Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 19 de março de 2009
Guiné 63/74 - P4051: FAP (18): Kurika da Mata (Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74)
Guiné > 26 de Março de 1973 > Sequência fotográfica, mostrando a recuperação do Pilav Ten Miguel Pessoa, ejectado sob os céus de Guileje, depois do seu Fiat G-91 ter sido abatido por um Strela, na véspera, até à recepção festiva que lhe foi feita pelos seus camaradas da BA12, em Bissalanca, no regresso do Hospital...
Fotos: © Miguel Pessoa (2009). Direitos reservados.
FAP (18) > KURIKA DA MATA
por Miguel Pessoa (**)
[Fixação / revisão de texto / subtítulos / bold: LG]
(i) 25 de Março de 1973, um domingo que tinha começado perfeitamente normal
Sento-me no chão, ainda estonteado com a sequência dos últimos acontecimentos. Procurando retomar por completo a consciência, tento levantar-me, mas sinto a perna esquerda falhar ao mesmo tempo que uma forte dor me atinge. Procuro uma explicação para o que me está a acontecer e tento rever o que se passou nos últimos minutos.
Começo a conseguir reconstituir toda a acção que me trouxe aqui - o apoio de fogo ao aquartelamento de Guileje, o sobrevoo do corredor do Guileje e a busca de indícios do IN na zona de Gandembel, o impacto violento sentido no avião, a perda total do motor, a minha tentativa de aproximação a Guileje, o afundamento brusco do avião, a minha reacção imediata accionando o manípulo de ejecção, depois... nada!
Vejo-me agora isolado no meio da mata, com um pé torcido, segundo parece, e uma forte dor nas costas, que atribuo à violência da ejecção. Sinto que a minha vida está a andar para trás; e, afinal, o dia tinha começado perfeitamente normal...
...................
Naquele Domingo, 25 de Março de 1973, tinha iniciado o meu trabalho às seis da manhã. Estava prevista uma actividade de voo um pouco mais reduzida durante o dia, mas a parelha de alerta dos Fiats, constituída por mim e pelo meu camarada António Matos, estava a postos para o que desse e viesse; o mesmo sucedia com as outras tripulações que também tinham entrado de alerta à mesma hora: do DO-27, dos AL-III (o heli das evacuações e o heli-canhão) e as enfermeiras pára-quedistas prontas para qualquer evacuação que surgisse.
A manhã passou-se sem sobressaltos. Opto por almoçar qualquer coisa no pomposamente chamado Clube de Pilotos, junto às Esquadras de Voo. Esta sala de estar, com um bar adjacente, permite às tripulações a permanência dos pilotos junto das Esquadras, para poderem acorrer mais depressa a qualquer solicitação. O accionamento do alerta é exigente e não se compadece com comezainas demoradas - desde o accionamento do alerta até à descolagem temos um tempo máximo de 10 minutos, o que inclui sacar o equipamento de voo, dirigir-se às operações para receber instruções e os mapas 1/50.000 da zona a apoiar, ser transportado até ao avião, pôr em marcha, rolar para a pista e descolar... Exige alguma celeridade.
Aproximávamo-nos das treze horas e eu tinha começado a tomar o meu café. De repente soam os altifalantes estrategicamente colocados no corredor limítrofe das Esquadras: "Alerta aos Fiats!". Imediatamente nos deslocamos à sala de equipamentos de voo, onde sacamos o equipamento mínimo para a missão (1) e seguimos em passo acelerado para as Operações. Aí, o Oficial de Operações do Grupo Operacional 1201 e o Oficial da Dia às Operações explicam-nos a situação.
Trata-se de um apoio de fogo solicitado pelo aquartelamento de Guileje, na sequência de uma flagelação com foguetões e canhões sem recuo sofrida pouco antes. Para aumentar o tempo sobre o objectivo é decidido escalonar a saída dos dois aviões, de modo a garantir uma pequena sobreposição na zona a apoiar. Sou mandado avançar em primeiro lugar; dirijo-me rapidamente para o avião e atiro-me de imediato lá para dentro - nestes casos o mecânico antecipou a inspecção exterior e poupa-nos tempo. A rolagem para a pista é feita mais depressa que o habitual e para poupar tempo faço uma descolagem de corrida (2). Rapidamente o Tigre Negro (3) está no ar.
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Nota do autor:
(1) Nas missões normais o piloto usava o fato anti-g (que permite ao corpo suportar maiores acelerações (Gs), o Mae-West (colete insuflável para a água), as fitas para as pernas (que, ficando presas à cadeira, no caso de uma ejecção não controlada puxavam as pernas para trás, evitando lesões graves nos joelhos e/ou nas pernas num possível contacto com o aro da canopy durante a ejecção) e, naturalmente, o capacete de voo com a máscara acoplada. No caso da saída do alerta, que se pretendia muito mais expedita, muitas vezes dispensávamos o anti-g, levando apenas o trikini- como lhe chamávamos - o capacete, o mae-west e as fitas da cadeira, isto no pressuposto de que a carta 1/500.000 e as luvas de voo já estavam guardadas nos bolsos do nosso fato de voo. O pára-quedas estava integrado na cadeira de ejecção, por isso era "vestido" quando nos sentávamos dentro do avião.
(2) A descolagem de corrida era um procedimento mais expedito usado nas saídas de alerta em que o avião, quando entra na pista, está já a ser acelerado para a descolagem e os procedimentos antes da descolagem são feitos enquanto o avião ganha velocidade na pista. Pelo contrário, em condições normais o avião é imobilizado no início da pista, são efectuados os procedimentos antes da descolagem, é acelerado o motor para a potência máxima e, verificada a normalidade de todas as indicações do motor, são libertados os travões, e o avião inicia então a corrida de descolagem (o percurso na pista desde que larga travões até ter as rodas no ar).
(3) Indicativo normal da parelha de alerta. Nos Fiats não usávamos os nossos indicativos pessoais, apenas no DO-27, onde o meu nome de guerra era "Kurika".
(ii) Quando um piloto está a mais no seu avião, só lhe resta... ejectar-se!
O percurso para o objectivo é feito com bastante potência para diminuir o tempo em rota; aproveito para verificar o armamento e o combustível e, já próximo, inicio os contactos via rádio na frequência terra-ar.
Guileje esclarece-me sobre a possível origem dos disparos e indica-me a zona do antigo aquartelamento de Gandembel como a mais provável. À medida que me aproximo da fronteira começo a baixar de altitude - o pessoal do lado de lá (Kandiafara e Simbeli, por exemplo) tem a mania de treinar as anti-aéreas se nos apanham a jeito, por isso manter os 1000 pés é uma solução de compromisso entre evitar os RPG e mantermo-nos fora da vista da AAA (4).
Já no local procuro indícios de movimento de pessoas ou veículos, tentando visualizar trilhos recentes. Inicio uma volta pela esquerda e nesse momento sinto um impacto forte na traseira do avião, a que se segue o ruído característico da paragem do motor, o que posso confirmar pelo decréscimo rápido das rotações. Tento de imediato reacender o motor através da ignição de emergência enquanto, prevendo já o pior, prancho o avião para um lado e para o outro na tentativa de localizar e atingir a zona de Guileje. O motor continua parado e a velocidade não vai durar muito tempo. Quase de seguida, sinto a perda total dos comandos do avião, iniciando este uma descida brusca em direcção ao solo. Nem tenho tempo de alertar a Base - provavelmente nem me ouviriam dada a minha baixa altitude.
Estou a mais no avião e a única solução é ejectar-me. Puxo a argola de ejecção (5) que está por cima da minha cabeça. A adrenalina multiplicou-me as forças de tal modo que nem sinto resistência ao accionar o sistema. A velocidade de raciocínio multiplicou-se igualmente. Imagino que falhou a ejecção e penso accionar a alavanca alternativa (na cadeira, em baixo, entre as pernas). Sinto então a explosão do cartucho da cadeira e deixo de ter consciência do que me rodeia. Afinal, passou-se 1/3 de segundo entre o accionamento do manípulo e a saída da cadeira...
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Amparado a uma árvore, ainda tonto, tento fazer um ponto rápido da situação e deixo para mais tarde a análise do que se passou com o avião ou a maneira como acordei naquele sítio. O facto é que estou em terreno hostil, ainda distante do aquartelamento, num ambiente que é novo para mim, sozinho e quase incapacitado de andar. E se o IN viu a minha ejecção é natural que se dirija para o local para tentar apanhar-me. Pelo meu cálculo penso estar a sudoeste do antigo aquartelamento de Gandembel e considero ser a melhor opção avançar para NW, o que me aproximaria da estrada Aldeia Formosa-Guileje e do próprio aquartelamento. (6)
Notas do autor:
(4) Artilharia Anti-Aérea
(5) A que chamávamos Sto.António, por ser em forma de auréola... Ao puxar-se para a frente, accionava o sistema de ejecção e desenrolava uma lona que tapava a cabeça do piloto, protegendo-o de certa forma de pequenos destroços e do fluxo de ar exterior, quando a cadeira saía do avião.
(6) Infelizmente o meu raciocínio estaria certo se eu estivesse a sul daquela estrada. Mas as manobras que fiz levaram-me para norte dela e eu nunca mais iria cruzar a referida estrada...
