Caro Luís Graça,
Sobre os médicos só sei dizer que, quando estava a tirar a recruta em Santarém, também andavam lá alguns médicos a fazer a recruta deles e alguns, coitados, já com uma rica barriguinha e mais idade do que nós, bem lhes deve ter custado.
No entanto deconheço completamente os trâmites que lhes estavam destinados depois da recruta: talvez tivessem de estudar pelo menos as doenças tropicais.
No caso dos furriéis enfermeiros iam par a Escola do Serviço de Saúde Militar tirar o seu curso de enfermagem do qual faziam parte as seguintes disciplinas: Primeiros Socorros, Enfermagem, Profilaxia Tropical, Higiene, Guerra Química e Táctica Sanitária.
Tinhamos mais uma ou duas ligadas ao estudo do RDM [, Regulamento de Disciplina Militar].
Ficávamos aboletados no Batalhão de Sapadores do Caminho de Ferro em Campo de Ourique e tínhamos que ir para as aulas que eram ministradas nas traseiras da Basílica da Estrela [, ocupadas pelo Hospital Militar Principal]. .
Tínhamos também uma ou duas horas por semana para tomarmos contacto com os Hospitais para colhermos elementos que no futuro nos seriam úteis.
Imagem do sítio oficial da ESSM -Escola de Serviço de Saúde Militar (, reproduzida com a devida vénia...). Trata-se de "um estabelecimento de ensino superior, integrado na rede do ensino superior politécnico", criado em 2 de Agosto de 1979 pelo decreto-lei nº 266/79. A ESSM está colocada na dependência directa do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA). É herdeira da Escola de Enfermagem da Armada e da Escola do Serviço de Saúde do Exército, entretanto extintas. "O ensino nesta escola abrange essencialmente três áreas distintas, dependentes de uma direcção de ensino: a enfermagem, os cursos de tecnologias de saúde e os cursos de saúde militar (...) Os cursos de saúde militar não são conferentes de grau académico e envolvem diversas áreas de formação, nomeadamente socorrismo, emergência médica e patologia de adição (alcoolismo e toxicodependência)."
Depois do Curso terminado, fazíamos um pré-estágio de 10 semanas. No meu caso fi-lo no Hospital Principal. De seguida tínhamos um estágio de 6 meses e só a partir daí é que fcavamos prontos a ser enfermeiros mobilizáveis.
Recordo-me ainda hoje de me ter sido dito por um dos meus professores para nos esquecermos que o mercurocromo existia e passarmos a usar somente tintura de íodo e nunca nos esquecermos de distribuír os comprimidos para evitar a malária.
Quando embarcamos como Companhia Independente que éramos, não ia nenhum médico connosco, mas entretanto quando fomos colocados em Bigene apesar da CART 1745 ser uma companhia independente estava lá um médico a fazer serviço. Nessa altura ainda não tinha enfermaria, mas um ano depois já tinha para militares e civis.
A nossa companhia nunca teve médico nem enfermaria, apenas postos de socorros e o de Guidage nem esse nome merecia. Em Binta e Barro já tinhamos mais condições de trabalho.
Evacuações fiz algumas, devido a ferimentos de guerra e a rebentamento de minas, quando via ou me parecia que podia haver problemas que me ultrapassavam não hesitava. Poucas consultas externas para o HM 241 de Bissau e lá fui atamancando as coisas conforme pude e soube e tive a sorte de não ver ninguém morrer-me nos braços.
Um grande abraço para todos.
Adriano Moreira
Fur mil enf
Cart 2412
Bigene, Binta, Guidage e Barro
(1968/70)
P.S. O atendimento a civis era também prestado pelo corpo de enfermagem ou seja eu e 3 cabos auxiliares de enfermeiro e ainda o pessoal que vinha do Senegal também era atendido quando estivemos em Guidage.
