase imediatamente fora de acção, o que obrigava a contactos directos com os outros grupos para saber o que se passava.
A LDG BOMBARDA, do comando do cap. ten. Aguiar de Jesus, cuja calma imperturbável era demonstrada pela descontracção como fumava o inseparável cigarrinho na extremidade duma já velha boquilha, pelas 01.00 pairava a 300 jardas a sul da praia Peronné. As 01.05, largaram de bordo dois botes com a equipa HOTEL, encarregada de se apossar da Emissora de Boulbinet.
Esta equipa, comandada pelo Alferes Jamanca e tendo como assessor do FNLG o engenheiro electrónico Tidiane Diallo, actuou de forma bizarra. O alferes Jamanca dera boas provas ao longo de 7 anos de campanha. Mas inexplicavelmente, depois de desembarcar junto do objectivo ou por desorientação do engenheiro Diallo, conhecedor do local, ou por indecisão do alferes, o facto é que os dez homens da equipa HOTEL ficaram agarrados ao local de desembarque até receberem ordem para retirar!
Entretanto, e em duas vagas de botes de borracha, desembarcaram as restantes equipas: ALFA, BRAVO, CHARLIE, DELTA, ECHO, FOXTROT e GOLF. Passada a desorientação inicial devida à escuridão provocada pelo corte de luz e por se estar numa cidade desconhecida, estas equipas, compostas por elementos da CCCA e do FNLG — cujos guias nem sempre se mostravam à altura da situação — seguiram para os objectivos e neutralizaram os meios importantes.
Apenas na Gendarmerie se encontrou resistência de vulto. Como a equipa ECHO (reforçada com a GOLF, BRAVO e DELTA, num total de 50 homens) demorou mais que o previsto a reagrupar o pessoal, ao chegar ao alvo que lhe estava destinado, verificou que uma coluna blindada se preparava para sair. O Capitão João Bacar, que comandava a equipa, atacou as viaturas com decisão, destruindo quatro e causando elevado número de baixas. A guarda do Palácio Presidencial, ao ver chegar os dez homens da equipa ALFA, debandou em grande velocidade deixando aos assaltantes o problema de revistar um edifício tão grande e que se encontrava vazio!
Finalmente, a LFG HIDRA (1° tenente Fialho Goes), aproximou-se, depois duma hábil navegação, do local de desembarque da equipa Sierra (capitão pára Morais), pairando pelas 212330, com dois metros de fundo. Em 220015, os botes largaram do navio, com rumo ao local de desembarque, sob o comando do guarda-marinha Centeno, imediato da HIDRA. As três milhas demoraram uma hora a percorrer e só pelas 01.30 se conseguiu desembarcar.
A equipa Sierra era composta por:
a) Elementos nacionais.
Cap. Lopes Morais
2° Sarg. mi/, comando Teixeira
Formação do comando
1.°s cabos paras Duarte, Morais
Tenente Januário, com 9 homens do seu pelotão
Alferes Justo, com 24 homens do seu pelotão.
b) Elementos do FNLG
Sub-Lieutenant Boiro, com cinco homens, sendo um, de nome Mamadu Balde, antigo controlador de circulação aérea no Aeroporto de Conakry.
Iniciou a progressão em direcção ao campo e antes de o atingir foi surpreendido pelo som dos rebentamentos que se iam ouvindo na cidade. O Cap. Morais, apesar de uma lesão num joelho contraída recentemente num salto de pára-quedas, forçou a marcha, mas sentindo uma certa resistência ao movimento na retaguarda, mandou um dos seus homens tentar a ligação e verificou com espanto que o tenente Januário e cerca de 20 homens tinham desaparecido.
"...A partir daquela altura só uma coisa importava já: localizar os MIG e destruí-los; dirigi-me ao local, mas não estavam; entretanto, no campo Alpha Ya-Ya, ouviam-se toques de clarins e ruídos fortes de motores a trabalhar;por me ressentir do joelho fiquei com três homens a meio do taxi-way e ordenei ao Alf. Justo e 2.° Sarg. Teixeira para irem procurar os MIG; voltaram vinte minutos depois, informando-me que no fim da pista estavam 3 aviões de hélice já velhos e que havia outra pista ao lado da principal e em terra batida, mas nada de MIG. Voltei para trás e aproximei-me da placa; nessa altura ouvia-se um toque prolongado de sino no aeroporto seguindo-se-lhe, passados alguns minutos, toques de apitos, calculo que por motivo da chegada dos pescadores a terra. Na placa havia seis aviões: 2 Caravelle, que o Ten. Boiro identificou pertencerem à Companhia AIR AFRIQUE e 4 aviões bi-motores, de asa alta, tipo Fokker F-27. O Alf. Justo quis ir destruí-los, mas não autorizei. Entretanto chegou uma viatura pesada que me pareceu uma auto-metralhadora; nos hangares que estavam abertos e iluminados não havia aviões" (do relatório do Capitão Morais).
