1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 2 de Abril de 2012:
Boa tarde Carlos,
O Tito Martins é meu amigo desde antes da vida militar. Por mero acaso, fizemos a tropa sempre juntos. Sei que ele nutre por mim uma boa amizade. Dele, tenho a certeza, que é um grande camarada. O texto não o vai surpreender, porque já o conhece, mas acho interessante para publicação.
Se não houver oposição, agradeço.
Um grande abraço, extensivo ao tabancal.
JD
HISTÓRIA DA CCAÇ 2679 (49)
O Zé Tito Martins tinha andado em lições de condução com o Pedro, que exasperava perante a patente falta de jeito do aprendiz. Ao fim de algum tempo, atinando com as mudanças do Unimog, mais ou menos familiarizado com o funcionamento do acelerador e as funções dos travões, experimentado o ponto de embraiagem com sucesso (apesar da planura do terreno), dadas as necessárias explicações sobre as luzes de sinalização, o Zé estava considerado apto para se submeter a exame. Com sorte, passaria. Marcada a data, faltava aprazar o transporte. Por coisa do destino aterrou em Bajocunda um DO com um piloto que o candidato conhecia, e prontificou-se a levá-lo para Bissau. Autorizado, o Zé correu a buscar a mala quase enorme com as necessárias coisinhas para os dias da deslocação.
Mas a avioneta ainda se deslocou a Copá, conforme o plano de voo. E aí começou a malfadada aventura da deslocação a Bissau. No banco de trás, juntamente com alguma carga, o Zé depositou a mala, acomodou-se ao lado do piloto, e à medida que subia no ar, já se sentia no céu durante os dias de estadia em Bissau, afiambrado em mariscos convenientemente refrescados com muita cervejinha, sob os jacarandás que davam sombra e cores às esplanadas.
Em Copá, porém, apresentou-se uma evacuação urgente de uma senhora que tinha dado à luz um nado-morto e ainda tinha a placenta. Na circunstância, tinha direito a acompanhante, e à luz da política por uma Guiné Melhor, a evacuação afigurava-se prioritária. As duas pessoas ocupavam o exíguo espaço livre, pelo que o Zé Tito teve que ficar em Copá, mais longe do que Bajocunda relativamente ao objectivo de chegar à capital da província. Na urgência inesperada, foi enviado um rádio a Bajocunda a solicitar uma coluna para transporte do infeliz militar, que já tinha uma perspectiva de não chegar a tempo para o exame de condução. Em Bajocunda, o capitão Trapinhos mandou-o levar onde levam as galinhas, com a justificação de que a actividade operacional da Companhia não podia sacrificar-se às necessidades de um furriel em desvio de rota.
Com a tomada de conhecimento da resposta, o Zé vagueava pela aldeia com a esperança de dissipar pensamentos penosos. Inopinadamente, encontrou o Zé Grande, um elemento do Pel Caç Nat 65 (mais tarde cooptado pelo Marcelino da Mata), a quem indagou o que estava ali a fazer. Tinha lá catota, porque tinha esposas em dois ou três lugares. Perguntou-lhe quando regressava a Bajocunda, ao que o Grande respondeu, que no dia seguinte. Como? Viajava de bicicleta. Então, muito ajuizadamente, o Tito pediu ao Grande para lhe arranjar uma bicicleta. E arranjou.
Ao dia seguinte, o Tito, o Grande e outro elemento daquele Pelotão de Caçadores Nativos, fizeram-se ao caminho pela picada arenosa e algo esburacada que ligava as duas localidades. Eram mais de vinte quilómetros. O Tito, bom avaliador do risco vestia uma túnica fula, e com a mala atada ao selim, fazia manobras infrutíferas para se manter sobra a bicicleta, pois à dificuldade da veste, também a mala escorregava para o lado da roda neutralizando o esforço das tentativas de equilíbrio. Resultado: fez a viagem a pé, mas chegou a Bajocunda, e surpreendeu toda a gente. À chegada, dirigiu-se à cantina onde virou umas basucas para dessedentar-se. Depois foi falar com o solícito capitão, que ao pedido para o levar a Pirada, deu logo o nega. Mas o Tito não desarmava à primeira, com insistência tentava fazer ver ao capitão que tinha pressa para chegar a Bissau. O outro, mula, não parecia partilhar das mesmas preocupações. Mas o Tito, com todo o jeito do mundo, não lhe dava espaço de manobra e, delicadamente, insistia que tinha que chegar a Pirada, de onde seria mais fácil arranjar transporte. Finalmente, condescendeu o temorato capitão, talvez para evitar sugestões da atitude persistente do miliciano.
Chegado a Pirada clandestinamente começou a colher informações sobre a possibilidade de atingir Nova Lamego, na medida em que se afigurava não haver DO's a passar por ali. Mas um comerciante local deslocava-se essa noite para o Gabú, e prontificou-se a levar o candidato até àquela localidade. Sentado ao lado do camionista pensou nas virtudes de conhecer os meandros em confronto, que dispensavam picagem e escolta. Chegou a tempo para na manhã seguinte apanhar o avião para a cidade prometida. Uffa! A tropa entrou no Nord Atlas e sentou-se nas magnificas cadeiras ao longo do avião. Depois entraram os civis, homens e mulheres da população local. Sentavam-se no chão, ou ao colo dos militares. Sortudo, o Zé Tito viu uma alegre gorducha dirigir-se para ele e sentar-se sobre as pernas, provocando-lhe dores, quando frequentemente remexia o abundante corpinho, e deixando-o narcotizado sempre que lhe encostava o sovaco na cara. Chegaram bem, felizmente, e o Tito cumpriu um desígnio da psico.
Em presença do alferes examinador, companheiro de turma no Nun'Alvares, por onde os manos Tito Martins tinham feito passagem, este indagou-lhe porque não tinha requerido exames de motociclos, de pesados, de helicópteros e aviões, ao que o Zé respondeu não ter especial interesse. "Burro! Sempre foste burro, o pior da turma, que eu aqui passava-te isso tudo, e nunca se sabe!..." replicou o examinador. "Bom, vamos lá fazer o exame. Toma aí o volante". O Zé, desconhecedor das artérias viárias daquela capital, respondeu-lhe para ser o amigo a conduzir, já que mal identificava a cidade. Compreensivelmente, o alferes conduziu o Tito até à baixa. Quando passavam por uma esplanada, lembraram-se de comemorar o encontro, para mais com mariscos tão famosos como os de Bissau. Comeram e beberam com a facilidade de dois jovens de sucesso, e o grande apetite que o clima inóspito sempre provoca. Conforme o relato pagou a mais alta patente.
Depois da confraternização, e de terem pago a devastação, o examinador disse ao Tito para (finalmente) conduzir a viatura. Novamente o Tito revelou grande sensatez e sugeriu: "já agora conduzes tu".
