sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12781: Convívios (565): CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71): Alverca, Quinta Marquês da Serra, em 22/3/2014... Organização: Joaquim Lessa, da Tipografia Lessa, Maia, que também é o editor da brochura "Histórias da CCAÇ 2533"



1. Mensagem do nosso camarada Luís Nascimento, com data de 26 do corrente:

Camarada Luis Graça,

Venho por este meio pedir divulgação do próximo  convívio da minha COMPANHIA, a CCAÇ 2533 [Canjambari e Fraim, 1969/71].


Será neste altura que vou resolver a situação do livro da dita [, com diversas histórias dentro da história da unidade, e cuja reprodução aqui no blogue está pendente de autorizações dos respetivos autores,  a começar pelo seu antigo comandante].

Um abraço, Luis Nascimento (Assassan)




Capa das "histórias da CCAÇ 2533", uma brocuhra editada pelo 1º ex-cabo quarteleirio, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa. Trata-se de um documento impresso, mas que não é formalment um livro, disponível n as livrarias... A sua elaboração contou com a participação de diversos ex-militares da companhia (oficiais, sargentos e praças). As primeras 25 páginas são do cap Silvino R Silva, hoje cor ref.

A avaliar pelo material, digitalizado, que o Luís Nascimento me mandou,  não se trata, de facto,  de um "publicação formal", ou seja, um "livro", com ISBN - International Standard Book Number [, o Número Padrão Internacional de Livro:]. E seio que  nem sequer está á venda nas livrarias...


2. Mensagem, com data de 8 de janeiro último, do Luís Nascimento, respondendo a um pedido meu sobre a confirmação da autorização para se publicar, no nosso blogue, as "histórias da CCAÇ 2533".

Amigo Luís Graça,

Não há qualquer problema na publicação do livro da C.CAÇ. 2533. Foi escrito sob a orientação do ex-1º cabo quarteleiro Joaquim Lessa, também responsável pela sua impressão (é proprietário da tipografia Lessa, na Maia).

E-mail: joaquimlessa@tipografialessa.pt

Ele é o dinamizador dos almoços, convívios da 33. Telemóvel (...), não tenho o contacto do Coronel.


Um Alfa Bravo, Luis Nascimento


3. Falei, entretanto, ao telefone com o Joaquim Lessa, em 11 de janeiro último, tendo feito no aseguinte um resumo do teor da conversa, ao Luís Nascimento [, foto atual, *a esquerda],  nestes termos :

Luís: Falei ontem, por telemóvel, com o Joaquim Lessa... Manifestei-lhe o meu interesse em publicar, no todo ou em parte, o vosso livro de histórias, com o devido reconhecimento dos direitos de autor... Disse-lhe que tinha o material digitalizado por ti. E convidei-o para integrar o blogue, como membro da Tabanca Grande... 

A princípio, ele foi defensivo... É natural, não me conhece, embora já tenha ido ao blogue... Sei que é um homem ocupado e preocupado com os seus negócios, como qualquer empresário hoje em dia.

Resposta: Por ele, tudo bem, mas era preciso consultar todos os autores, alguns poderiam ter objeções, suscetibilidades, reservas... Uma coisa era o livro, de que se fizeram 50 (?) exemplares, distribuidos no convívio anual, há 4 (?) anos atrás,. Outra coisa era divulgação num blogue com a publicidade do nosso, o Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné que tem 636 membros inscritos...

Disse-lhe que era também uma homenagem a todos vocês, do capitão ao soldado, que se juntam e partilham histórias dos bons e maus momentos vividos no tempo de guerra, na Guiné...

Esqueci-me de lhe dizer que vocês e eu fomos no mesmo barco, no Niassa, em 24 de maio de 1969, e regressámos juntos, a 17 de março de 1971, no Uíge!... Que fantástica coincidência!... Eu pertencia á CCAÇ 2590 que deu origem à africana CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71)...

Na continuação da minha conversa disse-lhe mais ou menos isto:  vocês (CCAÇ 2533) são exemplo para todos nós, ex-combatentes da Guiné... E o livro deveria (e merecia) ser divulgado num blogue como o nosso que tem um milhão de visitas por ano (fora a página do Facebook)...

O Joaquim Less acabou por me dizer que sim, senhor, se calhar não há problemas, "eu depois falo com a malta"...  Disse-lhe que temos diversos camaradas da Maia como membros da nossa Tabanca Grande, e que a sua presença também muito nos honraria. Neste momento, só tu, Luís, representas a CCAÇ 2533. (...).

Vamos aguardar, pelo próximo dia 22 de março, para que o Luís Nascimento, o Joaquim Lessa e os demais "homens grandes" da antiga CCAÇ 2533 cheguem a um acordo quando ao deferimento do meu pedido... Até lá, desejo-lhes um magnífico e fraterno encontro. (LG)
_________________

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12780: Filhos do vento (29): Ainda a história do Manuel Barros Castro, natural de Fafe, ex-fur mil enf, CCAÇ 414 (Catió, Bissau e Cabo Verde, 1963/65), e os preconceitos ainda hoje existentes (Jaime Bonifácio Marques da Silva)

1. Mensagem, com data de 12 do corrente, do nosso camarada Jaime Bonifácio Marques da Silva [, ex-alf mil para, BCP 21, Angola, 1970/72], prof educ física ref, e ex-autarca,  lourinhanense a viver em Fafe há cerca de  4 décadas [, foto à direita]:

Caro Luís:

Quanto ao Furriel Manuel Barros Castro  [, foto abaixo] (*)...

Estive hoje a tomar café com ele. Autoriza-me a enviar-te o seu n.º de telefone e o email. Podes contactar com ele,  pois está recetivo a aderir ao Blogue.

Manuel Barros Castro, Catió, c. 1963/64
O mesmo se passa em relação à jornalista do Público, Catarina Gomes. Ele está recetivo e falar com ela. Incentivei-o a isso e reforcei a importância de lhe dar o seu testemunho.

Deu-me mais alguns pormenores que eu não sabia:

A filha, a Mimi, era casada com um colega professor e deixou uma filha de 11 anos que está a ser educada pelo pai, claro, mas com grande apoio dos avós. Aliás, frequenta a escola em Fafe.