(iii) Obrigado ao meu kit de sobrevivência (very, very light)... e ao malogrado Ten Cor Brito, comandante do G0 1201, que me detectou
Abro o pequeno kit de sobrevivência que nos tinha sido distribuído - na verdade o seu conteúdo é uma novidade para mim, pois embora tivesse uma ideia do que lá estava nunca tinha visto nenhum aberto. Aliás, o kit era coberto por um forro em flanela, todo cosido, o que tinha impedido uma exploração prévia do seu recheio...
O essencial é tentar iniciar a marcha com o tornozelo ainda quente, pois receio não conseguir andar quando a perna arrefecer. Estou num local bastante arborizado e com muita vegetação junto ao solo, o que dificulta a progressão. Avanço a coxear, tropeçando com frequência. Tenho receio de perder a bússola que vinha no kit, é minúscula e se a deixar cair, naquele terreno, arrisco-me a não conseguir encontrá-la. Opto por segurá-la entre os lábios, ficando com as mãos livres para me ir apoiando sempre que tropeço. Com o tempo aumentam as dores na perna e a progressão é cada vez mais difícil.
Parece-me começar a ouvir barulho de aviões a jacto - será o outro avião de alerta já à minha procura? Começo a alterar as minhas prioridades - agora a minha preocupação é tentar encontrar um local mais aberto de onde possa disparar os very-lights e ser localizado por um avião. E há que ter cuidado, que os meus recursos são limitados, para alimentar a caneta dos very-lights só tenho nove cargas - a dotação que nos era normalmente atribuída (7). Mas a copa das árvores não deixa muito espaço para manobra.
Finalmente, alcanço uma zona que está longe de ser a ideal mas que, dado o desnível das copas das árvores, poderá permitir o disparo enviezado dos very-lights, o que talvez possibilite a sua visualização do ar. O facto é que já não consigo andar e as costas também me doem bastante. Não me parece que consiga sair dali pelos meus meios.
Não temos rádios distribuídos, mas no kit vêm uns fósforos presumivelmente anti-humidade. Pode ser que fazendo uma fogueira... No momento também não vejo grande utilidade no preservativo que vinha no kit. Se a ideia era servir de contentor de água, esqueçam, que aqui não há nenhuma... O mesmo para o anzol - só se for para as férias...
O ruído dos aviões começa a ser mais frequente, mas parece que a área de busca é ainda afastada. Mesmo que eles se dirijam na minha direcção não vou conseguir vê-los e eles também não irão localizar-me; a única esperança é que vejam um very-light.
Sento-me encostado a uma árvore, virado para a zona mais descoberta (ou, será melhor dizer, menos cerrada...). Ao fim de algum tempo sinto a aproximação de um jacto. Parece vir na minha direcção, mas não consigo vê-lo. A minha experiência permite-me ter uma ideia, pelo som, da direcção e da distância do avião em relação ao ponto em que me encontro; disparo o primeiro very-light - um verde, apesar de não me sentir em grandes condições físicas - mas os minutos seguintes não me dão qualquer indicação de que tenha sido visto; nem as duas horas seguintes - as minhas tentativas de ser visto não estão a resultar e já utilizei quatro dos nove very-lights (já comecei a gastar dos brancos, mas a verdade é que já estou a borrifar-me para as cores!).
Começam a aproximar-se as cinco da tarde - na Guiné a transição do dia para a noite ocorre cedo e com uma certa rapidez; sinto que já não tenho muito tempo para ser localizado antes de escurecer. Volto a detectar a aproximação de um avião e disparo mais um very-light. O avião passa próximo, sinto-o dar a volta e passar outra vez próximo de mim, a baixa altitude (8).
Fico com a esperança de ter sido visto, mas a hora seguinte não confirma as minhas expectativas. E a noite cai finalmente, avolumando-se com ela a minha apreensão, dada a minha visível inadaptação ao ambiente que me envolve. Sou perturbado por uma série de dúvidas que me assolam, para as quais não tenho resposta - Os pilotos terão visto algum very-light? Estará a ser organizada uma operação de recuperação? Como pensarão recolher-me? O IN terá detectado a minha ejecção? Irão tentar "agarrar-me à mão"?
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Notas do autor:
(7) 3 very-lights verdes, 3 brancos e 3 vermelhos, usados de acordo com o estado em que o aviador se encontrava (do menos grave para o mais grave). Isto seria aplicável se fossem muitos. Assim, a partir de certa altura usa-se os que temos, não importa a cor...
(8) Contar-me-iam mais tarde que o Ten Cor Brito, Comandante do GO 1201 - o piloto em questão - referenciou o disparo deste very-light e sobrevoou novamente o local, tendo divisado com algum custo o meu pára-quedas, meio enterrado numa árvore. Convencido de que o piloto estaria num estado de saúde razoável, acertadamente considerou que não havia condições de segurança para lançar de imediato uma operação de salvamento, dada a hora tardia, antes preferindo iniciar o planeamento de uma operação bem sustentada, a desencadear nas primeiras horas da madrugada.
(iv) Talvez a noite mais longa da minha vida
A noite vai ser certamente prolongada - e pouco dormida, seguramente. Aproveito para repousar um pouco o corpo, estendendo-me no chão, o que me permite reduzir as dores nas costas e simultaneamente dar menos nas vistas de quem se aproxime.
Tenho algum tempo para pensar no que me levou a esta situação. O IN terá pelos vistos atingido o Fiat, do que resultou a falha do motor, logo seguida da perda de comandos. Dadas as condições em que estava a voar, não tenho dúvidas de que a ejecção terá ocorrido nos limites da segurança, a baixa altitude e com uma acentuada razão de descida do avião desgovernado. Do modo como observei o paraquedas, meio pendurado ao longo da árvore, começo a acreditar que ele apenas terá completado a sua abertura já no contacto com a árvore em que me enfeixei, o que terá travado a velocidade da descida, acabando eu - mesmo assim - por entrar depressa demais pelo chão, provocando as lesões na perna esquerda. Calculo agora que será mais que uma entorse, embora não haja fractura completa da perna, nem fractura exposta.
Lembro-me que a minha arma pessoal - uma Walther PPK.22 (9) - ficou guardada no anti-g, mas não tenho a certeza se não será melhor assim - a posse da arma dar-me-ia a tentação de a usar em situações em que tal não era recomendado. Bom, não tenho a arma, não vale a pena pensar mais nisso.
A noite é interminável - mantenho-me desperto embora por vezes o cansaço me faça dormitar, mas acordo logo, alertado por um qualquer barulho. A tensão da situação e a desidratação que começa a afectar-me também não contribuem para me acalmar. No escuro parece-me detectar o movimento de um insecto que brilha, mas trata-se afinal dos ponteiros luminosos do meu relógio, a que a minha visão desfocada (por falta de referências) parece dar uma sensação de movimento... Acordo outra vez com a sensação de algo encostado à minha perna (uma cobra?) - não me mexo, até porque cobras não são o meu forte; será a perna partida a latejar que dá aquela sensação de movimento? A verdade é que essa sensação passa - ou o animal se foi ou a perna deixou de latejar...
Cometo um erro ao poisar a cabeça no chão para repousar. Fico com uma orelha encostada ao chão, o que amplifica todos os sons produzidos à minha volta. O simples contacto de uma folha a cair, ao bater no chão, faz lembrar a progressão pé ante pé, de alguém que se aproxima. Apesar de a escuridão não o permitir, parece-me divisar duas sombras que se vão aproximando de mim...
O amanhecer encontra-me exausto, mas satisfeito por ver a luz do dia. Fico a aguardar o regresso dos aviões para tentar perceber o que estão a planear. Finalmente começo a ouvi-los. É uma miscelânea de sons que vou identificando - Fiats, T-6, DO, AL-III. Começo a ter a certeza de que fui localizado. Pelo sim, pelo não, quando sinto a sua aproximação, disparo mais um very-light. Mas sistematicamente, parece que os AL-III se aproximam e a uma certa distância voltam para trás (10).
Os very-light esgotam-se finalmente. Resolvo despir a parte de cima do fato de voo e retirar a camisola interior, branca. Depois de vestido novamente o fato de voo, decido pôr a camisola interior por cima, à laia de pull-over. Espero ter assim mais possibilidades de ser detectado do ar, por fazer agora um maior contraste com a vegetação.
São nove horas da manhã - já passaram 3 horas de luz e nada. Tinha pensado que um AL-III com guincho chegaria à vertical e tentaria recuperar-me pelo ar... mas a verdade é que nenhum aparelho me sobrevoa.
Em desespero, resolvo fazer um fogo que seja visto do ar (má ideia, que ainda posso ficar carbonizado...) mas a natureza ajuda - a vegetação está húmida... e os tais fósforos anti-humidade também! Vários falham e não consigo acender nada. Quando risco o último, a cabeça salta, ainda por arder. Tiro as luvas e com a ponta dos dedos seguro a cabeça do fósforo, friccionando-a contra a lixa: começa a arder queimando-me os dedos mas apagando-se logo de seguida.
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Notas do autor:
(9) As armas de baixo calibre, embora menos eficazes, eram as mais apropriadas para os pilotos dos Fiats. Veja-se que uma arma destas, pesando cerca de 500 g, representa mesmo assim um peso de cerca de 9 kgs durante uma ejecção (18 Gs=18 x a aceleração da gravidade). Assim, com uma arma de maior calibre (e peso correspondente), em caso de ejecção o piloto arriscava-se a vê-la rasgar o bolso ou o coldre em que a guardava, e desaparecer.
(10) Soube posteriormente que naquela altura os AL-III procediam à colocação de Pára-quedistas e Operações Especiais na orla da mata em que me encontrava, para estes depois prosseguirem a pé na minha direcção.