Regressou a Bajocunda com a barriguinha cheia e a carta de condução passada pela autoridade militar e competente. Já na vida civil comprou um Honda 360 que não arriscava conduzir, até que o bondoso sogro, que não conduzia, se propôs andar com ele pelos espaços mais largos da vila, na prática das manobras automobilistas, enquanto o desmobilizado não revelasse competência para se aventurar a solo naquele género de actividade.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 9 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9723: História da CCAÇ 2679 (48): Entre as NT não havia apenas gente movida pelo espírito cristão (José Manuel Matos Dinis)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
segunda-feira, 16 de abril de 2012
Guiné 63/74 - P9755: Documentos (23): Análise da situação do inimigo - Acta da reunião de Comandos, realizada em 15 de Maio de 1973 - Parte II - Esclarecimento (Luís Vaz Gonçalves)
1. O nosso amigo Luís Gonçalves Vaz, membro da Tabanca Grande e filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG - 1973/74), enviou-nos mais uma mensagem, desta feita um esclarecimento a diversas dúvidas surgidas na veracidade do trabalho documental iniciado no poste P9639 e continuado no poste P9748, que relatam a Análise da situação do inimigo - Acta da reunião de Comandos, realizada em 15 de Maio de 1973 no Quartel General do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné.
Camarigos:
Como alguns tertulianos, afirmaram que não acreditam que o Comandante da Zona Aérea da Guiné e Cabo Verde, o Sr. Coronel piloto aviador Gualdino Moura Pinto, tenha em Maio de 1973, proferido tal Relatório (a parte que lhe compete)... acho oportuno adiantar o "Anexo D" da sua autoria e com a sua assinatura, para que não "fiquem dúvidas" e que não acreditem na "patranha histórica", de que tal Relatório "teria sido uma obra do Sr. General Spínola e de um seu secretário"... quanto muito, é uma "Obra" de todos aqueles que nela participaram, pois todos os Comandos ficaram no seus arquivos de Documentos classificados, com uma cópia, é da praxe!
Como tal relembro-vos as últimas palavras (página 7 do poste P9748 - Parte II) do Comandante da Zona Aérea da Guiné e Cabo Verde, coronel piloto aviador Gualdino Moura Pinto, a saber:
Gualdino Moura Pinto
Cor.Pilav.
Comandante da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné
Comandante da Base Aérea nº 12
(Fotografia de Arnaldo Sousa, quando se despediu da Guiné como Comandante da Zona Aérea e Piloto, junto de pessoal que compunha a linha da frente dos Fiat's)
Nota: No Blogue de onde retirei a fotografia do Sr. Coronel Gualdino Moura Pinto, "Especialistas BA 12", registei que este oficial, era muito respeitado e admirado pelos seus subordinados.
No fim e como anexo "D", á Ata da Reunião de Comandos no CTIG de 15 de Maio de 1973, o Comandante da Zona Aérea da Guiné e Cabo Verde (responsável máximo neste Comando Aéreo), coronel piloto aviador Gualdino Moura Pinto, como "informação/requisição" dos "Meios Aéreos e de Defesa necessários, para enfrentar a Nova Situação no T. O. da Guiné acabada de relatar no Relatório em debate, exarou o seguinte documento:
Fotografia do pessoal dos Fiat G91/R4 e alguns pilotos.O Comandante da Zona Aérea e da BA12,Coronel Gualdino Maria Moura Pinto (Já Falecido). Da esq./Dirª em pé: Sargº Robalo, Sargº Antunes, Sargº Pinheiro, Sargº Guaudêncio, Cap. Pilav. Letras, Cor. Pilav. Moura Pinto, Major Pilav. Pedrosa, Cabo Veríssimo, Cabo Pinto, Cabo Sousa, Sargº Duarte. Em baixo: Cabo Lopes, Furriel Pinheiro, Sargº Ramiro, Cabo Brás, Cabo Veríssimo (II). Na escada do avião o Ten. Pilav. Matos (fotografia de Arnaldo Sousa MMA 1ª/72, retirada do Blog: http://especialistasdaba12. blogspot.pt/2009_01_01_ archive.html)
Agora que viram este documento, elaborado e datado de dois dias depois da Reunião de Comandos, 17 de Maio de 1973, o caro leitor poderá "tirar as suas próprias conclusões"...
"Apenas desejo contribuir para um debate construtivo e uma reconstituição dos verdadeiros factos históricos... aqueles que se passaram e podemos provar, e no futuro quando já não houverem ex-combatentes, só mesmo estas "fontes documentais" valerão para a História! como tal, concordem ou não, emitam agora, para "memória Futura" as vossas opiniões, especialmente se acharem que tais dignitários estivessem equivocados... e estariam mesmo?"
Luís Beleza Vaz
(Tabanqueiro 530)
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Nota de MR:
Vd. também sobre esta matéria os postes do mesmo autor em:
22 DE MARÇO DE 2012 > Guiné 63/74 - P9639: Análise da situação do inimigo - Acta da reunião de Comandos, realizada em 15 de Maio de 1973 (Luís Vaz Gonçalves)
15 DE ABRIL DE 2012 > Guiné 63/74 - P9748: Análise da situação do inimigo - Acta da reunião de Comandos, realizada em 15 de Maio de 1973 - Parte II (Luís Vaz Gonçalves)
Guiné 63/74 - P9754: O Cancioneiro de Gandembel (7): Do Hino de Gandembel ao poema épico Os Gandembéis (Parte VII) (Idálio Reis)
Guiné > CCAÇ 2317 (1968/69) > Ponte Balana > "O pequeno destacamento foi um bastião na defesa de uma ponte que a engenharia militar recuperaria, mas que também acabaria por ruir" > Álbum fotográfico de Idálio Reis > Foto 422 > "Aproveitando os restos da antiga ponte, davam-se belos mergulhos para banhos retemperadores"
Foto 419 > Ponte Balana: Vista aérea do destacamento
Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (8 de abril de 1968 a 28 de janeiro de 1969) > Mais fotos do álbum de Idálio Reis (**)...
Fotos: © Idálio Reis (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
1. Última parte (Canto IV) de "Os Gandembéis", poema de autoria coletiva (mas com forte contributo do poeta João Barge, 1944-2010), escrito em 1969, que retrata a epopeia da CCAÇ 2317 em Gandembel e Ponte Balana (*), recolhido e reproduzido pelo nosso camarada e amigo Idálio Reis [, foto atual, à esquerda], engenheiro agrónomo reformado, residente em Cantanhede, ex-Alf Mil At Inf da CCAÇ 2317, no seu livro A CCAÇ 2317 na guerra da Guiné: Balana / Ponte Balana, edição de autor, 2012 (il, 256 pp.).
Este livro é mais uma peça (fundamental) para a historiografia da guerra colonial na Guiné; o seu lançamento será feito no Palace Hotel, no próximo dia 21, no âmbito do VII Encontro Nacional da Tabanca Grande.
