sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3353: Tabanca de Matosinhos (4): O novo abrigo, o Restaurante Milho Rei, Rua Heróis de França, 721, Matosinhos (José Teixeira)

1. Mensagem do dia 15 de Outubro de 2008, do nosso camarada José Teixeira, ex-1.º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/70, membro da Tabanca de Matosinhos, dando-nos notícias desta tertúlia:

Caros editores:
Seguem mais notícias da Tabanca de Matosinhos.
Fraternal abraço do
José Teixeira


É sempre assim à chegada. Mais um abraço !

Matosinhos > 8 de Outubro de 2008 > A porta do Milho Rei reina a boa disposição, apesar de os estômagos ainda estarem vazios.

Matosinhos > 8 de Outubro de 2008 > Restaurante Milho Rei > O Zé Manel , da Régua, com o seu inseparável boné, o Zé Teixeira e o Jorge Félix.

O Almeida de Gandembel cantando para nós o "hino de Gandembel”.

O Leonel Tavares cantando o fado, ou mehor, o Fado do Combatente, da sua autoria.

Vista geral dos convivas presentes no dia 8 de Outubro último, no Milho Rei, Matosinhos.

Fotos: © Jorge Félix (2008). Direitos reservados. Legendas de José Teixeira


2. O novo abrigo da Tabanca de Matosinhos

Em boa hora, mercê da circunstância da Casa Teresa, com pesar para alguns de nós, se tornar pequena para acolher tantos nharros, mudamos de abrigo para o Restaurante Milho Rei, na Rua Heróis de França, 721 – Matosinhos.

A gerência do restaurante acolheu-nos prazenteiramente e reservou-nos uma espaçosa e acolhedora sala. Um serviço de qualidade e um pessoal estupendo, que mais queremos !

Na guerra que todos nós de uma forma ou de outra vivenciámos, quando um camarada caía varado por uma bala assassina, logo dois ou três se levantavam com mais garra ainda. A raiva de ver um colega tombar, como que duplicava as forças e afastava o medo. Agora, quando um ou outro camarada não responde à chamada para o rancho, porque os afazeres da vida o tramaram, logo aparecem dois ou três, com a mesma vontade de partilhar vivências, conhecer outros camaradas e suas histórias e dar o gosto à faca e garfo, regando o estômago com o excelente vinho do Zé Manel que nunca se esquece de aparecer bem acompanhado com umas caixitas do seu melhor néctar. Obrigado, Zé Manel !

Este mês de Outubro começamos com 19 convivas para nas duas semanas seguintes passarmos para vinte e quatro. É caso para perguntar, onde vamos parar ?

Desta vez deram-nos a honra de estar presentes velhos amigos como o Casimiro Carvalho, o Magalhães Ribeiro e o Almeida (de Gandembel). O Leonel Tavares é uma nova aquisição.

O Almeida (Gandembel) voltou para cantar para nós, como só ele sabe cantar, o Hino de Gandembel, que tanto deliciou os participantes no Simpósio de Guiledje em Fevereiro passado. Deliciou-nos ainda com outras canções que nos eram tão queridas e ouvidas com tanta saudade nas bolanhas da Guiné. Completou a sua actuação com uns acordes de clarinete. O Leonel Tavares não ficou atrás e cantou um lindo fado com letra e música de sua autoria – o Fado do Combatente.

O Almeida, de Gandembel (CCAÇ 2317, 1968/69)

O Almeida de Gandembel ao colo de sua mãe. Ainda não sabia o que o esperava ...

Zé Teixeira
______________

Nota de CV

Vd. último poste desta série > 7 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3278: Tabanca de Matosinhos (3): Convite do Fernando Moita para uma incursão a Felgar, concelho de Torre de Moncorvo (José Teixeira)

Guiné 63/74 - P3352: O meu baptismo de fogo (17): Morés, 8 Agosto de 1972 (Amílcar Mendes, 38ª CCmds)

1º Cabo Amílcar Mendes, 38ª CCmds. Mata de Morés. 1972.

(...) embora à distância de um clicar continuo a acompanhar o nosso blogue diariamente. Porque me emocionei com alguns relatos da "primeira vez" decidi, e por homenagem a um grande amigo, de quem irei falar mais tarde, partilhar convosco a minha primeira vez. Desta vez, e porque não quero melindrar ninguém, alguns nomes serão alterados.

Acho que a partir do momento em que me ofereci voluntário para os Comandos no já longínquo ano de 1969 fiquei a sonhar como seria a minha primeira vez.

Sonhava de olhos abertos e revia-me em todos os filmes de guerra. Imaginava-me o tipo duro que debaixo de fogo iria estar a rir-se e a desdenhar sem nenhum respeito pelo inimigo. Sonhava ser o tipo Mata todos e volta só!

Isto claro na minha ingenuidade dos 18 anos cheirava a bravata, e contagiado pelos relatos que ia lendo das tropas especiais que lutavam no Vietname e que me enchiam a cabeça de fantasia. Ser dos Comandos antes do 25 de Abril, no continente era tabu, era mistério e sedução para os meus 18 anos.Nem eu imaginava como ira ser diferente essa realidade.

Tenho que elucidar que, naqueles anos de guerra colonial, ir para os Comandos e conseguir sê-lo, obrigava a ter que passar por muitas etapas. Uma delas era de que mesmo com o curso de Comandos concluído e já na fase operacional, a especialidade Comando só era averbada depois de termos tido contacto com o Inimigo em teatro de guerra e nem que isso demorasse um ano tínhamos de aguentar para só depois em parada recebermos o Crachá.

A sua entrega em parada tinha um cerimonial e onde um graduado Comando nos perguntava a berrar:
- Queres ser Comando? - e se a nossa resposta era Sim, ele respondia:
- Então vai e cumpre o teu dever!

E era nesse momento que nós passávamos a pertencer a uma Família de quem nos iríamos orgulhar pela vida fora e até a morte. Bem, isto tem muito a ver com a vontade que tínhamos em ter contacto com o IN para nos armarmos em vaidosos com o crachá.

Cheguei à Guiné no dia 29 de Junho de 1972 e depois de uns dias de folga em Bissau onde a CCmds esteve a receber o armamento, no dia 10 de Julho 1972 seguimos em coluna com destino a Mansoa. Nesse mesmo dia encontrei o meu amigo Germano, 1ªcabo cripto e um velho amigo de família com quem eu passei muitos dos serões em Mansoa nos intervalos da fase operacional.

Lembras-te, Germano, como aquilo foi duro para mim? Lembras-te de eu regressar das operações do Morés e como desabafava contigo?

Antes de passar ao debaixo de fogo quero aqui recordar, e tu lembras-te, Germano, pois estavas ao pé de mim, dizia eu recordar o meu primeiro contacto nu e cru com essa malvada chamada morte e que se me apresentou da forma mais cruel que se possa imaginar. Para o contar vou relembrar o que na altura escrevi no meu diário de guerra.

15 Julho de 1972

Estava à conversa com o Germano junto à nossa caserna quando ouvimos um tiro vindo do interior. Corri para lá e de repente nesse minuto ao olhar um corpo no chão vítima de um disparo acidental perdi toda a minha inocência guerreira e acho que um mundo de responsabilidade e verdade se abateu sobre os meu ombros. Foi a primeira baixa da companhia. O soldado Ilídio da Costa Moreira.

Depois de sair para fora da caserna senti-me agoniado e vomitei e senti que tudo o que me foi ensinado no curso foi pouco para lidar de frente com a morte.

8 Agosto de 1972

Saí ontem para uma operação heli-transportada, a partir de Mansoa e até ao local da largada. O Germano foi dar-me um abraço.

Desembarcámos na mata do Morés na região DANDO -QUENHAQUE-SINRE. A operação foi um golpe de mão num aldeamento onde as populações estavam sob controlo IN e o objectivo foi atacar e destruir as instalações para criar um clima de instabilidade.

Entrámos no aldeamento e estava vazio. O silêncio era impressionante, notava-se que o IN à nossa aproximação fugiu do aldeamento. Começámos a passar revista ás tabancas a de repente ouve-se um tiro. Um furriel do meu grupo detecta um turra emboscado e mata-o. Durante a revista apanhámos diverso material de guerra e documentos. Destruímos 10 palhotas e 2 grandes celeiros.

Saímos do aldeamento e mesmo na saída caímos na primeira emboscada em guerra.

Sofremos fogo concentrado de flgelação. Foi um momento de excitação para mim. É a primeira vez que estou debaixo de fogo do IN. Reagimos à emboscada, fomos para cima deles e saímos do local.

Nesse mesmo momento outros dois grupos da Companhia são emboscados perto de nós e têm um morto. Foi o nosso primeiro morto em combate. O camarada Francisco José, natural de Évora.

Começámos a andar em direcção ao local de recuperação que já não era em heli. Tivemos que andar dúzias de km em direcção a Infandra. A um dado momento desfaleci. Valeu-me uma coramina para me recompor. Pelo caminho entrámos noutro aldeamento onde fomos recebidos com rajadas de kalash.

Nessa aldeia levei um banco que o meu amigo Germano (lembras-te?) trouxe para a metrópole. Chegámos à estrada, perto de Infandra, já muito tarde e a recuperação ficou para de manhã.

Durante a noite os mosquitos iam-me bebendo o sangue todo.

