sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5406: Os nossos camaradas guineenses (16): A morte do Aliu Sanda Candé (José Teixeira)



1. Mensagem de José Teixeira*, ex-1.º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/70, com data de 2 de Dezembro de 2009:

Camaradas,

Junto mais um texto sobre a polémica que nunca conseguiremos "abafar" nas nossas consciências: A morte ou assassínio dos combatentes guineenses.

O José Belo e o Mexia Alves voltaram ao velho e para sempre inacabado problema relacionado com a morte ou assassínio de antigos combatentes guineenses, que alinharam ao nosso lado, pela Pátria Portuguesa.

O Grande problema é que muitos destes combatentes como o Aliu Sanda Candé, que conheci em Aldeia Formosa, foram fuzilados sem julgamento legal, mas em julgamento popular manobrado por forças do PAIGC, sem que haja documentação escrita do acto. Assim, não é possível provar o acto de fuzilamento que nos permita actuar junto do Ministério do Exército, para se conseguir o subsídio de morte ao serviço da Pátria.

No caso do Candé, tive conhecimento da sua morte por um primo, meu ajudante de enfermeiro, que alguns anos depois conseguiu fugir para Portugal. Ele, o Candé, ou o Alfero da milícia, Aliu Candé, que toda a gente do meu tempo se recordará, pelo seu porte e pela forma como geria o seu grupo de combate, pela forma como reagia perante o inimigo, avançando de peito aberto. Há que dizê-lo, quantos de nós não lhe deverão a vida. Possivelmente eu sou um deles.

Ele, que se orgulhava de cortar as orelhas dos desgraçados que caíam varados pelas balas da sua G3. Após a independência, recebeu o ”chorudo” prémio que Portugal lhe ofereceu pela dedicação à Mãe Pátria, creio que seis meses de ordenado, entregou a G3 e foi dedicar-se à agricultura na Chamarra, sua terra adoptiva, para continuar a dar á família o apoio necessário, até então suportado pelo exército português com o Pré mensal a que tinha direito por passar a vida a lutar contra conterrâneos e, eventualmente, familiares. Podia ter vindo para Portugal e integrado no exército português com o posto de alferes.

Posto conquistado na árdua luta de vida ou morte pois,  tanto quanto sei, foi lhe dada essa oportunidade, quando lhe ofereceram os seis meses de Pré. Ele que,  de soldado raso em Bolama, passou a cabo por mérito, logo a seguir alferes da milícia, comandante de um grupo de combate. Posteriormente, chamado de novo ao Exército como furriel e,  por fim, alferes comandante de grupo de combate de uma Companhia de Comandos africanos.

Apenas, e aqui está o busílis da questão, teria de vir para Portugal só. Deixar a família na Guiné. A sua família. Optou pelos seis meses de pré e pela família.

Um dia, andava na Lala, quando lhe apareceu um grupo da juventude do PAIGC. Levaram-no para Bambadinca, de onde era natural, promoveram um julgamento popular e condenaram-no à morte, por prego enterrado na cabeça... Morte horrorosa!

Os pormenores desse “julgamento” também são terríveis, segundo o seu primo, entretanto já falecido, o Mudé Embaló. Mobilizaram a população para uma manifestação ao homem grande de Bissau que iria fazer uma visita a Bambadinca. Juntada a população, apresentaram o Candé, como criminoso de guerra e promoveram o julgamento popular que conduziu à sua morte.

A vinda do homem grande de Bissau (Presidente Luís Cabral) fora apenas o engodo para atrair a população e assim lhe poderem demonstrar com se tratavam os chamados inimigos da Pátria

A informação que tenho é que viveu umas horas em sofrimento, até morrer (como me dói o coração ao imaginar tal morte!).

Quando em 2008, encontrei a sua filha Cadidjtu Candé, em Guiledje, uma bebezinha de meses, quando passei pela sua terra, ela disse-me que o pai tinha sido fuzilado. Esta informação da Cadi contradiz o que o primo me tinha dito, no entanto, nada está escrito que comprove a sua morte por fuzilamento em resultado de um julgamento militar legal.

Assim sendo, não se pode provar que tenha sido condenado por servir Portugal, logo, a família terá muita dificuldade em provar que morreu ao serviço de Portugal, por falta de provas testemunhais e documentais. Apenas se sabe que a mãe ainda conseguiu visitá-lo uma vez. Depois oficialmente está morto. Aonde foi enterrado? Não se sabe. A sua morte resultou de quê? Não se sabe, porque não há dados oficiais.

Pergunto, numa situação destas,  do pós-guerra e ajuste de contas, quem se atreveria a descrever e registar dados tão comprometedores?

Como se poderá provar que não foi apenas um ajuste de contas de alguém que combateu pelo PAIGC e sofreu os efeitos da acção guerrilheira do grande Candé?

Perguntas a que eu muito gostaria de poder responder, mas a única verdade que sei, é que o Candé sofreu uma morte horrorosa.

Saibamos nós honrar a sua memória e o seu nome.

José Teixeira
1º Cabo Enf da CCAÇ 2381
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Nota de MR:

Vd. último poste da série em:


Guiné 63/74 - P5405: Estórias avulsas (19): O Cavalo de Ferro de visita ao Dulombi (Luís Dias)

1. Mensagem de Luís Dias*, ex-Alf Mil da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74, com data de 1 de Dezembro de 2009:

Caros editores
Uma pequena história sobre a projecção de um filme no Dulombi e o efeito que provocou.

Um grande e fraterno abraço do tamanho do Rio Corubalo.
Luís Dias


O CAVALO DE FERRO DE VISITA AO DULOMBI
Aquartelados no Dulombi, desde Janeiro de 1972, os elementos da CCAÇ 3491 íam passando os dias em operações semanais para os lados do Rio Corubalo, em emboscadas nocturnas, picagens para as colunas semanais a Bambadinca / Bafatá / Galomaro, para reabastecimento e em serviços que o capitão tratava de arranjar diariamente no quartel para os manter ocupados (limpeza do quartel, arranjo das valas, segurança e transporte de água do rio para abastecer o aquartelamento, etc.).

Como distrações lá tínhamos umas futeboladas, umas trocas bem assanhadas de caneladas, mormente quando ao fim de semana fazíamos um Benfica-Outros (Sporting + FC Porto), em que havia as habituais apostas (grades de cerveja ou garrafas de uísque), entre mim (um lampião orgulhoso) e o Furriel Enfermeiro Nevado (ferrenho lagarto), isto para além dos jogos de cartas habituais.

Outro momento alto de distracção, isto para alguns dos graduados, eram os “petiscos” organizados por uma comissão, formada pelos Alferes Dias (2.º GC) e Parente (4.º GC), 1.º Sargento Gama, Furriéis: Nevado (Enf.º), Batista (1.º GC), Gonçalves (2.º GC), Espírito Santo (2.º GC), Machado (4.º GC e já falecido), Carvalho (4.º GC) e Fonseca (o nosso Vaguemestre, recentemente falecido no trágico acidente da praia Maria Luísa). Todos os meses eram nomeados dois membros para gerirem as quotizações com que todos entravam para conseguir adquirir géneros, ou na tabanca ou em Bafatá, para elaborar uns tentadores petiscos com que nos banqueteávamos, quando regressávamos das operações “famintos” e para reforçar os almoços domingueiros, normalmente com uma belíssima sopa alentejana, feita pelo nosso 1.º Sargento (alentejano de gema).

Um dia surgiu no Dulombi uma equipa projeccionista de Bissau que vinha entreter as tropas com a passagem de um filme: coisa diferente, tremenda alteração da rotina.

Privados de televisão e de cinema, a chegada desta equipa itinerante foi um acontecimento recebido com entusiasmo por todos. O cinema improvisado foi instalado no refeitório dos praças. Nesse princípio de noite, lá se acomodaram as tropas, os milícias e também muitos elementos da população que estavam ansiosos por verem o filme. Não sei se os guerrilheiros do PAIGC sabiam da projecção, mas de facto fomos deixados em paz.