(v) Um homem em apuros... mas bem educado e delicado
Resigno-me a esperar por auxílio, que da minha parte parece-me não haver muito mais a fazer. Mas a desidratação e a tensão começam a pregar-me partidas. Pressinto a aproximação de pessoas, mas não as identifico. Começo a pensar que é pessoal do PAIGC que está a envolver-me, na esperança de poder preparar uma emboscada ao helicóptero ou helicópteros de salvamento. Chego à conclusão que o melhor é não chamar a atenção dos aviões, pois se eu pelos vistos já estou "aviado", não vale a pena levar comigo algum camarada que esteja a tentar salvar-me.
Começo a divisar cabeças que se aproximam pelo meio da folhagem; são africanos, o que parece confirmar as minhas piores previsões; o armamento e uniformes também não são das tropas portuguesas. Sabem o meu nome (mas também não é difícil, têm provavelmente infiltrados na Base). Dizem-me para ir com eles - e eu peço-lhes "delicadamente" (11) para se irem embora e me deixarem em paz.
Aparece o que parecia ser o chefe - de barbicha e óculos - e diz-me que é o Marcelino da Mata. Ora eu, pira de 4 meses da Guiné, embora conhecendo as referências do senhor, nunca o vi pessoalmente, mas é conhecido que ele costuma levar cantis com Fanta e Coca-Cola. Peço-lhe de beber, ao que ele anui. Provado o produto fica confirmada a identidade do meu interlocutor, o qual merece da minha parte, de imediato, um efusivo cumprimento: "Ah granda Marcelino!".
Chega entretanto ao local pessoal meu conhecido do BCP 12 e renova-se a minha confiança em acabar bem o dia. Ao ponto de, quando sugerem a construção de uma padiola, ter recusado: "Entrei nesta mata de pé e é de pé que vou sair" - Pudera! Agora que já tenho as costas quentes...
A deslocação até ao helicóptero não tem grande história, embora seja demorada e cansativa, pois a incapacidade da minha perna esquerda obriga-me a progredir no terreno apoiado em dois elementos das Operações Especiais, um de cada lado.
O pessoal do Marcelino tem pelos vistos a mania de provocar o IN pois, à medida que avançam no terreno, gritam para o mato "Eh F.... da P.... do C.......! Apareçam, seus C....!", ao que eu lhes sugiro que primeiro me ponham no helicóptero e depois resolvam essa contenda com os outros, que por mim já tenho que me chegue. Só me falta que aqueles tipos comecem aos tiros uns aos outros, e eu sem me poder mexer!
Durante o percurso, noto que um dos pára-quedistas que vai à minha frente se vira para trás de vez em quando, tirando-me uma fotografia. Ora eu ainda estou um bocado descomposto e continuo com a camisola branca por cima do fato de voo. Peço uns momentos para tirar a camisola, que guardo num dos bolsos do fato de voo, e prossigo a caminhada com mais à-vontade, pois já me sinto razoavelmente enfarpelado e em condições de enfrentar a máquina fotográfica. Apesar dos perigos, a nossa progressão começa a parecer um passeio turístico, pois chegamos a parar para tirar uma foto de grupo. O Marcelino resolve pôr uma pose mais agressiva, de catana na mão, o que, associado à minha cara de enfiado, mais faz parecer que fui apanhado pelo IN...
Chegamos finalmente à orla da mata, onde um AL-III nos espera. Para apoiar aquela evacuação, o Serviço de Saúde da BA12 tinha destacado um médico (12). Quando entro no heli, devo estar com um aspecto abatido pois ele decide dar-me um tónico qualquer que eu aceito de bom grado, que ainda estou com sede... E o facto é que fico com uma passada que ninguém me cala! Também, tinha estado quase 24 horas sem falar...
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Notas do autor:
(11) Segundo alguns testemunhos, parece que não foi bem assim. Eu terei dito "Vão-se f.... ; deixem-me morrer aqui em paz sozinho" ou algo semelhante. Tenho que aceitar esta última versão como correcta, porque por aquela altura eu já tinha os platinados a falhar. Embora me choque, porque sempre fui uma pessoa bem educada...
(12) Convém esclarecer o porquê da presença de um médico nesta situação. Pouco tempo antes tinha surgido uma determinação do Estado-Maior que proibia a ida das enfermeiras paraquedistas à zona de combate. Esta decisão surgiu na sequência da morte de uma e ferimento de bala de outra; o curioso é que nenhuma destes casos ocorreu no decurso de uma evacuação à zona, pois uma morreu num acidente na placa dos DO-27 (na Guiné) e outra foi atingida por uma bala quando voava noutro DO-27 (em Moçambique). Isto mostra o receio que as chefias tinham dos efeitos na opinião pública, caso ocorresse a morte de uma enfermeira em verdadeiro cenário de guerra. À época aceitava-se que as mulheres apoiassem o esforço de guerra, mas na retaguarda, enquanto que não se via com bons olhos que ela participasse activamente na frente de combate.
(vi) Finalmente, o regresso... a casa!
Aterramos em Guileje, onde muitos militares curiosos esperam para ver o aviador recuperado; alguém resolve dar-me, em jeito de compensação, uma garrafa de champanhe. Um novo helicóptero está a postos no local para me transportar para o Hospital Militar; também já lá está a enfermeira paraquedista que me vai acompanhar, a enfermeira Giselda (13); embarcamos no helicóptero e mantemos 1500' de altitude (14) em direcção ao Hospital, onde chegamos sem problemas.
Tiradas várias radiografias, confirma-se a fractura do perónio; depois de me colocarem o gesso na perna partida, o helicóptero leva-me (mais a garrafa de espumante) para a placa de helicópteros da Base - parece que finalmente acabou o dia e que vou poder descansar de tantas emoções. Engano meu! À chegada à Base sou surpreendido pela presença de um grupo de militares da BA 12 - pilotos, mecânicos, enfermeiras e outros - que resolvem festejar exuberantemente a minha recuperação. Sinto-me emocionado com esta recepção. Para além dos laços de amizade que tenho com alguns dos presentes, neste momento eu represento para eles o produto final do trabalho que, directa ou indirectamente, desenvolveram com tão bom resultado. Por isso sentem-se felizes por eu estar ali. E eu estou feliz por ter regressado a casa.
Miguel Pessoa
(Por vezes "Kurika" ou "Kurika da Mata")
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Notas do autor:
(13) A Giselda acompanhou-me nessa evacuação e, desde então, nos momentos mais importantes da minha vida - casámos em Outubro de 1974.
(14) Não há dúvida que tivemos sorte. Embora começassem a surgir no TO os mísseis Strela, até ali desconhecidos, nenhum deles estava, pelos vistos, no percurso que seguimos para o Hospital. A altitude mantida colocava-nos perfeitamente ao alcance do míssil. Mas não era o nosso dia...
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Nota de L.G.:
(*) Vd. poste anterior desta série, FAP > 13 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4028: FAP (17): Do Colégio Militar a Canjadude: O meu amigo Tartaruga, o João Arantes e Oliveira (Pacífico dos Reis)
Guiné 63/74 - P4050: (Ex)citações (21): A esperança de que o António Ferreira ainda esteja vivo...(Cátia Félix)
Boa noite, amigos
Desde já apresento-me...sou a Cátia, amiga da Cidália Cunha (viúva), que entrei em contacto com o Paulo Santiago (um SENHOR). Agradeço imenso a dedicação de todos, acreditem que tudo o que fizerem fará a diferença.
Tenho uma relação com a Cidália como mãe/filha e numa das nossas muitas confissões ela contou-me toda a sua história. O casamento de sonho com o grande amor da sua vida e o desabar de tudo nas terras da Guiné.
Esta grande Mulher que desde sempre fez frente aos "grandes" do exercito à procura de respostas que nunca conseguiu ter.
As perguntas: "Será que o Ferreira morreu mesmo no Quirafo? Será que naquela sepultura, que é adorada todos os Domingos, está mesmo o corpo do Ferreira?" mantêm-se depois de todos estes anos por falta de explicações. Além disso o Ferreira disse sempre que fugia antes de morrer...Se calhar todos disseram o mesmo...
O que é certo é que a Cidália e toda a familia vivem na esperança que mais um "morto" apareça vivo. A filha que nunca conheceu o pai, o neto que adora o avó que nunca conheceu, a esposa que o continua a amar como no 1ºdia, desde sempre até ao fim...
Por isto tudo e muito mais, mais uma vez agradeço em meu nome e em nome da Cidália e familia:
-tudo o que têm feito e sei que continuarão a fazê-lo;
-toda a dedicação em encontrar respostas;
-por este blogue que nos deu uma enorme esperança, aquando das minhas pesquisas até altas horas...
Estarei sempre disponível para acompanhar a Cidália, já que ela não conduz, para sabermos algo mais.
OBRIGADO!
NOTA - Só para corrigir um lapso, o Ferreira estudava na Escola de Engenharia de Arca d'Água e, pelo que li algures aqui no blogue havia um Sr. chamado Sousa de Castro que frequentava esse mesmo curso, que poderá ajudar-nos.
quarta-feira, 18 de março de 2009
Guiné 63/74 - P4049: As abelhinhas, nossas amigas (5): As abelhas e a NEP (Alberto Nascimento)
Amigo Luís
Enviei em 11/03 um apontamento sobre o tema Abelhas, que julgo não foi recebido, ou aguarda oportunidade para ser publicado. Na dúvida, resolvi reenviar.
