sábado, 2 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P9985: Cartas do meu avô (7): Quarta carta: regresso à metrópole, 4 dias depois da inauguração da Ponte Salazar (J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Bissau, Cachil e Catió, 1964/66)





Lisboa > 29 de maio de 2012 > Ponte sobre o Rio Tejo >  Iniciada a sua construção em 5 de novembro de 1962, foi inaugurada em 6 de agosto de 1966... 

Foto: © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados.


A. Continuação da publicação da série Cartas do meu avô, da autoria do nosso camarigo Joaquim Luís Mendes Gomes, membro do nosso blogue, jurista, reformado da Caixa Geral de Depósitos, ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Os Palmeirins de Catió, que esteve na região de Tombali (Cachil e Catió) e em Bissau, nos anos de 1964/66.

As cartas, num total de 13, foram escritas em Berlim, entre 5 de março e 5 de abril de 2012. (*)


B. QUARTA CARTA > REGRESSO AO CONTINENTE


 I – A Ponte de Salazar

Quando partimos para a Guiné, em Agosto de 1963, do Niassa que nos levava, viam-se as obras de construção da ponte.

Não havia ainda tabuleiros. Só os pilares estavam cravados ao chão.

Vimos que, como num tear, uma aranha gigante passava o santo dia, feita maluca, dum lado para o outro do rio, lá nas alturas dos pilares, a desfiar uma linha de aço que ia tecendo e engrossando um dos cabos, suportes da ponte.


Quando estávamos para embarcar, em Bissau, corria a notícia de que a ponte estava pronta e iria proceder-se à sua inauguração.

Nada melhor que um batalhão a desfilar para assinalar esse feito. Dizia o boato. E dizia mais: Que seria aproveitada a nossa participação. A chegada do nosso paquete, - o Uíge – a Lisboa, estava prevista para o dia seis de Agosto.

Seriam dois quilómetros ou mais para palmilhar, um sacrifício nada de menosprezar… mas a vontade de regressar era tão forte que tudo se suportaria.Não sei porque razão. Só chegámos ao Tejo a dez de Agosto e aí soubemos que a inauguração já se tinha realizado. (**)

Por isso, apenas haveria o desembarque no mesmo Cais da Rocha. Seguir-se-ia a marcha do batalhão frente à tribuna dos Chefes Militares, ali mesmo, frente à gare marítima e depois, era o regressar a quartéis.
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 29 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9959: Cartas do meu avô (6): Terceira Carta - Em Bissau (J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Bissau, Cachil e Catió, 1964/66)


(**) Ponte sobre o Tejo (designação oficial), também conhecida anteriormente por Ponte Salazar, e  hoje, Ponte  25 de Abril > Dados recolhidos na Wikipédia:

Via >  A2 / IP7 e Linha do Sul
Cruza >  Rio Tejo
Localização  > Lisboa, Portugal
Design  > Ponte suspensa
Maior vão livre >  1 012,88 m
Comprimento total  > 2 277,64 m
Altura máxima  > 70 m (vão)
Início da construção >  5 de Novembro de 1962
Término da construção >  1966
Data de abertura >  6 de Agosto de 1966

Guiné 63/74 - P9984: Parabéns a você (429): Agradecimento e retribuição (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 01 de Maio de 2012:

Queridos amigos,
Estou profundamente reconhecido a todos aqueles que se lembraram de mim no meu aniversário e que me enviaram mensagens por diferentes proveniências*. A vossa amizade toca-me muito, o blogue, nos últimos 6 anos, tem sido um griot, uma trombeta, uma permanente fonte de inspiração e de aprendizagem.
Há camaradas que me vão enviando livros, a todos estou em dívida, o que posso fazer, e procuro fazê-lo com todo o rigor, é continuar a ler estas obras e a divulgá-las. Bem hajam por tanta gentileza.

E se me deram prendas retribuo com um pequenino texto de "A Viagem do Tangomau", um dos momentos mais hilariantes que vivi em Missirá, deu para entender que aquela população queria que eu tivesse âncoras no Cuor, para toda a vida. Só que esta vida dá muitas voltas e a âncora, a paixão pelo Cuor, tornou-se inextinguível por outros meios.

Recebam o reconhecimento do
Mário


Quando Mussá Mané propôs uma esposa ao Tangomau 

O Tangomau parece ter conseguido um relativo equilíbrio na sua aprendizagem na gestão de um quartel em tempo de guerra, no saber lidar com os problemas da população civil e na obtenção de confiança com os seus subordinados, simultaneamente consegue ter algum tempo para ler, ouvir música e escrever. Dirá mesmo num aerograma que tem horas de intensa laboração e que não se está a dar mal com o facto de um comandante viver as penas da solidão. Tem alguns pequenos problemas de saúde, é certo, os pés inchados, o dorso com líquen, sente-se mal alimentado, começa a doer-lhe o joelho direito, que aquele onde ele sofre de uma exostose, sente os ouvidos a supurar, não tem ilusões que aquela água infecta onde se lava é um verdadeiro atentado e um ninho de infeções.

E é nisto que Mussá Mané, chefe de tabanca de Missirá, num fim de tarde, lhe pede audiência para lhe propor uma noiva. Foi um acontecimento inolvidável, como se descreve.

As reuniões com o chefe de tabanca eram profundamente pragmáticas, para evitar equívocos na comunicação Mussá fazia-se acompanhar de um dos cabos guineenses, de preferência Zé Pereira, falava-se da falta crónica de arroz, ao princípio Mussá pedia uma coluna de reabastecimento para o dia seguinte, cedo percebeu que não valia a pena pôr a faca ao peito, colunas com viaturas era um acontecimento imprevisível, o Tangomau estudara em Mafra que não se diz a ninguém que se vai sair, é a única maneira de ter sempre o inimigo incapaz de jogar totalmente a seu favor com os planos de uma emboscada; aliás, os próprios picadores e os condutores de Unimog são informados com uma hora de antecedência, já sabem que não vale a pena barafustar, o nosso alferes procura não dar abébias para que a gente de Madina esteja de sobreaviso.

Ora naquela tarde, através de Ieró Candé (que já anunciou que vai casar e pediu férias para se ausentar 15 dias até Nova Lamego), Mussá pede uma conversa a sós, a reunião é prontamente concedida. Mussá devia ter uma doença de pele, tinha enormes manchas brancas que não estorvavam um sorriso doce e uma postura delicada. Entrou na morança, sentou-se, Umaru Baldé, o cozinheiro, trouxe um chá, enquanto beberricava com sorvos ruidosos, Mussá vinha lembrar a nosso alferes que não devia estar só, um homem precisa de uma mulher, alguém que lhe cuide da roupa e arrume devidamente os cómodos. Aturdido, nosso alferes não percebia a direção da conversa, Mussá referia que as meninas casadoiras tinham noivos ou estavam prometidas, nosso alferes teria de desculpar a seleção de noiva era muito restrita, na reunião entre homens grandes, a família do régulo e o próprio padre o assunto fora ventilado, até se consultara o responsável balanta de Finete, nosso alferes já era muito estimado, mais uma razão para ter uma companheira, pelo que todos eles após uma larga cogitação lhe vinham propor, e mais uma vez se pedia a nosso alferes que tivesse em conta os usos e costumes da terra, que aceitasse a viúva Nali Indjai, uma viúva de 23 anos, mãe de dois filhos, não procurada por homem algum.

