quarta-feira, 25 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9805: Tabanca Grande: oito anos a blogar (11): Mensagem do nosso tertuliano Joaquim Mexia Alves



 1.   O nosso camarada Joaquim Mexia Alves (ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73), fundador da Tabanca do Centro, enviou-nos a seguinte mensagem em 23 de Abril último.


O 8.º ANIVERSÁRIO DA TABANCA GRANDE

Hoje, a nossa Tabanca Grande, o nosso Luís Graça & Camaradas da Guiné, faz anos.

Tinha pensado em apenas deixar os meus parabéns, que são afinal para todos nós, pois que, independentemente de algumas “tricas”, “discussões” e até “zangas”, sempre nos vamos sabendo manter unidos, porque as experiências passadas na Guiné, são mais importantes que as possíveis “divergências” de hoje.

Mas decidi então escrever mais qualquer coisa, porque no Sábado passado [, 21 de abril, no nosso VII Encontro Nacional, em Monte Real]  aconteceu algo que eu não esperava, e me tocou muito fundo o coração.

Por causa deste nosso blogue, muitos se foram encontrando e desejando encontrar e, por isso mesmo, o António Bonito, que foi “meu” Furriel no Pel Caç Nat 52, no Mato Cão, não descansou enquanto não juntou toda a “equipa” que comigo passou largos meses no Mato Cão.

Duas fotografias separadas por 39 anos, com as mesmas pessoas, nos mesmos lugares, e mais uma com a “equipa” completa, agradecendo ao Miguel Pessoa estas fotografias que guardo no meu coração.

O ANIVERSÁRIO DA TABANCA GRANDE

Assim, pude abraçar, (consegui conter as lágrimas, espantoso!), o João Santos e o Diamantino Varrasquinho, ambos Furriéis, e os Cabos António Pinheiro, António Ribeiro e João Sesifredo.

Estava ali o Mato Cão!

E ouvi histórias de que não me lembrava, e sobretudo vivi a amizade que nos uniu e percebi que tínhamos feito uma tão boa “equipa” que tinham ficado laços de profunda amizade.

E tudo isto, proporcionado por este espaço de encontro que é a Tabanca Grande, em blogue!

Por isso parabéns ao fundador, Luís Graça, aos editores Carlos Vinhal, Eduardo Magalhães Ribeiro, Virgínio Briote e parabéns a todos nós que vamos sabendo encontrar-nos, discutirmos e sobretudo abraçar-nos.


Um grande e camarigo abraço do
Joaquim Mexia Alves
Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492/BART 3873

Monte Real, 23 de Abril de 2012 
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Nota de M.R.:

Vd. poste anterior desta série em:

25 DE ABRIL DE 2012 > Guiné 63/74 - P9803: Tabanca Grande: oito anos a blogar (10): Mensagens dos nossos tertulianos Fernando Gouveia, Felismina Costa e António Melo

Guiné 63/74 - P9804: Efemérides (88): Comemorações do Dia do Combatente em Lagoa, no passado dia 9 de Abril de 2012 (Arménio Estorninho)

 


 1. Mensagem de Arménio Estorninho (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), com data de 15 de Abril de 2012:


NO DIA 19 DE ABRIL DE 2012 COMEMOROU-SE O DIA DO COMBATENTE EM LAGOA


Tal como acontecera em várias localidades do País, também o Núcleo de Lagoa-Portimão da Liga dos Combatentes, levou a efeito comemorar o Dia do Combatente, cerimónia que decorrera no dia 09 de Abril de 2012, pelas 10,30h, a qual teve lugar no Jardim do Largo dos Combatentes da Grande Guerra e junto ao Monumento aos Combatentes do Ultramar, em Lagoa-Algarve.

Foto 1 – Passando o tempo no jardim, pela esq. o promotor deste trabalho, seguindo-se o Sargento Rodrigues, da C.aç 5, Canjadude, Guiné 1969/70 e o Sold. Alfredo Ramos da CCaç 556, Enxalé e Bambadinca, Guiné 1963/65. 

Compareceram em Parada: Para prestação de Honras Militares aos Mortos com Salva de Tiros, foi destacado um Pelotão do Regimento de Infantaria Um – RI 1 de Tavira. Tendo como Representante do Comandante do RI 1- Tavira, o Sr. Major de Inf. Oliveira;

Foto 2 – Pelotão do RI 1 Tavira, em formatura e no manusemento de arma na posição de sentido, sob o comando do Alferes Currais.

Foto 3 - Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Portimão, sob a orientação do Chefe Silva, a qual executou os toques de ordem militar inerentes ao decorrer da efeméride.

Foto 4 - Uma Seção da Associação de Pára-quedistas do Algarve, com Sede em Albufeira, sob orientação do Vice-Presidente da Direção Diogo Lucas e da qual estando também presente no ato o Presidente da Assembleia Geral José Ílidio dos Santos; 

Também marcou presença o Agrupamento 511 de Lagoa, do Corpo Nacional de Escutas, sobre a orientação do Chefe de Agrupamento Luis Lidiington; O Presidente do Núcleu de Lagoa-Portimão da Liga dos Combatentes, Jaime Marreiros, tendo dissertado perante as entidades Militares e Civis, ex-Combatentes e seus familiares, de onde foram captados os seguintes excertos: Exmº Sr. Rui Correia, Vice-Presidente da C. M. de Lagoa e Vereador Sr. Jaime Botelho; Exmº Sr. Major Oliveira Representante do Sr. Comandante do RI 1 – Tavira; Exmº Sr. Sargento-Chefe Vasconcelos, da GNR - Comando Territorial de Lagoa; Associação de Pára-quedistas do Algarve. Minhas senhoras e meus senhores, hoje é o Dia do Combatente! Faz hoje 94 anos, que se deu a Batalha de La Lys que durou 20 dias. Foi no final da 1ª Guerra Mundial. Teve lugar no Vale da Ribeira de La Lys na Flandres, na Bélgica.

Foto 5 – O presidente do Núcleo de Lagoa-Portimão da Liga dos Combatentes, Jaime Marreiros, na sua alocução alusiva à cerimónia, perante a assistência. 