Sinopse: Depois de sair de receber ordens para abandonar Gandembel, em 28 de janeiro de 1969, a CCAÇ 2317 passa por Aldeia Formosa e fixa-se em Buba, sede do COP 4 (comandado na altura pelo major Carlos Fabião). Em 14 de maio de 1969, deixa Buba e segue, de avião, para Nova Lamego, região do Gabu, onde irá terminar a sua comissão sete meses depois. Ali foram, finalmente, "gente feliz, sem lágrimas"... E ai tiveram tempo e talento para escrever Os Gandembéis.
(...) "A Companhia sai para a Guiné, com 158 homens: 5 oficiais, 17 sargentos, 35 cabos e 101 soldados. A bordo do Uíge, a 10 de Dezembro de 1969, sob o comando de um único oficial [, o Alf Mil Idálio Reis,] , chegam à unidade mobilizadora, o RI 15 de Tomar, 121 militares, com 11 sargentos, 29 cabos e 80 soldados; ficaram na Guiné, para a entrega do material, 1 alferes e 3 sargentos" (...).
Balanço das baixas: (...) "Há as perdas: 9 mortos (1 alferes, 1 furriel e 7 soldados), 18 evacuados para Lisboa (7 feridos graves, 5 por doença e 6 feridos menos graves), e 4 não regressam por mudança de Companhia. Há ainda 2 elementos, que saem antecipadamente: 1 cabo — o nosso Lamego — e o Comandante de Companhia, para continuar a sua carreira militar como oficial superior de Infantaria" (...)" [Os feridos evacuados para o HM 241, em Bissau, ao longo de 23 meses de comissão, são estimados em cerca de 40].
2. Sobre a autoria desta genial paródia aos Lusíadas, o Idálio já nos revelou aqui um segredo, no 1º poste desta série: (...) "É uma obra que o apaziguador tempo de Nova Lamego proporcionou. Os seus autores, são anónimos e humildes. De todo o modo, faço-te a revelação: um deles, foi o malogrado e inesquecível João Barge (***), um filólogo de escol, e que decerto seria a única pessoa capaz de emprestar tanta arte e sensibilidade à sua pena. Ainda que tivesse surgido em Gandembel, nos finais de outubro/princípios de novembro [de 1968], e num período em que se vivia já numa situação de mais alívio, teve a ajuda de um dos pioneiros da Companhia, um ex-furriel que ao tempo já era professor primário"... Falta-nos, a ele, Idálio, revelar o nome do segundo autor, o furriel da CCAÇ 2317 que já na altura era professor primário... (LG)
Canto IV
I
Deixando Buba, enfim, do doce rio
E tomando a mala já arrumada
Fizemos desta terra certo desvio.
E para evitar qualquer cilada
O Dakota tomámos, suave e frio,
Fazendo boa viagem e descansada:
Melhor é fazer uma viagem de avião
Que andar a pé de arma na mão.
II
Gabú se chama a terra aonde o trato
De melhor alimento mais florescia
De que tinha proveito grande e grato
O soldado que esse reino possuía.
Daqui à Metrópole, por contrato,
Não falta muito tempo à Companhia.
Por toda a parte um grito se apregoa:
“D´ora a sete meses estamos em Lisboa”.
III
Aqui, sublime, o descanso estava em cima,
Que a nenhuma parte se sustinha;
Daqui o fim da guerra sempre anima
O soldado que Nino, furtado tinha.
Logo após ele leve se sublima
A feliz mudança, que mais azinha
Tomou lugar junto do Batalhão
Mas continuamos a dormir no chão.
IV
Fulas são todos, mas parece
Que com gente melhor comunicavam:
Palavra alguma dele se conhece
Entre a linguagem sua que falavam,
E com pano delgado, que se tece
De algodão, as cabeças apertavam;
Com outro que de várias cores se tinge,
Cada um as vergonhosas partes cinge.
V
Já néscios, já da guerra desistindo
Uma noite, de amor prometida,
Nos aparece de longe o gesto lindo
Da negra Bajuda, única, despida.
Como doidos corremos, de longe abrindo
Os braços para aquela que era vida
Deste corpo, e começámos os olhos belos
A lhe beijar, as faces e os cabelos.
VI
Formosas são algumas e outras feias
Segundo a qualidade for das chagas,
Que o veneno espalhado pelas veias
Curam-no às vezes ásperas triagas.
Ao pescoço e nos braços trazem cadeias
De contas feitas com sábias magas.
Elas, que vão do doce amor vencidas,
Estão a seu conselho oferecidas.
VII
Alguns, por outra parte, vão topar
Com bajudas despidas que se lavam;
Elas começam súbito a gritar,
Como que assalto tal não esperavam.
Umas, fingindo menos estimar
A vergonha que a força, se lançavam
Nuas por entre o mato, aos olhos dando
O que às mãos cobiçosas vão negando.
VIII
Todas de correr cansam, bajuda pura,
Rendendo-se à vontade do inimigo;
Tu de mim foges para a mata escura?
Quem te disse que eu era o que te digo?
Deixa-me ir contigo nesta aventura
E no capim vem sentar-te comigo.
Já que desta vida te concedo a palma
Espera um corpo de quem levas a alma.
IX
Já não foge a bela bajuda tanto,
Por se dar cara ao triste que a seguia,
Como por ir ouvindo o doce canto,
As namoradas mágoas que dizia.
Volvendo o rosto já sereno e santo,
Toda banhada em riso e alegria,
Cair se deixa aos pés do vencedor,
Que todo se desfaz em puro amor.
X
Oh! Que famintos beijinhos na testa,
E que mimoso choro que suava!
Que afagos tão suaves, que ira honesta,
Que em risinhos alegres se tornava!
O que mais passam na manhã e na sesta,
Que amor com prazeres inflamava,
Melhor é experimentá-lo que julgá-lo;
Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo.
XI
Ao fim de tanto amor e falsas guerras
Finalmente chegou a hora desejada;
Das gentes nos despedimos e destas terras
Com furiosos gritos e alegria desusada,
Por voltarmos às metropolitanas serras,
Pois temos a comissão terminada.
Não se indigne o herói nem a Pátria querida
Que por seu nome, aqui muitos deram a VIDA.
Foto (e legenda): © Idálio Reis (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
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Notas do editor:
(*) Vd. último poste da série > 12 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9735: O Cancioneiro de Gandembel (6): Do Hino de Gandembel ao poema épico Os Gandembéis (Parte VI) (Idálio Reis)
(**) 10 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2172: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/69) (Idálio Reis) (11): Em Buba e depois no Gabu, fomos gente feliz... sem lágrimas (Fim)
(...) Vd. postes anteriores desta série (Fotobiografia da CCAÇ 2317):
16 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1530: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (1): Aclimatização: Bissau, Olossato e Mansabá.