Um Abraço
Alberto Nascimento
ABELHAS
Da NEP nunca ouvi falar, mas deve querer dizer, Não Estejas Parado com abelhas por perto ou já em cima de ti, corre o mais que puderes atira-te à água, atira-te de cabeça para o interior de uma moita, (diziam que resultava, que elas terminavam a perseguição), mas parado é que não.
Era o pão nosso de todos os dias no destacamento de Piche. A fonte, situada próximo do quartel secou. Os banhos passaram a ser tomados num charco que ficava na traseira do quartel, mas para beber e cozinhar passámos a ir a uma nascente que nos indicaram e que ficava a uns quilómetros na estrada para Canquelifá.
A nascente até ficava num local bonito, aprazível, onde até apetecia ficar um bocado a apreciar a frescura, as árvores enormes muito próximas da água, só que cada árvore daquelas tinha uma colmeia daquela raça de abelhinha que, com alguma razão, é conhecida por assassina.
Nos primeiros dias ainda mal tinha conseguido colocar o atrelado tanque de mil litros em posição para poder ser enchido com a bomba manual, já elas estavam em cima de nós, furiosas distribuindo ferroadas.
Depois consegui perceber que o que as irritava e obrigava a atacar eram os vapores do escape e passei a colocar o tanque com o motor do jipão desligado. Mesmo assim atacavam frequentemente e nem o fumo que fazíamos com capim molhado impedia de levarmos umas valentes ferroadas.
Foi uma época de grande preparação física, embora forçada, mas posso garantir que foram batidos recordes de velocidade e se a situação se tem mantido, tinha nascido na Guiné a maior e melhor equipa de fundistas portugueses da época.
Com a ida para Bambadinca, acabaram o treinos forçados e as ferroadas.
Julgo que os camaradas bloguistas também tiveram contacto com outro insecto fabricante de mel conhecido por “mosca do mel”. Tinha o comprimento de pouco mais que dois milimetros, não tinha ferrão, mas quando sentiam perigo para a colmeia atacavam em tão grande número que era difícil aguentar. Introduziam-se nos ouvidos, nas narinas por debaixo dos cabelos... eram tão chatas que faziam correr, tal como as primas de ferrão.
Um Abraço
Alberto Nascimento
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 2 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3964: Nuvens negras sobre Bissau (6): O Nino morreu vítima de si próprio (Alberto Nascimento)
Vd. último poste da série de 14 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4031: As abelhinhas, nossas amigas (4): Desculpem qualquer coisinha (Luís Faria)
Guiné 63/74 - P4048: Estórias do Jorge Fontinha (5): Lavadeiras de Bula
Aí vai mais uma Estória. Esta para descontrair, nostálgica e saudosa.
Transmite o meu abraço a toda a Tabanca.
Jorge Fontinha
LAVADEIRAS DE BULA
Aeródromo de Bula
As minhas Estórias nem sempre seguem uma ordem cronológica. Também não tenho a pretensão de me recordar de tudo e não é minha intenção escrever a História da CCAÇ 2791, até porque me preocupo somente por descrever o que vivi ou presenciei, durante o tempo que permaneci naquelas paragens.
Hoje, até vou saltar uns meses, sobre os últimos acontecimentos relatados. Vou localizar-me no período dos Reordenamentos, já em pleno ano de 1972.
Como referi, aquando da descrição do meu Grupo de Combate, o 4.º, este esteve no destacamento de Mato Dingal. Naturalmente que várias atribuições nos eram confiadas, como por exemplo promover, principalmente, o apoio sanitário, assistência medicamentosa e humanitária, defesa da Tabanca e ensino escolar básico às crianças. Eu próprio fui o professor oficial. Era igualmente da nossa responsabilidade, proceder à substituição das velhas Palhotas “Tabancas”, construindo outras de blocos e telhados de zinco.
Naturalmente que tínhamos as obrigações próprias da defesa e manutenção das instalações Militares, bem assim, como providenciar o reabastecimento de bens alimentares e fornecimento de água potável.
Para o efeito, pelo menos dia sim, dia não, uma Secção deslocava-se a Bula que era relativamente perto, para na Sede do Batalhão requisitarmos o que era necessário. Na mesma viagem ia outro Unimog atrelado a um auto-tanque e com bidões recuperados, dos postos de abastecimento de combustível, para complemento de fornecimento de água.
Este serviço, por se tratar duma escapadela à rotina, era feita por rotação de secções, que eram três. A do Alferes Gaspar, a do Furriel Fontinha e a do Furriel Chaves.
O episódio que vou contar é um daqueles momentos espectaculares e inesquecíveis e é também daqueles das boas lembranças, que nos fazem olhar para trás com saudade e nostalgia…
Em certo dia, tínhamos já saído do Batalhão, com os reabastecimentos carregados, faltando deslocarmo-nos ao fontanário para reabastecimento de água, o que acabamos por fazer, pois este ficava num caminho mesmo em frente à porta de armas e a muito pequena distância, 100 a 200 metros. Era natural que o local não estivesse totalmente livre, pois o enchimento do auto-tanque e dos bidões levava algum tempo.
Não me lembro de todo quem estava à minha frente a fazer o mesmo que eu iria fazer, mas efectivamente estava outra secção, doutro Grupo de Combate e até podia ser de outra Companhia do Batalhão. Não tenho ideia, passados estes anos quem eram. O que fica para a História, foi o que eu assisti, enquanto conversava com o meu camarada da outra secção, que terminassem e nós iniciássemos a nossa tarefa.
Ora, o que aconteceu foi o seguinte:
O local era composto por um fontanário que jorrava bastante água potável para o interior de um tanque rectangular, seguramente com uma frente de 6 metros por 4 de largura e daí escorria para um lago de média dimensão, com algumas pedras salientes, e depois seguia por um riacho directamente para a bolanha. Era no tanque e no lago que as lavadeiras, BAJUDAS e as restantes mulheres, lavavam a nossa roupa e a delas. Cada um de nós tinha a sua lavadeira. Bastante alegres e ruidosas, na sua azafama.
Bajudas lavando roupa
Todas elas, salvo umas poucas, faziam o seu trabalho completamente nuas, enquanto não chegava nenhuma tropa para se reabastecer de água. Ficariam assim, se não fossem molestadas com gracejos ou até apalpadas por alguns militares mais brincalhões. Depois de chegarmos, normalmente cobriam-se com uns ligeiros panos, que de um certo modo, nada cobriam.
Passando ao relato dos acontecimentos, os militares que se encontravam no local, haviam lavado alguns bidões, que tinham sido esvaziados de gasolina dias antes, no tanque onde elas deveriam lavar a roupa, o que originou que bastantes resíduos de gasolina tivessem ficado na água. Naturalmente, uma camada de cerca de meio centímetro de gasolina, cobria a superfície.
O engraçado do episódio deu-se quando um militar, inadvertidamente, se lembra de lançar um cigarro acabado de fumar, que viria a cair no interior do tanque. Escusado será retratar a cena que se passa. O tanque incendeia-se, provocando espanto e medo em toda a gente, dando lugar a grande alarido entre elas que atropelando-se umas as outras, se põem em fuga, deixando cair os panos e passando a correr em direcção as suas tabancas, mesmo à frente da porta de armas em grande algazarra e completamente nuas. Foi um espectáculo hilariante e felizmente sem consequências.
Lavadeiras lavando no lago, junto ao tanque
Nem sempre nos dedicávamos à Guerra. Por vezes até nos divertíamos.
Fur MIl Jorge Fontinha e Sold Álvaro Lobo
Fotos e legendas: © Jorge Fontinha (2009). Direitos reservados
Um abraço para a Tabanca.
Jorge Fontinha
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Nota de CV:
Vd. último poste de 13 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3888: Estórias do Jorge Fontinha (4): O primeiro morto do 4.º GCOMB/CCAÇ 2791
Guiné 63/74 - P4047: Resumo das actividades do Pel Mort 912 (OUT63/OUT65) (Fotos) (Santos Oliveira)
Digitalização do Relatório e Fotografias
Relatório do Comandante do Pelotão de Morteiros 912 (1)
Relatório do Comandante do Pelotão de Morteiros 912 (2)
Relatório do Comandante do Pelotão de Morteiros 912 (3)
Cômo - Edifício do Comando
Como - Quartel - Vista para NE - Ao fundo a Camarata do Pel Mort
Cômo - Av. do Porto. Picada de troncos desde o local de acostagem do barco até ao Cavalo de Frisa (ao fundo)
Cômo - Abrigo primário, antibomba, construido para dar acesso ao Paiol Clandestino, do Pel de Mort
Cômo - Embalagens de Granadas de Morteiro disparadas a 16NOV64, encimada pelo Cartaz da frase FORAM SÓ 216 GRANADAS
Cômo - Cozinha e Messes Oficiais e Sargentos
Vista da saída para o poço fedorento (E)
Fotos e legendas: © Santos Oliveira (2009). Direitos reservados
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Nota de CV
Vd. poste de 17 de Março > Guiné 63/74 - P4044: Resumo das actividades do Pel Mort 912 (OUT63/OUT65) (Santos Oliveira)
Guiné 63/74 - P4046: Ainda a atroz dúvida da Cidália, 37 anos depois: O meu marido morreu mesmo na emboscada do Quirafo ? (Paulo Santiago)
Foram utilizados LGFog e Canhão sem recuo. Houve 9 militares mortos, da CCAÇ 3490, nais 1 desaparecido (o António Batista, capturado pelo PAIGC)... Houve ainda mais 3 mortos: 1 sargento de milícia e 2 civis ao serviço das NT.