Voltámos a falar da mentalidade da época, dos preconceitos sociais em relação à “cor” da pele e à rejeição social, sobretudo nas aldeias do norte e interior do país, a dificuldade em aceitar casos destes. Diz que sentiu bem os “olhares” quando a filha chegou. Aliás, quando se referiam à filha, perguntavam-lhe: “Então como vai a sua filha adotiva”?  Ao que o Manuel Castro, disse, respondia perentório: “Eu não a adotei. A menina é mesmo minha filha”.

Disse-me, ainda, que no dia do funeral da filha, a madrinha (de quem já te falei) esteva em Portugal e esteve presente. Pois as pessoas, ainda então, “cochichavam” ao ouvido” e perguntaram-lhe, mesmo, se ela não seria a mãe. Teve que esclarecer que mãe já tinha falecido e que a senhora era a madrinha da Mimi.

Lembrei-me da história do meu colega de escola, do Seixal,  de quem já te falei (**). Quando me deu o seu testemunho, disse-me que, algum tempo após o regressoa metrópole,  teve saudades e pensou seriamente em mandá-los vir da Guiné, ao filho e à mãe.  Mas, disse-me (na presença de mais dois conterrâneos, um deles esteve na Guiné, também) que recuou,  com medo do que iriam dizer as pessoas !

Como tu bem dizes, não se deve julgar.

A propósito, o Castro disse-me, hoje, que nos encontros da companhia alguém (que ele identificou) lhe perguntou: “Trouxe a miúda, porquê?
___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 6 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12687: Filhos do vento (27): Manuel Barros Castro, natural de Fafe, fur mil enf, CCAÇ 414 (Catió, Bissau e Cabo Verde, 1963/65) teve uma filha, de mãe guineense,e que ele de imediato perfilhou, Maria Biai Barros Castro (1964-2009)... Uma história exemplar (Jaime Bonifácio Marques da Silva)

Guiné 63/74 - P12779: CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, Tavira, 1968: Instruções ao sold recruta nº 821, do 3º turno de 1968, incorporado na 3ª Companhia, assinadas pelo comandante, cap inf Eduardo José Moreira Fernandes (César Dias, ex-fur mil, sapador, CCS / BCAÇ 2885, Mansoa, maio de 1969/março de 1971)



Bilhete de identidade do César Dias, sold do CSM nº 197356/68, emitido em 16/7/1968

Fotos [de cima e de baixo): © César Dias  (2014). Todos os direitos reservados


1. Documento recolhido e digitalizado pelo nosso amigo e camarada César Dias, que fez a recruta no 3º turno de 1968, do CSM, no CISMI, Tavii.

Trata-se de instruções dadas ao sold recruta nº 821/3ª, assinadas pelo comandante, o cap inf  Eduardo José Moreira Fernandes.

O César foi meu contemporâneo no CISMI (fizemos a especialialidade em Tavira, no CISMI, na mesma altura, set/dez de 1968, ele como sapador, eu em armas pesadas de infantaria; foi fur mil sapador da CCS/BCAÇ 2885, Mansoa, Maio de 1969/Março de 1971.  [, foto à esquerda].



António Salgadinho
São Brás, Faro, 1975/76
 
Ficamos a saber que o ten Madeira era o comandante adjunto da 3ª
companhia, e que havia 6 pelotões, sendo o alf Mascarenhas o comandante do 1º... Os restantes eram comandados por aspirantes:  Domingos (2º), Pontes Silva (3º), Antunes (4º), Neto (5º) e Sousa e Silva (6º). O 1º sargento da 3ª companhia era o  Sena.

Mais, ficamos a saber que o "ideólogo" do CISMI (Chefe de Gabinete de Estudos, subdiretor do CISMI e 2º comandante da unidade) era muito provavelmente  o cap  António Salgadinho São Brás [, foto à direita, em 1975/76, como comandante di Centro de Recrutamento de Faro; cortesia do sítio do Exército]: provavelmente o  "guia do instruendo" seria da sua lavra...

O comandante da unidade, por sua vez,  era o major José Bernardo Cruz Aragão Teixeira [, que irá comandar, em 1970/72, em Moçambique, um batalhão de caçadores, o BCAÇ 2913]. Do cap inf Fernandes, não parece haver rastos na Internet... [Consulte-se, no entanto, a página, no Facebook, do Grupo dos Antigos Militares do CIQ-CISMI, Tavira e QG Évora..]

No dia 25 do corrente, às 23h14, o César mandou-me entretanto o seguinte email:

"Boa noite, Luis. Só agora cheguei a casa, por isso só agora te respondo. Infelizmente não faço ideia de quem tenha sido o Capelão do CISMI naquele tempo, nem sequer quem foi o autor do Guia do instruendo, mas o responsável era por certo o Director do Centro.Mas ainda descobri aqui um cartão. do instruendo que, se quiseres,  podes enquadrar no poste [vd. imagem acima]. Um abraço, César."


Carlos Nascimento: foto recente, na parada do quartel da
Atalaia,em Tavira... Ainda se vê ao fundo o célebre pórtico,
 usado  na nossa instrução... Foto:  Cortesia de
Carlos Nascimento
2. Quem tem recordações bastante precisas desse tempo do CISMI, é o Carlos Alberto Dores Nascimento,que foi 1º cabo miliciano, e monitor do CSM, entre 1967 e 1969. Mandou-me há uns anos (em 9 de setembro de 2010) o seguinte email:

 "Alô, Luis. Sou o Carlos Alberto Dores Nascimento, estive em Tavira de Janeiro de 67 a Dezembro de 69. Especialidade de atirador... e por lá fiquei até ao fim como monitor. Conheci o Robles e o Trotil. O Trotil era Óscar. Conheci-os de alferes a capitães. 

Também gostava de encontrar alguns companheiros daquele tempo (,agora somos avós, ) mesmo que tivessem sido 'meus'  intruendos. Sei que todos os anos em Outubro fazem lá no quartel um convívio com todos os que passaram por lá. Eu este ano quero ir pois nunca fui. Estou inscrito no FaceBook, tenho lá algumas fotos do nosso tempo para ver se há alguém que se identifica. Bom, um grande abraço.". 