Duração da operação: 24 horas

Resultados:

- IN: 1 morto e vários feridos, visto terem sido encontrados vários rastos de sangue;
- NT: 1 morto e 1 ferido ligeiro
- Destruído um acampamento de 10 palhotas e vários celeiros
- Material capturado:

2 Granadas defensivas F-1
1 anadas defensivas modm 63
Documentos e material diverso

E esta foi a minha primeira vez, Amigo Luís, e como vez foi um bocadito para o duro.

Quero agradecer ao Germano toda a disponibilidade que nesse tempo para me apoiar. Obrigado AMIGO.


Amilcar Mendes
ex-1ªcabo COMANDO
38ºCCmds
Guiné
__________

Notas de vb:

1. O Amílcar Mendes, em 2 Novembro de 2005, apresentou-se assim na nossa Tabanca Grande:

"assentei praça em Outubro de 1971 no antigo RAL1. Ofereci-me para os Comandos onde cheguei em Dezembro de 1971 (CIOE/ Lamego). Completei o curso em Junho de 1972, mês a que cheguei à Guiné, a 26. Iniciei a 2ª parte do curso em Mansoa, na mata do Morés, onde tive o primeiro contacto com o IN. Recebi o crachá de Comando em Agosto, com o posto de 1º cabo.

Em Fevereiro de 1974 terminei a comissão mas só regressei a Portugal em Julho de 1974."

2. Artigos da série e relacionados em´


24 Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3350: O meu baptismo de fogo (16): Catió, 10 de Março de 1969 (António Varela)

1 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3009: Com sangue na guelra: Nós e a mística dos comandos da 38.ª, em Mansoa (Belarmino Sardinha)

Guiné 63/74 - P3351: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (8): Homenagem à memória do Honório e do Manso (Victor Barata)


Guiné > Região do Oio > Rio Mansoa > 1970 > Restos do Helicóptero Alloutte III, que se despenhou no dia 25 de Julho de 1970, no Rio Mansoa, em consequência das condições climatéricas. Nele morreram, além do piloto (Alf Mil Av Francisco Lopes Manso), o Cap Cav José Carvalho Andrade e mais 4 deputados em visita à Província (entre eles Pinto Leite, o então chefe da Ala Liberal da Assembleia Nacional).

Cortesia de: © Victor Barata (2008) /Blogue Especialistas da BA12, Guiné 1965/74. Direitos reservados.


1. Mensagem do Victor Barata, com data de ontem (O Victor é membro da nossa Tabanca Grande, empresário em Vouzela, e é o grande animador do blogue dos nossos camaradas da FAP que estiveram na Guiné, entre 1965 e 1974):

Boa-Tarde, Luís.

Antes de mais quero cumprimentar todos os companheiros da Tabanca Grande e apresentar as minhas desculpas por esta ausência tão prolongada, mas a vida empresarial e o blogue Especialistas da BA 12 têm absorvido a maior parte das 24 horas do dia.

A ti quero agradecer-te os teus reconhecimentos abonatórios ao nosso Blogue (*), mas para tal aconteça não podemos deixar enaltecer o que aprendemos,e continuamos a aprender contigo, através do teu Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné.

Sobre algumas mensagens que tenho lido nesse espaço, houve algumas que me deixaram um pouco desagradado da maneira como se abordam algumas passagens pelas terras da Guiné, nomeadamente, e obviamente, onde aparece o pessoal da FAP (**).

(i) Recordo a situação do Honório:

Seria possível, tanto humana com tecnicamente, um piloto da FAP "rapar na bolanha para acertar nos nativos..."?!

Não vamos denegrir a imagem de um cidadão que já não faz parte do mundo dos vivos, e que tantas vidas salvou, tanto apoio deu ao pessoal que ansiosamente esperava pelos géneros e notícias daqueles que lhe eram mais queridos, pondo em risco a sua própria vida e da sua tripulação.

Certamente que se esqueceram da geografia da Guiné,quando descolávamos de Bissalanca (BA 12) , toda a Guiné nos via, qualquer arma nos esperava em qualquer lugar. Vamos desejar ao Honório, PAZ À SUA ALMA!

(ii) Depois li também do José Martins, sobre o acidente de Mansoa:

"... acidente onde faleceram quatro deputados..."

Será que um dos deputados era o piloto do Hel Alloutte III? Ou será que o meu saudoso companheiro, Alf Pilav Manso, por não ser deputado já não conta? Ou o outro passageiro, que não era nenhum mecânico, visto só haver capacidade para seis pessoas e ter que viajar, salvo erro, um simples ajudante do Gen Spínola?

Notei e realço a tua observação ao José Martins, fazendo a mesma observação: "Então e o Piloto e mecânico?"

Desde já quero deixar bem claro que este meu reparo não serve para alimentar qualquer tipo de polémica ou incompatibilidade, é somente e apenas para me sentir bem comigo próprio.

Anexo uma foto do Helicóptero Alloutte III, sinistrado no referido acidente, consequência das condições climatéricas.

Um a abraço a toda a Tertúlia.

Victor Barata

2. Comentário de L.G.:

Camarada Victor:

Recordo-me bem de tua primeira mensagem:

"Chamo-me Victor Barata, fui Especialista, MELEC de Aviões e Instrumentos de Bordo, na Força Aérea Portuguesa que servi com muito orgulho, com dois anos de Guiné, entre 1971 e 1973"...

Tive o privilégio de saber, em primeira mão, o teu "segredo" guardado há 35 anos, e depois publicá-lo no nosso blogue (***). Tive muito gosto em apresentar-te à nossa então tertúlia (hoje, Tabanca Grande) em 10 de Maio de 2006... Tudo isto para te dizer que foste, és e continuas a ser um grande camarada e um homem sensível e solidário.

Eis o que na altura eu escrevi:

"Victor: A pista pode ser curta mas é toda tua... Na nossa caserna cabem todos os camaradas, sejam eles terrestres, voadores ou anfíbios. A FAP, tão dignamente representada por ti, é bem especialmente bem vinda à nossa tertúlia e ao nosso blogue... Por mim, sempre tive uma especial admiração pelos malucos das dessas máquinas voadoras que eram as DO 27 e que nos traziam notícias do mundo, do outro do mundo... Já não gostava tanto quando elas, em vez do carteiro, transportavam o senhor major de operações ou do senhor comandante de qualquer coisa... Ou sejam, quando de frágil caranguejola eram promovidas a um coisa que pomposamente se chamava o PCV.

"Um reparo: o blogue chama-se Luís Graça & Camaradas da Guiné... Eu sou apenas o editor. A partir de hoje o blogue também é teu, de pleno direito. Vou publicar o texto adicional que me mandaste, e que é um bonito testemunho de solidariedade em tempo de guerra, ou seja, de camaradgem. Se tiveres fotos desses tempos que já lá vão, manda, que os tertulianos têm ainda a ilusão de que recordar é viver" (***)...


Agora vamos ao conteúdo da tua recente mensagem: percebo a tua mágoa, o teu desagarado e até o teu (res)sentimento... Dois camaradas teus (e nossos) da FAP não terão sido aqui bem (re)tratados, um por acções e outro por omissões. Comecemos pelo Honório que era talvez, já no meu tempo (1969/71), o piloto da FAP mais conhecido, querido e popular... Como sabes, uma das nossas regras de ouro do nosso blogue é não fazer juízos de valor sobre a competência e o comportamento, a nível operacional, dos nossos camaradas.

Hoje admito que o título desta série (Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras) não foi feliz... E muito provavelmente vai morrer aqui. Costuma-se dizer que o inferno está cheio de boas intenções (e de bons rapazes e... raparigas). A nossa (boa intenção) era tão só a de homenagear os nossos camaradas da FAP (que tinham mesmo que ser malucos para voar nas difíceis condições da Guiné, em termos de terreno, clima e guerra; mas o mesmo também se aplicava às outras máquinas dos outros ramos das nossas forças armadas, fossem elas a GMG ou a LDM)... Enfim, há limites para tudo, e até para o humor (que foi muito útil, em tempo de guerra, para a nossa saúde mental)...

De qualquer modo aqui fica o teu desagravo à memória do Honório. Não creio que alguém o quisesse atingir na sua honorabilidade. O Honório era um mito. E, depois, só pode falar dele, em boa verdade, quem privou e/ou voou com ele... Eu, por exemplo, nunca tive essa sorte ou privilégio, mas conheci-o, pelo menos de vista, em Bambadinca, onde ele aterrava, com frequência, sempre no seu DO27.

Quanto ao trágico acidente do dia 25 de Junho de 1970, ficamos a saber finalmente que, além, dos quatro deputados da Nação, morreram dois militres: o Cap Cav José Carvalho de Andrade, camarara de curso e amigo do nosso Cor Cav Ref Carlos Ayala Botto (***) e o Alf Mil Pil Av Francisco Lopes Manso (cujo nome, de resto, não consta - contrariamente ao do referido capitão - da lista do pessoal da FAP, morto na Guiné, 1963/74; mas consta do teu blogue).