Desde as duas da manhã que o comandante do T. G. tinha conhecimento da deserção do ten. Januário (msg. enviada pelo Grupo SIERRA — "O filho da puta do tenente fugiu com 20 dos meus homens. Traiu-me miseravelmente"). Embarcada a equipa VICTOR, a ORION levantou ferro, seguindo a toda a força para junto da BOMBARDA e HIDRA. Era necessário desembarcar a equipa PAPA, destinada a cortar o istmo que separa Conakry l de Conakry II.
O CTG 2 passou em bote de borracha para a BOMBARDA a fim de, face à evolução da situação, accionar a equipa PAPA.
Às 02.30 recebera comunicação da HIDRA de que a equipa SIERRA não tinha encontrado os MIG. Pelas 03.00 algumas notícias colhidas junto de prisioneiros em terra afirmavam que os MIG tinham sido enviados para Labé, no dia 20, devido a uma remodelação ministerial no Governo de Conakry! Havia ainda a hipótese de se conseguir capturar Sekou Touré. Às 04.00, CGT 2 teve conhecimentos que o Presidente não fora visto nem na Villa Silly nem no Palácio Presidencial. Mandou suster o desembarque da equipa PAPA, quando a BOMBARDA já manobrava para tomar posição, e fez o ponto.
"Pelas 04.30, a situação apresentava-se da seguinte maneira:
— Objectivos PAIGC atingidos em boa parte.
— Domínio no mar, assegurado.
— Domínio em terra, ainda em disputa, mas com forte possibilidade de sucesso.
— Presidente Sekou Touré — não encontrado.
— Domínio no ar — não assegurado.
"Este factor pesou fundamentalmente no meu julgamento pois, dali em diante, a minha única preocupação foi deixar o menor número de provas documentais da nossa actividade. A possibilidade de afundamento dum navio nas águas de Conakry era de evitar a todo o custo. Mandei, pois, reembarcar todo o pessoal que compareceu nos locais para isso designados em caso de insucesso".(Do relatório de CTG 27.2).
A LFG HIDRA, que reembarcara a equipa SIERRA foi mandada pairar na posição uma milha a sul do farol de Boulbinet. Às 04.40, a LDG BOMBARDA iniciou a tarefa, pela equipa HOTEL e terminou-a às 05.30, deixando dois botes para o grupo ALFA, que foi recolhido pela ORION, onde já se encontrava novamente o CTG 2. Às 06.00 deu-se ordem à BOMBARDA e ORION para constituírem a T.U. 27.2.1., seguindo para sul da ilha de Kassa onde, às 07.10, meteu ao Rv-180° durante uma hora, em diversão.
Navegou depois independentemente, tendo às 13.35, recebido indicação para aguardar o resto da TG 27-2 em Orango.
O problema do reembarque na parte norte do T.O. Parâmetros mais delicados devido ao baixa-mar. Além disso, o Sol já iluminava perfeitamente o terreno e uma grande multidão, que vitoriava ruidosamente as equipas que actuaram em terra, aglomerava-se agora junto aos locais de reembarque.
A MONTANTE colocou-se a 1.000 jardas de terra e, com o auxílio dos botes das LFG, foi reembarcado o pessoal, com excepção dos elementos do FNLG que quiseram continuar em terra. De terra, às 07.40, duma posição junto ao Palácio do Povo fizeram quatro disparos de morteiro de 82 sobre a MONTANTE, muito mal regulados. O navio e a DRAGÃO que se interpôs a fazer de escudo ao pessoal que reembarcava, calaram a boca de fogo com alguns tiros de intimidação. Às 08.05, a DRAGÃO encostou à ORION para receber material de transfusão de sangue, pois o 1° tenente MR Hélder Romero necessitava dele para o tratamento dos feridos e transbordou o sargento aviador Lobato, que se encontrava prisioneiro há 7 anos!
