sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5847: Tabanca Grande (204): Humberto Carneiro Fernandes Duarte, ex-Fur Mil Op Esp / RANGER do BCAÇ 4514/72, 1973/74


1. O nosso Camarada Humberto Carneiro Fernandes Duarte, ex-Fur Mil Op Esp / RANGER do BCAÇ 4514/72, Cantanhez - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem, no passado dia 18 de Fevereiro de 2010:

Camaradas,


Passo a apresentar-me à Tabanca Grande:

Em fins de Outubro, início de Novembro de 2009, tive conhecimento que tinha chegado o momento de iniciar a minha última batalha nesta vida terrena.


Para os meus Amigos e Camaradas, aqui vai uma retrospectiva da minha passagem por esta vida.

Quem sou eu?

Nasci a 30 de Abril de 1951, em casa, não sou homem de “aviário”.

Entre os anos de 1962 e 1970/71, estudei no Lar Académico de Filhos de Oficiais e Sargentos - L.A.F.O.S., em Oeiras e, desse tempo, recordo bons tempos e bons amigos.

Adorava correr e fi-lo muitos vezes com a camisola do Sporting, embora eu dissesse em todos os lados que era Benfiquista (tradição de familia), mas o que é certo, é que me empolgava mais, quando ia ao estádio José Alvalade.

É de rir mas é a verdade!


Cerrei presunto, tinhamos um conjunto no Lar e cheguei a tocar com alguns dos que hoje são conhecidos. Cabelo comprido, olhos azuis … as miúdas ficavam loucas.


A Ana (minha actual esposa), que nessa altura vivia lá para as bandas de Moçambique, diz que ainda bem que era assim, porque nessa altura eu era um “Betinho de Oeiras” e ela nunca gostou, nem gosta de “Betinhos”. Além disso, era contra a guerra, só queria viver e deixar viver os outros.

Só que, ensinaram-me desde miúdo, que era preciso defender o País, como ensinaram muitos outros milhares de portugueses, e eu, tal como eles, fui incorporado na tropa, e, já que tinha de ir para o Ultramar, pesnei que fosse ao menos com a melhor preparação possível e escolhi os “Comandos”.

Enviaram-me então para Lamego (1972), para uma tropa que eu nem sequer tinha ouvido falar alguma vez – Os Rangers. Ingeressei assim no 4ºcurso de 1972, do qual guardo apenas uma fotografia, já bem velhinha.
Já era casado e acabei esse curso em Dezembro, e, como “prémio”, nasceu-me a minha filha em Janeiro de 1973.

Fui integrado na CCS do BCAÇ 4514/72, formado no RI15 (Tomar), e, embarquei em Lisboa, para a Guiné (para a qual fui entretanto mobilizado), em 03 de Abril de 1973. Desembarquei em Bissau, no dia 09 de Abril de 1973.

Regressei a Lisboa em 08 de Setembro de 1975.

Recomecei novamente a minha vida civil, trabalhando na Mobil Oil Portuguesa, e, posteriormente, fui chefe de Departamento de Pessoal na Jamoral de Lisboa…

Ainda passei pela política, trabalhei por conta própria e, a determinada altura, as coisas começaram a não andar muito bem… começando a minha relação familiar a degradar-se dia a dia (nessa altura já tinha mais um filho).

Tendo ido visitar um dos meus antigos Comandantes - o Sr. Coronel Velasco -, fui por este alertado e informado sobre o Stress Pós-traumático de Guerra, dizendo-me que eu estava nitidamente a sofrer as consequências das minhas “férias” na Guiné.

Felizmente, este atento e grande Homem, encaminhou-me no início de um processo como D.F.A. (Deficiente das Forças Armadas), estávamos nós em 1996. O dito processo data de 25 de Fevereiro de 1997, baseado no Decreto Lei 43 de Janeiro/76.
Entretanto e devido ao martirizante e endoidecedor stress, a minha vida pessoal e familiar continuou a degradar-se...

Quando dei por mim, vivia numa casa de 4 assoalhadas, tendo como única companhia um… cão!
Em 1998, encontrei a Ana e depois de algumas “discussões” sobre educação, liberdade e libertinagem… a 9 de Abril desse mesmo ano começámos uma relação.

Quando dei por mim, vivia numa casa de 4 assoalhadas, tendo como única companhia um… cão!
Em 1998, encontrei a Ana e depois de algumas “discussões” sobre educação, liberdade e libertinagem… a 9 de Abril desse mesmo ano começámos uma relação.

Agora, os dois juntos continuámos a batalha contra a adversidade que me tocou. Eu, com novo ânimo, entrei numa nova etapa da minha vida. Reencontrei os meus velhos camaradas…
Finalmente, depois de uma complicado “combate”, em 2000, fui considerado D.F.A com 40% de desvalorização por stress pós-traumático de Guerra.

Podendo optar em ser, ou não, reintegrado nas F. A. (Forças Armadas), optei pelo sim, e, em Agosto de 2002, ingressei no Quadro Permanente da Arma de Infantaria.

Em Dezembro de 2002, conclui o curso de Promoção a Sargento Ajudante de Infantaria, e, em 2003, fui promovido a Sargento-Mor. Sou, ainda hoje, o Sargento-Mor mais antigo das F.A., no activo.

E agora que chegou a minha última batalha desta passagem terrestre, e findo o balanço total, dou-me por satisfeito com os meus defeitos e qualidades.

Não me considero melhor, nem pior que ninguém, mas sim que sou igual “a mim mesmo”.

Consegui, o que poucos Homens conseguem, realizar as coisas que penso serem as mais importantes:

- fazer as pazes com o passado;
- reencontrar antigos Camaradas e Amigos;
- conquistar novas amizades;
- ter uma vida familiar estável e recuperar as ligações familiares anteriores;
- voltar às Forças Armadas e ajudar outros ex-Combatentes na elaboração dos seus processos;
- ser um exemplo para os mais novos, que querem seguir a carreira militar, tendo mesmo sido convidado por alguns para lhes impor as Boinas das suas especilaidades.

E, finalmente, mas não menos importante:

- ter convencido a Ana a casar comigo (de papel passado como ela diz), para lhe deixar o futuro assegurado.

Quem por estes factos, ou fotos, me reconhecer, e quiser entrar em contacto comigo, ligue para: 916 716 812.