Estupefacto por tal proposta, nosso alferes não sabia exatamente bem o que responder, tinha a garganta seca e temia uma resposta destemperada. Sabendo que era completamente errado propor uma longa meditação antes de responder ou, pelo contrário, refutar secamente, ocorreu-lhe dar a explicação que os cristãos só têm uma mulher, que ele pensava vir casar com aquela senhora da fotografia, ali em cima da secretária, mas que a maior dificuldade que se punha para aceitar tão honroso convite, uma dificuldade inultrapassável, e que convinha que Mussá a tivesse devidamente em conta, é que havia mais sete brancos em Missirá, o que pensariam estes homens se soubessem que o seu comandante tinha casado com Nali, mesmo que tivesse pago por ela três ou quatro vacas, a adornasse com prata e lhe desse lindos e vistosos panos, à altura de mulher de fama e fortuna, e para eles nada.

Mussá abanava a cabeça, um homem não deve estar só, além disso aquela cama era enorme, se ele aceitasse Nali, quem sabe, talvez não voltasse para a terra dos brancos, ali em Missirá já se percebera bem que nosso alferes se habituara às dificuldades e gostava da natureza. E estávamos neste impasse nas insistências e nas escusas, diga-se de passagem num derriço de linguagem, tudo próprio de gente bem comportada, é nisto que é anunciado o jantar, na mesma altura em que o furriel Ferreira veio pedir assentimento para a escala de serviço, apareceu o Teixeira das Transmissões com uma mensagem urgente e Ieró Candé veio recordar que pelo menos 4 soldados aguardavam ser recebidos com os sempiternos problemas de adiantamento de dinheiro.

Ambos de pé, nosso alferes agradeceu muito os cuidados com a sua vida afectiva, até admitiu voltar a falar do assunto, mas o discurso era tão determinante e o agradecimento tão afiado que foi assunto que nunca mais voltou à baila.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 31 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9967: Parabéns a você (425): Mário Beja Santos, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Guiné, 1970/72)

Vd. último poste da série de 2 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P9979: Parabéns a você (426): António Barbosa, ex-Alf Mil Op Esp da 2.ª CART/BART 6523 e Osvaldo Colaço, ex-Fur Mil da CCAÇ 3566

Guiné 63/74 - P9983: Contraponto (Alberto Branquinho) (45): Fogo de rajada com... morteiro

1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 31 de Maio de 2012 com mais um dos seus Contrapontos.

Caro Carlos Vinhal
Junto vai o texto para o CONTRAPONTO (45), que espero incluir no próximo "Última CAMBANÇA".

Um abraço do
Alberto Branquinho


CONTRAPONTO (45)

FOGO DE RAJADA COM… MORTEIRO

No Porto, chamavam “Ver-a-lista” aos homens e rapazes, habitualmente aleijados ou diminuídos mentais, que andavam pelas ruas vendendo lotaria. Por exemplo, alguém que estivesse sentado numa esplanada, ao avistar um vendedor de jogo, chamava:
- Ó Ver-a-lista!

O homem aproximava-se, exibindo a lista da última extracção e, também, o jogo que tinha para vender.

Apresentou-se na Companhia, ainda em formação e antes do embarque, um rapaz cuja cara parecia uma caricatura. Olhos esbugalhados e assustados, nariz estreito, anguloso e projectado para a frente, quase ausência de malares, queixo pontiagudo e com a bochecha direita perfurada por uma fístula. Verificou-se mais tarde que era provocada pela infecção de um dente, que foi tratada. Parecia ter sido arrancado de um quadro de Hieronymus Bosch.

Pois este rapaz, depois da observação sagaz e agressiva, que era habitual no meio militar, passou a ser chamado de “Ver-a-lista”.

Assustado, olhando em volta, chegou-se à porta do espaço onde funcionava a secretaria, parou e grunhiu qualquer coisa. O sargento, que não era propriamente uma pessoa suave e de trato fácil, berrou-lhe:
- Que é que queres, ó rapaz?

Ele estendeu a mão, mostrando os papéis de apresentação. O sargento agarrou neles, olhou-o atentamente e fez-lhe algumas perguntas. Pela postura e pelo aspecto, constatou que devia ter um atraso mental.

- Qual é a tua especialidade?
- Atirador… de… de… morteiro.
- Espera aí.

O sargento bateu na porta ao lado.
- Meu capitão, dá licença?

Entrou. Pouco depois chamou o rapaz, que entrou no gabinete do capitão.
- Então não cumprimentas o nosso capitão?

Ele tropeçou bota contra bota, desequilibrou-se. O sargento amparou-o. O rapaz estendeu a mão para cumprimentar o capitão e o sargento berrou-lhe:
- Cumprimento militar!
- Deixe lá, nosso sargento. Então, ouve lá rapaz. Disseste ao nosso sargento que és atirador de morteiro. É verdade?

O rapaz olhou o sargento com olhos assustados, olhou o capitão, olhou para as botas e, passado algum tempo, voltou a olhar o capitão e respondeu:
- Xim, xenhora!
- Então como é que fazes fogo com o morteiro?

Ele levantou ambas as mãos à altura do ombro direito, como quem segura uma arma e respondeu:
- Tá… ta…rá…tá…tá. PUM!!!
- Está bem. Podes ir embora.

Saiu.
- Nosso sargento, vamos aproveitar o rapaz nos trabalhos de limpezas e outros afins.

(Nesses tempos aconteciam situações semelhantes. Havia que aproveitar todos os homens e, em caso de menos cuidado: “Apurado para todo o serviço militar”).

Depois de passar a curiosidade e, até, espanto pela presença daquele militar bizarro (até a marchar era diferente, pois, para além de não conseguir acertar o passo, marchava como se estivesse a pisar uvas), passou a ser protegido, pelo menos por alguns.

Ao receber o pagamento do pré, olhava espantado o sargento que lhe entregava o dinheiro – então, tinha cama, mesa e… (roupa lavada não, porque era ele que a “lavava”) e ainda lhe pagavam?

- Então, Ver-a-lista, disseram-me que fazes fogo de rajada com o morteiro?
- Xim, xenhora!

Na Guiné, com o decorrer do tempo e com o crescer da agressividade entre os homens, criou um instinto de defesa, principalmente com os que não eram da Companhia.

- Ó Ver-a-lista tu sabes escrever?
- Xei calquer coijita.
- Tu não recebes correio. Não escreves à família?
- Nã, xenhora.
- Queres que eu escreva ou que te ajude?
- Eles xabem munto bem ond’é q’eu estou.

Durante o primeiro ataque ao quartel, alguém lhe berrou:
- Corre pr’ó abrigo, Ver-a-lista!!!
- O quê?!
- Os gajos estão a atacar!
- E ós’póis? O qu’é qu’eu fiz de mal p’ra ter que fugir?

Teve que ser empurrado para dentro.

No final da comissão voltou para a aldeia, em Trás-os-Montes. Também ele estava ainda mais duro, como todos os outros, mas não estava marcado pela guerra. Terá, alguma vez, entendido a realidade dentro da qual viveu durante cerca de dois anos? Estava mais esperto e mais risonho, não só por voltar a casa, mas também devido à taleiga cheia de notas, amarrada à cintura.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9891: Contraponto (Alberto Branquinho) (44): Se estou grávido ou não, não sei, mas...