Desde o romper do dia que a força naval se achava no mais alto grau de prontidão anti-aérea. Quando, pelas 09.00, se deu por terminado o reembarque, já havia ordem para formar em losango, dispositivo que foi executado às 10.30, ao rumo base 240.°
O regresso fez-se sem incidentes, fundeando-se em Soga em 231625.
Terminada a operação, que custou ao inimigo mais de 500 baixas, desfez-se a TG 27.2.
A LFG ORION fundeou a NW dos molhes de protecção do porto de Conakry. A maré estava completamente cheia, o vento era nulo, e apenas o clarão da cidade iluminava a noite. Os botes de assalto foram colocados na água e, pelas 00.45, a equipa Victor, do comando do 2.° tenente Rebordão de Brito e composta por 14 elementos, largou discretamente em direcção aos molhes. Encostou ao Dique Norte, localizou exactamente o objectivo e partiu ao ataque.
O grumete FZE Abu Camará eliminou silenciosamente a sentinela, o que permitiu a entrada a bordo das três vedetas P6, que se encontravam a N da ponte do cais bananeiro. Abertas as portas das cobertas foram lançadas granadas de mão ofensivas para o interior das mesmas neutralizando as guarnições. A equipa de assalto atravessou velozmente a ponte e invadiu os restantes navios: mais três vedetas e uma espécie de lancha de desembarque.
Entretanto soara o alarme no porto e o inimigo abriu fogo sobre os nossos elementos que, repetindo a técnica das granadas de mão, eliminaram os focos de resistência a bordo. Os incêndios ateados pelas granadas cresceram rapidamente e, em breve, de bordo da ORION, avistaram-se as bolas de fogo provenientes das explosões das lanchas.
A equipa Victor, que realizou o notabilíssimo trabalho, regressou a bordo pelas 02.10, com dois feridos ligeiros e sem a menor perda de material.
As LFG Dragão e Cassiopeia, transportando a equipa ZULU, fundearam em 5 metros de fundo, na pequena baía a N da península de Conakry, junto aos baixos de La Prudente, cerca das 00.15, a três milhas marítimas do local de abicagem.
Às 01.40 os botes (em número de 10) largaram dos navios. Houve, poucos momentos depois, um pequeno contratempo: alguns botes enrodilharam-se em várias redes de pesca, que não foram avistadas devido à escuridão da noite. Depois de aturado trabalho a desvencilhar os hélices, conseguiu-se o desembarque pelas 02.15.
A equipa dividiu-se em três elementos: o primeiro, comandado pelo 1° tenente Cunha e Silva, dirigiu-se imediatamente à prisão La Montaigne, onde, depois de violenta escaramuça, eliminou a respectiva guarda e libertou os 26 prisioneiros portugueses que lá se encontravam.
O segundo, comandado pelo sub-tenente Falcão Lucas seguiu para o grupo de objectivos do PAIGC. Neutralizou uma série de sentinelas, destruiu 5 edifícios do partido, seis viaturas e abateu vários militantes que se encontravam nas instalações.
Finalmente o terceiro, comandado pelo 2° tenente Benjamim Abreu, encarregou-se do Campo das Milícias e da Villa Silly, residência secundária de Sekou Touré. Com uma decisão notável, o pequeno grupo (22 homens), forçou a entrada do Campo, esmagou a débil estrutura que se começou a formar e, à granada de mão, à bazucada e com bem dirigidas rajadas de metralhadora, pôs fora de combate cerca de 60 milicianos que guarneciam as duas casernas existentes. Prevendo que a guarda da casa de Sekou Touré, tivesse acorrido à defesa dos dois portões de entrada da propriedade, o tenente Benjamim resolveu saltar o muro que separava os dois objectivos e pôde assim, colhendo-a de supresa, eliminar a referida guarda. Sekou Touré ainda não chegara a casa: o quarto de dormir, a cama, impecavelmente aberta, aguardava o ditador Guineense! Incendiado o objectivo, o grupo retirou-se a fim de se juntar ao resto da equipa, o que conseguiu pelas quatro da manhã.
Passou a equipa ZULU a constituir a reserva de manobra do Comandante da operação.
