quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2307: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (3) - Parte II: A formação político-militar (Mário Fitas)

Guiné > Região de Tombali > Cufar > Fevereirto de 1968 > Pista de Cufar, Allouette III, equipado com canhão de 20 m/m. (Operação Ciclone I)

Foto e legendas: © Vítor Condeço (2007). Direitos reservados.


Guiné > Região de Tombali > Zona de intervenção da CCAÇ 763 e localidades por onde efectuou operações.

Foto: © Mário Fitas (2007). Direitos reservados.


A CCAÇ 763, comandada pelo então capitão Costa Campos, foi mobilizada para o CTIG, tendo embarcado em Lisboa no N/M Timor em 11 de Fevereiro de 1965 e desembarcado em Bissau a 17 do mesmo mês. Ficou instalada no BCAÇ 600, em Santa Luzia, para os procedimentos administrativos e logísticos habituais. À medida que ia recebendo o material, os grupos de combate foram sendo deslocados para Cufar por lanchas de Fuzileiros Navais, rendendo a CCAV 703.

Em 17 de Março de 1965, estava colocada, em quadrícula, em Cufar, adida ao BCAÇ 619, onde permaneceu até 10 de Novembro de 1966, data em que foi transferida para Catió para aguardar o embarque de regresso a Lisboa no Niassa. À data da sua chegada a Cufar, era formada por 5 Oficiais, 17 Sargentos, 144 praças e... 8 cães de guerra, pastores alemães.

Da actividade operacional que desenvolveu no Sul da Guiné, é de destacar a construção do aquartelamento de Cufar e de todas as suas infra-estruturas. A CCAÇ 763 levou a cabo 34 operações com apoio aéreo e naval, 17 das quais com contacto com o PAIGC. Nas acções desenvolvidas contra o então IN, a CCAÇ 763 destruiu os acampamentos de Cufar Nalu, Cabolol (duas vezes), Flaque Injã (duas vezes) e Caboxanque.

Para além desta actividade, há ainda que referir a realização de 415 patrulhas apeadas, 136 patrulhas-auto, 24 escoltas, 53 emboscadas, 10 golpes de mão, 13 operações de cerco e limpeza, 28 batidas e 3 nomadizações.

De toda esta actividade, estima-se que a CCAÇ 763 tenha percorrido aproximadamente 16 mil quilómetros a pé, 6 mil de viatura e mil de LDM. Durante este período a companhia teve 10 baixas (mortais), sendo 7 em combate e 3 por doença. Sofreu 53 feridos. Fez 45 prisioneiros e terá causado 40 feridos e 107 mortos ao então IN.

No romance de Mário Vicente, os principais protagonistas são a guerrilheira e professora do PAIGC Pami Na Dondo e os militares da CCAÇ 763, os temíveis Lassas...

PAMI NA DONDO, A GUERRILHEIRA (1)

por Mário Vicente

Prefácio: Carlos da Costa Campos, Cor
Capa: Filipa Barradas
Edição de autor:
Impressão: Cercica, Estoril, 2005
Patrocínio da Junta de Freguesia do Estoril
Nº de páginas: 112

Edição no blogue: Revisão do texto, resumo e subtítulos: Luís Graça.

Resumo do episódio anterior (1):

A acção decorrer no sul da Guiné, entre os anos de 1963 e 1966, coincidindo em grande parte com a colocação da CCAÇ 763, como unidade de quadrícula, em Cufar (Março de 1965/Novembro de 1966)… No início da guerra, em 1963 Pan Na Ufna, de etnia, balanta, trabalha na Casa Brandoa, que pertence à empresa União Fabricante [leia-se: Casa Gouveia, pertencente à CUF]. A produção de arroz, na região de Tombali, é comprada pela Casa Brandoa.

Luís Ramos, caboverdiano, é o encarregado. Paga melhor do que a concorrência. Vamos ficar a saber que é um militante do PAIGC e que é através da sua influência que Pan Na Ufna saiu de Catió para se juntar à guerrilha, levando com ele a sua filha Pami Na Dono, uma jovem de 14 anos, educada das missão católica do Padre Francelino, italiano. O missionário quer mandar Pami para um colégio de freiras em Itália mas, entretanto, é expulso pelas autoridades portugueses, por suspeita de ligações ao PAIGC (deduz-se do contexto).

Luís Ramos, por sua vez, regressa a Bissau, perturbado com a notícia de que seu filho, a estudar em Lisboa, fora chamado para fazer a tropa. É neste contexto que Pan Na Una decide passar à clandestinidade, refugiando-se no Cantanhês, região considerada já então libertada.


Parte II - A formação político-militar (pp. 22-29)


(i) Uma das primeiras mulheres na guerrilha do PAIGC


De pé, na canoa que o transporta e à sua família, [Pan Na Ufna] relembra e medita as palavras de Luís Ramos: Para se ser livre batalha-se muito, e morre-se por vezes antes de a Liberdade chegar.

Pami Na Dondo com perfeito entendimento e, inteligentemente - apesar de ainda adolescente-, verifica que, embora o sortilégio dos encontros e desencontros da vida, o seu caminhar será trilhado de forma idêntica ao de seu pai.

Com catorze anos apenas mas já madura, Pami inscreve o seu nome, como das primeiras mulheres a tornar-se guerrilheira do PAIGC.

A menina que estaria predestinada para ser transmissora da palavra celeste, fonte da Natureza, encontra caminhos similares mas de linguagem diferente. Criança ainda, não entende a Teologia da Libertação. Mas, tendo bebido da Fonte de Jacob, compreende que a hora de mudança chegou.

É chegado o momento de dizer basta! É hora de encontrar a força e inteligência possíveis para esmagar a escravidão! Liberdade!...

Nesta palavra mágica, a criança encontra o conceito que vai revolucionar toda a sua condição humana e de mulher.

Com a plenitude do entendimento, da responsabilidade que lhe advém de se tornar numa defensora do seu Povo, emprega toda a sua capacidade para enriquecer e dar vida a este grande projecto revolucionário. Apesar da sua condição feminina, e fragilidade física, prepara-se psiquicamente para enfrentar os duros caminhos que terá pela frente. Desperta-lhe o desejo da Cultura e do Saber!

Aportam, no tarrafe junto do cais de Cadique (2), e retiram os parcos haveres das canoas. Pan Na Ufna e sua família estão em zona libertada. Aguardam o romper do dia para entrarem na tabanca. Aqui, são reconhecidos por muitos elementos do formigueiro. Como anteriormente delineado, dirigem-se para a casa do chefe da Tabanca. Esse, lhes transmitirá os passos seguintes.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cacine > Cadique > Junho de 2007 > Pedras que falam da CCAÇ 4540 - Somos um Caso Sério - que por aqui passou e montou a tenda, na margem esquerda do Rio Cumbijã, de 12 de Dezembro de 1972 a 17 de Agosto de 1973.

Foto: Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Direitos reservados.



Refrescam-se com água de coco e comem um pouco de arroz. São informados que o seu destino será o Cafal, onde cada elemento da família será verificado e lhe será comunicado o local da residência na zona libertada. Aí lhes serão fornecidas também as respectivas guias de marcha, elemento utilizado para controlo dos elementos combatentes e da população.

No mesmo dia, picada fora, trouxas à cabeça, descem até Cafine e daqui para Cafal Balanta, onde são recebidos e atendidos pelo comité de Tabanca e, posteriormente, pelo Comité Político das Forças Armadas Revolucionárias Populares da Zona 11 (FARP).

Fica determinado que a família ficará sediada na Tabanca de Cadique Iála. Pan Na Ufna entra na instrução da Milícia Popular. Fica com pleno conhecimento de que a única riqueza que tem é a roupa que veste, e a arma que lhe é entregue. Da forma como souber utilizar estes bens, assim contribuirá ou não para a criação e progresso da sua desejada Pátria.


(ii) A formação político-militar de Pami, na base de Sambise, na República da Guiné-Conacri


Pami, integrada num grupo de jovens, rapazes e raparigas, tem de partir para a República da Guiné onde irá receber instrução específica sobre a guerrilha.

Voluntariosa como sempre, mostra grande interesse e tem uma entrega total ao trabalho. Em pouco tempo estará integrada na orgânica do Partido e da Guerrilha: sabe que é o Comité Revolucionário, chefiado por Amílcar Cabral que, do exterior (República da Guiné), dirige a subversão; que esta já atingiu a 4ª fase (criação de Bases e de Forças Regulares); toma conhecimentos das redes e mecanismos da Guerrilha; fica também a saber que, através da República da Guiné, é feito todo o reabastecimento para as regiões e zonas do Centro e Sul, sendo o seu responsável militar o camarada João Bernardo Vieira Nino, o qual frequentou escolas de vários países onde aprendeu a doutrina da subversão, havendo a salientar a frequência do Instituto Popular de Política Estrangeira na República Popular da China, local em que estudou e aprendeu as teorias de Mao Zedong sobre técnicas da guerra subversiva (3).

Aprendeu também que o elemento de defesa local e vigilância das populações são as milícias; que as FARP, são formadas pelo Exército Popular (EP), força militar regular, pela Guerrilha Popular (GP), e pelas Milícias Populares (MP), onde foi integrado seu pai. Nas zonas libertadas, cada povoação tem o seu Comité de Tabanca, que é constituído por dois homens e duas mulheres. Nas bases é feita a doutrinação dos jovens e uma intensa alfabetização de massas. A guerrilha é a fonte de recrutamento para o EP, bem como para a MP, actuando a nível regional como o seu apoio.

Aprende a estrutura de uma Secção do EP, formada pela sua divisão em duas subsecções, as quais têm como efectivos noventa e cinco homens cada. Estas são por sua vez constituídas por cinco grupos, sendo um deles dotado de um morteiro, uma lança granadas-foguete (RPG), uma metralhadora pesada (MP), e quatro metralhadoras ligeiras (ML). Os restantes quatro grupos são dotados de seis pistolas-metralhadoras e doze espingardas automáticas, semi-automáticas ou de repetição cada.

Os combatentes, consoante a sua colocação, têm a designação de Militantes, Guerrilheiros ou Milicianos, em consonância com a estrutura em que se encontram: EP, GP ou MP, respectivamente. As principais bases existentes na zona Sul são: Antuane, Cansalá, Curcó, Cacaque e Cafal cujos responsáveis são, respectivamente, os camaradas Sambiche Na Ledé, Joãozinho Guade, Sadjá Bamba e o próprio responsável da zona, Nino. Todo o abastecimento desta zona é feito pelo corredor de Guileje e pelo rio Cacine. Tanto material, como pessoal, fazem também a sua transição por Salancaur, Antuane, Jemberem ou Ponta Canabem.

Na base em Sambise, algures na República da Guiné, Pami não aprende só a orgânica do Partido e o seu funcionamento: aprende o francês; inicia-se na tarefa reflexiva da razão, iniciação à filosofia. Consegue ter acesso a escritos, em que lhe são inoculadas as noções primárias da aptidão e competência particular para a compreensão dos seus problemas e dos outros, o conhecimento dos fenómenos sociais e explicação dos mesmos. Simples introdução básica à psicologia e sociologia. Aos poucos torna-se adulta.