[De facto, o Nascimento, algarvio, que é natural de Alagoa, e vive em Portimão, é um dos elementos mais ativos do Grupo (aberto) do Facebook,  Grupo dos Antigos Militares do CIQ-CISMI, Tavira e QG Évora.. Gostava de o convidar para integrar o nosso blogue, se bem que ele já faça parte dos amigos da Tabanca Grande no Facebook. Vd aqui a sua página pessoal]

Segundo o Carlos Nascimento, a 2.ª companhia era "a  companhia das várias especialidades"... Deve ter sido a minha, de armas pesadas de infantaria.  As outras, faziam recrutas (, caso da 3ª, por  exemplo) ou especialidade de atiradores. Ele também conheceu o Madeira ainda como alferes e depois tenente.


Guiné 63/74 - P12778: Parabéns a você (699): Luís R. Moreira, ex-Alf Mil Sapador do BART 2917 e BENG 447 (Guiné, 1970/71)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 26 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12775: Parabéns a você (698): João Carlos Silva, ex-1.º Cabo Especialista da FAP (1979/82)

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12777: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (32): Mário Coluna (1935-2014) na verdadeira nação "Arco-Íris" (Portugal e Ultramar e a sua selecção de futebol)

1. Mensagem de António Rosinha  [, foto atual à esquerda; fur mil em Angola, 1961/62, topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979/93]:

Data: 26 de Fevereiro de 2014 às 18:56

Assunto: Mário Coluna na verdadeira nação "ARCO IRIS" (Portugal e Ultramar e a sua Selecção de futebol)


Luís, escrevo as duas linhas [, que me pediste], mas aí não será uma homenagem do Blog, mas apenas a minha memória do Homem nosso contemporâneo.

E será também uma saudação minha (,pessoal,) ao Mário Coluna e a todos os portugueses ultramarinos da nossa geração (combatentes do Minho a Timor) que não pegaram em armas contra o colon  e contra o próprio povo, antes pelo contrário. (Exceptuemos Caboverde e São Tomé.)

Qualquer cidadão natural das nossas antigas colónias ultramarinas que não pegaram em armas para lutar contra a colonização portuguesa, eram tão nacionalistas e independentistas como os turras que nos combateram.

Mário Coluna é mais um ultramarino contemporâneo dos antigos combatentes do ultramar que foi embora.

A propósito do desaparecimento deste grande e digno português e moçambicano que foi Mário Coluna, que, antes e durante a guerra colonial, nunca deixou de ser português e moçambicano, penso que não só o Benfica, mas todos os moçambicanos e portugueses da nossa geração nos sentimos saudosos ao ouvir o nome do grande capitão do Benfica e da Selecção Nacional de Futebol.

Portugueses do Ultramar como Mário Coluna, Eusébio, Matateu e Peyroteo etc. no futebol, e noutros campos (Raúl Indipo, Rui Romano, Óscar Ribas, ALMADA NEGREIROS etc.)  eram portugueses muito lúcidos.

Eram tão nacionalistas ou mais do que aqueles que usaram o terrorismo armado contra o próprio povo, merecem todo o respeito, nosso, dos portugueses, e dos seus países, porque no fundo todos eles queriam uma independência para os seus países.

A independência sem armas à "Guevara-terceiro-mundista" era a mobilização que estava na cabeça de toda aquela gente pronta a avançar, mas algo mais do que o Salazar ou as nossas armas ferrugentas os fez hesitar.

Foi aquele terrorismo com apoio internacional da guerra fria que fez a maioria dos estudantes do Império futebolistas do Império e artistas do Império.... e milhares de sobas e régulos que não queriam sangue. Nem pegar em armas.

Mário Coluna,  tanto em Moçambique como 
em Portugal, será sempre olhado com o maior
 respeito e a dignidade que só se deve a grandes Homens. 

[Mário Coluna,   capitão dos Magriiços de 1966, a seleção nacional de futebol que ficou  em 3º lugar no Campeonato Mundial de Futebol em Inglaterra... Foto editada do Público, com a devida vénia].

Sobre pegar em armas ou não, para quem viveu os 13 anos de guerra como eu, testemunhei ao lado de furriéis e alferes e cabos e soldados ultramarinos que estavam de mauser e fbp ao meu lado, eu como furriel, e verificava que eles só não iam para os turras porque aquilo era mau de mais. (como foi e …continua)

Vejam este caso: A PIDE apanha uma carta ao meu comandante do pelotão, Alferes mulato, meu conhecido da vida civil. A cópia da carta para a namorada (?) na Metrópole foi-nos lida, a furriéis e alferes pelo capitão da companhia, no seu gabinete (na ausência do autor, evidentemente) em que dizia mais ou menos às tantas: "Estuda bem e logo que termines o curso, regressa porque a pátria vai precisar de ti".

Isto, em 1962, em Angola, era o que a maioria dos ultramarinos pensavam, mas de armas na mão ao nosso lado, ou melhor. Nós ao lado deles.

Quando vou aos almoços anuais da guerra e da vida profissional ainda oiço notícias de muitos. Alguns ultramarinos de Angola e de Caboverde ainda comparecem a esses almoços.

Sabemos que Mário Coluna periodicamente também comparecia com os seus antigos companheiros e compatriotas. E a memória dele engrandece dois países, e a nossa geração teve o privilégio de ser contemporâneo desse "Monstro Sagrado",  como diziam os jornalistas.

Vi-o jogar nos finalmentes em Luanda, nos coqueiros, onde o novato Toni marcou um golão do meio campo e arrumou com o ASA para a taça de Portugal (1969?).

_______________

Nota do editor:

Ultimo poste da série > 3 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12668: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (31): Natália Correia e os filhos dos retornados (vingativos)

Guiné 63/74 - P12776: Ser solidário (158): Gente amiga da ONGD Ajuda Amiga: o cor comando ref Hélder Vaz Pereira, presidente do conselho Fiscal, que viveu desde os 4 anos em Bissau... (Armando Pires)


ONGD Ajuda Amiga > Camarate > 27/1/2014 >"Equipa de voluntários pronta para carregar"... Para além dos nossos grã-tabanqueiros Carlos Fortunato, Manuel Joaquim e Armando Pires, há que assinalar a presença, nesta equipa da "Ajuda Amiga", do Hélder Vaz Pereira, o quarto elemento, branco, de boné e cachecol, a contar da direita para a esquerda... A seguir a ele, um 5ºelemento, sócio da Ajuda Amiga, o José Alves (que, como diz o Carlos Silva, que deve ter sido o fotógrafo de serviço, é "um grande colaborador que paga para ajudar"!,,,).  Os restantes elementos são guineenses que costumam também dar uma ajuda à... Ajuda Amiga.