Legendas das fotos

Foto 1 – Na véspera da partida o meu avô deu-me conselhos e desejou-me sorte
Foto 2 – No Uíge a caminho da Guiné, com a foto da minha esposa e filha, escrevendo-lhes uma carta
Foto 3 – Manuseando uma bazuca para a foto
Foto 4 – Com em abutre morto
Foto 5 – Conversando e fumando com 2 camaradas
Foto 6 – Comida faltava muitas vezes, mas a cervejinha havia sempre
Foto 7 – À porta do meu bura… ko!
Foto 8 – Com um morteiro de 60 mm à porta do meu bura… ko!
Foto 9 – Reconhecimento de uma zona onde fomos atacados e capturamos armamento ao IN
Foto 10 – Numa zona onde fomos atacados
Foto 11 – Num convívio com o pessoal, onde estou com um dedo partido (ao municiar e disparar um morteiro de 60 mm sozinho)
O texto foi escrito pela Ana Duarte e “censurado” cá pelo rapaz.
Um Bem Haja para todos e um Abraço Amigo,
Humberto Duarte
Fur Mil Op Esp/RANGER do BCAÇ 4514
E-mail de contacto: morduarte@hotmail.com

2. Amigo e Camarada RANGER Humberto Duarte, em nome do Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote e demais tertulianos deste blogue, quero dizer-te que é sempre com alegria que recebemos notícias de mais um Camarada-de-armas, especialmente, se o mesmo andou fardado por terras da Guiné, entre 1962 e 1974, tenha ele estado no “ar condicionado” de Bissau, ou no mais recôndito e “confortável” bura… ko de uma bolanha.

Tal como o Luís Graça já referiu inúmeras vezes, em anteriores textos colocados em postes no blogue, todos aqueles que constituíram a geração dos “guerreiros” do Império, temos alguma coisa a contar para memória futura e colectiva, deste período sangrento da História de Portugal, que foi a Guerra do Ultramar.

Foram 12 anos de manutenção de um legado histórico, à custa de muito sacrifício, privação de toda a ordem, dor, sofrimento, morte…

Como se não tivesse bastado, sofremos nos últimos 35 anos com o modo como os políticos portugueses nos tratam. Nós que, nos nossos 21/22/23 anos, demos o nosso melhor, como podíamos e sabíamos, muitas vezes mal treinados e armados, sabe Deus como alimentados e enfiados em autênticos buracos, feitos no lodo, em meios completamente hostis e perigosíssimos, sob vários aspectos, onde, além dos combates com o IN, enfrentávamos as traiçoeiras minas e armadilhas, e ainda tínhamos as doenças a apoquentar-nos (paludismos, disenterias, micoses, etc.).

Nós até nem pedimos muito além de respeito e dignidade, que todos nós merecemos pelo que demos a esta Pátria, queríamos, e continuamos a querer, no mínimo, que os nossos doentes, física e psicologicamente, sejam tratados condigna e adequadamente.

Oferecendo-te então as nossas melhores boas-vindas, ficamos a aguardar que nos contes estórias, que ainda recordes dos locais, das pessoas, seus hábitos e costumes, dos combates, dos convívios, etc. e, se tiveres mais fotografias daquele tempo, que nos as envies, para as publicarmos aqui.


Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.

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Notas de M.R.:

Guiné 63/74 - P5846: (Ex)citações (58): O dia dos meus 95 anos ficará gravado no meu coração (Clara Schwarz)

1. Mensagem que a nossa amiga Clara Schwarz, [, foto à esquerda, em 1947, em Lisboa, no Chiado, com o "amor da sua vida", Artur Augusto da Slva, advogado e escritor] nos mandou, com data de hoje, agradecendo, a todos os amigos e camaradas da Guiné, os votos de parabéns, saúde e felicidade que lhe enviaram por ocasião do seu 95º aniversário...

Ela é, a partir de 14 de Fevereiro de 2010 (*), a verdadeira Mulher Grande da nossa Tabanca Grande, honrando-nos com a sua presença tutelar, a sua cultura, o seu espírito de humor, a sua sabedoria, a sua guineidade, o seu exemplo, a sua alegria de viver:

Caros amigos Luis e Alice:

O dia dos meus 95 anos ficará gravado no meu coração, enquanto andar por este mundo, porque alguém, muito amigo, decidiu fazer um post em minha homenagem nesse dia.

Tantas palavras tão belas, tantos elogios! Será que os mereço?

Agradeço muitíssimo e peço-lhe que transmita a todos os que participam, no blogue, a minha emoção ao acompanhar a sua leitura.

Um abraço em que envolvo a Alice e os vossos queridos filhos.


Clara
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Nota de L.G.:

Guiné 63/74 - P5845: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (3): Operação Grande Ronco (1)

1. Mensagem de Arménio Estorninho (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), com data de 17 de Fevereiro de 2010:

Camaradas e amigos, Luís Graça e co-editores, saudações guinéuas e “manga di mantenhas” deste algarvio.

Para que situações de maior relevância, da deslocação da CCaç 2381, de Ingoré para Aldeia Formosa, fiquem concluídas e numa forma resumida, seguem quanto baste algumas “estórias” do meu conhecimento e com intervenção activa, e serão ilustradas com fotos.

A coluna auto efectuada pela estrada Buba – Sinchã Cherno – Mampatá - Aldeia Formosa (Quebo), de 25 a 26/Jul68, denominada a Operação “Grande Ronco,” que ficou conhecida pelas NT como a coluna dos três obuses e para o IN a coluna das três chaminés.

Com um grande abraço deste amigo e camarada, subscrevo-me,

Arménio Estorninho
Ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas,
Um Maioral


Operação Grande Ronco (1)

Parte 1


Todavia em Buba, os dias 23 e 24/Jul68 foram para executar o carregamento das viaturas com mantimentos, combustíveis, munições e bem como atrelar os obuses 14cm, que iriam incorporar a coluna para a Aldeia Formosa (Quebo).

No entanto, por fuga de informação, ouvia-se à surdina que o Major Carlos Fabião tinha dado conhecimento ao COMCHEF do inconveniente de fazer-se o percurso pela estrada de Sinchã Cherno - Mampatá, e que previam-se grandes dificuldades.

