1.Mensagem do José Teixeira, com data de 21 de Dezembro:
Querido amigo Luís.
És um chatarrão (não sei se vem no dicionário) do carago, mas amigo de coração (*).
Então, desde que tive o grato prazer de conhecer a tua Alice no QG de Bissau, agora com o nome pomposo de hotel 24 de Setembro (nem de propósito), ainda mais preso a vocês, fiquei.
Admiro a tua garra e teimosia e agora a tua /vossa (os três bloguistas mor) em manterem esta chama blogosférica acesa, contra alguns ventos e marés (poucos, felizmente). É um ninho permanente de novidades verdadeiramente vividas e sentidas. São histórias de arrepiar, que muitas vezes fazem o coração tremer e as lágrimas teimosas descerem pela face, apesar de tantos anos se terem passado, já. São um reviver da nossa própria história, quando ouvíamos o estrondo da saída, lá longe. reflexo de alguém que me gritava no mato:
- Tuga, vai-te embora !
Vou tentando dar o meu singelo contributo. Sou só e apenas, alguém, que esforça para que a nossa história seja contada pelos nós próprios. A história dos combatentes por uma Guiné que os senhores do poder de então queriam que fosse portuguesa à força das armas e se serviam do melhor tesouro de Portugal (o verdadeiro, com mais de 900 anos de história),a juventude para abafar a força da razão de um povo - o direito a ser livre e condutor do seu próprio destino, nem que esse destino fosse o caminhar para um inferno. Seria correcto, sim, procurar dar-lhe condições para eles, os naturais da Guiné, evoluirem culturalmente, política e economicamente para o grande passo, tal com nós, os que somos pais, fazemos com muito amor, dedicação, carinho e sacrificio para com os nossos filhos.
Essa história foi vivida por nós, é nossa (**).
É urgente que a contemos antes de passarmos para o outro lado da vida e já faltou mais do o que falta agora. Assim estamos a evitar que a nossa história a verdadeira, porque vivida no terreno e sentida na vida seja construida na base da corrente politica que impere na altura em que algum historiador /inventor, tente passar ao papel a sua interpretação histórica dos nossos gestos e actos.
Será que não os vemos já por aí, a insultar-nos, chamarem-nos cobardes e até a perguntarem porque é que fomos, se não queríamos defender a dita (sua) pátria - Portugal pluri-continental e pluri-racial à força, esquecendo-se que havia um Estado totalitário, que nos impunha um único caminho - Carne para canhão ou fuga para o estrangeiro com o anátema de cobarde ou de traidor à pátria.
Os nosso filhos, os nossos netos e vindouros que irão perpetuar o nosso sangue, não podem ficar a navegar nas águas da mentira histórica que é construída de acordo com os ventos políticos que na altura (data) correrão. Não nos podemos demitir, agora que temos na mão os meios possíveis para o fazer. Bem hajas pela coragem que tiveste em arrancar com este projecto que ficará, não tenho dúvidas na História de Portugal e será no futuro uma fonte grandiosa de pesquisa e estudo. Fonte verdadeira, que não permitirá extrapolações ou deturpações da nossa verdadeira história.
Por tudo isto, vou escrevendo umas asneiras, que vocês dão a lume, com tanto carinho que me deixam deslumbrado e, porque não, um pouco vaidoso.
Luís amigo, espero que tenhais uma boa viagem até à terra dos morcões que o Natal seja verdadeiramente Natal para todos quantos vos são queridos e aguardo o prazer de vos Ver na Madalena nos próximos dias.
AS melhoras da Alice para que possa comer umas rabanaditas, carago !
Fraternal abraço do
José Teixeira
___________
Notas de L.G.:
(*) Vd. último poste da série > 19 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3652: Blogoterapia (83): Voltamos a pôr a Ana (e o José...) a sorrir, na nossa fotogaleria (Luís Graça)
(**) Vd. poste de 18 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3651: Estórias do Zé Teixeira (31): Um Pide, um marabu e um balanta de Bula que se converte ao Islamismo (José Teixeira)
(...) Comentário de L.G.:
Grande Zé! Que em 2009 a gente possa fazer uma festinha, na Tabanca de Matosinhos, para comemorar o lançamento do teu primeiro livro de contos!Quem te deu esse talento, meu morcão ?Hoje não vou estar aí, com muita pena minha, mas olha, dá uma cópia do meu "Poemombro ou um ombro amigo" a quem sentires mais em baixo, mais triste ou mais cansado da vida... São os meus dois cêntimos para a festa da Tabanca de Matosinhos. Diz à malta que eu fico a roer as unhas de pena (e de inveja) por não poder estar aí vocês todos, como ainda planeei...Alice tem estado adoentada... Devo chegar só à tarde, no sábado, e vou primeiro direito à aldeia (Candoz)... Passo o Natal na Madalena. A gente há-de se ver...Luís
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
domingo, 21 de dezembro de 2008
Guiné 63/74 - P3660: O meu Natal no mato (18): Olossato, 1966 (Rui Silva)
1. Mensagem do Rui Silva;
Uma história (verdadeira) de Natal
O Natal da 816 no Olossato (Dezembro de 1966)
Das minhas memórias: “Páginas Negras com salpicos cor-de-rosa”-
... Entretanto chega o Natal. O Capitão reúne o pessoal mais graduado, lembra e propõe um programa festivo assinalando tão interessante data e, claro está, a que o pessoal, por doutrina própria, é sensível. Sabíamos que estávamos longe, muito longe dos outros santos do nosso presépio (família) e que também estávamos num sítio errado.
No programa salientava-se um espectáculo de teatro com peças mais ou menos rápidas: cenas de humor, canções, fados, poesia, coro, etc. Só esperávamos era que não houvesse foguetes, presentes do inimigo.
Apareceram habilidosos para tudo. Tudo isto culminava com um jantar de rancho melhorado no dia seguinte, dia de Natal, aonde se reuniu, no refeitório dos soldados, toda a família 816.
Quanto ao espectáculo teatral este começou antes de o ser, pois o bom amigo do Moreira que entretanto tinha improvisado um pequeno palco, de formato quadrado, com tábuas apoiadas em pequenos troços de troncos de palmeiras, ao qual aplicou, nos dois vértices posteriores, dois potentes faróis de viatura militar originando um foco luminoso dirigido aos actores… de ocasião, dando assim mais vida ao espectáculo e até a dar um ar de teatro profissional.
Lembra-se, e aqui é que começa o circo, da sua louvável ideia de arranjar um sistema de cordas e roldanas que permitiam um movimento de puxar esta ou aquela corda, consoante o interesse em abrir ou fechar as cortinas (cortinas mesmo, de alto a baixo) que escondiam o palco aquando da mudança de número e tarecos e à boa maneira dos verdadeiros teatros. O engenho foi testado várias vezes e não havia dúvida, para garbo do Moreira, e a boa surpresa dos outros, a coisa estava funcional. Puxava-se uma ponta da corda e o cortinado abria. Puxava-se a outra ponta e o cortinado fechava. O Moreira sorria com o evento. Estava um primor!, e até parecia um teatro a sério! Por ali já havia sucesso.
Mas o melhor ia sair: logo ao começar do espectáculo o sistema… AVARIOU!
As cordas emaranharam-se de tal maneira que o pano, uma vez fechado, não mais abriu, para nossa desolação e maior frustração do Moreira. No entanto, acabou por o melhor remédio ser uma grande risota. Houve também quem as não poupasse ao diligente e agora desolado Moreira, mas o teatro prosseguiu na mesma, ... de cortina aberta. Tudo afinal contava para uma alegre e boa disposição.
Os cenários e outros adereços, que faziam parte dos diversos números, eram então mudados e montados mas agora mesmo à vista dos espectadores, isto é, ao vivo, o que tirava um certo valor ao programa, mas tudo se compôs com a compreensão e a boa disposição da plateia.
Entre os diversos números destacava-se “A barbearia dos surdos-mudos”, no qual fazia de barbeiro o corpulento Barrumas. O próprio barbeiro era também, claro, surdo-mudo.
Então o barbeiro esperava que se juntassem três fregueses. Logo que chegasse o terceiro freguês sentava-os em outras tantas cadeiras que estavam alinhadas. E então ia trabalhar em série.
Pegava então numa corda que tinha também 3 rolhas fixas a espaços regulares, espaços esses iguais aos de cadeira a cadeira e então com os 3 clientes já sentados, ele punha uma rolha na boca de cada um deles e de forma que a corda ficasse bem esticada.
Depois de afiar a sua grande navalha, que mais parecia uma faca de cortar bacalhau na mercearia, ele puxa a ponta da corda que fazia com que as 3 caras virassem todas ao mesmo tempo e para o mesmo lado. Puxava em seguida por a outra ponta e agora as 3 caras viravam para o lado oposto. Assim o barbeiro barbeava ora as faces esquerdas ora as faces direitas dos clientes no mesmo movimento. Era um trabalho em série e bem sincronizado.
O que acontece é que o dia não estava para as cordas, pois quando ele pega na corda que tem as três rolhas (tantas como os clientes a barbear) para pôr as rolhas nas bocas dos clientes, já sentados, a corda das rolhas enriça-se de tal maneira que faz com que duas das rolhas ficassem muito chegadas. Com isto 2 dos clientes ficaram com as caras quase encostadas, na circunstância o Cowboy e o Vizela. O Cowboy então, por pouco não aguentava a situação, pois ia rebentando com o riso.
Os clientes da barbearia, ou sejam os fregueses, foram escolhidos a dedo, para tornar o número mais aliciante e assim, aos dois fregueses atrás referidos juntou-se o Fonsequinha. Que trio!!
O Fonsequinha, como era pequeno, mal disse, pelos gestos –não nos esqueçamos que os clientes eles eram todos surdos-mudos- ao que vinha, o Barrumas pega nele por a gola do casaco e assim suspenso, senta-o numa das cadeiras. O Fonsequinha com o seu bigode à Hitler, estava mesmo a calhar para a cena.
O número acabou por se fazer, mas o problema da corda embaraçou barbeiro e barbeados, que à mistura com os risos dificilmente suportados perderam assim alguma serenidade para desempenharem bem o seu papel. Ao fim e ao cabo a malta acabou na mesma por se rir, mais até com o inesperado episódio da corda, e como estávamos ali para nos rirmos…
O barbeamento foi no entanto feito com qualidade, ainda que com algum sacrifício e alguma ginástica de Barbeiro e barbeados. Se o número era já de rir a história das cordas aumentou aquele.
Eu que estava na parte de trás do palco -nos bastidores- quando aconteceu ver o Cowboy quase em cima do Vizela e o embaraço do Barrumas, não mais me interessei ver a peça e foi dar largas à minha enorme vontade de rir, pois a peça era agora outra.
Entre outros números, o Piedade cantou, o Correia apresentou os seus fados de Coimbra, entre eles o seu “Mar eterno”. O Ludgero foi figura principal num número em que o Belchior, então espectador, saiu bem molhado com água.
Por sua vez o Belchior saiu-se com poesia, e bem, ou ele não tivesse pinta para isto. Eu e o Carneiro fomos os apresentadores e houve também um coro –que abriu o espectáculo - muito bem ensaiado pelo Alferes Esteves. A coisa não foi má e aquele alegre convívio fez-nos esquecer a mágoa que porventura sentíamos de nos vermos naquele dia distante da família e num clima de guerra.
O Natal passou. Entretanto toda a malta recebeu do MNF (Movimento Nacional Feminino) um isqueiro e alguns maços de tabaco como lembranças de Natal.
Pela passagem de ano também se fez festa. Dançou-se e cantou-se na cantina dos soldados. O Pele-e-osso foi figura preponderante a dançar, pois ficou-se ali a saber que ele era elemento de um grupo de folclore. Que bem ele dançava! O Capitão apareceu depois e também cantou “O meu menino é d’oiro” e, pronto, o passar do ano também não passou sem festa. Uns copitos e danças (daquelas ao Deus dará –ninguém rachou a tola-) e eis-nos no dia 1 do ano de 1967.
A página da quadra do Natal foi virada e tudo voltou à rotina do dia-a-dia.
A operação seguinte…..
Rui Silva
Ex-Fur Mil
CCAÇ 816
(Guiné 1965/67)
____________
Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste > 20 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3654: O meu Natal no mato (17): Cufar, 1973, o Cantanhez a ferro e fogo (António Graça de Abreu)
Uma história (verdadeira) de Natal
O Natal da 816 no Olossato (Dezembro de 1966)
Das minhas memórias: “Páginas Negras com salpicos cor-de-rosa”-
... Entretanto chega o Natal. O Capitão reúne o pessoal mais graduado, lembra e propõe um programa festivo assinalando tão interessante data e, claro está, a que o pessoal, por doutrina própria, é sensível. Sabíamos que estávamos longe, muito longe dos outros santos do nosso presépio (família) e que também estávamos num sítio errado.
No programa salientava-se um espectáculo de teatro com peças mais ou menos rápidas: cenas de humor, canções, fados, poesia, coro, etc. Só esperávamos era que não houvesse foguetes, presentes do inimigo.
Apareceram habilidosos para tudo. Tudo isto culminava com um jantar de rancho melhorado no dia seguinte, dia de Natal, aonde se reuniu, no refeitório dos soldados, toda a família 816.
Quanto ao espectáculo teatral este começou antes de o ser, pois o bom amigo do Moreira que entretanto tinha improvisado um pequeno palco, de formato quadrado, com tábuas apoiadas em pequenos troços de troncos de palmeiras, ao qual aplicou, nos dois vértices posteriores, dois potentes faróis de viatura militar originando um foco luminoso dirigido aos actores… de ocasião, dando assim mais vida ao espectáculo e até a dar um ar de teatro profissional.
Lembra-se, e aqui é que começa o circo, da sua louvável ideia de arranjar um sistema de cordas e roldanas que permitiam um movimento de puxar esta ou aquela corda, consoante o interesse em abrir ou fechar as cortinas (cortinas mesmo, de alto a baixo) que escondiam o palco aquando da mudança de número e tarecos e à boa maneira dos verdadeiros teatros. O engenho foi testado várias vezes e não havia dúvida, para garbo do Moreira, e a boa surpresa dos outros, a coisa estava funcional. Puxava-se uma ponta da corda e o cortinado abria. Puxava-se a outra ponta e o cortinado fechava. O Moreira sorria com o evento. Estava um primor!, e até parecia um teatro a sério! Por ali já havia sucesso.