ONGD  Ajuda Amiga > Camarate > 28/1/2014 >  O contentor  de 2014 está quse  cheio que nem um ovo, com 22 toneladas de material  diverso destinado à Guiné-Bissau... "Com o contentor quase cheio o Carlos Silva (, 2º vice-presidente para Logística) orienta as operações finais, pensando como poderá aproveitar ao máximo o pouco espaço disponível"... Mas o Car,los não aparece na foto, quem eu bem identifico é o Manuel Joaquim...



ONGD Ajuda Amiga > Camarate > 28/1/2014 > "Contentor da Ajuda Amiga a caminho de Bissau"


(...) "Os bens com ajuda humanitária e apoio ao desenvolvimento vão iniciaram a sua caminhada para Bissau, nos dias 27 e 28/1/2014, com o transporte terrestre do armazém da Ajuda Amiga na Amadora, para a Portline Logistics em Camarate, são 22 toneladas de ajuda.

As 1.450 caixas prontas para seguirem, não couberam todas no contentor, pelo que seguiram apenas 1.312 caixas tendo-me aproveitado todo o espaço possível.

As caixas que não seguiram tinham sido pré-seleccionadas, e eram para completarem qualquer espaço vazio, resultante de um erro de calculo, ficando deste modo garantido o uso de todo o espaço do contentor.

Foi uma pesada tarefa mas com a ajuda dos voluntários, (muitos deles guineenses que estão desempregados, e que assim dão o seu apoio à Guiné-Bissau), do Exército Português, e com muito esforço dos jovens voluntários que já passaram os 65 anos mas que continuam activos, tudo decorreu como planeado.

O contentor enviado é o maior que a Portline possui, isto é um 40 HC, com cerca de 12,05mx2,34mx2,68m.

A partida do navio está marcada para o dia 12-02-2014, e a sua chegada a Bissau para o dia 28-02-2014.


Entre os bens enviados seguirão 42.000 livros para apoiar o ensino na Guiné-Bissau, e apoiar a defesa e difusão da língua portuguesa. Este é maior número de livros enviado até à data, os quais somados aos 122.000 livros enviados nos anos anteriores, dá um total de 164.000 livros". (...)

Fonte: Ajuda Amiga > Notícias > 2014

Fotos (e legendas): Cortesia de ONGD Ajuda Amiga (2014) [Edição: LG]


Armando Pires, 2014. Foto de LG
1. Mensagem do Armando Pires [, foto atual à direita]:


Data: 25 de Fevereiro de 2014 às 20:03

Assunto: P12772 (*)

Meu caro Luís Graça.

Camarada e Amigo.


Acabo de ler o P12772 (*), e de ver aquela foto do pessoal da Ajuda Amiga diante do contentor.

Porque não o conheces, nem sequer é membro da nossa Tabanca, não identificas aquela "rapaz" magrinho, de boné e lenço enrolado ao pescoço.

Como simples curiosidade (embora como vais ver é até uma curiosidade bem grande), aquele "rapaz" é o coronel comando reformado Hélder Vaz Pereira, que viveu na Guiné (esta a curiosidade) desde os 4 anos de idade.

O Hélder é um dos membros mais entusiastas da Ajuda Amiga, de que é presidente do conselho fiscal, e tem arrastado,  para cooperar connosco,  outros "miúdos" que cresceram com ele na Guiné.

E pronto, fica a descoberto mais uma ponta do véu. (**)

Um grande abraço para ti. Armando Pires

___________________

Notas do editor:

(*) Vd., poste de 25 de fevereiro de  2014 > Guiné 63/74 - P12772: In Memoriam (184): Carlos Schwarz da Silva (1949-2014)... Pepito ca mori!... E obrigado, homem grande e querido amigo, pelo teu calendário de 2014, com belíssimas fotos do Ernst Schade sobre as gentes da tua terra que tu amavas como poucos (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P12775: Parabéns a você (698): João Carlos Silva, ex-1.º Cabo Especialista da FAP (1979/82)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 25 de Fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12771: Parabéns a você (697): Gumerzindo Silva, ex-Soldado Condutor Auto da CART 3331 (Guiné, 1970/72)

Guiné 63/74 - P12774: Estórias avulsas (75): Quando, em 18/12/1976, na fronteira de Valença, ia eu comprar à vizinha Espanha o bacalhau p'ro Natal e os caramelos da ordem, e me exigem a famigerada Licença Militar... Dois anos depois de eu passar à disponibilidade... (Henrique Cerqueira, ex-fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74)



Licença militar, passada pelo comandante militar de Viana do Castelo, em 18 de dezembro de 1976, autorizando o fur mil Henrique Jorge Cerqueira da Silva, do RI 16, na situação de disponibilidade, a passar a fronteira, em Valença, "por espaço de tempo não superior a 10 dias"...


Imagem digitalizada: © Henrique Cerqueira (2014). Todos os direitos reservados.~~



Um "santo antoninho", uma nota de 20 escudos... Foi quanto custo o "passaporte militar", para o Henrique poder ir a Espanhar comprar bacalhau e caramelos para o seu Natal de 76...Na fronteira, em Valença, as autoridades do lado de cá não foram em cantigas: imaginem se ele fosse um perigoso desertor da guerra colonial..."Vais à Viana, trazes um papel da tropa, pagas lá um santantoninho e a gente deixa-te passar para ires comprar caramelos... Tens 10 dias para vadiar"... Era assim, não há muito tempo, em finais de 1976, já a guerra da Guiné tinha acabado há dois anos... Os "regimes" passam, a "burocracia" fica... (LG)

Fonte: Notas da República Portuguesa (com a devida vénia...).


 1. Menasagem do Henrique Cerqueira [ex-fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74]:

Data: 25 de Fevereiro de 2014 às 19:45

Assunto: Licença Militar


Olá,  Camarada e amigo Luís Graça.

Andava eu numas arrumações de gavetas e porque não tinha nada mais que fazer (isto já começa a ser hábito),  encontrei este documento que achei muita graça para os tempos que correm.

