domingo, 27 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P5021: Meu pai meu velho, meu camarada (14): Expedicionário no Mindelo, S. Vicente, 1941/43, 1º Cabo Inf Luís Henriques (1) (Luís Graça)

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > "O belo porto de mar de São Vicente; ao centro, o ilhéu [dos Pássaros] que se confunde com um barco. Outubro de 1941" [Luís Henriques, 1º cabo nº 188/41, 1º Pelotão, 3ª Companhia, 1º Batalhão, Regimento de Infantaria nº 5, Cabo Verde, Ilha de São Vicente, Mindelo, 1941/1943].

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Parada do Batalhão expedicionário (?) do R. I. nº 5. Lazareto, 1/12/41. S. Vicente, Cabo Verde. Ao fundo a linda baía com o seu belo porto de mar. Luís Henriques"

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > "4 metralhadoras pesadas fazendo fogo anti-aéreo para balões de papel. No dia da festa de aniversário. 23 de Julho de 1942. No Lazareto, S. Vicente, Cabo Verde" [O 1º Batalhão Expedicionário do R.I. 5 tinha chegado ao Mindelo há precisamente um ano ]

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > "As peças anti-aéreas do Monte Sossego; fotografia oferecida pelo meu amigo [e conterrâneo, da Lourinhã] Boaventura [Horta] em 21/3/43. Mindelo, S. Vicente. Luís H."

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > "Oficiais do Exército e da Marinha nas posições da Anti-Aérea no Monte Sossego, S. Vicente. Fotografia oferecida pelo meu amigo Boaventura, em Mindelo, 21/3/43. Luís Henriques". [O Monte Sossego fica a nordeste da cidade do Mindelo, sobranceiro à Ponta de João Ribeiro].

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > "Oficiais do Exército e da Marinha nas peças do Monte Sossego. Ao fundo a linda Baía com o [NPR] Pedro Nunes à vista. Fotografia oferecida pelo meu amigo Boaventura em 21/3/43. Mindelo. Luís Henriques". [O Monte Sossego fica a nordeste da cidade do Mindelo, sobranceiro à Ponta de João Ribeiro].


Luís Henriques: Nascido em 19 de Agosto de 1920, na Lourinhã, foi 1º cabo nº 188/41, 1º Pelotão, 3ª Companhia, 1º Batalhão, RI 5 - Regimento de Infantaria nº 5 (Caldas da Rainha). Esteve como expedicionário em Cabo Verde, na Ilha de São Vicente, na cidade do Mindelo, entre Julho de 1941 e Setembro de 1943, "26 meses a comer pó" e à espera do "invasor" (que tanto podiam ser os ingleses como os alemães...). Casou em 2 de Fevereiro de 1946 com Maria da Graça. O seu primeiro filho, Luís Manuel da Graça Henriques, nasceu a 29 de Janeiro de 1947. (*)

Fotos: © Luís Graça (2009). Direitos reservadas

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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de: 20 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4059: Meu pai, meu velho, meu camarada (1): Memórias de Cabo Verde, São Vicente, Mindelo, 1941/43 (Luís Graça)

Vd. também poste mais recente desta série > 27 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5019: Meu pai, meu velho, meu camarada (13): Mindelo, ontem e hoje ( Lia Medina / Nelson Herbert / Luís Graça)

Guiné 63/74 – P5020: Ser solidário (39): Ajuda humanitária à Clínica de Bor e EuroMilhões (Álvaro Basto)


1. O nosso Camarada Álvaro Basto, (Xitole) do BART 3873 (Bambadinca), 1971/74, enviou-nos uma mensagem que diz o seguinte:

Ajuda humanitária à Clínica de Bor e EuroMilhões

Boa tarde,

Depois de mais uma quarta-feira bem animada, desta vez com o aniversário dos 35 anos da libertação do Batista como pano de fundo, aqui estamos para vos dar conta da aposta para esta semana no EuroMilhões, do rol dos participantes no almoço da última quarta-feira e da tesouraria do nosso fundo de benemerência.

E a propósito de tesouraria, gostaríamos de fazer uma rápida ressalva a um lapso nas referidas contas, em que um donativo entrado do Dr. Moutinho, no valor de 5,00 €, foi erradamente registado como uma saída. Como poderão verificar, esta semana a correcção já se encontra efectuada e o saldo final atinge o valor de 495,00 €, que se encontram totalmente à disposição da Clínica Pediátrica de Bor, assim eles o queiram aplicar.

Esta semana surgiu igualmente a ideia de se criar uma ONG com carácter mais formal. Para isso contaremos com a ajuda do Dr. Moutinho, nosso camarada fiel Tertuliano e advogado ainda em exercício.

Vamos estudar a melhor forma de nos apresentarmos à sociedade e ponderar os custos e os benefícios, que uma formalização deste tipo nos trará.