Mas o melhor ia sair: logo ao começar do espectáculo o sistema… AVARIOU!
As cordas emaranharam-se de tal maneira que o pano, uma vez fechado, não mais abriu, para nossa desolação e maior frustração do Moreira. No entanto, acabou por o melhor remédio ser uma grande risota. Houve também quem as não poupasse ao diligente e agora desolado Moreira, mas o teatro prosseguiu na mesma, ... de cortina aberta. Tudo afinal contava para uma alegre e boa disposição.
Os cenários e outros adereços, que faziam parte dos diversos números, eram então mudados e montados mas agora mesmo à vista dos espectadores, isto é, ao vivo, o que tirava um certo valor ao programa, mas tudo se compôs com a compreensão e a boa disposição da plateia.
Entre os diversos números destacava-se “A barbearia dos surdos-mudos”, no qual fazia de barbeiro o corpulento Barrumas. O próprio barbeiro era também, claro, surdo-mudo.
Então o barbeiro esperava que se juntassem três fregueses. Logo que chegasse o terceiro freguês sentava-os em outras tantas cadeiras que estavam alinhadas. E então ia trabalhar em série.
Pegava então numa corda que tinha também 3 rolhas fixas a espaços regulares, espaços esses iguais aos de cadeira a cadeira e então com os 3 clientes já sentados, ele punha uma rolha na boca de cada um deles e de forma que a corda ficasse bem esticada.
Depois de afiar a sua grande navalha, que mais parecia uma faca de cortar bacalhau na mercearia, ele puxa a ponta da corda que fazia com que as 3 caras virassem todas ao mesmo tempo e para o mesmo lado. Puxava em seguida por a outra ponta e agora as 3 caras viravam para o lado oposto. Assim o barbeiro barbeava ora as faces esquerdas ora as faces direitas dos clientes no mesmo movimento. Era um trabalho em série e bem sincronizado.
O que acontece é que o dia não estava para as cordas, pois quando ele pega na corda que tem as três rolhas (tantas como os clientes a barbear) para pôr as rolhas nas bocas dos clientes, já sentados, a corda das rolhas enriça-se de tal maneira que faz com que duas das rolhas ficassem muito chegadas. Com isto 2 dos clientes ficaram com as caras quase encostadas, na circunstância o Cowboy e o Vizela. O Cowboy então, por pouco não aguentava a situação, pois ia rebentando com o riso.
Os clientes da barbearia, ou sejam os fregueses, foram escolhidos a dedo, para tornar o número mais aliciante e assim, aos dois fregueses atrás referidos juntou-se o Fonsequinha. Que trio!!
O Fonsequinha, como era pequeno, mal disse, pelos gestos –não nos esqueçamos que os clientes eles eram todos surdos-mudos- ao que vinha, o Barrumas pega nele por a gola do casaco e assim suspenso, senta-o numa das cadeiras. O Fonsequinha com o seu bigode à Hitler, estava mesmo a calhar para a cena.
O número acabou por se fazer, mas o problema da corda embaraçou barbeiro e barbeados, que à mistura com os risos dificilmente suportados perderam assim alguma serenidade para desempenharem bem o seu papel. Ao fim e ao cabo a malta acabou na mesma por se rir, mais até com o inesperado episódio da corda, e como estávamos ali para nos rirmos…
O barbeamento foi no entanto feito com qualidade, ainda que com algum sacrifício e alguma ginástica de Barbeiro e barbeados. Se o número era já de rir a história das cordas aumentou aquele.
Eu que estava na parte de trás do palco -nos bastidores- quando aconteceu ver o Cowboy quase em cima do Vizela e o embaraço do Barrumas, não mais me interessei ver a peça e foi dar largas à minha enorme vontade de rir, pois a peça era agora outra.
Entre outros números, o Piedade cantou, o Correia apresentou os seus fados de Coimbra, entre eles o seu “Mar eterno”. O Ludgero foi figura principal num número em que o Belchior, então espectador, saiu bem molhado com água.
Por sua vez o Belchior saiu-se com poesia, e bem, ou ele não tivesse pinta para isto. Eu e o Carneiro fomos os apresentadores e houve também um coro –que abriu o espectáculo - muito bem ensaiado pelo Alferes Esteves. A coisa não foi má e aquele alegre convívio fez-nos esquecer a mágoa que porventura sentíamos de nos vermos naquele dia distante da família e num clima de guerra.
O Natal passou. Entretanto toda a malta recebeu do MNF (Movimento Nacional Feminino) um isqueiro e alguns maços de tabaco como lembranças de Natal.
Pela passagem de ano também se fez festa. Dançou-se e cantou-se na cantina dos soldados. O Pele-e-osso foi figura preponderante a dançar, pois ficou-se ali a saber que ele era elemento de um grupo de folclore. Que bem ele dançava! O Capitão apareceu depois e também cantou “O meu menino é d’oiro” e, pronto, o passar do ano também não passou sem festa. Uns copitos e danças (daquelas ao Deus dará –ninguém rachou a tola-) e eis-nos no dia 1 do ano de 1967.
A página da quadra do Natal foi virada e tudo voltou à rotina do dia-a-dia.
A operação seguinte…..
Rui Silva
Ex-Fur Mil
CCAÇ 816
(Guiné 1965/67)
____________
Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste > 20 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3654: O meu Natal no mato (17): Cufar, 1973, o Cantanhez a ferro e fogo (António Graça de Abreu)
Guiné 63/74 - P3659: Tabanca de Matosinhos (8): Natal 2008: Memorável convívio no Milho Rei (Carlos Vinhal, texto; Jorge Teixeira, imagem)
NATAL 2008 DA TABANCA DE MATOSINHOS
Em Matosinhos, sexta-feira à noite, foi Natal
Cinquenta a 60 pessoas, entre ex-combatentes da Guiné e respectivos acompanhantes, confraternizaram num ambiente extarordinário de camaradagem e amizade, no Restaurante Milho Rei.
Desde Torre de Moncorvo a Lisboa, passando pela Régua, Gaia, Espinho e Aguada de Cima, a Tabanca de Matosinhos reuniu camaradas e famíliares. Muitos mais gostariam de estar presentes, mas motivos vários forçaram a ausência.
Já durante o jantar, e apesar do enorme ruído na sala, consegui ouvir e registar palavras amigas e solidárias do Editor Luís Graça e do tertuliano Jorge Picado que bem gostariam de estar connosco naquele momento. Agradecemos retribuímos os votos recebidos. Contamos convosco para o próximo Natal.
Aproveito para entregar ao Luís uma mensagem especial do senhor Basto, pai do nosso tertuliano Álvaro Basto. Confidenciou-me ter ficado triste por o Luís não poder estar presente, pois gostava de lhe dar um abraço. Envia-lhe os melhores votos de Boas-Festas e um Novo Ano em pleno de saúde.
De registar uma mensagem enviada para Matosinhos pelo Doutor Julião Soares Sousa, Presidente da Direcção da Casa da Guiné-Bissau de Coimbra, agradecendo o que alguns camaradas da Tabanca de Matosinhos têm feito em prol da Guiné-Bissau.
O bacalhau estava óptimo, assim como a perna de porco assada. Bom vinho branco e tinto (conforme o gosto), óptimo digestivo do Zé Manel, alguns doces (rabanadas e bolo-rei incluídos) e café. Melhor não podia ser.
O ponto alto da noite estava para vir com a actuação dos músicos privativos da Tabanca de Matosinhos, a saber: David Guimarães, Jorge Félix, Álvaro Basto e mais dois cavaquinhos dos quais lamentavelmente não sei o nome. António Pimentel andou muito tempo com o instrumento na mão, mas não sei se se fez ouvir.
Alguns dos presentes resolveram estragar a actuação dos instrumentistas, tentado e conseguindo, não raras vezes, cantar ao som da música.
Quando se olhou para o relógio, já o dia era outro e as ruas de Matosinhos apresentavam um movimento reduzido.
Basta de palavras e passemos aos melhores momentos registados pelo nosso camarada Jorge Teixeira que passei a conhecer pessoalmente desde ontem.
Texto (incluindo legendas): © Carlos Vinhal, editor (2008)
Fotos: © Jorge Teixeira (2008). Direitos reservados.
Ala esquerda da mesa, onde se destaca o Silva em primeiro plano. O nosso médico veio de Lisboa especialmente para o convívio.
O cantinho da família Marques Lopes. Batista prova o tinto.
O nosso Pira de Mansoa, o bom camarada Eduardo Magalhães, procura o melhor ângulo para a foto da noite. Na tela passa um filme feito em Março, na Guiné-Bissau.
O nosso camarada Jorge Teixeira contempla uma bela travessa de bacalhau, enquanto mão marota rapta uma indefesa rodela de batata frita. Que cheirinho!!! Almeida parece dizer: - Não perdes pela demora.
Na ponta da mesa, Lobo, David Guimarães e esposa em conversa com outros camaradas
Está-se mesmo a ver que quando cheguei junto da mesa... já outros por lá tinham passado.
Marques Lopes e Zé Manel parecem disputar a pomada. Ao fundo, David Guimarães observa a contenda.
Ala direita da mesa onde pontuam Xico Allen, João Rocha, Barroso, família Marques Lopes, Batista, Senhor Basto e Joaquim Almeida (Custóias), entre outros.
Novamente a pomada é motivo de alguma tensão. Os semblantes de José Teixeira e Paulo Santiago enganam. O momento é mesmo grave.
Nesta foto, o Zé Teixeira confere as contas, não vá o diabo tecê-las.
Neste momento já os músicos se faziam ouvir, embora a amplificação sonora parecesse ter sido comprada em alguma loja dos trezentos. Ou dos chineses?
O nosso jovem companheiro, senhor Basto, pai do camarada Álvaro Basto, circula pela sala. Como ex-militar que é, procura a melhor estratégia para defesa e para o ataque.
Não acham o tamanho do instrumento desproporcionado ao tamanho do tocador.
As senhoras não deixaram os seus créditos por mãos alheias e toca a fazerem-se ouvir.
Carlos Silva e Xico Allen trocam impressões. Como vamos atacar as rabanadas?
Como se pode observar, concordância é coisa que não existe. Cada dedo, um objectivo. E efectivos para tantos golpes de mão?
Álvaro Basto ataca o instrumento, enquanto Pimentel parece perguntar se as cordas são todas para usar. Batista pensa, mas não pode ajudar.
A esposa do Carlos Silva dá umas ideias ao Jorge Félix, quanto ao alinhamento do concerto.
________________
Notas de CV:
Podem também ver reportagem do acontecimento na Tabanca de Matosinhos, em:
http://tabancapequenadematosinhos.blogspot.com/2008/12/tabanca-encheu.html
Vd. último poste da série de 10 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3591: Tabanca de Matosinhos (7): Jantar de Natal, sexta-feira, 19 de Dezembro de 2008, no Milho Rei, em Matosinhos (Carlos Vinhal)
Em Matosinhos, sexta-feira à noite, foi Natal
Cinquenta a 60 pessoas, entre ex-combatentes da Guiné e respectivos acompanhantes, confraternizaram num ambiente extarordinário de camaradagem e amizade, no Restaurante Milho Rei.
Desde Torre de Moncorvo a Lisboa, passando pela Régua, Gaia, Espinho e Aguada de Cima, a Tabanca de Matosinhos reuniu camaradas e famíliares. Muitos mais gostariam de estar presentes, mas motivos vários forçaram a ausência.
Já durante o jantar, e apesar do enorme ruído na sala, consegui ouvir e registar palavras amigas e solidárias do Editor Luís Graça e do tertuliano Jorge Picado que bem gostariam de estar connosco naquele momento. Agradecemos retribuímos os votos recebidos. Contamos convosco para o próximo Natal.
Aproveito para entregar ao Luís uma mensagem especial do senhor Basto, pai do nosso tertuliano Álvaro Basto. Confidenciou-me ter ficado triste por o Luís não poder estar presente, pois gostava de lhe dar um abraço. Envia-lhe os melhores votos de Boas-Festas e um Novo Ano em pleno de saúde.
De registar uma mensagem enviada para Matosinhos pelo Doutor Julião Soares Sousa, Presidente da Direcção da Casa da Guiné-Bissau de Coimbra, agradecendo o que alguns camaradas da Tabanca de Matosinhos têm feito em prol da Guiné-Bissau.
O bacalhau estava óptimo, assim como a perna de porco assada. Bom vinho branco e tinto (conforme o gosto), óptimo digestivo do Zé Manel, alguns doces (rabanadas e bolo-rei incluídos) e café. Melhor não podia ser.
O ponto alto da noite estava para vir com a actuação dos músicos privativos da Tabanca de Matosinhos, a saber: David Guimarães, Jorge Félix, Álvaro Basto e mais dois cavaquinhos dos quais lamentavelmente não sei o nome. António Pimentel andou muito tempo com o instrumento na mão, mas não sei se se fez ouvir.
Alguns dos presentes resolveram estragar a actuação dos instrumentistas, tentado e conseguindo, não raras vezes, cantar ao som da música.
Quando se olhou para o relógio, já o dia era outro e as ruas de Matosinhos apresentavam um movimento reduzido.
Basta de palavras e passemos aos melhores momentos registados pelo nosso camarada Jorge Teixeira que passei a conhecer pessoalmente desde ontem.
Texto (incluindo legendas): © Carlos Vinhal, editor (2008)
Fotos: © Jorge Teixeira (2008). Direitos reservados.
Ala esquerda da mesa, onde se destaca o Silva em primeiro plano. O nosso médico veio de Lisboa especialmente para o convívio.
O cantinho da família Marques Lopes. Batista prova o tinto.
O nosso Pira de Mansoa, o bom camarada Eduardo Magalhães, procura o melhor ângulo para a foto da noite. Na tela passa um filme feito em Março, na Guiné-Bissau.
O nosso camarada Jorge Teixeira contempla uma bela travessa de bacalhau, enquanto mão marota rapta uma indefesa rodela de batata frita. Que cheirinho!!! Almeida parece dizer: - Não perdes pela demora.