Deixa-me só vir a terreiro defender o meu amigo e camarada José Martins que é, em matéria de verdade factual, a honestidade em pessoa: ele é o nosso "rato de biblioteca", sempre disponível para fazer pesquisas na sua base de dados sobre esta ou aquela unidade, este ou aquele camarada... Infelizmente, há (ou havia até agora) um incomodativo silêncio sobre os militares que perecerem neste terrível acidente, para além dos deputados da Nação... O piloto seguramente estava na lista dos mortos do Ultramar... Mas desconhecíamos a sua identidade. Aqui fica também a tua e a nossa homemagem ao Manso.

Em resumo: temos sempre que ter cuidado com as palavras que teclamos no computador e sobretudo que mandamos para a blogosfera... Algumas das nossas evitáveis quesílias (e até conflitos), até agora ocorridos no blogue, entre camaradas e amigos da Guiné, resultam das dificuldades do processo de comunicação... Simplesmente por que não somos (nem nunca seremos) suficientemente claros, concisos e precisos, como manda as boas regras da comunicação...

Um Alfa Bravo para ti e para todos os especialistas, pilotos e demais pessoal da BA12 que estiveram na Guiné, entre 1965 e 1974. Longa vida para o teu/vosso blogue.

PS - Obrigado pelo teu reconhecimento pelo papel, de algum modo pioneiro e inovador, do nosso blogue. Que mil blogues sobre a Guiné 1963/74 floresçam à sombra dos nossos poilões ou na orla das nossas bolanhas ou no meio das picadas esburacadas pelas minas ou no fim das pistas de terra batida ou nos restos dos nossos bunkers-bidonvilles... Por que as memórias daquela terra e daquele tempo ninguém no-las pode tirar...
________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 22 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3344: Instrução, táctica e logística (18): Supintrep, nº 32, Junho de 1971: A luta contra o temível helicóptero (A. Marques Lopes)

(...) Nota de L.G.:

(...) Aproveito para saudar o Victor, que é também membro da nossa Tabanca Grande e tem ido aos nossos encontros nacionais, e desejar-lhe boa sorte e perseverança neste combate, que nem sempre é fácil, de reunir as antigas tropas, agora tresmalhadas, e que no caso dele não eram de terra nem do mar, mas do ar...

No seu sempre activo blogue, têm aparecido além dos Melec (técnicos de manutenção aeronáutica, como ele), outros camaradas, como os pilotos e os pára-quedistas... Boa saúde e bom trabalho para o Victor e os camaradas da FAP que a Guiné juntou e uniu. O Victor está, além disso, a organizar uma viagem de saudade à Guiné, a realizar em Fevereiro do próximo ano. (...)

(**) Vd postes da série Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras:

23 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3226: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (1): Honório, Sargento Pil Av de DO 27 (Jorge Félix / J. L. Monteiro Ribeiro)

24 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3232: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (2): O Honório, meu amigo (Torcato Mendonça / Alberto Branquinho)

24 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3234: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (3): O Honório que eu conheci... em Luanda (Joaquim Mexia Alves)

26 de Setembro de 2008 Guiné 63/74 - P3245: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (4): Honório, o cow-boy dos ares (José Nunes)

30 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3256: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (5): Lembrando o Ten Pil Av Bettencourt (Henrique Matos)

1 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3259: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (6): Alguns esclarecimentos (Jorge Félix)

8 de Outubro de 2008 >Guiné 63/74 - P3281: Gloriosos malucos das máquinas voadoras (7): Desfazendo equívocos (Alberto Branquinho)

(***) Vd. poste de

10 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXIX: Victor Barata, MELEC da FAP (1971/73) (Luís Graça)

10 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXLI: Ajudem-me a encontrar o tenente evacuado em 1973 do Corredor da Morte (Victor Barata)


(****) Vd. poste de 20 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3333: Controvérsias (6): O acidente aéreo de 25 de Julho de 1970 (Carlos Ayala Botto)

Guiné 63/74 - P3350: O meu baptismo de fogo (16): Catió, 10 de Março de 1969 (António Varela)


1. Mensagem do nosso camarada António Varela, com data de 13 de Outubro de 2008, com o seu contributo para a série O nosso baptismo de fogo. O Varela é um membro recente da nossa Tabanca Grnde. Foi Fur Mil Sapador na CCS/BART 2865, Catió, 1969/70 (*)


Caros Luis, Carlos e Virgínio:

Como tinha prometido estou a enviar-vos a estória do meu embarque para a Guiné, o meu baptismo de fogo, e também algumas fotografias minhas, do quartel e da vila de Catió. Se acharem que têm interesse podem utilizá-las (*)

Catió > 1969/70 > Ex-Fur Mil Varela junto ao monumento aos combatentes mortos. Ao fundo a Caserna dos Soldados.


O MEU BAPTISMO DE FOGO

Nos 23 meses de Catió, nunca tive contacto com o IN, com armas ligeiras. Os meus contactos foram sempre com artilharia nos ataques ao quartel de Catió, ou mesmo de Bedanda onde estive algum tempo em serviço (1 mês). Não quero com isto dizer que nunca tivemos ao quartel, um ataque feito do lado do cais com ligeiros e rockets, mas eu não estava em Catió, estava de férias, dizem até que foi um grande ataque, lançaram mais de 300 rocketadas, mas não acertaram nem uma no quartel nem causaram qualquer baixa. Atacaram também Catió Fula, mas não me lembro de estar em Catió nessa altura. Atacaram Sua, Quitafine e Areias, mas todas estas tabancas formavam a cintura exterior de Catió, nada chegou ao núcleo central de vila.

Devo chamar a atenção para a excelente segurança montada à volta de Catió. Nessas tabancas que acabei de mencionar, em Catió Fula tinhamos os Sapadores e na pista também em Priame a milícia fula. Em Sua, a milicia balanta, em Quitafine e Areias também a milícia e, entre a pista e Catió Fula ficava o pelotão de canhões.

Por isso eu digo que não tive contacto com IN com ligeiras, o meu baptismo de fogo deu-se no dia 10 de Março de 1969.

Num flagelamento ao quartel às 19 horas, estávamos a jantar na messe de sargentos, e como tinhamos postos de defesa ao quartel distribuidos, não houve tempo para pensar muita coisa, só em correr para o quarto, pegar na G3 e cartucheira e ir para o posto que me estava destinado, que tinha uma seteira no muro e 4 ou 5 bidões de areia nas costas. Ouvimos as saídas e começámos logo a correr, depois quando passavam por cima de nós a assobiar atiravamo-nos para o chão, levantávamos-nos e continuávamos a correr até chegar ao posto de defesa definido, não caiu nenhuma dentro do quartel, não causou baixas nem no quartel nem na população.

A duração do ataque foi de 5 ou 10 minutos.

Catió > 1969/70 > Vista da localização dos obuses de 10,5 e da estrada que liga Catió a Priame.

Catió > 1969 > Vista parcial da parte norte do quartel e vila de Catió

Em Catió, a psico impunha que não houvesse abrigos, pois isso seria um sinal de medo que davam ao IN. Bem, havia um abrigo que tinha sido feito pela engenharia quando construiram o quartel que ficava atrás da messe de sargentos, era normalmente disputado pelos sargentos que não tinham obrigação de defesa do quartel.
De resto cada um atirava-se para o chão e rezava para que nenhuma canhoada lhe caísse em cima ou perto.

Termino por aqui, com um até breve.

Sem mais,
Um abraço para todos
António Varela
Ex-Fur Mil Sap
______________

Nota de CV

(*) Vd. poste de 12 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3302: Tabanca Grande (91): António Varela, ex-Fur Mil Sapador da CCS/BART 2865, Catió, 1969/70

Vd. poste da série O meu baptismo de fogo de 20 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3332: O meu baptismo de fogo (15): Buba, Aldeia Formosa, 1968. (José Teixeira)

Guiné 63/74 - P3349: Operação Macaréu à Vista - II Parte (Beja Santos) (49): Prometo que hei-de voltar


Texto de Mário Beja Santos
ex-Alf Mil,
Comandante do Pel Caç Nat 52,
Missirá e Bambadinca,
1968/70

Fotos (e legendas): © Beja Santos (2008). Direitos reservados.



Agosto de 1970

Operação Macaréu à vista


Episódio XLIX

PROMETO QUE HEI-DE VOLTAR!