Aproveito igualmente para reforçar um esclarecimento, por diversas vezes já ventilado aqui, mas que convêm fique claro a fim de evitar situações de dúvida como as que se manifestaram na última quarta feira.

1 - O custo da participação no nosso almoço semanal é no mínimo de 15,00 €, estando englobados neles, o custo do almoço, o valor da gorjeta, o custo da aposta no EuroMilhões e a contribuição semanal, para o Fundo de Ajuda à Clínica Pediátrica de Bor.

2 - Desde sempre que ao António Batista foi atribuída a faculdade de almoçar todas as quartas feiras connosco sem pagar o referido valor.

Entendeu-se que a Tabanca Pequena de Matosinhos lhe prestaria esta espécie de pequena homenagem de solidariedade, face aos especiais antecedentes de que foi vítima na Guiné. Esta situação prevaleceria, pelo menos, até ele começar a receber a pensão de prisioneiro de guerra que, entretanto, alguns de nós o ajudaram a reivindicar do Estado.

Feitas estas ressalvas finalizaríamos como vem sendo habitual. Tenham um bom resto de semana e na próxima quarta-feira compareçam no restaurante Milho Rei. Acreditem que vale a pena. Os nossos encontros são verdadeiros banhos de rejuvenescimento de tal modo a juventude é lembrada e relembrada.

Álvaro Basto
Zé Teixeira
Armando Ribeiro
João Rocha
Pimentel
BarrosoÁlvaro Basto
Rolando Basto
Zé Pires
Mesquita
D. Guimarães
Armando Campos
Moutinho
Batista
Barbosa
Carvalho
Xico Allen
António Matos
Germano Sousa
Man. Teixeira
Joaquim Soares
António Matos
Tomas Rocha
Jorge Cruz
Victor Silva
Carmelita
Santos
Nelson
Zacarias
Aníbal Oliveira
Man. Almeida
Xico Dias

Contas da tesouraria do nosso fundo de benemerência:

04-09-2009 DHL-Transp.medic. p/ Bissau............................185,00 €.....350,00 €
09-09-2009 Liq. Participantes almoço (35x15,00).....525,00 €....................875,00 €
09-09-2009 Custo almoço (36x12,00)..................................432,00 €.....443,00 €
09-09-2009 Gorjeta almoço................................................8,00 €.....435,00 €
09-09-2009 Donativo Moutinho.............................5,00 €....................440,00 €
10-09-2009 EuroMilhões...................................................10,00 €.....430,00 €
16-09-2009 Liq. Participantes almoço (30x15,00).....450,00 €....................880,00 €
16-09-2009 Custo almoço (31x12,00)...................................372,00 €....508,00 €
16-09-2009 Gorjeta almoço.................................................8,00 €....500,00 €
16-09-2009 Donativo Moutinho.............................5,00 €....................505,00 €
16-09-2009 EuroMilhões....................................................10,00 €....495,00 €

O boletim do EuroMilhões

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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P5019: Meu pai, meu velho, meu camarada (13): Mindelo, ontem e hoje ( Lia Medina / Nelson Herbert / Luís Graça)

















Cabo Verde >Ilha de São Vicente > 2006 > Ponta João Ribeiro > Restos do quartel das forças expedicionárias portuguesas, ali estacionadas durante a II Guerra Mundial. Estas posições de bateria de anti-costa protegiam a baía do Mindelo. A Ponta João Ribeiro fica hoje a 3 km da cidade do Mindelo. Em frente, a uns escassos 600/800 metros, situa-se o ilhéu dos Pássaros.

Fotos: © Lia Medina  (2009) / Blogue Luís Graça & Caranaras da Guine. Todos os direitos  reservados
Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 1943 > "As peças antiaéreas do Monte Sossego [monte sobranceiro a João Ribeiro, pelas indicações que o meu pai me dá; também havia artilharia contra-costa]. Fotografia oferecido pelo meu amigo Boaventura em 21/7 (?)/43 em Mindelo. S. Vicente. Luís Henriques" [1º cabo nº 188/41, 1º Pelotão, 3ª Companhia, 1º Batalhão do Regimento de Infantaria nº 5, expedicionário em Cabo Verde, na Ilha de São Vicente, cidade do Mindelo, de 1941 a 1943]. Portugal, receoso das intenções dos beligerantes, mobilizou alguns milhares de homens para defender as suas ilhas do Atlântico, em especial os arquipélagos dos Açores e de Cabo Verde, para os quais havia planos (secretos) de ocupação por parte dos ingleses (na hipótese da invasão alemã da Península Ibérica, com a cumplicidade do Franco).

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 1943 > "Posição das peças anti-áereas no Monte Sossego, São Vicente, Cabo Verde. Fotografia oferecida pelo meu amigo Boaventura [ Horta, natural da Lourinhã, já falecido, pai dos meus amigos de infância Carlos, Olga e Elisa ] em 21/3/43. Luís Henriques".