Na ponta da mesa, Lobo, David Guimarães e esposa em conversa com outros camaradas
Está-se mesmo a ver que quando cheguei junto da mesa... já outros por lá tinham passado.
Marques Lopes e Zé Manel parecem disputar a pomada. Ao fundo, David Guimarães observa a contenda.
Ala direita da mesa onde pontuam Xico Allen, João Rocha, Barroso, família Marques Lopes, Batista, Senhor Basto e Joaquim Almeida (Custóias), entre outros.
Novamente a pomada é motivo de alguma tensão. Os semblantes de José Teixeira e Paulo Santiago enganam. O momento é mesmo grave.
Nesta foto, o Zé Teixeira confere as contas, não vá o diabo tecê-las.
Neste momento já os músicos se faziam ouvir, embora a amplificação sonora parecesse ter sido comprada em alguma loja dos trezentos. Ou dos chineses?
O nosso jovem companheiro, senhor Basto, pai do camarada Álvaro Basto, circula pela sala. Como ex-militar que é, procura a melhor estratégia para defesa e para o ataque.
Não acham o tamanho do instrumento desproporcionado ao tamanho do tocador.
As senhoras não deixaram os seus créditos por mãos alheias e toca a fazerem-se ouvir.
Carlos Silva e Xico Allen trocam impressões. Como vamos atacar as rabanadas?
Como se pode observar, concordância é coisa que não existe. Cada dedo, um objectivo. E efectivos para tantos golpes de mão?
Álvaro Basto ataca o instrumento, enquanto Pimentel parece perguntar se as cordas são todas para usar. Batista pensa, mas não pode ajudar.
A esposa do Carlos Silva dá umas ideias ao Jorge Félix, quanto ao alinhamento do concerto.
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Notas de CV:
Podem também ver reportagem do acontecimento na Tabanca de Matosinhos, em:
http://tabancapequenadematosinhos.blogspot.com/2008/12/tabanca-encheu.html
Vd. último poste da série de 10 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3591: Tabanca de Matosinhos (7): Jantar de Natal, sexta-feira, 19 de Dezembro de 2008, no Milho Rei, em Matosinhos (Carlos Vinhal)
Guiné 63/74 - P3658: Historiografia da presença portuguesa em África (14): Postais antigos, um relicário de João Loureiro (Beja Santos)
Imagem da capa da publicação Postais antigos da Guiné, da autoria de João Loureiro.
Foto: © Beja Santos / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008). Direitos reservados
1. Mensagem do Beja Santos:
Assunto - Um relicário dos postais que enviámos aos nosso entes queridos!
Malta, telefonou-me há dias o Dr. João Loureiro, autor destes esgotadíssimos postais da Guiné, felicitando-me pelos 2 livros meus sobre o meu diário de guerra que ele muito apreciou e pedindo-me para nos encontrarmos.
Aqui está o lindo presente de Natal que acabo de receber. A obra divide-se em quatro secções:
(i) Bissau no primeiro quartel do século XX;
(ii) Bissau dos anos 40 aos inícios da década de 70;
(iii) Aspectos do interior;
(iv) O Povo e os Costumes.
Prometeu-me entregar em Janeiro ou Fevereiro outro exemplar para o Luís Graça, que ele tanto admira. O título da colecção é: Memória Portuguesa de África e do Oriente (*). É uma edição de 2000.
Vou enviar, mais tarde, imagens sugestivas dos postais que escrevemos a quem tinha saudades nossas. Ambiciono que o nosso blogue possa juntar os documentos mais importantes da nossa história comum (**).
Um abraço do Mário
___________
Notas de L.G.:
(*) Nesta colecção, há outras publicações de João Loureiro: postais antigos de Macau (1995), de Moçambique (1997), de Angola (1997), de São Tomé e Príncipe (1997) e de Cabo Verde (1998).
Vd. Memória de África
Autor - LOUREIRO, João
Título - Postais antigos da Guiné
Local - Lisboa
Editor - João Loureiro e Associados
Ano - 1997
Nº pp - 143
Preço - c. 35 €
"Os 248 exemplares que seleccionei para estes 'Postais Antigos da Guiné' , destacados de um lote superior de 550 que constitui a respectiva 'caixa' de arquivo, procuram documentar a génese e a evolução da cidade de Bissau, aspectos relevantes das vilas do interior e, com alguma ênfase que é natural num território com uma enorme variedade étnica e cultural, tópicos da vida e dos costumes do povo guineense.» (Fonte: ACVL On Line)
(**) Vd. último poste desta série > 17 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3642: Historiografia da presença portuguesa (14): A exótica Bissau do Séc. XVII e o papel de D. Frei Vitoriano Portuense (Beja Santos)
Foto: © Beja Santos / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008). Direitos reservados
1. Mensagem do Beja Santos:
Assunto - Um relicário dos postais que enviámos aos nosso entes queridos!
Malta, telefonou-me há dias o Dr. João Loureiro, autor destes esgotadíssimos postais da Guiné, felicitando-me pelos 2 livros meus sobre o meu diário de guerra que ele muito apreciou e pedindo-me para nos encontrarmos.
Aqui está o lindo presente de Natal que acabo de receber. A obra divide-se em quatro secções:
(i) Bissau no primeiro quartel do século XX;
(ii) Bissau dos anos 40 aos inícios da década de 70;
(iii) Aspectos do interior;
(iv) O Povo e os Costumes.
Prometeu-me entregar em Janeiro ou Fevereiro outro exemplar para o Luís Graça, que ele tanto admira. O título da colecção é: Memória Portuguesa de África e do Oriente (*). É uma edição de 2000.
Vou enviar, mais tarde, imagens sugestivas dos postais que escrevemos a quem tinha saudades nossas. Ambiciono que o nosso blogue possa juntar os documentos mais importantes da nossa história comum (**).
Um abraço do Mário
___________
Notas de L.G.:
(*) Nesta colecção, há outras publicações de João Loureiro: postais antigos de Macau (1995), de Moçambique (1997), de Angola (1997), de São Tomé e Príncipe (1997) e de Cabo Verde (1998).
Vd. Memória de África
Autor - LOUREIRO, João
Título - Postais antigos da Guiné
Local - Lisboa
Editor - João Loureiro e Associados
Ano - 1997
Nº pp - 143
Preço - c. 35 €
"Os 248 exemplares que seleccionei para estes 'Postais Antigos da Guiné' , destacados de um lote superior de 550 que constitui a respectiva 'caixa' de arquivo, procuram documentar a génese e a evolução da cidade de Bissau, aspectos relevantes das vilas do interior e, com alguma ênfase que é natural num território com uma enorme variedade étnica e cultural, tópicos da vida e dos costumes do povo guineense.» (Fonte: ACVL On Line)
(**) Vd. último poste desta série > 17 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3642: Historiografia da presença portuguesa (14): A exótica Bissau do Séc. XVII e o papel de D. Frei Vitoriano Portuense (Beja Santos)
sábado, 20 de dezembro de 2008
Guiné 63/74 - P3657: (Ex)citações (8): As lágrimas e os amigos (Ana Mendonça)
1. Mensagem de ontem, da nossa amiga Ana Lourdes Mendonça, esposa do nosso camarada Torcato Mendonça, e que passou recentemente por uma prova de fogo (*):
Obrigada, amigos (**).
Parafraseando um grande poeta:
“Amigos verdadeiros não são os que nos secam as lágrimas..
são sim os que não nos as deixam cair…”
BOAS FESTAS, FELIZ ANO 2009
________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 19 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3652: Blogoterapia (72): Voltamos a pôr a Ana (e o José...) a sorrir, na nossa fotogaleria (Luís Graça)
(**) Vd. último poste da série (Ex)citações > 28 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3533: (Ex)citações (7): A reciclagem das garrafas de cerveja na Ponta do Inglês (José Nunes / Manuel Moreira)
Obrigada, amigos (**).
Parafraseando um grande poeta:
“Amigos verdadeiros não são os que nos secam as lágrimas..
são sim os que não nos as deixam cair…”
BOAS FESTAS, FELIZ ANO 2009
________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 19 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3652: Blogoterapia (72): Voltamos a pôr a Ana (e o José...) a sorrir, na nossa fotogaleria (Luís Graça)
(**) Vd. último poste da série (Ex)citações > 28 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3533: (Ex)citações (7): A reciclagem das garrafas de cerveja na Ponta do Inglês (José Nunes / Manuel Moreira)
Guiné 63/74 - P3656: Tabanca Grande (105): Luís Nascimento, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71)
1. Mensagem de Luís Nascimento, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71, com data de 31 de Julho de 2008:
Nome - Luís Nascimento (ASSASSAN)
Posto - 1.º Cabo OP Cripto
Companhia - CCAÇ 2533
Localidade - Canjambari/Farim
Ano - 1969/71
2. Mensagem dirigida ao nosso novo camarada em 17 de Dezembro de 2008:
Caro Luís Nascimento
As nossas desculpas por só agora estarmos a responder à tua mensagem que esteve perdida este tempo todo no mail profissional do Luís Graça, autor e editor-chefe do Blogue.
O endereço que deves utilizar é: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com que é o mail onde todos os três editores têm acesso.
Julgo que a tua mensagem é para aderires à nossa Tabanca Grande. Vou tomar na melhor consideração a tua vontade, logo considera-te desde já membro do nosso Blogue.
Em contrapartida esperamos de ti algumas histórias passadas com a tua Companhia, já que no nosso Blogue só há umas leves referências a ela.
Aguardamos notícias tuas, esperando que nos desculpes.
Um abraço do teu camarada
Carlos Vinhal
Co-editor do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
______________
Notas de CV:
Vd. Sítio Leste de Angola > 15 de Março de 2008
CCaç 2533 (Guiné) convive a 29 de Março [de 2008] em Santa Marta de Portuzelo.
Os ex-militares da Companhia de Caçadores 2533, que estiveram na Guiné, em 69/71, realizam o Convívio, dia 29 de Março, na "Quinta do Carvalho", em Santa Marta de Portuzelo.
Contacto: 1.º cabo Silva, 919 326 354 – (trabalho: 229 441 603) Fax 229 416 362 (229 448 012 depois das 20h e fins-de-semana).
Guiné - História > CCAÇ 14 (1969/74)
(...) Após ter deslocado um pelotão para Farim, a partir de finais de Dez70, foi transferida para Farim em 20Fev71, depois de ter sido substituída, por troca, pela CArt 3331. Rendeu, na função de intervenção e reserva do sector, a CCaç 2533, com vista a realizar acções de contrapenetração no corredor de Lamel. Destacou ainda pelotões para reforço temporário de outras guarnições, nomeadamente de Binta, de 25Abr71 a 12Jun71, Jumbembém e Canjambari. (...)
Vd. também a página Guerra da Guiné 1963/74, por Carlos Silva > 69/71 CCAÇ 2533 Canjambari
Vd. último poste de 18 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3644: Tabanca Grande (105): António Cunha, Radiotelegracista da CART 1613 (Teixeira Pinto e Guileje, 1966/68)
Nome - Luís Nascimento (ASSASSAN)
Posto - 1.º Cabo OP Cripto
Companhia - CCAÇ 2533
Localidade - Canjambari/Farim
Ano - 1969/71
2. Mensagem dirigida ao nosso novo camarada em 17 de Dezembro de 2008:
Caro Luís Nascimento
As nossas desculpas por só agora estarmos a responder à tua mensagem que esteve perdida este tempo todo no mail profissional do Luís Graça, autor e editor-chefe do Blogue.
O endereço que deves utilizar é: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com que é o mail onde todos os três editores têm acesso.
Julgo que a tua mensagem é para aderires à nossa Tabanca Grande. Vou tomar na melhor consideração a tua vontade, logo considera-te desde já membro do nosso Blogue.
Em contrapartida esperamos de ti algumas histórias passadas com a tua Companhia, já que no nosso Blogue só há umas leves referências a ela.
Aguardamos notícias tuas, esperando que nos desculpes.
Um abraço do teu camarada
Carlos Vinhal
Co-editor do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
______________
Notas de CV:
Vd. Sítio Leste de Angola > 15 de Março de 2008
CCaç 2533 (Guiné) convive a 29 de Março [de 2008] em Santa Marta de Portuzelo.
Os ex-militares da Companhia de Caçadores 2533, que estiveram na Guiné, em 69/71, realizam o Convívio, dia 29 de Março, na "Quinta do Carvalho", em Santa Marta de Portuzelo.
Contacto: 1.º cabo Silva, 919 326 354 – (trabalho: 229 441 603) Fax 229 416 362 (229 448 012 depois das 20h e fins-de-semana).
Guiné - História > CCAÇ 14 (1969/74)
(...) Após ter deslocado um pelotão para Farim, a partir de finais de Dez70, foi transferida para Farim em 20Fev71, depois de ter sido substituída, por troca, pela CArt 3331. Rendeu, na função de intervenção e reserva do sector, a CCaç 2533, com vista a realizar acções de contrapenetração no corredor de Lamel. Destacou ainda pelotões para reforço temporário de outras guarnições, nomeadamente de Binta, de 25Abr71 a 12Jun71, Jumbembém e Canjambari. (...)
Vd. também a página Guerra da Guiné 1963/74, por Carlos Silva > 69/71 CCAÇ 2533 Canjambari
Vd. último poste de 18 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3644: Tabanca Grande (105): António Cunha, Radiotelegracista da CART 1613 (Teixeira Pinto e Guileje, 1966/68)
Guiné 63/74 - P3655: Estórias do Zé Teixeira (33): Histórias de Natal (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf)
1. Mensagem de José Teixeira, ex-1.º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/70, datada de 19 de Dezembro de 2008, com quatro pequenas histórias de Natal e não Natal, nas suas sentidas palavras:
Carlos
Junto o texto sobre o Natal.