(...) A CCAÇ 2317 chega a Bissau a 24 de Janeiro de 1968. Uma aclimatação de 2 meses, o quanto bastou para enveredar por um sinuoso rumo, a uma fatídica zona do Sul da Província. Aí, num local estranho da região do Forreá e apenas no efémero prazo de 11 meses, houve lugar às facetas mais pérfidas da guerra, em que do mito e do mistério sobrou só o nome: Gandembel/Ponte Balana (...).
9 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1576: Fotobiografia da CAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (2): os heróis também têm medo
(...) Após o Treino Operacional, a Companhia segue rumo ao Sul da Província. Poucos dias em Guileje, para então nos coagirem a ir para as cercanias do "corredor da morte", a fim de se construir de raiz, um posto militar fixo, em Gandembel e Ponte Balana Em Guileje, a guerra não se fez esperar, e dolosamente começou a insinuar as suas facetas mais pérfidas, com as ocultas ciladas montadas na vastidão dos nossos olhares e a espreitarem o horror a todo o instante (...).
12 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1654: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (3): De pá e pica, construindo Gandembel.
(...) Em Gandembel, vinga a insensatez, a obrigarem-nos a penar um inextinguível tempo de arrastados sacrifícios. Do período mediado entre o início da construção do aquartelamento e a chegada da energia eléctrica, a 9 de Maio (...) O dia 8 de Abril de 1968 alvoreceu para um conjunto de homens inquietamente sós, desunidos de um futuro confiante, porque, por mais que se procurasse predizer, não lhes era possível reconhecer se se podia atingir. Um imenso manto de silêncio ali estava especado, com secretas sombras negras a envolver-nos (...).
2 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1723: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (4): A epopeia dos homens-toupeiras.
(...) Instalação e início da construção do aquartelamento de Gandembel. Ilustração fotográfica: Incluí o período de tempo entre 8 de Abril de 1968 - partida de Guileje para Gandembel e início da construção do aquartelamento de Gandembel - e a chegada da energia eléctrica, a 9 de Maio de 1968 (...).
9 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1743: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (Idálio Reis) (5): A gesta heróica dos construtores de abrigos-toupeira em Gandembel.
(...) Instalação e início da construção do aquartelamento de Gandembel (continuação) > Ilustração fotográfica: Incluí o período de tempo entre 8 de Abril de 1968 - partida de Guileje para Gandembel e início da construção do aquartelamento de Gandembel - e chegada da energia eléctrica, a 9 de Maio de 1968 (...).
23 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1779: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (6): Maio de 1968, Spínola em Gandembel, a terra dos homens de nervos de aço.
(...) A generosidade de um punhado de gente jovem, onde os ecos dos seus ais de desespero e dor, não ressoavam para além da região do Forreá. Gandembel/Ponte Balana, de 9 de Maio a 4 de Agosto. (...) A época plena das chuvas aproximava-se, começava a fazer surtir os seus benéficos efeitos, o que para nós incidia muito especificamente na água que o rio Balana pudesse debitar. Este, logo que retomasse alguma capacidade de vazão, significaria que a tão ansiada água já abundaria, e as restrições ao consumo que tinham prevalecido até então, evolavam-se no tempo (...).
21 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1864: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (7): do ataque aterrador de 15 de Julho de 1968 ao Fiat G-91 abatido a 28.
(...) Os ataques e flagelações mantinham-se a um ritmo praticamente diário, a que nos íamos habituando, pois que a generalidade das detonações era resultado da acção de morteiros 82, e a maioria das granadas continuava a deflagrar na periferia. Os morteiros ainda não estariam devidamente assestados, e tornava-se necessário e urgente ter que acabar as obras do aquartelamento, com condições mínimas de segurança (...).
8 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1935: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (8): Pára-quedistas em Gandembel massacram bigrupo do PAIGC, em Set 1968.
(...) Uma longa vida em Gandembel suspensa da decisão do Comandante-Chefe. E ante tantas adversidades, num ápice tudo se esfuma da forma mais indigna: o abandono. Gandembel/Ponte Balana, de 4 de Agosto às vesperas do Natal de 1968. (...) A catástrofe de 4 de Agosto foi demasiado punitiva e voraz, criando um profundo sentimento de perda. E, atendendo às circunstâncias com que nos deparávamos no quotidiano, reconheci na pungente dor do luto, que a Companhia perdia temperamento e vivacidade, com as vontades a fenecerem. (...) A deslocalização de um permanente efectivo de pára-quedistas foi fundamental para o surgimento de uma fase de muita maior tranquilidade, que resultou numa acentuada diminuição belicista por parte do PAIGC (...).
19 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1971: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (9): Janeiro de 1969, o abandono de Gandembel/Balana ao fim de 372 ataques
(...) Seria uma lembrança do Natal, que se aproximava? Não o foi, pois que até lá não recordo qualquer confronto, mínimo que seja. Pelo Natal, dada a solenidade do dia, chegam 2 helicópteros: um trazendo o bispo de Madarsuma, vigário castrense das Forças Armadas e um repórter do extinto Diário Popular, de nome César da Silva; outro, com Spínola e elementos do Movimento Nacional Feminino. (...) À alvorada do dia 28 [de Janeiro de 1969], o armamento pesado é desactivado, a bandeira nacional é arriada, o gerador é colocado num Unimog, e eis que partimos em definitivo de Gandembel, passámos por Ponte Balana (ali ao lado) a buscar o grupo que aí estava e seguimos para Aldeia Formosa. (...)
18 de Setembro de 2007>Guiné 63/74 - P2117: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (10): O terror das colunas no corredor da morte (Gandembel, Guileje)
(...) As colunas de reabastecimento para Gandembel / Ponte Balana. Tanta ousadia cerceada no passo incerto, e a folha fustigada pelo sopro de um fornilho, já não encontra outro sítio para cair, senão em corpos dilacerados (...).
(...) As colunas de reabastecimento que se contextualizam com Gandembel, ficaram gravadas nos caminhos do desalento, do pesadelo e horror. E por isso, procuravam protelar-se até soar o grito da clemência, pois os bens essenciais estavam a esgotar-se, e o espectro da fome, em forma de um tipo de alimentação quase intragável, pairou algumas vezes em Gandembel.E esta desapiedada e frustrante sensação de um forçado isolamento, também contribuiu em muito para o alquebramento das forças físicas e morais, tão vitais para ousar enfrentar com denodo as vicissitudes que se nos deparavam quotidianamente.
(...) Restar-me-á apenas tentar alinhavar o último capítulo, que se prende com a permanência da Companhia em Buba, e que se prolongou até 14 de Maio de 1969 (...).
(***) Sobre o nosso camarada João [Paiva Rodrigues] Barge (Aveiro, 2/4/1944-Leiria, 5/12/2010) sabíamos pouco:
(i) Aveirense de nascimento, já tinha publicado em 1964 o livro de poesia "Para lá do teu silêncio" (Aveiro, Livraria Borges, 54 pp).