Dando como certo, o mau estado da estrada devido também à época das chuvas, aliado a estar minada, a pontes destruídas, e tendo em conta que há vários meses que não era usada pelas NT e nem patrulhada, o itinerário aconselhado seria pela estrada de cima, Buba - Nhala – Uane - Mampatá – Aldeia Formosa (Quebo), sendo o que tem sido utilizado e com condições para melhor progredir.

O Coronel Hipólito recebeu a mensagem “rádio,” dirigiu-se ao COMCHEF e transmitiu a dita.

O General António de Spínola retorquira como foi por informação do Comando de Buba, portanto não viu, por isso irá confirmar incorporando a coluna e como tal, são ordens para cumprir.

Por conseguinte o Coronel Hipólito chegara a Buba, por via aérea, trajando de camuflado com apresentação de pouco uso e numa situação inesperada.
Os diálogos que chegaram ao conhecimento, na sua essência são realçados e ajustam-se também aos factos que presenciara.

A 25Jul68 ao amanhecer e sob o Comando do Coronel Hipólito, organizou-se a coluna auto composta de 30 viaturas (foto 1) e denominada “Operação Grande Ronco”, em que a força executante era constituída pelas unidades a seguir indicadas:

- Dois GCOMB da CCaç 1792 - “Os Lenços Azuis”, sob o Comando do Capitão de Art Ricardo Rei;

- Dois GCOMB e Pelotão de Comando e Serviços da CCaç 2381, sob o comando do Capitão Mil Jacinto Aidos, hoje Coronel;

- Um Pelotão de Caçadores Africanos;

- Pelotão Fox 2022;

- Pelotão dos Morteiros 1242;

- Havia ainda o apoio aéreo de um DO27 e dois Bombardeiros T6.

Foto 1 > Guiné-Bissau> Região de Quinara> Buba> 1968; Uma viatura GMC, aguardando para fazer parte da coluna e em fundo o depósito de água. Em cima do capô na esquerda estou eu sentado, ao lado está um soldado condutor da CCaç 2382 e que voltei a vê-lo passados 41 anos, num almoço em Abrantes.

No momento opinado são dadas ordens para o início da marcha da coluna e pelo itinerário que foi imposto por teimosia do COMCHEF, lá seguimos nas calmas e segurança, ao ritmo da montagem da ponte móvel, da picagem da estrada e levantamentos de minas.

Contudo no percurso apanhámos um ataque de abelhas africanas (in wikipédia), idênticas a outras que existem no Algarve e que se chamam de “vespas serrenhas,” que se organizam em enxames, acolhessem-se em tocas e quando atacam fazem-no com grande profusão.

Como foram incomodadas atacaram a malta, causando alguma surpresa e havendo um certo descontrolo, tendo havido a suspeição do IN e por isso foram tomadas precauções de defesa.

Na ocasião, estando debaixo de uma árvore da chuva e casualmente, tinha colocado na cabeça a rede verde mosqueiro. Concluímos depois que as abelhas foram incomodadas, por um militar africano e pelo motivo de ter ido ao WC no mato. Estou a vê-lo a gritar e com pernas para que as quero, vindo do nosso lado direito, perseguido e a sacudir as abelhas, tendo eu moderado os movimentos e assim não me afectaram (experiência das brincadeiras com as vespas dos beirais).

Todavia o apoio aéreo detectara a presença do IN nas proximidades da coluna, e por via rádio foi dado o alerta, ficando nós na expectativa da iminência de emboscada e na preparação da pronta reacção (foto 2).

Chegámos à bifurcação de Sinchã Cherno, no desvio para Empada e Catió, com muitos atrasos na progressão.

Foto 2 – Guiné - Bissau> Região de Quinara > Sector de Buba > 1968 > Uma Secção da CCaç 2381, em progressão pelo flanco da testa de uma coluna.

À passagem por Sinchã Sherno, a 5.ª viatura, a do rádio das transmissões, desviou-se do trilho das que a antecediam e accionou por acidente uma mina AC (foto 8), tendo causado três feridos, em que o Operador do Rádio veio a morrer.

No momento do acidente, o Capitão Ricardo Rei ia de boleia na carroçaria da viatura e fora projectado “saltando-lhe o quico,” ficando todo mascarado de lama negra, pálido e confuso.

Foto 8 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Aldeia Formosa (Quebo) > 1968 > O que restou do Unimog sinistrado pela mina a/c (agora com colocação de rodado), a ser rebocado para a oficina(em fundo) a fim de ser desmantelado para peças sobressalentes. Na viatura, em cima e da esquerda, sou eu e os restantes são da CCaç 1792, o ex-1.º Cabo Condutor Auto, o ex-1º Cabo Mecânico Auto e um Condutor Auto; Em baixo, o ex-1.º Cabo Mecânico Auto José Luís Moreira, da minha Secção, e um Soldado da CCaç 1792.

Relativamente ao meu posicionamento na coluna, dado que era Mecânico Auto, foi minha a escolha de seguir de permeio da 6.ª viatura que levava um dos obuses e a 7.ª que ia carregada de cervejas, movimentando-me até à testa da coluna, por considerar a posição com mais concentração de pessoal e potencial de armas.
Condição que me permitira ocasionalmente ver a montagem da ponte móvel e o atrelar para reboque da viatura sinistrada.

Na circunstância, levei uma chamada de atenção pelo Comandante da Coluna, porque é que que eu não estava munido com a G3, e informei que esta ficara na viatura. No diálogo havido justifiquei, que na situação deparada não tinha condição de transportar uma caixa com ferramenta, com cerca de 25kg e também uma barra de ferro, caso levasse a arma em bandoleira seria uma grande atrapalhação. Concordou mas não muito convencido.

Presenciei os feridos a serem tratados, na difícil circunstância de emergência e primeiros socorros, com as intervenções dos Enfermeiros ex-1.ºs Cabos, Jorge Catarino (foto 3) e Zé Teixeira, da CCaç 2381 e outro decerto que pertencia à CCaç 1792.

Foto 3 > Guiné-Bissau> Região de Quinara> Sector de Buba> 1968;
Ex-1.º Cabo Enf Jorge Catarino, de Cardigos – Amêndoa, passando algures por uma bolanha e com a sacola dos primeiros socorros.