A par de tudo isto, é conjugada a instrução de guerrilha: técnicas e tácticas são-lhe ministradas, e começa a ter contacto com o armamento e a forma como utilizá-lo. Assim, intensivamente, aprende a manobrar granadas de mão; montar, desmontar, e a utilizar pistolas CESCA 7,65 mm, pistolas-metralhadoras PPSH 7,62 mm, até aos lança granadas-foguetes RPG2 e RPG7, passando pelas metralhadoras ligeiras DEGTYAREV 7,62 mm e pesadas DEGTYAREV-SHPAGIM 12,7 mm (4).

Assim se vai transformando em guerrilheira a menina de Pan Na Ufna, enquanto ele passa para a GP, tornando-se nómada por força das circunstâncias ao subir na hierarquia da Guerrilha.


(iii) Pai e filha reencontram-se; a mãe Sanhá Na Cunhema está muito doente

Numa noite de luar, na picada Salancaur/Mejo, pai e filha reencontram-se. Ele fazendo parte da força de segurança, e ela da coluna de reabastecimento. Momentos altos para o homem forte e duro em que se tornou Pan. A sua sensibilidade leva-o a afagar novamente a cabeça de sua filha, como nos velhos tempos, transforma-a criança, não se apercebendo, da mulher - força vontade - em que a sua pequena Pami se transformou.

Enquanto fazem um momento de repouso, introduzem-se na mata, e falam sobre tudo o que os envolve. Bastante preocupado, Pan informa a filha sobre o estado de saúde em que se encontra a sua mãe Sanhá Na Cunhema. Não come praticamente nada, tossindo muito, com hemoptises por vezes. Informa a filha de que na próxima oportunidade levá-la-á ao enfermeiro do seu grupo, ou arranjará maneira de, clandestinamente, ter uma consulta em Catió, o que se tornaria um pouco mais perigoso. Mas é extremamente urgente. Pami fala na hipótese de a mãe ser vista na República da Guiné, mas a coluna tem de retomar o seu caminho, e nada fica delineado. Pami regressa à sua base de treino, preocupada com a situação de doença de sua mãe, mas, ao mesmo tempo, sonhando com o dia em que se tornará companheira de seu pai.


(iii) Pami perde a mão esquerda num acidente com arma de fogo e conhece o guerrilheiro Malan Cassamá no hospital


Mas o destino não o permite. A existência, indefinido caminho em que o homem não determina o princípio nem o fim, é muitas vezes transmutada, indiferentemente ao nosso desejo.

Um estúpido acidente transforma a vida e destino da guerrilheira. Durante a instrução de tiro, o cano da velha arma com que Pami treina a pontaria ao alvo rebenta e a rapariga que sonhava ser guerrilheira, vai para o hospital, com o antebraço esfacelado, e a mão esquerda decepada.

Momentos duros para Pami que, estoicamente, aguenta o sofrimento da dor. Mas a recuperação psíquica será dolorosa. O enfermeiro Go Na Iála torna-se um amigo extraordinário e ajuda-a a levantar a moral.

Entretanto, encontra um jovem companheiro de seu pai, que também recupera de um estilhaço de morteiro na perna direita, sofrido na operação desencadeada pelas forças portuguesas contra a Região do Como, em Janeiro de 1964 (5). Malan Cassamá narra a Pami as aventuras, a coragem e bravura com que seu pai se bateu em combate, enfrentando as forças inimigas em situação tão desesperada, pela libertação da sua terra, nas ilhas de Caim e Como, durante mais de dois meses. Pami sente-se orgulhosa.

A guerrilheira abolida é chamada ao comando de instrução. É uma conversa dura para Pami, mas esta não irá mais ser combatente. É-lhe destinada outra função dentro da Organização. A jovem passará a fazer parte dos quadros de alfabetização do Partido. Resultante da sua cultura, tem de se preparar, para seguir para o Cantanhês e começar a dar aulas ao pessoal do EP e MP.


(iv) Pami e Malan apaixonam-se; Pami é colocada como professora em Flaque Injã


Debaixo da enorme mafumeira do Centro de Instrução da Guerrilha em Sambise, na festa de fim de curso do contingente que regressará à sua terra para fazer a guerrilha, assiste com o enfermeiro, e o recuperado Malan, ao desfile dos seus companheiros. Emocionada, quando os jovens desfilam cantando o hino do Partido, os olhos enchem-se-lhe de lágrimas, mas entoa também: Esta é a Nossa Pátria Amada, Hino do PAIGC, Hino do Povo (6). Voz embargada, mas bem timbrada, entoa:


Sol, suor, o verde e o mar,
Séculos de dor e esperança!
Esta é a terra dos nossos Avós!
Fruto das nossas mãos
Da flor do nosso sangue:
Esta é a Nossa Pátria Amada!

[Refrão]


Viva a Pátria Gloriosa!
Floriu nos céus a Bandeira da Luta!
Avante, contra o jugo estrangeiro!
Nós vamos construir na Pátria Imortal
A Paz e o progresso
Nós vamos construir na Pátria Imortal
A Paz e o Progresso.

Ramos do mesmo tronco
Olhos na mesma luz:
Esta é a força da nossa união!
Cantem mar e a terra
A madrugada e o sol
Que a nossa luta fecundou!

[Refrão]

Viva a Pátria Gloriosa! (...)


Orvalho salgado, escorrendo pelo fino rosto, Pami olha para Malan e os olhares fixam-se profundamente. Num momento ficam encabulados ao repararem que estão de mãos dadas. É o princípio de algo lindo que nasce fora dos usos e costumes da sua Raça.

Pami é colocada como professora em Flaque Injã. Uma experiência riquíssima para a jovem. Desde meninos, blufos, até homens grandes, serão seus alunos, mas a grande prioridade é, de facto, ensinar as milícias e o pessoal do EP.

Malan Cassamá, no regresso à guerrilha, ainda em recuperação, instala-se em Caboxanque. Todos os dias visita a professora de Flaque Injã. Passam largos momentos junto ao rio, ouvindo o murmúrio cantar das águas, nesse louco esvair para jusante ou montante, do mar ou para este nessa dualidade encantadora destes rios de maré, enchendo em tempos de preia-mar ou vazando em horas de baixa-mar. Os ruídos da selva são sons maravilhosos de sussurrantes instrumentos musicais. O arrulhar dos pombos verdes nos altos poilões são melodias de embalar. Sem o saberem, eles estão vivendo um momento belo da transformação da sua própria sociedade e cultura. Na procura do amor, na voluptuosidade dos seus beijos, na doce embriaguez, subindo do coração aos lábios, enleiam-se na máxima plenitude recíproca; a sua dualidade transforma-se num só querer, que se completa na concretização da mútua posse. Embora essa posse seja já de facto uma realidade, planeiam a sua união, aceitando ambos seguir as tradições da sua etnia. Assim, fica determinado que Malan falará com Pan Na Ufna.

Malan, de regresso a Cansalá, acerta todos os pormenores com Pan Na Ufna, que aceita, e a jovem professora de Flaque Injã e o guerrilheiro Malan, passam a ser marido e mulher.

(Continua)

___________

Notas de L.G.:

(1) Vd. posts de:

23 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2298: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (2) - Parte I: O balanta Pan Na Ufna e a sua filha (Mário Fitas)

21 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2293: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (1): Os bastidores de um romance (Luís Graça / Mário Fitas)

(2) Vd. posts de:

11 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2257: Convívios (34): CCAÇ 763 (Cufar 1965/67) (Mário Fitas)

27 de Junho de 2007 >Guiné 63/74 - P1893: Notícias de Cadique (Mário Fitas, CCAÇ 763, Cufar, 1965/66)

27 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1891: O Cantanhez (Cadique, Caboxanque, Cafine...) e os paraquedistas do BCP 12 (1972/74) (Victor Tavares, CCP 121)

25 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1876: Restos de aquartelamentos (1): Cadique, na margem esquerda do Rio Cumbijã (CCAÇ 4540, 1972/73) (Pepito)

25 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXC: Os marinheiros e os seus navios (Lema Santos)

(3) Vd. posts de:

22 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2124: PAIGC - Instrução, táctica e logística (1): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (I Parte) (A. Marques Lopes)

24 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2126: PAIGC - Instrução, táctica e logística (2): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (II Parte) (A. Marques Lopes)

(4) Vd. post de post de 27 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1890: PAIGC: Gíria revolucionária... ou como os guerrilheiros designavam o seu armamento (A. Marques Lopes)

(5) Operação Tridente: vd. os textos que publicámos em primeira mão do nosso camarada Mário Dias, sargento comando, que esteve na batalha do Como, do primeiro ao último dia:

15 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXII: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): Parte I (Mário Dias)

16 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXV: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): II Parte (Mário Dias)

17 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXX: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): III Parte (Mário Dias)

(6) É o hino da República da Guiné-Bissau. Letra e música de Amílcar Cabral. Pode ser ouvido aqui.



terça-feira, 27 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2306: Dando a mão à palmatória (3): Guileje: o diorama (Nuno Rubim) e a montagem digitalizada do aquartelamento (Carlos Guedes)

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Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 2006 > Planta do quartel em 1966. Reconstituição de Nuno Rubim, coronel de artilharia, na reforma. Realização plástica de Carlos Guedes. Um e outro fizeram parte da CCAÇ 726 (Guileje, 1964/66).

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2006). Direitos reservados (com a devida vénia...).

Foto alojada no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2006 Photobucket Inc. All rights reserved.



1. Mensagem do Nuno Rubim:

Amigo Luís

O nosso blogue está também sempre em cima do assunto ! O site do Pepito sobre o Simpósio está de facto muito bom !

Uma pequena correcção: Uma coisa é o diorama, maqueta, outra coisa é a belíssima montagem digitalizada, executada pelo Guedes, sobre fotografia a preto e branco do aquartelamento em Dezembro de 1964. É essa a imagem que abre o blogue (1) e julgo pois que deve ser corrigida a legenda e clarificada a autoria.

O Diorama vai representar o quartel mais tarde, 1965/66, quando já tinha sofrido algumas transformações significativas (2).

Um abraço


Nuno Rubim

2. Comentário de L.G.:


Mea culpa, mea culpa, meu caro Nuno, meu caro Guedes!... Duas coisas são responsáveis por estes pequenos desastres bloguísticos: a santa ignorância e a maldita pressa... Fiu induzido em erro pela leitura apressada do sítio do Simpóisio Internacional de Guileje (1): aqui fica regitado o meu pedido de desculpa a ambos, a par da correcção que se impõe. O seu a seu dono! (3)

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Notas de L.G.

(1) Vd. post de 27 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2305: Guileje: Simpósio Internacional (1-7 de Março de 2008) (5): O sítio oficial na Net e o diorama de Nuno Rubim
(2) Vd. post de 14 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1173: A fortificação de Guileje (Nuno Rubim, Teco e Guedes, CCAÇ 726)

(3) Vd. posts anteriores desta série:

Guiné 63/74 - P2305: Guileje: Simpósio Internacional (1-7 de Março de 2008) (5): O sítio oficial na Net e o diorama de Nuno Rubim


Guiné- Bissau > Simpósio Internacional, 1 a 7 de Março de 2008: Guiledje na Rota da Independência da Guiné-Bissau > Belíssima montagem digitalizada de Guileje, executada pelo Guedes, sobre fotografia a preto e branco do aquartelamento em Dezembro de 1964, antecipando a visão do espectacular diorama da povoação e aquartelamento no tempo da CCAÇ 726 (1965/66), feito por Nuno Rubim para o futuro Núcleo Museológico de Guileje.

Foto: Guiledje: Simpósio Internacional (2007) (com a devida vénia...).