Foi com esta batalha que Portugal participou na Guerra, ao lado doa Aliados, com uma Divisão do Corpo Expedicionário composta por cerca de 20.000 homens e comandados pelo General Gomes da Costa. O Exército Português foi completamente dizimado, pelo Exército Alemão. A Batalha de La Lys, foi quase tão nefasta para as nossas tropas, como a batalha de Alcácer Kibir. Em 4 horas o Exército Português perdeu cerca de 1/3 dos seus homens. Fatigado pelas deslocações e sem armamento compatível para o efeito. A metralhadora “Lewis”, conhecida no Exército Português por “Luísa”, foi a arma que os Soldados Portugueses utilizaram nessa batalha. Foi essa metralhadora que o Soldado Anibal Milhais utilizou. Este transmontano, foi posterirmente conhecido pelo soldado “Milhões”, atributo que lhe foi concedido, por ter salvar milhares de vidas, pela sua coragem, abnegação e fé. O “Milhões” foi o único Soldado Português na 1ª Guerra Mundial, a ser agraciado com o colar da Ordem de Torre e Espada, a mais alta condecoração do País.

Foto 6 – O Presidente do Núcleo Lagoa-Portimão, Jaime Marreiros, aquando do discurso protocolar perante as entidades oficiais; em primeiro plano o Porta-estandarte ex-Fur. Mil. José Júlio Nascimento, Cart. 2520, Xime e Quinhamel 1969/70; ex-Fur. Mil. Fancisco V. Silva, Timor; ex-Fur. Mil. Silva Nunes, Vogal da Direção do Núcleo de Lagoa-Portimão; Vice-Presidente da Cãmara Municipal de Lagoa, Rui Correia; Major Oliveira e Sargento-Chefe, ambos do RI 1-Tavira; Sargento-Chefe Vasconcelos, da GNR - Comando Territorial de Lagoa; Vice-Presidente da Direção da Associação de Pára-quedistas do Algarve, Diogo Lucas.

Por isso, hoje, aqui e agora se homenageia o Dia do Combatente, que desde o Soldado Anibal Milhais, passando por aqueles que têm o seu nome gravado neste Monumento, filhos deste Concelho, que deram a sua vida pela Pátria, na Índia, Angola, Moçambique, Guiné e em Timor e tantos outros heróis desconhecidos, que contribuíram para a Paz no Mundo. Estão aqui hoje presentes familiares dos militares caídos em combate, cujos nomes estão inscritos neste Monumento. Para esses uma menção especial de apreço, sofrimento e saudade, o nosso muito obrigado pela presença. Hoje, é um dia para lembrar aqueles que deram a vida pela Pátria. Pátria, que nem sempre reconheceu e tratou bem esses seus filhos ex- Combatentes, vivos mortos e estropiados.

Foto 7 –Honras Militares aos Mortos com Salva de Tiros, pelo Pelotão do RI 1 Tavira. 

Cabe-nos não os deixar esquecer. Ergamos bem alto as nossas cabeças e gritemos em uníssono. Viva Portugal!

Foto 8 – Colocação de coroas de flores na base do monumento aos mortos do Ultramar; da esq. Vice-Presidente da C. M. de Lagoa, Rui Correia; de costas Major Oliveira do RI 1 Tavira; Presidente do Núcleo de Lagoa-Portimão, Jaime Marreiros; Sargento-Chefe do RI 1 Tavira. 

Seguindo-se a deslocação ao Cemitério local, tendo a finalidade de aí homenagear os Mortos em Combates e nas suas campas colocar flores.


Fotos 9 e 10 – Dando cumprimento ao protocolo, para memória futura, foram colocadas flores nas campas dos combatentes falecidos.

Cordiais mantenhas para todos os combatentes.

Com um Abraço,
Arménio Estorninho
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Nota de CV:

Vd. último poste de 4 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9702: Efemérides (64): Homenagem aos 3 majores do CAOP, mortos a 20 de abril de 1970, no chão manjaco (António Graça de Abreu / Manuel Bento / MACOUPA)

Guiné 63/74 - P9803: Tabanca Grande: oito anos a blogar (10): Mensagens dos nossos tertulianos Fernando Gouveia, Felismina Costa e António Melo

1. Mensagem do nosso camarada Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), com data de 24 de Novembro de 2011:

Neste oitavo aniversário do blogue não podia deixar de dizer algo, tanto mais que o blogue foi responsável por mudanças na minha vida, à partida impensáveis.

Recordo mais uma vez o que escrevi na minha primeira comunicação ao Luís Graça, quando há cerca de quatro anos descobri, por mero acaso, o blogue: …”pelo menos já tenho que ler até ao fim da minha vida”.

Se muitos camaradas de armas, dos que andaram mesmo metidos no barulho, têm revisitado com prazer a Guiné, podem imaginar o que foi sentido, em visita semelhante, por quem lá esteve mas numa zona calma “sem tiros” - o meu caso. Recentemente escrevi: “arrepender-me-ia para sempre se lá não tivesse ido”.

Podem facilmente imaginar o prazer e a comoção sentida ao encontrar, passados quarenta anos, pessoas que só lá tinha visto uma única vez e que me reconheceram.

Além de tudo isto o blogue permitiu aumentar o leque de amigos, que nesta fase da vida tem um interesse inquestionável.

Foi o blogue que me levou à Guiné, aos almoços regulares nas várias “tabancas” e que me fez viver momentos inesquecíveis. O blogue foi, por último, o primeiro responsável a levar-me a escrever um livro - o livro da minha vida.

Termino referindo que dou por terminado o processo “Na Kontra Ka Kontra”, tendo atingido o objectivo a que me propus: Contribuir com algo para as crianças da Guiné-Bissau. Assim, foram vendidos 97 livros, dando um lucro de 310 €. Comprei material escolar (lápis c/ borracha e aguça, esferográficas de várias cores e cadernos). Só lápis foram 3468 unidades. Tudo isso foi encaixotado e entregue à “Ajuda Amiga”, bem como 50 € sobrantes, contributo para o envio do contentor para a Guiné-Bissau.

Camaradas, mais uma vez me emocionei quando, uma noite, encaixotava o material escolar para a Guiné-Bissau. Sentimentos que ultimamente só o blogue me fez reviver.

Com abraços.
Fernando Gouveia

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2. Mensagem da nossa amiga tertuliana Felismina Costa com data de  22 de Abril de 2012:

Há sensivelmente dois anos, que o adoptei, como o meu “jornal diário”!
Um jornal diferente, mas pleno de informação, sobre um tempo e um acontecimento que marcou a nossa geração!

Um acontecimento, que hoje motiva encontros, onde muitos dos seus intervenientes recordam dias, que os marcaram para sempre.
É um espaço virtual, onde se espraia a expressão das vossas vivências, a todos comuns.