A projecção era de um daqueles tradicionais filmes de cowboys e indíos, já não sei se protagnizado pelo John Wayne, o Henry Fonda, o Yul Brynner ou outro famoso actor daqueles tempos. A coisa foi correndo de feição com o público entusiasmado com a acção que se passava no ecrã. Contudo, a determinado momento, surge no filme, vindo do fundo da cena, um comboio, o qual avançava a todo o carvão em direcção à boca de cena, enchendo num repente todo o cenário, com um barulho ensurdecedor, parecendo querer saltar da lona ou pano que servia de ecrã para para galgar para cima dos assistentes. A rapaziada já habituada a estas fitas ficou impávida e serena, mas com o pessoal africano é que a coisa fiou fino.

Aquele cavalo de ferro, como lhe chamavam os índios, parecia vir mesmo para cima dos espectadores e, como é sabido, não havia comboios na Guiné, isso provocou um alvoroço muito grande e muitos deles desataram a fugir, causando o gáudio do resto da assistência. Alguns ainda regressaram depois de chamados pelos militares, outros só devem ter parado já bem dentro da tabanca.

Foi um momento engraçado, de grande perplexidade da nossa parte por vermos a maioria dos africanos a fugir do filme… mas também alguns dos nossos efectuaram uma retirada “estratégica”, não por causa do comboio, mas por verem os africanos a dar o gosse convenceram-se que era por causa do IN.

Os africanos, na sua maioria, nunca tinham visto um comboio e aquilo era, na altura, muita carruagem para formar uma coluna normal, das que eles estavam habituados, ainda por cima a resfolegar daquela forma.

Foi um dia/noite bem diferente, que provocou a boa disposição entre o pessoal.

Luís Dias
Ex-Alf Mil
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 1 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4616: Ainda sobre a ataque a Campata (Luís Dias)

Vd. último poste da série de 1 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5381: Estórias avulsas (61): 111 – O «Têmpera de aço» (José Marques Ferreira)

Guiné 63/74 - P5404: Postais ilustrados (17): Postais Antigos da Guiné, de João Loureiro - Algum interior da Guiné (Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Dezembro de 2009:

Malta,
Aqui vai algum interior da nossa Guiné. Evitei aquelas que falam de uma arquitectura degradada, sobretudo de Bafatá e Farim.
Preparem-se, na próxima edição junto os postais do nosso tempo, imagens tranquilas de folclore, mercados, tocadores de corá e fainas domésticas com que enganávamos as nossas famílias, procurando convencê-las que estávamos em pacífica aventura africana.

Um abraço do
Mário


Uma relíquia: Postais antigos da Guiné (3)

Por Beja Santos

Nas edições anteriores, percorremos a obra “Postais Antigos da Guiné” (por João Loureiro, Edição de João Loureiro e Associados, 2000, esgotado), primeiro com os postais de Bissau, desde 1900, mostrando as regiões limítrofes, até 1925, é a imagem de cidade entreposto, com os contingentes militares que vieram para as campanhas de pacificação, exibem-se régulos e famílias, mercados, casas de grumetes de Bissau, muitas vezes o porto a fervilhar de actividade, com os seus armazéns e estabelecimentos comerciais e aquelas ruas laterais que ainda conhecemos que ainda conhecemos nos anos 60 e 70, com reminiscências portuguesas; a Bissau capital data de 1941, rasgaram-se artérias, surgiram imponentes edifícios da administração, a fortaleza de São José da Amura foi reparada, emergiram os sinais imperiais com o Palácio, a Avenida Marginal, os monumentos aos heróis, os jardins, a Bissau com os bairros dos altos funcionários, a fanfarra da tropa nativa, o aeroporto. Como observa João Loureiro, os mais antigos postais fotográficos sobre a Guiné foram publicados por casas francesas, o fotógrafo de guerra José Henriques de Mello terá mesmo publicado alguns dos seus clichés em casas francesas, independentemente das imagens que mandou para periódicos portugueses na época.

As imagens que constituem a terceira parte da obra têm a ver com aspectos do interior da colónia e não são alheias à sua divulgação manifestações como a Exposição Colonial do Porto (1934) ou as celebrações do Quinto Centenário da Descoberta da Guiné (1946), surgindo depois firmas comerciais como a Foto Serra, a Casa Mendes, a Confeitaria Império, as Galerias Jotaeme e a Foto Iris, todas sediadas em Bissau, para além das edições da Agência-Geral do Ultramar e o Centro de Informação e Turismo da Guiné.

Muita da memória guineense está perdida ou desfalcada, sobretudo a guerra civil levou ao desaparecimento de documentos, à destruição de livros ou à inutilização de filmes e fotografias. Desapareceram computadores com preciosas bases de dados, tudo isto no apocalipse dos bombardeamentos e de actos de puro vandalismo. Felizmente que no tempo da guerra civil, e graças a um protocolo de cooperação entre o Governo da Guiné-Bissau, o PAIGC e a Fundação Mário Soares se conseguiu recolher documentação valiosa, a começar pelos manuscritos de Amílcar Cabral e o vasto leque de fotografias referentes a este líder político.

Pois estes velhos postais ilustrados proporcionam o registo de memórias como a vida na então capital, Bolama, à época detentora dos edifícios mais sumptuosos da colónia, mas também possuidora de monumentos bizarros como aqueles que Mussolini ofereceu à cidade como recordação da viagem de Italo Balbo de Roma até ao Atlântico Sul. São mostradas vistas de Bafatá, então a terceira povoação da colónia, os seus arruamentos, a ponte sobre o rio Geba, o edifício da Administração civil e a sua torre arabizante, mas também o porto de Farim e outras perspectivas, o imponente edifício da Administração de Nova Lamego (Gabu) e postais de pendor exótico, mostrando Felupes, Bijagós; convém recordar que a ilha de Bubaque e o arquipélago dos Bijagós se transformaram numa atracção turística, o próprio Governador possuía aqui uma residência de veraneio. A última série de postais vem na sequência destes aspectos de interior, mostrando o povo e os seus costumes entre 1905 e 1970. Estarão porventura aqui algumas das imagens mais importantes que nós mandámos às nossas famílias.

Quando cheguei ao porto de Bolama, em 1991, não acreditei no que estava a ver, uma lembrança de Mussolini, Arte Deco da melhor, à entrada de uma cidade em colapso. As estátuas coloniais portuguesas tinham sido apeadas e o monumento fascista ficara de pé? Em conversa com um dirigente do PAIGC, ele explicou-me que se tentou dinamitar a peça colossal, ela nem se mexeu. Os bolamenses habituaram-se a conviver com toda esta tonelagem.

Sonhei vezes sem conta em tomar um veleiro em Bambadinca e fazer este canal sinuoso até Bafatá. Já meti na minha agenda, é viagem obrigatória quando voltar à Guiné.

Lê-se no postal editado pela Foto Serra (cerca de 1966): Campune tocadora, homem tocado e vacabrutos, Bijagós. Os Bijagós tornaram-se uma atracção turística, compreende-se o gosto em enviar estas imagens que se vendiam em Bissau. À minha responsabilidade, mandei pelo menos uma dezena.

Mais dançarinos Bijagós, Foto Serra, cerca de 1966
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5399: Postais ilustrados (16): Postais Antigos da Guiné, de João Loureiro - Da Bissau nos anos 40 até à década de 70 (Beja Santos)

Guiné 63/74 - P5403: Tabanca Grande (193): Victor Alfaiate, ex-Fur Mil Trms, CCAV 8350 (Guileje, 1972/73)



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/74) > Duas cenas da retirada do aquartelamento e tabanca, em 22 de Maio de 1973. Fotos (já famosas...) de Carlos Santos, ex-Fur Mil, da CCAV 8350 - Piratas de Guileje (com a devida vénia).