Da LDG Montante, partiram as equipas OSCAR, ÍNDIA e MIK. A primeira, seguiu em botes de borracha conduzidos por pessoal do navio e abicou ao Quartel da Guarda Republicana, pelas 01.35. Para o desembarque das outras duas, a Montante, num alarde de boa manobra, abicou pelas 01.40 ao molhe Yatch Club!
A equipa OSCAR, constituída por efectivos nossos do Front (total 40 homens) e encabeçada pelos alferes Ferreira e Tomás Camará, dirigiu-se discretamente para o portão da entrada. O alferes Ferreira temerariamente tentou dominar a sentinela, a qual se refugiou na casa da guarda. O alferes, ao tentar persegui-lo, foi abatido na soleira da porta por dois homens que se encontravam no interior, os quais abriram nutrido fogo sobre os assaltantes. Valeu a decisão e coragem do furriel de comandos Marcelino da Mata: mergulhou através da janela e na confusão de vidros partidos e cadeiras caídas, etc., abateu os oponentes com uma rajada de AK-47.
O grupo entrou de rompante pelo recinto, colocando-se em posição de enfiar a saída das casernas, enquanto alguns homens corriam para a armaria. Apanhados de supresa, os guardas republicanos tentaram sair das casernas mas foram abatidos na maioria perdendo-se os outros na escuridão da noite.
Ocupado o campo, abriram-se as portas da prisão onde foram encontrados cerca de 400 presos políticos, que retomaram a liberdade no meio de grandes manifestações de alegria (ver relato do Capitão Abou Sommah, ocupante da cela n.° 37). Fez-se em seguida a entrega do campo às forças do FNLG (20 homens), na pessoa do chefe Barry Ibrahima, conhecido por BARRY III e cujas qualidades o tinham feito estimar por todos quantos com ele contactaram.
A equipa ÍNDIA (10 homens, furriel Demda Seca e Thiam do FLNG) atravessou a linha de caminho de ferro de Conakry – Fria e dirigiu-se para a Central. Observou a existência de quatro portas com sentinelas. Eliminou duas, prendeu o encarregado da central e obrigou-o a cortar a luz da cidade. Eram 02.15. Esta acção era primordial para o efeito psicológico que se pretendia obter. O seu sucesso contribuiu bastante para a desorientação verificada.
A equipa MIKE (50 homens) tinha por objectivo o Campo Militar Samory. Em marcha acelerada percorreu o quilómetro que a separava do alvo. Desarmou as sentinelas que estavam nos portões e ocupou o recinto sem efusão de sangue. A tarefa seguinte constituiu em bazucar e destruir os veículos que vinham para o campo carregados de pessoal: foram assim destruídas 16 viaturas com algumas dezenas de soldados. Deitou-se fogo aos edifícios do Estado-Maior e, não havendo mais resistência, a equipa dividiu-se em duas: uma, com o Alferes Sisseco (ferido na boca), que conduziu os nossos elementos feridos para o molhe do Yatch Club; a outra, com o coronel do FNLG DIALLO, o Comandante Assad e o jornalista do JEUNE AFRIQUE Siradiou Diallo, seguiu a ligar-se à equipa ÍNDIA. Por um acaso infeliz os rádios da equipa MIKE ficaram quase imediatamente fora de acção, o que obrigava a contactos directos com os outros grupos para saber o que se passava.
A LDG BOMBARDA, do comando do cap. ten. Aguiar de Jesus, cuja calma imperturbável era demonstrada pela descontracção como fumava o inseparável cigarrinho na extremidade duma já velha boquilha, pelas 01.00 pairava a 300 jardas a sul da praia Peronné. As 01.05, largaram de bordo dois botes com a equipa HOTEL, encarregada de se apossar da Emissora de Boulbinet.
Esta equipa, comandada pelo Alferes Jamanca e tendo como assessor do FNLG o engenheiro electrónico Tidiane Diallo, actuou de forma bizarra. O alferes Jamanca dera boas provas ao longo de 7 anos de campanha. Mas inexplicavelmente, depois de desembarcar junto do objectivo ou por desorientação do engenheiro Diallo, conhecedor do local, ou por indecisão do alferes, o facto é que os dez homens da equipa HOTEL ficaram agarrados ao local de desembarque até receberem ordem para retirar!