Guiné 63/74 - P9982: Ser solidário (128): O contentor da ONG Ajuda Amiga finalmente desalfandegado, aberto e distribuido o seu conteúdo (Carlos Silva / Carlos Fortunato)

1. Mensagem do nosso camarada Carlos Silva (ex-Fur Mil Inf CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Jumbembem, 1969/71), co-fundador e dirigente da ONGD Ajuda Amiga, com data de 30 de Maio de 2012:

Meus Caros Amigos
O contentor da Ajuda Amiga enviado em Janeiro foi hoje descarregado na Cooperação Portuguesa em Bissau.
Recebemos um mail do nosso amigo Pepito que nos enviou as fotos em anexo.
Podem inserir no Blogue as que bem entenderem e até pedir uma foto para o Pepito onde ele também figure na coordenação do descarregamento.
Segue também o texto do Carlos Fortunato.

Um abraço amigo
Carlos Silva






2. Texto de Carlos Fortunato

Foi hoje desalfandegado o nosso contentor com ajuda para a Guiné-Bissau. Finalmente!
O contentor estava retido no porto de Bissau por causa da paralização dos serviços governamentais e não só, devido ao golpe de estado que ocorreu no passado dia 12 de Abril.
A Embaixada de Portugal através dos Serviços da Cooperação Portuguesa, desenvolveu durante este tempo várias acções no sentido de resolver este assunto, mas só agora foi possível a sua resolução.
O nosso parceiro guineense, a ONG AD, foi um apoio fundamental na ajuda na abertura do contentor e na sua distribuição, esta acção ficou a cargo do seu Director Executivo o Engº. Carlos Schwarz (Pepito).
Outra preocupação que tínhamos era que este atraso nos colocava em risco os bens, pois iríamos fazer esta acção na época das chuvas (a partir de 15 de Maio podem existir fortes chuvadas), o que iria originar a destruição de grande parte dos bens, além de dificultar o envio dos bens para Farim, mas felizmente não choveu.
Os nossos grupos de voluntários guineenses e os seus coordenadores realizaram mais uma vez com empenho as acções de descarga, carga, transporte e entrega nos vários destinos.
Não foi possível aos membros da Ajuda Amiga acompanharem desta vez este processo, apesar de terem estado na Guiné-Bissau quase 3 semanas aguardando pelo desalfandegamento, mas a situação política indefinida e instável, obrigou ao seu regresso.

Fica aqui o nosso muito obrigado aos nossos sócios, doadores e voluntários que em Portugal e na Guiné-Bissau, que apesar das muitas dificuldades (financeiras, logísticas, políticas, etc.) surgidas este ano permitiram com o seu apoio, que mais uma vez conseguíssemos levar o mesmo o ajudaram a levar até ao fim, e este ano pelos problemas criados pela fraca produção de caju, e pela paragem dos serviços governamentais, esta pequena ajuda que enviámos tem uma importância ainda maior.

Carlos Fortunato
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 21 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9931: Ser solidário (127): Anabela Pires, voluntária da AD, de regresso a casa, depois das suas (des)venturas em Iemberém e em Dakar

Guiné 63/74 - P9981: Tabanca Grande (342): Manuel Joaquim Santos Carvalho, ex-Fur Mil da CCAÇ 2366/BCAÇ 2845 (Jolmete, 1968/70)

1. Mensagem do nosso camarada, e agora tertuliano na efectividade de serviço, Manuel Joaquim Santos Carvalho* (ex-Fur Mil Armas Pesadas Inf, CCAÇ 2366/BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70), com data de 28 de Maio de 2012:

Caros Camaradas Luís e Carlos Vinhal
Apesar de só agora bater à porta da Tabanca, já há muito tempo que ando por aqui, a ver o que se vai escrevendo e até a fazer um ou outro comentário.

Talvez desde 2008 que foi quando juntamente com o meu irmão (o António Carvalho) que comecei a ir à Tabanca de Matosinhos, que tenho acompanhado tudo o que se passa à volta do blogue. Aprecio muito a vossa paciência o vosso bom censo e a vossa disponibilidade para gerir este espaço. O meu muito obrigado, porque este espaço é muito importante para todos nós combatentes da Guiné.

O motivo porque só agora me estou a apresentar é que não gosto muito de escrever e também lido muito mal com as tecnologias informáticas. Isto é tão verdade que já tenho feito algumas tentativas mas corre sempre alguma coisa mal. Muito recentemente estava a falar com um camarada da Companhia sobre o blogue, que até escreve muito bem para nos inscrever aos dois.

Bom posto isto vou começar por me apresentar.

- Sou o ex-Furriel Mil. Armas Pesadas de Inf. Manuel Joaquim Santos Carvalho, nasci e moro em Medas Gondomar, em 5 de Dezembro de 1945.
- Pertenci à CCAÇ 2366/BCAÇ 2845
- Sou casado, tenho 2 filhos e dois netos.
- Embarquei para a Guiné no Niassa em Maio de 1968, passamos diretamente para uma LDG e fizemos a viagem durante a noite para Teixeira Pinto onde chegamos pela manhã.

Cerca das 8 horas da manhã, na formatura de apresentação, acabados de por os pés em terras da Guiné sem mais qualquer instrução, mandam-me pegar na minha Secção e com seis milícias ir guardar a Ponte Alferes Nunes, perguntei onde era essa ponte disseram-me que os Milícias sabiam.

Durante a noite na LDG tinham distribuído uma G3 a cada um sem munições, pedi munições e mandaram-nos ir buscar à arrecadação. Seria moda naquele tempo porque lembro-me de o camarada Zé Belo que viajou também no Niassa contar que os largaram na margem do Cacheu de madrugada também com G3 sem munições.

Lembro-me também durante o IAO em Maio em Teixeira Pinto, fomos dormir ao Bachile para o Pelotão que lá estava ir a uma operação ou escolta ainda não havia luz elétrica.

Continuando, em Junho a Companhia foi para Jolmete e o meu Pelotão ficou no Pelundo.

Em Julho fomos também para Jolmete, com as tarefas de construir um quartel de raiz, de limpar a zona e sobreviver.

Com o decorrer do tempo e vendo os nossos resultados operacionais o nosso trabalho na construção do quartel, o General Spínola começou a dar-nos a entender que se continuássemos assim nos punha no fim da comissão numa zona boa e cumpriu, acabamos nos destacamentos de Quinhamel.

Em Abril de 70 regressamos também no Niassa. Estou a dizer regressamos mas, quando me falam em voltar à Guiné, eu digo que não porque acho que ainda estou lá.

Pois caros amigos já disse alguma coisa, um dia destes digo mais e espero ser aceite nesta família virtual que eu de certa maneira já vou acompanhando há uns tempos.

Um grande abraço
Manuel J Carvalho
CCaç 2366
Jolmete

Jolmete > Como não sei escrever tenho uma empresa que ensina a montar vacas

Jolmete > Na foto, a partir da esquerda: o Heitor do BENG, eu, o Mirandela, uma mulher grande e miúdos

Foto de Jolmete do tempo do Vigário e do Pe. Abel. Para o Manuel Resende e o Augusto Silva verem

Jolmete > Eu junto à Bandeira, vestido à Guinéu


2. Comentário de CV:

Caro camarada Manuel Carvalho, és mais um dos camaradas que já pertence à Tabanca Grande mesmo antes de entrar. És conhecido por muita da malta do nosso Blogue, principalmente do norte, que frequenta a Tabanca de Matosinhos. Se bem te lembrar, nós próprios nos conhecemos lá. Afinal esta promiscuidade tão saudável faz com que nos encontremos nas mais diversas situações e locais. Já agora um desafio, por que não apareceres no próximo Encontro Nacional da Tabanca Grande? Fazes uma vaquinha com o teu irmão António ou com algum dos camaradas que do Grande Porto se costumam deslocar a Monte Real. O teu "vizinho" Silva da CART 1689 esteve lá este ano acompanhado de sua esposa, e foi a oportunidade de eu os conhecer pessoalmente.