Fotos: © Carlos Santos (2008). Direitos reservados


1. Em Setembro passado, recebemos um texto, em duas partes, sob o título "Ainda e sempre Guileje". Era assinado por Victor Alfaiate, ex-Fir Mil Trms, CCAV 8350 - Piratas de Guileje (Guileje, 1972/73). O texto vinha escrito todo em maiúsculas, pelo que foi pedido ao Victor para mandar uma versão normalizada. Sugerimos-lhe também sua entrada na Tabanca Grande, devendo para o efeito cumprir as regras que estão instituídas. Eis o mail, de 27 de Outubro, que nos mandou:


Olá, meus amigos

Como referi no meu mail de 26 de Setembro, é evidente que terei muito gosto em fazer parte da lista dos camaradas da Guiné, simplesmente como me encontro ausente de Portugal, só em Dezembro, quando me lá deslocar, terei oportunidade de vos enviar as fotografias. Posto isto, passo a apresentar-me:

Chamo-me Victor Manuel Ferreira Alfaiate, tenho 58 anos e resido em Tomar, momentaneamente encontro-me na Suíça, e fui o muitas vezes referido já Furriel de Transmissões de Guileje.

Fui incorporado no 4º. turno de 71 nas Caldas da Rainha, passei por Tavira tirar a especialidade de Transmissões de Infantaria, após o que, como Cabo Miliciano, passei pelo RI 12 - Guarda e BC 5 - Campolide de onde fui transferido para o RC 3 - Estremoz, onde fui colocado na CCav 8350 com destino à Guiné.

Na Guiné, para além de Guileje e Gadamael, passei por seis ou sete destacamentos sendo os dois últimos Colibuía e Cumbijã em cuja entrega ao PAIGC participei.

Quanto ao texto "Ainda e Sempre Guileje", como também referi, desconhecia da impossibilidade de ser publicado em maiúsculas, pelo que irei reescrevê-lo e reenviá-lo posteriormente.

Um Abraço

Victor Alfaiate

2. Sobre o texto "Ainda e sempre Guileje", o editor Luís Graça mandou ao Victor Alfaiate um primeiro mail, com algumas observações, comentários e sugestões, em 29 de Outubro:

Meu caro Victor, camarada da Guiné:

Obrigado pela tua amável resposta ao meu pedido, pondo o teu texto em formato normal (estava erm maísculas).

É um depoimento importante, de um camarada que foi actor dos acontecimentos e que, além disso, estava numa posição-chave, como responsável pelas transmissões, em Guileje, em Maio de 1973... Guileje é o descritor, a par de Bambadinca, com maiores ocorrências no nosso blogue... Nisso estamos de acordo, "ainda e sempre Guileje"...

Mas antes que me mandes a segunda parte do teu depoimento, deixa-me dizer-te duas ou três coisas:

(i) Sentir-me-ia honrado (e mais confortável) se tu aceitares o meu convite para integrar a nossa Tabanca Grande, passando o teu nome a figurar na lista alfabética, de A a Z, que aparece na coluna do lado esquerdo do blogue (preciso, nesse caso, de duas fotos tuas, uma do antigamente e outra actual);

(ii) Temos um conjunto de princípios que, no meu entender, são pacíficos: são eles que nos têm permitido atingir, enquanto blogue, a provecta idade de seis anos (em Abril de 2010)...

(iii) Os dois primeiros dos dez mandamentos do nosso blogue dizem: (1) respeito uns pelos outros, pelas vivências, valores, sentimentos, memórias e opiniões uns dos outros (hoje e ontem); (2) manifestação serena mas franca dos nossos pontos de vista, mesmo quando discordamos, saudavelmente, uns dos outros (o mesmo é dizer: que evitaremos as picardias, as polémicas acaloradas, os insultos, a violência verbal);

(iv) A guerra da Guiné já acabou há 35 anos... O nosso blogue não a vai ressuscitar... Estamos todos aqui para recordar e partilhar memórias... A visão de cada um é fragmentada... Não tivemos em todos os sítios... Muitas coisas nunca chegaram ao nosso conhecimento... Hoje, eu sei muitissimo mais do que sabia quando por lá passei (1969/71)... E, inclusive, visitei Guileje, em Março de 2008.

(v) Tenho muito respeito pelos que desde 1964 defenderam a bandeira portuguesa e deram o mellhor da sua saúde e da sua juventude (e alguns a vida) na mítica povoação e aquartelemento de Guileje... Como respeito os que arrearam a bandeira portuguesa e retiraram de Guileje, em 22 de Maio de 1973...

(vi) Nunca mais poderás esquecer Guileje, mas também tens o "dever de memória"... Fico honrado por quereres exercer esse direito aqui no blogue... Mas, como eu faço questão de dizer, o nosso blogue não é um tribunal da opinião pública, não é uma arena de combate, é apenas um fórum onde contamos as nossas histórias, fazemos os nossos depoimentos e podemos tambémn discutir uns com os outros tudo o que esteja relacionado directa ou indirectamente com a guerra colonial da Guiné...

(viii) O teu texto (que eu gostaria de publicar na íntegra) tem algumas, expressões e frases que são susceptíveis de ofender alguns camaradas nossos... Há, nomeadamente, camaradas da Força Aérea que poderão sentir-se melindrados com insinuações tuas como, por exemplo, as "loirinhas" (cervejas), o "ar condicionado" de Bissalanca, e outras picardias que, no meu entender, não valorizam o teu depoimento, não acrescentam nada....

(ix) Meu caro Victor, seria pedir-te muito para "rever", "reexaminar", "eliminar" ou "substituir" as palavras, expressões e frases que estão a amarelo (no teu texto, que segue em anexo)? Não estou a censurar-te, apenas a pedir-te que não confundas as palavras com pedras de arremesso ou balas de G3...

(x) Quero que entres pela porta grande da no nosso blogue, com orgulho, pundonor e altivez, cingindo-te aos factos, aos acontecimentos que viveste ou presenciaste... Não precisas de tratar os tenentes da Força Aérea como senhores nem entrares em polémica com eles por via do insulto, independentemente da mágoa e da raiva que ainda hoje podes ter no teu coração (mas eles não podem ser o teu bode expiatório...). O que saiu da boca de cada um, no calor da batalha, já lá vai... Há maneiras elegantes, e com piada, de reproduzir certas conversas entre nós... Eu também chamei nomes feios a alguns dos meus superiores hierárquicos, no calor da batalha... Hoje falo disso a rir, com sentido de humor (que é, com a compaixão, um dos traços distintivos dos seres humanos, da inteligência e da nobreza dos seres humanos).

Desejo-te o melhor para a tua vida. Ainda não me disseste onde vives e trabalhas, no estrangeiro. Onde quer que estejas, tens aqui um amigo, além de camarada da Guiné. Luís Graça

[A resposta do Victor Alfaiate será publicada oportunamente, juntamente com o texto "Ainda e sempre Guileje", juntamente com os pareceres dos meus co-editores e do Miguel Pessoa, Cor Ref Pilav, que tem representado, com grande entusiasmo, brilho e valor a menina dos seus olhos, que é a Força Aérea, se bem que sem qualquer mandato da dita cuja... (Poderá evocar sempre, e no máximo, o facto de ter sido, na Guiné, o primeiro piloto a ser atingido por um Strela, tendo felizmente conseguido ejectar-se do Fiat G-91 abatido e sobrevido, na mata de Guileje, até ser recuperado, são e salvo, pelas NT)].
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Nota de L.G.:

Vd. último poste desta série: 3 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5400: Tabanca Grande (192): Rui Baptista, ex-Fur Mil da CCAÇ 3489/BCAÇ 3872, Cancolim, 1971/74

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5402: Os nossos camaradas guineenses (15): O que será feito do Ernesto “balanta”… (António Matos)


1. O nosso camarada António Matos, ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72, enviou-nos a seguinte mensagem, onde recorda o apelo já aqui lançado, a quem saiba qualquer informação sobre o seu amigo balanta, de nome Ernesto, de quem nada sabe vai para 40 anos, e lha possa prestar para o seu e-mail: agmatos@armail.pt

Caro Eduardo, estas temáticas mexem com as consciências e fazem-nos falar mesmo quando em abstinência deliberada.