Nada mais incomoda a quem trabalha, senão a presença daqueles que nada fazem, e por isso fui posicionar-me no meu lugar de referência.
Contudo com o aproximar do pôr-do-sol fez-se silêncio, depois passara um camarada e transmitiu que o radiotelegrafista morrera. Esta fora uma situação que afectara a todos. Sentíamo-nos impotentes, pois poderia também vir a ser a nossa vez.
Não havendo comunicações com o exterior, estávamos isolados num teatro de guerra e não era viável qualquer solução com os rádios bananas.

Antes do acidente e dada a hora, o apoio aéreo regressara a Bissau (foto 4). Inversamente, não éramos procurados por falta de condições de orientação nocturna e de segurança.

Como foi possível fazer-se uma coluna – auto tão extensa e em condições tão difíceis, só com um Rádio de Transmissões e infelizmente foi no que deu. Para grandes males grandes remédios e a partir desta situação já começara a haver o equipamento de dois rádios.

Foto 4 > Guiné-Bissau> DO 27 de regresso à Base Aérea n.º 12 – Bissalanca.

Com a chegada da noite não haviam condições para prosseguir a picagem para detecção de minas e o campo de visão era quase nulo para intervenção, devido às projecções dos faróis das viaturas e ficaríamos em zona iluminada. Ordem para ficarmos estacionados e em posição de defesa, ninguém fuma, nem está de pé, luzes apagadas e silêncio total.

Alta noite estando cansado, mal alimentado (uma ração de combate) e sacando as cervejas que estavam ali à mão no camião (e foram muitos os que fizeram o mesmo), fiquei emboscado num grupo de quatro camaradas, sendo dois metropolitanos e dois africanos. Por conseguinte estando estendido no capim, deu-me uma pancada de sono e combinámos fazermos turnos de duas horas, ficando dois de atalaia, sendo um metropolitano e um africano.

De madrugada aparecera um “pobre rato tágafe” (termo depreciativo algarvio), em que pelas cervejas em falta na viatura e dado que estava ao pé da mesma, era eu o responsável, segundo ele.

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 24 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5699: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (2): Deslocação de Ingoré para Quebo

Guiné 63/74 - P5844: Agenda Cultural (59): “O primeiro fotógrafo de guerra português: José Henrique de Melo. Guiné: Campanhas 1907-1908” (Beja Santos)


1. Mensagem/Convite do nosso Camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Fevereiro de 2010:

25 de Fevereiro de 2010

CONVITE

Camaradas,

Estão todos convidados para o lançamento do livro sobre um momento histórico da Guiné, já fiz a recensão, quem puder, tem tudo a ganhar escutando os mestres!

Com o título: “O primeiro fotógrafo de guerra português: José Henrique de Melo. Guiné: Campanhas 1907-1908”, esta obra é da autoria conjunta de Mário Matos e Lemos e Alexandre Ramires.




Um abraço,
M. Beja Santos
Alf Mil At Inf Cmdt do Pel Caç Nat 52
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Nota de M.R.:

(*) Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P5843: O Nosso Livro de Visitas (83): António Carlos Ferreira, ex-Fur Mil Mortágua, Esq Rec Fox 8840 (Bafatá, 1973/74)

1. Mensagem que nos chegou em 13 do corrente, assinada por António Carlos Ferreira:

1:00h da manhã,  um copo de whisky na mão, a mente preversa,  veio-me à memoria as noites em que tal acontecia quer em Bafatá, Piche ou Aldeia Formosa,  à espera dos very-lights para nos por à prova à nossa coragem.

Recordando o encontro que tive com o Marcelino da Mata no meio da floresta que liga Nova Lamego a Piche,  surgiu-me a ideia de pesquisar na Internet algo que me avivasse a memória. Fui surprendido com o texto do Luis Graça [, o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]. Fiquei maravilhado porque o nosso contributo por uma cousa nunca será esquecido. Aguardo notícias.


António Carlos Ferreira (ex-furriel Mortágua)

Proprietário da Adega Típica A Pharmácia,
Rua Brasil 81/85
Coimbra

E-mail: adegapharmacia@gmail.com

telm: 917213076 / telef  239 404 609
 
2. Comentário de L.G.:
 
Acabei de falar, ao telefone, com o nosso camarada António Carlos Ferreira, que pertenceu ao Esq Rec  Fox 8840 (Bafatá, 1973/74). Ficou visivelmente feliz. Contou-me que bateu, com as suas Chaimites, a zona leste (Bafatá, Nova Lamego, Canquelifá, Piche, Buruntuma), mas também andou pelo sul (estava em Aldeia Formosa, no 25 de Abril de 1974; quando foi da entrega do aquartelamento ao PAIGC, em Agosto de 1974, estava em Bissau, de regresso de férias, não tendo por isso voltado a Aldeia Formosa).
 
Na estrada de Piche-Lamego, recorda uma das emboscadas, antes do 25 de Abril,  que sofreu uma coluna auto, com cerca de 30 viaturas... À frente da coluna, ia uma Chaimite (**). A viatura parou a um movimento suspeito. Uma roquetada apanhou um ângulo morto do blindado que se incendiou. Morreram dois furriéis, na altura...

O Mortágua (nome de guerra do António, sendo Mortágua a sua terra natal) aceitou o meu convite para se juntar a nós, na Tabanca Grande. Tem inúmeros slides que vai procurar digitalizar. Fiquei de passar pela sua Pharmácia, numa próxima visita a Coimbra.  O restaurante fica na freguesia da Sé Velha, perto da Universidade
 
Em relação ao  Esq Rec Fox 8840, verifico que há aqui, no nosso blogue, pelo menos uma referência (*). O Mortágua falou-me também dos nomes de dois camaradas do Esquadrão, o Bernardino Silva (que costuma organizar os encontros anuais da unidade) e o Serrano, que era o Fir Mil Enf (hoje, inspector do ensino superior, reformado).  E ainda do comandante, o Cap Cav Carvalhais, que era filho do Comandante da GNR.
__________
 
Nota de L.G.:
 
(*) Vd. poste de 15 de Janeiro de 2008  > Guiné 63/74 - P2442: O Nosso Livro de Visitas (3): Carmindo Pereira Bento, Esq Rec Fox 8840 (Bafatá, 1973/74)
 
(...) Sou ex-militar do Esquadrão de Reconhecimento Fox 8840. Estive lá no início de 1973 até perto do fim do ano de 1974.
 
