Folha da caderneta militar de António Dias das Neves
Sold At Cav António Dias das Neves
O Sold At Cav António Dias das Neves montado num obus 10,5...A CCAV 2486 (1969/70) passou por Teixeira Pinto, Bula, Pete e Bula. Foi comandada pelo Cap Cav João Soares de Sá e Almeida e pelo Alf Mil Inf José Manuel Duarte Fernandes.
O jovem futebolista António Dias das Neves, na sua terra natal, Ramada, Odivelas
Outra foto do jovem futebolista António Dias das Neves.
O António Dias das Neves na Alemanha... Em 1968, Portugal tinha celebrado um acordo com a a Alemanha, ao abrigo das facilidades pela utilização de Base de Beja, para tratamento e recuperação de deficientes, no Hospital de Hamburgo, com a participação da Cruz Vermelha
O António Dias das Neves em casa... O "meu herói", diz a filha Marisa Neves
Fotos (e legendas): © Marisa Neves (2011). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Texto de Marisa Neves [, foto à esquerda, 2009], baseado em comentários ao poste P8887 (*) e troca de emails com os editores:
(i) Sr. Luís Graça, só lhe posso dizer que o meu pai era e será sempre o meu herói, ainda por cima por ter passado por isso tudo e ter ficado sem 2 pernas aos 21 anos. Mas graças a Deus que se adaptou o melhor possível, conseguiu-o, e quem não soubesse também não sabia que ele não tinha as pernas.
Gostei muito de ter encontrado este blogue e pessoas que estão dispostas a ajudar-me. Pois o meu pai sempre me contou muitas coisas sobre o ultramar, mas já passaram 10 anos da sua morte e na altura ainda só tinha 21 anos, não assimilei tudo.
Agora em conjunto com uns amigos, vamos fazer uma exposição da nossa terra, Ramada, e nessa exposição haverá um cantinho especial para o filho da terra, o meu pai [Neves).
(ii) O meu pai foi ferido a 18 Outubro de 1969, está na caderneta militar e também ele me dizia isso. Sei, sim, que o meu pai foi condecorado com a cruz de guerra [de 4ª] e um louvor. O louvor está comigo, a cruz de guerra infelizmente o meu pai ''chateado'' com o que lhe aconteceu amandou-a da ponte 25 de abril a baixo.
O meu pai quando foi ferido foi enviado para o hospital militar na Alemanha, onde esteve em recuperação. Posso lhe dizer que a pessoa que sabe muito sobre o meu pai é o ex-alferes Fernandes, pois ele ficou muito amigo do meu pai e costumava dizer:
- Este homem salvou-me a vida, se não fosse ele tinha sido eu a pisar a mina.
Palavras ditas em pleno funeral do meu pai pelo ex-alferes Fernandes. Gostava imenso de poder ter o contacto do agora Tenente Corenel (aposentado). Se me puderem pôr em contacto com ele, agradeço. Pois ele ia ajudar muito naquilo que vou fazer ao meu pai, o memorial [, aqui em Ramada].
Quando tiver tudo ok, concerteza que vós informarei do dia e local da exposição. O meu super herói será sempre o meu pai, esteja ele onde estiver pois faz parte de mim, se não fosse ele eu hoje não era aquilo que sou, e com muito orgulho digo que sou filha do Neves.
Palavras ditas em pleno funeral do meu pai pelo ex-alferes Fernandes. Gostava imenso de poder ter o contacto do agora Tenente Corenel (aposentado). Se me puderem pôr em contacto com ele, agradeço. Pois ele ia ajudar muito naquilo que vou fazer ao meu pai, o memorial [, aqui em Ramada].
Quando tiver tudo ok, concerteza que vós informarei do dia e local da exposição. O meu super herói será sempre o meu pai, esteja ele onde estiver pois faz parte de mim, se não fosse ele eu hoje não era aquilo que sou, e com muito orgulho digo que sou filha do Neves.