(ii) Foi professor efetivo da Esc Sec Francisco Rodrigues Lobo, em Leiria;
(iii) Foi também docente, da área de Ciências Sociais, na Escola Superior de Educação / Instituto Politécnico de Leiria;
(iv) Vi algures por aí também um outro título, de poesia, "A Gramática do Sossego" (desconheço o ano de edição, e a editora);
(v) É autor de "Registos", juntamente com Miguel Homem e Orlando Cardoso (Leiria, Gato Preto, 1981).
Vd. também poste de 7/12/2010, P7399 [ Guiné 63/74 - P7399: In Memoriam (66): A morte dolorosa de um dos últimos homens a chegar a Gandembel, o ex-Alf Mil João Barge (1944-2010)]
(****) Vd. postes sobre a estadia do grupo de combate do Idálio Reis, em Cansissé, no Gabu:
12 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P953: Cansissé, terra de encantos mil (Parte I) (Idálio R
2317, Julho de 1969)
2 de agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1016: Cansissé, terra de mil encantos (Parte III) (Idálio Reis, CCAÇ 2317, Julho de 1969)
Guiné 63/74 - P9753: O Nosso Livro de Visitas (132): Não se preocupem se não der notícias - só estamos sem eletricidade porque o gasóleo acabou! (Anabela Pires, Iemberém, Cantanhez)
1. Mensagem da nossa amiga Anabela Pires [, foto à direita]::
De: Anabela Pires &anasgp@gmail.com>
Data: 16 de Abril de 2012 08:14
Assunto: Não se preocupem se não der notícias - só estamos sem eletricidade porque o gasóleo acabou!
Para: Família, amigos(as), ex-colegas, ex-vizinhos:
Olá, a todos! É só para dizer que se receberem menos notícias minhas não estranhem nem se ponham a imaginar coisas ruins!
Acabou-se o gasóleo que sustenta as nossas 4 horas de luz por dia e a água no depósito! Portanto, estamos novamente sem luz e sem água nas torneiras (aqui em casa tenho 2 no WC o que é muito bom). Isto significa que é mais difícil recarregar a bateria do computador. A minha amiga francesa que mora a 3 km e tem painel solar leva-me o PC e põe-o a carregar mas tudo isto demora mais tempo e posso estar por isso mais "ausente".
Como alternativa posso comprar uns litros de gasolina e pedir à Satu que ligue o gerador do restaurante para carregar os aparelhos. Mas o dinheiro também se acabou - está em Bissau à espera de transporte para cá chegar. Não sei quando vem o carro, era para ter vindo na 6ª feira, mas com os problemas em Bissau ..... aguardamos. Bem, esta do dinheiro é um bocadinho brincadeira pois a Satu certamente me emprestará dinheiro se eu precisar!
Eu estou bem. Ontem fui nadar na Ria (aqui chamada Rio) ladeada pelos mangais! Abençoados sapatos de windsurf que a Leninha me deu para ir aos lingueirões na Ria de Faro! Sem eles não poderia andar aqui nesta ria que tem o fundo todo de lodo. A água estava tão quente que nem deu para refrescar! Era preciso nadar mais para o meio para apanhar água fresca mas a corrente tinha alguma força e não podia arriscar muito. A piada é que os 2 jovens que estavam comigo, quando iam mais para o meio queixavam-se da água fria! Não há dúvida, tudo depende daquilo a que os nossos corpos estão habituados.
Bem, já disse umas larachas (isto escreve-se assim?) e agora vou deixar-vos.
Beijos e abraços para todos
Anabela
2. Comentário do editor:
A nossa tabanqueira Anabela (uma "mulher de armas", no dizer do seu amigo JERO) já nos tinha dito que estava bem, que em Iemberém, a seis horas de carro de Bissau, estava tudo "supercalmo". Há coisa de uma semana atrás, estive a ler, por alto uma cópia do diário que ele está a escrever desde que chegou a Iemberém, e mandei-lhe a seguinte mensagem, a 10 do corrente: "Parabéns pelo sucesso da tua adaptação em terras da Guiné e de Tombali. Já dei uma vista de olhos pelo teu diário. Belíssimos apontamentos, grande capacidade de observação, notável sendibilidade sociocultural... Talento literário não te falta... Vamos ter livro... Não queres mandar alguns excertos para o blogue, eventualmente expurgados de referências mais pessoais ou íntimas ?... Há malta, muita malta, que conhece a região, do tempo da guerra e da paz... e que tem colaborado com a AD... Podia abrir uma série para ti... Pensa nisso. Boa continuação, muita saúde. Um Alfa Bravo (ABraço). Luis".
PS - No sítio da AD - Acção para o Desenvolvimento, ver aqui uma reportagem do primeiro dia de trabalho da Anabela, em janeiro passado, na tabanca de Catesse.
_____________
Nota do editor:
28 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9673: O Nosso Livro de Visitas (131) ): Antonio Vaz, 75 anos, lisboeta, ex-cap mil, CART 1746, Bissorã e Xime, 1967/69: A Tabanca Grande é um fenómeno sem paralelo, que me deixa abismado e surpreendido
De: Anabela Pires &anasgp@gmail.com>
Data: 16 de Abril de 2012 08:14
Assunto: Não se preocupem se não der notícias - só estamos sem eletricidade porque o gasóleo acabou!
Para: Família, amigos(as), ex-colegas, ex-vizinhos:
Olá, a todos! É só para dizer que se receberem menos notícias minhas não estranhem nem se ponham a imaginar coisas ruins!
Acabou-se o gasóleo que sustenta as nossas 4 horas de luz por dia e a água no depósito! Portanto, estamos novamente sem luz e sem água nas torneiras (aqui em casa tenho 2 no WC o que é muito bom). Isto significa que é mais difícil recarregar a bateria do computador. A minha amiga francesa que mora a 3 km e tem painel solar leva-me o PC e põe-o a carregar mas tudo isto demora mais tempo e posso estar por isso mais "ausente".
Como alternativa posso comprar uns litros de gasolina e pedir à Satu que ligue o gerador do restaurante para carregar os aparelhos. Mas o dinheiro também se acabou - está em Bissau à espera de transporte para cá chegar. Não sei quando vem o carro, era para ter vindo na 6ª feira, mas com os problemas em Bissau ..... aguardamos. Bem, esta do dinheiro é um bocadinho brincadeira pois a Satu certamente me emprestará dinheiro se eu precisar!
Eu estou bem. Ontem fui nadar na Ria (aqui chamada Rio) ladeada pelos mangais! Abençoados sapatos de windsurf que a Leninha me deu para ir aos lingueirões na Ria de Faro! Sem eles não poderia andar aqui nesta ria que tem o fundo todo de lodo. A água estava tão quente que nem deu para refrescar! Era preciso nadar mais para o meio para apanhar água fresca mas a corrente tinha alguma força e não podia arriscar muito. A piada é que os 2 jovens que estavam comigo, quando iam mais para o meio queixavam-se da água fria! Não há dúvida, tudo depende daquilo a que os nossos corpos estão habituados.