José Teixeira
HISTÓRIAS DE NATAL, OU... TALVEZ NÃO
1. Reencontro com a Djuvae
No Natal de 1968 a Djuvae de Mampatá Foreá, prestou-se para ser postal de mensagem de Natal. Não era propriamente uma beleza em termos físicos. Era sim, uma rapariga, perdão, uma bajuda muito alegre e comunicativa. Tenho gravados na memória bons momentos passados juntos, sobretudo ao principio da noite, quando nos juntávamos, eu, ela, a Fátma Ió, a Auá e a Mariema à porta da sua morança. Desde contarmos histórias, cantarem para mim lindas canções fulas e outras brincadeiras, até que surgia o Hamadú, o Sargento do Pelotão de Milícias, o zelador pela segurança da população que acumulava com a função de marabu na pequena Mesquita local. Obrigava-nos a seguir cada um para sua casa ou abrigo sem ruído, estragando assim a festa.
Quando voltei a Mampatá em Março de 2008, esqueci-me de a procurar e não a reconheci, quando se abeirou de mim. Para me obrigar a ir ao caixote mais fundo da minha memória, dirigiu-se-me e com o seu sorriso característico, recordou-me a maneira como eu a cumprimentava naquele tempo da nossa juventude:
- Tissera, bó ka na lembra ! Mama garandi, mama piquena, apalpando os seus próprios seios.
Creio que basta aos camaradas que tiverem a coragem de lerem estes apontamentos, apreciarem a foto junta, para tirarem conclusões.
- Tu és a Djuvae ?
- É mesmo! - Enquanto se pendurava no meu pescoço num fraterno e demorado abraço.
Nesse dia, àquela hora foi Natal para mim.
2. Desencontro de Hamadú
O Hamadú, acabada a guerra foi viver para Buba. Procurei-o em 2005, mas não o consegui ver. Estive com uma das filhas e com uma neta. Ele, como sempre, estava na Mesquita a exercer a sua missão de Marabu.
Em 2008 tinha como objectivo, voltar a procurá-lo. Logo em Guiledge, soube que tinha falecido em Dezembro.
Nesse momento não houve Natal.
3. Reencontro com Ádama
Quando voltei a Mampatá, veio ao meu encontro a Ádama, a mãe da nha mindjer, a bebé que me foi apresentada com 42 graus de temperatura e desenganada pelo doctor de Bissau.
Ia morrer, com paludismo agudo, mas eu salvei-a administrando-lhe um anti-palúdico num acto médico que hoje me levaria à prisão. Como prémio foi-me oferecida pela mãe, para nha mindjer.
A menina, hoje mulher, não vive em Mampatá, logo não a pude ver, mas a mãe, essa ajudou-me a recordar alguns dos momentos que mais me marcaram: a sua vinda todas as manhãs com a bebé ao colo, parte mantenhas a Fermero e trazer uma cantara de água fresca que ia buscar à fonte de Ieroel (o local de onde o IN nos atacava ao cair da noite) ou então o pequeno cacho de bananas – tua mindjer parte agua para tu na bibe,ou, parte banana.
Se à noite ao passar pela morança onde viviam não ia dar um beijinho à bebé, logo a mãe me chamava: - Fermero vem parte mantenhas a mindjer di bó . E, quando vindo da Chamarra com destino a Buba, passei por Mampatá, aquela mãe, veio a correr depositar-me nos braços a bebé: - Toma, leva minina, mindjer di bó.
Tão belos momentos, quer no antigamente, quer em Março de 2008 foram Natal para mim.
4. O encontro com o filho de Binta Bobo
Também a Binta Bobo, irmã mais nova da Ádama, ainda uma criança, foi mensageira da paz naquele Natal de 1968. Às costas levava nha mindjer, a bebé, filha de sua irmã mais velha a Ádama,
A Binta Bobo (a mais alta)com a bebé. A seu lado, a companheira de brincadeiras, filha mais novas do Hamadú com a maninha às costas
A Binta Bobo, cresceu, fez-se mulher. Em 1974, devia estar uma garota linda! Creio que ainda não tinha casado, mas já estava destinada, ou prometida, ou negociada desde pequenina.
Da relação com um militar português engravidou e teve um filho. Foi repudiada e a sua vida a partir de então não foi nada fácil, até que a morte a veio buscar prematuramente.
Seu filho, procurou-me em 2005 no Saltinho. Queria conhecer o pai. Pensava ele que eu o conhecia, mas não. Quando deixei Mampatá a Binta era uma criança.
Afinal a vida é feita assim de retalhos. Uns são de alegria, afecto, paz e amor. Tudo somado dá origem ao Natal, que se quer todos os dias. Outros, pela sua crueza provocam sofrimento e dor. Então não há Natal.
Que cada um de nós, tenha, nesta quadra em especial, a coragem de construir o Natal e se possível o faça em todos os dias da sua vida, pois Natal é sempre que o HOMEM QUER.
Zé Teixeira
_____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 18 de dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3651: Estórias do Zé Teixeira (32): Um Pide, um marabu e um balanta de Bula que se converte ao Islamismo (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf)
Carlos
Junto o texto sobre o Natal.
José Teixeira
HISTÓRIAS DE NATAL, OU... TALVEZ NÃO
1. Reencontro com a Djuvae
No Natal de 1968 a Djuvae de Mampatá Foreá, prestou-se para ser postal de mensagem de Natal. Não era propriamente uma beleza em termos físicos. Era sim, uma rapariga, perdão, uma bajuda muito alegre e comunicativa. Tenho gravados na memória bons momentos passados juntos, sobretudo ao principio da noite, quando nos juntávamos, eu, ela, a Fátma Ió, a Auá e a Mariema à porta da sua morança. Desde contarmos histórias, cantarem para mim lindas canções fulas e outras brincadeiras, até que surgia o Hamadú, o Sargento do Pelotão de Milícias, o zelador pela segurança da população que acumulava com a função de marabu na pequena Mesquita local. Obrigava-nos a seguir cada um para sua casa ou abrigo sem ruído, estragando assim a festa.
Quando voltei a Mampatá em Março de 2008, esqueci-me de a procurar e não a reconheci, quando se abeirou de mim. Para me obrigar a ir ao caixote mais fundo da minha memória, dirigiu-se-me e com o seu sorriso característico, recordou-me a maneira como eu a cumprimentava naquele tempo da nossa juventude:
- Tissera, bó ka na lembra ! Mama garandi, mama piquena, apalpando os seus próprios seios.
Creio que basta aos camaradas que tiverem a coragem de lerem estes apontamentos, apreciarem a foto junta, para tirarem conclusões.
- Tu és a Djuvae ?
- É mesmo! - Enquanto se pendurava no meu pescoço num fraterno e demorado abraço.
Nesse dia, àquela hora foi Natal para mim.
2. Desencontro de Hamadú
O Hamadú, acabada a guerra foi viver para Buba. Procurei-o em 2005, mas não o consegui ver. Estive com uma das filhas e com uma neta. Ele, como sempre, estava na Mesquita a exercer a sua missão de Marabu.
Em 2008 tinha como objectivo, voltar a procurá-lo. Logo em Guiledge, soube que tinha falecido em Dezembro.
Nesse momento não houve Natal.
3. Reencontro com Ádama
Quando voltei a Mampatá, veio ao meu encontro a Ádama, a mãe da nha mindjer, a bebé que me foi apresentada com 42 graus de temperatura e desenganada pelo doctor de Bissau.
Ia morrer, com paludismo agudo, mas eu salvei-a administrando-lhe um anti-palúdico num acto médico que hoje me levaria à prisão. Como prémio foi-me oferecida pela mãe, para nha mindjer.
A menina, hoje mulher, não vive em Mampatá, logo não a pude ver, mas a mãe, essa ajudou-me a recordar alguns dos momentos que mais me marcaram: a sua vinda todas as manhãs com a bebé ao colo, parte mantenhas a Fermero e trazer uma cantara de água fresca que ia buscar à fonte de Ieroel (o local de onde o IN nos atacava ao cair da noite) ou então o pequeno cacho de bananas – tua mindjer parte agua para tu na bibe,ou, parte banana.
Se à noite ao passar pela morança onde viviam não ia dar um beijinho à bebé, logo a mãe me chamava: - Fermero vem parte mantenhas a mindjer di bó . E, quando vindo da Chamarra com destino a Buba, passei por Mampatá, aquela mãe, veio a correr depositar-me nos braços a bebé: - Toma, leva minina, mindjer di bó.
Tão belos momentos, quer no antigamente, quer em Março de 2008 foram Natal para mim.
4. O encontro com o filho de Binta Bobo
Também a Binta Bobo, irmã mais nova da Ádama, ainda uma criança, foi mensageira da paz naquele Natal de 1968. Às costas levava nha mindjer, a bebé, filha de sua irmã mais velha a Ádama,
A Binta Bobo (a mais alta)com a bebé. A seu lado, a companheira de brincadeiras, filha mais novas do Hamadú com a maninha às costas
A Binta Bobo, cresceu, fez-se mulher. Em 1974, devia estar uma garota linda! Creio que ainda não tinha casado, mas já estava destinada, ou prometida, ou negociada desde pequenina.
Da relação com um militar português engravidou e teve um filho. Foi repudiada e a sua vida a partir de então não foi nada fácil, até que a morte a veio buscar prematuramente.
Seu filho, procurou-me em 2005 no Saltinho. Queria conhecer o pai. Pensava ele que eu o conhecia, mas não. Quando deixei Mampatá a Binta era uma criança.
Afinal a vida é feita assim de retalhos. Uns são de alegria, afecto, paz e amor. Tudo somado dá origem ao Natal, que se quer todos os dias. Outros, pela sua crueza provocam sofrimento e dor. Então não há Natal.
Que cada um de nós, tenha, nesta quadra em especial, a coragem de construir o Natal e se possível o faça em todos os dias da sua vida, pois Natal é sempre que o HOMEM QUER.
Zé Teixeira
_____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 18 de dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3651: Estórias do Zé Teixeira (32): Um Pide, um marabu e um balanta de Bula que se converte ao Islamismo (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf)
Guiné 63/74 - P3654: O meu Natal no mato (17): Cufar, 1973, o Cantanhez a ferro e fogo (António Graça de Abreu)
Um exemplar autografado do livro Diário da Guiné: Lama, Sangue e ÁguiA Pura (Lisboa: Guerra e Paz. 2007. 220 pp)... O autor, António Graça de Abreu , foi Alf Mil, CAOP 1,Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar (1972/74). A dedicatória do nosso amigo e camarada reza assim:
"Ao Luís Graça, camarada, amigo deste nosso tempo por terras da Guiné, ontem, hoje, sempre, a bater ao compasso dos nossos delapidados e ternos e jovens coraçõs, com um forte abraço do António Graça de Abreu. Estoril, Março de 2007"
Extracto das pp. 174-16 (com a devida vénia...)
Cufar, 24 de Dezembro de 1973
Tempo de Natal. Paz na terra aos homens de boa vontade, na Guiné e na guerra.
Fui a Cadique com o meu coronel [, Joaquim Curado Leitão, comandante do CAOP1], de sintex, dez quilómetros descendo o rio Cumbijã.
Os pobres de Cadique, que tiveram dois mortos na terça-feira passada, estão a entrar na engrenagem da loucura. Já houve soldados que se recusaram a sair para o mato. Outros, ou os mesmos, na confusão de uma flagelação, atiraram com uma granada de mão ao tenente-coronel comandante do batalhão (**) que não o atingiu por pura sorte. O tenente-coronel não tem culpa do sofrimento e da morte dos seus homens, limita-se a cumprir ordens, não pode pegar no batalhão e marchar sobre Bissau, ou sobre Lisboa. De resto, entre os muitos oficiais do QP que tenho conhecido, este tenente-coronel é um dos homens mais humanos e sensíveis ao sofrimento dos seus subordinados.
A zona de Cadique é terrível, os guerrilheiros deixaram construir a estrada para Jemberém e agora passam o tempo a dinamitá-la e a emboscar as NT. Sabotaram os sete pontões do trajecto, abriram enormes brechas no asfalto, em vários sítios. Para arranjar a estrada, a tropa de Cadique avança com camionetas carregadas de terra e troncos de árvore. Depois dos primeiros dois quilómetros, começam a ser flagelados. Quem quer caminhar para a morte?
Os dias estão tão bonitos! Frescos, serenos, com pouca humidade, manhãs de sol que abrem os braços para os homens, o fumo a sair das tabancas e a espalhar-se sobre os campos, como em Portugal. A natureza não tem culpa da insensatez, do desvairo da espécie humana.
Cufar, 26 de Dezembro de 1973
Graças ao Natal, umas tantas iguarias rechearam as paredes dos nossos estômagos. Houve bacalhau do bom, frango assado, peru para toda a gente, presunto, bolo-rei, whisky e espumante à discrição, só para oficiais. Fez-se festa, fados, anedotas, bebedeiras a enganar a miséria do nosso dia a dia.
Hoje, 26 de Dezembro, acabou o Natal e, ao almoço, regressamos às cavalas congeladas com batata cozida e, ao jantar, ao fiambre com arroz.
Isto não tem importância, importante é a ofensiva contra os guerrilheiros do PAIGC desencadeada na nossa região com o bonito nome de Estrela Telúrica. Acho que nunca ouvi tanta porrada, tantos rebentamentos, nunca Vi tantos mortos e feridos num tão curto espaço de tempo. E a tragédia vai continuar, a Estrela Telúrica prolongar-se-á por mais uma semana.
Tudo começou em grande, com três companhias de Comandos Africanos, mais os meus amigos da 38º fuzileiros e a tropa de Cadique a avançarem sobre o Cantanhez. O pessoal de Cadique começou logo a levar porrada, um morto, cinco feridos, um deles alferes, com certa gravidade.
Ontem de manhã, dia de Natal, foi a 38ª de Comandos a embrulhar, seis feridos graves, entre eles os meus amigos alferes Domingos e Almeida, hoje foram os Comandos Africanos comandados pelo meu conhecido alferes Marcelino da Mata (***) com dois mortos e quinze feridos. Chegaram com um aspecto deplorável, exaustos, enlameados, cobertos de suor e sangue. Amanhã os mortos e feridos serão talvez os fuzileiros...
No dia seguinte, outra vez Comandos ou quaisquer outros homens lançados para as labaredas da guerra. O IN, confirmados pelas NT, só contou seis mortos, mas é possível que tenha morrido muito mais gente, os Fiats a bombardear e os helicanhões a metralhar não têm tido descanso.