Cumprimentos,
(iii) O meu pai nasceu a 15 Junho de 1947 na Ramada, hoje concelho de Odivelas. Morreu no dia 21 de Agosto de 2001, devido aos vários aneurismas que já tinha espalhados pelo corpo, tendo feito a operação ao aneurisma da artéria que vai do coração à aorta, mas passado uma semana da intervenção não resistiu e teve uma paragem cardíaca.
Serviço militar: Isto é o que está escrito na Caderneta Militar
António Dias das Neves - Nº de matrícula 19081/585/68 em 1968
Serviço militar: Isto é o que está escrito na Caderneta Militar
António Dias das Neves - Nº de matrícula 19081/585/68 em 1968
Arma em serviço - Cavalaria
Alistado em 5/07/1967
Alistado em 5/07/1967
Incorporado em 30/07/68
Pronto da escola de recrutas em 17/11/1968
Pronto da escola de recrutas em 17/11/1968
Especialidade - atirador de cavalaria.
Depois tenho isto assim na caderneta que não sei o que é.
Colocação durante o serviço
UNIDADE - C.T.S.C 30/07/1968
UNIDADE - R.C.7 28/09/1968
UNIDADE - QG/R.M.L 1/07/1972
Nº DE ORDEM - 3948
Ocorrências extraordinárias
Embarcou em 28/2/69 no navio ''UIGE'', com destino ao CTIG fazendo parte da CCav 2486. Desembarcou em Bissau em 1/03/69.
Evacuado para o HMP em 6/11/71 por despacho de 30/12/70, de sua Excia o Secretário do Estado do Exército.
Foi ferido em combate a 18/10/69 quando pisou a mina que lhe tirou o pé esquerdo e depois estilhaçou-lhe a outra perna, tiveram que lhe cortar as 2 pernas até ficar tudo em condições.
Depois tenho isto assim na caderneta que não sei o que é.
Colocação durante o serviço
UNIDADE - C.T.S.C 30/07/1968
UNIDADE - R.C.7 28/09/1968
UNIDADE - QG/R.M.L 1/07/1972
Nº DE ORDEM - 3948
Ocorrências extraordinárias
Embarcou em 28/2/69 no navio ''UIGE'', com destino ao CTIG fazendo parte da CCav 2486. Desembarcou em Bissau em 1/03/69.
Evacuado para o HMP em 6/11/71 por despacho de 30/12/70, de sua Excia o Secretário do Estado do Exército.
Foi ferido em combate a 18/10/69 quando pisou a mina que lhe tirou o pé esquerdo e depois estilhaçou-lhe a outra perna, tiveram que lhe cortar as 2 pernas até ficar tudo em condições.
Guiné 100% desde 1/3/69 até 30/12/70.
Também tem assim [contagem do tempo de serviço]:
1968 - 155 dias
1969 - 365 dias
1970 - 364 dias
Há muitas coisas que estão escritas na caderneta mas infelizmente não consigo perceber.
Em relação aos hospitais, infelizmente não sei datas concretas, acho que ele foi 1º para Bissau [HM 241] e depois veio para Portugal [HMP - Hospital Militar Principal, Lisboa, Estrela] . A seguir foi transferido para Alemanha [Hospital Militar de Hamburgo]. Sei que esteve algum tempo na Alemanha em tratamentos e recuperação para adaptação das próteses.
1969 - 365 dias
1970 - 364 dias
Há muitas coisas que estão escritas na caderneta mas infelizmente não consigo perceber.
Em relação aos hospitais, infelizmente não sei datas concretas, acho que ele foi 1º para Bissau [HM 241] e depois veio para Portugal [HMP - Hospital Militar Principal, Lisboa, Estrela] . A seguir foi transferido para Alemanha [Hospital Militar de Hamburgo]. Sei que esteve algum tempo na Alemanha em tratamentos e recuperação para adaptação das próteses.