Beja Santos

De Bambadinca para o Xime

Amanheceu, tenho o corpo moído de quem dormiu pouco e mal. Todos dormem ainda no quarto, vou ao duche, visto o camuflado, bebo um café com o estômago revoltado. Quando regresso ao quarto, há já bulício dentro e fora, a coluna que vai para o Xime está nos seus preparativos, a Daimler põe-se à frente, o Vacas de Carvalho exige participar na despedida. Num 404 são depositadas as duas caixas com papelada e discos, a mala com a roupa segue ao pé. Abraço quem fica, desde os companheiros do quarto, todos os efectivos da CCaç 12 e do BArt 2917 que andam por ali ou vão partir para missões. D. Violete e D. Ema estão à varanda, avanço para elas, é a minha vez de as surpreender com uma lembrança, deixei lá em casa o meu gira-discos a pilhas e todo o Chopin disponível, incluindo o Samson François, relíquia da Cristina. O rosto de Mamadu Soncó é uma máscara de inquietação, insiste em partir comigo, reitera que é um momento único, em Lisboa vou esquecê-lo, recorda que tem estudado, que sabe português, matemática, desenho e ciências naturais, em Lisboa poderá ir muito mais longe, eu que não lhe corte os sonhos. Não consigo desarmá-lo mesmo quando lhe ofereço a caneta, o tinteiro e um conjunto de livros que ele cobiçava abertamente e me pedia quando se sentava ao pé de mim, eu a escrever ele a ler. Ignoro abertamente que os seus pedidos vão persistir até hoje. A arrumar o correio, que remanesce destes dois anos de comissão, descubro um aerograma seu com data de Setembro de 1973, escrito em Bissau, ele comunica-me que já fez a quarta classe e que está a estudar e a trabalhar como escriturário na Polícia Militar, refere com orgulho que tirou um curso de dactilografia que lhe custou 1.300 escudos. Nos anos subsequentes à independência, entra nas finanças, deambula entre Bissau e Bolama. Continua a pedir para vir para Lisboa, eu não tenho resposta para lhe dar a não ser enviando-lhe livros. Mais tarde, pedirá para a filha mais velha vir estudar em Lisboa. Ele é um Soncó, é naturalmente combativo, alguém lhe terá contado que o régulo Malã Soncó me incorporou na família, mesmo sem vínculos de sangue estou obrigado à solidariedade eterna com as gentes do Cuor. Subo para o burrinho, olho até ao fundo onde se vêem as lalas à volta de Finete, depois, antes de me sentar fixo o olhar na fachada da capela, agradecendo a Deus tudo quanto Ele me ofereceu. E partimos.

Na ponte de Udunduma despeço-me do Rodrigues e do seu pelotão. Ao passar por Amedalai aceno a quem está na estrada. Alguns quilómetros à frente, paramos nas obras do alcatroamento, o engenheiro Semedo insiste em desejar-me as maiores felicidades. A coluna prossegue com todas as precauções. O PAIGC retirou o estado de graça ao BArt 2917, as flagelações e as minas reapareceram no Xime, em Mansambo, na Ponte dos Fulas, no Corubal. O 3 de Agosto foi celebrado com alguma pompa, houve uma flagelação ao Enxalé a que se seguiu a reacção do fogo de obus do Xime; nesse mesmo dia o aquartelamento de Mansambo foi flagelado com morteiros 82, depois chegou a hora do Xime, regressaram igualmente as minas na estrada Xime-Bambadinca. Chegados ao Xime, mudei de indumentária, converso pela última vez com Cherno, entrego-lhe a G-3 e as cartucheiras para regressarem ao depósito de material, o camuflado estava prometido a Mamadu Silá, ofereço ao meu ditoso guarda-costas o meu relógio. O pelotão está formado em U, quase toda a gente que vai partir já embarcou na LDG. É um curto mas emocionado agradecimento que lhes dirijo, comecei por sorrir ao informar que todas as dívidas comigo estavam pagas, era escusado voltarem a escrever-me a pedir novas prorrogações. Não sei exactamente porquê, referi as obras de Missirá e as idas diárias a Mato de Cão, as lições que todos me tinham dado de resistência física e moral. Depois abracei-os um a um, ia pedindo a todos que ajudassem o alferes Nelson Reis como me tinham ajudado durante aqueles dois anos. Quando estava prestes a partir, dei conta que o Cherno desaparecera. Foi aí que me informaram que ele estava em grande sofrimento e que não queria que o vissem a chorar. A todos prometi que voltaria em breve.

Aturdido, subo para a LDG ainda a tempo de acenar à coluna que inverteu a marcha, vai regressar a Bambadinca, esta tarde haverá uma ida a Fá, depois a Bafatá, no regresso passarão por Galomaro para entregar materiais, à noite está-lhes reservada a ponte de Udunduma. Olho o Geba, à procura de Mato de Cão. A LDG parte para Bissau, há uns disparos ainda em Ponta Varela, pensei que fosse para intimidar eventuais atacantes. A partir daí, o Geba abre-se em luminoso estuário, o dia aquece, ouve-se o motor do vaso de guerra e o gralhar dos militares no seu bojo, é a boa disposição ou a euforia dos que partem para férias ou definitivamente. Vejo a minha imagem reflectida num vidro, confirmo que visto a farda n.º 2, tenho a boina bem posta, os sapatos engraxados. Sento-me e abro o caderninho viajante. Tomo as seguintes notas: escrever ao Paulo Costa e ao José Braga Chaves, em Moçambique; dar notícias à minha irmã, ela que foi sempre tão diligente, companhia semanal dos meus soldados doentes no anexo do Hospital Militar; ir visitar o Centro de Estudos da Guiné e depois escrever ao comandante Teixeira da Mota. Aqui parei, estou excitado com estes deveres que se podem cumprir sem os rigores de horário, constato que desta vez não tenho compras para fazer nos mercados do Bissau Velho e de Bandim, sinto-me desajeitado sem as obrigações e as rotinas. Vejo ao longe Porto Gole, afinal estou a fazer o mesmo itinerário de há dois anos atrás. Alguém passa por mim e pergunta se vou de férias ao que respondo que não, chegou a hora de regresso. Olhando novamente a minha imagem reflectida no vidro, falo para mim próprio: “A tua guerra acabou, tens que te preparar para pôr outros sonhos em prática”. As horas passam, venho de novo à amurada de onde avisto um ponto que sei ser o Ilhéu do Rei. Estou cansado, gostava de telefonar imediatamente à Cristina e à minha mãe, o que só poderei fazer ao fim da tarde. Não foi fácil chegar ao Vaticano III com toda aquela carga. Quando os correios estão prestes a fechar, entro de afogadilho e consigo as chamadas: “Em breve estarei aí, não duvidem, estou de boa saúde, logo que souber quando parto, volto a telefonar”. À saída dos correios, senti um arrepio, ainda pensei na malária, mas era, felizmente, só uma brisa muito própria da época das chuvas. Voltei a confirmar que finalmente tinha todo o tempo livre para mim. Começara a separação dos meus queridos amigos do Pel Caç Nat 52.

A última visita ao Centro de Estudos da Guiné Portuguesa

À noite, lancei-me febrilmente a escrever aerogramas, numa tentativa desesperada na sala de oficiais do QG de me isolar de todas as conversas à volta da guerra. Despeço-me de alguns amigos, dou comigo a mandar uma carta a Bacari Soncó, mas também a escrever a Fodé Dahaba e a Paulo Semedo, em Lisboa. No Vaticano III inicia-se uma peripécia que me irá custar 10 escudos que entregarei na esquadra da polícia do Campo Grande, em 1972, sob escolta policial a partir de casa. Quando pedi lençóis ao soldado quarteleiro recebi dois e uma fronha, como era do uso. Um dos lençóis estava rasgado de alto a baixo, fui informar, ele disse não ter importância. Para mim também não, continuava a ter um sono de pedra e não era possível rasgar mais aquele resto de lençol. Quando no dia da partida para o cais de Bissau fiz a entrega dos lençóis, o quarteleiro de serviço pediu que lhe pagasse um novo lençol, o que eu lhe estava a entregar era irreparável. Não lhe dei troco, ele tomou nota do meu número mecanográfico e o polícia do Campo Grande pediu-me os 10 escudos, recusei mas acabei por pagar na esquadra. Estava a aprender o mal que andara a fazer com as minhas deprecadas...

Não sei o tempo que me resta em Bissau, à cautela apareço no Centro de Estudos da Guiné Portuguesa e pedi para consultar duas obras: “Usos e costumes jurídicos dos mandingas”, por Artur Augusto da Silva, vinha tudo em dois números do Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, de 1968, e “O Ultramar Português no século XIX”, por A. da Silva Rego, Agência Geral do Ultramar, 1966. Aquela biblioteca quase não deixa filtrar o que se passa no exterior, não há ninguém no Museu, ali ao lado, aquele funcionário sempre tão reservado mas sempre solicito mexe-se com toda a cautela, não quer perturbar quem lê e escreve. No livro sobre os mandingas, paro para recuperar a ideia de que a conversão dos animistas, tendo sido brutal por parte dos fulas, até ao início do século XX, que iam empurrando para o litoral aqueles que não se muçulmanizavam, acabou por se adaptar aos usos e costumes dos próprios animistas. Daí o sucesso da islamização dos povos da Guiné que soube compreender que não podia hostilizar abertamente todas as crenças ancestrais. Os mandingas souberam dar esse exemplo de não pôr completamente de parte os princípios da religião ancestral. Leio e procuro compreender à distância Malã e Lãnsana Soncó: todo o comportamento humano é julgado, punido ou premiado unicamente pela religião, ao contrário das sociedades ocidentais. Mas também os mandingas não ignoravam o legado dos antepassados, as relações sociais e familiares modeladas pelos que já morreram e definem a sabedoria da colectividade. Leio e revejo a força do sincretismo religioso que presenciei em Missirá e Finete, dou conta da importância dos nomes, das castas, do levirato, da filiação, das interdições, do julgamento dos crimes. Leio e o meu espírito divaga a pensar em apelidos como os Mané e os Sani, os Camará e os Cassamá. Depois lembro-me dos ferreiros, alfaiates, tintureiros, ourives, sapateiros e tecelões, lembro-me da falta de direitos dos que estão sob a tutela dos pais, da severidade contra os crimes praticados às pessoas e contra a propriedade. Artur Augusto da Silva fala no crime de adultério, os casos que presenciei em Missirá e Finete acabaram quase todos por serem resolvidos a bem, no fundo aquela sociedade rígida e cruel com a mulher concede-lhe o direito a partir e prende o homem ao terror da esterilidade. Prometo a mim próprio que hei-de estudar mais estas notas que registei no caderninho viajante.