O não perceberes muito de informática não é desculpa para não participares no Blogue. Repara que mandaste um excelente texto, escrito directamente na mensagem, com as fotos e legendas como anexo. É um método simples e acessível. O não gostares de escrever é coisa que passa, escrevendo.

Acho que te disse tudo nesta primeira abordagem, ficando para o fim o envio do abraço de boas vindas em nome da tertúlia e dos editores.

Sabes que fico por aqui ao teu dispor.
O camarada e amigo
Carlos Vinhal
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 8 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8527: (Ex)citações (141): Já li e gostei muito do livro Catarse, do ex-capelão militar Abel Gonçalves (Manuel Carvalho, CCAÇ 2366, Jolmete, 1968/70)

Vd. último poste da série de 30 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9964: Tabanca Grande (341): Adriano Moreira (Admor), ex-Fur Mil Enf, CART 2412 (Bigene, Guidaje e Barro, 1968/70), grã-tabanqueiro n.º 560

Guiné 63/74 - P9980: (Ex)citações (182): A 38ª CCmds, o CAOP1 (Mansoa) e a coluna de 10 de maio de 1973, de Farim-Binta-Guidaje (António Graça de Abreu / Amílcar Mendes)

1. Comentário de António Graça de Abreu, com data de 29 de maio último, ao poste P9961:

Tenho pela 38ª Companhia de Comandos o maior respeito e admiração.

Estive com eles em Teixeira Pinto e Mansoa e são objecto de textos fraternos no meu Diário da Guiné.

A 9 de Maio de 1973 fui com eles, quatro Unimog do CAOP 1 e mais 40 homens da 38ª CCmds., e muito mais tropa e algumas viaturas civis, até Cutia. A grande coluna seguiu depois para Farim.

Tenho fotografia na pág. 82 do meu Diário da Guiné, à frente num Unimog com os homens da 38ª. em Cutia.

O destino destes homens não era Guidage que só começara a embrulhar a sério há dois dias, o destino era Farim, e a história das vacas que associei à ida da coluna para Farim é verdadeira, escrevi na altura,está no poste 9943 e eu não ia inventar.  Só que chegados a Farim, ninguém pensou mais em vacas,

Guidage começava a ser impiedosamente flagelada e os homens da 38ª, mais os Unimog e condutores do
CAOP 1 seguiram noutra coluna para Guidage, uma viagem de morte, também para o meu condutor do CAOP 1, David Viegas.

É possível que alguns dos comandos da 38º. nem sequer tenham ouvido falar em vacas, de início pensou-se
que iam apenas até Farim fazendo a escolta e reforçando a coluna. A ideia de no regresso trazer vacas de Farim para Mansoa deve te partido dos majores do CAOP 1.

Mas o meu relato bate certo com o do Amilcar Mendes.

A 25 de Maio, quase toda a 38ª, seguiu novamente para Guidage. Tenho comigo fotografias deles formados na parada de Mansoa, antes de partirem, e faço referência a tudo isto na página 105 do meu Diário da Guiné.

O Amílcar Mendes foi para Guidage na primeira leva, a da morte e da loucura. Na segunda, os homens que já lá haviam estado,  creio que permaneceram em Mansoa, ou em Brá, Bissau.

Pode existir sempre um qualquer erro no que escrevi, mas o essencial corresponde às realidades que todos vivemos. Tenho muita confiança nos dados do meu Diário da Guiné.

O impressionante relato do Amilcar Mendes é a nossa História, com todos os H grandes. Foi mesmo guerra e estes são os factos da guerra. É com eles, e não com opiniões de letrados que ignoram a verdade e a realidade que se faz a nossa História.


Dá o meu contacto ao Amilcar Mendes, tenho todo o gosto em oferecer-lhe o meu Diário da Guiné. Ele que me mande a morada dele e o livro segue pelo correio.


Abraço aos dois,

António Graça de Abreu





38ª CCmds (1972/74): História da Unidade: atividade operacional entre 3 e 10 de maio de 1973 (Elementos disponibilizados pelo Amílcar Mendes)


2. Esclarecimento, no mesmo dia, do Amílcar Mendes:

Amigo Luis Graça,  caros bloguistas e caro Antonio Graça Abreu:  não vou entrar aqui num bate papo sobre quem mija mais longe ou perto. Agradeço a consideração que o António G Abreu tem pela 38ª CCmds e respeito o que terá escrito no seu Diário da Guiné, mas sempre lhe vou dizendo que não o li... 

Contudo,  se lá escreveu que a 38ª CCmds, quando foi para Farim foi às vacas, amigo, deve emendar essa versão pois corre o risco de estar a enganar os seus leitores! 

Os grupos da 38* CCmds a que se refere estavam em operação na mata do Oio e fora
mandados regressar de propósito para escultar uma coluna de abastecimento a Farim! Ficaram la dois dias e só depois foi decidido utilizar os efectivos para continuar com a coluna para GUIDAJE! 

TENHO EM MEU PODER OS DOCUMENTOS, cópias,  claro, das ordens de operação do
comandante do CAOP1.  E a ordem era para escolta de reabastecimento de munições, víveres etc.,  a coluna vinda de Bissau e em primeira mão com destino a Farim! 

Pois, amigo Graça Abreu,  nunca ouvi falar nessa estória de vacas! Eu estava no 2º Grupo de Combate e na altura ero o 1º cabo da 1ª equipa desse Gr Comb. Segui diretamente da mata do Oio, Mansoa, Farim, Binta e Guidaje e não foi a 25 de Maio mas sim em 10 de MAIO DE 1973 QUE ESTA COLUNA SEGUIU! 

Os acontecimentos de 25 de Maio é outra história ! 

Sabes, amigo Luis,  ultimamente no Blog sucedem-se comentários sobre Guidaje que até fico atordoado e a pensar em que datas cabem todos os acontecimentos referidos!  (...)

Graça Abreu,  com todo o gosto me encontro contigo e te faço chegar às mãos todos os documentos sobre a 38ª CCmds  em Guidaje.

Abraços do Amílcar Mendes
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Nota do editor:


Último poste da série > 1 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P9973: (Ex)citações (181): Revisitando as cartas do alf mil Carlos Geraldes (José Freitas, ex-fur mil minas e armadilhas, CART 676, Pirada, 1964/66)

Guiné 63/74 - P9979: Parabéns a você (428): António Barbosa, ex-Alf Mil Op Esp da 2.ª CART/BART 6523 e Osvaldo Colaço, ex-Fur Mil da CCAÇ 3566

Para aceder aos postes dos nossos camaradas António Barbosa e Osvaldo Colaço, clicar nos seus nomes
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 31 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9967: Parabéns a você (425): Mário Beja Santos, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Guiné, 1970/72)

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P9978: (De)caras (11): Agradecimento ao capelão Baptista, hoje Ten Cor reformado, e pároco de Perosinho, V.N. Gaia, um camarada muito porreiro (Armando Pires)

Convívio da CCS do BCAÇ 2861, realizado na Nazaré, em 12 de Maio de 2012, no 42.º Aniversário do seu regresso da Guiné. O Alferes Capelão Baptista, hoje Tenente-Coronel reformado, está assinalado pela seta.