Se assim o entenderes na tua condição de editor ao serviço da liberdade de expressão que se pretende com este espaço, publica-o!

Aqui está:

Nelson Mandela é com toda a certeza uma referência planetária como Homem, como lutador, como resistente, como estadista, como presidente, como intelectual. Da mescla que todas estas valências potenciam, vêm-me à cabeça "As Conversas Comigo Mesmo" que, sem grande esforço, me catapultam para idêntica reflexão sobre a minha vida.

Exercício supremo este de pormos em cima da mesa, desprovido à partida de qualquer adjectivação ou apreciação, os elementos que nos permitam equacioná-los num ponto de vista actual ainda que não esquecendo os contextos nos momentos em que foram vividos.

Juntemos ao individual caldo cultural adquirido a quantidade quanto baste de moral e ética simultaneamente com os dados genéticos que nos advieram por obra e graça do Big Bang e teremos meio caminho andado para perceber as verdadeiras aberrações que nos assaltam diariamente as consciências.

Holocaustos, guerras, crimes contra crianças e velhos, filhos que espancam os pais, pais que vindimam os filhos, etc., etc., etc., entraram-nos num quotidiano impensável há uns tempos atrás.Vinganças que os vencedores impõem como que uma chancela de certificação na carne ou na dignidade dos vencidos, passaram a ser meras banalidades adivinháveis à anteriori.

Navassa, ilha em destino paradisíaco entre a Jamaica e o Haiti transformada em jaula para animais ferozes que sucumbirão no exacto momento em que deixarem de acreditar e se convencerem que aquilo dá pelo nome artístico de Guantanamo, ficará para a posteridade a regatear níveis de influência comparáveis aos de Hitler ou Nino Vieira. Fuzilamentos sumários emparcereirão com os de índole moral onde a destruição da pessoa será levada a cabo com requintes de exposição mediática muitas das vezes inconclusiva.

E a dúvida?Essa permanecerá, corrosiva, violenta e violentadora, num luto sem corpo, à espera duma remissão que os Céus nos conceda.

Já por duas ou três vezes tentei saber do Ernesto, balanta dos sete costados, jovem como nós há 40 anos atrás, solidário com a nossa luta na Guiné que também era a dele, afável, risonho, competente.

A minha dúvida é se o Ernesto engrossa as listas dos fuzilados-desconhecidos, sepultado algures numa cova com mais uns tantos, anónimo, transformado em seiva bruta que alimenta um qualquer embondeiro daquele chão avermelhado...

Execução
(In Wikipédia, Enciclopédia livre)

Que venham poetas e prosadores verter lágrimas de crocodilo e fazerem coro de carpideira com responsáveis políticos sem contudo lhes exigirmos assumir a sua responsabilidade física e moral em mais esta matança, e estaremos a condescender com a nossa inacção, ao perpetuar dum crime que virá, mais tarde, a ser negado como o tem sido o próprio holocausto.

Tomemos Nelson Mandela como paradigma dos que abrem as portas agrilhoadas dos destinos que nos impõem quando pensamos pela nossa cabeça numa toada dissonante das maiorias ditatoriais, bacocas, prenhes de iliteracia, sofrendo de melindres mesquinhos.

O homem é um ser eminentemente violento! Por excepção, temos alturas de "descanso esquizofrénico" e vamos enganando o mundo...

Um mero estalar de dedos e eis que aparecemos em toda a nossa pujança diabólica capazes das maiores atrocidades, saboreando com prazer animalesco o acto de matar!

Esse é um lado do problema. E o outro?

O do aproveitador político ou circunstancial do crime?

Sejamos honestos e no reconhecimento dessa honestidade intelectual aqui fica um abraço ao Manuel Maia pela lucidez explícita nos seus comentários sobre esta temática.

António Matos,
Alf Mil Minas Arm da CCAÇ 2790

Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


Guiné 63/74 - P5401: Os nossos médicos (12): Cap Mil Grad José Joaquim Magalhães de Oliveira, BCAV 2867 (Tite, 1969/70): Será que ainda é vivo ? (Pereira da Costa / Luís Graça)


1. Pedido do editor L.G. ao nosso camarada António José Pereira da Costa (ex-Cap Art CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74, hoje Cor Ref), a propósito do P5174 (*):

Camarada Pereira da Costa: Tens alguns dados sobre esta trágica história ? O Moreira foi julgado e condenado no Tribunal Territorial do Porto...Em Novembro de 1973, quando o crime foi em 1969... Estranho ?!... E depois, amnistiado... Podes saber algo mais ? Um abraço. Luís

2. Resposta  pronta do Pereira da Costa:

Boa noite,  Camarada:

Isto está confuso, porquanto a história do BCav [ 2867] é muito fraca. Imagina que,  embora haja lista de louvados e condecorados,  não se sabe porquê.

Desconhece-se completamente a identificação dos 57 punidos durante a comissão.

Não há, na história do BCav, a menor referência ao sucedido [, o episódio do Fur Mil Moreira, que atingiu com uma rajada de G3 o médico do batalhão]..

O médico era Capitão  Miliciano Graduado Médico, talvez por ter sido repescado depois de já ter cumprido o serviço militar. Chamava-se José Joaquim Magalhães de Oliveira,  e não Marques de Oliveira.

Será de o tentar localizar através da Ordem? E, se ele não quiser... não quer.

O que é que deverá fazer num caso como este?  Por mim ainda posso fazer algo mais, mas para já o panorama não é bom.

Era bom definíssemos o que queremos fazer e o que será melhor fazer.

Se o agressor faleceu e o irmão não deu elementos muito seguros para uma boa investigação para se determinar em pormenor o que se passou...

Ora,  informa o que se te oferecer.

Um Ab. do

António Costa
Guiné

3. Comentário de L.G.:

Obrigado pelas tuas diligências e perseverança. Como me transmitiu o Francisco Feio, de Alhos Vedros, estes trágicos acontecimentos ter-se-ão passado em Fulacunda e não em Nova Sintra: O Moreira pertencia à CCAV 2483, Cavaleiros de Nova Sintra. A sede  BCAV 2867 era em Tite (onde estava habitualmente o Cap Médico, que pertencia `CCS). Em Fulacunda decorria então uma operação a nível de batalhão.

Recorde-se o que nos disse o Ovídio Moreira: "O meu irmão, José dos Santos Moreira, [Fur Mil,] fez parte da CCAV 2483, Cavaleiros de Nova Sintra, BCAV 2867 [, Comando e CCS em Tite]. Em 1969 feriu a tiro de G3 o Cap Médico do batalhão".

Não sei o que podemos fazer mais, a não ser aguardar informações adicionais da malta do Batalhão (**), e das companhias que o compunham. Em especial, algum Cavaleiro de Nova Sintra que eventualmente tenha presenciado os acontecimentos ou tinha tido  conhecimento deles 'in loco'. Não foi o caso do Francisco Feio, que era 1º Cabo Mecânico, da CCAV 2484 (Os Cavaleiros de Jabadá), e não estava nesse dia em Fulacunda.

É uma história trágica, muito triste. O Moreira já morreu, quem sabe se com um grande peso às costas. Do nosso camarada médico, por sua vez, não há rasto dele na Internet. Quanto mais casos semelhantes não terá havido ao longo dos 11 de Guerra  na Guiné ?