Na pista de Cufar regista-se um movimento de causar calafrios. Hoje temos cá dez helicópteros, dois pequenos bombardeiros T-6, três DOs, dois Nordatlas e o Dakota. A aviação está a voar quase como nos velhos tempos. Os hélis saem daqui numa formação de oito aparelhos, cada um com um grupo constituído por cinco ou seis homens, largam a tropa especial directamente no mato, se necessário os helicanhões dão a protecção necessária disparando sobre as florestas onde se escondem os guerrilheiros, depois regressam a Cufar e ficam aqui à espera que a operação se desenrole. Se há contacto com o IN e se existem feridos, os helicópteros voltam para as evacuações e ao entardecer vão buscar os grupos de combate novamente ao mato.
Ontem, alguns guerrilheiros tentaram alvejar um héli com morteiros, à distância, o que nunca costuma dar resultado.
Sem a aviação este tipo de operações era impossível. Durante estes dias, os pilotos dormem em Cufar e andam relativamente confiantes, há muito tempo que não têm amargos de boca. Os mísseis terra-ar do IN devem estar gripados porque senão, apesar dos cuidados com que se continua a voar, seria muito fácil acertar numa aeronave, com tanto movimento de aviões e hélis pelos céus do sul da Guiné.
Cufar fica a uns quinze, vinte quilómetros da zona onde as operações se desenrolam. Todos os dias, às vezes durante horas seguidas, ouvimos os rebentamentos e os tiros dos embrulhanços, das flagelações. E impressionante o potencial de fogo de parte a parte. Os guerrilheiros montam também emboscadas nos trilhos à entrada das matas onde se situam as suas aldeias. Aí, as NT começam a levar e a dar porrada, e não têm conseguido entrar nas povoações controladas pelo IN.
Natal, sul da Guiné, ano de 1973, operação Estrela Telúrica. Tudo menos paz na terra aos homens de boa vontade.
________
Notas de L.G.:
(*) Vd. último poste da série > 18 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3550: O meu Natal no Mato (16): Os meus Natais na Guiné (Luís Dias)
(**) Vd. poste de 9 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2167: Breve história da CCAÇ 4540 (Bigene, Cadique e Nhacra, 1972/74) (Vasco Ferreira)
(...) "No dia 22 de Julho de 1973 chegou a Cadique a 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4514/72 que veio render a CCAÇ 4540, Cadique a partir desta altura ficou a constituir Sede de Batalhão, 'O Batalhão do Cantanhez'.
"Foi a 17 de Agosto de 1973 que a CCAÇ 4540/72 disse adeus a Cadique no meio de copiosa chuva, que não quis colaborar na despedida, embarcando a bordo da LDG 'Montante', rumo a Bissau.
"A nossa homenagem aos Gr COMB da CCP 121, que permitiram aos nossos militares a observação do modo de comportamento e da preparação com que a tropa especial pára-quedista foi dotada para este tipo de operações. Muito se aprendeu no convívio estabelecido dentro e fora do Aquartelamento entre os militares de ambas Companhias" (...).
(***) Nota do autor, António Graça de Abreu:
"Sobre o acidentado percurso do alferes Marcelino da Mata, ver a narração pessoal da sua participação nesta guerra em Rui Rodrigues, coord., Os Últimos Guerreiros do Império, Editora Erasmos, Amadora, 1995, pp. 195-213".
Guiné 63/74 - P3653: As Boas Festas da Nossa Tabanca Grande (11) : Pepito e Isabel, do Quelélé com muito amor... e muita esperança
Guiné-Bissau > Bissau > Dezembro de 2008 > AD - Acção para o Desenvolvimento > Pepito e Isabel > Cartão de Boas festas (*) enviados aos amigos Luís Graça e Alice Carneiro e, por extensão, aos demais amigos da Guiné...
"Com os votos de muitas felicidades para 2009 e o repto de um regresso rápido a esta terra para redescobrir locais magníficos e pessoas ímpares, na companhia dos amigos Pepito e Isabel".
Comentário de L.G.:
Como eu costumo dizer, este casal de engenheiros agrónomos, Pepito e Isabel, que largaram tudo para apanhar o comboio da história, passando a viver e a trabalhar na Pátria de um deles, são um verdadeiro case study... (ou se o não são ainda, é por que há muita gente distraída por aí...) .
Graças ao nosso blogue, tornámo-nos amigos. Admiro a sua coragem, a sua dedicação, os seus valores, a sua capacidade de reunir talentos, o seu poder de fazer coisas que mudam a vida das pessoas na Guiné... Foi um privilégio, para mim, para a Alice e para muitos de nós que visitámos a Guiné em Março último, vê-los a interagir no seu meio, a receber como ninguém, a trabalhar com alto profissionalismo... Sempre amáveis, inexcedíveis, acolhedores, simpáticos, hospitaleiros... Um único defeito, que eu poderia apontar ao Pepito se o quisesse ver sentado à minha mesa de Natal: abstémio; em contraparido, perde (ou perdia...) a cabeça por uma travessa de pastéis de Belém... Fora isso, são excelentes conversadores e animadíssimos convivas... Com tantos predicados, quem é que não os quer ter na sua lista dos top ten dos amigos...verdadeiros ?!
Isabel e Pepito: Um abraço para vocês e para toda a grande família da AD... Não vamos deixar que sejam os mais pobres dos guineenses (e dos portugeses) a pagar a malvada da crise ... Que o 2009 traga consigo muitas sementes de esperança.
___________
Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste desta série > 18 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3649: As Boas Festas da Nossa Tabanca Grande (10): Que o bom Deus vos abençoe (J. Mexia Alves)
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Guiné 63/74 - P3652: Blogoterapia (83): Voltamos a pôr a Ana (e o José...) a sorrir, na nossa fotogaleria (Luís Graça)
Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > Veio de mais longe, do Fundão, das fraldas da Gardunha, a conduzir, com o seu José ao lado (que pode mas não deve fazer tantos quilómetros ao volante), só para estar com os seus (dele) camaradas da Guiné... Le coeur oblige, mon bijou... E o que tem de ser tem muita força, diz o provérbio: a doença, traiçoeira, que vem trazer negrura às nossas vidas, apreensão aos que nos amam, incerteza aos que nos rodeiam, finitude aos nossos projectos, angústia para o jantar, pesadelos às tantas da madrugada...
Nem um ai nem um ui: a Ana (Mendonça, por casamento) viveu, em silêncio, o seu drama, individual e familiar... No píncaro do Verão... Por uns tempos, o José desapareceu (ou melhor não apareceu, recolheu-se, não se expôs, preparou-se, como nos duros tempos de Mansambo, mobilizou toda a sua energia para fazer face à devastação)....
Como é que a nós, distraídos com as nossas blogarias - tu, Carlos, tu, Virgínio, eu, Luís - , não nos ocorreu que algo estava errado nessa pesada cortina de silêncio, puxada pela mão do TM, um homem com lugar ao sul e que gosta de pensar em voz alta ? ...
Há dias escrevi-lhe:
"Um bj para a tua Ana, que é uma mulher de armas e que já sei que voltou ao trabalho... A vida é dura, José, aqui ou em Mansambo... Mas também pode ser bela, se tiver afecto(s): amor, paixão, amizade, camaradagem, emoção, compaixão, poesia... Diverte-te, se puderes: 'Esta vida são dois dias e o Carnaval são três'... Mas há, pelo menos, uma certeza: 'Quem de novo não morre de velho não escapa'... Uma coisa que a guerra da Guiné não nos deu, foi serenidade... Pelo contrário, trouxe-nos inquietude (que é mais do que inquietação). Em contrapartida, aprendemos a enfrentar a morte e a não temê-la: 'Temer a morte é morrer duas vezes' ... E tu és, para nós todos, um exemplo vivo e corajoso, de como um homem pode sorrir à morte com meia cara ou meio coração, parafraseando o título da narrativa autobiográfica do grande escritor José Rodrigues Miguéis, um lisboeta de Alfama (1901) que morreu longe da Pátria, da Mátria e da Fátria (Manhattan, N.Y., 1980). Que esta tertúlia seja, ao menos para ti, um pouco da Fátria perdida em Mansambo, em Bambadinca e em tantos lugares da Guiné onde sofremos e fomos solidários"...
A Ana, que voltou ao seu JF, acompanha agora com solicitude mas também com a máxima das discrições as nossas blogarias... E há dias surpreendeu-me (e emocionou-me) com o seguinte cartão do JF onde se podia ler:
"Luís Graça: Um beijo agradecido pela simpatia posta na mensagem (de força) enviada através do Torcato e que eu li. Votos de um Feliz Natal extensivo a toda a Família. Ana Lurdes Mendonça"...
Somos, afinal, um blogue de afectos e de histórias, mas também de gente solidária... Por um momento, por uma vez ao menos, senti que valeu a pena esta tontaria de querer juntar o fio das tantas meadas, de inquirir estas tantas vidas que foram/são as nossas (parafraseando o belo título do blogie do Virgínio Briote)... Por um dia senti que também podemos fazer bem a alguém...
Senti que as palavras também podem matar, também pode ferir, também podem destruir; senti que as palavras vêm muito antes das balas, e que são as palavras que nomeiam a morte e a guerra; mas também senti que as palavras, em seu sítio, tamnbém podem dar conforto, animar, dar força... Senti-me feliz por saber que a Ana, que eu mal conheço, passou os testes todos de sobrevivência... e está apta agora para enfrentar o futuro, pronta para o que der e vier...
Hoje voltamos a pôr a Ana a sorrir, na nossa fotogaleria, como no dia 17 de Maio de 2008... Boas Festas, Ana... Quentes e boas como as castanhas da tua Cova da Beira... Há castanhas na Gardunha ? Por mim, só conhecia as cerejas, que são as melhores do mundo. E o requeijão... Ah! o requeijão do Fundão. Ah!, e o Torcato, o José, o Mendonça, o Viriato (o santo patrono da CART 2339)!... Ah!, e agora a Ana, mulher da vida do José, e nossa camariga (como diria o Tunes ou Mexia).
Hoje aumenta o meu conhecimento (e reconhecimento) da geografia do amor, da amizade, da solidariedade, da humanidade... Escrevam-lhe o nome, no quadro escuro, a giz, onde listamos as nossas mulheres, as nossas companheiras de uma vida, as nossas camarigas: Ana, simplesmente... Um exemplo de tenacidade e de coragem, para todos nós. Temos orgulho em ti, José!... Temos orgulho em ti, Ana.
Deixa-me, José, deixa-me, Ana, oferecer-vos, por fim, este poema do meu modesto poemário... Para ler nos dias de chuva miudinha e de tristeza, quando só apetece colar a cara à vidraça da janela virada para o absurdo da doença, do azar, da morte, com o maciço central da Serra da Estrela a aniquilar-nos... No fim, perceberás, Ana, e tu, José, o sentido do título..
Poemombro ou um ombro amigo
Às vezes a gente pensa
que o mundo vai desabar.
Às vezes a gente julga
que o céu vai cair
em cima das nossas cabeças.
Às vezes a gente deixa de ver.
E de sentir.
E até de pensar.
Às vezes a gente vê que não há luz.
Que estamos num túnel.
Que não há luz ao fundo do túnel.
Que há alguém que te diz:
- É o fim! Acabou-se!
Ou então:
- É bom que esqueças,
desiste,
parte para outra!
Às vezes a gente tem dúvidas.
E pergunta se vale a pena.
Se valeu a pena.
Às vezes a gente até duvida
do amor e da amizade
dos que nos amam e gostam de nós.
Às vezes a coisa parece que está feia.
Às vezes parece que tudo é feio.
Que a coisa está preta e feia.
A vida, o país, o mundo à nossa volta.
Os outros.
O marido ou a mulher.
Os filhos
Os amigos.
Os colegas de trabalho.
Os vizinhos.
Os concidadãos.
Os homens e as mulheres do teu país.
A humanidade,
por fim globalizada.
Às vezes dá-te uma enorme vontade de chorar.
E de parar no caminho.
E de chorar numa pedra do caminho.
Às vezes a gente quer desistir de caminhar.
A gente sente que lhe faltam as forças.
E que já foi longe de mais.
Que não nascemos para caminhantes.
Que já fizemos a nossa parte.
Que já cumprimos o nosso papel.
Que as pernas estão cansadas.
As pernas.
O corpo.
A alma.
Os músculos.
Os ossos.
Que andamos a caminhar há muito tempo.
Que já demos a volta ao mundo,
não sei quantas vezes.
Às vezes a gente apercebe-se
que tem uma enorme vontade de chorar.
Mas que não tem lágrimas para o fazer.
Não tem sequer forças para o fazer.
E é então que nos dá uma raiva danada.
Telúrica.
Fulminante.
Brutal.
Uma raiva de vulcão.
E descobrimos o terrível vulcão que há em nós.
E a gente, de repente,
dá de novo à chave de ignição.
... E retoma o caminho.
Querida amiga,
querido amigo:
Eu sei que não podemos competir com os vulcões.
Que só explodem de mil em mil anos.
Ou de cem mil em cem mil, tanto faz.
E que são uma força bruta da natureza.
Brutal.
Fulminante.
Telúrica.
Mas temos o direito de explodir.
De dizer o que nos vai na alma.
Temos o direito ao nosso vulcão.
Tu tens direito ao teu vulcão.
Tens direito mesmo ao teu vulcãozinho.
O direito de mostrar o que te dói
no corpo e na alma.
De chorar.
De chorar de raiva.
Ou mesmo baixinho.
A única diferença,
além da escala de tempo,
é que os vulcões não têm uma ombro amigo.
Para chorar.
Para encostar a cabeça e chorar.
No dia dos teus anos,
Ou em qualquer outro dia da semana.
Em qualquer outro dia do ano.
Sempre que te apetecer.
Sempre que te der raiva de chorar.
Se os/as amigos/as têm algum préstimo
é justamente para saber ouvir.
Ouvir, escutar, entender
mais do que falar,
analisar
ou compreender.
Para estar contigo.
Simplesmente para estar
ao pé de ti.
Ou para te segredar ao ouvido
qualquer coisa que te faça sorrir.
Ao ouvido, baixinho.
E sobretudo para te oferecer
o ombro amigo.
Pode até ter pouco préstimo
mas sempre é mais macio e quente
do que a pedra do caminho.