A pessoa que pode-lhe dar todos os dados fidedignos é sem dúvida o ex-Alferes Fernandes, agora Tenente-Coronel aposentado. Além de ter estado sempre ao lado do meu pai, ficou bastante amigo dele depois disso. Era um homem que muitas vezes o meu pai ia ao encontro dele, onde ele estivesse destacado e almoçava lá com ele nas messes, lembro-me de ser pequenina e ir com o meu Pai.
Se conseguir falar com ele, vai conseguir todas as respostas, aquelas que eu também precisava.
Então segue uma foto minha, foi difícil encontrar pois as minhas fotos são aquelas todas com a minha filhota, mas depois de muito procurar lá encontrei esta que estou sozinha e não fiquei mal...lol
Fico muito feliz pela homenagem que farão ao meu pai no vosso blogue.
Obrigado mais uma vez.
Então segue uma foto minha, foi difícil encontrar pois as minhas fotos são aquelas todas com a minha filhota, mas depois de muito procurar lá encontrei esta que estou sozinha e não fiquei mal...lol
Fico muito feliz pela homenagem que farão ao meu pai no vosso blogue.
Obrigado mais uma vez.
Cumprimentos
Marisa Neves
2. Comentário de L.G.:
Não podemos ficar indiferentes à tenacidade e à dedicação filial da Marisa, que viu o seu pai partir, ainda novo (aos 54 anos), tinha ela 21... Dez anos depois, quer-lhe fazer a devida homenagem, na sua terra natal. E para isso, quer saber mais coisas da sua história passada, como militar no TO da Guiné, onde foi gravemente ferido...
Marisa Neves
2. Comentário de L.G.:
Não podemos ficar indiferentes à tenacidade e à dedicação filial da Marisa, que viu o seu pai partir, ainda novo (aos 54 anos), tinha ela 21... Dez anos depois, quer-lhe fazer a devida homenagem, na sua terra natal. E para isso, quer saber mais coisas da sua história passada, como militar no TO da Guiné, onde foi gravemente ferido...
Da nossa troca de comentários e emails, nasceu este poste, que é também a nossa pequena mas merecida homenagem a um dos nossos camaradas que deu o melhor da sua vida, como soldado, tendo sido gravemente ferido, por mina A/P, em 18 de Outubro de 1969, no decurso da Op Ostra Amarga (ao 7º dia, na região de Badapal, a norte de Bula).
O António já não está entre nós, mas o gesto de amor da sua filha Marisa obriga-nos a recordá-lo, doravante, na nossa lista dos membros da Tabanca Grande que da terrível lei da morte se vão libertando...
Ele será mais um dos irãs bons que poisarão no nosso poilão, fazendo-nos lembrar sempre que aquela guerra, onde fomos protagonistas, teve - para a nossa geração - um enorme preço em sangue, suor e lágrimas. Obrigado à Marisa pelas ternas recordações do seu pai, que foi juntando, peça a peça, desde o seu tempo de jovem futebolista a deficiente das forças armadas, amargurado e revoltado, ao ponto de lançar fora, à águas do rio Tejo, a sua cruz de guerra...
Vou pedir ao nosso colaborador permanente José Martins, que mora em Odivelas, para estar atento à iniciativa desta jovem de Ramada, que deve ser apontada como um exemplo à geração dos nossos filhos. Queremos estar presentes na exposição de homenagem que vai ser organizada em Ramada.
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Notas do editor
(*) Vd. poste de 11 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8887: O Nosso Livro de Visitas (120): Sold At Cav António Dias das Neves, da CCAV 2486, ferido por mina A/P no dia 18/10/1969, no decurso da Op Ostra Amarga (Marisa Neves / Virgínio Briote)
(**) Último poste da série > 4 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8854: In Memoriam (93): Homenagem do povo de Vale de Espinho aos seus filhos que perderam a vida na Guerra do Ultramar (José Corceiro)