O livro do padre Silva Rego pareceu-me uma valiosa síntese do que aconteceu no Ultramar Português ao longo do século XIX, onde se procurou recuperar a inércia do século anterior. Tomei nota que a Constituição Política da Monarquia Portuguesa, de 1822, não fala da Guiné refere única e exclusivamente Bissau e Cacheu. As alusões à Guiné prendem-se com Honório Pereira Barreto e a questão de Bolama. Barreto é uma figura surpreendente, as fronteiras da Guiné devem-se ao seu esforço, à sua tenacidade em impedir a gula dos franceses. A questão de Bolama inibe igualmente outro pretendente à posição portuguesa, a Inglaterra. Quiseram fundar aqui um estabelecimento de colonização, no fim do século XVIII, a expedição redundou num desastre. Como tinham comprado a ilha a dois régulos, décadas mais tarde reacendeu-se a polémica, os incidentes e a tensão diplomática. Portugal propôs uma decisão arbitral e sugeriu o presidente dos Estados Unidos, Ulisses Grant. A sentença foi proferida em 1870 a nosso favor. Para conhecer a sentença fui reler a História da Guiné de João Barreto. Estou satisfeito com todas as notas que tomei, não sei para que este material serve, não posso adivinhar que no exacto momento em que ponho termo a esta narrativa da minha comissão, os meus caderninhos serão entregues na Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa.

Despeço-me daquele reservado senhor que me abriu as portas a estas leituras no Centro de Estudos da Guiné Portuguesa. Ele terá visto a contida emoção com que lhe falo e assegura-me que nada lhe devo. Titubeante, parto para o bulício de Bissau.

Em louvor de Doris Lessing

Que livro espantoso, “A erva canta”. Comecei lê-lo há alguns meses, ao princípio duvidei que aquela África existisse, que aquele drama fosse possível numa ruína de vidas perdidas numa fazenda da Rodésia do Sul. Tudo começa com o assassinato de Mary Turner, mulher de Richard Turner, um fazendeiro de Ngesi. O criado da casa, Moisés, confessou o crime, não houve roubo, a polícia não percebeu o móbil do crime. Os Turner eram inadaptados, uns verdadeiros falhados do mundo colonial, eram brancos pobres e o seu fracasso merecia ser esquecido. Estes incidentes dramáticos tiveram lugar quando Charlie Slatter, um fazendeiro próspero e vizinho dos Turner lhes propôs ficar com a fazenda. Doris Lessing é uma autora que eu não conheço. Mas a sua estrutura narrativa para nos levar à compreensão dos factos é surpreendente e prende-nos do princípio ao fim. Como numa investigação policial, antes do móbil são previamente apresentados os personagens, comungamos os seus estados de espírito, ouvimos opiniões, desenham-se atmosferas. Aos poucos, vamo-nos apercebendo da indiferença no casal, na sua pouca ousadia, na sua incapacidade de responder aos desafios do meio hostil. Moisés, o criado, vai progressivamente tomando conta das responsabilidades da casa e cuidando de Mary, cada vez mais ausente. O leitor fica absorvido com este estilo seguro de Lessing que nos prende como numa intriga policial. Foi assim que conheci Doris Lessing, hoje um nome consagrado da literatura inglesa e mundial.





Tradução (muito boa) de Daniel Gonçalves, capa de Paulo- Guilherme, Editora Ulisseia. Penso que foi a 1.ª tradução de Doris Lessing em português. É uma construção literária vigorosa, é uma narrativa muito segura, enleante, a atmosfera depressiva em que vivem os Turner não tem uma falha. Tudo começa com a notícia do crime de Moisés, o criado africano, a narrativa desbobina os acontecimentos do princípio até ao drama, estamos à espera de um desfecho sórdido ou de amores proibidos, a realidade é bem diferente, basta estar atento aos sinais de corrosão na vida de Mary Turner. Grande e inesquecível romance!







As outras leituras foram Rex Stout e o seu Nero Wolfe e mais um enigma altamente problemático de Ellery Queen. Em “Champanhe para um”, Archie Goodwin, o secretário de Nero Wolfe é convidado para um jantar promovido por uma multimilionária e onde vão estar presentes mães solteiras. Como é esperável num livro policial, uma das convidadas aparece morta depois de ter bebido champanhe com cianeto. Archie não aceita a tese de suicídio e inicia-se uma investigação que irá confirmar ter havido uma homicídio a que se seguirão outros. Nero Wolfe, para além do seu peso monumental, do seu apetite desenfreado e da sua obsessão pelas tulipas, desmonta a trama criminosa onde há vingança, cupidez e despeito. Não é brilhante, mas cumpre satisfatoriamente a função de entreter com elegante arquitectura literária.





N.º 150 da Colecção Vampiro, Tradução de Almeida Campos, capa de Lima de Freitas. Temos aqui um Nero Wolfe desempoeirado, a pensar na reputação de Archie Goodwin, seu indefectível secretário. Este aceita ir a um jantar onde estarão presentes mães solteiras, no âmbito de um projecto filantrópico. Uma das participadas morre envenenada, Archie Goodwin alerta a polícia: não foi suicídio mas sim homicídio. Nero Wolfe é logo procurado pela polícia e por vários participantes, com alguns problemas de consciência. Wolfe, como é próprio do se génio, deslinda o problema. Não é um Rex Stout antológico, mas está bem escrito e bem urdido.




“O Mistério da Cruz Egípcia” pareceu-me um dos livros mais artificiosos e mal estruturados de Ellery Queen. Aparecem corpos decapitados em dois pontos diferentes da América, Ellery inclina-se para um ritual secreto envolvendo a cultura egípcia, o drama arrasta-se, é um verdadeiro desgoverno de situações e hipóteses ziguezagueantes, tudo à volta de um criminoso que veio dos Balcãs e que anda a ajustar contas com a família. Para quem, como eu, andava a dormir no Vaticano III não foi a leitura mais acertada, fiquei desavindo com Ellery Queen durante um bom par de anos.

Hoje já sei da minha partida: regresso ao cais da Rocha do Conde de Óbidos a bordo do Carvalho de Araújo, disseram-me que é uma viagem longa, passaremos pelo Sal e São Vicente para largar tropa cabo-verdiana e depois atracaremos um dia no porto de Ponta Delgada onde sairão duas companhias de açorianos. O sargento que me atendeu disse-me: “Venha cá buscar a guia de marcha amanhã de manhã, à tarde já pode pôr as suas coisas no navio. Antes do fim do mês está em Lisboa”. Fui logo telefonar à Cristina e para São Miguel, são coisas do destino, parti de São Miguel para formar batalhão e seguir para a Guiné, chegou o momento de ir cumprimentar e rever queridas amizades fecundadas por esse tempo ingénuo do serviço militar do meu serviço militar.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 17 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3327: Operação Macaréu à Vista - II Parte (Beja Santos) (48): O adeus a Bambadinca

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3348: Tabanca Grande (93): José Pinho da Costa, ex-1.º Cabo Op Mensagens da CCS/BART 1914, Guiné, 1967/69



José Pinho da Costa
ex-1.º Cabo Op de Mensagens
CCS/BART 1914
Tite
1967/69



1. Mensagem com data de hoje do nosso camarada José Pinho da Costa (*):

Assunto - Re: Convite para adesão ao Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

Boa tarde Carlos!

Pois aqui estou a apresentar-me.
Ao mesmo tempo a fazer um agradecimento ao vosso BLOG, porque foi precisamente através dele que eu consegui contactar os meus antigos colegas, cujo paradeiro deles eu desconhecia.

Um dia, aí há uns dois anos ou mais, deixei um anúncio no BLOG a saber onde paravam os camaradas do BART 1914. E precisamente no dia que fazia 41 anos do nosso desembarque em Lisboa, um amigo, o Leandro Guedes, autor do nosso BLOG encontrou-me a partir desse anúncio algures perdido no vosso BLOG. Foi uma alegria enorme. A partir daí, lembrei-me do baú onde tinha cartas enviadas por mim e para mim nesses 24 meses de Guiné.

Ao abrir aquele baú, estava fechado desde a última carta recebida lá na Guiné, deparei-me com um maço de cartas da minha madrinha de guerra. Foi com muita emoção que comecei a reler aquelas cartas, onde a palavra esperança aparece muitas vezes. Sempre desejei conhecê-la. Mas por contingências várias, quando regressei não a fui conhecer. Mas nunca me esqueci dela e esperei sempre uma oportunidade. Com o aparecimento dos meus antigos colegas, enchi-me de coragem e encontrei-a.

Foi um momento e uma sensação única conhecer a pessoa que esteve disposta a gastar o seu tempo e dinheiro em selos e cartas, só pra alimentar a minha esperança de regressar com vida.

Nesse dia escrevi no nosso BLOG o encontro com a minha madrinha. Entretanto uma jornalista andava a fazer pesquisas sobre a guerra colonial para o programa A MINHA GERAÇÃO ANOS 60, leu e convidou-nos a ir ao programa dar o nosso testemunho. Naquele pouco tempo disponível, não era possível falar mais e melhor. Mas penso pelas mensagens que recebi de muitos camaradas ex-combatentes espalhados pelo país, o nosso desempenho deu para os mais novos terem a noção da realidade que se vivia naquelas décadas,e fazer uma pequena mas merecida homenagem às milhares de madrinhas anónimas espalhadas pelo país.