Entretanto, e em duas vagas de botes de borracha, desembarcaram as restantes equipas: ALFA, BRAVO, CHARLIE, DELTA, ECHO, FOXTROT e GOLF. Passada a desorientação inicial devida à escuridão provocada pelo corte de luz e por se estar numa cidade desconhecida, estas equipas, compostas por elementos da CCCA e do FNLG — cujos guias nem sempre se mostravam à altura da situação — seguiram para os objectivos e neutralizaram os meios importantes.
Apenas na Gendarmerie se encontrou resistência de vulto. Como a equipa ECHO (reforçada com a GOLF, BRAVO e DELTA, num total de 50 homens) demorou mais que o previsto a reagrupar o pessoal, ao chegar ao alvo que lhe estava destinado, verificou que uma coluna blindada se preparava para sair. O Capitão João Bacar, que comandava a equipa, atacou as viaturas com decisão, destruindo quatro e causando elevado número de baixas. A guarda do Palácio Presidencial, ao ver chegar os dez homens da equipa ALFA, debandou em grande velocidade deixando aos assaltantes o problema de revistar um edifício tão grande e que se encontrava vazio!
Finalmente, a LFG HIDRA (1° tenente Fialho Goes), aproximou-se, depois duma hábil navegação, do local de desembarque da equipa Sierra (capitão pára Morais), pairando pelas 212330, com dois metros de fundo. Em 220015, os botes largaram do navio, com rumo ao local de desembarque, sob o comando do guarda-marinha Centeno, imediato da HIDRA. As três milhas demoraram uma hora a percorrer e só pelas 01.30 se conseguiu desembarcar.
A equipa Sierra era composta por:
a) Elementos nacionais.
Cap. Lopes Morais
2° Sarg. mi/, comando Teixeira
Formação do comando
1.°s cabos paras Duarte, Morais
Tenente Januário, com 9 homens do seu pelotão
Alferes Justo, com 24 homens do seu pelotão.
b) Elementos do FNLG
Sub-Lieutenant Boiro, com cinco homens, sendo um, de nome Mamadu Balde, antigo controlador de circulação aérea no Aeroporto de Conakry.
Iniciou a progressão em direcção ao campo e antes de o atingir foi surpreendido pelo som dos rebentamentos que se iam ouvindo na cidade. O Cap. Morais, apesar de uma lesão num joelho contraída recentemente num salto de pára-quedas, forçou a marcha, mas sentindo uma certa resistência ao movimento na retaguarda, mandou um dos seus homens tentar a ligação e verificou com espanto que o tenente Januário e cerca de 20 homens tinham desaparecido.
"...A partir daquela altura só uma coisa importava já: localizar os MIG e destruí-los; dirigi-me ao local, mas não estavam; entretanto, no campo Alpha Ya-Ya, ouviam-se toques de clarins e ruídos fortes de motores a trabalhar;por me ressentir do joelho fiquei com três homens a meio do taxi-way e ordenei ao Alf. Justo e 2.° Sarg. Teixeira para irem procurar os MIG; voltaram vinte minutos depois, informando-me que no fim da pista estavam 3 aviões de hélice já velhos e que havia outra pista ao lado da principal e em terra batida, mas nada de MIG. Voltei para trás e aproximei-me da placa; nessa altura ouvia-se um toque prolongado de sino no aeroporto seguindo-se-lhe, passados alguns minutos, toques de apitos, calculo que por motivo da chegada dos pescadores a terra. Na placa havia seis aviões: 2 Caravelle, que o Ten. Boiro identificou pertencerem à Companhia AIR AFRIQUE e 4 aviões bi-motores, de asa alta, tipo Fokker F-27. O Alf. Justo quis ir destruí-los, mas não autorizei. Entretanto chegou uma viatura pesada que me pareceu uma auto-metralhadora; nos hangares que estavam abertos e iluminados não havia aviões" (do relatório do Capitão Morais).
Desde as duas da manhã que o comandante do T. G. tinha conhecimento da deserção do ten. Januário (msg. enviada pelo Grupo SIERRA — "O filho da puta do tenente fugiu com 20 dos meus homens. Traiu-me miseravelmente"). Embarcada a equipa VICTOR, a ORION levantou ferro, seguindo a toda a força para junto da BOMBARDA e HIDRA. Era necessário desembarcar a equipa PAPA, destinada a cortar o istmo que separa Conakry l de Conakry II.
O CTG 2 passou em bote de borracha para a BOMBARDA a fim de, face à evolução da situação, accionar a equipa PAPA.