A Ordem dos Médicos não dá informações, ao público, sobre os seus associados, por razões óbvias. Também não sabemos se o malogrado médico ainda é vivo.  E, se sim, não quererá (re)lembrar o sucedido. Em suma, não te maço mais, embora gostasse de aprofundar esta história. No fundo, gostaria de saber qual teria sido o "móbil do crime", o que terá levado o pobre do furriel á loucura daquele acto...
___________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes de:

 21 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5138: O segredo de... (9): Fur Mil J. S. Moreira, da CCAV 2483, que feriu com uma rajada de G3 o médico do BCAV 2867 (Ovídio Moreira):

28 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5174: Os nossos médicos (11): O malogrado Cap José Joaquim Marques de Oliveira (Francisco Feio, CCAV 2484, Jabadá, 1969/70)

(**)  A este batalhão pertencia também o Horácio Ramos, conforme Poste inserido na I Série,  3 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCII: Horácio Ramos, presente!! (BCAV 2867, Tite, 1979/70)
(...) Texto do João Martins:


Caros Camaradas: Estive há poucas horas a falar com o Fernando Fraquito que me confirmou que o pai pertenceu ao BCAV 2867. Prometi emviar-lhe novos elementos, que seguem em anexo.


Resta agora que alguém que tenha conhecido o Horácio, que entre em contacto com o Fernando, para ele obter aquilo porque anseia. Creio que, quando houver um encontro desta unidade, ele vai estar na fila de frente. Um forte abraço, José Martins.

(...) BATALHÃO DE CAVALARIA 2867

Unidade Mobilizadora > Regimento de Cavalaria 3, em Estremoz
Comandante > TCor Cav José Luís Trinité Rosa
2º Comandante > Maj Cav Francisco José Martins Ferreira
O Inf Op/Adj > Maj Cav Carlos Dias Antunes
Comandantes CCS > Cap Mil Art Carlos Pedro da Fonseca e Silva / Cap Mil Art Mário Pais Mexia Leitão

Divisa >"SOMOS COMO SOMOS"

(i) Partida em 23 de Fevereiro de 1969; desembarque em 1 de Março de 1969; e regresso em 23 de Dezembro de 1970.

(ii) Em 3 de Março de 1969 assumiu a responsabilidade do Sector S1, com sede em Tite, abrangendo os subsectores de Tite, Nova Sintra, Jabadá e Fulacunda, mantendo as suas subunidades enquadradas no seu dispositivo.

(iii) Desenvolveu actividade operacional de patrulhamento, reconhecimento, batidas, emboscadas e controlo de itinerários, coordenando as suas subunidades em várias operações em que se destacam: ARMAS LEAIS, GERÊS, 3ª ESTOCADA, 4ª BATALHA, 6º DESFORÇO, ANDAR LIGEIRO e GRANDE RODA.

(iv) Do material que capturou, destaca-se: 4 metralhadoras ligeiras, 6 pistolas-metralhadoras, 12 espingardas e 5 lança-granadas foguete.

Companhia de Cavalaria 2482
Comandante > Cap Cav > Henrique de Carvalho Morais
Assumiu o subsector de Tite em 2 de Março de 1969. Foi transferida para Fulacunda em 30 de Junho de 1969. Foi rendida em 14 de Dezembro de 1970, recolhendo a Bissau para regresso à Metrópole

Companhia de Cavalaria 2483
Comandantes > Cap Cav Joaquim Manuel Correia Bernardo / Cap Mil Art João José Pires de Almeida Loureiro / Cap Mil Art Ricardo José Prego Gamado
Assumiu o subsector de Nova Sintra em 31 de Maio de 1969, destacando um pelotão para S. João. Foi transferida para Tite em 23 de Setembro de 1970 com função de intervenção e quadrícula. Foi rendida em 14 de Dezembro de 1970, recolhendo a Bissau para regresso à Metrópole.

Companhia de Cavalaria 2484
Comandante > Cap Cav José Guilherme Paixão Ferreira Durão
Assumiu o subsector de Jabadá em 4 de Março de 1969.
Destacou, entre 3 de Novembro de 1969 e 9 de Novembro de 1969, três pelotões para Tite. Foi rendida em 9 de Dezembro de 1970, recolhendo a Bissau para regresso à Metrópole.
(...)

Guiné 63/74 - P5400: Tabanca Grande (192): Rui Baptista, ex-Fur Mil da CCAÇ 3489/BCAÇ 3872, Cancolim, 1971/74

1. Mensagem do nosso novo camarada Rui Baptista, ex-Fur Mil da CCAÇ 3489/BCAÇ 3872, Cancolim, 1971/74, com data de 30 de Novembro de 2009:

Caro camarada Carlos Vinhal,

Antes de mais quero agradecer-vos todo o esforço pelo trabalho e dedicação que têm tido para fazer viver este blogue com as recordações boas e menos boas dos nossos camaradas de armas que viveram a guerra na Guiné. De seguida quero pedir desculpa por ter demorado tanto tempo a responder-vos e isso deve-se à minha grande falta de jeito para escrever.

Sou Rui Baptista ex-Furriel Miliciano e fiz parte do BCaç 3872. A minha Companhia operacional foi a CCaç 3489 (2.º Pelotão) aquartelada em Cancolim.



Actualmente estou reformado. Tenho 59 anos feitos no passado dia 10 de Setembro.
Sou casado e pai de duas garotas, uma já formada e outra em vias disso.
Vivo na Póvoa de Santo Adrião que fica nos arredores de Lisboa.

Embarquei para a Guiné no NT Angra do Heroísmo em 18 de Dezembro de 1971 e desembarquei em Bissau em 24 do mesmo mês.
Regressei a Portugal no navio Niassa que partiu de Bissau em 28 de Março e chegou a Lisboa a 4 de Abril de 1974.

Nesse espaço de tempo que permaneci na Guiné (27 meses e alguns dias), sempre em Cancolim (há que retirar o tempo do IAO no Cumeré, duas viagens de férias a Lisboa e dois internamentos no Hospital Militar em Bissau), aconteceram coisas que jamais poderei esquecer. Eis aqui um pouquinho dessa história:

A CCaç 3489 não teve muita sorte durante a comissão, principalmente nos primeiros meses. Logo no início em Cancolim em três quintas-feiras seguidas tivemos 4 mortos e 21 feridos.

Um morto e um ferido numa mina na picada entre Cancolim e o destacamento de Sangue Cabomba; 16 feridos ligeiros num despiste de uma viatura a caminho de Bafatá, e mais 3 mortos e 4 feridos na primeira flagelação do IN ao nosso aquartelamento.

Neste primeiro ataque tive a sorte de um ex-furriel dos velhinhos me ter empurrado para dentro da porta da Secretaria, ele, com esse gesto, acabou por ser ferido numa vista por um estilhaço de uma granada de morteiro 82 e eu escapei ileso.

A seguir a estes desaires tivemos o abandono do Capitão e de um Alferes, e a partida forçada para as tropas africanas do Alferes Rosa Santos do meu pelotão.

Como o IN não nos dava tréguas, e com o pouco material de guerra que tínhamos para nos defender (na altura apenas um morteiro 81), com o assalto pelo IN ao nosso destacamento e a captura de 2 homens nossos, a fuga de um soldado para o IN, juntamente com as notícias de mortos no Saltinho e emboscadas no Dulombi, o desânimo instalou-se nas nossas tropas.

Com a substituição do Capitão e dos alferes, acabamos por não ter um comando à altura de nos elevar o moral, passámos por um período do quase salve-se quem puder. Valeu-nos o reforço de um Pelotão do Dulombi e a visita de alguns Páras para as coisas acalmarem em Cancolim.

O resto da comissão, principalmente os últimos 7 ou 8 meses de 1973, foi bem mais calmo. O último ataque a Cancolim foi em 20 de Janeiro de 1974, nesse dia o IN veio de manhã quase junto ao arame, apesar de muitos de nós andarem a jogar futebol, conseguimos fazer com que batessem em retirada deixando um morto no terreno.

