Septuagésimo quarto episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.
Resumo do dia décimo quinto
A povoação de Tok está situada numa grande planície no
Vale do Tanana, entre o Rio Tanana e o “Alaska Range”,
que é uma cordilheira com 650 Km de comprimento,
relativamente estreita, na região centro-sul do território do
Alaska. Esta povoação fica num cruzamento do “Alaska
Highway”, com o “Glenn Highway”, com muita
importância, tendo uma área de aproximadamente 132
Km2, tudo em terra, sendo a marca “Historic Milepost
1314”, do “Alaska Highway”, onde dormimos.
Pela manhã, tomando um copo com café, uma pessoa a
nosso lado, aqui residente há muitos anos, mas que tinha
vindo das ilhas do Hawai, querendo saber de onde
éramos oriundos, começou por explicar que a povoação
de Tok começou a ter alguma visibilidade a partir do ano
de 1942, quando do início da construção do “Alaska
Highway”, pois passou a ser um grande campo de
construção e manutenção desta famosa estrada, até lhe
chamavam o “Million Dollar Camp” e, até aquela data, era
conhecida como uma aldeia onde viviam os “Athabascan”,
um povo que aqui caçou, pescou e viveu por séculos.
Estávamos mais ou menos a 100 milhas (160
quilómetros) da fronteira com o Canadá, quando
comprávamos alguma gasolina, o condutor de uma
caravana, que vinha da fronteira, lavando os vidros da
frente e as manetes das portas, explicou-nos que a
estrada estava em construção a partir do quilómetro 15 ou
20, dentro do território do Canadá, para nos prepararmos
para muitas paragens, mas com o nosso equipamento,
não iríamos ter muitos problemas, ele sim, teve e, pelo
aspecto da viatura, devia mesmo de ter tido.
A fronteira chegou, umas milhas antes existe um
estabelecimento com um grande cartaz anunciando que
é a última oportunidade de comprar gasolina,
recordações, comida, bebida e outras lembranças do
Alaska, havia algum trânsito, antes de entrar no edífio que
cruza a fronteira, verificámos os documentos, tudo em
ordem, sempre perguntam se levamos bebidas com
álcool, dissemos que sim, eram ainda algumas garrafas
de vinho que tinham vindo da origem, ou seja da nossa
casa na Florida, o funcionário riu-se e desejou-nos “bon
voyage”, em francês.
Depois da fronteira, algumas fotos, e eis-nos na estrada
onde começaram a aparecer as tais obras de manutenção e
alteração da via, com paragens sucessivas, longas
esperas pelo “carro piloto’, onde as pessoas aproveitavam
para sair das viaturas, tirar fotos do cenário, ou conversar,
começando até novos conhecimentos.
Parámos na povoação de Beaver Creek, que marca o
“Historic Milepost 1202”, onde dizem que é uma
comunidade com poucos habitantes, pois além de ser a
residência dos empregados do “Canada Border Services
Agency”, tem só algumas “cabanas” para turistas que
aqui querem passar algum tempo, pescando nos dois
pequenos rios que por aqui passam.
Continuámos a nossa rota, rumo ao leste, paragens
frequentes, desvios de estrada, parando na povoação de
Burwash Landing, que marca o “Historic Milepost 1093” e,
que é uma pequena comunidade encostada ao “Kluane
Lake”, que é um grande e bonito lago, que primeiramente
foi usada como “campo de férias de verão”, até começar a
ser um “posto avançado de trocas”, que os irmãos
Jacquot, por volta do ano de 1900, aqui construiram.
A pequena povoação de Destruction Bay, que marca o
“Historic Milepost 1083”, era já ali, é uma pequena
comunidade que sobrevive quase do negócio de turismo,
com as pessoas que por aqui passam no “Alaska
Highway”, até dizem que a sua população está a diminuir,
pois já chegou a ter 59 habitantes e, presentemente
andam à volta de 35.
Embora as obras na estrada nos obrigassem a frequentes
paragens, um tempo depois, pois de acordo com os
habitantes daqui, a distância não conta, o que conta é o
tempo e, medem a distância de uma povoação a outra
pelo tempo, não pela distância, ei-nos na povoação de
Haines Junction, que marca o “Historic Milepost 1016”,
que também começou a ter alguma visibilidade por altura
do ano da construção do “Alaska Highway”, sendo neste
momento um importante encontro de duas estradas, pois
daqui segue a estrada número 3, com destino ao sul da
província de Yukon. Antes, dizem que por mais de dois mil
anos, era um campo de caça e pesca que o povo,
“Southern Tutchone”, usava em algumas estações do ano.