Fotos: © Luís Graça (2009). Direitos reservados


1. Mensagem, com data de 8 de Junho de 2009, enviada por Lia Medina:

Assunto - Militares portugueses em São Vicente [, Cabo Verde]

Dr. Luís Graça

Chamo-me Lia Medina e sou cabo-verdiana, filha duma portuguesa com um cabo-verdiano. Sou professora em algumas instituições de ensino superior aqui na ilha de São Vicente, e a minha formação também é sociologia, pela Universidade de Coimbra.

Há uns dias atrás, a realizar pesquisas na Internet, descobri num dos seus vários blogs algumas informações e fotografias sobre a presença de militares portugueses aqui na ilha, durante a segunda guerra mundial, incluindo o seu pai (se não me engano).

Estou-lhe a escrever pelo seguinte, tenho uma turma do 1º ano de turismo cujos alunos desconhecem os dois quartéis militares de Alto de Bomba(ou Paiol de São João) e o de João Ribeiro. Então, resolvi fazer uma visita de estudo com estes alunos aos pontos de defesa da Baía do Porto Grande. Contudo, como vim a descobrir, não existem cá documentos com informações como as datas de construção e desactivação, etc.

Entrei em contacto com o comando militar aqui da ilha, onde fui informada de que os documentos, que existiam em Cabo Verde sobre a presença militar portuguesa nas ilhas, foram quase todos queimados, e os que sobreviveram às fogueiras estão desaparecidos.

Os motivos que me levam a escrever são dois. Um primeiro para lhe pedir autorização para usar fotografias e alguns dados, que consegui encontrar num dos seus blogs, na preparação da visita de estudo. E um segundo, para lhe perguntar se, por acaso não terá mais informações ou mesmo mais histórias sobre a presença dos militares portugueses aqui em Cabo Verde, que me possam ser úteis ou interessantes.

Muito obrigada pela sua atenção.
Os meus cumprimentos.
Lia Medina

2. Resposta de L.G., no mesmo dia:

Minha cara amiga:

Pode utilizar todos os materiais do nosso blogue para efeitos didácticos... A nossa missão também é essa, preservar e divulgar a memória dos portugueses e de outros povos lusófonos, com interesse historiográfico, socioantropológico, linguístico, cultural... Prendem-me, além disso, laços afectivos a Cabo Verde, onde tenho amigos e antigos alunos, e por onde passou o meu pai...

Gostaria que me autorizasse a publicação do seu mail...Em contrapartida, tenho mais fotos e histórias que irei publicar, sobre a presença de expedicionários portugueses em Cabo Verde, nomeadamente durante a II Guerra Mundial...

Essa memória corre um sério risco de se perder... O meu pai, por exemplo, tem já 89 anos. Há um amigo dele, que já morreu, e que tinha também um belo álbum fotográfico... No verão vou ver se consigo recuperar algumas e digitalizá-las... O pai do Nelson Herbert, editor sénior da Voz da América (serviço português para África) - caboverdiano que emigrou e casou na Guiné - também esteve no Mindelo, nos anos 40... Vou também publicar a sua história...

A Lia podia fazer a ponte connosco... Se assim o entender, pode juntar-se aos já 340 membros do nosso blogue, fazendo parte de uma tertúlia a que chamamos Tabanca Grande, uma metáfora, que dá uma ideia da nossa pluralidade e multiculturalidade...

Mantenhas para si. Luís Graça

(Na Tabanca Grande, tratamo-nos todos por tu...)

3. No mesmo dia, recebemos a seguinte mensagem do Nelson Herbert:


Bem hajam, os vrios tentáculos do blogue !

O meu velho está aí a chegar, aos Estados Unidos, no próximo dia 19 de Junho... Pedi aos meus irmãos em Cabo Verde, que com a ajuda dele, vasculhassem os arquivos fotográficos desse período específico da vida dele... Em todo o caso, a vinda dele é já uma boa oportunidade para o registo dos seus depoimentos e experiência durante esse período !

Haver vamos se é desta ..tal como reza o ditado português.. que os santos da casa [não] fazem milagres...

Mantenhas

NHL

4. Resposta da Lia Medina, com data de 9 de Junho:

Olá, Luís

Claro que tem a minha autorização para publicar o email.

É com muito gosto que farei parte da vossa comunidade. E sempre que necessitarem de alguma coisa, daqui das ilhas, estejam à vontade.

Muito obrigada por tudo.
Um abraço.

5. Em 9 de Junho o editor L.G. tinha pedido à Lia (e ao Nelson) para identificar alguns dos locais referidos no poste P4926 (*):

Lia e Nelson): Se puderem confirmar ou identificar os locais, óptimo... Por exemplo, chã de Alecrim (*) hoje está integrado na cidade (digo eu, que não conheço o Mindelo in loco). Abraço.