Às 02.30 recebera comunicação da HIDRA de que a equipa SIERRA não tinha encontrado os MIG. Pelas 03.00 algumas notícias colhidas junto de prisioneiros em terra afirmavam que os MIG tinham sido enviados para Labé, no dia 20, devido a uma remodelação ministerial no Governo de Conakry! Havia ainda a hipótese de se conseguir capturar Sekou Touré. Às 04.00, CGT 2 teve conhecimentos que o Presidente não fora visto nem na Villa Silly nem no Palácio Presidencial. Mandou suster o desembarque da equipa PAPA, quando a BOMBARDA já manobrava para tomar posição, e fez o ponto.
"Pelas 04.30, a situação apresentava-se da seguinte maneira:
— Objectivos PAIGC atingidos em boa parte.
— Domínio no mar, assegurado.
— Domínio em terra, ainda em disputa, mas com forte possibilidade de sucesso.
— Presidente Sekou Touré — não encontrado.
— Domínio no ar — não assegurado.
"Este factor pesou fundamentalmente no meu julgamento pois, dali em diante, a minha única preocupação foi deixar o menor número de provas documentais da nossa actividade. A possibilidade de afundamento dum navio nas águas de Conakry era de evitar a todo o custo. Mandei, pois, reembarcar todo o pessoal que compareceu nos locais para isso designados em caso de insucesso".(Do relatório de CTG 27.2).
A LFG HIDRA, que reembarcara a equipa SIERRA foi mandada pairar na posição uma milha a sul do farol de Boulbinet. Às 04.40, a LDG BOMBARDA iniciou a tarefa, pela equipa HOTEL e terminou-a às 05.30, deixando dois botes para o grupo ALFA, que foi recolhido pela ORION, onde já se encontrava novamente o CTG 2. Às 06.00 deu-se ordem à BOMBARDA e ORION para constituírem a T.U. 27.2.1., seguindo para sul da ilha de Kassa onde, às 07.10, meteu ao Rv-180° durante uma hora, em diversão.
Navegou depois independentemente, tendo às 13.35, recebido indicação para aguardar o resto da TG 27-2 em Orango.
O problema do reembarque na parte norte do T.O. Parâmetros mais delicados devido ao baixa-mar. Além disso, o Sol já iluminava perfeitamente o terreno e uma grande multidão, que vitoriava ruidosamente as equipas que actuaram em terra, aglomerava-se agora junto aos locais de reembarque.
A MONTANTE colocou-se a 1.000 jardas de terra e, com o auxílio dos botes das LFG, foi reembarcado o pessoal, com excepção dos elementos do FNLG que quiseram continuar em terra. De terra, às 07.40, duma posição junto ao Palácio do Povo fizeram quatro disparos de morteiro de 82 sobre a MONTANTE, muito mal regulados. O navio e a DRAGÃO que se interpôs a fazer de escudo ao pessoal que reembarcava, calaram a boca de fogo com alguns tiros de intimidação. Às 08.05, a DRAGÃO encostou à ORION para receber material de transfusão de sangue, pois o 1° tenente MR Hélder Romero necessitava dele para o tratamento dos feridos e transbordou o sargento aviador Lobato, que se encontrava prisioneiro há 7 anos!
Desde o romper do dia que a força naval se achava no mais alto grau de prontidão anti-aérea. Quando, pelas 09.00, se deu por terminado o reembarque, já havia ordem para formar em losango, dispositivo que foi executado às 10.30, ao rumo base 240.°
O regresso fez-se sem incidentes, fundeando-se em Soga em 231625.
Terminada a operação, que custou ao inimigo mais de 500 baixas, desfez-se a TG 27.2.
Guiné 63/74 - P136: Informação & Propaganda: de que lado estava a verdade ? (3) (Sousa de Castro)
1. Ainda sobre as "histórias do outro lado" (artigo de Marinho Neves, publicado no Notícias Magazine, de 24 de Abril de 1994)... O Sousa da Castro fez-nos chegar um outro excerto. É sobre a invasão pelas tropas portuguesas à cidade de CONAKRY
"A versão vista pelo prisma do PAIGC, contada pelo comandante Mateus Correia do PAIGC, diz assim:
"Mateus Correia estava em Conakry quando as tropas portuguesas invadiram aquela cidade em 22 de Novembro de 1970, sob o comando de Alpoim Calvão e, a sua versão, vista pelo prisma do PAIGC, tem outros contornos:
- Os portugueses tinham informação do local onde estavam os seus prisioneiros e a sua primeira acção foi libertá-los. Entre eles estava o major-aviador António Lobato.