1. Mensagem enviada para todos os amigos e camaradas da Guiné, pelo Engº Agrónomo Carlos Schwarz - o nosso Pepito -, na sua qualidade de Director Executivo da AD -Acção para o Desenvolvimento, Bissau:

Caro Amigo:

A partir de hoje terá à sua disposição o site sobre o Simpósio de Guiledje onde poderá acompanhar os preparativos e a organização do mesmo, bem como ter acesso a informações úteis sobre hoteis, restaurantes, centros culturais, boites, etc. (1)

Poderá conhecer os oradores e os temas de comunicação, o programa dia a dia, os promotores e patrocinadores e também terá uma rubrica [,um fórum,] onde poderá participar com sugestões ou lançando temas para debate.

Bem vindos a todos

Carlos Schwarz
Director Executivo da AD

Lisboa, Campus da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa > 6 de Setembro de 2007 > Da esquerda para a direita, Nuno Rubim, Carlos Scharwz (Pepito) e Luís Graça.


No sítio oficial do Simpósio Internacional (que infelizmente foi descontinuado) havia um link, destacado, do nosso blogue, o que muito nos honrou... Para a comissão organizadora, o nosso blogue tfazia  a confluência de pessoas, memórias, sentimentos, ideias e afectos, ajudando a tornar possível a realização, em Março de 2008, desta grande iniciativa que muito nos honra, a todos, ex-combatentes de um lado e de outro...

Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.


2. O futuro Núcleo Museológico de Guiledje


O Coronel de Artilharia, na reforma, Nuno Rubim, reputado especialista em história da artilharia, nosso amigo e camarada (2), com duas comissões de serviço na Guiné, durante a guerra colonial - uma delas tendo comandado, como capitão, a CCAÇ 726 - tem-se vindo a empenhar, árdua, competente e generosamente, há cerca de 2 anos a esta parte, à complexa mas bela e apaixonante missão de criação do Núcleo Museológico de Guileje e em especial ao diorama do respectivo quartel, "uma obra impar que estará disponível durante o Simpósio e que nos enche de orgulho, a todos quantos se abalançaram a esta iniciativa", diz o sítio oficial do Simpósio Internacional.

O Núcleo compreenderá um Centro Documental que disporá de um Diorama do quartel, um grande Poster com as posições militares do PAIGC no momento do assalto final a Guileje (em Maio de 1973), uma exposição de fotografias e um serviço de computadores contendo um arquivo digital, documental e fotográfico, onde através de um conjunto de entrevistas em formato DVD estarão registados os testemunhos de muitos dos participantes guineenses, caboverdianos, cubanos e portugueses que por lá passaram durante a guerra colonial (3).


O Diorama do Nuno Rubim: uma das joias da coroa do futuro núcleo museológico de Guileje

O Diorama foi projectado por Nuno José Varela Rubim e realizado por ele, com a colaboração de Carlos Miguel de Vasconcelos Tavares, Isabel Pereira Pimentel, Maria Júlia de Sousa Rubim, Maria Tereza Rubim, Nuno Emanuel e Marcela.

As fotografias que permitiram a feitura do Diorama foram cedidas, na sua grande maioria, por Alberto Pires (mais conhecido por Teco), ex-militar da CCAÇ 726, o qual foi incansável na sua pesquisa. Outras foram enviadas por Carlos Guedes, também da mesma Companhia. Ambos também forneceram informações sobre vários aspectos importantes da configuração do quartel. Foram ainda aproveitadas várias fotografias do saudoso Capitão José Afonso da Silva Neto - o nosso saudoso Zé Neto (1929-2007) - que pertenceu à CART 1613 (1967/68), onde exerceu funções de 1º sargento.

Foi também importante o levantamento topográfico efectuado em Guiledje em 2005, por Fidel Midana Sambú.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > Uma das beldades locais, fotografadas pelo nosso saudoso Zé Neto (1929-2007)

Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.


Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > Um encontro inesperado: o nosso co-editor Virgínio Briote com o Teco e o Guedes... Estes dois últimos estiveram em Guileje, na CCAÇ 726, sob o comando do Nuno Rubim... Voltarama agora a colaborar juntos no projecto Guileje... Vd. post de 14 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1173: A fortificação de Guileje (Nuno Rubim, Teco e Guedes, CCAÇ 726) ... O Teco, que é natural de Angola, tem um fabuloso arquivo fotográfico desse tempo (mais de 500 fotos); o Guedes saiu da CCAÇ 726 para se ofereceu, como voluntário, para os comandos, onde foi camarada do Briote nos comandos... O Nuno Rubim tem neles dois grandes amigos e colaboradores (4).


Na concepção do Diorama foram tidos em consideração os seguintes elementos:

- Na povoação de Guileje estiveram instaladas unidades militares portuguesas desde Fevereiro de 1964 até Maio de 1973;
- Assumida a decisão de ser feito um diorama, foi necessário determinar a data que o mesmo iria representar, dado que ali estiveram instaladas 11 Companhias, além de outras unidades (pelotões, etc.);
- No decurso desse período, e sobretudo a partir de 1969, o aquartelamento sofreu alterações significativas;
- Escolheu-se a data de 1965/66 pela seguinte razão de ter sido nessa altura que aí esteve sediada a unidade com maior tempo de permanência, a CCaç 726 (a qual, juntamente com a unidade que se lhe seguiu, a CCAÇ 1424, foi também a Companhia que efectuou mais operações no sector e sofreu mais baixas em combate);
- O Diorama (maqueta) pretende pois representar o aquartelamento e a tabanca nesse período;
- A escala escolhida foi a de 1/72, permitindo desse modo adaptar modelos em miniatura comercializados;
- Após aturado trabalho de estudo, recolhendo fotografias e declarações de ex-militares que ali estiveram no período em causa, foi possível desenhar um plano à escala para aí serem inseridas as localizações de edifícios, cubatas, abrigos e outros detalhes;
- Estes, depois de também serem desenhados à escala, foram construídos utilizando plástico, madeira, metal e resina, e depois pintados de forma a representá-los tão exactamente quanto possível;
- No diorama poderão ser observados, além das infraestruturas, modelos de viaturas, depósitos, diversos utensílios, etc…
- E até uma aeronave, uma DO-27, que trazia frescos e correio, proporcionando desse modo talvez o único momento de alegria para as tropas portuguesas e seus aliados...

No núcleo museológico haverá ainda um espaço de exposição para armamento, equipamento e outro material, português e do PAIGC, que está a ser (ou venha a ser) cedido, tal como:

- um Unimog e um Pentenclas, meios de transporte de referência de um lado e outro da barricada;
- armas do PAIGC: uma RPG-7 (ou RPG-2), um morteiro de 82mm (ou 120 mm), uma metralhadora pesada Degtyarev (ou Goryunov), uma ligeira Degtyarev, pistolas-metralhadoras - PPSH (a famososa costureirinha), Thompson, M23 - , espingardas semi-automática e automáticas (AK-47 Kalashnikov, Simonov, Mosin-Nagant) e pistolas (Tokarev e Ceska).
- armas de Portugal: espingardas automáticas G-3 e FN, uma metralhadora MG-42, uma espingarda Mauser, LGF e Dante, morteiroa (60mm, 81mm e 10,7cm), pistolas (Parabellum e Savage).

3. Comentário de L.G.:

Guiledje na Rota da Independência da Guiné-Bissau... É com regozijo que o nosso blogue se associa a esta bela iniciativa e sauda fraternalmente a sua comissão organizadora... Este simpósio internacional, que também podia ser realizado em Portugal, não celebra a derrota de ninguém, mas sim a vitória de dois povos que continuam ligados por laços históricos, afectivos, culturais e linguísticos... Como de um lado e de outro temos dito, esta iniciativa faz parte de um projecto mais vasto de desenvolvimento integrado e sustendo - o projecto Guiledje -, e no essencial representa o triunfo da vida sobre a morte, a vitória da paz sobre a guerra, a primazia da memória (viva) sobre o esquecimento e o branqueamento da história, a afirmação da esperança no futuro, o reforço da amizade e da solidariedade entre os nososs povos (5)...

_________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 6 de Setembro de 2007 > Simpósio Internacional (1-7 Março de 2008) (1): Uma iniciativa a que se associa, com orgulho, o nosso blogue

(2) Vd. posts de:

18 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1189: O tertuliano Nuno Rubim, especialista em história militar

11 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P864: Unidades aquarteladas em Guileje até 1973 (Nuno Rubim / Pepito)

(3) Vd. por exemplo os seguintes posts:

Vd. as memórias do Cap Zé Neto:

25 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXV: Memórias de Guileje (1967/68) (Zé Neto) (Fim): o descanso em Buba

Vd. ainda a correspondência do J. Casimiro Carvalho:

25 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1699: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (1): Abatido o primeiro Fiat G 91

13 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1727: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (2): Abril de 1973: Sinais de isolamento

14 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1759: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (3): Miniférias em Cacine e tanques russos na fronteira

24 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1784: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (4): Queridos pais, é difícil de acreditar, mas Guileje foi abandonada !!!

18 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1856: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (5): Gadamael, Junho de 1973: 'Now we have peace'

(4) Vd. post de 12 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2260: Álbum das Glórias (33): Inauguração da exposição de fotografia do Américo Estanqueiro, hoje, na Fundação Mário Soares

(5) Sobre o nosso apoio ao Projecto Guiledje, vd. entre outros o post de 23 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXII: Entrevista a Fernando Pereira, correspondente do Expresso, sobre o Projecto Guileje (Luís Graça)


Declarações de Luís Graça ao jornalista Fernando Pereira, correspondente do Expresso em Bissau, em 23 de Maio de 2006:

"Em cerca de 735 posts (ou textos) publicados no nosso blogue, no espaço de um ano, uns 10% foram dedicados ou fazem referência a Guileje (ou Guiledje, segundo a grafia da Guiné-Bissau).

"Guileje, o aquartelamento de Guileje, o corredor da morte de Guileje, a Mata do Cantanhês, mas também Madina do Boé, Gandembel e Gadamael, entre outros locais no sul, têm ainda hoje, passados mais de trinta anos sobre o fim da guerra colonial, uma enorme carga mítica, simbólica e afectiva para os ex-combatentes portugueses na Guiné...

"A retirada de Madina do Boé saldou-se por um trágico acidente que vitimou quase meia centena de camaradas nossos; mas Guileje é considerado o único aquartelamento da Guiné que fomos compelidos a abandonar por razões militares e psicológicas: a pressão da guerrilha do PAIGC era de tal ordem que a situação se tornou insustentável...

"Tanto para as tropas portugueses como para o PAIGC é um momento, se não de viragem
(militar), pelo menos carregado de simbolismo...

"Eu estive destacado, na zona leste, em Bambadinca, numa companhia africana, a CCAÇ 12, de Junho de 1969 a Fevereiro de 1971. Não conheci Guileje nem Gandembel. Mas no meu tempo contavam-se muitas estórias (falsas ou verdadeiras) sobre a degradação da situação militar no sul, e em especial em Guileje, Gadamael, Gandembel. Por exemplo, era extremamente popular a letra do Hino de Gandembel.

"Cantarolávamos, para espantar os nossos medos, exorcizar os nossos fantasmas e
denunciar o absurdo daquela guerra a que estava condenada toda a juventude de
um país, as quadras do Hino de Gandembel:

Gandembel das morteiradas,
Dos abrigos de madeira
Onde nós, pobres soldados,
Imitamos a toupeira.