Podem visionar um pequeno enxerto da entrevista em:

http://br.youtube.com/watch?v=u4BrCqMjx1k

O meu cartão de militar é:

JOSÉ PINHO DA COSTA
1.º Cabo Op de Mensagens
CCS/BART 1914
Ano de embarque: 8 Abril de 1967
Ano de desembarque: 9 Março 1969

Contactos actuais:
964013329
jpcovr@sapo.pt

Um grande abraço a todos ex-combatentes
José Costa

2. Comentário de CV

Caro José Costa

Estás apresentado à tertúlia da nossa e agora tua Tabanca Grande.

Não sabíamos que afinal tinha sido o Blogue do Luís Graça a desencadear toda a trama para vires a reencontrar os teus camaradas de Batalhão e a seguir a tua madrinha de guerra. São estes acontecimentos que dão razão à existência de páginas como a nossa, onde camaradas e amigos desencontrados há décadas, se juntam para relembrar e reviver tempos difíceis da nossa juventude, mas que fazem parte do nosso passado individual e colectivo.

Como te disse já, contamos com a tua colaboração e disponibilizamo-nos para o que entenderes necessário.

Recebe um abraço de boas-vindas dos editores e da restante tertúlia.
Carlos Vinhal
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Nota de CV

(*) Vd. poste de 20 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3334: História de Vida (17): O Costa e a Madrinha de Guerra (José Martins)

Guiné 63/74 - P3347: Bibliografia de uma guerra (37): Fado Alexandrino, de A. Lobo Antunes (José Manuel M. Dinis)

Fado Alexandrino

António Lobo Antunes


1. Mensagem de Jose Manuel Matos Dinis


A Tabanca Grande tem dado destaque à obra, ou a parte da obra literária de A. Lobo Antunes. E isso resulta da temática militar que influencia esses textos, pelo menos em matéria de sensibilidades, ansiedades e sublimações. Tudo bem, também adquiri A Memória de Elefante, Os Cus de Judas e outros.
Mas o Autor tem um título delicioso sobre esta matéria, um título onde eu poderia ser intérprete de muitos dos personagens. O Fado Alexandrino é uma paródia que vai acontecendo à medida que evolui a acção, uma confraternização de antigos mobilizados na guerra de África. Uma grande farra, hilariante, que me provocava incontíveis risos, como se fosse um maluco a ler um tratado, manifestações que induziram a abordagem de estranhos, a querer saber do que me dava tanto gozo.
Li uma boa parte no café La Iruña, em Pamplona, e aquela malta interessa-se por malucos. Trata-se de um livrinho que li rapidamente, apesar das setecentas páginas, e das páginas que descolavam, tal a avidez que me despertou.
Tenho a 1ª. Edição, da Dom Quixote, necessariamente encadernado, que o António Lobo Antunes fez o favor de autografar anos mais tarde. O que eu quero, é deixar testemunho deste escrito que muito aprecio e, naturalmente, recomendo.
Para os camaradas, vai aquele abraço.
José Dinis

2. Crítica – Fado Alexandrino


"Deve-se ser muito restritivo quanto ao uso da palavra obra-prima. Mas não me resta qualquer dúvida de que este romance não é outra coisa que não isso. Leiam-no! Adquiram-no e leiam-no!"
In Jornal de Letras, Artes e Ideias, ano XI, nº489, Novembro de 1991

"Eu não sei se este romance de Lobo Antunes é genial, mas o que de certeza sei é que ele é tudo menos chato."
"Ao longo de quase setecentas páginas ofegantes, perpassam, como um caleidoscópio, os últimos vinte anos da vida portuguesa.
Misturando tempos, sobrepondo lugares, cruzando histórias, multiplicando os planos, as imagens compõem-se e decompõem-se, refazem-se e voltam a desfazer-se, as peças do "puzzle" juntam-se e separam-se para voltar a reunir-se mais adiante, e a estrutura do romance, o próprio discurso narrativo, a própria linguagem, acompanham esse movimento incessante, que nunca desfalece, através do qual a realidade de um país, de um povo, de uma época, aos poucos se vai apossando de nós, aspirando-nos para o seu interior, mostrando-nos por dentro o que conhecíamos, ou julgávamos conhecer, por fora.
Com um humor contundente, (...) a História e as estórias desenrolam diante de nós o largo ciclorama onde se projectam personagens das mais diversas camadas sociais, surpreendidas no seu quotidiano tragicómico, na sua risível e pungente humanidade, na erosão dos dias e dos acontecimentos, da inércia do tumulto, igualmente vãos."

"Romance (...) de uma geração que fez a guerra colonial, que dela regressou com o terrível sentimento de 'se ter tramado em vão, se ter gasto sem motivo', que atravessou uma revolução traída e transviada e se encontrou 'na estagnada, serena, cadavérica, imutável tranquilidade de outrora' que o manhoso oportunismo de uns quantos ('os vorazes micróbios cancerosos que da revolução se alimentavam e em torno dela se moviam') fez suceder às ondas de esperança de uns e do pânico de outros, Fado Alexandrino é o retrato em corpo inteiro, e ao mesmo tempo a radiografia, da sociedade portuguesa em tempo de mudança."
In Jornal de Letras, Artes e Ideias, ano IV, nº89, Março de 1984.

“ (...) a perspectiva escolhida é, se assim se pode dizer, a do tabuleiro de xadrez cujas peças maiores são constituídas por um grupo de ex-militares que se reúnem num jantar com o ex-comandante dum Batalhão expedicionário em Moçambique e à mesa procedem ao exercício duma memória de dez anos sobre si mesmos e sobre o Portugal de 'antes', 'durante' e 'após' Abril. E são peças secundárias desse jogo vivencial as relações multi-multiplicadas dos 5 (um Tenente-coronel, um Comandante de Companhia, um Tenente, um Alferes e um Soldado), com uma série de segundos planos familiares, profissionais, sociais e outros.
À medida que o leitor progride na organização desta memória, infunde-se nele a sensação de crepúsculo, do tempo parado, das ilusões traídas, e finda tudo num ambiente de dissolução caótica, onde o cometimento de um crime, na pessoa do Tenente, é quase um acto de antropofagia (começa na cumplicidade dos assassinos e acaba na combinação da ocultação do cadáver e no regresso de todos os outros ao marasmo dos dias. Não está implícito em tudo isto, que a vida, a solidão sem fundo e as amarguras dos personagens não sejam tão verosímeis como as alegrias ausentes ou as euforias passageiras."

“ (...) «livro dos seus livros» (...) sobretudo porque alia a exigência a um capital de pesquisas que, estando longe de considerar-se esgotado, é um caso típico da inquietação e daquele húmus criativo que nos torna solitários e nos remete para uma relação sofrida com a vida e com as pessoas. (...) também porque é retoma subtil dos grandes temas que vêm inspirando quase toda a obra de A.
O tema da guerra colonial, p. ex., (...) o inferno dos outros, a solidão punida e punitiva, o espaço do memorizado e do sofrido (...), são outros tantos caminhos recobertos por este livro."
"Fiquem os leitores com a ideia de que a 'monumentalidade' deste romance reside tanto nas suas dimensões físicas como na sua estrutura e na sua actualidade."
In Colóquio Letras, nº82, Novembro de 1984

In Literatura, Antonio Lobo Antunes. Com a devida vénia.
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Notas: artigos da série em

Guiné 63/74 - P3346: Bibliografia de uma guerra (36): Cacimbados, de Manuel Correia Bastos. Moçambique.

Cacimbados
Novo livro sobre a Guerra Colonial.

Manuel Correia de Bastos nasceu na vila de Aguim, no concelho de Anadia, em 1950.
Foi mobilizado para ex-colónia de Moçambique onde cumpriu o serviço militar obrigatório, incorporado na CArt 3503.
Esta companhia chegou a Mueda, em Cabo Delgado, no Norte de Moçambique, no 12 de Fevereiro de 1972 com 153 militares; teve 6 comandantes, combateu a FRELIMO durante 26 meses e sofreu 58 baixas, de entre as quais 5 mortos, 1 desaparecido e 52 feridos, 16 dos quais muito graves, na maioria com deficiências permanentes.
Manuel Bastos foi gravemente ferido em combate em virtude da deflagração de uma mina anti-pessoal e deu baixa ao Hospital Militar Principal para convalescer da amputação de uma perna.
Tem escrito crónicas sobre a guerra colonial especialmente no Jornal da Associação dos Deficientes das Forças Armadas, e mantém desde 2003 um dos mais antigos Blogues sobre a Guerra Colonial, O
Cacimbo.

O Título do blog remete para o nome que o povo chamava aos ex-combatentes da Guerra Colonial, "Cacimbados", por atribuírem ironicamente ao clima de África os distúrbios provocados pelos traumas da guerra.
O conteúdo do blog é composto principalmente por textos e fotos que narram as memórias dos dias passados na Guerra Colonial, e das experiências do pós-guerra dos ex-combatentes com deficiências físicas e traumas de guerra, misturando a ficção com a verdade crua dos factos.