Tenho histórias a contar como vocês contam as vossas. Tivemos lá dos maiores atentados registados até essa data. Lamento principalmente o meu ex-capitão e comandante Carvalhais do Esquadrão de Cavalaria 8840 (hoje coronel) nada registar na Internet.


Não vos conheço mas gostaria de ter contacto convosco para vocês conhecerem o meu Esquadrão e recordarmos por onde e como passamos.


Um abraço...


Para meu contacto: Carmindo Pereira Bento.
Restaurante Ângulo-Real
2425-022 Monte-Real- Leiria.

(**)  Foto de Chaimite (acima): Cortesia do sítio Guerra Colonial. Sobre as  Chaimites, há pelo menos dois postes no nosso blogue.

Guiné 63/74 - P5842: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (8): Momentos de lazer

1. Mais uma Nota Solta da 643, enviada ao Blogue pelo nosso camarada Rogério Cardoso* (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), no dia 16 de Fevereiro de 2010.


MOMENTOS DE LAZER

Não pensem que o clima em Bissorã era sempre pesado, claro que tínhamos que contar em qualquer momento com uns tirinhos, mas como o hábito faz o monge, não era para estranhar. Mas como ia dizendo, normalmente as tardes eram preenchidas com actividades desportivas.

Havia futebol no campo pelado, usado pelo Atlético Clube de Bissorã, partidas de volei, em que aparecia sempre o Administrador Arnaldo Spencer Salomão sempre de equipamento branco, o capelão Padre Leonardo Medeiros e muitos militares como, João Graça, Carlos Alberto, Inácio, Geraldes, Frazão, Hipólito, Rogério e demais elementos.

Seguia-se o banho e jantar na casa da D. Maria do Sr. Maximiano e normalmente uma noitada de cartas nos nossos alojamentos. Eram partidas de King, e quando aparecia o Sr. Michel Ajouz, um velhote libanês de óptimo trato, grande sabedor de Bridge, então era jogo a sério. Parceiro do Sr. Michele que fizesse asneira era o bom e o bonito, ouvia das boas, mas no fim ficava tudo em bem, era a febre do jogo.

Também havia sempre gente para uma lerpinha, jogo que não levava ninguém a lado algum, eram nervos, tabaco e whisky e às vezes zanga.

Claro que muitas as vezes tudo isto era interrompido, ou por ataque à povoação ou saída repentina para Morés, Biambi, Maque, etc., saídas que o Comando ordenava com frequência, além de umas escoltas para o Olossato e Mansoa, mas como todos nós sabemos estes momentos de lazer ajudavam a passar o tempo.

Foto 12 > Fur Mil Rogério com Furriéis da CART 730

Foto 10 > Jantar com civis > À direita o Pedrinho.

Foto 6 > Bissorã > Dia de S. Martinho de 1964, junto ao paiol.
Fotos: © Rogério Cardoso (2010). Direitos reservados.

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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 18 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5839: O 6º aniversário do nosso Blogue (5): A Tabanca Grande (Rogério Cardoso)

Vd. último poste da série de 13 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5809: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (7): O Ventoínha e o seu rádio fulminado

Guiné 63/74 - P5841: Controvérsias (67): Como diria o meu avô Samuel, há orações que os lábios murmuram, mas o coração não sente (Carlos Schwarz)

1
1. Mensagem de Carlos Schwarz (, foto à esquerda), neto de Samuel Schwarz (, foto à direita), com data de 18 do corrente:



Assunto: - Comentáro de um anónimo representante da Comunidade Judaica de Belmonte (CJB) ao poste P5813, de 14 do corrente (*):

1. Pelo Dicionário do Judaísmo Português (Editorial Presença) fica-se a saber que o Capitão Barros Basto foi acusado de homossexualidade através de duas cartas anónimas (tão execráveis são aqueles que se escondem debaixo do anonimato como os que caluniam irresponsavelmente os outros), facto que desencadeou um processo militar no qual ele foi absolvido, o que não impediu que ele fosse afastado do serviço pelo Conselho Superior de Disciplina do Ministério da Guerra, o que, segundo a referida obra, "lhe acabou com a carreira".

Como acusar então Samuel Schwarz de ter "destruído" o Capitão Barros Basto? Trata-se de maledicência ou pura ignorância histórica?

2. "A Comunidade Judaica de Belmonte não deve nada ao Samuel Schwarz", opina com toda a legitimidade o seu representante.

Opinião certamente pessoal, pois contraria o espírito da homenagem que a Câmara Municipal de Belmonte fez a Samuel Schwarz a 23 de Maio de 1993.  na presença da numerosa comunidade judaica local.

3. "Samuel Schwarz foi um dos destruidores de 16 000 cripto-judeus", diz o representante da CJB.

Que se pode dizer desta barbaridade? Embora estando aqui em Bissau, a cerca de 4.000 Km de distância, venho verificando que está agora na "moda" atentar-se, impune, gratuita e levianamente, ao bom nome e carácter das pessoas e à sua dignidade, sem que daí decorra alguma consequência.

4. Finalmente, o mau gosto, ia quase a dizer a hipocrisia, de se arranjar como pretexto o envio de parabéns a uma senhora de 95 anos, para denegrir a imagem do pai.

Como diria o meu avô Samuel, "há orações que os lábios murmuram, mas o coração não sente…"

[ Fixação / revisão de texto / título / bold: L.G.]

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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 14 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5813: Parabéns a você (79): Clara Schwarz da Silva, 95 anos, uma grande senhora, viúva de Artur Augusto da Silva, mãe do nosso amigo Pepito, leitora do nosso blogue, novo membro da Tabanca Grande (Luís Graça)

Vd. também poste de 1 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5386: Parabéns a você (46): Carlos Schwarz Silva, simplesmente Pepito, para os felupes, os nalus, os fulas, os companheiros da AD e os tugas... do nosso blogue (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P5840: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (18): Mais uma história do Grande Honório (Vítor Oliveira)

1. Mensagem de Vitor Oliveira (ex-1.º Cabo Melec da FAP, BA 12, Guiné, 1967/69), com data de 17 de Fevereiro de 2010:


Victor e Luis aqui vai mais uma do grande Honório (Jubidé).

Quando íamos para Nova Lamego fazer protecção às colunas para Madina de Boé ou Béli, tínhamos de ir passar uma noite a Bafatá. Antes de anoitecer pegávamos nos sacos com a roupinha à civil metíamos numa DO 27 e aí vão eles.