(...) Temos por v'zinhos Balana ,
Do outro lado o Guileje,
E ao som das canhoadas
Só a Gê-Três te protege

(...)

"Numa primeira fase, apoiamos o projecto Guileje, da AD - Acção para o Desenvolvimento, dando-o a conhecer, divulgando-o na Internet, recolhendo documentação sobre a presença militar portuguesa em Guileje (incluindo testemunhos de militares que por lá passaram)...

"(...) Citando o líder da AD e autor da ideia, Pepito, o projecto Guiledje representa o triunfo da vida sobre a morte, da paz sobre a guerra, da memória colectiva sobre o esquecimento e o branqueamento da história...

"É importantíssimo que a Guiné-Bissau recolha e preserve os testemunhos dos guerrilheiros do PAIGC que lutaram pela independência, e que pertencem a uma geração que está a desaparecer... É importante igualmente ouvir o depoimento dos ex-combatentes e das autoridades militares portuguesas...

"(...) Há uma crescente interesse pela Guiné-Bissau, por parte de uma geração como a minha que fez a guerra colonial e que hoje tem disponibilidade, vontade e poder de compra para ir à Guiné, juntar o útil ao agradável: fazer a sua romagem de saudade, exorcizar os seus fantasmas, visitar os lugares e as gentes que estão na sua memória, reconciliar-se com o passado, evocar os seus mortos, fazer o luto, conhecer o país de hoje, contribuir também para o seu desenvolvimento através de projectos integrados e inovadores como me parece ser este, liderado pelo Pepito e a AD" (...).

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2304: Humor de caserna (2): Welcome to Mansambo, a melhor colónia de férias do ano de 1968 (Torcato Mendonça / Luís Graça)


Guiné Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > Fotos Falantes III: Bem vindo, Welcome, Bien Venu, Biene Venidos, Willkomenn ... a Mansambo, uma estância de férias onde o turista se pode instalar confortavelmente e usufruir um conjunto de actividades excitantes, da caça à pesca... Imagem que faz parte de um conjunto de 60 slides a que o ex-Alf Mil Torcato Mendonça chamou Fotos Falantes III...



Quadro de Ticiano, Sísifo, c. 1549. Museu do Prado, Madrid. Fonte: Wikipedia


O humor de caserna funcionou, na Guiné, durante a guerra colonial, em todo o lado, e sobretudo nos piores momentos... Ajudou muita gente a sobreviver ao Suplício de Sísifo que foi aquela estúpida, penosa, absurda e inútil guerra que nos obrigaram a manter ...

O aquartelamento de Mansambo, como muitos outros, foi construído, a pá e a pica, num esforço hercúleo.... uma epopeia que noutro país qualquer daria uma fabuloso filme...

Recorde-se que os deuses condenaram Sísifo a fazer rolar uma grande pedra de mármore, com suas próprias, mãos até ao alto de uma montanha.... Uma vez alcançado o cume, a pedra rolava novamente pela encosta abaixo até o ponto de partida, movida por uma misteriosa força irresistível. Tratava-se de uma condenação até à... eternidade!...

Por essa razão se diz que todas as tarefas que envolvem esforços gratuitos e inúteis são Trabalhos de Sísifo... A construção de Gandembel, de Mansambo e de tantos outros aquartelamentos e destacamentos na Guiné, foram verdadeiros trabalhos de Sísifo (2)...

Fotos: © Torcato Mendonça (2006). Direitos reservados.

_______________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 23 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2205: Humor de caserna (1): A sopa nossa de cada dia nos dai hoje (Luís Graça / António Lobo Antunes)

(2) Vd. post de 12 Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXLII: História da 'feitoria' de Mansambo (Carlos Marques dos Santos)

domingo, 25 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2303: Tabanca Grande (42): Francisco Palma, Soldado Condutor Auto da CCAV 2748/BCAV 2922 (Canquelifá, 1970/72)



Francisco Augusto Palma
Soldado Condutor Auto
CCAV 2748/BCAV 2922
Canquelifá 1970/72




1. Em 13 de Novembro Francisco Palma enviava seguinte mensagem a Joaquim Almeida

Camarada "Custóias", Joaquim Gomes de Almeida:

Boa tarde, nós também enquanto lá andámos, sempre tivemos duas GMC, a 3.ª era para tirar peças para as outras duas andarem... a cair aos bocados.

Eu sempre conduzi uma até ela não aguentar mais, pois nunca teve travão de pé, a alavanca das mudanças saltava quando estava em 3.ª, que era a mudança mais usada e o volante tinha meia volta de folga.
No fim peguei no Unimog 411 (o pequeno a gasóleo-Burro do mato) com 600 Kms e voámos com uma mina quando tinha 2700 kms.
O material era todo da Guerra do Hitler, as G3 encravavam e os Turras tinham armas russas modernas.

Enfim uma guerra de improvisação e coragem que só a nossa juventude ignorante dos perigos, combatia e levava em frente. Mesmo assim, para não morrer, ainda limpámos uns quantos turras quando se tornavam mais atrevidos.

Já sei que estás em contacto com o Luís Graça e que eles querem saber mais coisas da tua guerra. Desabafa com eles para ver se os políticos tomam consciencia o que é uma guerra , sem ser aquela que o Joaquim Furtado, realizou e que tentam tornar na política errada do Salazar sem valorizar o que as tropas, sem consciência política, fizeram no terreno... sangue, suor e lágrimas.

Agora, a psico que demos aos africanos, precisamos nós, pois a solidão com a idade ataca mais, os filhos vão à vida deles e as mulheres já não têm paciência para continuar a ouvir lamúrias de histórias emocionais, nem aturar pesadelos que continuam na nossa mente.

Um abraço
F. Palma

2. Em 19 de Novembro Francisco Palma dirigia-se ao Blogue

Estimado Luís Graça:
Os meus cumprimentos.

Primeiro que tudo queria apresentar sinceras desculpas ao Custóias, por ter trocado o número da CCAÇ 817 em que realmente esteve incorporado na Guiné, pois havia apagado sem querer o e-mail inicial dele (havia-lhe enviado uma mensagem a pedir a repetição dos dados dele e não obtive resposta) e arrisquei, mas a memória já não é de confiar... contudo havia colocado um "?" por não ter a certeza.

Agora passo a apresentar-me:

Chamo-me Francisco Augusto Palma, fui Soldado Condutor Auto, pertenci à CCAV 2748/BCAV 2922 que esteve em Canquelifá entre 1970 e 1972.

O nosso Batalhão embarcou para a Guiné em 18 de Julho de 1970 e regressou, sem mim, em 20 de Junho de 1972.

Como disse no mail que mandei ao Custóias, eu e o meu Unimog fomos pelo ar quando passámos por cima de uma mina.
Em consequência deste incidente, vim evacuado para o HMP em 21 de Maio de 1972, onde permaneci até 23 de Dezembro.

Anexo uma foto actual para que conste na fotogaleria do blog.

Em breve darei mais notícias sobre Canquelifá.

Um abraço
Francisco Palma

3. Nota do co-editor Carlos Vinhal

Caro Francisco Palma

Sê bem-vindo à nossa Tabanca Grande , onde desejamos que estejas totalmente restabelecido, e se possível sem consequências, do rebentamento daquela traiçoeira mina.

Uma guerra não tem nada de bom como é lógico, mas pior que tudo eram as minas e armadilhas que fazíamos de parte a parte e que era a forma mais cobarde de atingir o IN. Digo isto, porque fui de Minas e armadilhas e tive sempre reservas quanto ao trabalho que fazia.

Se não fôr doloroso para ti falar no teu caso, e se isso servir para aliviar alguma mágoa que ainda sintas, escreve-nos sobre isso.

Esperamos que tenhas outras estórias menos dramáticas que possamos conhecer.

Recebe um fraternal abraço de boas vindas da Tertúlia do Blogue

Guiné 63/74 - P2302: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (14): Ilustres visitantes no Saltinho

Paulo Santiago
ex-Alf Mil
Pel Caç Nat 53
Saltinho
1970/72




Visitantes ilustres no Saltinho (*)

Sendo a CCAÇ 2701 uma das Companhias do Batalhão sediado em Galomaro, havia alguma dependência, operacional e logistica, daquela Companhia perante o Batalhão localizado em Aldeia Formosa (ou Quebo).

Era os obuses 14 do Quebo, já aqui evocados em memória anterior, que nos davam protecção, quer no quartel, quer em patrulhamentos ou operações para os lados de Contabane.

No aspecto logístico, era possível, aconteceu comigo, pessoal que se encontrava em Bissau regressar ao Saltinho, via Aldeia Formosa, apanhando o Nord-Atlas, fazendo posteriormente a cambança do Corubal, na zona de Ura Candi. Até à margem esquerda vinham militares de Aldeia, na margem direita estavam os militares da CCAÇ 2701 ou do Pel Caç Nat 53.



Rio Corubal> Ura Candi> Local de cambança e respectivas canoas

Foto: © Paulo Santiago (2007). Direitos reservados



Houve um incidente nesta cambança que poderia ter tido um desfecho trágico.
Durante algum tempo, em 1971, operou no TO do CTIG um avião (P2 V5 ?) que diziam ter base em Cabo Verde.

Aconteceu, na altura em que se efectuava uma cambança, aparece um daqueles aviões, o piloto, inexperiente na Guiné, olha para o mapa, vê assinalada uma zona de duplo controle e vá de mandar umas rajadas de metralhadora em direcção às canoas, com o pessoal, apercebendo-se do engano, a gesticular para a aeronave. Os militares de Aldeia conseguiram, via rádio, que o piloto tirasse o dedo do gatilho.

Felizmente só houve danos numa canoa, mas o piloto deve ter ficado convencido que acertara em alguém, pedindo uma evacuação para o Saltinho, onde chegou um heli quase ao mesmo tempo que os militares vindos da cambança.

Este incidente serviu para alegrar o olhar ao pessoal, pois no heli vinha uma bela (pelo menos era branca) enfermeira pára-quedista, e, não havendo ninguém para evacuar, foi juntamente com a tripulação beber algo ao bar, provocando grande ajuntamento à porta daquele.


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Fiofioli > Março de 1969 > Operação Lança Afiada. O temível helicanhão. Um Alouette III, com canhão lateral de calibre 20 mm. (**)


Foto: © Paulo Raposo (2006). Direito reservados.

Voltamos à cambança do Corubal poucas semanas após aquele incidente. Vinham de visita ao Saltinho o Comandante do BCAÇ, sediado em Aldeia Formosa, Ten Cor Agostinho Ferreira, o Oficial de Operações Major Pezarat Correia, Comandante da CCAÇ 18, Cap Mil Rui Ferreira e um Fur Mil de Informações do qual não recordo o nome.

O Ten Cor Agostinho Ferreira, mais conhecido pelo petit-nom Metro e Oito era um daqueles oficiais superiores, por serem raros, que dava nas vistas pelo seu trato e pela sua jovialidade.

O Rui escreve no Rumo a Fulacunda (***) que aquele Ten Cor acompanhava-o no mato em operações. Conheci outro com as mesmas características, o Ten Cor Polidoro Monteiro, comandante do BART de Bambadinca.

As visitas foram bem recebidas, prolongando-se a sessão de copos até alta madrugada no bar de oficiais e sargentos.