Bem, já disse umas larachas (isto escreve-se assim?) e agora vou deixar-vos.
Beijos e abraços para todos
Anabela
2. Comentário do editor:
A nossa tabanqueira Anabela (uma "mulher de armas", no dizer do seu amigo JERO) já nos tinha dito que estava bem, que em Iemberém, a seis horas de carro de Bissau, estava tudo "supercalmo". Há coisa de uma semana atrás, estive a ler, por alto uma cópia do diário que ele está a escrever desde que chegou a Iemberém, e mandei-lhe a seguinte mensagem, a 10 do corrente: "Parabéns pelo sucesso da tua adaptação em terras da Guiné e de Tombali. Já dei uma vista de olhos pelo teu diário. Belíssimos apontamentos, grande capacidade de observação, notável sendibilidade sociocultural... Talento literário não te falta... Vamos ter livro... Não queres mandar alguns excertos para o blogue, eventualmente expurgados de referências mais pessoais ou íntimas ?... Há malta, muita malta, que conhece a região, do tempo da guerra e da paz... e que tem colaborado com a AD... Podia abrir uma série para ti... Pensa nisso. Boa continuação, muita saúde. Um Alfa Bravo (ABraço). Luis".
PS - No sítio da AD - Acção para o Desenvolvimento, ver aqui uma reportagem do primeiro dia de trabalho da Anabela, em janeiro passado, na tabanca de Catesse.
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Nota do editor:
28 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9673: O Nosso Livro de Visitas (131) ): Antonio Vaz, 75 anos, lisboeta, ex-cap mil, CART 1746, Bissorã e Xime, 1967/69: A Tabanca Grande é um fenómeno sem paralelo, que me deixa abismado e surpreendido
Guiné 63/74 - P9752: Notas de leitura (352): "Pátria Porque Nos Abandonas? - Sofrimentos de Uma Guerra", de Lino de Freitas Fraga (Mário Beja Santos)
1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 6 de Março de 2012:
Queridos amigos,
As imagens do nosso blogue polvilham-se nestas páginas em que um lutador de direitos entrevista veteranos e colhe o relato das suas vivências. Perpassa nestas páginas a tenacidade e o orgulho muito próprio dos açorianos, há aqui a incompreensão de muita gente pela falta de apoios a quem sofre e não tem recursos para promover, com dignidade, a qualidade de vida. Há relatos de partidas e chegadas, vidas interrompidas, o calvário dos hospitais.
Um combatente condecorado, na sua humildade, refugia-se no sentimento do coletivo da sua tropa.
Nos Açores é assim.
Um abraço do
Mário
Pátria, porque nos abandonas?
Beja Santos
Um antigo combatente, nado e criado no extremo de Portugal (Ilha do Corvo) deitou-se à obra de entrevistar veteranos de guerra, açorianos, publicou essas peças em dois jornais e depois vazou-as em volume. Assume-se como um homem de causas, está presentemente polarizado pela dignificação dos combatentes, pela trasladação dos restos mortais de um outro corvino e pela criação de uma delegação da Associação dos Veteranos de Guerra. “Pátria porque nos abandonas?, Sofrimentos de uma guerra”, por Lino de Freitas Fraga, Publiçor Editores, 2012.
O móbil da escrita de Lino Fraga não é escrever histórias da guerra mas sim o de captar experiências e sofrimentos dos antigos combatentes e das suas famílias. A saudade do açoriano tem um corpo próprio, uma densidade específica, houve mesmo quem lhe tivesse desabafado: “As saudades eram tantas que me queimavam o peito, por vezes quase não aguentava, cheguei a pensar em suicidar-me, com um tiro na cabeça”. Vamos passar em revista o que depuseram os combatentes da Guiné.
Jaime Moniz de Andrade partiu para a Guiné em Setembro de 1970, tirou o IAO no Cumeré e seguiu para a região de Bula, teve uma comissão muito dura. Nunca esqueceu a despedida da família e da noiva. Quando regressou em 1972 nunca mais foi o mesmo, sofre de ansiedade e pânico, foge dos ajuntamentos e é muito sensível aos estrondos. Sofre presentemente de uma neurose ansiosa crónica. Deplora a falta de apoios e de uma maior compreensão para esta calamidade do stresse de guerra. Na Guiné tocava viola para alegrar os colegas, hoje continua a tocar nas cerimónias religiosas.
Dionísio de Almeida Ferreira foi mobilizado na especialidade de condutor, em Setembro de 1970 partiu para a Guiné. Dionísio esteve envolvido nalgumas refregas, é uma pessoa bem-disposta, um extrovertido. Quando foi mobilizado, não disse nada aos pais, só informou a noiva e uma irmã. No dia do embarque partiu à socapa. Na doca, já dentro do navio, teve a grande surpresa de avistar a irmã e a noiva. Não se conteve, desceu a correr o portaló e despediu-se dos entes queridos. Nunca esqueceu este momento. É um excelente músico, toca às quintas-feiras num lar e aos domingos numa igreja.
Úrano Calisto das Neves fez recruta no Alfeite, tirou a especialidade de radiotelegrafista. Nasceu em Valença do Minho, gostou dos Açores, aqui lançou a âncora. Foi mobilizado para a Guiné em 1965 e foi colocado na Rádio Naval de Bissau. Participou em operações de fiscalização em lanchas e viveu vários confrontos com o inimigo. Chegou a ser ferido sem gravidade no rio Corubal. Nunca esqueceu o dia 30 de Março de 1966, andava numa lancha no rio Cacine, foi violentamente atacado e durante o combate o comandante de fragata deu-lhe ordem para pedir apoio aéreo e colega de Bissau mandou-lhe a seguinte mensagem: “Já nasceu a tua filha”. Calisto sofre de pesadelos e emociona-se facilmente, anda medicado pelo médico de família. Também deplora a falta de apoios aos antigos combatentes.
Gilberto de Sousa (ou Gilberto de São Roque) foi para a Guiné em Fevereiro de 1969, seguiu para Bigene. O dia mais negro da sua vida foi 2 de Agosto de 1969, em plena noite participou numa patrulha de reconhecimento. “Quando já estava tudo pronto para sair, abateu-se uma forte tempestade e é precisamente no momento de um forte relâmpago que se dá o rebentamento da granada que estava na bazuca que eu tinha na minha mão”. Os danos foram terríveis, um morto e dez feridos, e entre eles o Gilberto, que ficou sem as duas pernas. E começava assim o calvário de um jovem 21 anos, casado e com um filho de 7 meses. Colocou as próteses na Alemanha, mas nunca se adaptou. Já teve três AVCs e têm-lhe sido retirados apoios na assistência médica e medicamentosa.