No relatório da CCAÇ 3490, faz-se ainda referência a 6 feridos, 4 militares e 2 civis. No início deste dossiê, falámos aqui num "número indeterminado de baixas, entre os civis, afectos à construção da picada Quirafo-Foz do Cantoro", o que não parece estar documentado. Sabemos hoje quem comandou o bigrupo que montou esta emboscada, o comandante Paulo Malu.
A brutal violência da emboscada ainda era visível em Fevereiro de 2005, mais de três décadas depois, nas imagens dramáticas obtidas pelo Paulo Santiago e seu filho João, na viagem de todas as emoções que eles fizeram, na altura, à Guiné-Bissau.
Fotos: © Paulo e João Santiago (2006). Direitos reservados.
Cópia do relatório da CCaç 3490, Saltinho, 21 de Abril de 1972 [, já aqui publicado por nós, no P2422, de 8d e Janeiro de 2008]. Transcrição de Virgínio Briote, nosso co-editor; bold, do editor L.G.:
Exemplar nº...
CCaç 3490
Saltinho
210800ABR72
Anexo B (Relação do pessoal morto e ferido em combate) ao relatório de emboscada nº 03/72.
1.Causas que deram origem às baixas sofridas pelas NT
-Contacto com o IN na emboscada sofrida pelas NT no dia 17 de Abril de 1972, na
região do Quirafo (Contabane 9. B7-60).
i) Relação numérica e nominal dos militares, milícias e elementos da População
colaborantes com as NT, mortos em combate:
- Sr. Alf. Mil. Nº 00788271 – Armandino da Silva Ribeiro
- Furriel Mil. Nº 01142371 – Francisco Oliveira dos Santos
- 1º Cabo Radioteleg. Nº 08845271 – António Ferreira
- 1º Cabo A.P.Met. nº 14964771 – Sérgio da costa Pinto Rebelo
- Soldado nº 09334069 – António Marques Pereira
- Soldado nº 10665171 – Bernardino Ramos de Oliveira
- Soldado nº 10896771 – Zózimo de Azevedo
- Soldado nº 10998071 – António da Silva Baptista
- Soldado nº 11117671 – António de Moura Moreira
- Sargento Mil. Nº 044665 – Demba Jau
- Civil – Serifo Baldé
- Civil - Tijane Baldé
ii) Relação numérica e nominal dos militares desaparecidos em combate
- Soldado nº 11331671 – António Oliveira Azevedo
iii) Relação numérica e nominal dos militares, feridos em combate
- 1º Cabo Atirador nº 11549071 – Augusto Carlos Leite
- Soldado Atirador nº 10819171 – José Manuel de Barros Fernandes
- Soldado Atirador nº 10977271 – Manuel Hernâni Martins Alves Gandra
- Soldado Atirador nº 11060971 – Manuel da Costa Almeida
- Civil – Saico Seidi
- Civil – Cabirú Baldé
Assina pelo Comandante da Companhia (Dário Manuel de Jesus Lourenço, Cap Mil Inf ) o Alf Mil Alexandrino Luís F.... [restante ilegível].
AUTENTICAÇÃO
P'lo Comandante da Companhia (Dário Manuel de Jesus Lourenço, Cap Mil Inf ), Alf Mil Alexandrino Luís F. [restante ilegível].
1. Mensagem, com data de ontem, do nosso camarada e amigo Paulo Santiago
Assunto - A Guerra e o luto continua presente
Luís, Briote,Vinhal
Recebi em 3 de Março passado um mail, que reencaminho, enviado por uma jovem, Cátia Félix, a pedido de Cidália Nunes, viúva do 1º Cabo Radiotelegrafista António Ferreira, morto em combate em 17/04/1972 na emboscada do Quirafo (*).
Como imaginam, ao receber aquele mail, dois sentimentos brotaram de mim: satisfação e tristeza. Satisfação pelo que escrevi sobre a Tragédia do Quirafo, satisfação, também, por existir este blogue que o Luís em boa hora lançou, permitindo aos ex-combatentes da Guiné contarem a verdade que, a maior parte das vezes, não vem nos documentos oficiais. Tristeza, porque adivinhei que por trás daquele mail estava um luto com quase trinta e sete anos. Tanto tempo...
Há poucos minutos, tive um longo telefonema da Cidália, onde pressenti uma imensa saudade e uma imensa resignação, ainda que ponteada por algumas dúvidas, sendo a principal "O meu marido morreu naquela emboscada ?"
A esta pergunta pude afiançar-lhe que foi naquela emboscada e naquele local que o marido morreu. Existem outras dúvidas que eu, em consciência, não soube nesta altura dissipar, caso saber se o António Ferreira estava reconhecível, é uma pergunta que irei pôr aos meus amigos Cosme e Mário Rui, respectivamente 1º Cabo e Fur Mil do PEL CAÇ NAT 53, e que foram ao Quirafo recolher os corpos.
Quero, quando me encontrar pessoalmente com a Cidália, quem sabe em 17/04/09, ter respostas para lhe dar com VERDADE. Se algum dos camaradas que me lê souber algo sobre isto, agradeço que me informe.
O António Ferreira, segundo percebi, frequentava a Faculdade de Engenharia no Porto e tinha uma filha (que tem hoje 38 anos), com um ano e poucos meses quando embarcou para a Guiné, numa viagem sem regresso.
Quando a Cidália soube da aparição do Batista (**) em Setembro de 1974, que oficialmente tinha morrido no mesmo dia do marido, correu para a Maia, procurando saber se aquele "morto-vivo" lhe poderia dizer mais alguma coisa sobre o Ferreira. Infelizmente o Batista apenas se lembra, como também sabemos, das explosões e de o terem agarrado à mão, mais nada, quem morreu, só o soube já em Portugal após a sua libertação.
Devo dizer, inconscientemente, talvez tenha lançado algumas dúvidas no espírito da Cidália, ela não me disse, mas até encontrar o Batista estava convencido que o militar apanhado à mão no Quirafo - penso que está nos meus postes - era de transmissões e também havia a troca de nomes.
Lamentavelmente nunca apareceu ninguém daquela CCAÇ a dizer nada. A Cidália contou-me que em 74 recebeu um telefonema de um Furriel, já não se lembra do nome, daquela Companhia dizendo-lhe que gostaria de falar com ela sobre a morte do marido mas teria de ser uma conversa a sós (?) marcando um dia. Jovem de 22 anos, viúva recente, resolveu ir acompanhada por familiares, mas o dito graduado não apareceu.
Termino dizendo que a Cidália e o António Ferreira têm um neto de 16 anos que faz muitas perguntas sobre o avô.
Não é fácil dominar as emoções quando se recebem telefonemas destes.
Abraço a todos
P. Santiago
2. Mensagem anterior (3 de Março) do Paulo Santiago (após conversa telefónica comigo, L.G.):
Luís
Em seguimento da nossa conversa, reencaminho o mail recebido. Agora pensei melhor e penso que o António Ferreira é um dos mortos do Quirafo. Não sei se vou encontrar no blogue uma lista publicada pelo José Martins, vou tentar, e tu vê também se a encontras.
Vou responder à Cátia, disponibilizando-me para me encontrar com a esposa do António Ferreira. Vai ser um encontro, possivelmente doloroso, mas, como diz a Cátia, as histórias da Guiné permanecem na vida de todos.
Diz-me qualquer coisa.
Abraço
Paulo
3. Mail enviado ao Paulo Santiago, em 3 de Março último, por Cátia Félix
Assunto - As histórias da Guiné...
Caro Paulo Santiago
Sou leitora assídua do blog dos ex-combatentes da Guiné pois apesar da minha tenra idade (25 anos) sempre me suscitou muito interesse as histórias verídicas por todos vocês vividas.
De tudo o que li, a Tragédia do Quirafo foi sem dúvida a que mais me impressionou, talvez por conviver com uma familia de um militar da CCAÇ 3490. Possivelmente já ouviu falar desse militar, António Ferreira (Porto), que era das Transmissões (radiotelegrafista) dessa companhia.
Estou a enviar-lhe este email a pedido e em nome da esposa do Ferreira, Cidália Cunha, que gostaria imenso de entrar em contacto consigo para trocarem impressões, pois apesar de já terem passado muitos anos as histórias da Guiné permanecem na vida de todos.
Porquê enviar um email ao Paulo? Porque de tudo o que lemos, sentimos que se tem dedicado imenso a todas as causas mal explicadas que se passaram naquelas terras áridas.
Desde já agradecemos imenso todo o seu empenho e sabedoria na forma como consegue transmitir na perfeição todos os assuntos relacionados consigo e com os seus camaradas.
Ficamos a aguardar uma resposta.
Com os melhores cumprimentos
Cátia Félix
(P'la Cidália Cunha)
4. Comentário de L.G.:
Obrigado, Paulo. Tu és um homem de grande sensibilidade e com forte sentido de solidariedade e compaixão. Melhor do que ninguém, tu irás representar-nos, a todos nós, que fomos camaradas do António Ferreira, num próximo encontro, a aprazar com a Cidália Cunha, viúva do António, e a sua amiga Cátia Félix, possivelmente até no próprio dia em que passam os 37 anos da tragédia do Quirafo, no próximo 17 de Abril de 2009.