Foto, poema e legendas: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.
Nem um ai nem um ui: a Ana (Mendonça, por casamento) viveu, em silêncio, o seu drama, individual e familiar... No píncaro do Verão... Por uns tempos, o José desapareceu (ou melhor não apareceu, recolheu-se, não se expôs, preparou-se, como nos duros tempos de Mansambo, mobilizou toda a sua energia para fazer face à devastação)....
Como é que a nós, distraídos com as nossas blogarias - tu, Carlos, tu, Virgínio, eu, Luís - , não nos ocorreu que algo estava errado nessa pesada cortina de silêncio, puxada pela mão do TM, um homem com lugar ao sul e que gosta de pensar em voz alta ? ...
Há dias escrevi-lhe:
"Um bj para a tua Ana, que é uma mulher de armas e que já sei que voltou ao trabalho... A vida é dura, José, aqui ou em Mansambo... Mas também pode ser bela, se tiver afecto(s): amor, paixão, amizade, camaradagem, emoção, compaixão, poesia... Diverte-te, se puderes: 'Esta vida são dois dias e o Carnaval são três'... Mas há, pelo menos, uma certeza: 'Quem de novo não morre de velho não escapa'... Uma coisa que a guerra da Guiné não nos deu, foi serenidade... Pelo contrário, trouxe-nos inquietude (que é mais do que inquietação). Em contrapartida, aprendemos a enfrentar a morte e a não temê-la: 'Temer a morte é morrer duas vezes' ... E tu és, para nós todos, um exemplo vivo e corajoso, de como um homem pode sorrir à morte com meia cara ou meio coração, parafraseando o título da narrativa autobiográfica do grande escritor José Rodrigues Miguéis, um lisboeta de Alfama (1901) que morreu longe da Pátria, da Mátria e da Fátria (Manhattan, N.Y., 1980). Que esta tertúlia seja, ao menos para ti, um pouco da Fátria perdida em Mansambo, em Bambadinca e em tantos lugares da Guiné onde sofremos e fomos solidários"...
A Ana, que voltou ao seu JF, acompanha agora com solicitude mas também com a máxima das discrições as nossas blogarias... E há dias surpreendeu-me (e emocionou-me) com o seguinte cartão do JF onde se podia ler:
"Luís Graça: Um beijo agradecido pela simpatia posta na mensagem (de força) enviada através do Torcato e que eu li. Votos de um Feliz Natal extensivo a toda a Família. Ana Lurdes Mendonça"...
Somos, afinal, um blogue de afectos e de histórias, mas também de gente solidária... Por um momento, por uma vez ao menos, senti que valeu a pena esta tontaria de querer juntar o fio das tantas meadas, de inquirir estas tantas vidas que foram/são as nossas (parafraseando o belo título do blogie do Virgínio Briote)... Por um dia senti que também podemos fazer bem a alguém...
Senti que as palavras também podem matar, também pode ferir, também podem destruir; senti que as palavras vêm muito antes das balas, e que são as palavras que nomeiam a morte e a guerra; mas também senti que as palavras, em seu sítio, tamnbém podem dar conforto, animar, dar força... Senti-me feliz por saber que a Ana, que eu mal conheço, passou os testes todos de sobrevivência... e está apta agora para enfrentar o futuro, pronta para o que der e vier...
Hoje voltamos a pôr a Ana a sorrir, na nossa fotogaleria, como no dia 17 de Maio de 2008... Boas Festas, Ana... Quentes e boas como as castanhas da tua Cova da Beira... Há castanhas na Gardunha ? Por mim, só conhecia as cerejas, que são as melhores do mundo. E o requeijão... Ah! o requeijão do Fundão. Ah!, e o Torcato, o José, o Mendonça, o Viriato (o santo patrono da CART 2339)!... Ah!, e agora a Ana, mulher da vida do José, e nossa camariga (como diria o Tunes ou Mexia).
Hoje aumenta o meu conhecimento (e reconhecimento) da geografia do amor, da amizade, da solidariedade, da humanidade... Escrevam-lhe o nome, no quadro escuro, a giz, onde listamos as nossas mulheres, as nossas companheiras de uma vida, as nossas camarigas: Ana, simplesmente... Um exemplo de tenacidade e de coragem, para todos nós. Temos orgulho em ti, José!... Temos orgulho em ti, Ana.
Deixa-me, José, deixa-me, Ana, oferecer-vos, por fim, este poema do meu modesto poemário... Para ler nos dias de chuva miudinha e de tristeza, quando só apetece colar a cara à vidraça da janela virada para o absurdo da doença, do azar, da morte, com o maciço central da Serra da Estrela a aniquilar-nos... No fim, perceberás, Ana, e tu, José, o sentido do título..
Poemombro ou um ombro amigo
Às vezes a gente pensa
que o mundo vai desabar.
Às vezes a gente julga
que o céu vai cair
em cima das nossas cabeças.
Às vezes a gente deixa de ver.
E de sentir.
E até de pensar.
Às vezes a gente vê que não há luz.
Que estamos num túnel.
Que não há luz ao fundo do túnel.
Que há alguém que te diz:
- É o fim! Acabou-se!
Ou então:
- É bom que esqueças,
desiste,
parte para outra!
Às vezes a gente tem dúvidas.
E pergunta se vale a pena.
Se valeu a pena.
Às vezes a gente até duvida
do amor e da amizade
dos que nos amam e gostam de nós.
Às vezes a coisa parece que está feia.
Às vezes parece que tudo é feio.
Que a coisa está preta e feia.
A vida, o país, o mundo à nossa volta.
Os outros.
O marido ou a mulher.
Os filhos
Os amigos.
Os colegas de trabalho.
Os vizinhos.
Os concidadãos.
Os homens e as mulheres do teu país.
A humanidade,
por fim globalizada.
Às vezes dá-te uma enorme vontade de chorar.
E de parar no caminho.
E de chorar numa pedra do caminho.
Às vezes a gente quer desistir de caminhar.
A gente sente que lhe faltam as forças.
E que já foi longe de mais.
Que não nascemos para caminhantes.
Que já fizemos a nossa parte.
Que já cumprimos o nosso papel.
Que as pernas estão cansadas.
As pernas.
O corpo.
A alma.
Os músculos.
Os ossos.
Que andamos a caminhar há muito tempo.
Que já demos a volta ao mundo,
não sei quantas vezes.
Às vezes a gente apercebe-se
que tem uma enorme vontade de chorar.
Mas que não tem lágrimas para o fazer.
Não tem sequer forças para o fazer.
E é então que nos dá uma raiva danada.
Telúrica.
Fulminante.
Brutal.
Uma raiva de vulcão.
E descobrimos o terrível vulcão que há em nós.
E a gente, de repente,
dá de novo à chave de ignição.
... E retoma o caminho.
Querida amiga,
querido amigo:
Eu sei que não podemos competir com os vulcões.
Que só explodem de mil em mil anos.
Ou de cem mil em cem mil, tanto faz.
E que são uma força bruta da natureza.
Brutal.
Fulminante.
Telúrica.
Mas temos o direito de explodir.
De dizer o que nos vai na alma.
Temos o direito ao nosso vulcão.
Tu tens direito ao teu vulcão.
Tens direito mesmo ao teu vulcãozinho.
O direito de mostrar o que te dói
no corpo e na alma.
De chorar.
De chorar de raiva.
Ou mesmo baixinho.
A única diferença,
além da escala de tempo,
é que os vulcões não têm uma ombro amigo.
Para chorar.
Para encostar a cabeça e chorar.
No dia dos teus anos,
Ou em qualquer outro dia da semana.
Em qualquer outro dia do ano.
Sempre que te apetecer.
Sempre que te der raiva de chorar.
Se os/as amigos/as têm algum préstimo
é justamente para saber ouvir.
Ouvir, escutar, entender
mais do que falar,
analisar
ou compreender.
Para estar contigo.
Simplesmente para estar
ao pé de ti.
Ou para te segredar ao ouvido
qualquer coisa que te faça sorrir.
Ao ouvido, baixinho.
E sobretudo para te oferecer
o ombro amigo.
Pode até ter pouco préstimo
mas sempre é mais macio e quente
do que a pedra do caminho.
Foto, poema e legendas: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Guiné 63/74 - P3651: Estórias do Zé Teixeira (32): Um Pide, um marabu e um balanta de Bula que se converte ao Islamismo (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf)
1. Mensagem de José Teixeira, ex-1.º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/70, com data de 16 de Dezembro de 2008
Carlos
Boa noite
Junto texto sobre uma história de conversão ao Islamismo.
Fraternal abraço
José Teixeira
Há dias tive o grato prazer de conhecer um guineense que se encontra em Portugal a cursar Psicologia.
Reportando-se à sua origem balanta, contou-me a história da conversão da sua família ao Islamismo, que nada teria de interesse se a política do Estado português de então não tivesse uma interferência directa no assunto.
Seus pais eram naturais dos arredores de Bula, onde possuíam uma lala que exploravam, sendo sustento de toda a família.
Em meados da década de 50 o seu pai contraiu a tuberculose, pelo que tiveram de vir para Bissau, com o objectivo de tentar a cura, o que conseguiu.
Recuperado da doença, a família pensou em voltar para Bula, onde tinham a lala sua base de sustentação. Entretanto deram-se os acontecimentos no Cais do Pdjiguiti. Na sequência deste acontecimento e numa tentativa de exploração a seu favor, o PAIGC, dinamizou toda uma campanha de mobilização em Bissau, notando-se uma fuga de africanos para o mato e alistagem no Partido.
A reacção do Governo português não se fez esperar, tendo decretado que quem estivesse interessado em ausentar-se de Bissau para o interior da Província tinha de se fazer portador de um salvo conduto emitido pela autoridade civil mais próxima da sua residência, caso contrário, se fosse encontrado pelas autoridades civis ou militares seria detido e considerado inimigo da Pátria, com as consequências que não são difíceis de adivinhar.
O pai do meu amigo, deslocou-se ao Posto civil mais próximo, nos arredores de Bissau a requisitar o salvo conduto para se poder deslocar para a sua terra. Um Cipaio seu vizinho, apercebeu-se da situação e foi a sua casa discretamente avisá-lo para não ir buscar o salvo conduto, dado que a Pide, logo de seguida o iria prender, como estava a fazer com todos os que tomavam esta iniciativa.
Face a este conselho, o pai do meu amigo, não foi levantar o salvo conduto no dia previsto e manteve-se por Bissau, mais uns tempos.
Passados uns dias, apareceu no lugar onde morava um agente da Pide a perguntar por ele. Dirigiu-se a um marabu(*) que se encontrava sentado à sombra de um mangueiro e tendo a seu lado o pai do meu amigo, pois eram vizinhos.
Claro que ao ouvir o seu nome, ficou assustado, mas o marabu com toda a calma informou que conhecendo toda a população local, tal nome não lhe dizia nada. Disse mesmo:
- Este aqui é meu filho e chama-se XPTO - um nome afecto à sua família para não criar suspeitas.
O Pide lá se foi embora, continuando a sua pesquisa, presumindo com certeza que o indivíduo que procurava se tinha ausentado para o mato, dado que nunca mais apareceu por aquelas bandas.
Comovido pela atitude do marabu que o salvou da prisão, dedicou-lhe uma amizade profunda tendo-se convertido ao Islão com toda a sua família.
A vida continuou, apareceram mais filhos, aos quais foram dados nomes próprios e sobrenomes da família do marabu. Um deles hoje é padre católico.
(*) Muçulmano que dirige as orações nas Mesquitas e da formação catequética das crianças. Pessoa querida pela postura na vida e pelo respeito que merece face ao posto que ocupa na religião, tal como os nossos padres das Igrejas Cristãs.
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 3 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3559: Estórias do Zé Teixeira (30): Aquele Minuto (José Teixeira)
Carlos
Boa noite
Junto texto sobre uma história de conversão ao Islamismo.
Fraternal abraço
José Teixeira
Há dias tive o grato prazer de conhecer um guineense que se encontra em Portugal a cursar Psicologia.
Reportando-se à sua origem balanta, contou-me a história da conversão da sua família ao Islamismo, que nada teria de interesse se a política do Estado português de então não tivesse uma interferência directa no assunto.
Seus pais eram naturais dos arredores de Bula, onde possuíam uma lala que exploravam, sendo sustento de toda a família.
Em meados da década de 50 o seu pai contraiu a tuberculose, pelo que tiveram de vir para Bissau, com o objectivo de tentar a cura, o que conseguiu.
Recuperado da doença, a família pensou em voltar para Bula, onde tinham a lala sua base de sustentação. Entretanto deram-se os acontecimentos no Cais do Pdjiguiti. Na sequência deste acontecimento e numa tentativa de exploração a seu favor, o PAIGC, dinamizou toda uma campanha de mobilização em Bissau, notando-se uma fuga de africanos para o mato e alistagem no Partido.
A reacção do Governo português não se fez esperar, tendo decretado que quem estivesse interessado em ausentar-se de Bissau para o interior da Província tinha de se fazer portador de um salvo conduto emitido pela autoridade civil mais próxima da sua residência, caso contrário, se fosse encontrado pelas autoridades civis ou militares seria detido e considerado inimigo da Pátria, com as consequências que não são difíceis de adivinhar.
O pai do meu amigo, deslocou-se ao Posto civil mais próximo, nos arredores de Bissau a requisitar o salvo conduto para se poder deslocar para a sua terra. Um Cipaio seu vizinho, apercebeu-se da situação e foi a sua casa discretamente avisá-lo para não ir buscar o salvo conduto, dado que a Pide, logo de seguida o iria prender, como estava a fazer com todos os que tomavam esta iniciativa.
Face a este conselho, o pai do meu amigo, não foi levantar o salvo conduto no dia previsto e manteve-se por Bissau, mais uns tempos.
Passados uns dias, apareceu no lugar onde morava um agente da Pide a perguntar por ele. Dirigiu-se a um marabu(*) que se encontrava sentado à sombra de um mangueiro e tendo a seu lado o pai do meu amigo, pois eram vizinhos.