O Cacimbo inicia com esta dedicatória:

A todos os homens com coragem para lutar
A todos os homens com coragem para desertar
A todas as mulheres com coragem para perdoar a ambos




Cacimbados é um romance composto pelas pequenas histórias de um soldado que fez a guerra colonial no Norte de Moçambique, através das quais são apresentadas aos leitores as situações que caracterizavam a vida dos militares no final da guerra em Mueda.

A apresentação do livro terá lugar no dia 15/11/08, das 16:00 às 18:00, na Casa Municipal da Cultura de Coimbra, na R. Pedro Monteiro.

Ao mesmo tempo o Cacimbo completará 5 anos de existência, o que faz dele provavelmente o mais antigo blogue dedicado à Guerra Colonial.
Dele extraímos a


A Prenda de Natal
O soldado abraça a G3, enquanto caminha pela picada, como se fosse um ícone sagrado ou um amuleto. Era, bem vistas as coisas, o único objecto de valor que transportava consigo. Quanto custaria uma G3? Provavelmente não possuía nada de seu com um preço superior ao de uma G3.
Lembrava-se de, quando criança, ter pedido um triciclo pelo Natal e de os seus pais lhe terem dito que o menino Jesus não dava prendas tão caras. Apesar disso nunca pôde deixar de formular o desejo de receber uma prenda que fosse provocatoriamente superior ao orçamento do seu menino Jesus, embora soubesse que a realidade no sapatinho haveria de ser bem mais modesta.Nunca a realidade lhe ultrapassou o sonho.
O soldado avança, o agoiro da mina escaldando-lhe os pés, ora abraçando a arma ora atravessando-a, como uma canga, em cima do cachaço e descansando os braços sobre ela, parecendo um crucifixo ambulante. Que pode um soldado assim crucificado na própria arma desejar para o Natal?


Cada passo é um lance de roleta russa.
Quando se ouve o estampido, mais no estômago do que nos ouvidos; quando se segue um instante de silêncio em que todo o som parece ter sido sugado para um buraco; quando sentimos o bafo fétido da morte que nos traz, num segundo apenas, uma eternidade de medo; então experimentamos um, ainda que brevíssimo alívio; mas tão grande que não cabe nas palavras, pois que, quando somos nós a calcar a mina não se ouve nada, não se sente nada; tudo se apaga simplesmente.
E o soldado acordou. Nem dor, nem angústia, nem medo - só um lento despertar. Uma dilacerante suspeita de não estar a acordar de um simples pesadelo, de cujos contornos não se recordasse bem, uma obstinada recusa em aceitar a estúpida realidade, crua e descarnada diante dos olhos, e o desejo, desta vez tão modesto, mas tão irrealista como sempre, de receber, como prenda de Natal, ao menos o corpo inteiro dentro das botas.
E o Manuel Bastos, oferece à Tabanca Grande o ainda inédito
Os Sapatos do Major

Pôr um pé à frente do outro; o resto é milagre. Pouca gente está consciente disto: estar de pé e caminhar é uma coisa prodigiosa, aparentemente improvável; sobretudo se for observada de uma cadeira de rodas. É maravilhosa a estabilidade de uma pessoa a caminhar, sem precisar de efectuar cálculos constantemente; para fazer com que a projecção do seu centro de gravidade caia infalivelmente dentro do imaginário polígono de sustentação de geometria extremamente variável, à medida que caminha. Bastam algumas semanas sem podermos caminhar para recearmos que esse dom nos venha a ser retirado para sempre.
Há muito pouca diferença entre caminhar normalmente e voar, na perspectiva de um paraplégico. Só a consciência disso me permitia aceitar o sorriso condescendente das senhoras do Movimento Nacional Feminino que me tratavam como um privilegiado, por me saberem por pouco tempo confinado às limitações da cadeira de rodas.
As senhoras do Movimento Nacional Feminino achavam que nenhuma desgraça era suficientemente grande para um homem, e que os males que nos corrompiam eram apenas dádivas que devíamos agradecer à Divina Providência.
Devíamos agradecer por sermos amputados, pois bem poderíamos ser paraplégicos, e estes deveriam estar gratos por não serem tetraplégicos, porém estes últimos só por uma grande ingratidão não se sentiriam felizes por não terem morrido. Mas não se pense que os mortos estavam livres de demonstrar gratidão, pois que se tinham livrado de uma vida de limitações e sofrimento.
Não sejamos injustos com as senhoras do Movimento Nacional Feminino por elas não entenderem que basta uma erupção de acne na ponta do nariz, para um jovem se sentir um mutilado de guerra; é que elas afinal viviam no mesmo país do que nós, tinham o mesmo governo, liam os mesmos jornais, e não me custa admitir que fossem chamadas a frequentar algum curso de caridade cristã onde tudo se resumisse a convencê-las de que nos deveriam fazer sentir gratos por Deus não ter decidido tirar-nos mais alguma coisa, para além do que a guerra já nos tinha tirado.
Quando voltei a ver o mundo olhando por cima da cabeça dos outros, como já me tinha habituado havia muitos anos, começava para mim um novo problema: substituir a perna, que a cobarde mina anti-pessoal me tinha tirado à má fila, por um par de canadianas que prolongavam os meus braços até ao chão e que me transformavam numa periclitante tripeça à beira do colapso.
Há um ditado italiano que diz que não há maior felicidade do que termos companhia no infortúnio; se isso é verdade, devo ter sido muito feliz no Hospital de Lourenço Marques, pois não conheço outro lugar no mundo com tanto perneta para me fazer companhia.

Aos domingos uma parte da população vinha visitar os militares feridos em combate, e procurava saber coisas do Norte; era a parte da população que tinha consciência de que algo estava prestes a mudar. Conheci uma outra parte da população: a que achava que a guerra era uma coisa que se passava no distante Cabo Delgado entre a malta de Lisboa e os pretos; nada que uma matança a sério, e depois um apartheid à portuguesa não resolvesse. E depois…
E depois havia as senhoras do Movimento Nacional Feminino. Havia qualquer coisa de patético nas senhoras do Movimento Nacional Feminino; qualquer coisa com sabor àquela doce degradação, só detectável no olhar de paciente mortificação das prostitutas dos bares de má fama da periferia das grandes cidades. Olhavam-nos com a distraída simpatia de quem tem por profissão distribuir calor humano em doses calculadas.
Sinto uma certa relutância em confessá-lo, mas era isso justamente que me fascinava nelas. Imaginava-as chegando a casa, cansadas de terem distribuído simulacros de simpatia, arremedos de afecto e até algum carinho bem imitado, e uma vez chegadas a casa, terem dificuldade em exercer as suas relações íntimas com autenticidade; pois que a alternância entre o afecto profissional e o afecto verdadeiro devia traí-las e fazer com que se confundissem, como acontece decerto com as prostitutas em relação aos utentes dos seus serviços e aos seus amantes verdadeiros.
Em momentos de maior pendor para o drama, imaginava-as a entregarem-se à realidade das suas insípidas vidas afectivas em que também não recebiam mais do que esse embuste de sentimentos, das pessoas de quem verdadeiramente gostavam, e apetecia-me pegar-lhes fraternalmente nas mãos, o que imaginava ser o correspondente a beijar uma prostituta; algo que subvertesse a relação profissional e criasse um incontrolável contacto humano.

A esposa do Major era suficientemente feia para garantir que um contacto humano, por mais incontrolável que pudesse ser, não viesse jamais a incendiar tentações; mas era muito carente; tinha uma tal soma de carências por aquele corpo abaixo, que isso não a deixou entender aquele meu gesto romântico. E aqueles segundos em excesso durante os quais a minha mão pegou na dela, e que pretendiam passar por um acto paternalista, com uma dose certa de indulgência machista, tipo Hemingway num bar de prostitutas em Havana, foram tomados como um sinal inequívoco de um macho em ebulição hormonal, atormentado pelo primário instinto de acasalamento.
Por essa altura, eu já via o mundo de novo por cima das cabeças dos outros, embora a minha figura de canadianas se assemelhasse a um orangotango desengonçado que caminhava erecto, mas com a ajuda dos longos braços; e que um pijama curtíssimo, e o cônjuge sobrevivo do meu par de botas da tropa, faziam parecer um orangotango, mas com aptidão para a arte circense.

Enquanto tentava iludir a dança de acasalamento da esposa do Major, convenci o Herculano a levarmos a cabo um peditório para adquirir um par de sapatos; um único par, que nós éramos pernetas simétricos e calçávamos o mesmo número; esforço que ele não compreendia, dado que a esposa do Major repetia amiudadas vezes que me poderia ser mais útil do que eu imaginava.
Ao fim de uma semana já não parecia que houvesse uma alma naquele hospital a quem não tivéssemos pedido pelo menos duas vezes para o par de sapatos e a colecta não chegava nem a metade do necessário. Considerei seriamente a prostituição. Sem um sapato eu não poderia sair do hospital, e a utilidade da esposa do Major era seguramente menor que a minha imaginação.