Como vês pela lista (nominal) acima publicada, o único militar de transmisões que foi dado como morto, na sequência da emboscada do Quirafo, em 17 de Abril de 1972, foi o António Ferreira, 1º Cabo Radiotelegrafista nº 08845271...
O que é poderás dizer mais aos familiares e amigos do nosso infortunado António Ferreira, que não tenhamos já dito aqui no blogue ? Se calhar, mais do que dizer, importa saber ouvir, mostrar disponibilidade para ouvir...
Muito provavelmente, eles/elas nunca fizeram, como devia ser, o luto pela perda do António (marido, pai, filho, amigo...), porque nunca viram o corpo (chegou-lhes um caixão selado, chumbado...).
Como houve pelo menos um caso de troca de identidades (o António Batista, desaparecido, foi dado como morto, em vez do António Oliveira Azevedo) e, além do mais, os cadáveres estavam irreconhecíveis, desmembrados e carbonizados (de acordo com o testemunho do Alf Mil Médico Alfredo Pinheiro de Azevedo e do Fur Mil Enfermeiro Álvaro Basto, que tu mesmo recolheste: vd. poste P1985, de 22 de Julho de 2007 ), ficou, fica, ficará sempre a atroz dúvida: Será que o meu marido morreu mesmo nessa emboscada ?
Paulo, podemos estar perante um caso de luto patológico, ou seja, de um processo mental associado à perda de uma pessoa amada e decorrente da interrupção do processo normal do luto, eternizando ou tornando crónica a sensação de perda e todas as suas manifestações... É horrível, provoca um grande sofrimento psíquico e crises emocionais, sempre que se fala em (ou se evoca) a pessoa... desaparecida ('e que pode não estar morta').
Acho que a melhor maneira de ajudar a Cidália é voltar a contar a história (e repeti-la, se necessário), com todos os pormenores, mesmo os mais horrendos... E mostrar-lhe a foto da viatura, a GMC, onde o António e os seus companheiros morreram, carbonizados... Mostrar as fotos do Saltinho e dos lugares, à beira do Rio Corubal, onde ele também viveu bons momentos e onde sentiu saudades da mulher e da filha...
Como homem das transmissões, levando as costas o seu rádio, o António seguramente que ia na GMC, perto do Alf Mil Armandino, comandante da coluna... Diz-lhe que foi uma carnificina horrível, mas que tudo se passou num ápice.
Entretanto, será desejável que apareçam mais depoimentos, nomeadamente de malta que conheceu e conviveu de mais perto com o António Ferreira, no Saltinho, como é o caso da malta do teu Pel Caç Nat 53 e da CCAÇ 3490 ou do BCAÇ 3872 (Galomaro).
Do Batalhão, temos apenas, aqui, como membros da Tabanca Grande, o Carlos Filipe Coelho, o Luís Dias, o Juvenal Amado, o Joaquim Guimarães e o António Batista, se não me engano. O Luís Borrega também teve contactos com a malta deste batalhão.
Da CCAÇ 3490 são só mesmo o António Batista e o Joaquim Guimarães. Até agora julgo que não apareceu mais ninguém, embore eu não confie muito na minha memória. Há um outro camarada, identificado pelo Carlos Vinhal, e que pertenceu à CCAÇ 3490: Justino Sousa - contacto: 255 776 190. Tens, por fim, o Joaquim Guimarães, que vive nos Estados Unidos e que era professor no Saltinho (***). Ele deve estar lembrado do António. Mas acredito que seja doloroso para ele e para o resto da malta da CCAÇ 3490 lidar, ainda hoje, com este pesadelo.
Paulo, confio na tua sabedoria e experiência para lidar com este difícil caso. Mas conta com todo o nosso apoio. Sabemos que farás o teu melhor. Transmite aos familiares e amigos do António a nossa solidariedade e compaixão.
____________
Notas de L.G.:
(*) Sobre a tragédia do Quirafo, vd. postes de:
21 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1980: Blogoterapia (26): Os nossos fantasmas, os nossos Quirafos (Virgínio Briote / Torcato Mendonça/Luís Graça)
17 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1962: Blogoterapia (25): Os Quirafos do nosso Passado (Torcato Mendonça / Virgínio Briote)
12 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1947: O Coronel Paulo Malu, ex-comandante do PAIGC, fala-nos da terrível emboscada do Quirafo (Pepito / Paulo Santiago)
15 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1077: A tragédia do Quirafo (Parte V): eles comem tudo! (Paulo Santiago)
28 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1000: A tragédia do Quirafo (Parte IV): Spínola no Saltinho (Paulo Santiago)
26 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P990: A tragédia do Quirafo (parte III): a fatídica segunda-feira, 17 de Abril de 1972 (Paulo Santiago)
25 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P986: A tragédia do Quirafo (Parte II): a ida premonitória à foz do Rio Cantoro (Paulo Santiago)
23 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P980: A tragédia do Quirafo (Parte I): o capitão-proveta Lourenço (Paulo Santiago)
(**) É já vasto, no nosso blogue, o dossiê do António Batista, a quem chamamos o 'morto-vivo' do Quirafo:
26 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2885: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (9): António Batista, ex-prisioneiro de guerra
25 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2680: O caso do nosso camarada António Batista (Carlos Vinhal / Álvaro Basto / Paulo Santiago e Pereira da Costa)
1 de Fevereiro de 2008 Guiné 63/74 - P2497: O dossiê António da Silva Batista: um caso de indignidade humana (Torcato Mendonça)
31 de Janeiro de 2008 Guiné 63/74 - P2494: Sr. Ministro da Defesa, parece que não há Simplex que valha ao António da Silva Batista! (Paulo Santiago)
8 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2422: Quem terá sido o Camarada que ficou na campa do António Baptista? (Prisioneiros de Guerra) (Virgínio Briote)
25 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2381: Diana Andringa, com o teu apoio, podemos ajudar o António Batista, o morto-vivo do Quirafo (Álvaro Basto)
21 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2371: O Sold António Baptista não constava das listas de PG (Prisioneiros de Guerra) (Virgínio Briote)
28 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2140: Tabanca Grande (35): Notícias do Tony Tavares (CCAÇ 2701) e do António Batista (CCAÇ 3490) (Ayala Botto)
9 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2040: No almoço da tertúlia de Matosinhos com o António Batista, o nosso morto-vivo do Quirafo (Paulo Santiago)
30 de Julho de 2007 >Guiné 63/74 - P2011: Vamos ajudar o António Batista, ex-Soldado da CCAÇ 3490/BCAÇ 3872 (Júlio César / Paulo Santiago / Álvaro Basto / Carlos Vinhal)
26 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1999: Vamos arranjar uma caderneta militar nova para o António Batista (Rui Ferreira / Paulo Santiago)
24 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1991: O Simplex, o Kafka e o Batista ou a Estória do Vivo que a Burocracia Quer como Morto (João Tunes)
24 de Jullho de 2007 > Guiné 63/74 - P1990: Carta aberta ao Cor Ayala Botto: O caso Batista: O que fazer para salvar a sua honra militar ? (Paulo Santiago)
23 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1986: António da Silva Batista, o morto-vivo do Quirafo: um processo kafkiano que envergonha o Exército Português (Luís Graça)
22 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1985: Prisioneiro do PAIGC: António da Silva Batista, ex-Sold At Inf, CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872 (2) (Álvaro Basto / João e Paulo Santiago)
22 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1983: Prisioneiro do PAIGC: António da Silva Batista, ex-Sold At Inf, CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872 (1) (Álvaro Basto / João e Paulo Santiago)
21 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1980: Blogoterapia (26): Os nossos fantasmas, os nossos Quirafos (Virgínio Briote / Torcato Mendonça/Luís Graça)
17 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1959: Em busca de... (2): António da Silva Batista, de Crestins-Maia, o morto-vivo do Quirafo (Álvaro Basto / Paulo Santiago)
(***) Vd. postes de:
1 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2019: Álbum das Glórias (23): O mestre-escola do Saltinho (Joaquim Guimarães, CCAÇ 3490, 1972/74)
28 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3097: Álbum fotográfico do Joaquim Guimarães (1): Saltinho
(...) "Quero também agradecer ao Paulo Santiago pela maneira como descreveu a passagem do Quirafo, com honestidade, sem dramatizar ou exagerar. Prestou a devida homenagem aos meus companheiros, alguns dos quais não tive grande contacto, mas como dizia respeitou a memória de "eles" e quem sabe dos seus familiares e em particular a minha.
"Eu pessoalmente ainda não tive a coragem de me mostrar. Neste momento ando numa luta com os meus companheiros de Companhia mas ninguém se quer envolver ou comentar. Mais de que nunca penso na minha, na nossa culpabilidade do Quirafo.
"Num dos blogs refere-se em comemtário a questão da recuperação dos corpos. Eu penso que esse pormenor deve ser excluído, não importa como foi, o importante é que tudo foi feito com amor, com respeito e muita dor mas foram dignificados em todo o processo" (...).
1 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3104: Álbum fotográfico do Joaquim Guimarães (2): Saltinho
4 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3109: Álbum fotográfico do Joaquim Guimarães (3): O Rio Corubal no Saltinho
terça-feira, 17 de março de 2009
Guiné 63/74 - P4045: Nino: Vídeos (3): Em Portugal, um vizinho meu, antigo combatente, reconheceu-me e tratou-me por 'comandante Nino'...
Guiné-Bissau > Bissau > Palácio Presidencial > 6 de Março de 2008 > Excerto da audiência que o Presidente João Bernardo 'Nino' Vieira (1939-2009) deu, por volta das 12h, a cerca de duas dezenas de participantes estrangeiros do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de Março de 2008).