Para mim, ele representa um “manual,” onde encontro informação sobre o conflito, uma tertúlia, onde falo, às vezes mais do que devia, um centro de convívio, onde tenho a certeza, ter feito amigos para a vida.

Quero felicitar mais uma vez o seu criador, “Mestre Luís Graça,” e seus incansáveis co-editores, a saber:
Carlos Vinhal, o homem do leme.
Magalhães Ribeiro
Virgínio Briote

E todo o séquito de colaboradores:
Humberto Reis
Hélder Sousa
Jorge Cabral
José Martins
Torcato Mendonça.

Obrigada pelo sítio, pela amizade nele encontrada e vivida.
Obrigada pelo aumento substancial do meu grupo de amigos, pelo conhecimento adquirido, pelo reviver da Juventude, pese embora o motivo que o origina.

Desejo longa vida ao Blogue, e que seja um veículo que conduza a um estudo aprofundado de causa e efeito.

Parabéns ao Blogue e a todos quantos aqui se encontram!
Obrigada.
Felismina

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3. Mensagem do nosso camarada António Melo (ex-1.º Cabo Rec Inf, BCAÇ 2930, Catió e QG, Bissau, 1972/74), com data de 23 de Abril de 2012: 

Para ti BLOGUE que hoje cumpres o teu aniversário te felicito carinhosamente.
Que cumpras muitos e continues como até agora a dar-nos noticias boas e menos boas mas que nos tenhas informados e que nos avives as mentes pois sabes estamos um pouco passaditos e já nos vai falhando a memória.
Contigo jovem e desperto nós continuaremos relembrando a nossa juventude que passámos naquela terra linda que é a Guiné.

Sem mais, os meus parabéns e um abraço para todos sem excepção
António Melo
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 24 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9798: Tabanca Grande: oito anos a blogar (9): Os "nós" e os "laços" do nosso querido Blogue (Manuel Joaquim)

Guiné 63/74 - P9802: O caso da Ponta Coli (Xime-Bambadinca) II. Nova emboscada (Jorge Araújo)



1. O nosso camarada Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Esp/Ranger da CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1972/74), enviou-nos a seguinte mensagem. 


Caríssimo Camarada CMDT Luís Graça, e restantes elementos do G.O.E. (Grupo Operacional de Editores). 

Os meus melhores cumprimentos. 

No dia do oitavo aniversário do nascimento do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, tomei a iniciativa de vos enviar, por este meio, uma pequena lembrança. 

Trata-se de mais um mosaico para colocar no puzzle de uma das paredes da nossa Tabanca Grande que, por ser grande, creio que não vai ser fácil concluir a obra. 

Parabéns para o aniversariante e, igualmente, para os seus progenitores. 

Obrigado pelos bons momentos de confraternização passados no pretérito sábado em Monte Real, durante o nosso VII Encontro Nacional.

ERA UMA VEZ UMA ESTRADA, PALCO DE JOGOS DE SOBREVIVÊNCIA 

O CASO DA PONTA COLI (XIME-BAMBADINCA) – II

I – O CASO DA PONTA COLI - XIME: - NOVA EMBOSCADA

Entre a chegada a Bissau no dia 28.Dez.1971, a bordo do Paquete Niassa, e o regresso a Lisboa em 03.Abr.1974, efectuado nos Transportes Aéreos Militares (TAM - boeing 707), a CART 3494 escreveu algumas páginas da sua história colectiva com acontecimentos indeléveis que continuam, ainda hoje, a influenciar os itinerários, os comportamentos e as atitudes – isto é: a vida – de alguns elementos do seu contingente, agora ex-combatentes, e que mais à frente aprofundaremos. 

Durante vinte e sete meses e uma semana, ou seja, cento e dezoito semanas, que perfazem oitocentos e vinte e oito dias, equivalente a dezanove mil e oitocentas e setenta horas, totalizando um milhão, cento e noventa e dois mil e trezentos e vinte minutos - é muito tempo; e muito jogo …, os principais episódios foram classificados numa escala de graves e muito graves, em função dos efeitos produzidos nas NT. 

O caso da Ponta Coli, que acabaria por contabilizar dois episódios muito graves durante a permanência da Unidade no Xime, antes da rotação para Mansambo ocorrida em Março de 1973, era o contexto que suscitava maior incógnita quanto à efectiva possibilidade de aí acontecerem encontros/desencontros com os guerrilheiros, sempre de consequências imprevisíveis, na justa medida em que eles sabiam tudo sobre os nossos movimentos, horas de saída e chegada ao aquartelamento, transporte, efectivos, armamento utilizado, local da segurança, postos de vigia, entre outros detalhes. 

Esse conhecimento dava-lhes, desde logo, uma efectiva vantagem, podendo agir de surpresa, controlando o tempo e o espaço, “como se fosse uma qualquer caçada ao coelho bravo, à gazela ou ao javali”, colocando cada presa no centro da sua mira. Mas, em função destes dois exemplos, veio a provar-se que não agiram, felizmente, com muita disciplina táctica e técnica e que, numa relação custo/benefício, o custo foi francamente superior. 

Estou convencido que os guerrilheiros estiveram emboscados na Ponta Coli, em outras ocasiões em que não houve contacto directo, desconhecendo-se qual ou quais os motivos que os levaram a não tomarem a iniciativa do ataque. Esta convicção/intuição resulta do facto de terem sido identificados (e confirmados!) sinais da presença humana, que não do nosso lado, e que implicaram a pernoita em espaços muito próximos daqueles que habitualmente eram por nós ocupados. 

Esta convicção é reforçada com o facto concreto relatado no documento referente ao programa de actividades para aquela zona retirado do bolso do camuflado do comandante Mário Mendes, aniquilado no decorrer de uma acção à Ponta Varela, efectuada em conjunto pela CART 3494 e pela CCAÇ 12, em Maio de 1972, que previa a concretização de novas emboscadas na estrada Xime-Bambadinca, tema que abordarei em outra oportunidade. 

Assim, durante os treze meses em que a CART 3494 esteve aquartelada no Xime, a quem tinha sido atribuída a responsabilidade diária de garantir a segurança possível em parte do troço que ligava este lugar a Bambadinca (sede do BART 3873), essa tarefa/acção/missão, considerada “Rainha” no conjunto de todas as outras, foi realizada por trezentas e oitenta vezes, aproximadamente, o que perfaz, feita a divisão pelos três GComb, cerca de cento e vinte e cinco presenças para cada um, naquele a que tomei a iniciativa de (re)baptizar como o «palco de jogos de sobrevivência». 