O dia seguinte amanheceu normal, nenhuma alteração climática veio alterar o curso dos acontecimentos, nenhuma notícia sobre a guerra veio interferir no meu estado de espírito, e eu preparei-me para a visita das senhoras do Movimento Nacional Feminino. As senhoras vieram, mas a esposa do Major não veio. Veio o cabo enfermeiro.
– Ó Furriel Bastos, o Herculano saiu de fim-de-semana mas pediu-me para lhe dar isto. Uma caixa. Um envelope. Uma mensagem.
"Espero que gostes. Felizmente o Major calça o mesmo número que nós. Um abraço. Herculano".
Manuel Correia Bastos
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Nota: artigos relacionados em

Guiné 63/74 - P3345: O cruzeiro das nossas vidas (12): Uíge, 5 de Fevereiro de 1969, destino Guiné (António Varela)

1. Mensagem de António Varela (*), ex-Fur Mil Sap Minas e Armadilhas, CCS/BART 2865, Catió, 1969/70, com data de 13 de Outubro de 2008:

Caros Luis, Carlos e Virgínio:

Como tinha prometido estou a enviar-vos a estória do meu embarque para a Guiné, o meu baptismo de fogo (**) e também algumas fotografias minhas, do quartel e da vila de Catió. Se acharem que têm interesse podem utilizá-las.

Texto e fotos: © António Varela (2008). Direitos reservados


2. Destino: Guiné (***)

No dia 5 de Fevevereiro de 1969, depois das despedidas da família e do desfile militar, fui ainda contemplado pelo Movimento Nacional Feminino com um livrinho sobre a Guiné, uma imagem religiosa e um maço de tabaco (Três Vintes). O cais da Rocha de Conde de Óbidos estava apinhado de gente para o último adeus, emocionado.

O navio que me transportou e ao BART 2865 foi o Uíge, fomos colocados oficiais e sargentos nos camarotes e os soldados no porão.

Com o navio todo inclinado para o lado do cais, num último adeus sentido, com muitos lenços brancos a acenarem para os filhos, maridos, irmãos, namorados, que se afastavam agora a caminho do mar largo, com destino à Guiné.


N/M Uige da Companhia Colonial de Navegação

Foto retirada do site
Navios no Sapo, com a devida vénia

Depois, com Lisboa fora do alcance da nossa vista, seguiram-se 6 dias em que muitos enjoaram e vomitavam em qualquer lado, até dentro do próprio prato, e alguns eram bastantes insistentes. Os piores de todos foram sempre os soldados, instalados no porão, onde só cheirava a vomitado, alguns não tinham forças para se levantarem das camas, tal era o seu estado de fraqueza.

Aguentar tudo aquilo era medonho, mas havia sempre alguns que se aproveitavam dos males dos outros em seu proveito, tomando mais uma refeição.

Foram também 6 dias de batota, com jogos de todo o género, poker, lerpa, copas, abafa, apostas em corridas de cavalos, etc. Ao terceiro dia de viagem, havia quem já tivesse perdido tudo o que tinha recebido antes de embarcar.

Passámos ao largo do norte de África, das Canárias, da Madeira e das Ilhas de Cabo Verde, acompanhados apenas pelas gaivotas e peixes voadores, Arquipélago dos Bijagós e no dia 11 de Fevereiro de 1969 desembarcámos em Bissau. O Uíge ficou ao largo, sendo nós transportados noutros barcos para o cais do Pidjiguiti.

Já no cais, comecei a olhar em volta procurando inteirar-me da realidade que me esperava, ao fazer esta observação, apercebi-me que havia uma grande lona a cobrir qualquer coisa e resolvi levantar ligeiramente para ver o que se encontrava por baixo, e para espanto meu vejo que são caixões, 50 a 60. Ao ver isto fiquei muito impressionado, e pensei:
- Estou tramado, onde é que me vim meter.

Sabia que a guerra na Guiné era a pior de todas, mas nunca pensei encontrar no cais, à chegada, como cartão de boas-vindas, todos aqueles caixões. Soube mais tarde que, como se tinha dado o desastre de Madina do Boé há pouco tempo, onde tinham morrido mais de 40 camaradas, aqueles seriam os seus caixões para serem embarcados no Uíge na volta para Lisboa. Sendo ou não caixões daqueles camaradas, o que é certo é que apanhei um arrepianço do caraças, mas também quem é que me mandou levantar a lona?

Do Pidjiguiti seguimos para o quartel em Brá, onde nos instalaram, no meu caso numa casa com colchões no chão, junto aos geradores que faziam um barulho infernal e não deixavam dormir ninguém.

Ao anoitecer ouvi os primeiros estrondos ao longe, mas que pareciam tão perto! Vim depois a saber que eram os obuses de Tite a bater a zona, mas que apanhei outro arrepio é verdade que apanhei, eu e os que estavam comigo naquela noite.

De 11 a 16 de Fevereiro de 1969 andámos por Bissau a conhecer os seus encantos, o café do Bento, o Solar dos Dez, a Solmar, um café junto da Amura de que não recordo o nome, mas onde se comia bom marisco, outro café junto à praça do Império, do lado esquerdo de quem sobe a avenida, onde os jubes vendiam amendoim descascado para acompanhar a cerveja. Era óptimo.

Andámos também pelo Pilão, o pessoal tinha algum receio de lá ir, mas era um dos principais locais para pôr a actividade sexual em dia. Visitámos também os mercados municipal e central, todas estas visitas sempre acompanhadas com muita cerveja, whisky, coca-cola, etc.

Partimos a 17 de Fevereiro em LDG, para Catió.

As marés vivas faziam as ondas bater na LDG e entrar dentro dela, dando-nos antênticos banhos de água salgada e nós não estávamos minímamente preparados para ultrapassar este problema. No entanto os marinheiros já sabiam como eram estas viagens e levavam sempre bagaço com fartura para aquecermos. Tinhamos de desembolsar 5 pesos por cada copo de bagaço, eles faziam um dinheirão com as viagens para Catió.

Quando entrámos no rio, começaram os canhões das LDG a disparar para as margens, que por vezes ficavam bem próximas das LDG, confesso que voltei a pensar:
- Cum caraças onde é que eu estou metido ?

Chegámos finalmente ao cais de Catió, aproveitando as marés, conseguimos desembarcar e dirigir-nos para a vila. Aqui chegados começámos a ver que todos os que estavam fora do quartel, estavam armados até aos dentes, pensei:
- Estou mesmo tramado, isto deve ser muito mau, se até ao bar (Catió) vêm armados...

Catió, 1869/70 > Vista parcial da vila e do Quartel

As instalações no quartel em Catió eram razoáveis para aquilo que eu estava à espera, mas mesmo assim no meu quarto ficávamos 5 furriéis. Havia espaço, o recato é que não era muito, mas dentro da diversidade havia uma certa complementaridade que permitiu nos déssemos mais ou menos bem.

Catió, 1869/70 > Fur Mil Varela à Porta d'Armas, de Sargento de Dia

Catió, 1969/70 > Quartos dos Sargentos e em frente Messe dos Oficiais

Catió, 1969/70 > Lado esquerdo, quartos dos Oficiais; em frente do lado esquerdo, Casa da Guarda e Depósito de Géneros; lado direito, Edifício do Comando; lado direito, frente, Cozinha da Messe dos Soldados.

Fotos e legendas: © António Varela (2008). Direitos reservados.



Recordo aqui com saudade os ex-Fur Mil Sap Fialho, ex-Fur Mil Sap Nascimento, ex- Fur Mil Vaguemestre Samuel e o ex-Fur Mil Escriturário Moita Pereira. Se visitarem o blogue, um abraço para eles.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 12 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3302: Tabanca Grande (91): António Varela, ex-Fur Mil Sapador da CCS/BART 2865, Catió, 1969/70

(**) Vd. último poste da série de 20 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3332: O meu baptismo de fogo (15): Buba, Aldeia Formosa, 1968. (José Teixeira)

(***) Vd. último poste desta série > 21 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3338: O cruzeiro das nossas vidas (11): Viagem para a Guiné em época de Carnaval (Jorge Picado)

Postes anteriores:

12 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1271: O cruzeiro das nossas vidas (1): O meu Natal de 1971 a bordo do Niassa (Joaquim Mexia Alves)

19 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1296: O cruzeiro das nossas vidas (2): A Bem da História: a partida do Uíge (Paulo Raposo / Rui Felício, CCAÇ 2405)

21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1300: O cruzeiro das nossas vidas (3): um submarino por baixo do TT Niassa (Pedro Lauret)

21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1301: O cruzeiro das nossas vidas (4): Uíge, a viagem nº 127 (Victor Condeço, CCS/BART 1913)

11 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1420: O cruzeiro das nossas vidas (5): A viagem do TT Niassa que em Maio de 1969 levou a CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Manuel Lema Santos)

15 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1953: O cruzeiro das nossas vidas (6): Ou a estória de uma garrafa, com o SPM de Mansoa, que viajou até às Bahamas (Germano Santos)

3 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2025: O cruzeiro das nossas vidas (7): Viagem até Bolama com direito a escalas em Leixões, Mindelo e Praia (Henrique Matos)

13 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2044: O cruzeiro das nossas vidas (8): Porto de Lisboa, Cais de Alcântara (Luís Graça)

15 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2050: Cruzeiro das nossas vidas (9): Do Funchal para Bissau no Ana Mafalda (Carlos Vinhal)

13 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2533: O cruzeiro das nossas vidas (10): Fui e vim no velho e saudoso Niassa (Manuel Traquina)