Ao todo, na sala, estariam cerca de duas dezenas de pessoas. A audiência foi decidida à última hora, por vontade expressa do 'Nino' Vieira, na qualidade de histórico comandante da guerrilha do PAIGC e um dos seus mais destacados militantes. Não estava prevista no programa do Simpósio. Uma hora antes, o grupo fora também recebidos pelo então 1º Ministro, Martinho N'Dafa Cabi. Não estava prevista, de resto, qualquer intervenção no Simpósio, por parte do Presidente da República - presumo que por razões de segurança - embora ele fizesse parte da comissão de honra.
Vídeo (6' 49''): © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Alojado em You Tube > Nhabijoes
Neste excerto da sua intervenção (*), 'Nino' pede aos portugueses, presentes, para transmitir ao seu Governo o pedido de envio (urgente) de mais professores de português. “Já alguns, mas não são suficientes. Não faltam no interior, em Bafatá, no Gabu”….
E lembra que são, ao fim e ao cabo, os cubanos quem está a fazer o maior esforço de alfabetização das populações no interior. São eles que ensinam o português. As duas línguas, português e castelhano, são próximas e facilmente se compreende o "portunhol"... Foram também os cubanos que criaram a Faculdade de Medicina (**), que ostenta o nome do comandante Raúl Díaz Argüelles (***), morto em Angola, e que está a funcionar no Hospital Nacional Simão Mendes, em Bissau. A ideia nasceu de uma conversa de ‘Nino’ com Fidel Castro.
'Nino' aponta o analfabetismo como a causa de muitos problemas estruturais da Guiné-Bissau… E remata: “Estamos agora todos do mesmo lado. No passado, nós estávamos a lutar contra um regime, não contra o povo português”... Recorda um episódio do seu exílio em Portugal: "Eu era vizinho de um antigo combatente português, que um dia me me reconheceu e me tratou como comandante 'Nino'...
Reconhece que há um problema, na Guiné-Bissau, de crescente perda da memória da luta de libertação… “A nossa história está a desaparecer. Vou ver se tenho um tempinho para ir aí a esse Simpósio, logo à tarde”.
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Notas de L.G.:
(*) Vd. postes anteriores:
9 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4002: Nino: Vídeos (2): O amigo de Cuba... e de Portugal, que em Março de 2008 pedia mais professores de português (Luís Graça)
8 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3996: Nino: Vídeos (1): Ouvindo a versão do Coutinho e Lima sobre a retirada de Guileje (Luís Graça)
(**) Lembre-se que esta Faculdade, que recebe assessoria técnica e científica dos cubanos, propõe-se dar continuidade à formação de quadros que estava a cargo da Escola Nacional de Saúde (ENS), encerrada com o eclodir da guerra civil de 1998/99.
Criada em 1986, a ENS teria formado já cerca de uma centena de médicos guineenses. A parte terminal da licenciatura era (é) depois feita em Cuba.
A Faculdade de Medicina reabriu em 2006, sendo enquadrada na Universidade Amílcar Cabral (UAC), a única instituição do ensino superior pública existente na Guiné, e que lecciona, além de medicina, mais os cursos de licenciatura: Administração e Gestão, Educação e Comunicação, Sociologia, Economia, Jornalismo, Engenheira Informática.
A Guiné-Bissau dispõe ainda de uma Faculdade de Direito (FDB) cuja assessoria técnica e cientifica é dada pela cooperação portuguesa através da Faculdade de Direito, da Universidade de Lisboa.
(***) Raul Diaz Argüelles, chefe da missão militar cubana que veio em apoio do Governo do MPLA, a seguir à independência de Angola, proclmada a 11 de Novembro de 1975, morreu ao accionar uma mina anti-tanque no município do Ebo, província do Kwanza Sul, a 12 de Dezembro de 1975. Está sepultado no Cemitério do Alto das Cruzes, em Luanda.
Guiné 63/74 - P4044: Resumo das actividades do Pel Mort 912 (OUT63/OUT65) (Santos Oliveira)
Camaradas Luís, Briote e Vinhal
Há algum tempo (26FEV) foi-vos remetido um Mail resultante da publicação do P3938: Brasões, guiões ou crachás (7): Pelotão Independente de Morteiros 912(*), o qual despoletou reparos, dúvidas e pedidos de informações e ou esclarecimentos por parte de Camaradas interessados e, simultaneamente, intervenientes.
Os reparos de ilegibilidade são legítimos. As digitalizações do Relatório Final do Pel Ind Mort 912 não podem ser melhoradas pelas condições dos originais, como se pode verificar. Por outro lado há erros de palmatória e omissões incompreensíveis no Documento, que careciam ser esclarecidos e anotados.
Foi um trabalho duro, que resultou dos testemunhos de inúmeros sobre vivos que se prestaram a colaborar, informando e procurando esclarecimentos entre outros intervenientes na Op. Tridente, sobretudos os visados de Armas Pesadas/Morteiros, que se sentem injustiçados pelas omissões e tentativa de desvio de factos reais, dos "Escribas" daquela acção tão marcante.
Agradeço, publicamente, ao Manuel Costa, do Pel Mort 916 e ao Alf Mil Sales dos Santos, do Pel Mort 917, a disponibilidade de buscar nas suas lembranças vividas ou do apurar as mesmas junto de outros Camaradas das suas Unidades. Por este facto, o resultado das anotações que faço ao Relatório Final do meu Pelotão, pode, agora, ser considerado fiel e fiável.
De modo a poder “tornar” perfeitamente “legível”, procedi à elaboração de uma transcrição do RELATÓRIO DO PELOTÃO DE MORTEIROS 912, utilizando, à letra, todo o tipo de linguagem utilizado e que no final adendarei.
Assim:
COMANDO TERRITORIAL INDEPENDENTE DA GUINÉ
PELOTÃO DE MORTEIROS N.º 912
Resumo das actividades do Pelotão no período que decorre de Outubro de 1963 a Outubro de 1965.
Nos últimos dias de Agosto de 1963 chegaram a Abrantes os elementos que haviam sido designados para a formação do Pelotão de Morteiros n.º 912.
Receberam os primeiros ensinamentos militares no RI10 e em seguida foram transferidos para os RI7, onde lhe foram ministrados todos os conhecimentos necessários à sua especialidade. Por terem sido mobilizados pelo RI2, dali partiram para a Guiné a 12 de Outubro de 1963. Em 18 do mesmo mês desembarcaram e nesse próprio dia chegaram a Tite.
O Pelotão de Morteiros 912 ficou pertencendo ao BCaç 599 e rendeu o Pelotão de Morteiros 19 que se encontrava na província há 27 meses.
O aquartelamento em que o Pelotão de Morteiros 912 se instalou situa-se num local privilegiado e as instalações precárias e insuficientes para as necessidades a princípio logo foram aumentadas e melhoraram as condições. Todo o pessoal se acomodou perfeitamente aos costumes que vigoravam e facilmente se compenetrou dos deveres e obrigações que o assistiam.
Em 23 de Outubro iniciou-se a primeira saída para o mato, levou a missão de patrulha a zona de IUSSE e ao mesmo tempo exercer um trabalho que desse à população uma inteira confiança na presença das nossas tropas.
Na noite de 28 de Novembro de 1963 deu-se o primeiro encontro com o IN. O Pel Mort levava a missão específica de montar uma emboscada nocturna a cerca de 2km do quartel. Antes de atingir o local e apenas a umas escassas centenas de metros do quartel, estava o inimigo. Depois de alguns minutos de fogo o inimigo retirou apressadamente. Do nosso lado houve a morte de um furriel e o ferimento de um soldado num pé.
Em 7 de Dezembro de 1963 teve lugar a Operação JOTA na área de Jabadá e Jufá; mais uma vez este Pelotão tomou parte da Operação, usando os seus morteiros para apoio das nossas tropas.
No final de 1963, 27 de Dezembro, realizou-se uma outra Operação em que este Pelotão tomou parte, usando novamente as suas potentes armas, protegendo as tropas avançadas. Facilitou a penetração das nossas tropas e demonstrou ao inimigo um maior poder das nossas forças. Entretanto a acção do Pelotão ia-se desdobrando em saídas de reconhecimento, emboscadas nocturnas, limpeza de estradas e acção psico-social junto das populações das tabancas vizinhas. Com este contacto directo foi-se eliminando a desconfiança que os indígenas possuíam com a presença da tropa. Este estado de temor manifestava-se pela fuga precipitada para o mato logo que se apercebiam da aproximação da tropa.
Várias vezes o Pel Mort pode verificar o estado de insegurança em que vivia a população pois a mesma fugia logo que nos avistava. No entanto, foi fácil trazer toda essa gente para o nosso lado.
Em fins de Dezembro o Comandante de Pelotão baixou ao Hospital Militar, donde seguiu para a Metrópole.
Mais alguns elementos nativos (a) vieram pertencer a este Pelotão, oferecendo a sua colaboração principalmente no que respeita a dialectos. Conhecedores destes e sempre de acordo com a tropa, procuravam obter tudo o que pudesse dar indícios que levassem a uma pista certa.
No ano de 1964 desenvolveu-se a seguinte actividade.