Como referido anteriormente, apenas ocorreram dois contactos durante esse período, com mortos e feridos confirmados de ambos os contendedores. O primeiro, no dia 22.Abr.1972, foi já narrado neste blogue (vidé poste 9698, de 03.Abr.2012). O segundo, de que trata este texto, ocorreu no dia 01.Dez.1972, 6.ª feira, tendo por intervenientes os elementos do mesmo GComb, ou seja, o 4.º pelotão. 

Creio que a escolha do dia 01.Dez.1972, para a concretização desta segunda emboscada às NT, não teve qualquer relação histórica com o dia 01.Dez.1640, também conhecido por «Restauração da Independência», designação atribuída à revolta dos portugueses iniciada naquela data com a invasão do Palácio Real, sito no Terreiro do Paço, em Lisboa, onde prenderam a Duquesa de Mântua, obrigando-a a dar ordens às suas tropas para se renderem, matando Miguel de Vasconcelos e Brito (1590-1640), Secretário de Estado da Duquesa, que era Vice-Rainha de Portugal, em nome do Rei Filipe IV de Espanha (1605-1665), Filipe III de Portugal. 

Também no dia 01.Dez., mas de 1922, ou seja cinquenta anos antes, era legalmente constituída a direcção do primeiro Núcleo da Liga dos Combatentes, em Pinhel, presidida por Manuel Augusto Ferreira Lima da Veiga, Coronel de Infantaria e delegado, à época, da denominada Liga dos ex-combatentes da Grande Guerra. A sua sede ficou instalada no edifício do Regimento de Infantaria n.º 14, de onde partiu o Batalhão Expedicionário de Infantaria n.º 12 da Guarda, com destino à Flandres, onde combateu, ao serviço dos aliados, durante os anos de 1917 e 1918, na 1.ª Grande Guerra. 

Cronologicamente, a seguir à primeira história vem a segunda, e depois a terceira, e assim sucessivamente, e porque a acção, o sentido e as formas dessa acção nunca se repetem, mesmo que os seus intérpretes sejam os mesmos, eis outra oportunidade para tornar público o que ainda guardo na memória relativo ao segundo acontecimento na Ponta Coli, cuja ordem de apresentação foi estruturada em três pontos: o antes, o durante e o depois dos factos. 

De referir, ainda, que este texto não caracteriza tão só e apenas o período de tempo em que decorreu esta emboscada, mas adiciona-lhe outras pequenas histórias que lhe dão uma certa coerência, aliás como nos ensina a filosofia, ou seja, o todo é mais que a soma das partes, como se pode constatar de imediato. 


II – O ANTES DE 01 DE DEZEMBRO DE 1972 

A aprendizagem retirada da primeira experiência vivida na Ponta Coli, em 22.Abr.72, que conduziu à alteração das rotinas anteriores, passando cada GComb a ser auto transportado somente até ao limite da bolanha do Xime e o restante trajecto até ao local da segurança a ser efectuado a pé, com esquemas diferenciados de progressão e distribuição espacial de todos os seus elementos, dava a sensação de ter sido uma boa opção, pelo menos ficava a ideia de se reduzir substancialmente a exposição ao risco. 

A segurança fazia-se diariamente, excepto quando a Companhia tinha de efectuar outras missões que justificassem a presença de todos os seus efectivos, sendo substituídos nessa função por elementos de Grupos de Milícias que estavam sob jurisdição do Batalhão. 

A atenção e a concentração continuavam a ser as palavras de ordem, ou palavras-chave, quando se saía do aquartelamento para cumprir esta missão, justificada ainda com maior veemência depois do expresso na correspondência retirada ao comandante Mário Mendes, conforme referido anteriormente. E o tempo foi passando, felizmente sem ocorrências de maior na Ponta Coli. 

Em finais de Setembro/72, depois de uma intensa actividade militar, pensei que era chegado o momento de agendar o primeiro período de férias de trinta e cinco dias, de acordo com as normas então em vigor, tendo decidido passá-las na Metrópole, como se dizia à época, fazendo coincidir esse período com o meu aniversário. E assim foi. Escolhemos o período de 24.Out. a 27.Nov.1972. 

Chegado ao aeroporto de Lisboa, fui recebido pelos nossos familiares directos (os pais), seguindo depois para a sua (nossa) residência, em Moscavide. Os primeiros dias foram de completa readaptação aos espaços, particularmente no que concerne ao trânsito intenso da cidade, aos semáforos e às passadeiras, aos cheiros, aos ruídos; em suma, a quase tudo.
O ambiente de felicidade iluminava cada dia que ia passando, com os meus familiares a não perderem a oportunidade de colocarem questões sobre a realidade por mim vivida na Guiné, transmitindo-me os seus medos, expectativas e ansiedades, mas também procurando saber mais como era a sua gente, o seu ambiente, o seu clima, a sua organização social, os seus consumos, o que era perfeitamente natural e normal naquele tempo. Os amigos, alguns mais velhos, que tinham já vivido experiências semelhantes nos diferentes cenários ultramarinos, davam-me conselhos, sugestões e outras dicas visando ajudar-nos a ultrapassar eventuais dificuldades. 

Mas, do que mais se falou durante esse mês foram os episódios vividos até então, em que a nossa existência física esteve francamente em causa, e que após efectuada a sua avaliação, em consciência, considerei ter sido de elevado risco, muito maior daquele por que passa um funâmbulo no circo, no exercício de equilíbrio no arame, mesmo que não possua rede de segurança a meio caminho do solo, como foram os casos da emboscada na Ponta Coli (22.Abr.1972) e o naufrágio no Rio Geba (10.Ago.1972). 

Por outro lado, e uma vez que o ex-Alf. Mil. Maurício Viegas, também ele natural de Lisboa e CMDT do Pelotão de Artilharia (obuses 10.5) do Xime, me sugeriu que visitássemos os seus pais, residentes na Boa-Hora, em Lisboa, facultando-me a sua morada. Daí ter agendado um encontro com eles, em nome do convite/pedido formulado aquando da minha saída do Xime, levando-lhes as naturais saudades e palavras de conforto e de ânimo para resistirem ao tempo que ainda faltava para a conclusão da sua Comissão de Serviço. 

Na sequência do primeiro contacto presencial, aceitei a proposta de com eles almoçar, ficando também combinada uma sessão de slides (meus) visando uma aproximação à realidade por parte daqueles que, estando longe dos seus familiares (militares), gostavam de ver as suas paisagens, as suas gentes, as lavadeiras, as beijudas e outros ícones da cultura guineense, e que para mim era o contexto para onde teríamos de voltar alguns dias depois. 