1. Mensagem do nosso camarada Armando Pires, ex-Fur Mil Enf.º da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70, com data de 28 de Maio de 2012:



Agradecimento ao Baptista, o nosso Capelão

Camaradas.
Por razões que não vêm ao caso, tenho andado por estes dias tão ocupado que só me tem restado tempo para vos ler.
Anda, assim, adiada a publicação da fotografia do último convívio do pessoal da minha Companhia, a CCS do BCAÇ 2861.

Foi na Nazaré, no passado dia 12. Obriguei-me a fazê-lo hoje. Coloco aqui, neste mural, esta fotografia, porque quero, queremos, todos os da Companhia, prestar um público agradecimento àquele rapaz que está ali na primeira fila, de calças de ganga e uma pasta preta na mão esquerda, assinalado com uma seta.
Ele é o Baptista. O alferes capelão Baptista. Augusto Pereira Baptista, hoje reformado das Forças Armadas com a patente de Tenente-Coronel.

Já aqui publiquei uma fotografia sua, ao lado do então comandante do Batalhão, Ten-Cor João Polidoro Monteiro. (vide P9034)
O Baptista está sempre presente nos nossos convívios. Sempre, não, que ele falhou três presenças seguidas e foi uma gritaria de todo o tamanho. Já vão perceber porquê.

O Baptista vem propositadamente ao nosso encontro para celebrar a "nossa" Missa. Tão "nossa" que rejeitámos que ela fosse celebrada por outro pároco qualquer. A nossa indignação foi tanta que o Baptista compreendeu e nunca mais nos faltou.
Porque ninguém, como ele, é capaz de dizer aquelas palavras que são a razão da grande vontade de estarmos juntos, todos os anos e sempre.
Porque ninguém, na hora de chamar pelos nossos mortos, diz os seus nomes como ele. Nesse momento, ninguém como ele é capaz de encher a igreja daquela emoção que de todos toma conta, com os olhos vidrados de lágrimas.

Quero, queremos, agradecer ao Baptista por isso. Ele chega, abraça-nos, celebra a Missa, torna a abraçar-nos e despede-se, com um pedido de desculpas por não ficar para o almoço mas tem obrigações a cumprir na paróquia dele.

Camaradas.
Quero dizer-lhes que esta é a única Missa que me consinto. Sou o que sempre fui. Agnóstico. E quero pedir-lhes que se algum dia encontrarem o Baptista ali no Perosinho, freguesia do concelho de Vila Nova de Gaia onde ele é pároco, falem-lhe, dêem-lhe um abraço, digam-lhe quem são, ele vai gostar e vocês também.

Porque o Baptista é um camarada muito porreiro.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 8 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9863: (De)caras (10): Relembrando o Fur Mil Joaquim de Araújo Cunha, natural de Barcelos, que pertencia à CART 2715 (Xime, 1970/72), e que foi morto de morte matada em 26/11/1970 (José Nascimento, CART 2520, Xime, 1969/70)


Guiné 63/74 - P9977: Blogpoesia (189): Natal no Iraque... (Joaquim Mexia Alves)


Capa do livro de poesia de Joaquim Mexia Alves, Orando em verso (Lisboa: Paulus Editora, 2012, 152 pp.).   As receitas da venda do livro destinam-se a um  fim solidário: a construção do Centro Social Paroquial da Marinha Grande. Pode ser encomendado através do mail do autor e membro da nossa Tabanca Grande: joquim.alves@gmail.com [JO... e não JOA...quim].

Valor do livro mais portes: 10,00 € + 1,26 € = 11,26 €.  O NIB da conta da Paróquia da Marinha Grande para onde se deverá  fazer a transferência é o seguinte: 003504410000378623020.

Se alguém pretender fazer o pagamento de outra forma, por favor informe o autor. Ele agradece que lhe em enviem, também por mail, um comprovativo da transferência. Fará de imediato o envio do livro. Para tal ele precisa do nome, morada e código postal do interessado... Ah!, e não se esquecem, de lhe pedir uma dedicatória autografada. A paróquia da Marinha Grande e o autor do livro muito agradecem.


Comprei-lhe o livro e prometi-lhe fazer uma "nota de leitura", com tempo e vagar. Para já, reproduzo aqui um dos poemas de que mais gosto, na sequência de uma primeira leitura: "Natal no Iraque" (pp. 93/95). É  uma forte afirmação da fé cristã do poeta, mas também é um sereno apelo à paz e à boa vontade entre os homens de todos os credos e nações, do próximo oriente ao próximo ocidente. Ah!, e como todos nós precisamos, hoje e agora, de paz e boa vontade entre todos os seres vivos que pertencem à espécie Homo Sapiens Sapiens, muitas vezes pouco ou nada sapiente, pouco ou nada inteligente, pouco ou nada tolerante... Enfim, um poema em forma de oração que bem podia ter sido escrito noutra data, noutro contexto. No Mato Cão, 1973... por exemplo. 











 Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Cuor > Destacamento de Mato Cão > 6 de Abril de 1973 > O Joaquim Mexia Alves, cmdt do Pel Caç Nat 52,  no dia em que fez 24 anos.  O livro de poesia que ele agora edita, aos 64 anos, é dedicado ao seu pai e à sua mãe, "meus primeiros e dedicados 'catequistas', exemplos indeléveis de vivência da fé"... E acrescenta o nosso camarada e amigo, que herdou do pai o talento para a escrita e a poesia: "Tentaram fazer de mim muitos mais do que o pouco que sou".  Um abraço camarigo para o Joaquim. LG

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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9952: Blogpoesia (188): Aos bravos de Bambadinca reunidos no sábado, dia 26, no Porto (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P9976: Efemérides (102): Leça da Palmeira vai homenagear os seus combatentes no dia 10 de Junho de 2012 (Carlos Vinhal)


No próximo dia 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, Leça da Palmeira vai, mais uma vez, homenagear os seus combatentes.  As cerimónias, patrocinadas pela Junta de Freguesia local e organizadas pelo Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, vai obedecer ao seguinte programa:

10H45 - Concentração em frente ao edifício da Junta de Freguesia de Leça da Palmeira.

10H50 - Içar da Bandeira Nacional na Junta de Freguesia.

11H00 - Sessão solene no Salão Nobre da Junta:

- Alocução por um ex-Combatente do Ultramar;
- Alocução pelo Presidente do Núcleo da Liga dos Combatentes de Matosinhos;
- Alocução pelo Presidente da Junta;
- Condecoração de ex-combatentes com a Medalha Comemorativa das Campanhas.

11H30 - Cerimónia no Cemitério de Leça da Palmeira – Talhão Militar da Liga dos Combatentes (presente Porta-Guião da Liga dos Combatentes):

- Deposição de coroa de flores no Talhão Militar, seguido de 1 minuto de silêncio;
- Clarim executa Toque de Homenagem aos Mortos;
- Hino Nacional;
- Fim da cerimónia.