6. Resposta do Nelson:

Chã de Alecrim ou Lecrim (em crioulo) foi e é de facto um bairro, a norte da cidade do Mindelo..sempre fez parte da cidade e onde esteve instalado o comando militar, isto desde a época colonial...

Com a independência do país, o quartel foi ainda herdado e com mesma finalidade pelas Forçaas Armadas caboverdianas...

Uma outra metade, já nos anos 90 e durante a minha gestão (director geral da Televiso de Cabo Verde), foi recuperada para a instalação do centro de produção da televisão nacional caboverdiana, para as ilhas do Barlavento ...Ainda hoje lá funciona !

Nas instalações dos oficiais daquele quartel, funcionou ou funciona ainda hoje o Hotel 5 de Julho que chegou a pertencer ao BANA... a voz cabovediana.

Chã de Alecrim é hoje um dos modernos bairros de Mindelo...

Quanto ao quartel, acredito que deixou de existir como tal !


7. Resposta da Lia Medina:

Olá, Luís

Gostei muito das fotografias (*). Acho que nunca tinha visto nenhuma delas.

Hoje Chã de Alecrim faz parte da cidade, sim, mas penso que o quartel já não deve existir pois nunca vi lá nenhuma construção do género das fotografias.

Vou ver se consigo saber junto das pessoas mais idosas se consigo identificar pelo menos o local exacto do quartel.

Um abraço.

Ps- mando umas fotografias actuais do quartéis de Ponta de João Ribeiro.


8. Novo mail da Lia Medina, de 10/9/2009:

Aqui vão mais fotografias. A número 50 ainda é do quartel de João Ribeiro. São de 2006, as de João Ribeiro continuam na mesma, já o quartel de Monte Sossego está muito mal.

Como os acessos a este quartel são melhores a população já desmontou quase todos os canhões (só ficou um) e a câmara destruiu muitas das construções para evitar que pessoas fossem lá morar.

As fotografias são todas de Pedro Marcelino, um amigo meu.

Um abraço.
Lia

9. A Lia Medina passa a integrar a nossa Tabanca Grande, tendo respondido amavelmente ao nosso convite, em 9 de Junho último:

Olá Luís

Claro que tem a minha autorização para publicar o email [, de 8 de Junho].

É com muito gosto que farei parte da vossa comunidade. E sempre que necessitarem de alguma coisa daqui das ilhas estejam à vontade.

Muito obrigada por tudo.

Um abraço.

Lia


10. Comentário, posterior, ao Poste 5022, de Carlos Cordeiro, professor de História Contemporânea em Ponta Delgada, irmão do malogrado Cap Pára-quedista João Manuel da Costa Cordeiro da CCP 123. É um leitor atento do nosso Blogue. Ele próprio foi, salvo erro, combatente em Angola, durante a guerra colonial:

Um espólio formidável que o blogue tem aqui arquivado. É de destacar este trabalho exigente de pesquisa e divulgação. Veja-se que, no caso concreto, Luís Graça procurou responder a uma solicitação de uma professora caboverdiana para apoiar uma acção pedagógica. É de louvar vivamente.

Quanto à participação de Portugal na Guerra, os historiadores falam em "neutralidade colaborante". E sobre o caso específico de Cabo Verde, António José Telo ("Os Açores e o Controlo do Atlântico", p. 280) diz o seguinte: "Ao longo de 1941, foram enviados cerca de 5000 soldados para o arquipélago [de Cabo Verde], mas que só têm praticamente armamento ligeiro. A defesa do vital porto de S. Vicente continua a basear-se quase só em três peças de 150 mm, reforçadas em 1941 com quatro peças antiaéreas, 12 metralhadoras e uma secção de morteiros de 81 mm. O cônsul americano em Cabo Verde garante que, caso se dê um desembarque no arquipélago, a resistência será meramente simbólica".

Saudações, Carlos Cordeiro


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Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste da série:

9 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4926: Meu pai, meu velho, meu camarada (12): 1º cabo Ângelo Ferreira de Sousa, S. Vicente, 1943/44 (Hélder Sousa)

Vd. postes anteriores desta série:

20 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4059: Meu pai, meu velho, meu camarada (1): Memórias de Cabo Verde, São Vicente, Mindelo, 1941/43 (Luís Graça)

21 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4060: Meu pai, meu velho, meu camarada (2): Militar de carreira, herói da 1ª Grande Guerra, saiu do RAP 2 como eu (David Guimarães)

21 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4062: Meu pai, meu velho, meu camarada (3): No Dia Mundial da Poesia (António Graça de Abreu)

24 de Maio de 2009> Guiné 63/74 - P4407: Meu pai, meu velho, meu camarada (4): Não é um elogio fúnebre que te quero dedicar... (António G. Matos)