Como um dos tios do ex-Alf. Viegas era pasteleiro (mestre de renome em doçaria), e o sobrinho comemorava o seu aniversário no dia 01.Dez. (já não me recordo quantos, mas seriam certamente mais de vinte), logo nos pediu para sermos portadores de um bolo especial para esse dia de anos, confeccionado com uma substância (XPTO) preparada para aguentar os dias suficientes até à nossa chegada ao mato. No dia 26.Nov.1972, véspera da partida, lá fomos buscar o bolo ao Bairro da Boa-Hora, fazendo votos para que ele chegasse inteiro ao seu destino. 

Embarquei no dia aprazado, prometendo voltar, logo que fosse possível, para um segundo período de férias. 

Chegado a Bissau no dia 27.Nov.1972, 2.ª feira, desci à terra, e tomei consciência de que as férias tinham acabado, e que o principal assunto que teria em mãos, a partir de então, era outro, mais sério e problemático do que nunca. 

Procurei resolver, com celeridade, a deslocação para a Companhia, no Xime, tendo apanhado uma boleia de Bissau a bordo de uma embarcação civil «CP10», cujo comandante era um militar da marinha – o Cabo Silva, e que habitualmente nos visitava no Xime, quando aí tinha de fazer carregamentos de madeiras para a capital, ou de outros materiais mais pesados vs volumosos. 

Cheguei ao aquartelamento na 4.ª feira, dia 29.Nov.1972, por volta das 17.00 horas. Mas, como tinha feito a viagem ao sol, pois a embarcação navegava a céu aberto, logo sem sombras, essa noite foi passada num estado febril em crescendo. Antes, porém, tive a oportunidade de entregar ao ex-Alf. Maurício Viegas, o bolo de aniversário que nos tinham pedido para lhe trazer. O dia seguinte, 5.ª feira, foi passado na cama, aguardando que as drogas de marca «LM» – Laboratório Militar, distribuídas/receitadas pelo camarada mezinho, ex-Fur. Mil. Enf.º Carvalhido da Ponte desempenhassem a competente acção farmacológica no organismo. 

O dia seguinte, 6.ª feira, dia 01.DEZ.1972, voltou a ser um dia diferente, como muitas emoções versus tensões, em função dos relatos que desenvolveremos no ponto seguinte. 

III – O DIA 01.DEZ.1972 – a segunda emboscada na Ponta Coli 

Se o dia 22 de Abril de 1972, data da primeira batalha travada na Guiné (Xime) pelos militares da CART 3494, através do seu 4.º GComb, continuava bem presente na memória de todos, particularmente naqueles que a viveram em directo, esse dia 01 de Dezembro do mesmo ano, fez aumentar não só os factos negativos contabilizados até então, como ampliou os registos gravados na nossa memória de longo prazo. Entre o primeiro e o segundo caso decorreram duzentos e vinte e dois dias. 

E o que tenho em memória desse já longínquo 1.º de Dezembro de 1972, acontecimento que está prestes a completar quatro dezenas de anos, inicia-se com o acto de acordar, consequência do ruído dos motores das duas viaturas unimog alinhadas na parada, como era habitual, destinadas a transportar o GComb que nesse dia iria estar de serviço na Ponta Coli, ou seja, o 4.º pelotão, o mesmo da 1.ª emboscada. 

Este GComb, entretanto refeito depois de ultrapassadas as enfermidades físicas sofridas pelos seus efectivos mais atingidos anteriormente, viu reforçado os seus quadros de comando com a chegada, em Maio, do ex-Fur. Mil. Mário M. Neves para substituir o ex-Fur. Mil. Manuel Rocha Bento, falecido na emboscada anterior, e dois meses e meio antes deste episódio (Set.) do oficial de que nunca dispôs, sendo nomeado para comandar este grupo o ex-Alf. Mil. A. J. Serradas Pereira. 

Passados poucos minutos da saída dos militares do meu ex-GComb, levantei-me sentindo algumas melhoras em relação aos dois dias anteriores, pois já não tinha febre, e avancei para os sanitários do abrigo da messe de Sargentos, situados em frente ao nosso Tzero, este partilhado com os camaradas ex-Furriéis Godinho, Ferreira e Neves. 

Concluída a higiene pessoal, e quando passava à porta da Secretaria da Companhia, que ficava exactamente em frente à nossa, do outro lado do caminho térreo (a que se chamava rua), eis que ouvi e senti os primeiros rebentamentos vindos do lado da Ponta Coli. Tratava-se, naturalmente, de uma nova emboscada montada pelos guerrilheiros, já prometida há algum tempo atrás, mas sem data marcada. 

Não pestanejei.  

Num impulso produzido a partir dos sistemas internos homeostáticos, explicados na biologia da consciência como sendo a memória especial de valor registada por via de experiência anterior – imagens, sons e desempenhos –, complementada com a mensagem do mundo exterior que acabara de ser descodificada, rapidamente me preparei para ir em seu auxílio. 

Vestido com estava naquele momento, em fato de treino azul militar, coloquei à cintura os quatro carregadores de munições encaixados no cinturão, peguei na minha companheira inseparável nestas ocasiões, a G3, e parti só, na direcção da Ponta Coli, não fazendo a mínima ideia do que me poderia acontecer até lá. 

Atravessei as moranças da Tabanca, segui no sentido da bolanha do Xime (Taliuará) e quando me encontrava mais ou menos a meio do carreiro que ligava, na largura, os dois lados da bolanha, avistei um grupo de guerrilheiros movimentando-se para sul, na fronteira da bolanha com a vegetação aí existente. Avistei os guerrilheiros e eles também a mim, na medida em que um deles disparou uma rajada na nossa direcção, mas sem consequências, pois não devia ser grande especialista no tiro de precisão. 

Ao ouvir o silvo das balas (uma meia dúzia!?) que passaram por cima e ao meu lado, coincidente com o mergulho que tive justamente de efectuar, por instinto de sobrevivência, e sem saber o que viria a seguir, aí esperei um pouco, camuflado tanto quanto me era possível, observando os movimentos do IN, e sem saber muito bem o que fazer a partir de então: voltar para trás ou seguir em frente. 

Quando me apercebi que aquele grupo de guerrilheiros estava de regresso às suas origens, decidi avançar, mas com a máxima atenção, pois a situação assim o exigia. Porém, vindos da Ponta Coli, continuava a ouvir tiros e rebentamentos, sinal de que a situação ainda não estava totalmente controlada. 