12H00 - Missa na Igreja Matriz de Leça da Palmeira, em sufrágio dos combatentes falecidos em defesa da Pátria.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P9975: Efemérides (67): Ataque ao navio Patrulha Hidra, dia 20 de Maio de 1973 (António Dâmaso)

Guiné 63/74 - P9975: Efemérides (101): Ataque ao navio Patrulha Hidra, dia 20 de Maio de 1973 (António Dâmaso)

1. Em mensagem do dia 29 de Maio de 2012, o nosso camarada António Dâmaso (Sargento-Mor Pára-quedista do BCP 12, na situação de Reforma) enviou-nos o seu relato da emboscada perpetrada à LFG Hidra no dia 20 de Maio de 1973, no Norte da Guiné.


Navio Patrulha HIDRA navegando no Tejo
Com a devida vénia ao Blogue da Reserva Naval


ATAQUE AO NAVIO PATRULHA HIDRA

António Dâmaso

No dia 20 de Maio de 1973, depois da CCP 121 participar na Operação ”Ametista Real”, cerca das 19h30, não posso precisar a hora sei que era de noite, embarcámos em Ganturé, juntamente com alguns Comandos Africanos no Navio Patrulha HIDRA com destino a Binta, julgava eu que íamos regressar a Bissau.

Entrei à conversa com um camarada da guarnição 1.º Sarg. Artilheiro Joanás, fomos até uma salinha, depois de uma cervejinha bem fresca e de uma conversa, estávamos sentados e eu deixei-me vencer pelo sono, repentinamente cerca das 24h00, sou acordado com uma série de rebentamentos, o convés do navio tinha sido atingido*, havia granadas a arder (pólvora), tive a sensação que o paiol tinha sido atingido, mais tarde li algures que o que foi atingido foi um reservatório das peças Bofors de um dos canhões que equipavam o navio. O Joanás agarrou imediatamente num extintor, eu passei-lhe outro e com um em cada mão, apagou o incêndio naquele local, fiquei impressionado com a rapidez e destreza dele, não há dúvida que na Marinha, as guarnições dos navios estão muito bem preparadas para combater incêndios a bordo, quando vi as granadas incendiadas, fiquei com receio que estas rebentassem, o que teria acontecido se não tivessem sido extintas atempadamente.

A reacção ao ataque por parte da CCP 121 foi rápida e eficaz, dando origem a que os guerrilheiros do PAIGC tivessem desistido de mandar mais granadas para o convés do navio, porque se tivessem continuado, teriam provocado mais vítimas e estragos de maior monta, como era de noite não me apercebi bem dos efeitos do ataque, quanto à localização julgo ter sido na curva de Jugali.

De cada vez que eu tentava subir as escadas para o convés, aparecia-me um ferido que eu encaminhava para a enfermaria, tarefa dificultada por ser feita no escuro, isto repetiu-se várias vezes, um dos feridos era do meu pelotão, apontador do morteiro e ficou ferido num calcanhar. Recordo que no meio daquela confusão toda, alguém ter dito que faltava um Zebro (barco de borracha), chegamos a Binta na madrugada do dia 21. Pela manhã os feridos foram evacuados e nós lá ficamos, ao meu pelotão coube para alojamento um barracão de madeira junto do cais que ficava do lado esquerdo, Binta tinha sido em tempos um entreposto madeireiro.

Depois de ter desembarcado dei por falta de um rádio (banana), que só podia ter desaparecido no Patrulha, uma vez que tinha feito conferência de material antes de embarcarmos e o militar que o tinha à guarda foi ferido no ataque, como recebiam prémios por armamento ou equipamento, apreendido ou encontrado, mais tarde o rádio apareceu como tendo sido dado como achado por um Comando Africano na zona de Bigene.

À noite, estava a dormir, pelo quarto dia consecutivo, sou acordado com um ataque dirigido aos barracões, com lança granadas de foguete (RPG 2 e 7), vindo do outro lado do rio Cacheu, não ouve baixas mas além de termos ripostado ao ataque, tivemos de apagar um incêndio num dos barracões que ficava em frente ao nosso. Nesse barracão estava uma viatura carregada com caixões com destino a Guidage, os ataques já se tinham tornado uma rotina. Ainda ficamos em Binta mais um dia e uma noite, à espera de uma coluna de viaturas que viria de Farim com destino a Guidage.

Mais tarde quando me encontrei com o Joanás em Cacine, quando este andava a apoiar Gadamael Porto, disse-me que tinha sido louvado que a CCP 121 tinha tido uma citação elogiosa pela sua acção.

Um Ab
A. Dâmaso
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Notas de CV:

Vd. último poste da série de 31 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9972: Efemérides (66): Guidaje foi há 39 anos... A coluna do dia 29 de maio de 1973: a participação da 38ª CCmds (Pinto Ferreira / Amílcar Mendes / João Ogando)

(*) Ver poste de 16 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1665: Operação Larga Agora, Tancroal, Cacheu, local maldito para a Marinha (Parte I) (Lema Santos)

Em 20 de Maio de 1973 a LFG Hidra, frente à clareira de Jagali, a juzante da foz do rio Buborim, foi emboscada da margem Norte com RPG, armas ligeiras e morteiro 60 mm. O primeiro RPG deflagrou contra os cunhetes de munições da Boffors de vante, provocando rebentamentos e um grave incêndio, tornando a peça inoperativa. Reagiu de imediato e tudo acabou por se compor, não sem alguns estragos.

Foi elogiada a colaboração de elementos da CCP 121 e BCCmds (Baltalhão de Comandos) que, seguindo a bordo, conjuntamente com o navio, reagiram prontamente com o armamento de que dispunham. O resultado foram 3 feridos graves (Comandos) e 6 feridos ligeiros (Comandos, Paras e LFG).

Guiné 63/74 - P9974: Notas de leitura (365): Guiné e Cabo Verde: elementos para a sua unidade (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 18 de Abril de 2012:

Queridos amigos,

A unidade Guiné-Cabo Verde foi uma bandeira de guerra, um toque a reunir em nome da emancipação de um só povo. Sabemos como tal bandeira nunca foi aceite, no íntimo, por cabo-verdianos e guineenses, a despeito do sopro que avassalou África em torno da unidade e da formação de blocos regionais. Com raríssimas exceções, tudo falhou. No caso particular da Guiné e Cabo Verde foram apregoadas razões históricas que, quando rigorosamente dissecadas, são indemonstráveis. É verdade que se vive de mitos mas estes podem ser desvelados. Pegue-se no artigo de António Carreira e veja-se que aquela unidade também era fantasiosa. E Amílcar Cabral usou-a internamente, como se sabe sem proveito nenhum.

Um abraço do
Mário


Guiné e Cabo Verde: elementos para a sua unidade

Beja Santos

Em 1969, no decurso de uma conferência de quadros, em Conacri, Amílcar Cabral exibiu um texto de António Carreira acerca da unidade histórica e populacional da Guiné e Cabo Verde, evocando que até os historiadores do regime defendiam a mesma unidade que a do PAIGC. O texto de António Carreira tinha sido publicado na revista Ultramar, no número alusivo à viagem de Américo Tomás à Guiné, em 1968.

Vejamos o que escreveu Carreira que tanto gratificou o construtor exclusivo da tese de que a Guiné e Cabo Verde eram verso e reverso da mesma medalha.