A primeira vez que fui parar ao Hospital Militar de Bissau foi devido a uma febre que ninguém conseguiu identificar. Cheguei lá a 6 de Junho de 1972 e saí quase um mês e meio depois. A segunda vez foi pouco tempo depois da primeira, foi logo na coluna seguinte a me irem buscar a Bafatá, dia 14 de Agosto de 1972. Não era a vez do meu Pelotão fazer a coluna. Quem estava na escala era do 1.º Pelotão comandado pelo Capitão, este alegando que não se sentia bem e como eu tinha estado fora da Companhia algum tempo, conseguiu convencer-me a substituí-lo dessa vez. Não gostei muito da ideia mas lá fui.

Após a saída de Bafatá comecei a sentir que algo não ia correr bem. Ao chegarmos a Sangue Cabomba fui colocar o saco do correio (a mais sagrada das coisas para nós) na última viatura, e dei algumas indicações aos condutores de como iríamos proceder à passagem das zonas mais perigosas do resto do percurso até Cancolim.

Foi exactamente no último bocadinho do troço onde nos podiam emboscar que deflagrou a mina colocada na picada. A partir desse momento não me lembro de muita coisa, sei que ainda dei instruções ao homem do rádio para pedir o batimento da zona e também de pedir uma arma e água a um elemento da população e deste me dizer que a mina não era para mim (Furriel desculpa a mina não era para ti – foi o que me ficou gravado na mente). A seguir fui evacuado de heli para Bafatá, recordo ainda de desmaiar sempre que me agarravam no ombro partido e de me terem posto numa maca dentro de numa DO. Acordei em Bissau quando me estavam a cortar o camuflado e voltar a desmaiar quando me agarraram no ombro para radiografar, acordei ao fim de três dias todo ligado e entubado na sala de observações. Estive hospitalizado 40 dias. Nesta mina tivemos 17 feridos, dois deles foram evacuados para Lisboa.

Até aqui só escrevi sobre coisas menos boas, mas também existiram algumas bem divertidas como por exemplo aquela de eu ter pedido uma ZUP em vez de 7UP na primeira vez em que entrei na messe de sargentos no Cumeré, foi um salta pira geral.

As corridas de arcos com gancheta que fazíamos na parada de Cancolim.

Um ou dois festivais da canção de Cancolim (uma das canções vencedoras "Rio Chancra" cantada pelo Rodinhas (Furriel Mecânico Correia), as caçadas às galinhas e cabras da população, e a fisgadas as pombos do nosso pombal para os petiscos, os campeonatos das mais variadas jogatinas de cartas, as missivas que escrevíamos aos ratos para não nos roerem as roupas dentro dos armários – quando vim de férias da primeira vez, dei com o meu saco de viagem todo desfeito e no meio dos farrapos uma ninhada de 7 ratinhos. E mais, muito mais que eu não sei contar aqui.

Por agora é tudo.

Um grande abraço a todos os camaradas.
Rui Baptista

Foto 6 > Bissau, 26NOV71 > Apresentação do Batalhão ao ComChefe (Gen Spínola) > Em 1.º plano o Alf Mil Rosa Santos, falecido há pouco tempo.

Foto 3a > Aquartelamento de Cancolim

Foto 3b > Aquartelamento de Cancolim


2. Comentário de CV:

Caro Rui Baptista, bem-vindo à Tabanca Grande, entra e instala-te comodamente, porque estás entre camaradas, que como tu, tiveram a sua experiência de guerra na Guiné.

Numa das mensagens que nos enviaste, anexaste muitas fotografias. Embora neste poste só publique estas três, vou criar no nosso Blogue um álbum para ti. Se tiveres mais, por favor envia só depois de veres publicadas as que já mandaste. Trabalho é coisa que não falta por aqui, embora feito com prazer. O dia é que só tem 24 horas.

Esperamos que nos mandes histórias onde possamos anexar as ditas fotografias. Embora haja uma série do nosso querido camarada Torcato Mendonça, chamada Fotos falantes, na verdade elas dizem mais quando acompanhadas de legendas e dos relatos dos acontecimentos que retratam.

A tua Companhia já foi falada no nosso Blogue, infelizmente não pelos melhores motivos. Vê, se não conheces ainda, os postes abaixo listados*.

Julgo que sabes, que da nossa tertúlia fazem parte, que me lembre, quatro camaradas do teu Batalhão. A saber:

- Carlos Filipe Coelho, ex-Radiomontador da CCS
- Joaquim Guimarães, ex-Soldado da CCAÇ 3490
- Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor da CCS
- Luís Dias, ex-Alf Mil da CCAÇ 3491

Ficaste com a responsabilidade de representar a tua CCAÇ 3489, pois, para já, és o único tertuliano no Blogue.

Agradecendo o teres-te juntado a nós e esperando a tua colaboração activa e contínua, deixo-te um abraço em nome da tertúlia.

A partir de hoje tens mais umas centenas de bons amigos.
CV
__________

Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

6 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2921: Em busca de... (29): António Manuel Rodrigues (1) (Juvenal Amado)

6 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3117: Álbum fotográfico do Juvenal Amado (1): Imagens de Cancolim
e
22 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4068: Recordando a tragédia do Quirafo, ocorrida no dia 17 de Abril de 1972 (Luís Dias)

Vd. último poste da série de2 7 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5358: Tabanca Grande (191): Balanta furtador (Manuel Joaquim, ex-Fur Mil Armas Pesadas da CCAÇ 1419)

Guiné 63/74 - P5399: Postais ilustrados (16): Postais Antigos da Guiné, de João Loureiro - Da Bissau nos anos 40 até à década de 70 (Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Novembto de 2009:

Carlos e Luís,
Aqui vão algumas imagens do nosso tempo.
Ainda tive postais de Bissau, sobretudo do Pelicano e do Grande Hotel, enviei para a família o postal com a fanfarra de Bissau.
A minha maior saudade ficou sempre centrada no postal do Museu e Centros de Estudos da Guiné Portuguesa. Parece que tudo está calcinado, cometeu-se uma barbárie cultural irreversível.

Um abraço do
Mário


Uma relíquia: Postais antigos da Guiné (2)
Por Beja Santos

Da Bissau nos anos 40 aos inícios da década de 70

A Guiné exaltada por Fernanda de Castro e Maria Archer não deixou postais, pela simples razão de não haver praticamente turismo e ser reduzidíssima a presença do branco.
A situação muda completamente com a chegada de Sarmento Rodrigues ao Governo. Dando continuidade a certos planos de obras encetados por Carvalho Viegas, Bissau torna-se a capital desde 1941, o traçado da cidade ganhou sinais de cosmopolitismo. A avenida principal é aquela que nós conhecemos, com a Casa Gouveia do lado esquerdo de quem sobe. A Alfândega ainda é a mesma, inicia-se alterações no cais do Pidjiquiti, cresce o número de monumentos, embelezou-se a fortaleza de São José de Amura, surgem os bairros para os funcionários da Administração Colonial, fizeram-se obras significativas na catedral, a Avenida Marginal deu um novo fôlego ao desafogo das panorâmicas.

Quando Sarmento Rodrigues deixa a Província, a Avenida Principal mudara completamente de rosto, expandira-se até Santa Luzia, a Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Bissau era uma estrutura arquitectónica de arrojo para a época. Apareceu novo edifício da Alfândega, estruturas de acolhimento como o Grande Hotel ou o Café Pelicano passaram a ter direito a bilhetes-postais.

Nos anos 60 vão surgir igualmente os postais étnicos, alguns deles esplendorosos, regras geral eram estes postais que enviávamos aos nossos entes queridos.