____________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 17 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11849: Os nossos médicos (66): Não fui evacuado para a Metrópole mas acompanhei três evacuações, duas via TAO, incluindo um Super Constellation de carga, transformado em enfermaria, oriundo de Moçambique, com militares quase todos portadores de queimaduras provocadas pelas granadas de 'fósforo' (J. Pardete Ferreira)
(**) Sobre a série "Os nossos enfermeiros", vd os postes anteriormente publicados:
2 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11045: Os Nossos Enfermeiros (8): Diagnóstico salomónico (Adriano Moreira)
20 de setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4978: Os Nossos Enfermeiros (7): Excerto do Diário de um Enfermeiro (José Teixeira)
16 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4965: Os Nossos Enfermeiros (6): Os Nossos Anjos da Guarda (Joseph Belo)
15 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4960: Os Nossos Enfermeiros (5): Os Enfermeiros dos Lassas, na lama e no duro (Mário Fitas)
10 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4935: Os Nossos Enfermeiros (4): Valioso trabalho desenvolvido pelo Fur Mil Enf Rui Esteves (CCAÇ 3327) e a sua equipa (José da Câmara)
9 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4927: Os Nossos Enfermeiros (3): Às vezes até fazíamos o que não sabíamos (Armandino Alves)
7 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4914: Os Nossos Enfermeiros (2): As malditas doenças venéreas e a bendita... penicilina (Armandino Alves, CCAÇ 1589, 1966/68)
7 de Setembro de 2009> Guiné 63/74 - P4912: Os Nossos Enfermeiros (1): A formação de Enfermeiros e Auxiliares (José Teixeira)
Recordo-me ainda hoje de me ter sido dito por um dos meus professores para nos esquecermos que o mercurocromo existia e passarmos a usar somente tintura de íodo e nunca nos esquecermos de distribuír os comprimidos para evitar a malária.
Quando embarcamos como Companhia Independente que éramos, não ia nenhum médico connosco, mas entretanto quando fomos colocados em Bigene apesar da CART 1745 ser uma companhia independente estava lá um médico a fazer serviço. Nessa altura ainda não tinha enfermaria, mas um ano depois já tinha para militares e civis.
A nossa companhia nunca teve médico nem enfermaria, apenas postos de socorros e o de Guidage nem esse nome merecia. Em Binta e Barro já tinhamos mais condições de trabalho.
Evacuações fiz algumas, devido a ferimentos de guerra e a rebentamento de minas, quando via ou me parecia que podia haver problemas que me ultrapassavam não hesitava. Poucas consultas externas para o HM 241 de Bissau e lá fui atamancando as coisas conforme pude e soube e tive a sorte de não ver ninguém morrer-me nos braços.
Um grande abraço para todos.
Adriano Moreira
Fur mil enf
Cart 2412
Bigene, Binta, Guidage e Barro
(1968/70)
P.S. O atendimento a civis era também prestado pelo corpo de enfermagem ou seja eu e 3 cabos auxiliares de enfermeiro e ainda o pessoal que vinha do Senegal também era atendido quando estivemos em Guidage.
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 17 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11849: Os nossos médicos (66): Não fui evacuado para a Metrópole mas acompanhei três evacuações, duas via TAO, incluindo um Super Constellation de carga, transformado em enfermaria, oriundo de Moçambique, com militares quase todos portadores de queimaduras provocadas pelas granadas de 'fósforo' (J. Pardete Ferreira)
(**) Sobre a série "Os nossos enfermeiros", vd os postes anteriormente publicados:
2 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11045: Os Nossos Enfermeiros (8): Diagnóstico salomónico (Adriano Moreira)
20 de setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4978: Os Nossos Enfermeiros (7): Excerto do Diário de um Enfermeiro (José Teixeira)
16 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4965: Os Nossos Enfermeiros (6): Os Nossos Anjos da Guarda (Joseph Belo)
15 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4960: Os Nossos Enfermeiros (5): Os Enfermeiros dos Lassas, na lama e no duro (Mário Fitas)
10 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4935: Os Nossos Enfermeiros (4): Valioso trabalho desenvolvido pelo Fur Mil Enf Rui Esteves (CCAÇ 3327) e a sua equipa (José da Câmara)
9 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4927: Os Nossos Enfermeiros (3): Às vezes até fazíamos o que não sabíamos (Armandino Alves)
7 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4914: Os Nossos Enfermeiros (2): As malditas doenças venéreas e a bendita... penicilina (Armandino Alves, CCAÇ 1589, 1966/68)
7 de Setembro de 2009> Guiné 63/74 - P4912: Os Nossos Enfermeiros (1): A formação de Enfermeiros e Auxiliares (José Teixeira)