Primeiro, Careira discreteia sobre o conceito de Guiné já que, como é por demais sabido, desde o século XV ao século XVII toda a costa entre o Senegal e o rio Orange era conhecida por Costa da Guiné. Quando estamos chegados ao século XIX o conceito retraiu-se até se confinar ao território que do sul do rio Gâmbia ou da embocadura do Casamansa até à parte norte da Serra Leoa. Num período intermédio também se usou a designação de Senegâmbia com várias aceções. O que interessa é que durante estes séculos em que os descobridores portugueses e depois outras potências aportaram à Costa Ocidental Africana, todos ávidos de comércio, incluindo o de escravos, à volta de um conceito diluído de Guiné processou-se a transferência de gente destas paragens para o povoamento das ilhas de Cabo Verde. Este povoamento do arquipélago processou-se com donatários e capitães-mores europeus e mestiços cabo-verdianos resultantes do cruzamento com mulheres negras levadas da Costa da Guiné. Era Cabo Verde quem administrava as praças e presídios do que hoje se aproxima do território da Guiné-Bissau e que foi a província da Guiné depois da Convenção Luso-Francesa de 1886: Cacheu, Farim, Bissau, Geba, Bolama, Buba. Analisando a história de Cabo-Verde percebe-se rapidamente que a fixação de populações, a natureza das atividades económicas, a coesão linguística, a presença cabo-verdiana nos negócios, etc., era totalmente distinta do que existia na Guiné. Só por extrapolação abusiva é que estas duas populações podem ser apresentadas em paridade, com coexistência cultural, social e económica.

Segundo, é facto que a Guiné e Cabo Verde tiveram economias complementares e pode dar-se parcialmente razão a Carreira quando diz: “A Guiné deu a massa humana que entrou no cadinho da mestiçagem; Cabo Verde desenvolveu-a. Daí a dificuldade de, em certos aspetos se falar de um território sem considerar o outro. Cabo Verde recebeu da Guiné uma contribuição humana inestimável. Para o seu povoamento concorreram, no geral, todas as etnias do continente fronteiro – do sul do Senegal à Serra Leoa, em particular. O quantitativo de cada uma delas é que é difícil de determinar. Das outras áreas a sul, à parte um ou outro elemento esporádico, nada se conhece com relevância”. Temos assim a nebulosidade da proveniência das mulheres africanas. E não se discute a evolução da mestiçagem como se esta fosse um dado imóvel. Nada subtrai à identidade cabo-verdiana ou facto de se saber que ao longo de séculos foram levados para as ilhas cabo-verdianas, escravos e imigrantes procedentes dessa vasta zona compreendida entre o rio Senegal e a Serra Leoa, a identidade não se forja só a partir de uma ancestralidade, requer língua, ilustração, pauta de usos e costumes, atitude religiosa, um quadro de aspirações – é este somatório que permite traçar o perfil dos povos e habilitar a distinguir e a aproximar de outras culturas.

Terceiro, é o próprio Carreira a abonar a identidade cabo-verdiana a partir da ocupação humana. Para além dos escravos e de imigrantes voluntários, o arquipélago assistiu a uma evolução do conceito de escravatura, urdiu-se uma classe de agricultores e camponeses, o catolicismo tomou conta praticamente de todos, o português foi assumido muito cedo como língua veicular e criou-se um crioulo totalmente autónomo. Carreira estuda as etnias dos diferentes grupos de escravos que chegaram à Guiné e não se esquece de dizer que eram naturais do Futa, da Gâmbia, de Goréa, do rio Nuno, do Senegal, de Angola, de Cabinda, da Costa da Mina, do Rio de Janeiro. Foi esta a miscelânea de povos que deu o cabo-verdiano com uma escravidão do tipo caseiro, tão pobre como as ilhas, sem nada a ver com as sociedades esclavagistas do Brasil. Só com uma grande dose de boa vontade é que se pode assegurar a unidade populacional Guiné-Cabo Verde. É facto que vamos encontrar cabo-verdianos como ponteiros em diferentes pontos da Guiné. Carreira refere mesmo que em 1900 ou talvez antes, cabo-verdianos oriundos de Santiago, para fugir às secas, criaram pontas no rio Farim. E diz mais: “Puderam recrutar trabalhadores balantas, papéis, manjacos para o desbravamento do mato e estruturação dos camalhões, valas de irrigação e todo o complexo de trabalho exigido por esta cultura. Os cabo-verdianos não abastados enveredaram pelos trabalhos que demandavam menores esforços físicos: trapicheiros, especialistas em fermentação de garapa e de alambicagem, etc. Como mestiços, não demonstraram possuir as qualidades de resistência física dos seus ascendentes de origem africana. Por isso mesmo, a colónia africana na Guiné encaminhou-se para o funcionalismo público e para o comércio. E desse modo exerceram uma influência cultural relevante sobre a massa nativa, miscigenando-se progressivamente”. Está pois esclarecido o que se entende por unidade, um conceito mítico, tão mítico que nessa unidade o cabo-verdiano é sempre cristão e o guineense muçulmano ou animista, no período colonial os cabo-verdianos dessa administração pública e desse comércio viviam separados dos guineenses dado que se consideravam civilizados.

De um artigo manifestamente apologético de uma Guiné historicamente ligada a Portugal por via de negócios de diferente índole, uma Guiné suficientemente elástica nas suas bases territoriais para ter dado séculos de gerações de cabo-verdianos que nunca se reviram em nenhuma pátria guineense, de um arquipélago de onde partiam funcionários e outra gente que se habituou a mandar, a organizar e a dispor das culturas, a intervir nos negócios, sempre junto da administração da colónia, houve capacidade para ficcionar uma unidade histórica e populacional, para proveito da propaganda do PAIGC. Ao não medir-se a dimensão da fábula, muitas vezes o confabulador sofre dolorosas consequências. Como, desde cedo, saltou à vista de toda a gente.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 28 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9953: Notas de leitura (364): Mitos Revolucionários do Terceiro Mundo, por Gérard Chaliand (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P9973: (Ex)citações (181): Revisitando as cartas do alf mil Carlos Geraldes (José Freitas, ex-fur mil minas e armadilhas, CART 676, Pirada, 1964/66)





Guiné > Região de Gabu > Pirada > CART 676 (1964/66) > O bom do senhor Barbosa, Chefe de Posto de Pirada na intrincada tarefa de fazer o recenseamento civil. Foto nº 59 do álbum de Carlos Geraldes (1941-2012).

Foto (e legenda): 
© Carlos Geraldes (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, Todos os direitos reservados.


1. Comentário de José Freitas, com data de 16 de maio último, ao poste P4980 (*):

Eu pertenci à mesma CART  676  (**) como o alferes Geraldo [sic]. Sou o José Guilherme  Teixeira da Silva Freitas,  furriel miliciano de minas e armadilhas,  e  confesso-me  muito surpreendido com as suas narrações. 


O Alferes Geraldes  conta muitas histórias com que eu não concordo. Só para dar um exemplo: eu é que ajudei com a tradução em francês várias vezes [, nos contatctos com as autoridades senegalesas]. Até ensinei aos  cabos que trabalhavam na secretaria com o 1º sargento,  na escola em  Pirada. 