26 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4420: Meu pai, meu velho, meu camarada (5): A minha família e o RAP2 (Vila Nova de Gaia) (David Guimarães)

16 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4694: Meu pai, meu velho, meu camarada (6): Ex-Cap Pára João Costa Cordeiro, CCP 123/ BCP 12 (Pedro M. P. Cordeiro / Manuel Rebocho)

17 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4700: Meu pai, meu velho, meu camarada (7): Cap Pára João Costa Cordeiro: Um homem de carácter (António Santos / Carlos Matos Gomes)

17 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4703: Meu pai, meu velho, meu camarada (8): Sobre o Capitão-Pára João Costa Cordeiro (Manuel Peredo)

18 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4705: Meu pai, meu velho, meu camarada (9): Testemunho do Coronel Pára Sílvio Araújo sobre o Cap-Pára João Costa Cordeiro (João Seabra)

18 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4706: Meu pai, meu velho, meu camarada (10): Depoimento e fotos sobre o Cap-Pára João Costa Cordeiro (Miguel Pessoa)

24 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4731: Meu pai, meu velho, meu camarada (11): Mensagem do filho do Cap-Pára João Costa Cordeiro (Pedro Miguel Pereira Cordeiro)

Guiné 63/74 – P5018: Em busca de... (93): Procuro qualquer informação sobre o pessoal da CART 3567 "Os Insaciáveis". – 1972/74, (Paula Sofia Ferreira)

1. O nosso Camarada Luís Graça recebeu uma mensagem/apelo de Paula Sofia Ferreira, filha de um Camarada-de-armas nosso, o Manuel Henrique Ferreira, da CART 3567 "Os Insaciáveis" – 1972/74, que passamos a divulgar e diz o seguinte:

APELO
CART 3567

Caro Luís Graça,

É com muito gosto que tomo conhecimento do seu blogue!

O meu pai, Manuel Henrique Ferreira, foi combatente no Ultramar. Como certamente adivinha, não passa dia nenhum que não haja uma história nova para ouvirmos... mesmo que não seja nova, o prazer de ouvir o meu pai é sempre GRANDE!

O meu pai regressou do Ultramar em 1974 e como todos os combatentes, continuou a lutar pela sua vida... no início não foi fácil; devido a algumas dificuldades tornou-se impossível o meu pai acompanhar os almoços convívio com os camaradas. Acabou por perder o contacto...

Por várias vezes tenho tentado pesquisar (net), na esperança de conseguir novidades, mas não tenho tido muita sorte.

Hoje, e ao fim de alguma insistência, conseguimos convencer o meu pai a ir à Liga dos Combatentes... porque como sabe tão bem... os anos passam mas as marcas da guerra ficam para sempre...

Chegou a casa muito motivado em voltar!

Ele referiu o facto de ter imenso gosto em partilhar com os camaradas, os convívios anuais. A dona Teresa (liga dos Combatentes) deu o seu blogue como referencia para a possível busca e encontro de novidades daquilo que procuramos: camaradas da companhia a que o meu pai pertencia.

Como calcula, adorava surpreender o meu pai com o contacto de algum camarada! Tenho como referencia: CART 3567 "Os Insaciáveis".

Conto com a sua ajuda e agradeço desde ja a disponibilidade. Se forem necessários outros dados agradecia que me comunicasse!

Atentamente,
Paula Sofia Ferreira

Emblemas de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P5017: Parabéns a você (28): Luís Borrega, ex-Fur Mil da CCAV 2749/BCAV 2922, Piche, 1970/72 (Os Editores)

Neste Domingo, dia 27 de Setembro de 2009, completa mais um ano de vida, que se quer seja muito longa, o nosso camarada Luís Borrega (*), ex-Fur Mil Cav MA da CCAV 2749/BCAV 2922, Piche, 1970/72.

Toda a Tabanca se junta, para numa só voz, desejar ao Luís Borrega as melhores venturas e um dia muito alegre, junto dos que lhe são mais queridos.

Aproveitámos para deixar já marcado encontro para, pelo menos os próximos 30 anos, sempre neste dia.

Luís Borrega está connosco desde Dezembro de 2008, quando se nos dirigiu assim:

Caro amigo, após conversa com nosso camarada Mário Beja Santos, decidi escrever para o teu blog para me inscrever na tabanca grande, ai vai a minha apresentação:

Luís Filipe de Magalhães Borrega (Luís Borrega)

Ex-Fur Mil Cav com o curso de Minas e Armadilhas, mobilizado para a Guiné pelo Regimento de Cavalaria 3 de Estremoz, integrando a CCAV 2749/BCAV 2922, colocado no sector L4, no leste da Guiné em Piche.

A minha Companhia tinha os destacamentos CAMBOR, Ponte de RIO CAIUM e mais tarde reocupamos o destacamento de BENTEM.
A nossa área de operações era Piche, Canquelifá e Buruntuma.