Claro que ao ouvir o seu nome, ficou assustado, mas o marabu com toda a calma informou que conhecendo toda a população local, tal nome não lhe dizia nada. Disse mesmo:
- Este aqui é meu filho e chama-se XPTO - um nome afecto à sua família para não criar suspeitas.
O Pide lá se foi embora, continuando a sua pesquisa, presumindo com certeza que o indivíduo que procurava se tinha ausentado para o mato, dado que nunca mais apareceu por aquelas bandas.
Comovido pela atitude do marabu que o salvou da prisão, dedicou-lhe uma amizade profunda tendo-se convertido ao Islão com toda a sua família.
A vida continuou, apareceram mais filhos, aos quais foram dados nomes próprios e sobrenomes da família do marabu. Um deles hoje é padre católico.
(*) Muçulmano que dirige as orações nas Mesquitas e da formação catequética das crianças. Pessoa querida pela postura na vida e pelo respeito que merece face ao posto que ocupa na religião, tal como os nossos padres das Igrejas Cristãs.
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 3 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3559: Estórias do Zé Teixeira (30): Aquele Minuto (José Teixeira)
Guiné 63/74 - P3650: O meu Natal no Mato (16): Os meus Natais na Guiné (Luís Dias)
1. Mensagem de Luís Dias, ex-Alf Mil da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74, com data de 16 de Dezembro de 2008:
Caros Editores
Incluso um pequeno texto sobre os meus Natais na Guiné, caso o entendam publicar.
E aproveitando a época natalícia quero desejar aos Editores e respectivas famílias um óptimo Natal e um Feliz Ano Novo.
Um abraço
Luís Dias
2. Natais na Guiné
O início da nossa comissão na Guiné não poderia ter data tão manifestamente importante para todos aqueles que sentem a época natalícia. A CCAÇ 3491, integrada no BCAÇ 3872, chegou a Bissau a 24 de Dezembro de 1971, na véspera do primeiro de três Natais que iríamos passar naquele território.
Desembarcámos do navio Angra do Heroísmo, no Cais de Pidjiquiti, fardados de camuflado e com um calor e humidade que o colavam à nossa pele e ouvindo as bocas de periquito vai para o mato, dos estivadores negros e de quem assistia aos primeiros passos daqueles jovens em terras de África, saídos poucos dias antes da Metrópole e roubados ao sossego das suas vidas. Seguimos em viaturas civis para o Cumeré, onde o Batalhão ficaria instalado para o IAO e passaria aquela primeira noite.
Lembro-me de jantarmos bacalhau, de termos estado a ouvir o cantor Marco Paulo ao vivo (também esteve na Guiné) e quando já estava no quarto com os meus camaradas, por volta das 22/23 horas, fomos surpreendidos com disparos de artilharia ou de outras armas pesadas, que do quartel batiam a zona, em virtude de um flagelação inimiga a um destacamento próximo.
A correria para uma espécie de valas que existiam envolta da parada do quartel, ou para debaixo das camas, foi geral, pois todos pensávamos que estávamos a sofrer um ataque do IN. Foi o primeiro de muitos sustos e com alguns feridos ligeiros à mistura, porque nessa espécie de valas, onde alguns procuraram esconder-se, existiam muitas garrafas de cerveja partidas que cortaram muitos incautos.
Ficámos logo a saber que mesmo perto de Bissau, a pressão do IN podia fazer-se sentir – a guerra estava logo ali – e, meses mais tarde, aquando da passagem pela capital da Guiné a caminho de Lisboa para umas merecidas férias, assisti da messe de oficiais a um ataque a Jabadá, que se situava do outro lado do Rio Geba, quase em frente à principal cidade do CTIG.
Foi um Natal estranho, diferente, sem a companhia da família, imaginando que eles estavam todos juntos em casa dos meus pais. Senti bastante os milhares de quilómetros que nos separavam. Foi triste! Sei também que os meus familiares sofreram com a minha partida e com a minha falta à mesa de Natal e que os meus pais tiveram que ter o apoio, felizmente sempre presente, do meu tio Armando e da minha tia Bernardete. Este foi o primeiro Natal na Guiné, mas não seria o último.
Em Dezembro de 1972, depois de ter frequentado o Estágio das Unidades Africanas em Bolama e S. João, sob o Comando do então Major Coutinho e Lima, pessoa que me pareceu um excelente militar e um excelente ser humano, consegui regressar à minha Companhia, a tempo de passar o Natal com o meu pessoal, no nosso Dulombi. O poder contar-lhes as minhas aventuras durante o estágio, onde sofremos um ataque do PAIGC, a 13 de Dezembro (comandado pelo actual presidente da Guiné-Bissau, Nino Vieira, com recurso a canhões sem recuo e morteiros pesados e contando com o apoio de militares cubanos) e como decorrera o restante estágio. Foi a festa possível, com cânticos e algumas lágrimas de saudade. Estávamos também em alerta, dado que no princípio desse mês o IN atacara fortemente a sede do batalhão (Galomaro). Comemos o famoso bacalhau liofilizado, mas com a esperança – por sinal errada – que seria o último que passaríamos na Guiné e que em 1973 estaríamos no seio das nossas famílias.
No ano seguinte o meu Grupo de Combate, depois de ter estado uma temporada em apoio ao Batalhão de Piche, passou a prestar apoio ao Batalhão de Nova Lamego, tendo passado ainda por Pirada. Soubemos, entretanto, que não obstante a comissão ter terminado em Outubro, só seríamos substituídos em 1974. Víamos camaradas que tinham vindo em rendição individual e com menos tempo do que nós partirem e nós nada. Esta situação, aliada ao problema dos mísseis terra-ar que tornavam as evacuações dos feridos em combate no mato bastante difíceis, tinham proporcionado um abaixamento do moral das nossas tropas, implicando um trabalho psicológico acrescido para os graduados, para que a disciplina e as regras de segurança, em especial em operações, se mantivessem em elevado grau de eficiência.
Um Natal nestas condições, com o sonho desfeito de voltarmos a casa no tempo previsto, com 24 meses de Guiné já cumpridos e estando fora da Companhia, foram difíceis de gerir e de digerir e os sentimentos que lavravam entre todos nós, eram um misto de revolta e de raiva. Lembro-me que, após a ceia de Natal em Nova Lamego, o Grupo de Combate, pela meia-noite, foi para o mato, substituir outros camaradas que estavam desde o fim da tarde emboscados, para que eles pudessem também vir comer a ceia. Ali ficámos a fazer segurança até ao alvorecer, cada um a pensar, com certeza, na importância de mais um Natal afastado da sua terra, da sua família, dos entes queridos.
Foi efectivamente o último, mas regressámos vivos e voltámos a comemorar estas datas com as nossas famílias e amigos. Outros, infelizmente, não tiveram a mesma sorte, porque a boa estrela perderam, numa qualquer picada, trilho, vala, ou bolanha, nas terras da Guiné.
Digo-vos caros camaradas que desde esses tempos passei a ver o Natal com outro olhar… com outro sentimento.
Aproveito a oportunidade para desejar a todos aqueles que nos lêem, em especial aos amigos e camaradas da Tabanca Grande e aos elementos da CCAÇ 3491, um Bom Natal e um Ano Novo Próspero, extensivo às respectivas famílias e que a Boa Estrela nos guie.
Luís Dias
_______________
Notas de CV:
Vd. último poste da série de 16 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3636: O meu Natal no mato (15): Salsichas com arroz na messe de Sargentos, na Consoada de 1968... (Jorge Teixeira)
Vd. último poste de Luís Dias, de 8 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3037: Os nossos regressos (8): E vieram todos. Luís Dias.
Caros Editores
Incluso um pequeno texto sobre os meus Natais na Guiné, caso o entendam publicar.
E aproveitando a época natalícia quero desejar aos Editores e respectivas famílias um óptimo Natal e um Feliz Ano Novo.
Um abraço
Luís Dias
2. Natais na Guiné
O início da nossa comissão na Guiné não poderia ter data tão manifestamente importante para todos aqueles que sentem a época natalícia. A CCAÇ 3491, integrada no BCAÇ 3872, chegou a Bissau a 24 de Dezembro de 1971, na véspera do primeiro de três Natais que iríamos passar naquele território.
Desembarcámos do navio Angra do Heroísmo, no Cais de Pidjiquiti, fardados de camuflado e com um calor e humidade que o colavam à nossa pele e ouvindo as bocas de periquito vai para o mato, dos estivadores negros e de quem assistia aos primeiros passos daqueles jovens em terras de África, saídos poucos dias antes da Metrópole e roubados ao sossego das suas vidas. Seguimos em viaturas civis para o Cumeré, onde o Batalhão ficaria instalado para o IAO e passaria aquela primeira noite.
Lembro-me de jantarmos bacalhau, de termos estado a ouvir o cantor Marco Paulo ao vivo (também esteve na Guiné) e quando já estava no quarto com os meus camaradas, por volta das 22/23 horas, fomos surpreendidos com disparos de artilharia ou de outras armas pesadas, que do quartel batiam a zona, em virtude de um flagelação inimiga a um destacamento próximo.
A correria para uma espécie de valas que existiam envolta da parada do quartel, ou para debaixo das camas, foi geral, pois todos pensávamos que estávamos a sofrer um ataque do IN. Foi o primeiro de muitos sustos e com alguns feridos ligeiros à mistura, porque nessa espécie de valas, onde alguns procuraram esconder-se, existiam muitas garrafas de cerveja partidas que cortaram muitos incautos.
Ficámos logo a saber que mesmo perto de Bissau, a pressão do IN podia fazer-se sentir – a guerra estava logo ali – e, meses mais tarde, aquando da passagem pela capital da Guiné a caminho de Lisboa para umas merecidas férias, assisti da messe de oficiais a um ataque a Jabadá, que se situava do outro lado do Rio Geba, quase em frente à principal cidade do CTIG.
Foi um Natal estranho, diferente, sem a companhia da família, imaginando que eles estavam todos juntos em casa dos meus pais. Senti bastante os milhares de quilómetros que nos separavam. Foi triste! Sei também que os meus familiares sofreram com a minha partida e com a minha falta à mesa de Natal e que os meus pais tiveram que ter o apoio, felizmente sempre presente, do meu tio Armando e da minha tia Bernardete. Este foi o primeiro Natal na Guiné, mas não seria o último.
Em Dezembro de 1972, depois de ter frequentado o Estágio das Unidades Africanas em Bolama e S. João, sob o Comando do então Major Coutinho e Lima, pessoa que me pareceu um excelente militar e um excelente ser humano, consegui regressar à minha Companhia, a tempo de passar o Natal com o meu pessoal, no nosso Dulombi. O poder contar-lhes as minhas aventuras durante o estágio, onde sofremos um ataque do PAIGC, a 13 de Dezembro (comandado pelo actual presidente da Guiné-Bissau, Nino Vieira, com recurso a canhões sem recuo e morteiros pesados e contando com o apoio de militares cubanos) e como decorrera o restante estágio. Foi a festa possível, com cânticos e algumas lágrimas de saudade. Estávamos também em alerta, dado que no princípio desse mês o IN atacara fortemente a sede do batalhão (Galomaro). Comemos o famoso bacalhau liofilizado, mas com a esperança – por sinal errada – que seria o último que passaríamos na Guiné e que em 1973 estaríamos no seio das nossas famílias.
No ano seguinte o meu Grupo de Combate, depois de ter estado uma temporada em apoio ao Batalhão de Piche, passou a prestar apoio ao Batalhão de Nova Lamego, tendo passado ainda por Pirada. Soubemos, entretanto, que não obstante a comissão ter terminado em Outubro, só seríamos substituídos em 1974. Víamos camaradas que tinham vindo em rendição individual e com menos tempo do que nós partirem e nós nada. Esta situação, aliada ao problema dos mísseis terra-ar que tornavam as evacuações dos feridos em combate no mato bastante difíceis, tinham proporcionado um abaixamento do moral das nossas tropas, implicando um trabalho psicológico acrescido para os graduados, para que a disciplina e as regras de segurança, em especial em operações, se mantivessem em elevado grau de eficiência.
Um Natal nestas condições, com o sonho desfeito de voltarmos a casa no tempo previsto, com 24 meses de Guiné já cumpridos e estando fora da Companhia, foram difíceis de gerir e de digerir e os sentimentos que lavravam entre todos nós, eram um misto de revolta e de raiva. Lembro-me que, após a ceia de Natal em Nova Lamego, o Grupo de Combate, pela meia-noite, foi para o mato, substituir outros camaradas que estavam desde o fim da tarde emboscados, para que eles pudessem também vir comer a ceia. Ali ficámos a fazer segurança até ao alvorecer, cada um a pensar, com certeza, na importância de mais um Natal afastado da sua terra, da sua família, dos entes queridos.
Foi efectivamente o último, mas regressámos vivos e voltámos a comemorar estas datas com as nossas famílias e amigos. Outros, infelizmente, não tiveram a mesma sorte, porque a boa estrela perderam, numa qualquer picada, trilho, vala, ou bolanha, nas terras da Guiné.
Digo-vos caros camaradas que desde esses tempos passei a ver o Natal com outro olhar… com outro sentimento.
Aproveito a oportunidade para desejar a todos aqueles que nos lêem, em especial aos amigos e camaradas da Tabanca Grande e aos elementos da CCAÇ 3491, um Bom Natal e um Ano Novo Próspero, extensivo às respectivas famílias e que a Boa Estrela nos guie.
Luís Dias
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Notas de CV:
Vd. último poste da série de 16 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3636: O meu Natal no mato (15): Salsichas com arroz na messe de Sargentos, na Consoada de 1968... (Jorge Teixeira)
Vd. último poste de Luís Dias, de 8 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3037: Os nossos regressos (8): E vieram todos. Luís Dias.
Guiné 63/74 - P3649: As Boas Festas da Nossa Tabanca Grande (10): Que o bom Deus vos abençoe (J. Mexia Alves)
(Re)lembrando as noites frias de Dezembro, no Xitole, no Udunduma, no Mato Cão, em Mansoa...
Foto: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem (natalícia) (*) do Joaquim Mexia Alves:
«E o amor de Deus manifestou-se desta forma
no meio de nós:
Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito,
para que, por Ele, tenhamos a vida.»