Filipe Cordeiro, do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas, é veterano da guerra da Guiné. Foi mobilizado para a Guiné em 1972 como furriel miliciano com o curso de operações especiais. Viu muita desgraça à sua volta, em Tite e Nova Sintra. Ficou ferido numa flagelação em 5 de Setembro de 1972 em Nova Sintra e foi submetido a intervenção cirúrgica para lhe retirarem vários estilhaços. Regressou aos Açores depois do 25 de Abril. É hoje um sindicalista bem-disposto e considera que ultrapassou os traumas da guerra.
José Francisco da Silva Dias tirou o curso de operações especiais e o curso de minas e armadilhas e foi mobilizado para a Guiné como furriel miliciano no início de 1967, partiu para Bula, a seguir esteve em Bambadinca e fez operações no Leste. Depois, por motivos disciplinares, foi transferido para Catió e mais tarde para Buba, Guilege e Gadamael, experimentou o duro, nunca mais esqueceu aqueles jovens a morrerem e a chamarem pelas mães e pelas noivas. Também nunca mais esqueceu uma operação de abastecimento a Madina de Boé, encontraram a guarnição física e psicologicamente arrasada.
Tiago Luís Macedo Melo partiu para a Guiné em Agosto de 1970, mais tarde, após o IAO, foi para a zona de Mansoa. Durante um patrulhamento uma granada rebentou no meio do grupo e o Tiago ficou sem as pernas. Pediu para o matarem, os camaradas não consentiram. “Os momentos mais violentos, mais tristes e dolorosos foram quando voltei sem as pernas e vi a minha noiva no aeroporto e depois a chegada a casa”. E relata, sempre emocionado: “Quando cheguei aqui à freguesia e o meu pai me viu sair do táxi correu para mim e queria pegar-me ao colo, lavado em lágrimas”. Em Dezembro de 2008 teve um AVC e ficou paralisado do lado esquerdo. E não esconde o seu desânimo: “Eu deixei tudo, o amor da minha vida, meus pais, irmãos, amigos, a minha terra e partes do meu corpo e do meu sangue nos matos da Guiné para honrar e defender a minha Pátria. É muito triste, agora que eu necessito de ajuda, a minha Pátria me vire as costas”.
Moisés Pereira da Luz teve uma história igual à do Tiago Macedo Melo, no referido rebentamento ficou muito estilhaçado, foi operado no Hospital de Bissau e depois transferido para o anexo de Campolide onde esteve internado 21 meses. Tem hoje uma mão imobilizada. Nunca esquece a visita que a irmã lhe fez em Lisboa, custou-lhe enfrentá-la naquele estado. Acho que recuperou psicologicamente graças ao apoio da família.
Frédy, nome fictício, foi um dos participantes na operação “Mar Verde”. Em Fevereiro de 1970 tirou o Curso de Oficial da Reserva Naval, no Alfeite, foi colocado na Escola de Fuzileiros onde tirou a especialidade de Fuzileiro Especial. Mobilizado para a Guiné, seguiu para as ilhas de Bolama e Soga, foi aqui que decorreu a preparação, em total secretismo, da invasão de Conacri. Descreve a operação e mais adiante relatou outros momentos marcantes, nessas emboscadas e nesses combates viu morrer camaradas a seu lado.
E, por último, Gil de Frias Sousa, tirou o Curso de Sargentos Milicianos e foi transferido para o Curso de Oficiais Milicianos, seguiu para a Guiné em Janeiro de 1966, foi destacado para a proteção aos trabalhos da estrada entre Mansoa e Mansabá. Mais tarde foi com a sua companhia para Teixeira Pinto. Numa operação o alferes Frias de Sousa lançou-se em perseguição do inimigo e apreendeu material de guerra. Foi-lhe atribuída uma Cruz de Guerra. O momento triste da sua vida foi quando se despediu dos seus camaradas e amigos que durante mais de dois anos tinham sido a sua família.
Fica aqui o registo das conversas que Lino Fraga teve com combatente da Guiné, em todos estes textos sente-se o seu tem de protesto pelo abandono a que estão votados os veteranos de saúde precária.
O nosso blogue imiscui-se neste livro do princípio ao fim, há ali fotografias nossas e o meu querido amigo Humberto Reis tem honras de primeira página. E está lá também a rampa de Bambadinca, a maior rampa da minha vida.
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 15 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9750: Notas de leitura (351): "Adeus até ao meu regresso", de Mário Beja Santos: "um invulgar e dificilmente classificável livro" (Carlos Matos Gomes)
Queridos amigos,
As imagens do nosso blogue polvilham-se nestas páginas em que um lutador de direitos entrevista veteranos e colhe o relato das suas vivências. Perpassa nestas páginas a tenacidade e o orgulho muito próprio dos açorianos, há aqui a incompreensão de muita gente pela falta de apoios a quem sofre e não tem recursos para promover, com dignidade, a qualidade de vida. Há relatos de partidas e chegadas, vidas interrompidas, o calvário dos hospitais.
Um combatente condecorado, na sua humildade, refugia-se no sentimento do coletivo da sua tropa.
Nos Açores é assim.
Um abraço do
Mário
Pátria, porque nos abandonas?
Beja Santos
Um antigo combatente, nado e criado no extremo de Portugal (Ilha do Corvo) deitou-se à obra de entrevistar veteranos de guerra, açorianos, publicou essas peças em dois jornais e depois vazou-as em volume. Assume-se como um homem de causas, está presentemente polarizado pela dignificação dos combatentes, pela trasladação dos restos mortais de um outro corvino e pela criação de uma delegação da Associação dos Veteranos de Guerra. “Pátria porque nos abandonas?, Sofrimentos de uma guerra”, por Lino de Freitas Fraga, Publiçor Editores, 2012.
O móbil da escrita de Lino Fraga não é escrever histórias da guerra mas sim o de captar experiências e sofrimentos dos antigos combatentes e das suas famílias. A saudade do açoriano tem um corpo próprio, uma densidade específica, houve mesmo quem lhe tivesse desabafado: “As saudades eram tantas que me queimavam o peito, por vezes quase não aguentava, cheguei a pensar em suicidar-me, com um tiro na cabeça”. Vamos passar em revista o que depuseram os combatentes da Guiné.
Jaime Moniz de Andrade partiu para a Guiné em Setembro de 1970, tirou o IAO no Cumeré e seguiu para a região de Bula, teve uma comissão muito dura. Nunca esqueceu a despedida da família e da noiva. Quando regressou em 1972 nunca mais foi o mesmo, sofre de ansiedade e pânico, foge dos ajuntamentos e é muito sensível aos estrondos. Sofre presentemente de uma neurose ansiosa crónica. Deplora a falta de apoios e de uma maior compreensão para esta calamidade do stresse de guerra. Na Guiné tocava viola para alegrar os colegas, hoje continua a tocar nas cerimónias religiosas.