Aguardando noticias tuas...

Alfa Bravo!
Luis Borrega



Se bem se recordam, Luís Borrega reclamou para si a fasquia do visitante UM MILHÃO do nosso Blogue (**). Manga de ronco para ele e um orgulho para todos nós, por termos atingido, e já de longe suplantado, tão importante meta.

Quem quiser saber um pouco de dialeto Fula, por mera curiosidade que seja, também pode recorrer ao Mestre Borrega, ou consultar os seus postes dedicados ao Dicionário Fula/Português

Consultados os arquivos do Blogue, apenas encontramos esta foto do Luís:

O Ex-Fur Mil Cav MA Luís Borrega a partir mantanha com os bravos do seu Pelotão (3.º GComb da CCav 2749/BCav 2922) no almoço/convívio realizado em Santarém no ano de 2008.
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Notas de CV:

V. postes postes de Luís Borrega de:

(*) 4 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3699: Tabanca Grande (108): Luís Borrega, ex-Fur Mil Cav da CCAV 2749/BCAV 2922, Piche, 1970/72

24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3785: Dicionário fula / português (Luís Borrega) (1): Nafinda, nháluda, naquirda... Bom dia, boa tarde, boa noite...

24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3786: Dicionário fula / português (Luís Borrega) (2): Gô, Didi, Tati, Nai, Joi.../ Um, Dois, Três, Quatro, Cinco...

26 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3798: Dicionário fula / português (Luís Borrega) (3): Jungo, neuréjungo, ondo... / Braço, mão, dedo, ...

1 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3827: Dicionário fula / português (Luís Borrega) (4): Nhamo, nano... / Direita, esquerda...

14 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3889: Dicionário fula / português (Luís Borrega) (5): Jubi, ala poren, iauliredu... / Miúdo, avião, tem medo...

3 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3833: Em busca de... (64) Militares do BCAÇ 3872, Guiné 1971/73 (Luís Borrega)

21 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3922: Blogoterapia (92): A guerra nunca acaba para aqueles que se bateram em combate (Luís Borrega)

15 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4190: Convívios (109): Pessoal da CCAV 2749 e CCS/BCAV 2922, Vila de Teixoso, no dia 1 de Maio de 2009 (Luís Borrega)

(**) 19 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4215: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (7): Luís Borrega, visitante um milhão (Luís Borrega)

27 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4252: Os Bu...rakos em que vivemos (7): Destacamento de Rio Caium (Luís Borrega)

Vd. último poste da série de 21 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4986: Parabéns a você (27): O veterano Coutinho e Lima, Cor Art Ref, Gadamael (1963/65), Bissau (1968/70), COP 5 (1972/73)

sábado, 26 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P5016: Efemérides (26): Bissau, Cerimónias do 24 de Setembro de 2009 (Pepito)


1. Mensagem que o Pepito enviou para o Luís Graça, no dia 24 de Setembro de 2009:

Luís,

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades...

Festejámos ontem o nosso dia da Independência.

Já o não fazíamos há 20 anos!

Foi bonita a Festa, pá.

Voltou-se a falar de Amílcar Cabral.

Corre um vento muito bonito de esperança.

Compete-nos a nós continuar a assoprar e não deixar, outra vez, que outros o façam por nós.

























Um abração,
pepito

Fotos: Pepito (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P5015: Banco do afecto contra a solidão (7): O texto, revisto, do livro está entregue, mas o Amadu Djaló não está bem (Virgínio Briote)

1. Notícias, com data de 24 do corrente,
do nosso mui querido amigo e co-editor Virgínio Briote (na foto à esquerda, com o Amadu e o J. Colaço, no 10 de Junho de 2009, em Lisboa, Belém, Forte do Bom Sucesso):


Não temos boas notícias do Amadu. Depois de ter sido internado com insuficiência respiratória, foi levado para Belém e sujeito a medicação.

Visitei-o ontem, encontrei lá por acaso o Cor Folques (estava também a internar a mulher) e estivemos a conversar com o Amadu. Pareceu-me muito melhor, falou duarante
cerca de uma hora sem grandes dificuldades.

Mas ontem esteve outra vez pior e hoje falei com a médica dele, a Drª Helena Pinto, que me disse que o ia meter na máquina. O problema respiratório mantém-se. Suspeita de insuficiência cardíaca, uma doença com reduzida esperança de vida, e que o ia mandar fazer os exames para confirmar.

Entretanto o Amadu quer sair a todo o custo e deu um prazo para melhorar até 2ª feira. Caso não mehore vai ter com o filho a Londres...
É isto que tenho para vos contar.

Um abraço

vbriote

PS - Entreguei ontem o texto revisto do livro do Amadu ao Lobo do Amaral.