No dia seguinte, eu e o Clemente acompanhámos os visitantes até ao Xitole onde estava programado um almoço em casa do comerciante Jamil Nasser.
Coluna não existiu, fomos os seis, um pouco apertados, num único jipe. Maluqueiras...

O almoço foi um chabéu muito bem confecionado pelo empregado do Jamil.

Estava também presente o comandante da CART do Xitole. Comeu-se muito bem, e, como é costume dizer-se, bebeu-se muito melhor. Terminado o repasto, bem bebidos, lá nos voltamos a enfiar os seis no jipe em direcção à cambança, onde às 15,30 horas estaria pessoal para cambar os nossos visitantes para a outra margem do Corubal.

Correu tudo conforme o previsto. No regresso da cambança, com o jipe mais leve, só eu e o Clemente, este que sempre foi um pouco acelerativo, vinha a andar nos limites e, quando saíamos da tabanca de Ura Candi para flectir para a picada Xitole-Saltinho, inopinadamente aparece-nos um poste do arame farpado à nossa frente, sendo logicamente atropelado.

Passados poucos dias tivemos mais quatro visitantes, vindos de Fá, onde se formava a 2.ª CCmds Africanos. Era o Major Comando Miquelina Simões, o Ten Comando Oliveira, o Fur Mil Comando Bebecas que conhecia de Lamego, e o 2.º Sarg Cmd Teixeira.


O Major Miquelina Simões tinha feito uma comissão, penso como Capitão, em Aldeia Formosa conhecendo bem o Régulo Sambel de Contabane, antes da destruição desta tabanca. Como Contabane se situava agora junto do Saltinho, daí a razão da visita.

Nesta comitiva chamava a atenção, pela maneira como usava a farda, pelo lenço preto à volta da cabeça com a boina por cima, o Sarg Teixeira, com quem vim depois a ter várias conversas, acompanhadas a cerveja, em Bissau.


Recordo uma. O Teixeira já tinha mais de uma comissão na Guiné, e diziam que operacionalmente era fora-de-série, penso que tinha algumas condecorações, das quais nunca me falou. Falou-me sim, da primeira porrada que apanhou.

Num ano, não sei precisar, apareceu na Guiné o primeiro heli-canhão. Para o testar é marcada uma operação para o dia 1 de Outubro desse ano, onde o Teixeira segue no comando de um grupo de combate. Não encontram guerrilheiros, mas há população, controlada pelo IN, que foje à aproximação dos militares e quando entra numa bolanha vem o heli-canhão, limpando tudo, velhos, mulheres e crianças.


O Teixeira ficou lixado e, quando regressou ao quartel donde partira, tratou abaixo de cão o comandante da operação, dizendo-lhe que só encontrava uma desculpa para aquela mortandade - em Portugal abria naquele dia a época de caça, onde os caçadores, após um ano de paragem, atiravam a tudo que mexesse, o heli-canhão fizera o mesmo.

Levou com dez dias de prisão.

Paulo Santiago
___________

Notas do co-editor CV:

(*) Vd. Último post da série, de 7 de Novembro de 2007> Guiné 63/74 - P2246: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (13): O batuqueiro de Contabane e o livro do PAIGC

(**) Vd. post de 6 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P941: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (13): Operação ao Fiofioli

(***) Vd. post de 4 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2026: Antologia (61): Rumo a Fulacunda: uma estória que ficou por contar ou a tragédia das CCAÇ 1420 e 1423 (Rui Ferreira)

sábado, 24 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2301: Tabanca Grande (41): Santos Oliveira, 2.º Sarg Mil de Armas Pesadas Inf.ª (Como, Cufar e Tite, 1964/66)



Fernando Santos Oliveira
2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf.ª

1964/66





1. Mensagem de 10 de Novembro de 2007 do nosso camarada Santos Oliveira para o nosso tertuliano Mário Fitas

Caríssimo Amigo Vicente

De acordo com a nossa conversa telefónica de ontem, vou tentar escrever o que sei dizer, mesmo com imprecisões cronológicas, datas e ausência de muitos nomes, que durante cerca de 40 anos procurei varrer das minhas lembranças.

No entanto, os factos vividos jamais foram esquecidos, sobretudo os que foram menos maus, pelo que te narrarei e documentarei, sempre que possível, o que tu próprio testemunhaste, embora num período curto (do mesmo modo que todas as Unidades que por mim passaram, ou eu por elas passei).

Gostava, ainda de referir que passei, entre a minha chegada e a despedida, cerca de 20 dias com o Pel Indep de Morteiros 912 e que não sei distinguir quem foram os militares (afora os 2 Cabos e 7 Soldados que sempre estiveram comigo) que pertenciam à minha Secção de 20 homens.

Assim, apresento-me:
2.º Sarg Mil Armas Pesadas de Infataria (EPI, Mafra, 1963);
Tirocinado Ranger (CIOE, Lamego, 1963/64);
Tirocinado Pára-quedista (BCP, Tancos, 1964);
Mobilização pelo RAL 1 (Lisboa, 1964), com destino a Rendição Individual de militar morto em combate, pelo chamado fogo amigo, quando em Missão inadequada à sua Formação de Armas Pesadas, integrava um Grupo de Combate, em Patrulha.


2. Em 19 de Novembro Mário Fitas dirigia-se ao Luís Graça

Caro Chefe da Tabanca Grande:

Não posso ficar indiferente ao aparecimento do Santos Oliveira no blogue. Em Cufar, juntos comemos da batata já a apodrecer, com o bacalhau que não havia, mas tivemos um grande petisco um dia quando comemos gazela com feijão frade, bem bom! Arroz não havia naquela terra distante.

O Fernando Santos Oliveira é um bom homem e um extraordinário Morteirista. Nos meus primeiros tempo de Cufar, era ele que conseguia calar a malta de Cufar Nalu nas horas das nossas refeições, curiosamente coincidentes com as horas de carreira de tiro deles.

O Fernando tem muito para contar. Mas já agora mando algumas notque ele teve a amabilidade de me mandar e espero que ele, para além destas notas, mande as suas cartas de morteiro do Como, Cufar e Tite.

É uma honra para a malta de armas pesadas. As notas da guerra do Joaquim Fernando Santos Oliveira são a forma respeitável como ele viu e viveu a guerra.

Um abraço para toda a Tabanca.
Mário Fitas


3. Em 20 de Novembro o co-editor CV endereçou mensagem ao Santos Oliveira

Caro Camarada Santos Oliveira:

Os editores do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné vêm convidar-te a formalizares a tua entrada na nossa Tabanca Grande (nome alternativo do Blogue) e autorizares a publicação do trabalho que enviaste ao camarada Mário Fitas.

Para seres membro deste importante depositório de estórias, recordações, memórias, testemunhos, depoimentos,. etc. de ex-combatentes da Guiné, basta que digas que sim ao nosso convite, que mandes uma foto tipo passe, actual, para que te conheçamos no nosso próximo encontro, e uma foto dos teus tempos de Sargento Miliciano.

Claro que ficas obrigado a contar as tuas estórias devidamente ilustradas (quando for o caso) com as tuas fotos guardadas há tanto tempo. Vais ter o prazer de aumentar o nosso espólio e de ver as tuas experiências partilhadas com camaradas teus que sentiram o mesmo que tu, nos diversos Chãos e nos diversos anos que durou a guerra na Guiné.

Se nunca foste, aconselho-te a ir à nossa página da Tertúlia , onde poderás verificar que o nosso objectivo é unicamente não deixar esquecer a nossa geração e dar a conhecer um bocado da História de Portugal que se vai desvanecendo, como se a culpa da manutenção da guerra fosse nossa (milicianos e recrutados à força) e não das más políticas seguidas pelo regime de então.

Ficamos a aguardar a tua resposta.

Da parte dos editores, recebe um fraterno abraço
Carlos Vinhal, co-editor.


4. Mensagem de Santos Oliveira com data de 23 de Novembro, para Luís Graça

Camarada Luís Graça

Saudações

Ontem, à noite, o nosso camarada Mário Vicente deu-me umas dicas para aprender a entrar nas leituras cronológicas do Blogue. Acho que consegui e dei de caras com a transcrição de um mail em que sou solidário com uma opinião do Torcato Mendonça. Surpreendeu-me, pela positiva.

Como bem sabes (a tua formação militar em Armas Pesadas, foi igual à minha) o nosso Ofício não era ser-se Apontador (fossem Morteiros, Canhões sem Recuo ou Metralhadoras Pesadas), mas Comandar um Grupo de Homens, de duas esquadras e dois Morteiros. Tudo o restante está de acordo.

Como tenho dito, sou um principiante inexperiente e até inocente, na arte da Internet; procurarei evoluir, como foi referido pelo Torcato, até poder manejar a comunicação na Net, (como muito bem o fazem os miúdos de hoje) como outrora o fazia com a G3. Assim o espero.

Isto porque me sinto extremamente honrado, pelo público convite, para integrar o Blogue. Disso, já deves ter conhecimento, (com a minha inexperiência de permeio), de que o Carlos Vinhal tem todos (???) os elementos. Desculpa-me não ter seguido os passos sem pisar minas. Parece que o fiz.

Já há para aí algum material publicável; ajustem-no ao Blogue, enquanto não rotinar a minha escrita.

Quero, finalmente, garantir que apenas escrevo como sempre tenho vivido, pelo que é importante saberem que tudo o que for apresentado por escrito (para ti, para o Blogue ou para um qualquer Camarada), é publicável. Fica autorizado. Nada tenho a esconder ou a recear, mesmo que a Verdade venha a doer ou a magoar.

Publicamente, quero agradecer ao companheiro Mário Vicente (Fitas), porque desde o seu início no Blogue (creio) sempre me motivou e incentivou a que aderisse; igualmente ao Torcato por também ter dado um empurrão.

Aos Editores Luís Graça, Carlos Vinhal e Virgínio Briote, as minhas felicitações e os meus parabéns pelo trabalho desenvolvido em prol da classe de Veteranos em extinção e da História de Portugal, que um dia será reescrita, com verdade, para os nossos tetranetos poderem aprender nas Escolas.

Aos restantes Camaradas do Blogue, igualmente um Bem haja pelos vossos contributos.

Ao grosso dos Veteranos, peço-vos apenas: não sejam Ex-Militares, ex-Alferes, ex-Furriel, ex-Cabo ou ex-Soldado, porque, desse Direito Histórico, por mais que o tentem apagar, não o conseguirão. Todos, somos portugueses como Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Mouzinho de Albuquerque, etc, etc. e, um dia, daqui a muitos anos, seremos honrados, não por sermos Colonialistas (historicamente, os nossos antepassados não são!), mas por termos sido portugueses que cumpriram (muitas vezes contrariados) o dever e a obrigação, sem desertar ou fugir.

Pessoalmente, o meu muito obrigado.

Neste Natal, que se aproxima, para todos os portugueses, os votos das maiores felicidades.

Fraternais saudações, do
Santos Oliveira

Guiné 63/74 - P2300: Bibliografia (12): Memórias de outra tropa, de outra guerra, a da pesca do bacalhau: escovar a história a contra pêlo (José António Boia Paradela)


Ilhavo > Costa Nova > Agosto de 2006 > José António Boia Paradela, arquitecto, amigo de infância do Comandante Valdemar Aveiro... Também ele, filho e neto de gente do mar, andou embarcado, até aos 18 anos, na pesca do bacalhau, na Terra Nova... Foi verdadeiramente a sua tropa, a sua guerra... Uma experiência, de seis meses, que o marcou para sempre... Homem de múltiplos talentos, também ele acabou de escrever um livro - "para os amigos" - Uma Ilha no Nome: Crónica dos Dias Líquidos, que eu tive a honra e o prazer de prefaciar.