Também fui eu que usei granadas ofensivas como armadilhas para  proteger os sargentos que moravam numa pequena casa fora do  aquartelamento, [em Pirada]. Fui também com o Capitão [Álvaro Santos Carvalho]  Seco e mais 15 soldados,  fomos num Unimog devido a informação recebida dum grupo terrorista e fomos  emboscados,  perdendo a viatura. Tivemos que desertar [sic] pois eles eram um grupo de 200,  pelo menos. 

O que li de você,  Alferes Geraldes,  é a SUA HISTÓRIA, mas há outros que tiveram uma importância também...

2. Comentário do editor:

Obrigado, José Freitas, nosso leitor e camarada, pela visita ao blogue e pelo comentário ao poste do Carlos Geraldes, ex-Alf Mil da CART 676, Pirada, Bajocunda e Paúnca, 1964/66. Trata-se de um série, Cartas, que cobrem o período da vossa comissão de serviço (maio de 1964 a março de 1966), e de que se publicaram dez postes. Espero que os tenha lido todos (*).


Certamente por lapso de memória, você - que presumo viva no Brasil, não ? - começou por tratá-lo por Geraldo. O seu nome é Carlos Adrião Geraldes. Ou melhor, era: o Carlos já não está entre nós, faleceu de ataque cardíaco, em Viana do Castelo,  no princípio deste ano. Infelizmente ele já não poderá acrescentar mais nada ao que deixou escrito no nosso  blogue, e que é muito e é valioso. Às vezes quando lemos os escritos dos outros, "vemos a árvore mas não a floresta". 


De qualquer modo, o José Freitas fica desde já convidado a integrar o nosso blogue, bastando para tal mandar-nos duas fotos da praxe e contar-nos uma ou mais histórias, as suas histórias. O nosso blogue existe (desde há 8 anos), justamente por que todos fomos e somos  importantes. Todos, sem exceção. Você, o Carlos, eu, todos os camaradas de armas que passaram pelo TO da Guiné. (***)


Alguns camaradas nossos fizeram comentários elogiosos,  a propósito desta série epistolar, em que o Carlos Geraldes descreve, entre a ternura e a ironia, o seu quotidiano nos sítios do setor por onde passou (Pirada, Bajocunda, Paunca), as relações entre camaradas e as relações dos militares da CART 676 com os comerciantes e as autoridades locais... Alguns destes comentadores conhecem a região, por lá terem estado em data posterior à vossa saída. Aqui ficam uma seleção desses comentários:


(...) Uma série de altíssima qualidade, que, a meu ver, prestigia o blogue (Carlos Cordeiro, 16/9/2009);

(...)  A tua guerra está cheia de episódios fortes e delicados. Talvez esta chuvada possa serenar o ambiente, ademais a senhora já abalou. Quanto às libertinagens referidas, eram frequentes nos vinte aninhos, e punham a nú a fragilidade da NT. Acho eu que isso ainda vai acabar bem. Continua (José Manuel Diniz, 11/9/2009);

(...) Não há duvida que os nomes maçaricos e piriquitos se deve a duas espécies de pássaros muito comuns na Guiné, os maçaricos amarelos os periquitos verdes.
Mas a razão de a tropa portuguesa ser cognominada com esses termos. As madrinhas foram as nossas ex-lavandeiras que iam esperar os militares e oferecerem os seus préstimos de lavandeira. De tal modo a malta formada a preceito de farda amarela mais pareciam os tais bandos de maçaricos. Então elas diziam, 'jubi chegaram mais manga de maçaricos'. Mas eis que em mais uma nova chegada de militares mas todos de farda verde, surpresa total nas lavandeiras, 'jubi agora maçarico cá tem! Agora só manga de piriquito'. Se há outros motivos quem sou eu para discordar.
(José Colaço, 9/9/2009)

(...) Com que então sardinha assada? Como dizia o outro: ele há guerras... e guerras! Mas as descrições que fazes compensam com delícia as dificuldades passadas. Um Ford T? Outra maravilha só possibilitada em África. Aguardo os próximos episódios. (José Manuel Dinis, 3/9/2009)

(...) estive lendo o teu P4892 e quando falas de Bajocunda deixa-me uma grande alegria pelo tempo que lá estive se bem que com oito anos de diferença, mas o engraçado é que quando lá cheguei em Nov 73 havia três frigoroficos a petróleo um maior que os outros já não funcionava e se calhar era o mesmo que tu lá encontraste no dia 8 Fev 65. (Amílcar Ventura, 2/9/2009);


(...) Bela vida e boa descrição. Já não conheci Pirada com essa tranquilidade, mas sei que era assim, e que o Soares era homem-grande. Sei que, dessas cumplicidades, foi permitido viver com tranquilidade. E sei de uma senhora que se deslocava de Bajocunda usando um jeep. Ali vivia-se como em África, romântica, misteriosa, solidária.
Manda mais sff.
(José Manuel Dinis, 28/8/2009)

(...) Aqui o Carlos, por meio de períodos claros e sucintos, faz descrições muito interessantes sobre a saga da nossa tropa por matos e bolanhas da Guiné.  Quando pode ainda dá umas ferroadas, ora no regime, ora na estrutura repressiva. Não nos dignifica, mas retrata comportamentos de mal-amados.  Tem havido manifestações exageradas na defesa da honra no convento, mas para a história verdadeirq não podemos ignorar as nossas fraquezas e alguns comportamentos deploráveis.Os meus parabéns. (José Manuel Dinis, 25/8/2009) (...) Curiosamente ao ler os aerogramas que fui trocando com a familia, também sou levado a chegar à conclusão que a guerra da Guiné era um mar de rosas, mas era de tal maneira que nem os familiares acreditavam. Como nós haverá muitos camaradas que o fizeram. (César Dias, 14/8/2009)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 20 de setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4980: Cartas (Carlos Geraldes) (9): 2.ª Fase - Janeiro a Março de 1966


Vd. os restantes postes da série (no total são dez):


23 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4997: Cartas (Carlos Geraldes) (10): 2.ª Fase - Abril de 1966 - Epílogo - O Regresso

15 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4958: Cartas (Carlos Geraldes) (8): 2.ª Fase - Outubro a Dezembro de 1965

10 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4933: Cartas (Carlos Geraldes) (7): 2.ª Fase - Julho a Setembro de 1965

7 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4916: Cartas (Carlos Geraldes) (6): 2.ª Fase - Abril a Junho de 1965

3 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4892: Cartas (Carlos Geraldes) (5): 2.ª Fase - Janeiro a Março de 1965

28 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4875: Cartas (Carlos Geraldes) (4): 2.ª Fase - Outubro a Dezembro de 1964

25 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4861: Cartas (Carlos Geraldes) (3): 1.ª Fase - Agosto e Setembro de 1964

21 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4848: Cartas (Carlos Geraldes) (2): 1.ª Fase - Maio a Julho de 1964

14 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4821: Cartas (Carlos Geraldes) (1): Apresentação e Prólogo


(**) CART 676:  Mobilizada pelo RAP 2. Partida: 8 de maio de 1964. Chegada: 27 de abril de 1966. Localização: Bissau, Pirada, Bissau. Comandante: Cap Art Álvaro Santos Carvalho Seco.

(***) Último poste da série > 30 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9965: (Ex)citações (180): Defendendo a honra do BCAV 8320/72, Bula, 1972/74, que foi acusado de rebelião, em agosto de 74, e cujo pessoal vai fazer sábado, dia 2 de junho, na Trofa, o seu XXVI Encontro anual (Zeca Pinto)