Guiné 63/74 – P5014: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (20): Os códigos secretos da guerra

1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a sua 20ª estória:


Camaradas,

Ao vasculhar o meu baú de memórias, dei com este texto que, em outros tempos, escrevi sobre os nossos camaradas Operadores de Cripto.

Penso que, com a sua publicação no blogue, prestar-lhes-ei o meu pequeno e modesto, mas mais que justo contributo.

O Titulo que dei ao texto foi:

"CÓDIGOS SECRETOS DE GUERRA"

As trocas de transmissões de mensagens entre os diversos elementos das diversas Unidades espalhadas pelo território, bem como entre os operacionais no terreno, tornavam-se indispensáveis e cruciais à realização de toda e qualquer acção militar e ao melhor êxito na sua concretização.

Em inúmeras situações, além do intercâmbio de informações vitais acerca de todas as matérias em jogo nas nossas movimentações, em acções de combate, pedidos de dicas sobre orientação, apoio de fogo com armas pesadas, pedidos de socorro, etc. permitiam-nos, essencialmente e acima de tudo, actuar com prontidão e eficácia na evacuação dos nossos feridos.

Os operadores de Cripto, eram então os militares que cifravam e decifravam as mensagens classificadas, a que eram atribuídos os seguintes graus de segurança: RESERVADO, CONFIDENCIAL, SECRETO ou MUITO SECRETO.

Além do envio e recepção de mensagens, também escutavam, interceptavam e, ou, interferiam nas transmissões efectuadas entre os guerrilheiros do IN.

Para proteger as nossas trocas de informações (mensagens faladas via rádio), de modo a evitar a eventual decifração pelo IN das mesmas, foi imaginado e criado o uso de Códigos Secretos.

Os referidos códigos eram constituídos por dígitos e símbolos, que dispostos numa mensagem, aparentemente, não demonstravam qualquer nexo a um qualquer leitor, e estavam, geralmente, compilados em pequenos manuais, de acesso muitíssimo restrito.

A sua distribuição era feita de maneira muito específica e cuidadosa, apenas a determinadas e seleccionadas hierarquias superiores e, do mesmo modo, a militares seleccionados e de altíssima e insuspeita confiança.

Qualquer suspeita de fuga de informação, ou de desconfiança que o IN, por qualquer motivo, descodificara os códigos em uso, implicava a sua imediata alteração.

Os Operadores de Cripto tinham os códigos secretos de decifração das mensagens, que circulavam nos Comandos da Guiné.

Como é óbvio dominando soberbamente esta matéria, os nossos criptos tornavam-se “apetitosos” elementos a capturar pelo IN, pelo que eram sempre homens muito bem guardados.

Nos aquartelamentos do mato, zelávamos atentamente pela sua segurança, para que nada lhes acontecesse e muito menos deixá-los ser apanhados.

Lembro-me de um “Top Secret” chegar a Mampatá, e nos ter alertado para este precioso e importante facto.

Haviam informações de que o IN, procurava por todos os meios capturar pelo menos um dos nossos criptos.

Estes especialistas, devido ao seu estatuto de “secretismo”, tinham todos fichas de caracterização pessoal na PIDE/DGS, e após as suas desmobilizações da tropa, eram vigiados/controlados, durante longos períodos da suas vidas, por aquela polícia política, visto que, mantinham nos seu cérebros o domínio dos segredos utilizados na codificação, que tinham aprendido e empregue ao longo das suas comissões de serviço.

Lembro-me do Ramos um desses Operadores Criptos da minha Companhia dizer, num dos nossos encontros anuais, que depois de passar à “peluda” ainda tinha sido abordado pela PIDE/DGS.

Naquele tempo haviam especialidades, que nós do mato julgávamos que eram privilegiadas, mas afinal não passavam de um grande bico-de-obra.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art

Fotos: José Félix (2009). Direitos reservados.
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Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P5013: Gavetas da Memória (Carlos Geraldes) (8): A Poderosa Rainha

1. Das Gavetas da Memória de Carlos Geraldes, ex-Alf Mil da CART 676, Pirada, Bajocunda e Paúnca, 1964/66, saiu esta história/refexão sobre nós, como sentimos Áfica e como a vivemos naqueles longínquos anos.


Gavetas da Memória

A Poderosa Rainha

Acordei a meio da noite com uma sensação estranha que nunca tinha sentido. Saí da cubata para o meio da aldeia tentando adivinhar que mistério seria aquele que sentia crescer em volta de mim. A lua já se tinha escondido e dera lugar a uma espantosa toalha de luzinhas fulgurantes que se deixavam cair, langorosamente, sobre a minha cabeça, cobrindo-me como um manto da cabeça aos pés.

Foi então que me pareceu ouvir os sóis, as estrelas e todos os corpos celestes. Era um zumbido muito leve que apenas se deixava adivinhar. Era como um coro de anjos fabulosos, vindos lá do fim do Universo, afogando-me numa tal estupefacção que fiquei ali, pregado ao chão, de olhos esbugalhados.