Colocávamos a Dó junto ao quartel do Exército, mudávamos de roupa e íamos para o café da Rosa libanesa que tinha umas filhas muito bonitas. O café ficava praticamente em frente do Comando militar.

Uma bela noite, já passava da meia noite, dentro do café era um barulho infernal. Eis que aparece um soldado a dizer que o Comandante queria que nos calássemos. O Honório respondeu-lhe:

- Vai dizer ao teu Comandante que eu não me calo porque não estamos em guerra mas sim numa missão de policiamento. Claro que wisky era muito (já agora um aparte, ele bebia sempre com um pouco de água nem que fosse da bolénha como ele dizia).

O café estava cheio de pessoal do Exército, oficiais, sargentos e praças.

Passado talvez uma hora aparece novamente o soldado com a mesma conversa e o Honório diz-lhe:

- Vai dizer ao teu Comandante que venha cá falar comigo.

Claro que o Comandante não apareceu e a festa durou até de madrugada.
Para terminar fomos para a piscina bêbados que nem uns cascos a saltar da prancha e ver quem é que estava mais tempo debaixo de água.

Deve de haver muito pessoal do Exército de 68 e 69 que estava em Bafatá se deve lembrar.

Um grande abraço
Vítor Oliveira (Pichas)
1º 66
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 29 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5559: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (17): Mais uma história do Sargento Pilav Honório (Rogério Cardoso)

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5839: O 6º aniversário do nosso Blogue (5): A Tabanca Grande (Rogério Cardoso)

1. O nosso Camarada Rogério Cardoso, (ex-Fur Mil At Inf da CART 643/BART 645 “Águias Negras”, Bissorã, 1964/66), enviou-nos no dia 16 de Fevereiro de 2010, a seguinte mensagem:

O 6º ANIVERSÁRIO DA TABANCA GRANDE

Caros amigos e companheiros,

Na minha humilde homenagem ao 6º aniversário, afirmo que tenho a certeza que fomos a melhor geração do século XX. Que fique claro, que é esta a minha modesta opinião.

Foi a que mais sofreu, não valendo a pena enumerar os factos, pois todos nós sabemos o rol de contrariedades a que fomos sujeitos.

O que acabei de escrever está á vista com este "Movimento": Luís Graça &
Companheiros da Guiné.

São 1.500.000 visitas desde 3 de Abril de 2004, em 6 anos de crescimento contínuo, graças, principalmente, aos companheiros Luís Graça, Carlos Vinhal e a todos os outros elementos que têm colaborado na vida do blogue, que, na quase totalidade, ainda não conheço bem, visto só há 3 meses ter vindo a prestar a minha participação.

Espero em breve conhecer pessoalmente grande parte da rapaziada, que intervêm no blogue, o que acontecerá com certeza no próximo Encontro tertuliano.

Reafirmo que os ex-Combatentes são uma grande família, principalmente os da Guiné, que mais se fortaleceu graças ao evoluir do blogue e que os fez aproximar ainda mais com as suas histórias.

Histórias estas que não são irreais e todos nós sabemos que não, porque passámos por elas… pese embora uns mais que outros.

Aproveito esta oportunidade, para dar os parabéns a outro companheiro - o Jorge Félix -, pelo seu filme que está magnífico.

Bem Hajam Luís Graça, Carlos Vinhal e demais Companheiros Colaboradores bloguistas.

Do recém-tertuliano,
Rogério Cardoso
Fur Mil At Inf da CART 643/BART 645

Emblema e guião de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

(*) Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P5838: Estórias de Jorge Picado (12): A minha passagem pelo CAOP 1 - Teixeira Pinto (VII): Colecta e roubo em Binhante

1. Mensagem de Jorge Picado (ex-Cap Mil da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72), dirigida ao nosso Blogue, com data de 16 de Fevereiro de 2010: 

 Amigo Carlos Vinhal 

Com este tempo invernoso que teima em recordar-nos que o Carnaval com o corpinho ao léu, só mesmo nos climas tropicais, deu-me para arrancar mais uma historieta daquelas passadas na Guiné, mas que nada tem a ver com esta quadra. Aliás, destas duas datas vividas naqueles anos de 1970/71, apenas deu para recordar a primeira, pois foi a partida que o Exército me fez de me enfiar no barco a caminho dessas longínquas paragens. A segunda nem dei por ela, apesar de estar em Bissau a aguardar a nova colocação. Para te distraíres, após as folias de hoje envio-te esta pequena prosa.

Abraços 
Jorge Picado


COLECTA E ROUBO EM BINHANTE 

Durante a minha estadia no CAOP 1, o IN fez uma incursão silenciosa a um aldeamento situado entre Teixeira Pinto, actual CANCHUNGO, e Pelundo. Este acto ocorreu na noite de 24 para 25 de Junho de 1971 na povoação de BINHANTE. Para os que não percorreram aquele Chão, BINHANTE situa-se a NNE de Teixeira Pinto, a uma distância desta, por estrada, de cerca de 5 quilómetros. Quase a meio do percurso de Teixeira Pinto para o Pelundo, virava-se para Norte e depois de percorrer pouco mais de 1 quilómetro entrava-se na povoação, conforme se pode observar na figura.

 
Binhante_1 

 Ao empregar a expressão incursão silenciosa, quero referir-me àquelas acções que militarmente eram classificadas como colecta e roubo das populações sob controlo das NT, feitas sempre pela calada da noite, muito provavelmente com a conivência de algum ou alguns elementos das próprias tabancas, quiçá familiares ou mesmo elementos da guerrilha oriundos dessas povoações que calmamente durante o dia ali penetrassem para durante a noite facilitarem a abertura das portas aos seus camaradas ou ainda, mais raramente sem essa conivência, mas sob fortes ameaças de vidas de raptados. Uma vez que o acontecimento só era comunicado pela manhã, as NT já não tinham possibilidade de interceptar os guerrilheiros. No entanto BINHANTE, como referi, ficava sensivelmente a meio do percurso de TEIXEIRA PINTO-PELUNDO, distando pouco mais do que 5 quilómetros de cada e os elementos do PAIGC, do CHURO ou COBOIANA, foram lá! Portanto no dia 25 pela manhã, lá tive de acompanhar os camaradas, possivelmente da CCaç 2660, que foram fazer o levantamento da ocorrência e ajuizar dos estragos, para que na medida do possível e, quanto mais depressa, se obtivessem os meios para recompor a situação. 
Das minhas breves notas respigo “Colecta e roubo em Binhante – Incendiaram 14 moranças, grandes estragos POP. Ameaças e sevicias, levaram POP como carregadores. 4 Sacos arroz na Gouveia em nome do CAOP. Assinei eu. Binhante 2 vezes”. 