Dionísio de Almeida Ferreira foi mobilizado na especialidade de condutor, em Setembro de 1970 partiu para a Guiné. Dionísio esteve envolvido nalgumas refregas, é uma pessoa bem-disposta, um extrovertido. Quando foi mobilizado, não disse nada aos pais, só informou a noiva e uma irmã. No dia do embarque partiu à socapa. Na doca, já dentro do navio, teve a grande surpresa de avistar a irmã e a noiva. Não se conteve, desceu a correr o portaló e despediu-se dos entes queridos. Nunca esqueceu este momento. É um excelente músico, toca às quintas-feiras num lar e aos domingos numa igreja.
Úrano Calisto das Neves fez recruta no Alfeite, tirou a especialidade de radiotelegrafista. Nasceu em Valença do Minho, gostou dos Açores, aqui lançou a âncora. Foi mobilizado para a Guiné em 1965 e foi colocado na Rádio Naval de Bissau. Participou em operações de fiscalização em lanchas e viveu vários confrontos com o inimigo. Chegou a ser ferido sem gravidade no rio Corubal. Nunca esqueceu o dia 30 de Março de 1966, andava numa lancha no rio Cacine, foi violentamente atacado e durante o combate o comandante de fragata deu-lhe ordem para pedir apoio aéreo e colega de Bissau mandou-lhe a seguinte mensagem: “Já nasceu a tua filha”. Calisto sofre de pesadelos e emociona-se facilmente, anda medicado pelo médico de família. Também deplora a falta de apoios aos antigos combatentes.
Gilberto de Sousa (ou Gilberto de São Roque) foi para a Guiné em Fevereiro de 1969, seguiu para Bigene. O dia mais negro da sua vida foi 2 de Agosto de 1969, em plena noite participou numa patrulha de reconhecimento. “Quando já estava tudo pronto para sair, abateu-se uma forte tempestade e é precisamente no momento de um forte relâmpago que se dá o rebentamento da granada que estava na bazuca que eu tinha na minha mão”. Os danos foram terríveis, um morto e dez feridos, e entre eles o Gilberto, que ficou sem as duas pernas. E começava assim o calvário de um jovem 21 anos, casado e com um filho de 7 meses. Colocou as próteses na Alemanha, mas nunca se adaptou. Já teve três AVCs e têm-lhe sido retirados apoios na assistência médica e medicamentosa.
Filipe Cordeiro, do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas, é veterano da guerra da Guiné. Foi mobilizado para a Guiné em 1972 como furriel miliciano com o curso de operações especiais. Viu muita desgraça à sua volta, em Tite e Nova Sintra. Ficou ferido numa flagelação em 5 de Setembro de 1972 em Nova Sintra e foi submetido a intervenção cirúrgica para lhe retirarem vários estilhaços. Regressou aos Açores depois do 25 de Abril. É hoje um sindicalista bem-disposto e considera que ultrapassou os traumas da guerra.
José Francisco da Silva Dias tirou o curso de operações especiais e o curso de minas e armadilhas e foi mobilizado para a Guiné como furriel miliciano no início de 1967, partiu para Bula, a seguir esteve em Bambadinca e fez operações no Leste. Depois, por motivos disciplinares, foi transferido para Catió e mais tarde para Buba, Guilege e Gadamael, experimentou o duro, nunca mais esqueceu aqueles jovens a morrerem e a chamarem pelas mães e pelas noivas. Também nunca mais esqueceu uma operação de abastecimento a Madina de Boé, encontraram a guarnição física e psicologicamente arrasada.
Tiago Luís Macedo Melo partiu para a Guiné em Agosto de 1970, mais tarde, após o IAO, foi para a zona de Mansoa. Durante um patrulhamento uma granada rebentou no meio do grupo e o Tiago ficou sem as pernas. Pediu para o matarem, os camaradas não consentiram. “Os momentos mais violentos, mais tristes e dolorosos foram quando voltei sem as pernas e vi a minha noiva no aeroporto e depois a chegada a casa”. E relata, sempre emocionado: “Quando cheguei aqui à freguesia e o meu pai me viu sair do táxi correu para mim e queria pegar-me ao colo, lavado em lágrimas”. Em Dezembro de 2008 teve um AVC e ficou paralisado do lado esquerdo. E não esconde o seu desânimo: “Eu deixei tudo, o amor da minha vida, meus pais, irmãos, amigos, a minha terra e partes do meu corpo e do meu sangue nos matos da Guiné para honrar e defender a minha Pátria. É muito triste, agora que eu necessito de ajuda, a minha Pátria me vire as costas”.
Moisés Pereira da Luz teve uma história igual à do Tiago Macedo Melo, no referido rebentamento ficou muito estilhaçado, foi operado no Hospital de Bissau e depois transferido para o anexo de Campolide onde esteve internado 21 meses. Tem hoje uma mão imobilizada. Nunca esquece a visita que a irmã lhe fez em Lisboa, custou-lhe enfrentá-la naquele estado. Acho que recuperou psicologicamente graças ao apoio da família.
Frédy, nome fictício, foi um dos participantes na operação “Mar Verde”. Em Fevereiro de 1970 tirou o Curso de Oficial da Reserva Naval, no Alfeite, foi colocado na Escola de Fuzileiros onde tirou a especialidade de Fuzileiro Especial. Mobilizado para a Guiné, seguiu para as ilhas de Bolama e Soga, foi aqui que decorreu a preparação, em total secretismo, da invasão de Conacri. Descreve a operação e mais adiante relatou outros momentos marcantes, nessas emboscadas e nesses combates viu morrer camaradas a seu lado.
E, por último, Gil de Frias Sousa, tirou o Curso de Sargentos Milicianos e foi transferido para o Curso de Oficiais Milicianos, seguiu para a Guiné em Janeiro de 1966, foi destacado para a proteção aos trabalhos da estrada entre Mansoa e Mansabá. Mais tarde foi com a sua companhia para Teixeira Pinto. Numa operação o alferes Frias de Sousa lançou-se em perseguição do inimigo e apreendeu material de guerra. Foi-lhe atribuída uma Cruz de Guerra. O momento triste da sua vida foi quando se despediu dos seus camaradas e amigos que durante mais de dois anos tinham sido a sua família.
Fica aqui o registo das conversas que Lino Fraga teve com combatente da Guiné, em todos estes textos sente-se o seu tem de protesto pelo abandono a que estão votados os veteranos de saúde precária.
O nosso blogue imiscui-se neste livro do princípio ao fim, há ali fotografias nossas e o meu querido amigo Humberto Reis tem honras de primeira página. E está lá também a rampa de Bambadinca, a maior rampa da minha vida.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 15 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9750: Notas de leitura (351): "Adeus até ao meu regresso", de Mário Beja Santos: "um invulgar e dificilmente classificável livro" (Carlos Matos Gomes)
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