Quando recuperei da surpresa procurei uma tosca plataforma de troncos onde os homens se reuniam durante o dia e ali me deitei, com os braços abertos em cruz, deixando que todo o céu desabasse sobre o meu corpo estarrecido.
Naquela tabanca, edificada numa pequena elevação que parecia estar no umbigo do Mundo, avaliei profundamente, a verdadeira dimensão de todos nós, pobres seres pensantes que julgamos tudo dominar. O tempo rugia nas roldanas do mundo que vogava pelo infinito, sem destino.

Num silêncio sepulcral toda a aldeia dormia sob um manto mágico que parecia proteger as casas, os homens, os animais e dar mais força às árvores dispostas agora em redor, velando por nós como sentinelas atentas.
Quando julguei que apenas eu era testemunha daquela revelação, vi um pequeno clarão e o acender de um cigarro de alguém que como eu, estava evidentemente com insónias.
Era o alferes Machado.

Na véspera tínhamos recebido uma mensagem de Bissau que o surpreendera tanto a ele, como a todos nós. Viriam brevemente buscá-lo para uma missão que diziam ser da mais alta responsabilidade. Acabara de ser nomeado oficial adjunto do Governador.
Naquela tarde, mal soubéramos da novidade, tínhamos ido todos festejar para a Cantina e ele acabou por pagar várias rodadas de cerveja como se estivesse fazendo as despedidas finais, como se tratasse do embarque de regresso à metrópole.
Mas o entusiasmo acabou por abrandar, pois era só uma mudança de morada. O pior seria depois, com as fastidiosas recepções oficiais, os salamaleques imbecis para agradar às gordas matronas dos oficiais superiores, sempre de ar muito cansado como se carregassem o enorme fardo daquele guerra absurda e irreal, dos salões com ventoinhas por todos os lados, dos olhares laterais da criadagem, das cozinheiras sempre na espreita de alguma oportunidade para consumarem a vingança por ancestrais humilhações (?)

Seria uma boa vida, claro! Mas o que diriam os antigos camaradas? Aqueles que ficaram roendo o capim debaixo de um sol pavoroso?
O preço a pagar iria ser muito alto. E isso atormentava-o como um ferro em brasa espetado no peito.

Em vão procurava ânimo e sossego na quietude da noite e viera comigo para aquela tabanca na tentativa de um esquecimento total que tornasse toda a realidade num mundo de brincadeirinha, de história em quadradinhos que logo arrumamos para o lado.
Agora sob a protecção de um magnífico manto de estrelas, sóis tão longínquos que a imaginação não pode alcançar, só assim podia acalmar a alma e sonhar que era outra vez menino, correndo de volta da saia da mãe.

Agarrou a arma e disparou uma rajada de fúria como se quisesse rasgar o véu negro da noite para deixar entrar de novo a luz da vida de verdade.
Ninguém respondeu. Ninguém se atreveu a acordar.
Ficámos ainda calados um bom pedaço. As palavras tinham desaparecido, apenas a memória matraqueava nos nossos cérebros.

- Quando eras pequeno também gostavas de revistas com histórias aos quadradinhos? - perguntou ele, rompendo de súbito o silêncio. - Era apaixonado pelo Tintim - continuou sem me dar tempo a responder. – O meu pai mandava-mo vir directamente da Bélgica, por intermédio de um parente que lá morava.

- Tem graça! - respondi, surpreendido pois nunca poderia imaginar vir encontrar alguém, aqui na negrura de África, que também tivesse tido uma infância parecida com a minha.

- Nos meus tempos de miúdo esfarrapava tudo o que eram revistas de quadradinhos ou banda desenhada como agora lhe chamam. Era o Cavaleiro Andante e o Mundo de Aventuras coleccionados religiosamente e rivalizando um com o outro. Que saudades isso agora me veio fazer!

E o resto da noite foi passado quase sem darmos por isso a evocar as doces recordações de infância, espantando com a maior das eficácias, os medos, as angústias que o mistério do futuro imediato, o inesperado da morte, há tanto tempo nos perseguia.

Dois adultos ainda com sonhos de criança, sob um céu cravejado de estrelas, no meio da imensa noite africana.

Nunca tinham estado tão perto do firmamento, nunca tinham sentido aquela estranha sensação de vertigem em direcção do espaço infinito, de sentir sobre os ombros o peso colossal do cosmos ali tão perto, quase ao alcance da mão.
Era então este o verdadeiro mistério da noite africana, a mágica iniciação da adoração de Mãe África, a poderosa Rainha?



Fotos: © Carlos Geraldes (2009). Direitos reservados
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Nota de CV:

Vd. poste de 21 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4988: Gavetas da Memória (Carlos Geraldes) (7): A Mina