Passados alguns minutos, talvez dez/quinze, cheguei junto dos camaradas flagelados, grupo que, gradualmente, tinha sido reforçado com a chegada de mais elementos de outros GComb, deslocados em viaturas até ao local. 

Aí chegado, constatámos que neste caso, do ponto de vista da estratégica militar, os guerrilheiros foram obrigados a alterar a sua, em função também das mudanças por nós introduzidas a partir da avaliação feita à primeira emboscada. 

Desta vez os elementos IN, estimados em mais de sessenta unidades, que segundo informações posteriores eram constituídos pelo grupo especial de Bazzokas, do CMDT Coluna da Costa, e do bigrupo dos CMDT’s Mamadu Turé e Pana Djata, ficaram emboscados a cinquenta metros da linha da nossa segurança, protegidos por bagabagas, árvores e outros arbustos mais rasteiros. 

Aguardaram que as NT ocupassem os postos habituais, e quando nada fazia prever, pois esse era o método utilizado na guerra de guerrilha, abriram as hostilidades, fazendo accionar, à distância, duas minas de sopro colocadas junto a duas árvores de maior porte, seguida das tradicionais rajadas de Kalashnikov e do lançamento de granadas de RPG7, tendo os elementos do nosso GComb reagido em conformidade com a provocação e de acordo com a experiência adquirida na anterior situação. 

As ocorrências mais graves foram provocadas pelo efeito das minas de sopro, tendo atingido dois elementos das NT que, passado pouco tempo, foram evacuados para o Hospital Militar, em Bissau. 

Entretanto, com a situação totalmente controlada, depois da debandada dos guerrilheiros, que não conseguiram desta vez obter grandes resultados práticos felizmente, iniciámos o reconhecimento na zona outrora ocupada por estes. 

Durante o desempenho dessa tarefa, operacionalizada em equipa com o ex-Fur. Mil. António Carda, do 3.º GComb, foi com alguma surpresa que encontrámos dois corpos de guerrilheiros, já cadáveres, ocupando ambos, um ao lado do outro, um espaço entre arbustos de aproximadamente dois metros, junto dos quais se encontravam as suas respectivas armas. Um tinha uma Kalashnikov, o outro possuía uma pistola Tokarev. Noutro local foi também encontrado um lança granadas e duas granadas desse equipamento. 


No final, a contabilidade feita à segunda emboscada, e que seria a última, sofrida pela CART 3494 na Ponta Coli, ambas vividas pelos elementos do 4.º pelotão, foi de dois feridos graves das NT, dois mortos capturados ao IN, mais uma espingarda automática Kalashnikov, uma pistola Tokarev e um lança granadas RPG7. 

A partir desta nova experiência, cada segurança diária à Ponta Coli passou a ser considerada como uma Operação Especial, só ao alcance de quem tivesse um coração forte, capaz de resistir às emoções/tensões vividas naquele contexto. 

IV – CAUSAS/EFEITOS DESTA NOVA EMBOSCADA 

Se nada de anormal tivesse acontecido naquele dia 01.Dez.1972, a noite teria tido um significado e um programa especiais, na medida em que o ex-Alf. Mil. Maurício Viegas fazia anos, e até existia um bolo de aniversário confeccionado de propósito, no distante Bairro da Boa-Hora, em Lisboa. 

Mas, porque não foi isso que aconteceu, lamentavelmente, este segundo episódio na Ponta Coli, acabaria por marcar os tempos seguintes, influenciando os comportamentos, o estado de espírito individual e colectivo, com reflexos no humor e na disponibilidade para grandes farras. No entanto, não deixámos de cantar os parabéns ao aniversariante, na messe de oficiais, e de comer uma fatia do seu bolo, um pouco rijo, mas ainda próprio para consumo. Do que me lembro desse momento, posso afiançar de que não sobrou nem uma migalha. 

A bebida consumida nessa noite, um pouco mais longa do que em noites anteriores, pois foi decidido desligar o gerador produtor de energia, uma vez que se equacionou a possibilidade de acontecerem represálias pela ocorrência da manhã, resultou da fusão do líquido de várias garrafas existentes no bar, vulgo cocktail, servido em baixela (prateada) de aço inox, mas que não me caiu nada bem. Andei uma semana a beber água Perrier, passe a publicidade. 

Assim, eis algumas causas/efeitos deste acontecimento. 

Uma primeira causa/efeito de mais um episódio negativo registado no seio da CART 3494 foi a tomada de consciência colectiva de que não se podia facilitar, fosse qual fosse a circunstância ou o contexto, tendo como exemplos as duas emboscadas na estrada Xime-Bambadinca e o naufrágio no Rio Geba, todos eles provocando baixas humanas, factos ocorridos, curiosamente, com intervalos de cento e dez dias entre si. 

Uma segunda causa/efeito deste acontecimento terá contribuído para que um ano depois desta segunda emboscada, certamente para vingar o aí ocorrido doze meses antes, onde os guerrilheiros registaram um forte revés, estes tenham decidido voltar a atacar o aquartelamento do Xime, agora tendo por residentes os militares da CCAÇ 12, uma unidade africana. 

Este ataque do IN, o mais severo e violento de todos os efectuados até então, iniciado pela calada da noite, eram 22:15 e que durou cerca de meia hora, e que eu próprio testemunhei não só através da sua audição à distância, como observei os clarões provocados pelas detonações das diferentes armas pesadas utilizadas, uma vez que me encontrava instalado nos espaços circundantes da nova Ponte sobre o Rio Udunduma, situada entre a população de Amedalai e Bambadinca, na estrada do Xime, em missão de segurança permanente. Nesse local acabaria por contabilizar uma estadia de cerca de cento e sessenta dias, ou seja, cinco meses e meio. 

Constou-se que para esse ataque com armas pesadas foram mobilizados todos os recursos existentes na zona por parte do PAIGC, nos quais se incluíam foguetões 122 mm. Estes acabaram por provocar alguns estragos, sobretudo na zona das moranças dos civis do Xime, tendo dois deles atingindo uma delas, que ficou totalmente destruída, com os seus sete ocupantes mortos. 

Uma terceira causa/efeito (dupla) desta emboscada, particularmente para os dois ex-militares feridos em combate, este seria um acontecimento que haveria de produzir sequelas incuráveis ao longo de suas vidas, em todas as dimensões humanas: físicas, psicológicas, sociais e económicas. Por via desse episódio, estes ex-combatentes foram premiados ad eternum com o estatuto de «abandonados», o que é francamente injusto, ingrato, pouco ético, nada moral, em suma, um crime execrável. 