Pois é,  estava eu em 1976,  já quase dois anos passados após a minha desmobilização e em plena disponibilidade . Ora, pensava eu que nessa altura, e para mais já em período pós-revolução,  que estava livre da tropa. Ou seja, eu já nem sequer pensava na tropa, quando próximo do Natal de 1976 e, como qualquer Português da altura, toca a pensar em ir comprar o Bacalhau a Espanha e claro fazer um passeio até á estranja.

Para minha surpresa,  quando ia todo lampeiro para atravessar a Fronteira em Valença, foi-me negada a passagem por falta de Licença Militar. Atenção,  que estou a falar do ano de 1976. É claro que eu é que fui um "nabo",  porque quando na fronteira me perguntaram se era ou fui militar eu poderia ter aldrabado. Mas não,  quando questionado,  eu todo orgulhoso disse que tinha servido a Pátria na Guiné e já tinha sido desmobilizado em 1974.

Vai daí as autoridades (Portuguesas) me disseram :
- Não senhor, não pode passar a fronteira sem a "Licença Militar" e nós sabemos lá se não é um desertor ou coisa parecida.

Ora,  eu aí comecei a ver a vidinha a andar para trás, é que tínhamos o farnel no carrito (era um Morris Mini, que saudades do meu primeiro carro!), com ideias de o comer em Espanha e depois então ir comprar o bacalhau e talvez uns caramelos para a família. 

Então um oficial aduaneiro,  ao ver o meu desgosto,  é que me disse:
- O senhor pode ir a Viana do Castelo, que é aqui bem perto, e arranja lá a Licença.

Bom, lá virámos as "roditas" do Mini e viemos a Viana,  ao comando militar da localidade, e lá me passaram a famosa Licença ,mas tive que pagar 20$00 (, era uma nota Santo António, parecendo que não,  ainda dava para comprar uns saquitos de caramelos e claro também para pagar a Licença).

E,  prontos,  munidos do precioso documento lá rumámos até á fronteira novamente, e para grande desgosto meu,  nem sequer quiseram ver o documento que atestava que eu nem era militar nem desertor. Mas pelo menos lá comprei o bacalhau e até os caramelos, mais uma garrafita de brandy que também era de bom tom comprar em Espanha.

Olha, camarada Luís, hoje achei piada a este documento que encontrei e como tal resolvi partilhar com a tertúlia. Se achares alguma piada,  publica, senão já sabes,  "arquiva".

Um abraço

Henrique Cerqueira

___________________

Nota do editor:

Último poste da série > 20 de fevereiro de  2014 > Guiné 63/74 - P12746: Estórias avulsas (74): Balas de raiva: uma emboscada que deixou marcas (José Saúde)

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12773: Memórias de um Lacrau (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70) (Parte III): Preparando a "nova força africana" de Spínola...


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Contuboel > 1969 > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > > O Valdemar Queiroz, com os recrutas Cherno, Sori e Umarau (que irão depois para a CCAÇ 2590/CCAÇ 12).


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Contuboel > 1969 > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > > Semana de campo dos novos recrutas (c. 200, metade dos quais irão depois juntar-se à CCAÇ 2590/CCAÇ 12)... Pela foto, pela maneira (tosca) como estão montadas as tendas,  vê-se que os nossos  recrutas nunca andaram nos escuteiros...



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Contuboel > 1969 > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > Recruta: semana de campo... Em tendas de campismo... Estes rostos são-me familiares, poderão ter pertencido à CCAÇ 2590/CCAÇ 12.


Fotos (e legendas): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]


1. Continuação da publicação das Memórias de um Lacrau > Texto e fotos enviadas, em 9 do corrente, pelo Valdemar Queiroz, nosso novo tabanqueiro, nº 648 [, em Contuboel, 1969,  à esquerda]


Começou a instrução militar, agora com todos já fardados e tal e qual como se fosse a recruta feita em Aveiro ou na Carregueira, com ordem unida, armamento e carreira de tiro.

Tivemos várias visitas do Carlos Azeredo e o próprio Spínola apareceu, com uma dobra de mangas especial no camuflado, (como é que ele faz aquilo?), quando estavamos a dar tiros de morteiro. Até fizemos semana de campo, com acampamento no mato (em plena zona de guerra) e simulacros de fogo com balas reais.

Entretanto fomos à ‘praia’ a Sonaco, que ir a Sonaco era uma aventura. Fomos manga de furriéis num Unimog a Sonaco. Sonaco, sem tropa, com a ‘praia’ fluvial  do Geba ali perto, uma rua principal, de terra batida, que dividia a tabanca, com pouca gente, mas tinha um posto de abastecimento de gasolina, com uma manivela, estilo anos 40, e o Mussá Camará que transformava as nossas conservas de lulas em grandes petiscos.
Valdemar Queiroz, foto atual

Regressamos já era tarde e todos bem bebidos, seguindo na picada
com as luzes do Unimog acesas, em plena mata a cantar: 'Òh, Bioxé…ne, Òh, Bioxé…ne, Òh, Bioxé…ne', com a música duma célebre canção dos Beatles, e com o Furriel de Informações que foi connosco a dizer: 'Meste momento qualquer turra nos está a ouvir e se não se calarem somos apanhados à mão'.

Chegamos a Contuboel, às tantas, com toda gente à nossa espera. Também fomos, aproveitando as colunas, à bonita localidade de Bafatá.

Bafatá, com a guerra longe, cheia de gente, com ruas arranjadas e boas casas de comércio (libaneses), com a famosa Casa Gouveia, próxima do caís, que parecia um pombal. Fomos comer comida da metrópole (bacalhau ou frango), ver jogos de futebol de salão, no pavilhão, entre equipas militares, com grandes jogadores nossos conhecidos e mergulhar na piscina que estava sempre com muita gente. Inesquecível.

(Continua)




Guiné > Mapa da província > 1961 > Escala 1/500 mil > Zona leste > Posição relativa de Contuboel e Sonaco, a meio caminho entre Bafatá e a fronteira, a norte, com o Senegal.  Contuboel/Sonaco, Bafatá e Nova Lamego eram 3 vértices de um triângulo, em pelno chão fula...

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)


2. Comentário de L.G.:  Futuros soldados da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71)
Cherno Baldé

Sori... Jau ou Baldé ?