Perante o sucedido e os lamentos da população ou do Chefe da Tabanca, recebendo evidentemente ordens para tal, tive de voltar a TEIXEIRA PINTO, onde levantei 4 sacos de arroz que requisitei na Casa Gouveia em nome do CAOP e fui entregá-los ao chefe da tabanca para satisfação das primeiras necessidades alimentares, isto evidentemente em nome da APSICO. 
Remeto uma fotografia referente a este acontecimento que, embora datada de JUN71, não deve ter sido obtida nesse dia 25, mas talvez posteriormente. Digo isto por não ter a certeza se no CAOP 1 se faziam recolhas radiofónicas de eventos. Se isto era verdade, então pode ter sido obtida nesse mesmo dia.
 
Binhante > 25JUN71 

Fotos: © Jorge Picado (2010). Direitos reservados. 

Na imagem são bem evidentes os sinais de habitações destruídas pelo fogo. Pode-se ver parte duma casa, representada por uma parede – feita em adobos de lama – e rachada no canto, com sinais de fumo por cima duma abertura – janela ou porta –, sem telhado e os restos de cibes queimados, em segundo plano, que suportavam exteriormente a cobertura, sinais mais do que suficientes de ter sofrido um incêndio recente. Além disso há dois militares – um metropolitano sentado com gravador ao lado e um guineense, talvez cabo, segurando o microfone na mão direita – registando o depoimento dum nativo – que pela veste e pés calçados demonstra um certo estatuto, chefe de tabanca (?) – acompanhado de outros naturais, um dos quais – o do chapéu – revela uma cara carrancuda. Repare-se na forma tradicional de transporte natural dos bebés por estas mães que, pelas suas vestes, mostram igualmente possuir um certo estatuto social. Seriam as mulheres do que está a ser entrevistado? Quem seria o militar sentado? De alguma das subunidades do CAOP 1? Ou do PIFAS de Bissau? As mesmas interrogações faço sobre o que segura o microfone, mas como poucos são aqueles desse tempo que militam na Tabanca, não creio poder chegar a qualquer conclusão. 

É tudo por hoje. 

Abraços para todos 
Jorge Picado
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Nota de CV: 

Guiné 63/74 - P5837: Em busca de... (118): O meu meio-irmão, filho de Júlio Tavares, o Madragoa, nascido presumivelmente em Catió, e hoje com 42 anos, se for vivo (Marisa Tavares, Canadá)


O blogue da Marisa Tavares, filha do Júlio Tavares (1945-1986), Are you my brother ? (http://omadragoa.blogspot.com/ ). Foi criado muito recentemente, em 8 do corrente, com o objectivo de encontrar um filho que o seu pai terá tido em Catió, conforme confissão feita por ele na hora da morte, em 1986. Qualquer informação sobre o paradeiro do seu meio-irmão guineense pode ser enviada para o seu e-mail: mt_iphone@rogers.com

1. Mensagem da nossa amiga Marisa Tavares, constante do seu blogue,  em inglês (que é a sua primeira língua)


Are you my brohter ?

My name is Marisa Tavares and I live in Toronto, Ontario, Canada.

My father died when I was only 6 years old. I did not learn much about him until recently. He died in 1986 of cancer.

Recently I found a box filled with my fathers military information of his time in the Portuguese Military from 1967-1969. He served his time in Catio, Guinea-Bissau, Africa.

I have since discovered that during his time in Catio, he fathered a baby boy with one of the local women sometime between 1967-1969. He is my half brother and I am looking for him.

Thanks to technology and the iInternet in last month I was able to find out more information about my father's time in the military.

What we know…

• We know that he was in Catio, Guinea-Bissau, Africa, between 1967-1969.

• My father’s name was Julio Marques Tavares but was better known by his nickname Madragoa.

• My grandmother (my father’s mother) was aware of this child and up until her death (also in 1986) would send the baby’s mother money to help the babies’ mother raise her first grandchild.

Below is information that I have gathered from other comrades I have been able to find in my quest to find my lost half brother (In Portuguese) (...)

2. Tradução (livre) de L.G.:

Você é meu irmão?

OO meu nome é Marisa Tavares e eu vivo em Toronto, Ontário, Canadá.

O meu pai [,foto à esquerda,] morreu quando eu tinha apenas 6 anos de idade. Eu não sabia muito sobre ele até há pouco tempo. Ele morreu em 1986 de cancro.

Recentemente eu encontrei uma caixa cheia de documentos do meu pai,  do tempo em que ele esteve no Exército Português, de 1967 a 1969, em Catió, Guiné-Bissau, África.

Descobri então que, durante esse tempo em Catió, ele teve um filho de uma das mulheres locais, algures entre 1967-1969. Ele é meu meio-irmão e eu ando à procura dele.

Graças à tecnologia e à Internet, no mês passado consegui descobrir mais informações sobre o tempo de tropa do meu pai.

O que sabemos ...

- Sabemos que ele esteve em Catió, Guiné-Bissau, África entre 1967-1969 [m foi soldadado condutor auto-rodas, pertenceu à CCS / BART 1913, 1967/69] (*);

- O nome do meu pai era Júlio Marques Tavares, mais conhecido pelal sua alcunha, Madragoa ; [, nasceu e viveu em Lisboa até ir para a tropa; os pais eram de Pardilhó, Estarreja];

- A minha avó (a mãe de meu pai) tinha conhecimento da existência dessa criança e, até à sua morte (também em 1986), ela costumava mandar dinheiro para a mãe da criança a fim de ajudá-la a criar o seu primeiro neto.