Em 27 de Janeiro partiu uma esquadra (b) deste Pelotão para a Ilha do Cômo, levando a missão de apoio às nossas tropas, (c) com os seus morteiros. Na zona estava instalado o quartel-general do inimigo e dele espalhavam os seus elementos de subversão e distribuíam o armamento e munições para todo o sul da província. Apoiou sempre o avanço das nossas tropas e durante seis meses suportou privações de todo o género. Os ataques ao aquartelamento eram frequentes dando origem a que os nossos dois morteiros trabalhassem durante longo tempo. As comodidades não existiam e só nos últimos dias, já em local mais ou menos adequado, (d) puderam improvisar algo que lhes facilitassem melhores comodidades.
Uma segunda esquadra (b) foi ocupar a vaga da primeira em princípios de Outubro (e). Continuou exercendo a mesma actividade que a anterior.
Em 10 de Janeiro de 1963 (f) chegou um Furriel que veio ocupar a vaga do falecido, anteriormente citado.
A 7 de Março de 1963 (f) chegou o actual Comandante de Pelotão, tomando directamente contacto com o pessoal, assegurando todo o bom andamento deste Pelotão.
No dia 31 de Março realizou-se uma longa saída juntamente com um Pelotão da CCav 353. Quando regressava a Tite e depois de um dia inteiro de exaustiva caminhada, o inimigo tentou fazer explodir um fornilho que anteriormente tinha colocado num local de passagem quase obrigatória. Não houve nada de anormal e o inimigo iniciou uma fuga rápida e precipitada, abandonando o local.
Em 18 de Julho regressou a esquadra (b) que estava na Ilha do Como.
Na parte final de Agosto registou-se um aumento sensível na actividade operacional para privar o inimigo de deslocações que estava levando a efeito. Mais uma vez este pelotão prestou a sua ajuda em saídas e emboscadas constantes.
Em 11 de Agosto tentou-se fazer a ligação por estrada entre as Companhias deste sector usando para tal uma coluna auto e uma apeada para a limpeza e patrulhamento da estrada. A estrada foi patrulhada por este Pelotão, permitindo uma segurança quase total à coluna auto. Foram removidas árvores e construídos alguns pontões para que a referida coluna pudesse continuar o percurso previsto. Chegamos ao aquartelamento já de noite sem termos qualquer contacto com o inimigo.
Na primeira semana de Outubro (g) deu-se mais uma substituição neste Pelotão, motivada pela punição de um furriel deste, que acompanhou uma esquadra (b) na Ilha do Como. Mais um novo elemento veio juntar-se ao Pelotão de Morteiros.
Em 11 de Outubro morreu um soldado afogado no rio Geba, altura em que este Pelotão foi ocupar o destacamento do Enxudé.
Em 31 de Outubro fomos novamente incumbidos de levar a efeito a mesma missão que na Operação de 11 de Agosto. Mais uma vez a estrada Tite-Nova Sintra e daqui para Fulacunda, numa extensão de 8km foi patrulhada por este pessoal. Em Aldeia Nova, cerca de 8km do quartel foi detectada uma mina, previamente colocada pelo IN com a finalidade de rebentar à passagem de uma viatura. À frente cerca de 6km o inimigo esperava-nos emboscado atrás dos montes de baga-baga. Com a nossa rápida e violenta reacção, rapidamente empreendeu a fuga. A missão foi levada até final sem mais algum incidente. Chegamos ao quartel por volta das 19,00 horas. Decorrido cerca de uma hora o inimigo atacou o quartel, obrigando o pessoal que se encontrava cansado a empreender mais uma defesa ao mesmo.
Em meados de Dezembro este Pelotão deslocou-se novamente para o Enxudé, onde permaneceu mais um mês. Foi lá passado o Natal e Ano Novo e novas esperanças se criaram para o ano de 1965.
Novo Ano principia em 1965 e as actividades continuam sem parar.
Em 30 de Janeiro iniciou-se a Operação Braçal com forças da CCaç 423 uma Companhia de Milícia e 3 Pelotões de Tite. Enquanto uns trabalhavam na preparação de instalações para fixação de um quartel (h) outros batiam-se na frente tentando aniquilar e pôr em fuga o inimigo. Este resistiu intensamente e durante vários dias não deu descanso à nossa tropa. Todas as noites flagelava o destacamento com fogo de armas ligeiras e pesadas tentando que a tropa abandonasse o local. Em 10 dias foram enviadas para o destacamento, por parte do inimigo, 126 granadas de morteiro 8cm (i) não tendo alguma dele provocado qualquer acidente. Mais uma vez incutiu-se no espírito do inimigo que a tropa faz o que quer e não são eles que facilmente nos impedem de levar a efeito qualquer objectivo. Em 8 de Fevereiro este Pelotão regressou a Tite.
Durante mais algum tempo o Pelotão cooperou em saídas de rotina, acção psico-social e emboscadas.
Em 15 de Abril o Pelotão foi novamente para Jabadá e ali permaneceu cerca de seis meses e meio. Durante este tempo limitou-se apenas a defender o aquartelamento, que diariamente era flagelado pelo inimigo.
Em 23 de Outubro regressou definitivamente a Tite a fim de se preparar para embarcar em fins do mesmo mês.
Durante esta comissão foram dados seis louvores colectivos e três individuais.
Quartel em TITE, 27 de Outubro de 1965
O COMANDANTE DE PELOTÃO
Ass: António Fernandes Oliveira Rodrigues
Alf Mil
ANOTAÇÕES AO RELATÓRIO DO PELOTÃO DE MORTEIROS 912:
(a) - É omissa a quantidade de elementos, serventes, integrados no Pelotão, como não são conhecidas as identidades dos mesmos;
(b) - Uma "Esquadra" corresponde a um Morteiro e tem o Comando de um 1º Cabo Apontador; obviamente que se trata de uma "Secção", Comandada por um Sargento (Furriel), reduzida, na sua composição Orgânica, em elementos humanos.
(c) - Esta Secção “Autónoma", do Pel Ind Mort 912 destinou-se a integrar e "formar" uma Espécie de Pelotão tripartido, que nunca o foi como tal, assim como, jamais, as três Secções (Pel Mort 912, uma Secção; Pel Mort 916, uma Secção e Pel 917, uma Secção), estiveram articuladas por um Comando unificado ou predeterminado, sendo que as actuações no terreno, eram dependentes das solicitações, directas, de Apoio de Fogo das forças em presença, e desencadeadas conforme as necessidades no decurso da Operação Tridente.
O Comando, se assim se pudesse designar, foi uma fugaz e única aparição pelo tempo que mediou uma Maré, do Alf. Leal Mendes, Comandante Titular do Pel Mort 916.
Este foi o único dispositivo de Armas Pesadas/Morteiros 81, que poderia constituir um Pelotão e, como tal é tomado, para operar em toda a Operação Tridente.
Não era (e jamais foi) o Pel. de Morteiros do BCaç 600 (Pel Mort 916) que operou na Operação Tridente; apenas uma Secção do mesmo.
A deslocação da Secção do Pel Mort 912, seria a que durasse toda a Operação. Tal não aconteceu. Terminada que foi, inexplicavelmente (nunca ninguém o fez), a mesma, continuou no Cachil (Ilha do Cômo), como que abandonada à sua sorte, enquanto as restantes Secções dos outros Pelotões de Morteiros, foram regressando às suas Unidades fixadas nos seus Quartéis Base.
Este abandono real e consciente (ou inconsciente mas consequente), acabou por dar origem á Insubordinação (calculada e consciente) do Furriel Comandante da Secção do 912 e que resultou na concretização do seu desejo pessoal de, por via disciplinar, beneficiar da respectiva transferência de Unidade, o que veio acontecer, conforme estava previsto no RDM, livrando-se, assim, do lugar e das sinistras condições de sobrevivência.
Deste modo, como consequência da falta de Comando, o restante Pessoal que compunha a Secção regressou a Tite, a 18 de Julho de 1964, doutro modo, a substituição provável (?) bem poderia considerar-se a data de Rotação da CCaç 557, a 27 de Novembro de 1964.
(d) - Tão-somente o desbaste da Mata (sem ferramentas apropriadas) e a construção da paliçada, qual forte do "farwest". De resto, as condições mantinham-se inadequadas e desumanas como antes, como se pode verificar nas fotos.
(e) - O Destacamento desta Secção do P.Mort 912 (de Comando tacitamente autónomo, tal como a anterior) teria a duração de 3 meses mas que ( por “continuado e deliberado esquecimento” do Comandante) se prolongaram até Julho de 1965, sem que ao longo de todo o longo período houvesse um único contacto do Comando ou sido dado provimento a qualquer dos inúmeros e legítimos anseios a solicitar rotação e substituição.
(f) - Evidente ser referido a 1964
(g) - 20 de Setembro, com precisão.
(h) - Omisso o nome, mas que se reporta a Jabadá.
(i) - Considere-se Morteiro 82mm.
Anexam-se a digitalização do Relatório e algumas fotos do Aquartelamento do Cachil, com as respectivas legendas.
Espero poder ter contribuído para esclarecer um pouco mais aquele período e lugar, que ainda está longe de ter, definitivos, todos os dados Históricos. Há, sabe-se, a cada dia que passa, bem mais que contar que o que já foi narrado.
Abraços, do
Santos Oliveira
OBS: - Em próximo poste serão exibidas fotos enviadas pelo nosso camarada Santos Oliveira, juntamente com este Relatório de Actividades
CV
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Comentário de CV
(*) Vd. poste de 25 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3938: Brasões, guiões ou crachás (7): Pelotão Independente de Morteiros 912 (Santos Oliveira)