Umaru Baldé

Três jovens recrutas, o Cherno, o Sori e o Umaru, que, no final da recruta dada pelos quadros da CART 2479/CART 11, passaram para as fileiras da CCAÇ 2590/CCAÇ 12... que lhes deu a especialidade e a IAO, ainda em Contuboel (entre junho e julho de 1969).

Na CCAÇ 12, tivemos, na 3ª secção (fur mil José Sousa Vieira), do 3º Gr Comb (alf mil Abel Maria Rodrigues), o soldado 82109669 Cherno Baldé, de etnia fula... Era municiador da Metr Lig HK 21... Também havia um Sori Jau, fula, nesta secçã, era o Sold 82109269, apontador de Dilagrama.

O problema é que também tivemos, na 1ª secção (fur mil Joaquim Augusto Matos Fernandes), do 4º Gr Comb (alf mil José António G. Rodrigues, já falecido),  um outro Cherno Baldé, fula, o Sold 82115269, ap Metr Lig HK 21.

Por sua vez, na 3ª secção do 4º Gr Comb, havia um outro Sori, de apelido  Baldé, fula, sold at inf, fula, nº  82111069...

Pelas informações que temos, há um  Cherno Baldé e e um Sori Baldé que ainda estão vivo:, estando a residir, os dois,  em Taibatá, Setor de Bambadinca, Região de Bafatá...

Eu tinha a obrigação de lembrar desta malta... percorri todos os pelotões da CCAÇ 12... Em especial o 4º Gr Comn: recordoe que a 3ª Secção não tinha comandante atribuído, sendo esse lugar muitas vezes preenchido pelo fur mil armas pesadas inf Luis Manuel da Graça Henriques...

É-me, todavia, impossível saber, com precisão,  a qual deles, Cherno e Sori,  correspondem as duas primeiras fotografias...

Quanto ao "puto" Umaru, esse era inconfundível... Achávamos que ele não tinha mais de 16 anos... Era protegido pela malta branca. Era alegre e divertido. O Sold 82115869 Umarú Baldé (Ap Mort 60), fula (já falecido,  depois de viver na Amadora e de ter voltado a Bambadinca), pertencia ao 4º Gr Comb, 2ª secção (fur mil António Fernando R. Marques).




Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Regulado do Cuor > Finete > 1969 > CCAÇ 12 (1969/71) > Eu, Henriques, a comandar interinamente uma das secções do 4º Gr Comb, a aqui na foto com o 1º cabo José Carlos Suleimane Baldé e o sold Umaru Baldé, excelente e espetacular  apontador de morteiro 60, da 2ª secção.

O cmdt habitual da 2ª secção era o António Fernando Marques...O da 1ª era o Joaquim [Augusto Matos] Fernandes, que entretanto irá tirar o curso de reordenamentos, e será destacado para Nhabijões... A 3ª secção nunca tinha tido fur mil, era o 1º  cabo, metropolitano, Virgilio S. A. Encarnação, que a comandava... Já não sei o que estava ali a fazer em Finete.. Talvez algum patrulhamento ofensivo ao Mato Cão, para protecção dos barcos civis que transitavam no Rio Geba Estreito, entre o Xime e Bambadinca.


Fotos (e legendas): © Luís Grça (2005). Todos os direitos reservados.

Umaru Baldé, Finete, 1969.

"O Umaru [, depois de trabalhar na construção civil, nas obras da Expo, etc.] sempre foi para a Guiné, como ele gostava, mas depois voltou porque o estado de saúde piorava e lá não era possível ser acompanhado. Foi sepultado no cemitério do Lumiar na área destinada aos da sua religião" (António Fernando Marques) [, um dos camaradas que muito ajudou o Umaru, em vida; terá morrido de sida e tuberculose, no Hospital do Barro, em Torres Vedras.]

"Obrigado pela tua notícia, acerca do Umaru, não sabia. No princípio dos anos 2000,encontrei-me com ele várias vezes, na Amadora. Fui vê-lo ao hospital em Torres Vedras, depois perdi o contacto até saber da sua morte, julgo que em 2008/9. Então, sempre arranjou dinheiro para ir a Bambadinca e, por fim, veio morrer em Portugal." (Valdemar Queiroz).

____________

Guiné 63/74 - P12772: In Memoriam (184): Carlos Schwarz da Silva (1949-2014)... Pepito ca mori!... E obrigado, homem grande e querido amigo, pelo teu calendário de 2014, com belíssimas fotos do Ernst Schade sobre as gentes da tua terra que tu amavas como poucos (Luís Graça)

Calendário da AD para o ano de 2014 >" Os rios do nosso litoral são excelentes vias de comunicação. Tabanca de Djobel". [ Corresponde à folha do mês de janeiro.]

Calendário da AD para o ano de 2014 > "O desenvolvimento é um acto de cultura... Floresta de Lautchande, Cantanhez". [ Corresponde à folha de rosto do calendário.]


Calendário da AD para o ano de 2014 > "Intervir através dos Centros de Divulgação Comunitária de Guiledje". [ Corresponde à folha do mês de fevereiro.]



Calendário da AD para o ano de 2014 > "Valorizar a riqueza do rio Cacheu para melhor conservar os seus recursos". [ Corresponde à folha do mês de maio.]



Calendário da AD para o ano de 2014 > "As mulheres são determinantes no progresso comunitário . Tabancva de Cabedú". [ Corresponde à folha do mês de setembro.]



Calendário da AD para o ano de 2014 > "O peixe é a principal fo nte de proteína na costa do país. Tabanca de Bolol". [ Corresponde à folha do mês de novembro.]


Fonte: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2014). Todos os direitos reservados (Cortesia da da ONG guineense e do fotógrafo Ernst Schade)..

(Imagens reproduzidas com a devida vénia, a partir da digitalização do calendário...Para ver alguns dos originais,  com outra resolução e qualidade técnica, clicar aqui, no sítio do fotógrafo: www.ernstschade.com; o holandês Ernst Schade vive em Lisboa desde 1995;  é um apaixonado por Portugal e pela Guiné.Bissau, para onde viaja com frequência).


1. O Pepito morreu, faz hoje uma semana (*)... Se ele fosse cristão, iríamos assistir a uma missa do 7º dia por alma dele... E no entanto, escrevi, eu que também não sou crente, mas procurando interpretar o sentimento dos seus familiares, amigos e admiradores, bem como o meu próprio sentimento perante este funesto acontecimento: "Pepito ca mori"...

Como há dias eu quis dizer, à nossa querida Isabel Levy, sua companheira de uma vida e mãe dos seus filhos Cristina, Ivan e Catarina, "metaforicamente falando, é verdade, o Pepito não morreu, porque não pode morrer, faz-nos falta"... Psicológica e culturalmente, é uma exclamação (ou um imprecação aos deuses!, se quisermos), que nos  ajuda a suportar o insuportável, enfim, que serve para fazermos  o luto... É a nossa maneira, africana e judaico-cristã,  de fazer o luto...

Quando se perde alguém, como o Pepito,  que nos é muito querido (ou algo que, para nós é/era muito valioso, a nossa casa, o nosso chão, o nosso país... ), passamos por um processo de “luto” que pode ter, em geral, cinco fases, que não são lineares nem necessariamente lógicas e cronológicas:

(i) negação: é a primeira fase do luto, a primeira reação perante a perda, que não aceitamos racionalmente. “É impossível, não pode ser, não acredito!”...O sofrimento causado por tal perda seria tão devastador, que nos leva a denegar, a recusar a realidade, por mais brutal que ela seja (por ex., o corpo de um camarada destroçado por uma mina)...

(ii) raiva: continuamos a não aceitar a perda, mesmo quando consumada…Sentimentos contraditórios de raiva, de onveja e de culpa assaltam-nos… Rejeitamos os pêsames e as palavras de conforto dos outros. Mesmo quando se é crente, invectiva-se Deus: “Porquê eu, meu Deus!?", "Porquê ele, e não eu ?" (, é frequente ouvir isso dos pais em relação aos filhos, podemos ouvir isso no teatro de guerra perante a perda de um camarada que é atingido ao nosso lado);

(iii) negociação: começamos a ponderar a “hipótese da perda”… Se isso aconteceu mesmo, vou negociar, com Deus, com Jeová, com Alá, com o Irã ou com uma qualquer outra força superior que regula a vida dos seres humanos e do universo. Faço promessas ou sacrifícios para que tal não seja verdade…

(iv) depressão: acaba por surgir quando eu tomo consciência da realidade: a morte, a perda inevitável, inexorável, inelutável. Uma profunda tristeza e angústia apodera-se de mim. Há uma vazio existencial. “Nunca mais te verei”… meu pai, minha mãe, meu marido, minha esposa, meu filho, minha filha, meu amigo, meu camarada, a “coisa amada”, o “objeto perdido”… Com o desaparecimento físico da pessoa (ou objeto), passo a sobrevalorizar as memórias a ela/ele associadas… As fotos, os vídeos, os objetos pessoais, as cartas, as roupas, as palavras, ...

(v) aceitação: por fim, vem (ou deve vir, para que o luto não seja patológico) a aceitação da perda. “Morreu, mas morreu em paz, sem dor, com serenidade, com dignidade… E isso consola-me";  Morreu como um herói!"; "Morreu, mas foi um grande exemplo para todos nós"... 

Preenchemos deste modo o tremendo vazio da perda. Aqui é muito importante o “suporte social”, o apoio dos outros, os ritos, os  cerimoniais (, incluindo as cerimónias fúnebres religiosas, civis ou militares)… A “festa do choro”, na Guiné, tem como objetivo levar à aceitação (racional, emocional e social) da morte ou da perda de alguém que nos é/era muito querido oi importante para nós, a nossa família, o nosso grupo, a nossa comunidade…

Este processo foi descrito e tipificado pela primeira vez pela “senhora morte”, Elisabeth Kübler-Ross (1926-2004), no seu livro, já clássico, sobre a morte e o morrer [“On Death and Dying”, New York, 1969].

2. A família do Pepito, os seus amigos, os seus admiradores, os colaboradores da AD, o povo simples das tabancas da Guiné-Bissau  que o admirava como um verdadeiro "homem grande" e "benemérito"... vão ter que fazer o luto pela sua morte... 

E a melhor maneira é celebrar a vida, a esperança, o futuro, é falar do Pepito, é  falar dele, do seu exemplo, da sua vida, da sua obra, dos seus sonhos e projetos, dando-lhes continuidade, renovando-os, acrescentando-lhes algo de novo, que traga o ADN da esperança e do futuro...

"Pepito ca mori": como ele disse aos seus filhos e netos, "desistir é perder e recomeçar é vencer"...Morreu ao km 64 da picada da vida - uma picada bem dura, cheia de minas e armadilhas - mas a sua família, amigos, admiradores e cooperantes da AD não vão deixar que o seu "testemunho" (para usar uma figura do atletismo, das corridas de estafeta 4 x 4) fique caído no "chão"... Dentro de duas ou três semanas os camaradas Carlos Fortunato e Carlos Silva, da ONGD Ajuda Amiga, estarão em Bissau, prontos para acompanhar o descarregamento de mais um contentor com 22 toneladas de livros e material escolar, brinquedos, roupa e calçado, mobiliário,  ferramentas e equipamentos, etc., a distribuir por  diversos destinatários, incluindo a AD... Só que desta vez já não estará lá o Pepito com o seu vozeirão, o seu sorriso franco e aberto, os seus braços comprimidos, para os receber e acolher como só ele sabia receber e acolher!,,, Mas o "Pepito ca mori!", a sua presença tutelar vai-se sentir e fazer sentir, dando força àqueles de nós, guineenses e portugueses, que continuam a pensar e a acreditar que a Guiné e o seu povo têm direito ao passado, ao presente e ao futuro!... Força, camaradas da Ajuda Amiga ! Força, AD!




Camarate, 27-01-2014 - Equipa de voluntários pronta para carregar o contentor com a ajuda amiga... A foto deve tersido  tirada pelo Carlos Silva...  Reconheço, da esquerda para a direita, os camaradas do blogue Carlos Fortunato, Manuel Joaquim e Armando Pires. Cortesia da ONG Ajuda Amiga.



Deixa-me agora falar contigo, Pepito,  tu cá tu cá, sem invocar nenhum privilégio que não seja o da amizade... Gostaria de te ter dito isto, no centro de funerário de Bracarena, na tua despedida: a tua vida  foi inspiradora, e o teu exemplo, os teus valores,  a tua coragem, a tua idiossincrasia, a tua singular maneira de ser e estar na vida e na tua profissão, o teu exercício da cidadania e da condição humana, a tua filosofia do desenvolvimento integrado, sustentado e participado, aplicada e testada nas duras condições da Guiné-Bissau do pós-independência, vão continuar a ser um estimulante e gratificante desafio para todos nós, que te admirávamos, que te apoiávamos, mas que também te criticávamos quando se impunha...(.Por exemplo, o facto de, por vezes,  descurares a tua saúde e até a tua segurança, correndo riscos desnecessários!)...

Para ti, o desenvolvimento era inseparável da cultura, era um "um acto de cultura"!... Na tua terra, na tua prática., na tua liderança, no teu pensamento, nos teus escritos, tu nunca separavas o material do imaterial, o económico do simbólico, o tecnológico do humano, o social do político, o individual do comunitário... Mesmo sendo, ou talvez por isso, um engenheiro agrónomo,  tinhas a grande sabedoria de saber ouvir (e aprender com) os outros!...

3. E aqui apraz-me evocar um dos seus últimos "actos de cultura" (e de amor pela  ONGD que ele ajudou a fundar e a crescer), que foi a edição do calendário da AD para 2014. E de que ele me fez chegar, carinhosamente,  um exemplar, pelo correio, vindo diretamente da tipografia portuguesa, em Lisboa...  Agradeci-lhe nestes termos, em 12 de dezembro passado:

"Pepito, já saiu o calendário de 2014, editado pela AD. Já o recebi em casa, pelo correio. Está lindo. Parabéns pela iniciativa. Parabéns ao fotógrafo e sobretudo ao povo da Guiné (e em especial às suas mulheres)!... É gente linda, fotogénica e fraterna!...

Espero que vocês não fiquem "isolados" do mundo este Natal... O que se passou com o último voo da TAP preocupa-me seriamente, a mim e aos amigos da Guiné... Gostava de conhecer a tua versão dos acontecimentos mas aquilo cheira-me a "banditismo puro e duro"... Há "regras" de convívio entre os povos e os estados soberanos...Um alfabravo. Luis!...

Trocávamos amiúde pequenos mails e ele arranjava sempre tempo para me responder, logo pela manhã, nem que fosse através de duas linhas telegráficas, com a sua grande humildade mas também com o seu proverbial sentido de humor e de ironia: 

"Luís, fico satisfeito que tenhas gostado do calendário. Quanto aos sírios, trata-se apenas de um negócio: recebe-se dinheiro e colocam-se os ditos à força num avião. O que lhes acontece a seguir, pouco me interessa, a mim que já tenho o dinheiro na mão e estou pronto a receber mais uns tantos. abraço, pepito" 

 Reproduzo, acima,  com a devida autorização do autor das fotos, o fotógrafo holandês Ernst Schade seis das treze imagens que dão brilho, calor humano, poesia  e singularidade ao calendário da AD de 2014.

Há dois dias trás eu tinha enviado à Isabel Levy  (***) o seguinte pedido:

"Isabel: Desculpa maçar-te com isto... Recebi em dezembro, pelo correiro, o calendário da AD para 2014... O Pepito condensou,  nas legendas das imagens de cada mês, o essencial da filosofia da AD... Tive oportunidade de lhe dizer na altura que gostei muito da oferta, do calendário, das imagens e das legendas... Tem belíssimas fotos do alemão [, lapso meu, ele é holandês] Ernst Schade...

Achas que, num poste dedicado ao Pepito, eu poderia reproduzir uma ou duas das imagens do calendário, sem violar o "copyright" ? Não sei qual o acordo que a AD tem com ele... Digitalizei as imagens do calendário, não fui ao sítio do fotógrafo"...


A Isabel teve a gentileza me dizer que ele estava em Espanha, que em princípio não haveria qualquer problema, mas que seria melhor obter a sua autorização expressa. O que veio, de pronto, no dia seguinte, com uma gentil mensagem do próprio (que não me conhece pessoalmente):

"Caro Luís Graça,

Só agora regressei de Espanha. Claro que não me importo que o Luís utilize as minhas imagens. Até sinto-me honrado. É totalmente inconcebível que o Pepito já não está [esteja]  cá connosco… Um abraço, Ernst Schade (sou holandês…)".

Fica aqui mais uma homenagem, dupla, tripla, múltipla,  ao nosso querido amigo... cuja memória continuará a ser cultivada e partilhada pelos seus amigos, alguns dos quais aqui sentados no bentém,  à volta do frondoso e mágico poilão da nossa Tabanca Grande ou de outras tabancas dos amigos e camaradas da Guiné.

PS - A ONGD AD - Acção para o Desenvolvimento abriu um espaço, no seu sítio, para mensagens de condolências

Associemo-nos à "equipa da AD [que], neste momento de dor e de luto, gostava de prestar uma última homenagem ao fundador, inspirador e Diretor Executivo da AD: o nosso Pepito, o Pepito dos guineenses e do mundo".
______________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 18 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12738: In Memoriam (178): Carlos Schwarz da Silva (1949-2014)... Pepito ca mori! (Luís Graça)

(**) Último poste da série > 24 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12769: In Memoriam (183): Relembrando o nosso camarada Fernando Rodrigues, Sargento Chefe Ref, natural de Lagoa, que integrou a CCAÇ 5 (Arménio Estorninho / José Martins)

(***) Que fique, também, aqui registada a mensagem da Isabel Levy, de agradecimento pelas nossas manifestações de pesar, apreço e solidariedade,  enviada no passado dia 23

: "Olá, Luis, tenho acompanhado o teu blog e as palavras amigas de quantos admiravam e gostavam do Pepito. Através de ti envio um abraço imenso para todos eles. Um beijinho, isabel Levy".

Guiné 63/74 - P12771: Parabéns a você (697): Gumerzindo Silva, ex-Soldado Condutor Auto da CART 3331 (Guiné, 1970/72)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 24 de Fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12766: Parabéns a você (696): Manuel Henrique Quintas de Pinho, ex-Marinheiro Radiotelegrafista das LDM 301 e 107 (Guiné, 1971/73)