Abaixo segue a informação que eu recolhi, de outros camaradas de meu pai, nas minhas buscas para encontrar o meu meio-irmão perdido (Em português) (...) (*)

A propósito, veja-se o slide-show, musicado, que a Marisa preparou, sobre vida do Júlio Marques Tavares (5 de Dezembro de 1945 - 15 de Outubro de1986)... As suas diversas facetas como soldado, como
marido, como pai, como amigo brincalhão... (Por razões de respeito pelos direitos de autor da banda sonora, não reproduzimos aqui directamente o vídeo, de cerca de 12'):

The Life of Julio Marques Tavares... @ Yahoo! Video

3. Comentário de L.G.:

3.1. Comentário enviado em 11 do corrente à nossa amiga luso-canadiana:

Dear Marisa:

In order to help you in our blog... Do you have some contact, name, adress, phone number, or photo concerning the African family of your brother ? I suppose no...

If he survives (one out of five children dies before age five, in Guinea-Bissau) and if he is still living in Guinea-Bissau, he sould be 42 years old...

If I have well understood you, until 1986 your grandmother, living in Portugal, 'would send some money to help her first grandchild's mother'... Is it correct ?

We are proud of you.

Best wishes / Saudações

Luis Graça & Camaradas da Guine

luis.graca.prof@gmail.com



3.2.  A Marisa tem um coração muito grande, e uma saudade enorme de um pai que morreu quando ela era pequena... Domina mal o português, a sua primeirea língua é o inglês. Sabemos que, com a morte do ppai e da avó paterna, ela deixa de ter razíes em Portugal (em bora a sua mãe ainda esteja viva, emigrada no Canadá). Tanto ela, Marisa, como o seu irmão mais velho, são canadianos, mas não têm filhos.

A Marisa quer, legitimamente, conhecer melhor o seu passado, as suas raízes, a história de vida do seu pai, e está muito determinada em descobrir o paradeiro do seu meio-irmão que terá ficado em Catió....A mãe do seu pai, que vivia em Pardilhó, Estarreja, e que morreu a seguir ao seu filho (único), sabia da existência desta criança... Na hora da morte, no Canadá, o Júlio terá confessado (, presumimos que à sua esposa), este seu derradeiro segredo... (Curiosamenet, no seu álbum fotográfico, de Catió, não há fotos de mulheres nem de crianças).

Agora a Marisa quer conhecer o seu irmão... Não será fácil descobri-lo, caso ainda esteja vivo, possivelmente já com 42 anos de idade... Da nossa parte, vamos fazer o nosso melhor para ajudá-la... Vamos desejar-lhe boa sorte nesta procura. Será que algum amigo e camarada do Júlio Tavares tem informações adicioniais sobre este caso que queira compartilhar com a nossa amiga Marisa (e, eventualmente, connosco ? Good luck, Marisa!

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Nota de L.G.:

(*) Vd. postes de 17 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5832: Álbum fotográfico do Júlio Tavares, Sold Cond Auto, CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) (Parte III) (Marisa Tavares / Victor Condeço)

Guiné 63/74 - P5836: O 6º aniversário do nosso Blogue (4): O teu, nosso blogue (Mário Gualter Rodrigues Pinto)

1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos, em 17 de Fevereiro de 2010, a seguinte mensagem:

O 6º ANIVERSÁRIO DO TEU, NOSSO BLOGUE

Luís Graça, um dia já distante ao navegares de canoa nas águas calmas do atribulado e sinuoso Rio Geba, certamente nunca pensaste navegar neste “mar” imenso que, hoje, é a Net.

Digo eu, que em muito boa hora o fizeste, porque ao colocares esta tua “canoa” neste “oceano” cibernético, conseguiste encontrar e recolher outros navegantes que, perdidos no horizonte memorial das “águas salgadas”, navegavam à deriva, desnorteados, procurando uma “bóia de salvação”, para o “despejo” das suas memórias da Guiné (boas e más).

Memórias que estavam mais que naufragadas, na profundeza dos pensamentos, velhas, mas marcantes e traumatizantes, enquanto procurávamos um abrigo de confiança, seguro e amigo, onde as pudéssemos resgatar e perpetuar, quer as dos feitos históricos, quer as das nossas mágoas, angústias, desabafos, factos, etc. Enfim, os nossos Testemunhos escritos, gravados, fotografados… reunindo património para herdarmos às gerações vindouras.

Criaste assim “um mar nunca antes navegado”, para a geração a que pertencemos (especificamente a dos ex-Combatentes), permitindo-nos, aqui, “velejar” neste espaço “caseiro” e comum que é a Tabanca Grande.

Outras tabancas vão surgindo nos “afluentes deste mesmo mar”, todas irmanadas dos mesmos sentimentos, a Amizade, a Camaradagem e a Confraternização, que iniciados nos já longínquos anos da guerra, se mantêm, e manterão, para todo o sempre.

Não só as alegrias, como as privações, a dor, o desgosto e o sofrimento, que nas nossas memórias se foram alojando, ao longo das nossas mais ou menos longas comissões militares, nos nossos físicos e psiques, temos vindo a “descarregar” neste espaço que criaste, e que além do formidável inter-relacionamento entre pessoal de todas as especialidades e tipos de unidades militares, é ponto de encontro para centenas de camaradas seguirem e comentarem as diversas publicações.

Timoneiro desta “nau”, com “marinheiros” como o C. Vinhal, V. Briote e M. Ribeiro, sabemos que conseguirás levar a bom porto este “navio” (espólio das nossas consciências), carregado de passageiros, que são portadores ainda de muitas descrições vividas pessoalmente, e que continuarão a enriquecer e fortalecer, para todos os efeitos e causas, este nosso “porão” de uma das fases históricas de Portugal.

Está aqui aberta, em boa hora, a caixa de pandora que muito contribuirá, estou certo, para a constituição final da catarse que originou o misterioso fim da Guerra do Ultramar e dos últimos Soldados do Império, como alguém um dia nos designou.

Um dia haverá, pelo menos um historiador curioso qualquer, que há-de abri-la e contar á sua maneira, e a seu bel-prazer, a história deste período, se calhar, infelizmente, quando nenhum de nós cá estiver para contestar o que quer que seja.

Tenhamos a esperança, que este teu, nosso blogue, seja a Luz, o Testemunho Descritivo, legado por nós, os que teimamos e fazemos disso ponto de honra, como um sério e honroso contributo da nossa geração, para que não se percam, nem permitam a deturpação, da veracidade dos factos e acontecimentos que vimos, e vivemos, como mais ninguém os viu.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art da CART 2519
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Nota de M.R.:

(*) Vd. último poste da série em: