terça-feira, 20 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6764: Memória dos lugares (93): Mais postais ilustrados (Parte II): Bafatá (Agostinho Gaspar)









Guiné > Zona Leste > Bafatá > s/d (c. 1966) > Postais ilustrados, Colecção Guiné Portuguesa, Edição Foto Serra, nº 136... De cima para baixo, edifício da administração de Bafatá (circunscrição) (as duas primeiras imagens); o mercado (3ª); a mesquita (4ª); a catedral (católica) (5ª); vista aérea (6ª); postal ilustrado nº 136, da edição Foto Serra.


Digitalização: © Luís Graça (2010). Direitos reservados.




Mapa da Guiné-Bissau > As oito regiões do país + o sector autónomo de Bissau: Biombo (3 sectores: Prabis, Quinhamel e Safim); Cacheu (7 sectores: Bigene, Bula, Cacheu, Caio, Calequisse, Canchungo e São Domingos); Oio (5 sectores: Bissorã, Farim, Mansabá, Mansoa e Nhacra); Gabu (5 sectores: Boé, Gabú, Pirada, Piche e Sonaco); Quínara (4 sectores: Buba, Empada, Fulacunda e Tite); Tombali (4 sectores: Bedanda, Catió, Komo e Quebo); Bolama / Bijagós (4 sectores: Bolama, Bubaque, Caravela e Uno).
A Região de Bafatá é composta pelos seguintes sectores: Bambadinca, Contuboel, Galomaro/Cossé,  Ganadu e Xitole. Sede: Bafatá.
 
A Região de Bafatá fica situada no Leste da Guiné-Bissau, fazendo fronteira com as Regiões de Gabú, Oio, Quínara e Tombali. Tem uma superfície de 5.981 Km2, e uma população de cerca de 225 mil habitantes (2008).
 
Bafatá, a segunda cidade do país na época colonial (com cerca de 4 mil habitantes no início da década de 1960),  tem vindo a perder importância face ao Gabu, verdadeira capital do chão fula. Terra natal de Amílcar Cabral, estima-se que Bafatá tenha cerca de 22 500 habitantes (2008). (LG)


1. Continuação da publicação de uma selecção de postais ilustrados da Guiné (*), da colecção do nosso camarada Agostinho Gaspar (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74), natural do concelho de Leiria.

Estas imagens foram obtidas a partir de um único postal ilustrado, igualmente aqui reproduzido, da famosa colecção "Guiné Portuguesa", edição Foto Serra, nº 136... 

Sobre Bafatá, temos 114  referências no nosso blogue,  mesmo assim muito abaixo de Bambadinca (c. 300)
 Não se pode falar de Bafatá, sem evocar o nome do nosso camarada Fernando Gouveia que fez lá a sua comissão, entre 1968 e 1970 e cuja série A Guerra Vista de Bafatá teve muito sucesso no nosso blogue. (LG)

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Nota de L.G.:

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6763: Blogpoesia (76): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (3) (Manuel Maia)

QUISERA EU... (3)

por Manuel Maia*

Quisera um tempo breve em permanência,
viver de novo agora a experiência
que a guerra me impediu de "enriquecer"...
Ouvir as gentes, conhecer saberes,
fruir dos gastronómicos prazeres
das étnias várias conhecer...


Com horizontes muito limitados,
apenas com balantas vivenciados,
mau grado "mil locais de permanência"...
A sede, de saber de outras gentes,
de povos, de culturas tão diferentes,
impele-me à viagem com urgência...


Quisera ver o sonho realidade,
vivido com a força, intensidade,
dos tempos d`outro tempo, aqui vos digo...
Quisera um nome dar a esta ideia
de achar para a Guiné a panaceia,
p`rós males de que enferma, qual castigo.


Quisera eu ver sentir naquele povo,
a fé no seu porvir, surgir de novo,
a vida é uma constância de esperança...
Se o acreditar fenece um breve instante,
p`ra dar lugar à prece, doravante,
o mundo está carente de mudança...


Nos centros de abastança e vida estável,
sorriso de criança é inigualável,
qual dom do céu, dos deuses um presente.
No mundo da africana condição,
da fome, da doença, sem ter pão,
dos rostos, essa imagem está ausente...


Quisera ter poderes p`ra libertar,
da malhas da miséria e do penar,
do jugo da ignorância, escuridão...
Quisera ser um deus, mesmo menor,
p`ra erradicar doença, fome, dor,
levar felicidade ao povo irmão...

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Notas de CV:

(*) Manuel Maia  foi Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74.  

Vd. postes da série de:

14 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6737: Blogopoesia (74): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (1) (Manuel Maia)
e
16 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6748: Blogpoesia (75): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (2) (Manuel Maia)

Guiné 63/74 - P6762: Antropologia (19): Os muçulmanos face ao poder colonial português e ao PAIGC (Eduardo Costa Dias)










Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > Festa do  Ramadã... Imagens (belíssimas) do nosso saudoso camarada Zé Neto (1929-2007), convertidas de slides, muito usados na época.

Fotos: © Zé Neto / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Direitos reservados.


Simpósio Internacional de Guiledje (Guiné-Bissau, Bissau, 1-7 de Março de 2008)> Comunicação de Eduardo Costa Dias (ECD), novo membro da nossa Tabanca Grande (*)


Bissau > 4 de Março, 17h30/18h00 > Painel 1 > Guiledje e a Guerra Colonial/Guerra de Libertação. Moderador: João José Monteiro (Universidade Colinas de Boé)

Título da comunicação de ECD > Papel e influência das dinâmicas sócio-religiosas e políticas nos movimentos de libertação nacional na África Ocidental: o caso da Guiné-Bissau

Sinopse da comunicação

O assunto desta comunicação tem directamente a ver com as diferenças de peso, de dinâmica e de tempo de intervenção que muçulmanos (**) e seguidores das religiões ditas tradicionais tiveram no movimento de libertação nacional liderado pelo PAIGC na Guiné-Bissau.

Trata-se, do meu ponto de vista, de um tema de grande importância para a compreensão, por exemplo, das razões sócio-politicas e político-religiosas da, globalmente, menor presença dos muçulmanos durante todo o período da luta de libertação, nas fileiras da guerrilha.

Com efeito, embora muitos muçulmanos tivessem, a título individual, integrado a guerrilha e alguns nela desempenhado papéis político-militares de relevo, durante a luta de libertação, a larga maioria dos membros do establishment muçulmano guineense (dirigentes das vários ramos guineenses da confraria qadriyya e da tijâniyya, imãs, letrados, régulos, etc.) teve um papel pouco colaborante com o PAIGC e muitos mesmo de assumido colaboracionismo com o poder colonial.

Nesta comunicação procurarei, descrevendo o quadro sócio-religioso da Guiné-Bissau e enumerando alguns dos acontecimentos mais marcantes das relações tecidas, antes e durante a luta de libertação, pelos dignitários muçulmanos guineenses com o poder colonial, questionar globalmente o papel dos vários grupos religiosos não cristãos durante a luta de libertação nacional e, numa dimensão mais precisa, aduzir elementos para a compreensão das razões da manifesta hostilidade por parte da maioria do establishment muçulmano guineense para com a luta de libertação.

Na minha opinião, as razões desta hostilidade não se radicam, no fundamental, na eventual incompatibilidade entre o Islão e o ideário filosófico-político proclamado pelo PAIGC ou na simples discordância sobre os métodos seguidos por este movimento na luta pela independência da Guiné-Bissau, mas sim em questões fundadas na política de alianças com o Estado seguida pelos dignitários político-religiosos muçulmanos guineenses e de um modo geral pelos dos países vizinhos desde os anos 1880-1890. Entroncam, na política dita do muwalat (“acomodação sob reserva”/”coabitação” com o Estado) encetada pelos dignitários muçulmanos no 3º quartel do século XIX em toda a África Ocidental e que, como o atestam, no caso guineense, a antiga “tradição” de aliança com o Estado colonial, a oposição do establishment muçulmano à luta de libertação e a “reentrada” na área do poder de muitos dignitários passado pouco tempo sobre a independência da Guiné-Bissau, transitou, nos seus contornos fundamentais, da situação colonial para a pós-colonial.

Cabral, fino conhecedor do xadrez social e político-religioso da Guiné-Bissau (***), tinha, bem antes do início da luta de libertação, consciência da tendência “estrutural” do establishment muçulmano para acomodar-se ao “poder do momento”,  qualquer que ele seja! Disse-o nos seus escritos, teve-a em atenção no delinear da estratégia de mobilização das populações para a Luta. (****)

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 18 de Julho de 2010 >  Guiné 63/74 - P6758: Tabanca Grande (231): Eduardo Costa Dias, antropólogo, CEA / ISCTE / IUL

(**) Alguns dos nossos marcadores/descritores, relacionados com esta problemática:

Animismo (2)
Antropologia (21)
Balantas (25)
Cherno Rachide (9)
Colaboracionismo (6)
Corão (2)
Fulas (45)
Historiografia da presença portuguesa (30)
Islamismo (17)
Islão (10)
Mandingas (38)
Mutilação Genital Feminina (13)
Ramadã (2)
Religião (14)
Tabaski (1)


(***) Vd., entre muitos outros, o poste de 30 de Junho de 2008  > Guiné 63/74 - P3000: Amílcar Cabral: nada mais prático do que uma boa teoria (Luís Graça)

 (...) Quanto aos fulas, o fundador, dirigente e teórico do PAIGC fala deles em termos de uma forte “estratificação social”. Em primeiro lugar, temos (i) os chefes, os nobres e os dignatários religiosos (por ex., o Cherno Rachid de Aldeia Formosa); vêm depois, (ii) os artesãos e os jilas ou comerciantes ambulantes (que circulam pela Guiné, Senegal e Guiné-Conacri); finalmente, e na base da pirâmide social , (iii) os camponeses.

Sobre o grupo dirigente, Amílcar Cabral diz o seguinte:

“Os chefes e a sua comitiva têm ainda, a despeito da conservação de certas tradições relativas à colectividade das terras, privilégios muitos importantes no quadro da propriedade da terra e da exploração do trabalho de outrem. Os camponeses que dependem dos chefes são obrigados a trabalhar para eles um certo período do ano”.

Daí chamar aos fulas, aliados históricos dos portugueses, um grupo semi-feudal.

Os artesãos desempenham um papel importante na sociedade fula, constituindo um núcleo embrionário de uma indústria de transformação da matéria-prima: do ferreiro, na base da escala, até ao artesão do couro. Os comerciantes ambulantes (jilas) são os que têm, na prática, a possibilidade de acumular dinheiro. Por fim, os camponeses: em geral desprovidos de direitos, seriam os “verdadeiros explorados da sociedade fula”.

A estratificação da sociedade fula também pode ser vista a partir da família, extensa, que é a sua célula: a família de um homem grande é constituída pela morança; um conjunto de moranças formam uma tabanca; um conjunto de tabancas um regulado; e por fim, os regulados fulas estão associados ao chão fula (Leste da Guiné, compreendendo hoje as regiões de Bafatá e de Gabu), uma entidade territorial e simbólica, ligada à conquista.

Aqui a mulher não goza de quaisquer direitos sociais: participa na produção sem quaisquer contrapartidas; por outro lado, a prática da poligamia significa que ela é, em grande parte, propriedade do marido.

Estranha-se, não haver aqui uma referência ao fanado feminino e sobretudo ao profundo significado sócio-antropológico que tinha (e tem) a Mutilação Genital Feminina entre os Fulas (mas também entre os Mandingas e os Biafadas). Será que Cabral tinha consciência das terríveis implicações, para a mulher, desta prática ancestral, e também aceitava tacitamente em nome do relativismo cultural, tal como os antropólogos colonialistas ? Não conheço nenhum texto em que o ideólogo do PAIGC tenha tomada posição sobre este delicado problema. (...)

Guiné 63/74 - P6761: (in)citações (2): Mais duas músicas do tocador de harmónica de Guileje (Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento)


Guiné-Bissau. Região de Tombali. Guileje. Tocador de Harmónica. Antigo milícia, ao tempo do abandono do aquartelamento pelo Exército Português, em 22 de Maio de 1973. Museu de Guileje (em construção), finais da época das chuvas, 2009. Vídeo: AD - Acção para o Desenvolvimento. Cortesia de Pepito, nosso amigo, membro da nossa Tabanca Grande.


Vídeo (''44): Alojado em You Tube > Nhabijoes (Também se pode clicar aqui, em alternativa, para ver e ouvir o vídeo)



Guiné-Bissau. Região de Tombali. Guileje. Tocador de Harmónica. Antigo milícia, ao tempo do abandono do aquartelamento pelo Exército Português, em 22 de Maio de 1973. Museu de Guileje (em construção), finais da época das chuvas, 2009. Vídeo: AD - Acção para o Desenvolvimento. Cortesia de Pepito.


Vídeo (''48): Alojado em You Tube > Nhabijoes (Também se pode clicar aqui, em alternativa, para ver e ouvir o vídeo)




1. Aqui vão os restantes pequenos vídeos com a actuação do nosso tocador de harmónica (ou gaita-de-beiços), um antigo milícia de Guileje, ao tempo da CCAV 8350 (Piratas de Guileje, 1972/73) (*).  A gravação foi feita frente ao Museu de Guileje (ainda em construção),  em Guileje, em finais da estação das chuvas de 2009, se não me engano. Ao fundo, vê-se uma velha anti-aérea do PAIGC, agora peça de museu (Recorde-se que o museu foi já inaugurado este ano, em 20 de Janeiro último).  


A primeira musiquinha está-me no ouvido, mas não consigo relacioná-la com a letra (talvez umas janeiras...). A segunda  parece-me ser  a popularíssima,  no nosso tempo de meninos e moços, Ó Rosa, arredonda a saia... Ou não ? Espero que os nossos especialistas musicais (vg, Abílio Machado, Acácio Correia, Álvaro Basto, David Guimarães, Gabriel Gonçalves, João Graça, Joaquim Mexia Alves, Zé Luís Vacas de Carvalho) nos ajudem a recordar as letras... 


Quanto ao nosso artista, faltam-nos dados biográficos: nome, idade, naturalidade, etc. O Pepito, que deve estar a chegar para férias em Portugal (mais exactamente, na sua belíssima casa no belísismo São Martinho do Porto, com umas fugidas rápidas a Lisboa), vai-nos dar mais pormenores sobre ele: onde e com quem aprendeu a tocar harmónica, quem lhe deu a gaita de beiços, etc. Para já deliciem-se com estas duas musiquinhas... Mas há mais surpresas... (LG)


2. Segundo o o nosso camarada José Corceiro, a segunda musiquinha seria de Santa Luzia dos Meus Amores... E a primeira seria uma Cantiga dos Reis (ou janeiras).


Santa Luzia dos meus amores,
Santa Luzia bonita és,
Santa Luzia dos meus altares,

Tinta de Ana cai a teus pés.


Quem bai a Santa Luzia,
A Biana do Castelo,
O mais lindo panorama,
Que é de todos o mais belo.

Fonte: Aqui. (Com a devida vénia...)



Ó Rosa, arredonda a saia
Música e letra: Popular


Refrão


Ó Rosa, arredonda a saia,
Ó Rosa, arredonda-a bem!
Ó Rosa, arredonda a saia,
Olha a roda que ela tem!


Olha a roda que ela tem,
Olha a roda que ela tinha!
Ó Rosa, arredonda a saia,
Que fique bem redondinha!


[Refrão]


A saia que traz vestida,
É bonita e bem feita,
Não é curta, nem comprida,
Não é larga, nem estreita.


[Refrão]

Cântico dos Reis


Fonte:  Portal das Juntas de Freguesia de Vinhais >
Freguesia de Vilar de Ossos


Ainda agora aqui cheguei,
Pus o pé na sua escada,
Já o meu coração disse
Aqui mora gente honrada.

Vimos-lhe cantar os reis,
Mas não é pelo dinheiro,
É só para lhe provar
O seu rico fumeiro.

Despedida, despedida,
Assim fez a cerejeira ao ramo
Boas noites meus senhores
Adeus, até pró ano.



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Nota de L.G.:

Guiné 63/74 - P6760: Factos e Feitos mais importantes da CART 2732 (2): De Janeiro a Julho de 1971 (Carlos Vinhal)

FACTOS E FEITOS MAIS IMPORTANTES DA CART 2732 (2)

CAPÍTULO II

ACTIVIDADES MAIS SIGNIFICATIVAS NO TO DA GUINÉ

(Continuação)


Em 04JAN71, 3 GCOMB empenhados na protecção aos trabalhos foram flagelados de NE com morteiros 62.

Em 05JAN71, um GCOMB detectou 1 mina AP em FARIM-2 D7 sendo levantada pelos Sapadores. Pelas 20h30, grupo IN não estimado flagelou o aquartelamento e povoação de Mansabá com 6 a 8 tiros de CSR sem consequências. As NT reagiram com 26 tiros de obus 8,8.

Em 09JAN71, pelas 08h00 grupo IN não estimado flagelou as forças de protecção aos trabalhos com 8 tiros de morteiro 82.

Em 11JAN71, o IN flagelou forças e trabalhadores em FARIM-2 D7 2 E6 sem consequências.

Em 15JAN71, pelas 08h00 grupo IN flagelou com RPG7, grupo de segurança aos trabalhadores em FARIM-2 D6 3 2 D9 sem consequências.

Em 16JAN71, pelas 17h30 foi flagelado o aquartelamento de Mansabá com 2 foguetões vindos da direcção Oeste, tendo ambos sido curtos, 1 a cerca de 300 metros e outro a 500 do limite do aquartelamento. As NT reagiram com 14 tiros do Pel Art 8,8.

Em 25JAN71, grupo IN flagelou forças e trabalhos em FARIM-2 D9-93 sem consequências.

Em 27JAN71, mais uma vez foram flageladas as NT e o pessoal dos trabalhos com 5 tiros de morteiro 82.

Em 28JAN71, pelas 08h20, grupo IN não estimado flagelou os trabalhos com 2 tiros de RPG7, morteiro e rajadas de armas automáticas. Feridos com estilhaços 3 capinadores.

Em 01FEV71, 1 GCOMB da CART 2732 em protecção aos trabalhos da construção da estrada foi flagelado com 7 a 8 tiros de LGF, 8 tiros de morteiro 60 e 81, e rajadas de armas automáticas, causando 3 feridos às NT.

Em 15FEV71, foi destacado 1 GCOMB da CART 2732 para Saliquinhedim.



Saliquinhedim (K3), destacamento localizado a 3 quilómetros a sul de Farim

Foto: ©  de Carlos Silva

Em 19FEV71, 1 elemento do Pel Mil.ª 253, quando caçava nas imediações do quartel, detectou 1 corpo meio enterrado de 1 elemento IN, junto do qual estavam 4 detonadores de minas AP, 2 cartucheiras e espingarda Simonov com cartuchos e 1 almotolia para óleo.

Em 28FEV71, o GCOMB destacado para Saliquinhedim regressou a Mansabá.

No mês de Fevereiro de 1971 deu baixa ao HM 241 de Bissau o Comandante da CART 2732, Cap Art Domingos Alberto Pinto Catalão

Em 02MAR71, 1 viatura autotanque do BENG 447 accionou 1 mina AC do que resultou a destruição da viatura e 4 feridos, 2 dos quais em estado grave.

Em 08MAR71, assume interinamente o Comando da CART 2732 o Cap Mil Jorge Picado

Em 29MAR71, 2 GCOMB reforçados com 2 Secções do PEL MIL.ª 253, comandados pelo Cap Jorge Picado, contactaram com grupo IN com cerca de 10 elementos em BINTA-8 H-8 7-4. As NT reagiram com fogo com armas automáticas, dilagramas e morteiro 60, pondo o IN em fuga, que sofreram 2 mortos confirmados. Foram capturadas 1 Mauser, 3 granadas de CSR B10 e destruído um celeiro com 300Kg de milho. As NT foram flageladas com morteiro 82 sem consequências. (Acção Urtiga Negra).

Em Março de 1971 o CMDT desta CART, Cap Art Domingos Alberto Pinto Catalão, baixou de novo ao HM 241 de Bissau.



Nesta foto, o 3.º Pel/CART 2732, nesta data comandada pelo Fur Mil Nunes, por impedimento do Alf Mil Bento, internado no HM 241 de Bissau.

Em 12ABR71, patrulha e emboscada com 2 GCOMB reforçados com 2 SEC MIL/PEL MIL 253 em Buro, Fátima, “BINTA-8 G8” e Tambato Mandinga. Em BINTA-9 G3 15 as NT foram flageladas com morteiro 82. Em FARIM-3 A6 17 foi detectada e levantada 1 mina AP reforçada com 1 granada de RPG2. (Acção Urtiga XXII)

Em 21ABR71, 2 GCOMB reforçados com 1 SEC MIL.ª efectuaram patrulhamentos e emboscadas em Tungina, Buro e Colimansacunda. Na região da Bolanha de Irabato, forte contacto entre 20 a 30 elementos armados de armas automáticas, RPG2 e morteiro 60, com grande potencial de fogo. As NT reagiram prontamente, causando ao IN 1 morto provável e vários feridos confirmados. As NT tiveram 1 ferido grave, o Soldado Milícia Sul Bissau que foi evacuado do local por um helicóptero, tendo morrido mais tarde no HM 241 de Bissau.

Nesta acção destacaram-se:

- O Fir Mil que comandava a 3.ª Sec/3.º Pel/CART 2732 porque demonstrou muita descontracção, eficiência e desprezo pelo perigo, avançando debaixo de fogo com a sua Secção que comandava ao encontro do IN.

- O Soldado António Ribeiro Teixeira, porque após ter abatido um inimigo, avançou debaixo de fogo disparando a sua metralhadora, tentando que não fosse recuperado pelos camaradas, revelando iniciativa e desprezo pelo perigo.

- Os Soldados José Alberto Gonçalves Quintal e António Góis Perestrelo, porque sem hesitação e sob fogo IN, avançaram ao encontro do mesmo, disparando as suas armas com desembaraço e eficiência.

(Anexo D ao Relatório da "Acção Urtiga Negra XXVII")

Em 24ABR71, 2 GCOMB reforçados com 1 SEC MIL.ª patrulhando a região de Demba Só Simbor avistou 10 elementos IN em fuga na tabanca de Simbor. Perseguição imediata das NT mas sem resultados. (Acção Urtiga XXIX)

Em 29ABR70, o Cap Mil Jorge Picado deixa o Comando da CART 2732, seguindo para o CAOP 1 de Teixeira Pinto

Em 07JUN71, 1 GCOMB patrulhou a região de Manjampoto, emboscando em FARIM-2 E7. 1 GCOMB reforçado com 1 SECMIL.ª efectuou patrulhamento ofensivo na região de FARIM-1 H2, Mamboncó-6 A6 5-0, capturando 2 elementos da população que pelas informações obtidas foi organizada a Acção Umbela. Foram destruídas 20 moranças, capturados 13 elementos da população, 1 espingarda Mauser e 1 canhangulo. As NT não tiveram consequências.

Em 15JUN71, pelas 18h00 o IN flagelou o aquartelamento de Mansabá com fogo de CSR durante 5 minutos, a partir do Alto de Bissorã. As NT reagoram com fogo de armas pesadas.

Em 16 JUN71, pelas 18h50 foi accionada uma mina AC referenciada a 100 metros a sul do Bironque, por uma coluna da CART 2732 no trajecto K3-Mansabá. As NT tiveram 6 feridos, 1 deles grave.



Viatura GMC da CART 2732 que accionou uma mina AC no Bironque, em 16JUN71, conduzida pelo Soldado Condutor Arlindo Freire Bicho que ficou gravemente ferido.

Em Junho de 1971 o CMDT desta CART, Cap Art Domingos Alberto Pinto Catalão, baixou de novo ao HM 241 de Bissau.



O General Spínola numa das visitas que fez a Mansabá

Em 22JUL71, pelas 18h00 foi encontrado por uma coluna auto, um buraco acabado de fazer com o fim de colocar uma mina AC na faixa de rodagem da estrada alcatroada, a 2000 metros a sul de Cutia.

Em 28JUL71, 2 GCOMB empenhados na operação XAIREL em protecção da base de fogos situada em Madina Fula.

Carlos Vinhal
Fur Mil Art
CART 2732
Mansabá, 1970/72

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Nota de CV:

Vd. primeiro poste da série de 17 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6754: Factos e Feitos mais importantes da CART 2732 (1): De Abril a Dezembro de 1970 (Carlos Vinhal)

domingo, 18 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6759: Controvérsias (97): Ainda... muito a tempo (José Belo)

1. Mensagem de José Belo (*), ex Alf Mil Inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, actualmente Cap Inf Ref, a viver na Suécia, com data de 17 de Julho de 2010:

Caro Amigo e Camarada
Antes "d'abalada" aqui envio algumas considerações aos comentários pessoalizados que recebi, e que em nada vieram contribuir, infelizmente para o interessante, e oportuno, assunto em debate.

"Por respeito aos Editores, e aos camaradas que constituem, ou seguem o blog de Luís Graça e Camaradas da Guiné, sinto necessidade de apresentar algumas considerações quanto a comentários "pessoalizados" que me foram, mais uma vez, dirigidos.

Ao escrever... apresentar algumas considerações... não vou, de modo algum, estabelecer um diálogo, que seria inapropriado para com valores e parâmetros que tão bem servem este fórum.

Tendo um camarada apresentado muito válidas e oportunas sugestões sobre uma futura Organização de Ex-Combatentes, procurei, dentro dos limites óbvios da minha posição geográfica, documentação avaliável que permitisse debater o assunto, com base em experiências passadas, como seria exemplo o Congresso dos Combatentes de 1973.

Ao apresentar este exemplo tive o cuidado de salientar ter o Congresso sido realizado noutros "tempos" e realidades, tanto políticas como o importante facto de, então, a guerra ainda continuar.

Um senhor, aparentemente também interessado pelo assunto, apresentou vastas transcrições de documentos ao seu dispor que vieram contribuir para esclarecimentos quanto ao assunto em debate.

O que se torna, MAIS UMA VEZ, estranho, é a necessidade "patológica" deste senhor de acompanhar a documentação, e ideias, que apresenta, com ataques pessoais em termos caserneiros, acompanhados sempre de insinuações baratas e análises valorativas de "apadrinhamentos", "controleiros" e "vencedores".

Compreendo, (não fora casado com médica psiquiatra), que as arrogâncias gratuitas têm sempre bases em frustrações e recalcamentos vastos. Talvez de... "não haver sido?"

Tais personagens, habituadas durante muitas décadas aos exclusivos do Patriotismo, da História, e das verdades, continuam, aparentemente, a sentir sérias dificuldades em aceitar, na ausência do conveniente apoio de polícia política violenta, terem sido convidados pelos Democratas de Abril a sentarem-se à mesma mesa (não de monólogos, mas de diálogos) com o tal "Povoléu" que tanto desprezam, esquecendo que, eles, os senhores, e o tal "Povoléu", mais não são que... Portugueses!

E, ao escrever "sentarem-se à mesma mesa", sinto que não podem, nem devem, acusar os Democratas pelo facto de, em vez de se SENTAREM, terem-se colocado imediatamente... DE CÓCORAS!

São documentos como o vídeo do tocador de harmónica do Guileje apresentado em P675, que acabam por ficar "Arquivados", muito especialmente nos nossos corações, e são bem representativos do que é a Tabanca Grande e os seus fins.

Um abraço amigo.
Estocolmo 17 de Julho de 2010
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Notas de CV:

Vd. poste de 14 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6738: Da Suécia com saudade (24): A difícil procura da unidade dos antigos combatentes (José Belo)

Vd. último poste da série de 14 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6730: Controvérsias (95): Não me move, nem alimento, qualquer querela QP-Milicianos (José Manuel M. Dinis)

Guiné 63/74 - P6758: Tabanca Grande (231): Eduardo Costa Dias, antropólogo, CEA / ISCTE / IUL


Guiné-Bissau > Bissau > Simpósio Internacional de Guiledje (1-7 de Março de 2008) > 6 de Março > O Prof Eduardo Costa Dias (CEA / ISCTE), atento observador da realidade sócio-política da Guiné-Bissau.

Foto: Luís Graça (2008). Direitos reservados


1. Ando há dois anos a ameaçar o Edu, o meu amigo e colega Eduardo Costa Dias, com a sua entrada, pela porta pequena, na Tabanca Grande (*). 

A verdade é que ele aceitou, há já largos meses, o meu convite expresso para integrar este grupo de amigos e camaradas da Guiné que se reune, há mais de seis anos,  sob o generoso e frondoso poilão da Tabanca Grande. (Só não a fez, a formalização do pedido, por falta da foto da praxe, problema que eu acabo de resolver, rapidamente, em véspera de férias, com o recurso à consulta  da minha base de dados...).

Ele vai entrar finalmente, e deveria sê-lo pela porta grande... (se a Tabanca Grande a tivesse: ora como é sabido, nós não temos portas nem janelas, isto é, barreiras, físicas, culturais ou simbólicas; ou melhor gostaríamos de não ter...). 

O Edu, ou ECD, entra como paisano, não sabendo eu nada da sua vida militar... Só sei que que já foi dezenas e dezenas de vezes à Guiné-Bissau, nestes últimos quinze a vinte anos. E é um dos portugueses mais bem informados e melhor conhecedores da realidade sócio-política deste país lusófono, e em particular da zona leste... 

Fez lá o trabalho de campo como investigador no âmbito da sua tese de doutoramento em Antropologia (que defendeu, em provas públicas, em 1996): O sistema agrário dos Mandinga de Contuboel (Guiné-Bissau) : memória, saber, poder e reprodução social.

Aqui fica uma pequena apresentação do novo membro  da nossa Tabanca Grande, que passa doravante a ser tratado sem mais salamaleques, como qualquer vulgaríssimo membro do nosso blogue.

Eduardo Costa Dias > Breve CV (Fonte: Simpósio Internacional de Guiledje, Bissau, 1-7 de Março de 2008 > Oradores > Eduardo Costa Dias)

(i) Professor de Sociologia e de Estudos Africanos,  coordenador científico dos Programas de Mestrado e de Doutoramento em Estudos Africanos do ISCTE e professor visitante no Institut d’Études Politiques (Sciences Po-Paris) e na Université de Laval (Canada).

(ii) Tem desenvolvido investigações sobre as relações entre o Estado e as Autoridades Tradicionais, o “Islão Politico” e o ensino muçulmano na África Ocidental, em especial na região senegambiana (Gâmbia, Guiné-Bissau, Senegal).

(iii) É autor de vários trabalhos sobre problemáticas sociais e políticas contemporâneas da Guiné-Bissau, estava a preparar, em 2008, a publicação de um livro sobre a islamização do antigo Kaabú e tinha no prelo uma recolha de artigos publicados e inéditos sobre a política colonial nas regiões islamizadas da antiga Guiné Portuguesa (1880-1930).

Vd. alguns dos títulos de que é autor (Fonte: Memória de África)

[2250]
Dias, Eduardo Costa
Espaço político africano, espaço político colonial : confrontos de entendimentos no antigo Kaabu (Guine-Bissau), 1900-1930 / Eduardo Costa Dias
In: África e a instalação do sistema colonial (c. 1885 - c. 1930) : III reunião internacional de história de África - actas / dir. Maria Emilia Madeira Santos. - Lisboa : IICT, Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga, 2000. - p. 301-310
Descritores: Guine-Bissau | Colonialismo | Política
Cota: COR/LA-2-4|UCILLP

[2413]
Dias, Eduardo Costa
Da'wa, politica, identidade religiosa e invenção de uma nação / Eduardo Costa Dias
In: Multiculturalismo, poderes e etnicidades na África subsariana / coord. António Custódio Gonçalves. - Porto : Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2001. - p. 45-68
Descritores: Africa Lusofona | Identidade cultural
Cota: COR/LA-2-6|UCILLP

[14002]
Dias, Eduardo Costa
Guiné-Bissau : dinâmicas sociais senegâmbianas, fronteiras e soberania nacional / Eduardo Costa Dias
In: Forum Sociológico / Instituto de Estudos e Divulgação Sociológica. - Nº 4 (1994), p. 113-123
Descritores: Guiné-Bissau | Sociedade | Etnologia | Sociologia | Soberania nacional
Cota: s/cota|UCDA|Diamang

[28531]
Dias, Eduardo Costa
Espaço político africano, espaço político colonial : confrontos de entendimentos no antigo Kaabú -Guiné Bissau, 1900-1930 / Eduardo Costa Dias
In: A África e a instalação do sistema colonial - c.1885- c.1930 : III reunião international de história de África : actas. - dir. Maria Emilia Madeira Santos. - Lisboa : Centro de estudos de História e cartografia antiga, 2001. - p. 301-310
Descritores: Guiné-Bissau | Usos e costumes | Grupo étnico
Cota: 135-D-81|Soc. Geog. Lx.

[108886]
Dias, Eduardo Costa
A Guiné-Bissau e as dinâmicas sociais da sub-região / Eduardo Costa Dias
In: / / coord. Carlos Cardoso, Johanes Augel. - Bissau : Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, 1993. - p. 215-228
Descritores: Guiné-Bissau | Independência Nacional | Desenvolvimento social
Cota: GBS - 40|Espólio Prof. Dr. Laranjeira

[119413]
Dias, Eduardo Costa
O sistema agrário dos Mandinga de Contuboel (Guiné-Bissau) : memória, saber, poder e reprodução social / Eduardo Costa Dias. - Lisboa : ISCTE, 1996. - 2 v.
Descritores: Sector agrícola | Etnicidade | Guine-Bissau
Cota: T. 38 A-B|CIDAC

[122495]
Dias, Eduardo Costa
Da escola corânica tradicional à escola arabi : um simples aumento de qualificação do ensino muçulmano na Senegâmbia? / Eduardo Costa Dias. - Lisboa : ISCTE, Centro de Estudos Africanos, [2005 ?]. - p. 125-155. - Contém: bibliografia
Descritores: História | Religião | Etnicidade | Educação | Guiné-Bissau | Senegâmbia
Cota: PP228/7-8/04-05|CIDAC

[147153]
Dias, Eduardo Costa
Espaço político africano, espaço político colonial : confrontos de entendimentos no antigo Kaabú : 1900-1930 / Eduardo Costa Dias
In: Estudos sobre as campanhas de África / Adriano Moreira ... [et al.]. - Ranholas : [s.n.], 2000 . - pp. 301-310
Descritores: Colonialismo | Política interna | Guiné-Bissau
Cota: K-29-26|BCM

[148373]
Dias, Eduardo Costa
Espaço político africano, espaço político colonial : confrontos de entendimentos no antigo Kaabú -Guiné Bissau, 1900-1930 / Eduardo Costa Dias
In: A África e a instalação do sistema colonial - c.1885- c.1930 : III reunião international de história de África : actas. - dir. Maria Emilia Madeira Santos. - Lisboa : Centro de estudos de História e cartografia antiga, 2000. - p. 301-310
Descritores: Guiné-Bissau | Usos e costumes | Grupo étnico
Cota: K-32-02|BCM

[246018]
Dias, Eduardo Costa
Guiné-Bissau : dinâmicas sociais senegâmbianas, fronteiras e soberania nacional / Eduardo Costa Dias. - Lisboa : IEDS, 1994. - 11 p.. - Contém: bibliografia
Descritores: Estado | Guiné-Bissau | Senegâmbia
Cota: PP158/4/94|CIDAC

[246684]
Dias, Eduardo Costa
Estado, política e dignitários político-religiosos : o caso senegâmbiano / Eduardo Costa Dias. - Lisboa : ISCTE, 2001. - p. 27-51. - Contém: bibliografia
Descritores: Estado | Etnicidade | Religião | Senegâmbia | Guiné-Bissau
Cota: PP228/1/01|CIDAC

[247159]
Dias, Eduardo Costa
Da escola corânica tradicional à escola arabi : um simples aumento de qualificação do ensino muçulmano na Senegâmbia? / Eduardo Costa Dias. - Lisboa : ISCTE, Centro de Estudos Africanos, [2005]. - p. 125-155. - Contém: bibliografia
Descritores: História | Religião | Etnicidade | Educação | Guiné-Bissau | Senegâmbia
Cota: PP228/7-8/04-05|CIDAC


______________

Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste desta série > 16 de Julho de 2010  > Guiné 63/74 - P6746: Tabanca Grande (230): Felismina Costa, madrinha de guerra de Hélder Martins de Matos, ex-1.º Cabo Escriturário, Bafatá, 1963/64

Guiné 63/74 – P6757: O Nosso Livro de Visitas (94): Cassiano Reginatto, um nosso leitor no Brasil que gosta de África

1. Mensagem de Cassiano Reginatto, um brasileiro que do outro lado do Atlântico acompanha o nosso Blogue, com data de 16 de Julho de 2010.

Boa noite senhor Luís Graça
No Brasil, neste momento são 20h20.
Escrevo-lhes para parabenizá-lo pela iniciativa do blog.
Estava eu consultando algo na internet sobre o Continente africano em 2009 e deparei-me com o seu blog.
Sempre tive fascínio sobre a África, pois na minha infância, muito assisti a filmes passados lá.

Nasci em 1971, portanto, vocês estavam, como se diz no português de Portugal, "a fazer a guerra".

Nas escolas brasileiras nos ensinaram sobre as guerras mundiais, Coreia e Vietnã, mas nunca soubemos desta guerra travada por Portugal contra a descolonização.

Fui militar de infantaria. Aqui no Brasil, o alistamento é obrigatório para quem tem 18 anos, mas presta-se o serviço militar obrigatório somente por 1 ano, e não 2 como aí.

Pelo que leio em relatos de ex-combatentes, a vida foi muito dura para vocês. Foram privados de suas juventudes, de suas famílias, muitos voltaram estropiados e outros tiveram suas vidas abreviadas.

Gostaria de saber se houve brasileiros que combateram com o exército Português nas guerras coloniais, especialmente se houve gaúchos (Sou de Porto Alegre, Rio Grande do Sul), para poder contactá-los e ouvir mais histórias da África.

Bem, vou me despedindo de vocês e saiba, todos os dias entro neste blog (uma vez pela manhã e outra pela tarde) para entender um pouco mais sobre a África e entender um pouco mais desta guerra que destroçou famílias.

Cassiano Reginatto


2. Comentário de Carlos Vinhal

Caro Cassiano
Sou um dos co-editores que ajudam Luís Graça, o fundador deste Blogue.
A nossa missão é manter esta página viva, com postes publicados diariamente, graças à colaboração de ex-combatentes da Guiné (actual Guiné-Bissau).

Julgo que saberá que no século XX Portugal ainda mantinha vários territórios espalhados pelo mundo sob a sua administração (Cabo Verde; Guiné; S. Tomé e Príncipe; Angola; Moçambique; Macau; Timor; e Goa, Damão e Diu), mas que após a independência forçada de Goa, Damão e Diu, em 1961, se precipitaram as lutas de libertação em Angola, Guiné e Moçambique.

Portugal, mercê de uma política errada, não adaptada ao que era normal naquela época, quis pela força impedir a independência daqueles países, cuja ocupação mantinha há séculos.

O resultado foi uma guerra de 13 anos, em África, que custou milhares de vidas e estropiados, além de muitos ex-combatentes, que não têm deficiências físicas, mas apresentam actualmente graves sintomas de stress pós-traumático de guerra, bem difíceis de tratar. Este problema está-se a resolver com calma e paulatinamente, ao ritmo a que vai morrendo cada ex-combatente doente. É esta a verdade nua e crua, como por aqui se diz.

Nem quero falar muito do ex-combatentes guineenses que lutaram ao nosso lado, abandonados à sua sorte, descartados, diria eu, e que por cá vagueiam à espera que lhes façam justiça. Verdade se diga que esperam sentados, coitados.

Voltando ao nosso Blogue, ele mais não é que um testemunho, na primeira pessoa, de ex-combatentes que serviram o Exército Português na Guiné, milicianos ou profissionais, metropolitanos ou naturais, mas que querem deixar as suas memórias e fotografias publicadas para consulta futura, quiçá ajudar a escrever a história de uma época envergonhada do nosso Portugal contemporâneo. Quando digo envergonhada, não me refiro aos ex-combatentes, porque não lhes era dada alternativa, só a fuga do país.

Como saberá, a guerra acabou quando os militares profissionais, fartos de guerra e interpretando os sinais do povo, derrubaram o governo e acabaram com um regime autoritário e desajustado à época e às condições.

Voltando às nossas memórias, há imensa literatura de autoria de ex-combatentes, de que poderá consultar recensões no nosso Blogue, clicando nestas palavras: bibliografia, bibliografia de uma guerra e notas de leitura.

Tanto quanto sei, não terá havido combatentes brasileiros nas nossas fileiras, porque sendo o Brasil um país independente, nenhum cidadão brasileiro seria obrigado a lutar por Portugal. Voluntários estrangeiros não os terá havido, também.

O Serviço Militar Obrigatório terminou em Portugal, havendo actualmente nas fileiras apenas voluntários que de algum modo procuram fazer carreira como militares ou adquirirem conhecimentos técnicos que lhes permitam outro futuro como civis, um pouco mais tarde. Confesso que não sei exactamente quanto tempo têm de cumprir. No nosso tempo variava entre um mínimo de 3 anos e... os que Deus quisesse.

Agradecemos o seu contacto, esperando que nos continue a ler.

Receba um abraço dos editores e da restante tertúlia deste Blogue
CV
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 – P6745: O Nosso Livro de Visitas (94): É ele o Mexia Alves que eu conheci! (António Brandão, Alf Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 2336, Angola, 1968/70)

Guiné 63/74 - P6756: José Corceiro na CCAÇ 5 (15): Canjadude, CCAÇ 5, onde a surpresa acontece

1. Mensagem de José Corceiro (ex-1.º Cabo TRMS, CCaç 5 - Gatos Pretos , Canjadude, 1969/71), com data de 16 de Julho de 2010:

Caros camaradas, Luís Graça, Carlos Vinhal, J. Magalhães.
É com estima que apresento este redigido, que publicarão se assim o entenderem. Empenhei-me nas fotos, publiquem com o vosso saber e arte, como ajuizarem mais conveniente.

Um Abraço
José Corceiro


José Corceiro na CCAÇ 5 (15)

CANJADUDE, CCAÇ 5, ONDE A SURPRESA ACONTECE


FOTO 1 – Tabanca e Aquartelamento de Canjadude, vista do lado da picada do Cheche, vendo-se em plano afastado a picada que nos conduzia a Nova Lamego. Pode ver-se um filão de rochas, pouco vulgar na Guiné, que atravessa a imagem, um pouco para além do plano central da foto e o veio termina quase por ali. Podemos ver no lado esquerdo, a pista aérea e o quadrado esbranquiçado é o heliporto. É visível o campo de futebol no lado direito da pista. Como se pode observar há desmatização em todo o perímetro que circunda o Aquartelamento e a Tabanca, até uma distância aproximada de 300 metros. Este espaço desarborizado podia, algum, ser cultivado. Ao lado direito vê-se parte da Bolanha.

Eu sei muito bem, que cada um de nós foi uma individualidade distinta, que sentiu e se lhe cravaram na pele os efeitos nefastos da Guerra, deixando esculpido o estigma, segundo a sua particularidade, pois cada um de nós é uma singularidade. Testemunhámos ocorrências que nos afectaram, segundo a percepção e sensibilidade de cada um, e em função do maior ou menor grau de exposição, perante as crueldades belicistas a que cada um esteve sujeito no TO da Guiné. As desumanidades que presenciámos marcaram as nossas personalidades, pois foram tempos de intensa solidão, ainda que acompanhados de camaradas. Também sei, que após terem passado quase 40 anos, já pouco lembramos esse passado, que permanece (como que adormecido) no nosso subconsciente, manifestando-se, em alguns, em determinadas reacções comportamentais, que por vezes são difíceis de aceitar e interpretar. Eu estou a enquadrar esta questão, porque o teor do meu artigo, a seguir, é uma síntese singela do que escrevi na circunstância, sobre os factos que vou relatar... a minha linha de pensamento, duma maneira geral, mantém-se fiel com a da época.

Durante a minha permanência na Guiné, de entre os quatro Comandantes de Companhia da CCAÇ 5 que eu conheci em Canjadude, por razões de estilos diversos, cada um deles deixou cinzelado na minha memória recordações e sentimentos distintos.

FOTO 2 - Largo central da Tabanca de Canjadude onde os Homens Grandes passavam o dia sentados.

Vivemos em Canjadude num estado permanente de emoções, sobressalto, ansiedade e dúvida, pois estamos num envolvente TO de Guerra, onde as condições climatéricas são inóspitas e deveras funestas para se adaptarem a Metropolitanos. A estas agruras ambientais há a somar o muito desgastante esforço solicitado para equilibrarmos a subsistência, onde há carências tão básicas que provocam cansaço físico e psíquico, realce-se a nossa docilidade e adaptação ao meio. Estamos integrados numa Companhia Independente de Africanos, cujo Quartel tem abrigos enterrados no chão, onde dormimos, os que conseguem, em condições desumanas. O acampamento confina com uma tabanca, onde coexistem civis e militares nativos com as suas famílias, habitando em “morançinhas” familiares tradicionais, cobertas de capim (colmo).

FOTO 3 - Horta militar, próximo da bolanha.

Quer a tabanca quer o aquartelamento estão delimitados do mato pelo arame farpado. A localização do aquartelamento é periférico e isolado, tendo ficado depois da evacuação do Cheche o mais próximo de Medina de Boé. As condições de sobrevivência têm carências de toda a ordem, em todas as vertentes, daquilo a que vulgarmente chamamos necessidades básicas, pelo que não há uma sã harmonia que contribua para um salutar equilíbrio físico e emocional que o ser humano precisa para estar integrado socialmente. A tabanca, além das pequenas moranças com os seus habitantes, nada mais tem além dum rudimentar cabanal, coberto com chapas de zinco, a que se deu o nome de escola.

A actividade agrícola praticamente é nula, ainda que seja um facto a grande fertilidade do solo que circunda o aquartelamento, como se pode provar através da horta militar, que graças à dedicação, empenho e boa vontade, do Sargento José Marques que orienta o cultivo, em mais de um local, permitindo-lhe agricultar diversos legumes que produzem colheitas sequenciais, tais como: couves, alfaces, nabos, tomates, pimentos, pepinos, feijão, cenoura, cebola, etc. etc.

Lancem a semente à terra amanhada e o produto resplandece, como dádiva... a terra tem nutrientes e os necessários sais minerais, há luz, há calor, dêem de beber ao solo e ele retribui a sua generosidade.

FOTO 4 – Cozinha comunitária em Canjadude.

Os nativos, os não militares, somente cultivam junto à bolanha alguma “mancarra”, mas muito pouca e nada mais. Em qualquer cultura existe sempre um cereal como base alimentar, sendo neste caso da Guiné, o arroz, mas a gente de Canjadude está dependente dos militares para lho vender a preço simbólico. Quão benéfico teria sido para a população civil e militar, agora, se ao longo de anos tivesse havido mais interesse para investir na formação de técnicos para transmitirem conhecimento aos nativos na área agrícola? Os habitantes civis, aqui, vivem praticamente dependentes de algum frete que os homens fazem, como carregadores de material militar, quando há operações para o mato, enquanto as mulheres vão ganhando alguns pesos como lavadeiras dos metropolitanos, isto é o quotidiano de Canjadude.

FOTO 5 - Retirar as sementes da palmeira, em condições pouco higiénicas, para utilizar nos cozinhados, da alimentação dos Canjadudianos.

Dia 20 de Março de 1970, o Comandante da CCAÇ 5 é o Capitão Manuel de Oliveira (falecido em 31/03/2007 com a patente de Coronel Tirocinado na Reserva) e é voz corrente que nos vai deixar por ter sido promovido a Major e ter sido destacado para Bissau, para exercer funções relacionadas com actividades no Ministério da Educação. A família do Capitão vive em Bissau, cujo agregado familiar é composto por duas filhas e a esposa (Biologa) que lecciona Ciências no Liceu Honório Barreto.

FOTO 6 – Foto tirada do aquartelamento, junto do arame farpado, para o lado da bolanha. Terreno que podia ser todo cultivado.

Dia 21 de Março, logo cedo, antes das 07h00, saiu uma coluna de reabastecimento para Nova Lamego. Eu estou de serviço no Posto de Rádio, das 04 às 08h00 e das 12 às 16h00. O José Carlos Freitas saiu hoje na coluna e vai para a Metrópole em gozo de férias.

A coluna regressou cedo do Gabu, por volta do meio-dia. Recebi muita correspondência. Veio para substituir o Capitão Oliveira, o Capitão Borges (Hoje Coronel na Reserva) que era o Comandante da CCS do Batalhão de Nova Lamego.

Aqui, por Canjadude, a actividade operacional tem sido incessante, quase todos os dias saem Grupos de Combate para o mato, as operações sucedem-se, mas não tem havido nada digno de nota.

Dia 25, às 20h30, o IN começou a flagelar Cabuca, que é um Aquartelamento localizado a Nascente de Canjadude e o mais próximo, embora não haja via (picada) de ligação directa entre eles. Há pouco mais de oito dias que foram atacados e hoje voltaram a embrulhar, a Companhia ainda é “periquita”, se não ganham animosidade estão tramados.

Dia 26, não sei se terá algum fundamento ou se será boato de caserna, mas comenta-se a notícia com honras de veracidade. Fala-se à boca cheia que o Capitão Borges vai trazer a esposa, que vive em Nova Lamego, aqui para o Destacamento de Canjadude.

Dia 28, houve coluna a Nova Lamego e o Capitão Oliveira deixou hoje a CCAÇ 5, foi para Bissau.

Dia 29 de Março de 1970, é Domingo de Páscoa. Na parte da tarde realizou-se um emocionante desafio de futebol entre a equipa dos “velhinhos” e os “periquitos”, eu, ainda alinhei pelos “periquitos”, a disputa entusiasmou e foi empolgante, pelo que nos descontrolamos um pouco e chegámos uns escassos cinco a dez minutinhos atrasados ao jantar, já não nos deixaram comer.

FOTO 7 - Recepção do povo de Nova Lamego ao Ministro do Ultramar, 14 de Março de 1970.

Desde que o Ministro do Ultramar esteve em Nova Lamego, dia 14 deste mês, todos os dias têm havido saídas de pelotões para o mato e tem sido uma constante o movimento de envio e recepção de mensagens no posto de rádio.

Dia 31, o Capitão Borges mandou reunir os Militares da Formação e esteve a definir algumas normas de conduta, que quer que sejam cumpridas por todos, principalmente na apresentação do vestuário e comportamentos.

FOTO 8 - O Ramos a cortar o cabelo ao Corceiro em Canjadude. Era normal entre as 10 e as 15hh00, intervalo de descanso, andarmos assim vestidos, quando não era pior.

Dia 1de Abril, é o dia da Unidade. Logo cedo saí para o mato com dois Grupos de Combate, para os lados de Comuda, não sei porquê, mas não nos foram disponibilizados carregadores para transportar o equipamento de Transmissões. Regressámos por volta das 16h00, um pouco cansados, pois foi sempre a trilhar, felizmente que para as nossas caminhadas, agora, não há as martirizantes bolhanhas alagadas.

Dia 3, já há dois dias que estão três Pelotões para o mato e só regressam amanhã. Esteve aqui um “DO” que trouxe frescos e correio, tendo vindo também um Capelão, assim como um Militar Foto-Cine.

Dia 5, depois de jantar saiu o 1.º Pelotão para o mato. Das Transmissões sou o operacional que está afecto a este Grupo, pelo que saí para o mato também. Já depois de estarmos instalados no mato, 22h30, começámos a ouvir grandes rebentamentos na direcção de Nova Lamego, o Gabu, estava a sofrer flagelação. Recebi ordens do aquartelamento para regressar imediatamente à base. Regressámos, já nos tínhamos deitado, mas por volta das 23h30 tivemos que nos levantar. Formaram-se dois Grupos de Combate e saímos em direcção a Cancoré onde chegamos por volta da 01h30, ficando por ali emboscados. Ainda não tinha rompido o alvorecer já nós estávamos de regresso ao destacamento, onde chegámos às 06h50. Por volta das 12h00, saiu de Canjadude um Pelotão em direcção a Nova Lamego, que se instalou e emboscou no mato, próximo do cruzamento de estradas, Canjadude, Cabuca, Nova Lamego.

O flagelo que sofreu Nova Lamego não causou danos dignos de registo. Os mísseis que foram lançados já estavam obsoletos e falharam os alvos, pois as rampas de lançamento foram montadas muito distante de Nova Lamego, de forma que não atingiu a eficácia pretendida pelo IN, devido à deficiente orientação dada ao projéctil lançado.

Dia 7 de Abril, logo de manhãzinha, ao romper da aurora, saiu uma coluna para Nova Lamego. A coluna regressou a Canjadude bem cedinho, tendo recolhido no trajecto o Pelotão que estava emboscado.

Ao chegar a coluna ao aquartelamento ficou tudo surpreendido e de boca aberta… ah! ah!, embora não fosse surpresa para ninguém, pois já todos sabiam, o Capitão Borges veio acompanhado da sua esposa, que segundo consta vai ficar a viver em Canjadude.

FOTO 9 - Capitão Borges com a esposa numa coluna para Nova Lamego. Sentados atrás vão os guarda-costas (elementos dos Comandos, Dragões). Houve autorização superior para o jipe poder integrar a coluna.

É uma atitude arrojada que revela coragem, determinação e cumplicidade no casal, dando provas de coesão, sem se pouparem a sacrifício para consolidar a união dos cônjuges. É evidente que o amor é mais importante que a morte... mas o Capitão Borges, com esta sua ousadia, deu provas de combate, segurança e confiança, no porvir.

A senhora do Capitão Borges, tem que ser uma mulher de alma magnânima e imperturbável, para se arriscar a viver nestas condições, a milhas da civilização e neste isolamento, não deve ser fácil, mas é revelador de acto de afoiteza e amor para com o marido, ao querer trilhar alguns dos perigos e dificuldades inerentes ao TO de Guerra que todos aqui vivemos, só que nós militares, por imposição e obrigação, enquanto a senhora do Capitão é de livre vontade, abnegando a possibilidade de bem-estar, provavelmente podendo viver na Metrópole.

FOTO 10 – Abrigo do Capitão na CCAÇ 5.

Não nos podemos esquecer que estamos no mato e, a partir de agora, da parte de nós militares, impõe-se nova conduta, mais moderação no verbalismo utilizado na oralidade, mais decoro na postura de apresentação, mormente no vestuário usado, pois tem que haver pundonor e uma determinada probidade no porte, não nos podendo dar à veleidade do desalinho que é ir dos abrigos para os balneários, só de toalha às costas (às vezes suportada por cabide fantasiado) e sabonete na mão. É toda uma atitude comportamental na disciplina, a que temos que nos ajustar.

Anda um calor abrasador e todos os dias têm saído Pelotões para o mato, por um ou dois dias. No dia 10 houve coluna ao Gabu e no dia 12 voltou a haver, ficando o 2.º Pelotão da CCAÇ 5 em Nova Lamego por uns dias.

Os últimos meses de comissão passados na Guiné são extremamente dolorosos e longos, quase para todos, tornam-se angustiantes, por aquilo que tenho observado e analisado são traumatizantes, são o limite do resistir ao sacrifício imposto. Ultimamente tem sido o Nora de Transmissões, que tem andado descompensado e muito agitado, (infelizmente, actualmente está a viver momentos menos tranquilos, também reflexos desse passado) pois já é o mais velho na Secção de Transmissões e hoje teve que ser evacuado para Nova Lamego. Pessoalmente sinto estes casos com sofrimento, atiçando em mim um sentimento de pena…

A esposa do Capitão Borges, com todo o respeito, é uma senhora muito simpática e bem-disposta, tem uma auréola de energia positiva. Sempre que passa por algum de nós, indiscriminadamente, não faz distinção, tem a amabilidade de nos dirigir um cumprimento de saudação, sempre com ar de pessoa feliz e sorridente. Só uma senhora que aparenta esta tranquilidade interior e serena generosidade, se sujeitaria a viver neste meio tão hostil e carenciado, onde abundam todo o tipo de privações.

A actividade operacional continua intensíssima, há sempre pessoal no mato e um Pelotão em Nova Lamego. No dia 18 veio o substituto do Alferes Gago. Alguns graduados tem sorte, porque nem um ano cumprem aqui de comissão, até serem rendidos, enquanto outros militares chegam a estar aqui 25/26 meses. Vá lá o diabo compreender estas injustiças…

Dia 29, por sugestão da esposa do Capitão Borges, ao serão, reunimo-nos todos os militares no refeitório das praças para confraternizarmos um pouco e jogar ao loto, presidido pelo Comandante da Companhia (desde que eu estou em Canjadude nunca houve uma união e envolvimento de aproximação semelhante a este acto, as águas têm sido muito separadas). Eu logo na primeira jogada fiz Bingo, ganhei 154 pesos, voltei a fazer Bingo na terceira jogada, ganhando 86 pesos, pelo que levou alguém a gracejar que eu já tinha ganho dinheiro suficiente para pagar uma rodada de cervejas para todos.

Dia 6, de Maio, chegou a Canjadude o Capitão Arnaldo Costeira (creio que na época era o Capitão com menos idade do QP, se a memória não me falha, ouvi-lhe dizer que comandou, interinamente, uma Companhia em Angola tinha ele 20 anos de idade, na altura como Alferes e que tinha sido há quatro anos atrás. Hoje é Coronel na Reserva) para substituir o Capitão Borges.

Dia 7, na parte de tarde saiu de Canjadude um Pelotão que se foi emboscar no espaço entre a estrada de Canjadude e Cabuca, já próximo do cruzamento. Dia 8 fomos buscar o Pelotão e visto estarmos próximo, fomos ao Gabu. Neste mesmo dia rebentou uma mina, na estrada de Cabuca, que provocou muitos feridos à Companhia ali aquartelada.

Dia 13, em Canjadude foi accionado o alarme de perigo, dirigiu-se apressadamente todo o pessoal para os seus postos de defesa, mas afinal era tão só uma demonstração para testar a eficácia da actuação do pessoal e, para o Capitão Borges dar umas explicações da orgânica dos procedimentos a cumprir, em caso de ataque IN, ao Capitão Costeira.

FOTO 11 - Entre o Cheche e o Bormuleo, na margem direita do Rio Corubal, a posar para a foto o Capitão Borges, Capitão Costeira e Alferes Varela (hoje advogado em Almada). É visível a margem oposta do rio Corubal.

Dia 23, realizou-se uma operação para os lados do Cheche, Corubal, Bormuleo, a nível de Companhia, foram o Capitão Borges e o Capitão Costeira nesta operação. As viaturas foram-nos levar na direcção do Cheche e apeamos muito próximo das viaturas que estavam abandonadas na picada, por terem sido acidentadas com minas. Após termos desmontado das viaturas, caminhamos bastante tempo, até nos instalarmos para comer a ração de combate. Na parte da tarde começamos a caminhar rumo ao Corubal e no percurso encontrámos um destacamento IN, já abandonado, restando vestígios da actividade humana. Destruímo-lo, após o que continuámos a progredir até à margem do Corubal, onde passámos a noite. Instalámo-nos junto de rochas, num lugar paradisíaco, mas para esquecer, pois durante a noite, quase todos nós fomos hostilizados por formigas, que nos queriam papar, as quais tiveram o condão de nos agitar e perturbar a nossa tranquilidade, quando precisávamos de descansar.

FOTO 12 - Instalados junto à margem do rio Corubal, ao fim do dia, a comer a ração de combate. Na foto, o Capitão Borges e mais pessoal da operação; o Silva de Transmissões está de pé; alguns carregadores civis são visíveis  assim como os garrafões que transportavam com água. Passámos aqui a noite, onde as formigas nos atacaram.

Logo de manhã cedo começámos a caminhar, sempre seguindo a margem do rio Corubal, em direcção ao Bormuleo, pois a nossa posição era entre este e o Cheche. Não foi preciso caminhar muito até encontrar o terreno que nós próprios tínhamos minado há três meses atrás, numa operação em que eu estive presente. Depois de terem levantado as minas, ficámos por ali até às 14h30. De seguida passámos pelo Bormuleo e fomos dormir a Samba Gane. De manhã rumámos na direcção da picada entre Canjadude e Cheche, onde as viaturas nos apanharam e transportaram ao aquartelamento.

FOTO 13 - Desminagem de terreno que tinha sido minado por nós. Levantamento de uma mina, estando um militar com mapa onde estão referenciados os locais para levantamento e outro a executar o trabalho.

Dia 24, de Maio 1970, veio o Furriel de Transmissões, Alberto José dos Santos Antunes, substituir o Furriel de Transmissões, José Martins.

Dia 26 de Maio, de 1970, houve coluna a Nova Lamego. O Furriel José da Silva Marcelino Martins (José Martins, nosso tertuliano) despediu-se de Canjadude, e da CCAÇ 5, rumando à Metrópole por ter terminado a sua comissão de serviço na Guerra do Ultramar. Desejo-lhe boa viagem, muita saúde e êxito no percurso que vai iniciar. Que a vida lhe sorria e boa sorte.

Para todos um abraço e muita saúde.
José Corceiro
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 8 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6698: José Corceiro na CCAÇ 5 (14): Emissor receptor AN/PRC-10