No primeiro caso, o ex-soldado Carlos Alberto Cunha, depois de ter sido assistido no Hospital Militar de Bissau e de ter transitado para o Hospital Militar de Lisboa, onde, decorrido algum tempo, obteve alta, passando à disponibilidade. Porém, nunca mais pode exercer a sua actividade profissional, em função do seu grau de incapacidade física. Por falta de acordo quanto à atribuição do estatuto de invalidez, o seu processo transitou para julgamento no Tribunal Judicial de Coimbra, desconhecendo (eu) qual o seu veredicto. Até há bem pouco tempo a situação era de impasse. 

No segundo caso, o ex-soldado Mário Rodrigues Nascimento foi encontrado, no início deste ano, a vaguear pelas ruas da Figueira da Foz. Interpelado por uma Assistente Social, funcionária da Autarquia Local, sobre o seu passado, apenas se lembrava de ter sido ferido em combate no Xime e de ter pertencido à CART 3494. Esta técnica lembrou-se, com efeito, de contactar com a Delegação de Coimbra da Liga dos Combatentes, pedindo ajuda. Esta Instituição de apoio aos ex-militares, por sua vez, entrou em rede com vários elementos da Companhia referenciados no nosso blogue, o que conduziu à abertura de um processo visando a sua integração em Instituição de Solidariedade Social naquela localidade, de modo a alterar a sua condição de vida - um “sem abrigo” -, situação absolutamente degradante para qualquer ser humano, e em particular para este nosso camarada, ex-combatente, que fora gravemente ferido em combate no cumprimento de um dever nacional. 

Curiosamente, a sua residência conhecida, extraída dos registos dos Serviços Públicos, refere que era na Rua do Viso, por sinal a mesma rua onde os meus avós tinham uma casa, e onde eu, nos distantes tempos de criança, lá passava uma parte significativa das férias grandes de verão, bastando atravessar a avenida do Grande Hotel da Figueira (Av. 25 de Abril), para estar na praia. 

Finalmente, neste dia 01.Dez.1972, tomei conhecimento que o nosso segundo CMDT da Companhia, o Cap. Art. António José Pereira da Costa (agora Coronel na Reserva) tinha sido transferido para a CART 3567, estacionada em Mansabá, facto ocorrido durante as nossas férias, sendo substituído, então, pelo Cap. Mil. Luciano de Carvalho Costa, o terceiro e último CMDT da Companhia, cargo que ocupou até ao final da nossa Comissão de Serviço. 

Segundo julgo saber, a ordem/nota da transferência foi-lhe comunicada no dia 10.Nov.1972, exactamente no dia em que, na Metrópole, em Moscavide, comemorava o meu vigésimo segundo aniversário. O desenlace com a CART 3494 aconteceu no dia seguinte – 11.Nov. (Dia de S. Martinho), um marco mais na história da sua vida … militar. 

Chegado ao fim deste segundo episódio relacionado com os factos reais ocorridos na estrada Xime/Bambadinca, vividos por alguns ex-combatentes da CART 3494, no local designado por Ponta Coli, damos por encerrado este tema, esperando que o modo e os conteúdos da sua narração, feitos na primeira pessoa, partindo de experiências concretas, tenham permitido, por um lado, esclarecer dúvidas em aberto e, por outro, aglutinar algumas das ideias que andavam dispersas. 

Contudo, estou convicto que outros relatos, seguindo a mesma metodologia, seriam não só bem-vindos como ajudariam no aprofundamento da sua historiografia. 

Está, desde já, feito o convite a todos os membros da CART 3494, também conhecidos por Fantasmas do Xime. 

Um grande abraço para todos, e até à próxima história. 

Saudações Tertulianas.
Jorge Araújo.
Fur Mil Op Esp/RANGER da CART 3494
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Nota de M.R.:

Vd. poste anterior desta série em: 

3 DE ABRIL DE 2012 > Guiné 63/74 - P9698: O caso da ponta Coli, Xime-Bambadinca (Jorge Araújo)



Guiné 63/74 - P9801: VII Encontro Nacional da Tabanca Grande (15): O abraço camarigo da AORN (Associação dos Oficiais da Reserva Naval) (Manuel Lema Santos), da Tabanca de Matosinhos (Eduardo Moutinho) e da ONGD Ajuda Amiga (Carlos Silva)


Manuel Lema Santos, em nome da direção da AORN: "Guiné uma vez, Guiné para sempre!"

Vídeo 1' 33'': Luís Graça (2012).  Alojado em You Tube > Nhabijoes 


1. Com os cerca de 190 convivas sentados à mesa, para dar início ao almoço, houve uma pequena sessão de boas vindas, com palavras de saudação do nosso editor Luís Graça, em nome da organização (Carlos Vinhal, Joaquim Mexia Alves e Miguel Pessoa), bem como do Manuel Lema Santos, em representação da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval), do Eduardo Moutinho Santos, em nome da Tabanca de Matosinhos, e ainda o Carlos Silva, em nome da ONGD Ajuda Amiga.

O Manuel Lema Santos (ex-1º Ten da Reserva Naval da Marinha de Guerra, imediato da LFG Orion, Guiné, 1966-1972), e que foi um dos nossos camaradas que esteve no nosso 1º Encontro Nacional, na Ameira, em 2006, ofereceu ao blogue, na pessoa do Luís Graça, um exemplar do "Anuário da Reserva Naval, 1958-1975", da autoria de A.B. Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado (Lisboa, 1992), um exemplar autografado do "Anuário da Reserva Naval, 1976-1992", de Manuel Lema Santos (Lisboa: AORN, 2011), bem como vários exemplares da última edição da publicação periódica da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval (AORN,  nº 19, outubro de 2011), e ainda uma medalha comemorativa da fundação da AORN, em 1995.




Capa da revista AORN, edição de outubro de 2011, homenageando dois antigos oficiais da Reserva Naval, e destacados cidadãos portugueses,  Hernâni Lopes (1942-2010) e António Rodrigues Maximiano (1946-2008)



VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012 > Luís Graça, saudando os presentes, ladeado à sua esquerda pelo Carlos Vinhal e o Joaquim Mexia Alves (que integraram a comissão organizadora do encontro, juntamente com o Miguel Pessoa).