A fachada do BNU, neste postal de cerca de 1940, recorda-nos o que houve melhor na arquitectura de Bolama. Mas Bissau, ao tempo, era já a praça financeira, aqui se centravam as principais operações bancárias. O BNU tinha que mostrar grandeza, magnificência.

Bilhete-postal da Mesquita de Bissau, editor Foto Serra, cerca de 1966. As relações com o Islão nunca puderam ser ignoradas, o islamismo foi sempre poderoso e o principal obstáculo ao trabalho dos missionários. Com a eclosão da Luta Armada, os valores do Islão foram elevados e tratados sempre com o maior respeito, veja-se a protecção às peregrinações a Meca.

O monumento a Diogo Gomes estava orientado para o cais do Pidjiquiti e tinha por detrás o impressionante edifício da Alfândega. O bilhete-postal é da Foto Serra, cerca de 1966, e consegue com brilhantismo amenizar a cor da laterite. Das minhas visitas a Bissau é um dos locais de que tenho mais saudades, era aqui que me sentava a ler e a ver as fainas do cais e dos pescadores no estuário do Geba.

Este postal foi editado pela Cómer, de Lisboa, cerca de 1968. Era uma estrutura moderníssima, muito perto da Amura e com uma vista esplêndida sobre o Geba. Foi aqui que se realizou o meu jantar de casamento, em Abril de 1970, o capitão Rui Gamito emprestou-me nessa noite 5 mil escudos guineenses, divida que esqueci completamente até que eu o reencontrei na cervejaria Portugália, cumprimentei-o com entusiasmo e carinho e logo lhe entreguei um cheque, com a mulher atónita a assistir a este espectáculo.
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 2 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5392: Em busca de... (104): Luís Zagallo (ex-Alf Mil, CCAÇ 1439) - Um pedido de ajuda do João Crisóstomo (EUA) que me encheu de lágrimas (Beja Santos)

Vd. último poste da série de 2 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5390: Postais ilustrados (15): Postais Antigos da Guiné, de João Loureiro - Uma relíquia (Beja Santos)

Guiné 63/74 - P5398: Blogues da Nossa Blogosfera (29): Portal Guerra Colonial Portuguesa: novas publicações (Jorge Santos)

A sítio Guerra Colonial Portuguesa, criado em  Março de 2006 e que tem como principais secções: Bibliografia, Filmografia, Associações, Canções de Lisboa, Memorial, Monumentos, Convívios, Brasões, Condercorações...


1, Mensagem do Jorge Santos:

Caso seja do vosso interesse, consultem a Bibliografia [do meu portal sobre a Guerra Colonial Portuguesa] sobre os temas indicados, onde constam outros assuntos também. Para consultar só as actualizações da Bibliografia, clicar nos títulos das obras em Novos Registos. Contém dados, sinopse ou pequeno extracto e capa da obra.


2. Comentário de L.G.:

O Jorge Santos é um incansável mas sempre discreto membro da nossa Tabanca Grande, já de longa data. Se não estou  não erro, entrou o nosso blogue em finais de 2005.  É, portanto, um senador. Não temos nenhuma foto dele, nem antiga nem actual. Foi 1º Grumete Fuzileiro (DFA), Companhia de Fuzileiros nº 4, em Moçambique, Metangula~e  Cobué, de Janeiro de 1968 a  Abril de 1970.  Esteve uns tempos sem dar notícias (como ele gosta de dar, sobre convívios, livros, actualizações do seu portal, etc.). No passadado dia 23 de Outubro fomos surpreendidos com a seguinte mensagem:

Não tenho acompanhado, como desejava, o evoluir das 'Tabancas', pois encontro-me a recuperar de um AVC que sofri na Noruega, e que me deixou bastante afectado da parte esquerda do corpo, em especial a vista, o que me dificulta imenso estar no computador ou navegar na Net.

Aproveito agora lhe endereçar a nossa solidariedade e os nossos votos de uma rápida e boa recuperação.  L.G.

3. Bibliografia sobre Colonização – Guerra Colonial – 25 de Abril – Descolonização > Novos Registos


Autor / Título / Editora / Ano

 
Ana Cristina Silva > A dama negra da ilha dos escravos. Presença, 2009

António Tabucchi > Nocturno indiano. Publicações D. Quixote, 2009

Arlindo Barbeitos > Angola/Portugal – des identités coloniales équivoques. L’Harmattan, 2009

Artur Portela > A guerra da meseta. Publicações D. Quixote, 2009

Camilo Mortágua > Andanças para a liberdade, Vol. 1 (1934-1961). Esfera do Caos, 2009

Carlos Serrano > Angola – Nascimento de uma nação. Kilombelombe, 2009

Cristina Nogueira e Silva > Constitucionalismo e império – Cidadania no ultramar português. Almedina, 2009

Diogo Andrade > Alvorada desfeita. Guimarães, 2009

Eduardo Naia Marques > O que África me ensinou. Pedra da Lua, 2009

Eugénio Monteiro Ferreira e Carlos Monteiro Ferreira > Eugénio Ferreira – Um cabouqueiro da angolanidade. Campo das Letras, 2008

Fábio Pestana Ramos > Por mares nunca dantes navegados. Contexto, 2008

Filipa Martins > Quanta terra. Guimarães.  2009

Joana Matos Tornada > Nas vésperas da democracia em Portugal. Almedina, 2009

João Céu e Silva > Uma longa viagem com António Lobo Antunes. Porto Editora, 2009

João Vicente Martins > Os bakongo ou tukongo do nordeste de Angola. Imprensa Nacional, 2008

John P. Cann > A Marinha em África. Prefácio. 2009

José Eduardo Reis Oliveira > Golpes de mão’s – Memórias de guerra. Autor, 2009 (*)

José Luandino Vieira > O Livro dos guerrilheiros. Caminho, 2009

José Luís Cabaço > Moçambique – Identidades, colonialismo e libertação. Unesp, 2009

José Milhazes >Angola – O princípio do fim da União Soviética. Vega, 2009

Manuel Godinho Rebocho > Elites militares e a guerra de África. Roma, 2009 (*)

Manuel Pedro Dias > Aquartelamentos de Moçambique – Distritos do Niassa e da Zambézia, 1964-1974. Autor, 2009

Maria Celestina Fernandes > A muxiluanda > Chá de Caxinde, 2008

Mário Matos e Lemos e Alexandre Ramires > O primeiro fotógrafo de guerra português – José Henriques de Mello. Imprensa Univ. Coimbra, 2008

Medina da Silva > África não se esquece. Edições Ecopy, 2009

Paulo Granjo > Um amor colonial. Cosmos, 2009

Rogério Andrade Barbosa > O segredo das tranças. Scipione, 2008

Rui Avillez de Basto > Páginas de África. Protexto, 2009

Sérgio Neto > Colónia mártir, colónia modelo. Imprensa Univ. Coimbra, 2009

Sérgio O. Sá > De Quibala a Malele (Norte de Angola). Autor, 2009

Sheila Khan > Imigrantes africanos moçambicanos. Colibri, 2009

Sousa e Castro (Coronel) > Capitão de Abril, capitão de Novembro. Guerra e Paz, 2009

____________

Nota de L.G.:

(*) Membro do nosso blogue.

Guiné 63/74 - P5397: Blogues da nossa blogosfera (28): Guerra do Ultramar, um site com informação útil (José Macedo, EUA)

1.  Do nosso camarada Zeca Macedo, que foi 2.º Ten do  Destacamento de Fuzileiros Especiais, DFE 21 (Cacheu, Bolama e Cacine, 1973/74) e vive hoje nos EUA, desde 1977. É advogado (**).

Luis:

Recebi o e-mail que te envio. Faz dele o que bem entenderes. Alguns dos sites pode ter interesse para os camaradas da tabanca.


Um abraço amigo
José Macedo
Segundo tenente DFE 21
Guine 73-74


2. De interesse para os Veteranos do Ultramar e Famílias

[ Fonte:  Portal Guerra do Ultramar: Angola, Guiné e Moçambique, que é uma verdadeira enciclopédia sobre a guerra colonial, criado em 30/3/2006, e  mantido com enorme entusiasmo pelo nosso camarada António Pires, naturald e Vendas Novas, ex-Fur Mil Mec Auto, CSM/QG, Moçambique, 1971/73. O portal já ultrapassou o meio milhão de páginas visitadas. Grato ao Zeca Macedo pela lembrança. Votos de boa saúde e bom Natal. L.G.] (**) (***)

Clicando em cada uma das frases sublinhadas, acede-se directamente aos respectivos temas:

> Listagens de Militares que Morreram ao Serviço de Portugal 1954-1975 http://ultramar.terraweb.biz/index_MortosGuerraUltramar.htm

> O 10 de Junho dos Combatentes http://ultramar.terraweb.biz/Celebracoesdo10JUN/Celebracoes_EncontrosNacionais_LX.htm

> Memoriais Concelhios
http://ultramar.terraweb.biz/Memoriais.htm

> Memorial Nacional, no Forte do Bom Sucesso (Santa Maria de Belém, Lisboa) http://ultramar.terraweb.biz/MonumentoNacionalCombatentesUltramar_Lapides.htm

> Monumento Nacional aos Combatentes do Ultramar http://ultramar.terraweb.biz/MonumentoNacionalCombatentesUltramar.htm
> Condecorações atribuídas por Feitos em Campanha (1961-75) http://ultramar.terraweb.biz/condecoracoes.htm

> Contagem do Tempo de Serviço Militar
http://ultramar.terraweb.biz/ContagemdoTempo_SM.htm 

> Stress ou Deficiência Física Adquirida em Campanha http://ultramar.terraweb.biz/Stress_ou_DeficienciaFisica_adq_Campanha.htm

> Veteranos ex-Prisioneiros de Guerra
http://ultramar.terraweb.biz/AntigosCombatentes_PGuerra.htm

> Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) http://ultramar.terraweb.biz/06livros_estadomaiordoexercito_publicacoes_livros.htm

> Bibliografia relacionada com a Guerra do Ultramar
http://ultramar.terraweb.biz/06livros.htm

> Mapas de todas as ex-Províncias Ultramarinas
 http://ultramar.terraweb.biz/index_mapas_ultramar.htm
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Nota de L.G.:
 
(*) Vd. poste de 13 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2532: Tabanca Grande (56): José J. Macedo, ex-2º tenente fuzileiro especial, natural de Cabo Verde, imigrante nos EUA
 
(**)  Vd. poste de 28 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3535: Blogues da Nossa Blogosfera (8): Portal Guerra do Ultramar, do António Pires, de novo em velocidade de cruzeiro

(***) Último poste desta série > 14 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5268: Blogues da Nossa Blogosfera (27): Andorinha em Canchungo (António Nababo)

Guiné 63/74 - P5396: Os Nossos Médicos (10): Mário Bravo (CCAÇ 6, Bedanda, 1971/72), hoje ortopedista no Porto


Foto: © Amaro Samúdio (2006). Direitos reservados






Guiné > Região de Tombalo > Guileje > CCAÇ 3477 - Os Gringos de Guileje (1971/72) > O Alf Médico Mário Bravo em Guileje. Créditos fotográficos: Amaro Munhoz Samúdio (a primeira imagem); Mário Bravo (as restantes).

Mário Bravo, hoje médico ortopedista que vive e trabalha no Porto (em Fevereiro de 2008, data do nosso último contacto, trabalhava no Hospital da Ordem da Lapa), foi Alf Mil Médico da CCAÇ 6 (Bedanda, 1971/72) , ao tempo comandada pelo Cap Ayala Botto (hoje Cor Ref). É membro do nosso blogue.

Ia regularmente a Guileje prestar serviço. As duas primeiras fotos acima são do ex-1º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 3477 (1971/77), Amaro Munhoz Samúdio (o da esquerda, na foto de grupo, do médico com os enfermeiros). O Samúdio é também membro da nossa Tabanca Grande

Esta CCAÇ 3477 (Nov 1971 / Dez 1972) eram Os Gringos de Guileje (açorianos), que antecederam a última, a CCAV 8350, os Piratas de Guileje (Dez 1972/ Mai 973).




Em Bedanda, o Mário esteve com o Fur Mil Enf Dias, natural de Viana do Castelo (Foto acima, o da direita, de pé; o médico é o da esquerda, de pé). A equipa de saúde era também uma excelente equipa de futebol.


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 (1971/72) > O Alf Mil Médico Mário Bravo


Foto: © Mário Bravo (2007). Direitos reservados

Escreveu-nos ele:

(...) "Habitualmente estava em Bedanda e ia de modo regular fazer serviço a Guileje, Gadamael Porto e Cacine. Passei esporadicamente por Catió e fui uma só vez a Cufar (...).


"Depois de sair do sul da Guiné, fui para Teixeira Pinto onde permaneci até ao fim da comissão [e onde conheeceu o nosso camarada António Graça de Abreu]. Também estive algum tempo em Bissau, no Hospital Militar, onde me ensinaram a arrancar dentes. Com esta especialização, lá foi este teu amigo dar cabo dos dentes ao pessoal ( salvo seja). Na zona de Teixeira Pinto, fui algumas vezes a Bachile, Cacheu, Carenque e Batucar. Digo-te estes nomes, pois assim poderás publicar no teu blogue e há-de haver tipos que se lembrem de me escrever"! (...).

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Nota de L.G.:

Vd. último poste da série > 17 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5285: Os nossos médicos (9): Preocupações com a saúde do Dr. Rogério Leitão, CCAÇ 557, 1963/65 (J. M. Ferreira / J. Augusto Rocha)

Vd. os restantes postes:

15 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3899: Os nossos médicos (1): Alf Mil Médico José Alberto Machado (Nova Lamego)


2 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4891: Os nossos médicos (2): Tierno Bagulho e Pio de Abreu (Canchungo, 1971/73) (Luís Graça / António Graça de Abreu)

6 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4910: Os Nossos Médicos (3): Os especialistas eram poucos, e não gostavam de ir para... o mato (Armandino Alves, CCAÇ 1589, 1966/68)

8 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4918: Os nossos médicos (4): Um grande amigo, o Dr. Fernando Enriques de Lemos (Mário Fitas, ex-Fur Mil, CCAÇ 763, Cufar, 1965/66)

8 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4920: Os nossos médicos (5): Um grande homem, militar, clínico e matosinhense que me marcou, o Dr. Azevedo Franco (José Teixeira)

8 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4923: Os nossos médicos (6): Homenagem ao Alf Mil Med Barata (Binta) e ao HM 241 (Bissau) (JERO, ex-Fur Mil Enf, CCAÇ 675, 1964/66)

23 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5143: Os nossos médicos (7): Prof Doutor José Madeira da Silva, otorrino, em busca dos ex-camaradas de Bula e Pelundo, 1973/74

13 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5264: Os nossos médicos (8): O Dr. Rogério da Silva Leitão, aveirense, cardiologista, CÇAÇ 557, Cachil, Como, 1963/65 (José Colaço)

Sobre o Mário Bravo, vd. também postes de:


21 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2566: Em busca de ... (21): Malta de Bedanda, do futebol e dos serviços de saúde (Mário Bravo, Alf Mil Médico, CCAÇ 6, 1971/72)

23 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1457: Tertúlia: Apresenta-se o Alf Mil Médico Mário Bravo, CCAÇ 6, Bedanda (1971/72)

27 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1466: Mário Bravo, médico de Guileje (Amaro Munhoz Samúdio)

28 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1467: Bem vindo a Guileje, Doutor (Mário Bravo)

12 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1517: Tertúlia: Com o António Graça de Abreu em Teixeira Pinto (Mário Bravo