O que o meu/nosso querido Zé António - amigo comum, meu e do Capitão Valdemar Aveiro - escreveu, ao quilómetro 70 da sua árdua, mas generosa e bem sucedida caminhada da vida, foi nem mais nem menos do que um belíssimo e comovente regresso ao passado, à sua infância, à sua ilha, à sua origem ilhavense… É também a redescoberta da sua/nossa insularidade e da situação-limite que é a própria vida, cercada de sinais de fragilidade, de solidão, de morte e de finitude por todos os lados....

Não se pense, todavia, que é uma narrativa passadista ou pessimista, escrita sob pseudónimo (Ábio de Lápara = Boia Paradela). No final, Irineu - um dos personagens da narrativa e, seguramente, um alter ego do autor - (re)descobre o anátema da ilha… no nome, mas também (re)descobre que faz parte de um vasto arquipélago, e que um ilhéu, um ilha...vense, mesmo quando deixa a sua ilha, em busca de mundo, nunca destrói as pontes, o cordão umbilical que o liga ao passado e ao futuro… (LG).

Foto: © Luís Graça (2005). Direitos reservados.


Título: 80 Graus Norte: Recordações da Pesca do Bacalhau.
Autor: Valdemar Aveiro
Editora: Papiro
Ano: 2006
Nº páginas: 166
Preço: c. 17 €

"Nítidos e cheios de expressivas imagens são os relatos que faz da sua vida na faina da pesca. Sem nos apercebermos, somos convidados a entrar a bordo do seu navio e fazermos companhia ao nosso comandante nas amarguradas horas de forçada prisão em mares gelados, verificando in loco como a força do homem e até os seus mais modernos conhecimentos ali parecem tão pequenos e sem valor, comparados com a brutal força dos elementos da natureza." (Excerto do prefácio, do Capitão António Marques da Silva).

Título:Histórias desconhecidas dos grandes trabalhadores do mar
Autor: Valdemar Aveiro
Editora: Papiro.
Ano: 2006 (2ª ed., 2007)
Preço: c. 17 €




1. Texto do editor L.G.:

O capitão Valdemar Aveiro é um velho lobo do mar, natural da Gafanha da Nazaré, Ílhavo, terra que tem dado, a Portugal, ao longo da sua história, grandes marinheiros, pescadores e capitães... Passou 35 anos da sua vida na pesca do arrasto do bacalhau, a bordo, e capitaneando grandes lugres. Hoje, está em terra, com funções de gestão em empresa do sector piscatório ao mesmo tempo que vai passando e repassando para o papel as suas memórias...

Em 2004 saiu o seu primeiro livro, Figuras e Factos do Passado: Recordações da Pesca do Bacalhau, numa edição infelizmente nada profissional da Câmara Municipal de Aveiro. Quando o conheci, através de um amigo comum - o Arq. Zé António Paradela, da empresa PAL - Planeamento e Arquitectura, Lda -, ele teve a gentileza de me oferecer ume exemplar desse seu primeiro livro, autografado.

Foi uma revelação, para mim, essas estórias - épicas, dramáticas, picarescas, burlescas, mas sempre humaníssimas - dos nossos marinheiros e pescadores da Terra Nova.. Fiquei de lhe fazer uma recensão crítica que nunca chegou a aparecer, à luz do dia, no meu blogue, na altura o Blogue-Fora-Nada...

Por outro lado, sempre me intrigou o facto de, durante a guerra colonial, se poder optar pela dura pesca do bacalhau como alternativa à tropa e à guerra... O Comandante Valdemar terá recebido - imagino eu - largas e largas dezenas, ou centenas, de pedidos para aceitar a bordo mancebos que se queriam livrar da Guiné, Angola ou Moçambique... Um belo dia destes, na Costa Nova, hei-de falar com ele sobre esta outra tropa ou guerra que se desenrolova nos bancos de gelo da Gronelândia e da Terra Nova...

Hoje vou-me limitar a reproduzir, aqui, a belíssima apresentação que o seu mano José António Paradela - e meu velho amigo - fez do seu livro, em 2ª edição, Histórias desconhecidas dos grandes trabalhadores do mar... Pegando na inspiradíssima dica do Zé António, também eu direi que - à semelhança dos nossos velhos lobos do mar que hoje morrem em terra ! - compete-nos também a nós, que fizémos a guerra colonial, "escovar a história a contra pêlo"... Temos tentado fazê-lo, fazendo jus ao lema do nosso blogue: Não deixes que sejam os outros a contar a tua história!...

O Capitão Valdemar Aveiro, como como todos os mareantes, é um execelente contador de estórias. Tem, além do talento, a grande vantagem da vivência e da autenticidade... Que ele seja um exemplo inspirador para todos nós, amigos e camaradas da Guiné.

Boa saúde, boa viagem, meu caro comandante! Luís Graça

2. Aveiro, Setembro de 2007. Na apresentação dos “Grandes Trabalhadores do Mar ”

Texto de José António Paradela, Arquitecto


“…E dentro de uma geração quem é que se lembrará disto? A menos que fique escrito, tudo se perderá no nada.” (Valdemar Aveiro)

Li novamente o teu livro e gostei ainda mais.

Isto só me acontece com certos livros, mas nem sempre pelos mesmos motivos.
Estava a lê-lo e a recordar-me de Alain Gerbault ( À la Porsuite du Soleil ), e de Hemingway (O Velho e o Mar), mas sobretudo de Melville (Moby Dick).

O barco de que falas já não é de madeira, nem os cabos são de cânhamo, e a baleia tem agora a dimensão dos labirínticos campos de gelo flutuante.

Mas o alento que te atravessa a alma é da mesma natureza, agora consubstanciado na caça ao cardume viscoso e fugaz sob o gelo.

Contudo esse argumento é para ti um apelo, um desafio à aventura, à vitória da descoberta, granjeada num segundo fôlego, ou mesmo num terceiro, quando os outros já ficavam abaixo da linha do horizonte, confundidos com a névoa.

Descobriste e ensaiaste os mapas do comportamento da manta gelada para evitares o seu abraço fatal. Mobilizaste os marinheiros – os rapazes, como lhe chamas -, para o festim opulento corporizado na sacada de peixe de braço dado com o navio, esse saco-prenúncio do pão para os que em terra esperavam.

Não foste, e ainda bem, o capitão Ahab de Melville, ou o Santiago do Hemingway, mas a associação é inevitável. É a vontade em estado puro, de maratonas diariamente repetidas, no afã de levares à terra a mensagem da vitória: Ganhámos!

Como há 2500 anos na Grécia. Os homens mudam pouco!

Estamos perante um livro de prodigioso apelo à memória. À memória do tempo vivido por entre aventuras e histórias que por vezes assume um tom narrativo confessional, para reconstituir um passado feito de retratos minuciosos de seres que existiram (existem) e que marcaram o teu trajecto, quase sempre sobre as águas que do planeta são ainda a parte incógnita. Não falo dos peixes e da sua geografia, mas dos homens que as habitam, estes de quem tu falas.

São histórias assumidas conscientemente como um ajuste de contas contigo mesmo e com aqueles que contigo andaram ou te cruzaram a rota.

O que afirmas na singularidade e sinceridade da tua escrita, é o tempo em que viveste outro tempo, marcado pelos amigos, ou mesmo por aqueles que contigo se confrontaram, e a falta que isso agora te faz.

Paciência, meu amigo, isso é a vida, que faz de cada um de nós uma narrativa única, marcada pela força dos companheiros de aventura e que dentro de nós se arvoram ainda como cínicos que ficaram para nos invectivar e evocar esse tempo de esperanças, amores e desilusões. Um tempo de outrora, mas também de hoje, por dentro de nós.

Este livro é o livro que faltava… Falo do assunto que coloquei como frontispício deste texto.

A história com H grande tem sempre os seus sacerdotes, que vasculham bibliotecas e alinham factos inventando elos de ligação quando necessário. É útil mas insuficiente.

Walter Benjamim, desconfiado da historiografia oficial, incitava a “escovar a história a contra pelo”. Para ele o perigo estava no esquecimento, no silenciamento da memória: “Toda a imagem do passado… corre o risco de desaparecer com cada instante presente que nela não se reconheceu”.

O teu livro, os teus livros, que para mim podiam ser juntos num único, escovam a história a contra pelo.

Haverá quem faça a história oficial da Faina Maior, mas é necessário buscarmos o que nela foi esquecido ou abafado, isto é, o que não existe nos arquivos: Os vestígios que o tempo sufocou, as personagens e os episódios que foram ou não chegaram a ser mesmo colocados nas notas de rodapé dos historiadores oficiais.

O teu livro tem também esse mérito: não deixa silenciar, e regista de modo vivíssimo e rigoroso as ligações orgânicas dos homens – com nome e tudo, aos seus instrumentos e às suas palavras. (Podes acrescentar no glossário: “camisolinha interior = copo de bagaço”).

A compreensão histórica de determinados contextos sociais passa muito por aqui: Pelas ligações orgânicas, e pelos copos… Lembro-me de Pessoa, e sobretudo de Mussorsky, ardido no álcool, a legar-nos música imortal. Hoje, que a Internet comporta e transporta milhões de histórias, podemos ser levados a pensar que o problema não existe, esquecendo que alguém terá de as contar.

E é este acto de contar, que acompanha os humanos desde os primórdios, este incontornável filtro da inteligência e do coração, que constitui a pedra filosofal capaz de transformar uma narrativa banal numa obra de arte viva e perene como tu fizeste para nosso encanto.

Não contaste apenas histórias de uma vida, não personalizaste o navio como já vi, ou o peixe como Hemingway . Contextualizaste um mundo de relações humanas entre o povo flutuante e errático da pesca do Atlântico Norte, cuja aventura cairia minorada se a não contasses.

Ainda que esta seja apenas a tua versão dos factos, ela não deixa de ser menos verdade. Como dizia um combatente da guerra civil espanhola ao relatar a sua experiência:

“… no sé yo cuanto le puede importar a usted ésto que le estou diciendo, no sé si esto le puede importar a alguièn, porque estas cosas no las cuentan los libros, esto no sale nunca en la historia, pero sabe lo que lo digo? Esta es mi verdad”.

Um abraço do teu mano Zé
____________

Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 20 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2284: Antologia (66): A tropa do bacalhau, na Terra Nova e na Gronelândia: uma estória de vida (Joaquim Sampaio de Azevedo)

(2) Testemunhos sobre o Capitão Valdemar Aveiro:

Do Blogue Mar de Viana > 24 de Fevereiro de 2007 > Histórias desconhecidas dos grandes trabalhadores do mar

Fui honrar o convite que a CMVC [Câmara Municipal de Viana do Castelo] me fez para o lançamento da 2.ª edição do livro, com título em epígrafe, do Capitão Valdemar Cravo da Cruz Aveiro que teve lugar a bordo do navio-museu Gil Eanes, atracado no topo Leste da doca de flutuação do Porto de Viana do Castelo.

A possibilidade de estar com o autor e demais pessoas ligadas ao meio marítimo em que me insiro e no qual vivi longos anos, é , à partida, motivo mais que suficiente para não desperdiçar uma oportunidade tão envolvente.