Foto: © Jorge Canhão (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012> Ao centro, o Eduardo Moutinho Santos, que falou no início do almoço-convívio, em nome da direção da Tabanca de Matosinhos. Acompanham-no à sua direita o António Graça de Abreu (Cascais) e *a sua esquerda o Zé Manel Lopes (Régua).



VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012> Carlos Silva, falando em nome da direção da ONGD  Ajuda Amiga e dando notícias tranquilizadoras do Carlos Fortunato, em missão solidária na Guiné-Bissau.

Fotos: © Luís Graça (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P9800: Tabanca Grande: oito anos a blogar (10): Parabéns! (Carlos Matos Gomes / António Vaz)


VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012>  Que belo friso de camarigos, de diversas épocas e diferentes lugares da guerra da Guiné (1961/74): Luís R. Moreira (Bambadinca, Nhabijões e Bissau, 1970/72), Magalhães Ribeira, o "pira de Mansoa" (Mansoa, 1974), Torcato Mendonça (Fá e Mansambo, 1968/69, João Mata (Bissorã, Ponta do Inglês e Xime, 1967/69), António Vaz (Bissorã e Xime, 1967/69), Luís Graça (Contuboel e Bambadinca, 1969/71), e Manuel Moreira (Bissorã, Ponta do Inglês e Xime,1967/69)... (LG)


Foto: © António Vaz (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.





1. Mensagem de parabéns do cor cav ref e escritor Carlos Matos Gomes [, foto à direita, na Amura, em 7 de março de 2008; foto de L.G.]:


Data: 23 de Abril de 2012 18:32

Assunto: Parabéns

Meus caros amigos, estive a ver as fotos da festa da Tabanca. Queria deixar aqui os meus parabens, mas também expressar a admiração pelo convívio e pela sã troca de afetos e memórias entre aqueles que passaram pela Guiné no cumprimento do serviço militar.


Todos ficamos enriquecidos ao visitar esta Tabanca. Em especial ao Luís Graça e aos editores, o meu bem hajam e o estímulo para que continuem. Para todos os que aqui partilham os seus segredos, os seus pensamentos, os seus sentimentos vai o meu obrigado pelo que me têm ensinado.

Um grande abraço para todos do Carlos Matos Gomes.

2. Mensagem, do dia 24 do corrente, do nosso camarigo António Vaz, antigo cap mil, CART 1746 (Bissorã e Xime, 1967/69):

 
Olá, caros camaradas:


Hoje, dia do aniversário do nosso blogue e ainda não tendo passado da meia noite,quero aqui deixar a merecida mensagem de PARABÉNS para os editores,organizadores e evidentemente para o Luís Graça.

Saúde para todos e que durante muitos anos nos acompanhemos uns aos outros.
Pela iniciativa de uns e pelo empenho de todos penso que estamos assim todos de parabens.

O almoço e o convívio em Monte Real foram o que toda a gente viu: um sucesso!!!
Aqui vão fotos do acontecimento com um grande abraço para todos do

António Vaz

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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9798: Tabanca Grande: oito anos a blogar (9): Os "nós" e os "laços" do nosso querido Blogue (Manuel Joaquim)

terça-feira, 24 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9799: O Nosso Livro de Visitas (133): Maximino Guimarães Alves, ex-Radiotelegrafista do STM (Bissau, 1972/74)

1. Mensagem do nosso camarada Maximino Guimarães Alves, ex-Radiotelegrafista do STM (Guiné, 1972/74), deixado no Poste 3498*:

Chamo-me Maximino Guimarães Alves, sou de Fafe, Minho.

Como Radiotelegrafista do STM a minha comissão na Guiné foi no Centro de Escuta do Agrupamento de Transmissões (Outubro de 1972 a Agosto de 1974).

O 1º Centro de Escuta onde fiz serviço ficava fora do quartel. Era numa das vivendas do lado de fora, quase em frente à Intendência... O 2º Centro de Escuta, quase no fim da minha comissão, já era junto a um dos blocos de casernas novas, perto do campo de futebol e do refeitório.

Recordo, do Centro de Escuta, o Furriel Santos Pereira, (fazia dupla comigo durante os serviços nocturnos, excelente parceiro, tradutor das mensagens que recebíamos), Garcia, Faustino Estanqueiro, Faustino Pinto de Jesus, Páscoa, Fur. Meira, Adelino Rei, Couto, e muitos outros que não me lembro o nome agora...

Terminei as segundas férias no dia 21 de Abril de 1974 regressando à Guiné no dia 22 de Abril de manhã. Iniciei o serviço precisamente no dia 25 de Abril de manhã, já no Centro de Escuta novo.

O que o Furriel Hélder Valério diz sobre o Centro de Escuta é exacto. Consistia, no que ao meu serviço dizia respeito, em receber mensagens em morse, normalmente com o texto em francês que depois eram traduzidas se fossem em texto normal, ou descodificadas pelos criptos se fossem codificadas.

Também gravávamos programas da BBC, Voz da América, discursos do Amílcar Cabral, da esposa, conhecida por Maria «Turra», etc...

No primeiro ano no Agrupamento, íamos almoçar e jantar ao Quartel General que fazia «fronteira» com o nosso... Só em 1973 tivemos o nosso refeitório novo que, por sinal, era excelente. Tenho várias fotografias do quartel e do centro de escuta. Gostava de as partilhar. O que devo fazer?


Também posso informar que vai haver um encontro no dia 5 de Maio, nos Arcos de Valdevez, de antigos militares do Agrupamento de Transmissões da Guiné. É organizado pelo Garcia. Se alguém estiver interessado posso fornecer o contacto dele.
O meu email é: maxalves@netcabo.pt


2. Comentário de CV:

Caro camarada Maximino, se quiseres engrossar a fileira dos camaradas das Transmissões deste Blogue, envia uma foto actual e outra do teu tempo de Guiné, de preferência tipo passe e diz-nos qual foi o teu posto militar.
Já sabemos a data em que foste para a Guiné, a data de regresso e onde fizeste serviço, mas muito mais terás para nos dizeres dos tempos passados em Bissau, principalmente nos meses mais próximos do antes e do pós 25 de Abril.

Ficamos a aguardar as tuas mensagens, descodificadas e desclassificadas, que deverás enviar para luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com e para um dos co-editores Carlos Vinhal e/ou Eduardo Magalhães Ribeiro.

Recebe um abraço dos camaradas das Transmissões deste Blogue e não só.
O teu camarada
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9753: O Nosso Livro de Visitas (132): Não se preocupem se não der notícias - só estamos sem eletricidade porque o gasóleo acabou! (Anabela Pires, Iemberém, Cantanhez)