1 Jo 4,9
Meus camarigos:
Podemos viver o Natal de muitas maneiras,
mas a verdade é que o Natal existe
porque se comemora, ou melhor, se faz memorial
do Nascimento de Cristo,
Filho de Deus,
no meio dos homens,
como Homem igual a nós em tudo,
excepto no pecado.
Podemos acreditar,
ou até não acreditar,
mas quer queiramos quer não,
todos entendemos o Natal
como uma festa da família
e como festa da família
que é uma festa de amor.
Sem medo das palavras,
hoje em dia tão mal utilizadas,
é isso que agora vos quero deixar
... o amor!
O amor a vós
e a todos os homens de boa vontade,
e até àqueles que não têm boa vontade.
O amor aos que nos combateram
e aos que connosco combateram.
O amor aos que concordam connosco
e o amor aos que de nós discordam.
O amor aos que nos perdoam
e àqueles a quem nós perdoamos,
àqueles a quem pedimos perdão
e até àqueles que não nos conseguem perdoar
e aos que temos dificuldades de perdoar.
O amor a todos sem excepção,
porque só assim se pode entender o Natal.
Neste Natal desejo sobretudo a todos vós,
homens de rija têmpera
que souberam combater,
que souberam abraçar,
que souberam viver a amizade
daqueles que entregam a própria vida pela vida dos outros,
que saibamos dar testemunho
de solidariedade,
de fraternidade,
de entreajuda,
neste mundo egoísta
que se fecha cada vez mais em si próprio.
Que o bom Deus em quem acredito
com toda a força do meu ser,
vos abençoe
na paz,
na alegria,
na abundância de vida.
Abraço muito amigo, muito camarigo, do
Joaquim Mexia Alves,
ex-Alf Mil Op Esp
CART 3492/BART 3873 (Xitole / Ponte dos Fulas),
Pel Caç Nat 52 (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão)e CCAÇ 15 (Mansoa) (1971/73)
Fixação do texto: L.G.
____________
Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste da série > 18 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3645: As Boas-Festas da Nossa Tabanca Grande (9): Cartões de Natal de Sousa de Castro, António Santos e Mário Fitas
Foto: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem (natalícia) (*) do Joaquim Mexia Alves:
«E o amor de Deus manifestou-se desta forma
no meio de nós:
Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito,
para que, por Ele, tenhamos a vida.»
1 Jo 4,9
Meus camarigos:
Podemos viver o Natal de muitas maneiras,
mas a verdade é que o Natal existe
porque se comemora, ou melhor, se faz memorial
do Nascimento de Cristo,
Filho de Deus,
no meio dos homens,
como Homem igual a nós em tudo,
excepto no pecado.
Podemos acreditar,
ou até não acreditar,
mas quer queiramos quer não,
todos entendemos o Natal
como uma festa da família
e como festa da família
que é uma festa de amor.
Sem medo das palavras,
hoje em dia tão mal utilizadas,
é isso que agora vos quero deixar
... o amor!
O amor a vós
e a todos os homens de boa vontade,
e até àqueles que não têm boa vontade.
O amor aos que nos combateram
e aos que connosco combateram.
O amor aos que concordam connosco
e o amor aos que de nós discordam.
O amor aos que nos perdoam
e àqueles a quem nós perdoamos,
àqueles a quem pedimos perdão
e até àqueles que não nos conseguem perdoar
e aos que temos dificuldades de perdoar.
O amor a todos sem excepção,
porque só assim se pode entender o Natal.
Neste Natal desejo sobretudo a todos vós,
homens de rija têmpera
que souberam combater,
que souberam abraçar,
que souberam viver a amizade
daqueles que entregam a própria vida pela vida dos outros,
que saibamos dar testemunho
de solidariedade,
de fraternidade,
de entreajuda,
neste mundo egoísta
que se fecha cada vez mais em si próprio.
Que o bom Deus em quem acredito
com toda a força do meu ser,
vos abençoe
na paz,
na alegria,
na abundância de vida.
Abraço muito amigo, muito camarigo, do
Joaquim Mexia Alves,
ex-Alf Mil Op Esp
CART 3492/BART 3873 (Xitole / Ponte dos Fulas),
Pel Caç Nat 52 (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão)e CCAÇ 15 (Mansoa) (1971/73)
Fixação do texto: L.G.
____________
Nota de L.G.:
(*) Vd. último poste da série > 18 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3645: As Boas-Festas da Nossa Tabanca Grande (9): Cartões de Natal de Sousa de Castro, António Santos e Mário Fitas
Guiné 63/74 - P3648: Pensar em Voz Alta (Torcato Mendonça) (18): Guileje ainda é cedo, Saiegh 18/12/78: foi há trinta anos...
MEMÓRIAS ou PENSAR em VOZ ALTA
Torcato Mendonça
1 - Não sei ao certo se “Penso em Voz Alta” ou o faça só para mim.
Pensar só para mim foi um recalcamento de anos. Um esconder, um calar uma parte do meu passado, tão curto e tão intensamente vivido.
Uma Memória, uma velha, cada vez a ficar mais velha recordação da passagem pela guerra da Guiné.
E porquê? Para quê tentar esconder ou recalcar essa memória que, em nada envergonha essa parte, enquanto jovem, do meu passado. Pelo contrário.
Por isso:
E porquê? Para quê tentar esconder ou recalcar essa memória que, em nada envergonha essa parte, enquanto jovem, do meu passado. Pelo contrário.
Por isso:
Hoje, pela manhã abri o Blogue e li ao rolar do rato. Apareceu Peniche e o “Cerro do Cão”. Parei a pensar um pouco, somente um pouco. Afazeres e compromissos vários, obrigaram-me a sair. Não me impediram de pensar.
Agora, com a noite fria a bater lá fora gelando esta Cova entre serras, recolhi ao lar e reli o texto. Mais calmamente e, curiosamente ou nem por isso, identifico-me com que lá foi escrito.
Senti essa maneira de pensar e recordar o passado, certo passado comum a tantos homens. Não só no apelo á memória e a torná-la presente, mas também o encontro com velhos companheiros ou camaradas, daquela parte comum de vida. Depois conviver novamente em recordação desse passado e, aos poucos, sentir a alegria do encontro, do convívio.
Só que há um custo: Há sempre um custo. A este chama-se despedida, afastamento e até para o ano ou para a próxima, que se quer logo ali.
Mas vale a pena. Não sou muito assíduo destes encontros. A minha vida corrida …! Prefiro contudo justificar, até porque o sinto com a frase ”Dói-nos muito comparar o que somos e o que fazemos com o que fomos e o que fizemos”…
2 – Parece que não, talvez seja pensar pelo absurdo, para mim claro, mas podemos entroncar o que atrás foi dito com a sondagem sobre o abandono de Guileje.
Quando a vi, á esquerda da página do Blogue disse para mim:
- É prematura. Devia esperar-se um pouco mais. Possivelmente não terei razão. Possivelmente há pessoas com ideias já formadas. Possivelmente há…só que a mim ainda me faltam documentos de análise. O livro pode ser uma ajuda.
Quando foi público o telefone do Coronel Coutinho e Lima entrei em contacto com ele. Falei com a esposa e posteriormente o Coronel ligou-me. Depois da apresentação enviava-me o livro. Espero por isso. Preciso de o ler. Necessito conhecer, a versão de quem decidiu abandonar um aquartelamento.
Sempre me questionei sobre tão melindrosa tomada de decisão. Não tenho opinião formada. Fui treinado para vencer. A divisa do Capitão Comando Zacarias Saiegh, assassinado em 18 de Dezembro de 1978, era “Matar ou Morrer”.
Pode haver quem não apoie ou concorde. Pode haver quem concorde. Pode haver…na guerra elimina-se o inimigo, abate-se…e não se mata.
Só que fomos treinados para morrer se necessário, para cumprir e fazer cumprir ordens.
Só que dar ordens não é fácil. Em jogo estão a vida de homens. O erro, a ordem indevida pode provocar a morte de quem comandamos. E o inverso?
Só que fomos treinados para morrer se necessário, para cumprir e fazer cumprir ordens.
Só que dar ordens não é fácil. Em jogo estão a vida de homens. O erro, a ordem indevida pode provocar a morte de quem comandamos. E o inverso?
Fui um simples oficial subalterno, um soldado, do Senhor Marechal António de Spínola, Brigadeiro e depois General enquanto estive na Guiné. Respeitei-o e respeito a sua memória. Por ora é suficiente.
Conheço o Senhor Coronel Alexandre Coutinho e Lima. Respeito-o. Nada mais adianto. Não tenho o direito, legitimidade e os conhecimentos para opinar. Qualquer juízo será pessoal e só a ele o diria. Vou ler o livro.
Acrescentar algo mais é dispensável. Seria pretensioso de minha parte.
3 – Parei aqui, jantei e passado tempo voltei ao blogue.
Acrescentar algo mais é dispensável. Seria pretensioso de minha parte.
3 – Parei aqui, jantei e passado tempo voltei ao blogue.
Espanto meu Os Guias. Falavam deles, de guias que no meu tempo foram (os que me guiaram) amigos, camaradas. Outros, antigos combatentes do PAIGC, depois das missões eram entregues a quem de direito…agora leio, releio e…foi aqui escrito que eram abatidos alguns…Aguiar (não da Beira – de malvadez)?! Quando, onde e porquê trazer isso á colação?
Porquê?
Lembrei-me do tal “Sítio de Afectos”, do tal lugar, sitio, site ou o que lhe queiram chamar, onde, velhos combatentes, escrevem, desabafam, contam estórias dentro de regras (X dez) definidas. Divergem, convergem – convivem.
De quando em vez um pequeno desvio. Lógico, normal e, até, salutar. Não mais que um desvio, um pequeno desvio…Aguiar, ainda por cima pior que isso…Aguiar só da Beira (vou ver o mapa), fiquei, geograficamente, confuso.
4 – Ainda o Cherno Rachide.
É uma figura incontornável da Guiné.
O Poder dele, talvez, quem sabe, era tal que os 82, os 122 e eteceteras se desviavam de Quebo e quedavam-se por outro lado…quem sabe? Quem sabe…malhas que o Império teceu…
5 – De facto sinto a “velhice”.
Mas o Apocalipse Now, A Dança das Valquírias, a loucura…ficam…marcam-me, dizem-me que o soldado Português, com Viras e Fados, era melhor combatente.
Lá, cá, na solidão, na alegria ou tristeza, gosto de música clássica em alto som. Precisava dela agora. Fico-me pelo “ Oceano Pacifico “ na R.F.M.
Lembrei-me do tal “Sítio de Afectos”, do tal lugar, sitio, site ou o que lhe queiram chamar, onde, velhos combatentes, escrevem, desabafam, contam estórias dentro de regras (X dez) definidas. Divergem, convergem – convivem.
De quando em vez um pequeno desvio. Lógico, normal e, até, salutar. Não mais que um desvio, um pequeno desvio…Aguiar, ainda por cima pior que isso…Aguiar só da Beira (vou ver o mapa), fiquei, geograficamente, confuso.
4 – Ainda o Cherno Rachide.
É uma figura incontornável da Guiné.
O Poder dele, talvez, quem sabe, era tal que os 82, os 122 e eteceteras se desviavam de Quebo e quedavam-se por outro lado…quem sabe? Quem sabe…malhas que o Império teceu…
5 – De facto sinto a “velhice”.
Mas o Apocalipse Now, A Dança das Valquírias, a loucura…ficam…marcam-me, dizem-me que o soldado Português, com Viras e Fados, era melhor combatente.
Lá, cá, na solidão, na alegria ou tristeza, gosto de música clássica em alto som. Precisava dela agora. Fico-me pelo “ Oceano Pacifico “ na R.F.M.
__________
Notas de vb:
1. Torcato Mendonça, ex-Alf Mil, CART 2339, Mansambo, 1968/69
2. Último artigo da série em
25 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3517: Blogoterapia (70): Pensar em voz alta (Torcato Mendonça)
Guiné 63/74 - P3647: Banco do Afecto contra a Solidão (3): Regueirão, a Avenida da Desesperança. (Jorge Cabral)
Mensagem do Jorge Cabral
Amigos
Envio apontamento para a nova série, mas principalmente Votos de Bom Natal.
E que a Solidariedade nos ilumine a todos, e nos faça entender que não somos Nós e os Outros, mas somos todos Nós.
Abraços Grandes
Jorge Cabral
Os Meus Amigos do Regueirão dos Anjos
Jorge Cabral
Quase não é uma rua, o Regueirão. Beco comprido à ilharga do Banco, não aparece em nenhum Roteiro Turístico. É porém local de muitos sem-abrigo. Talvez um dia venha a mudar de nome. Por mim proponho – Avenida da Desesperança.
Aí encontro quatro Amigos. Um é grande e moldavo, outro negro de Angola, o terceiro velho e gasto e ainda uma mulher para compor o naipe.
São todos ex, ex-tudo e nunca falam do passado.
Quem foram? Não pergunto, mas descobri que o velho esteve na Guiné. Pela tatuagem, claro. Imagino-o lá. Padeiro em Buba, maqueiro em Piche, atirador no Xitole, o mato, o quartel, o perigo, as bebedeiras, a jogatana, as bajudas...
Como foi o regresso? Quando e porquê se terá ele perdido? Uma mulher? Um crime?
Talvez apenas a chatice da rotina o tenha feito berrar um ipiranga e embarcar sem rota...
Vivem aqui os quatro, entre cartões, cobertores, plásticos. Comem o que lhes trazem as carrinhas benfeitoras. O preto arruma carros. A mulher canta salmos e os outros esperam, sabe-se lá o quê? E bebem, bebem sempre, mas já não se embriagam.
Ontem levei castanhas. Assaram-nas na rua.
- Vai um trago, patrão?
- É do bom, Senhor Engenheiro!
Não bebo há anos, mas emborquei da garrafa, pois então.
- Bela pomada, amigos, sim senhor...
__________
Notas de vb:
1. Artigos da série em
15 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3630: Banco do Afecto contra a Solidão (2): Ajuda ao João Santos, ex-combatente em Moçambique, que vive num contentor (Mário Fitas)
2. Último artigo do Jorge Cabral em:
4 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3562: Banco do Afecto contra a Solidão (1): A última comissão do Coronel (Jorge Cabral)
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