O capitão Valdemar é um nome sobejamente conhecido no meio bacalhoeiro, pelo seu perfil, pelo seu carácter, pela sua atitude, pelo seu sucesso e pelo seu humanismo. Estes atributos só por si dizem tudo do homem que passou 35 longos anos da sua vida na pesca do arrasto do bacalhau e disso dá testemunho neste livro que hoje lança em segunda edição.

Em 1970 fui pela primeira vez à pesca do bacalhau, como piloto do arrastão de popa Lutador, propriedade da extinta Empresa de Pesca de Lavadores em que o Capitão Ferreira da Silva era sócio-gerente.

Falei algumas vezes com o Capitão Valdemar sem que nos conhecêssemos . Isto acontecia com muitos de nós, capitães, imediatos, pilotos e telegrafistas especialmente, porque tínhamos comunicações entre nós e raramente nos encontrávamos em terra. Há histórias interessantes a esse respeito vividas por homens do mar que só vieram a conhecer-se depois que abandonaram a profissão. Este é um caso desses. Se o Capitão Valdemar não tivesse escrito este livro e não tivesse vindo a Viana fazer o lançamento, não sei se alguma vez nos chegaríamos a conhecer.

Interessante foi também o facto de termos histórias semelhantes a contar por ocasião do 25 de Abril, cada um à sua maneira, mas que estávamos ambos no mar e a bordo de navios bacalhoeiros quando se deu esse acontecimento marcante na vida de todos nós. A marca que deixou nas nossas vidas, a forma como cada um o viveu, são outras histórias interessantes e desconhecidas. Só por isso valeu a pena ter ido ao lançamento do livro ao Gil Eanes.

Do blogue Mukandas do Nelsinho >[Rio de Janeiro, ] 19 Fevereiro de 2007 > Homens do Mar...

Valdemar Aveiro é bem um daqueles típicos Lobos do Mar pelos quais, garoto de doze ou treze anos, eu nutria uma profunda e respeitosa admiração, quando o meu irresistível fascínio pelos maiores e mais belos Lugres de três e quatro mastros, me levava à margem direita do Rio Douro, onde aparelhavam para a perigosa e dura faina da pesca do bacalhau em mares gelados e traiçoeiros!

O Capitão Aveiro, eu soube ontem, acaba de publicar um livro contando as Histórias Desconhecidas dos Grandes Trabalhadores do Mar, que adivinho tratar-se de leitura imperdível para todos aqueles que gostam do mar e de aventuras vividas!Apesar da minha admiração por sua extraordinária pessoa, faz muito tempo que não nos encontramos e, pior, sequer temos nos comunicado! A apresentação do seu livro na RTPi, disparou minha vontade de buscar de volta os laços que nos ligavam, acabei telefonando e garantindo o convite de honra para uma sardinhada em sua casa na Gafanha da Nazaré!Então, até lá Comandante!

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2299: Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (10): O meu amigo açoriano de Bissau



Açores > Ilha de S. Miguel > Arrifes > 1967 > Ao fundo, o quartel. Em primeiro plano, criabças da povoação. A pobreza era extrema nas ilhas, naquele tempo. Não surpreendia, pois, que as crianças viessem todos os dias pedir as sobras do rancho. Fiz estima com estes garotos, que eram meus convidados quando estava de oficial de dia. Foi uma grande alegria tê-los na festa de Natal de 1967, que organizámos com a devoção dos meus amigos de Ponta Delgada, sobretudo a Maria Teves Lemos e a Cremilde Tapia, recolhendo frituras, doçaria, pastéis de bacalhau e o mais que se sabe.

O Natal de 1968 foi mais tocante, certamente, estávamos dentro da guerra, mas esta recordação de 1967 têm-me acompanhado sempre, é estímulo para o que se deve continuar a fazer.

Açores > Ilha de São Miguel > Quartel de Arrifes > 1967 > Tirei esta fotografia com os soldados e as crianças que vinham às sobras do rancho. Os soldados adoravam a tropa porque tinham carne e peixe a todas as refeições. Achavam graça ter de fazer a barba todos os dias e cortar o cabelo regularmente. Gostavam igualmente dos hábitos de higiene, confessando-me mesmo que a vida é outra coisa com o banhinho diário. As crianças , como se pode ver, andavam descalças. A freguesia dos Arrifes já era nesse tempo enorme e as famílias eram numerosas. O açoriano é muito disciplinado e muito religioso. Quando estava de oficial de dia e percorria as camaratas depois do toque de recolher, muitas vezes ouvio-os rezar o terço, e acompanhei-os no exterior, para não os melindrar.

Açores > Ilha de São Miguel > 1967 A família Teves Lemos acolheu-me maravilhosamente. Ele era despachante, ela doméstica, de uma bonomia insuperável. Foi através deles que conheci a Cremilde Tapia, madrinha da minha filha mais nova. Na fotografia aparece o meu soldado mariense José Braga Chaves, ele tinha um dedo torto que o Dr. Furtado Lima, conceituado cirugião local, operou. Estivémos sempre em contacto durante a guerra, visitei-o depois, estava ele já a trabalhar no aeroporto da Nordela.

Fotos e legendas: © Beja Santos (2007). Direitos reservados.


Mensagem do Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Outubro de 2007:

Luís, aqui vai o episódio n.º 10. Já aí tens a capa do livro da Agatha Christie, o livro do Jacques Martin segue pelo correio. Penso que terá interesse mandar-te duas fotografias referentes ao meu período açoriano. Seguirão segunda feira. Estou nas lonas, vou passar três dias em Casal dos Matos a arrancar ervas e a preparar novos episódios desta Operação que está em Outubro de 1969 e irá até Agosto de 1970. Um abraço do Mário.


Operação Macaréu à vista - Parte II (10) > O MEU AMIGO AÇORIANO EM BISSAU
por Beja Santos
(1)

(i) O acidente de Canturé


Parto um dia mais tarde para Bissau, dado que a 17 de Outubro, ao princípio da tarde, registou-se um lamentável acidente em Canturé, à volta do 404 completamente destruído. Tivemos notícias dos acontecimentos em Missirá porque ouvimos rajadas de espingarda, era um fogo todo igual, parecia um festejo de gente eufórica, a que se seguiu um silêncio sepulcral.

Ainda incapaz de me mexer, com o tímpano do ouvido direito a zunir e a resistir a todos os analgésicos, peço ao furriel Pina para ir ver o que se passa. Ele chega ao anoitecer com a notícia de que Bacari Soncó e dois milícias de Finete, a arder de curiosidade, aproximaram-se da viatura armadilhada pelo Reis e os seus sapadores, durante a manhã, e ficaram estilhaçados, se bem que sem gravidade, desatando a fazer fogo, convencidos que estavam a ser emboscados.

Com o Pires arrumo os últimos papéis, sempre com a preocupação de que o Pel Caç Nat 54 possa chegar a qualquer momento e nós queremos que encontrem toda a contabilidade e todos os registos em dia. Escrevo no meu eterno caderninho de viagem, para negociar com o comando em Bambadinca:

- Pedir uma ajuda extraordinária para as idas a Mato de Cão, de preferência tentar conciliar uma ou duas secções de um grupo de combate da CCaç12 com uma ou duas secções de Missirá e Finete;
- Autorizar um avanço dos vencimentos dos milícias de Finete, não há sacos de arroz, o espectro da fome espreita, só nos faltava agora o descontentamento dos estômagos;
- Analisar a dispensa de uma bazuca a Finete e aprovar as obras de dois abrigos;
- Pedir ao David Payne que passe um dia em Missirá, tal o número de incapacitados, militares e civis, que precisam urgentemente de tratamento.

Antes do jantar, Ussumane Baldé vem ajudar-me a fazer a mala e a ver o estado da farda n.º 2. Não posso andar de calções, o joelho direito inchou, os coágulos de sangue têm ligaduras, é puro exibicionismo andar a mostrar estas feridas. Depois do jantar escrevo os últimos aerogramas, as dores são tantas que peço ao Adão maqueiro um comprimido para dormir.

Em Finete, na manhã seguinte, combino com Bubacar Baldé, o substituto de Bacari, a necessidade de improvisar um esquema de apoio às forças que vão a Mato de Cão. É necessário igualmente negociar as patrulhas de vigilância até Gã Gémeos com o furriel Pires, nos dias em que o Sintex for a Bambadinca. Chegado ao batalhão, converso com o major Cunha Ribeiro que anui no plano das idas a Mato de Cão, a título provisório. O Payne promete ir a Missirá nos próximos dias e descansa-me quanto ao estado de Bacari e os dois milícias que estão na enfermaria, onde os vou visitar. Bacari tem um olhar entristecido e envergonhado, como quem cometeu uma galgada na pior altura.

E lá parto para Bafatá com a trouxa e alguns livros. Desconfio que o mais grave poderá ser o tímpano, seja como for o olho direito não me deixa ver bem, sinto uma profunda irritação, quero igualmente ir a uma consulta de estomatologia, há por ali dois dentes cariados que me provocam um profundo mal estar.

O voo está atrasado uma hora, aproveito para ir à cidade ver os discos e os livros no estabelecimento do Eduardo Teixeira. Como o dinheiro é muito pouco e a duração da estadia é uma incógnita, limito-me a comprar Um crime no Expresso do Oriente, de Agatha Christie, e um livro de novelas de Somerset Maugham. São obras que li no passado, não as esqueci, vou prontamente relê-las.

Enquanto espero a vinda do Dakota, sem nenhum interesse em falar da guerra com quem me rodeia, a um canto enfronho-me na excitante viagem do Expresso do Oriente a partir de Istambul, via Belgrado, até Calais e Londres. Hercule Poirot vem da Síria até Istambul, vai contactando com uma curiosa fauna internacional, há um norte-americano que pretende contratar os seus serviços, Poirot recusa, nessa mesma noite o norte-americano será apunhalado e quando for descoberto o seu corpo exibirá doze feridas bem desiguais. Vai começar o inquérito a cargo do excêntrico detective belga.

Entro exactamente no avião quando começa esta incursão, onde a admirável Agatha Christie revela o seu talento pelos registos psicológicos. A maior parte das respostas, depois de nós sabermos que o assassinado fora um dos sequestradores que mais emocionara a America, gira à volta do nome Armstrong que, saberemos no final, tem um peso capital no móbil do crime. Enquanto o Dakota desce para Bissau, enleio-me num dos mais fabulosos grandes finais de desfecho imprevisível: afinal, todos os passageiros vieram fazer parte do júri. E é com estas boas lembranças que chego a Bissalanca o no aeroporto de Bissau peço uma boleia até ao HM241.

Capa de um clássico, Um Crime no Expresso do Oriente, de Agatha Christie. Lisboa: Livros do Brasil (Colecção Vampiro). Quando eu tinha 20 anos, a ópera era Fidélio, de Bethoven, o teatro era As três irmãs, de Tchekhov e o livro policial era Um crime no Expresso do Oriente, por Agatha Christie. Comprei-o em Bafatá na manhã de 18 de Outubro, já o tinha lido uma vez, o assombro nunca se desfez.

Hercule Poirot vem da Síria e apanha em Istambul o Expresso do Oriente, via Belgrado, até Londres. Fatalmente que houve um grande crime no combóio mítico: um criminoso lendário, o assassino da menina Amstrong, aparece mortalmente apunhalado com doze ferídas. Poirot dirige o inquérito e as conclusões podiam ser duas: um assassino que veio roubar e se escapuliu na neve ou doze passageiros que vieram fazer justiça, desde uma princesa russa até a maior actriz dramática norte-americana. O livro é de 1933, a tradução desta edição portuguesa é de Gentil Marques e a capa é do magistral Cândido da Costa Pinto. Deu filme, que permitiu Ingrid Bergman ter mais um Óscar.