E acrescentou:
- Muito antes do embarque tivemos acesso à informação de que Alpoim Calvão circulava livremente por Conakry com a cobertura de alguns pides e elementos ligados à oposição de Sekou Touré.
2. Comentário do A. Marques Lopes:
O comandante Mateus Correia teve, naturalmente, uma visão parcelar dessa operação. O que se passou conta Alpoim Calvão em várias páginas do seu livro De Conakry ao MDLP (ver texto que se publica a seguir: vd. Guiné 63/74 - CXXXVII: Antologia (12): Op Mar Verde ), e creio que ele diz a verdade, pois escreve na base do relatório que fez dessa operação.
E o sargento piloto-aviador António Lourenço Sousa Lobato [que esteve em cativeiro durante sete anos, experiência que mais tarde irá relatar em livro] só foi promovido a major depois da sua libertação e depois de muito esforço seu.
Quanto aos militares da CART 1690 que não compareceram entre os 26 libertados (1):
(i) o Luís dos Santos Marques (2) terá morrido depois de uma tareia que lhe deram na prisão, segundo o actual major Lobato;
(ii) o João da Costa Sousa [,soldado,] "passou-se" e terá mesmo feito campanha contra a guerra na rádio Voz da Liberdade, em Argel;
(iii) o Francisco Gomes da Silva e o Armindo Correia Paulino [,soldados,] morreram de cólera.
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Nota de M.L.:
(1) Dos 26 prisioneiros libertados, 8 eram da CART 1690: o fur. mil. João N. Vaz; os 1ºs cabos José M.M. Duarte (residente em Amarante), e José S. Morais; os soldados Domingos N. Costa (residente em Braga), António A. Duarte (Carriço)(residente em Barreiros - Amor), David N. Pedras, José S. Teixeira, Luís S.A.A. Vieira.
"A versão vista pelo prisma do PAIGC, contada pelo comandante Mateus Correia do PAIGC, diz assim:
"Mateus Correia estava em Conakry quando as tropas portuguesas invadiram aquela cidade em 22 de Novembro de 1970, sob o comando de Alpoim Calvão e, a sua versão, vista pelo prisma do PAIGC, tem outros contornos:
- Os portugueses tinham informação do local onde estavam os seus prisioneiros e a sua primeira acção foi libertá-los. Entre eles estava o major-aviador António Lobato.
E acrescentou:
- Muito antes do embarque tivemos acesso à informação de que Alpoim Calvão circulava livremente por Conakry com a cobertura de alguns pides e elementos ligados à oposição de Sekou Touré.
2. Comentário do A. Marques Lopes:
O comandante Mateus Correia teve, naturalmente, uma visão parcelar dessa operação. O que se passou conta Alpoim Calvão em várias páginas do seu livro De Conakry ao MDLP (ver texto que se publica a seguir: vd. Guiné 63/74 - CXXXVII: Antologia (12): Op Mar Verde ), e creio que ele diz a verdade, pois escreve na base do relatório que fez dessa operação.
E o sargento piloto-aviador António Lourenço Sousa Lobato [que esteve em cativeiro durante sete anos, experiência que mais tarde irá relatar em livro] só foi promovido a major depois da sua libertação e depois de muito esforço seu.
Quanto aos militares da CART 1690 que não compareceram entre os 26 libertados (1):
(i) o Luís dos Santos Marques (2) terá morrido depois de uma tareia que lhe deram na prisão, segundo o actual major Lobato;
(ii) o João da Costa Sousa [,soldado,] "passou-se" e terá mesmo feito campanha contra a guerra na rádio Voz da Liberdade, em Argel;
(iii) o Francisco Gomes da Silva e o Armindo Correia Paulino [,soldados,] morreram de cólera.
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Nota de M.L.:
(1) Dos 26 prisioneiros libertados, 8 eram da CART 1690: o fur. mil. João N. Vaz; os 1ºs cabos José M.M. Duarte (residente em Amarante), e José S. Morais; os soldados Domingos N. Costa (residente em Braga), António A. Duarte (Carriço)(residente em Barreiros - Amor), David N. Pedras, José S. Teixeira, Luís S.A.A. Vieira.
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