Foto e legenda : © Beja Santos (2007). Direitos reservados.


(ii) O oftalmologista que veio de Ponta Delgada

Marquei três consultas para ver se trato tudo quanto me dói no corpinho abalado: os olhos, o ouvido e os dentes. Vou começar pelo oftalmologista, logo no dia seguinte. A tarde vou passar na vadiagem, sobretudo a vasculhar livros no Taufik Saad, e depois vou à Catedral de Bissau.

A espera é longa, dizem-me que o médico está no bloco operatório desde o amanhecer, parece que chegaram helicópteros com vários feridos, tão graves que vários médicos não têm mãos a medir. Sempre com o nariz metido nos livros, acabei o assombroso policial desse mítico Expresso do Oriente paralisado na Jugoslávia, e onde Poirot tem duas versões para o crime: um homicídio por razões de furto em que o criminosos se escapuliu na neve ou um júri de doze pessoas que vieram sentenciar um canalha que assassinara uma criança. É claro que o leitor intervém e aprova a solução optada pelo detective.

A desoras, sou recebido no consultório por um gigante de cerca de quarenta anos, expressivo de mãos, voz bem timbrada, transparece estar exausto mas é atencioso. Preenche a minha ficha, detecto-lhe imediatamente o acento açoriano. Examina-me os olhos e alivia a conversa ao fim de alguns minuto:
-Não é nada de grave, devem ter sido uns ácidos dessa tal mina, há aqui restos de poeiras e por isso o olho está tão inflamado. Vamos agora ver a sua graduação, dentro de dias vai ver novamente bem. Que todas as situações que aqui me aparecem fossem como a sua.

Entretanto, e como era inevitável, falámos de S. Miguel, preciso de falar de um mundo fora da guerra, ele também. Conto-lhe a minha história, como cheguei a Ponta Delgada, em Outubro de 1967, as recrutas que dei nos Arrifes, o quarto alugado na rua de Lisboa, os jantares no café Nacional, os serões no Gil, o conhecimento e a amizade da Maria e do Marino Lemos, a Cremilde Tapia, o Dr. José Maria de Medeiros, o Melo Bento e outros mais.

Ele também me conta a sua história, deixou a família com muito sofrimento e ali está como o único oftalmologista para militares e civis. Fala-me preocupado dos tracomas e outros sofrimentos, que vê diariamente, fico a saber que um tracoma precocemente diagnosticado salva a vista do doente, mas, pressionado pelos muitos mais que aguardam consulta, despede-se propondo que jantemos juntos essa noite. Aceitei prontamente, tenho uma grande vontade de falar sobre a minha vida açoriana, encontrar uma mesma frequência modulada, sobre as ilhas atlânticas.

Lá fomos jantar ao Solar do Dez, começámos com a sopa de ostras com muito limão, comemos marisco e uma boa papaia, tudo regado com vinho branco. Tínhamos tanto para dizer que fomos os últimos a sair, já cheios de sono. Eu sentia que estava a cimentar uma amizade com o José Luís Bettencourt Botelho de Melo, todos aqueles relatos expressivos me fascinavam, o encanto e o sabor das descrições e dos registos humanos tocavam-me no coração. Os comentários tinham sempre um final bem humorado, não faltando mesmo a pilhéria. Quando nos despedimos, ele mostrou-me a Mariazinha, um revólver que trazia no bolso traseiro das calças. Combinámos, a cambalear de sono, que eu não regressaria a Missirá sem novo encontro, desse por onde desse.

No dia seguinte, fui mostrar o tímpano ao otorrinolaringologista. Havia tratamento a fazer e assombrei-me com as porcarias que vi na minha lavagem aos ouvidos. Tinha dois dias de espera antes de ir ao dentista, ganhei coragem fui telefonar à Cristina, não lhe escrevia praticamente depois dos acontecimentos da noite de 16 de Outubro. Foi uma conversa contida, desdramatizando o sucedido. E escrevi-lhe no café Avenida:

Sei que dificilmente me perdoarás o que se tem passado, o meu silêncio dos últimos dias, estou em crer que a conversa que acabámos de ter ao telefone te deixou muito assustada. Arrependo-me de ter escrito à tua mãe, devido à crueza com que lhe falei da emboscada e da mina anticarro.

Estou mais aliviado com o estado dos meus olhos, tenho uma receita para ir ao oculista, a irritação parece estar a passar, o médico descansou-me, não haverá consequências. Tenho, no entanto, um tímpano dormente, oiço com ressonâncias, há aqui um grande desconforto. Mas o médico também me tranquilizou, não vou perder acuidade auditiva, não podes imaginar as excrescências que me saíram dos ouvidos.

Ainda não te falei que o Bacari Soncó, no dia seguinte à emboscada e à explosão da mina, cedeu à curiosidade, aproximou-se da viatura armadilhada e ficou ferido, mais dois soldados. Felizmente que não há nada de grave.

Sinto-me um náufrago em Bissau, não tenho vontade nenhuma de andar a contar esta história e a arrastar a minha perna, que ainda me dói. Estou a tomar um medicamento para absorver os coágulos de sangue no meu joelho, ao saltar da viatura, depois da explosão, dei uma pancada brutal no tablier, o Payne assegura que é um hematoma, dentro de dias estarei muito melhor.

Está prometido que amanhã te telefono. Agora vou visitar o Cruz Filipe, para saber do Casanova, que quero ver esta tarde. Logo que trate dos dentes regresso a Bambadinca. Desculpa não falar das cartas que me tens enviado, tu não sabes o suplício do correio que recebo da minha família, sinto a tristeza dos teus avisos, o som atordoador das tuas súplicas. Nada posso fazer, temos os dois que saber resistir. Há mais de um ano que contemos as nossas lágrimas e que suportamos a nossa saudade. Não desfaleças.



(iii) Uma visita ao Casanova, o primeiro mergulho na história da Guiné e um ecnontro inesperado com o o Alferes Comando Saiegh



Encontro o Cruz Filipe que já visitou o Casanova e me diz sem equívocos:
-Vai demorar a restabelecer-se. Está profundamente doente. Você não tem nada que se culpabilizar, não é obrigado a saber tudo sobre manifestações da doença mental, todos vocês vivem sobre pressão, o cansaço, a tensão permanente excedem por vezes os sinais que a convivência permanente não deixa perceber. Vá ver o seu amigo. Amanhã contamos consigo para jantar.

Faço todo o possível por me apresentar sorridente frente ao Casanova. Está rígido, ao princípio o seu olhar avivou-se quando me viu, depois reduziu-se ao silêncio com a expressão parada, fixou-se num ponto, olhando a janela, hirto. Não lhe falo de Missirá, digo que estou aqui exclusivamente para me tratar e para lhe fazer companhia. Falo pausadamente, invento um mundo onde não existe o Cuor e muito menos a guerra. A distância a que ele se encontra acaba por me fazer vergar, a emoção dos últimos dias, acaba por fazer ruir as minhas defesas veio a recordação dos gritos dos meus feridos naquela tarde de 16 de Outubro que tanto me apavoram, levanto-me, abraço-o e prometo voltar amanhã, mesmo sentindo a sua indiferença total.

Aproveito uma boleia, vou até ao museu de Bissau, mas antes procuro saber se no Centro de Estudos da Guiné Portuguesa é possível comprar um livro de história da Guiné. Sou recebido por um senhor que me mostra uma biblioteca e me convida a ver os títulos. Terá sido o comandante Teixeira da Mota a galvanizar este projecto cultural, este manancial de documentos, relatórios e livros onde a vida administrativa, a colonização, o tráfego de escravos, as guerras e as campanhas militares, as descrições geográficas, está tudo primorosamente catalogado.

Ainda tenho um pouco mais de uma hora à minha frente, remexo e começo a tomar notas. Chamou-me à atenção um livro sobre a guerra do Geba, de Basso Marques onde se escreve “No território de Geba, com o fim da demonstração do poderio e força do Governo, haviam-se já efectuado já algumas campanhas - a última no período decorrido de Agosto a Setembro de 1869 - todas infrutíferas porém... Alguns comerciantes indignos vendiam pólvora e munições aos mandingas de Bambadinca que em canoas de poilão as levariam depois aos rebeldes...”.

Ponho de parte para ler amanhã o conjunto de documentos sobre a campanha contra Abdul Injai, a referência a um artigo sobre o islamismo, os jornais que falam sobre o desastre de 19 de Abril de 1891, um período de rebeliões em que houve um massacre em Bissau, e retenho um título do General Ferreira Martins sobre as guerras de conquista, entre 1883 e 1885, onde ele observa: “São tão diferentes as origens, os caracteres, as religiões e as qualidades ou costumes bélicos dos variados povos que habitam a Guiné Portuguesa, povos que desde remotos tempos sustentaram uns contra os outros, encarniçadas lutas, que nunca foi nem será de recear uma aliança formal entre todos eles”.

Capa do livro de banmda desenhada, de Jacques Martin, La Tiare d'Oribal. Paris: Casterman, 1966. (Colection Alix, par Jacques Martins)... "Luís, nãos ei se acreditas ,as foi comprado na Guiné. Tudo era possível mcom aquela guerra, era tempo em que o francês se falava quase como o português".

Fotos e legendas: © Beja Santos (2007). Direitos reservados.


Escureceu completamente, prometi voltar amanhã de manhã. Desço a avenida, como se fosse para a Catedral ou à casa Gouveia ou ao cais. É junto ao cinema que encontro o Saiegh que me dá a notícia que é alferes da 1ª Companhia de Comandos Africana e que vai para Fá, dentro de dias. Combinámos um encontro para depois de amanhã e, curioso, ele pergunta-me o que é que eu levo na mão, quer saber porque é que eu me interesso por histórias aos quadradinhos que ele nunca me vira ler. Comprara na casa Tofik Saad um álbum intitulado La Tiare D’Oribal, de Jacques Martin. O desenho parecera-me muito bom, se bem que ingénuo, um traço como o de Hergé ou o de Edgar Jacobs. O herói chama-se Alix, é um gaulês que vive em Roma em 50 antes de Cristo, no tempo do triunvirato de César, Pompeu e Crasso. A tiara de Oribal é a coroa de um poderosíssimo rei que vive algures na Mesopotâmia, um jovem pretendente confronta-se com um usurpador sem escrúpulos, inevitavelmente Alix vai ter um papel fulcral no desfecho do regresso e entronização do jovem rei Oribal. Ainda não sei, mas vou-me tornar um fã desta banda desenhada.

Volto ao Quartel General, numa das sala de estar procuro ficar só, escrevo um aerograma à minha Mãe e outro ao Ruy Cinatti. Depois leio umas páginas de Somerset Maugham e vou procurar dormir sobre a acção dos medicamentos. Estou excitado com a história da Guiné que comecei a ler. Vou continuar amanhã as leituras, cheio de entusiasmo. Lembro-me do Casanova e do Saiegh. Sei que antes de adormecer me encomendei a Deus e rezei por estes dois companheiros de Missirá, a quem tanto devo.
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Nota de L.G.:

(1) 16 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2270: Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (9): E de súbito uma explosão, uma emboscada, um caos...