E como já dissemos, também passado algum tempo,
ainda de dia, embora fossem já 9 horas da noite,
chegámos de novo ao pequeno óasis no deserto, que é a
cidade de Whitehorse, que marca o ”Historic Milepost
918”, da qual já falamos anteriormente, onde depois de
visitar o Centro de Turismo, procurámos comida e
dormida, onde se pudesse tomar banho e dormir com
algum conforto.
Já agora, queria lembrar que o trajecto que hoje fizemos,
entre a cidade Tok, no estado do Alaska e a cidade de
Whitehorse, na província do Yukon, já no Canadá, ficou
por fazer, na viagem de ida para o estado no Alasca, pois
nessa altura, nesta cidade de Withehorse, desviámo-nos
para norte, fizemos o célebre “”Klondike Loop”, que nos
levou à cidade de Dawson City, que depois de atravessar,
numa jangada o rio Yukon, entrámos na estrada que
chamam “Top of the World Highway”, onde fizemos a
fronteira com o estado do Alaska, em direcção à cidade
de Tok.
Neste dia, percorremos 452 milhas, com o preço da
gasolina, variando entre $1.66 e $1.82
Tony Borie, Agosto de 2014.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 8 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13861: Bom ou mau tempo na bolanha (73): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (14) (Tony Borié)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 15 de novembro de 2014
Guiné 63774 - P13896: Recortes de imprensa (70): "Ùltima descolagem!", homenagem de um amigo torrejano ao cor pilav ref António Manuel Carrondo Leitão, que foi fur pil heli AL III no CTIG (jornal "O Almonda", 14/11/2014)
Foto: Cortesia de O Almonda, 14/11/2014 [Edição: LG]
Excerto do jornal regionalista O Almonda, de Torres Novas, com data de 14 do corrente. Reproduzido com a devida vénia [Edição: LG]
1. Trata-se de uma singela homenagem, de um amigo e camarada de armas, o ten cor ref Faria Costa, ao cor pilav ref António Manuel Carrondo Leitão, recentemente falecido, e já aqui evocado pelo António Martins de Matos (*).
O Carrondo Leitão foi fur pil do heli AL III, e foi condecorado com a Cruz de Guerra, por feitos no TO da Guiné em 1974.
Este recorte (**) foi-nos enviado pelo nosso camarada, também ele torrejano, Carlos Pinheiro [, ex-1.º cabo trms op msg, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70], a quem agradecemos a atenção e a colaboração.
_______________
Notas do editor;
(*) 10 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13869: In Memoriam (204): Carrondo Leitão, ex-Piloto de Alouette III na Guiné (António Martins de Matos, TGen Pilav Ref)
(**) Último poste da série > 17 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13507: Recortes de imprensa (69): O jornal Notícias De Cá e De Lá, na reportagem sobre os 128 do Concelho de Loures, cita o nosso Blogue (José Marcelino Martins)
(*) 10 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13869: In Memoriam (204): Carrondo Leitão, ex-Piloto de Alouette III na Guiné (António Martins de Matos, TGen Pilav Ref)
(**) Último poste da série > 17 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13507: Recortes de imprensa (69): O jornal Notícias De Cá e De Lá, na reportagem sobre os 128 do Concelho de Loures, cita o nosso Blogue (José Marcelino Martins)
Guiné 63/734 - P13895: História da CART 3494 (2): SANTA CRUZ DA TRAPA (Bambadinca – São Pedro do Sul) (Jorge Araújo)
1. Mensagem do nosso camarada Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/1974), com data de 4 de Novembro de 2014:
Caríssimos Camaradas,
Os meus melhores cumprimentos.
Para além das acções de risco elevado que experienciámos durante a nossa campanha no TO do CTIG, e que amiúde vos tenho recordado, outras houve que, igualmente, convém dar nota pública para memória futura.
Está neste caso a narrativa que hoje vos trago ao conhecimento, certamente desconhecida da grande maioria das subunidades do BART 3873, e, em particular, dos assíduos visitantes da nossa Tabanca Grande.
Trata-se da atribuição de um nome toponímico a uma Tabanca do subsector de Bambadinca, que não tendo carácter de geminação de relações protocolares, teve por base o reconhecimento da população que connosco partilhou o mesmo espaço durante os anos da nossa presença na região leste da Guiné.
SANTA CRUZ DA TRAPA
(Bambadinca – São Pedro do Sul)
- Um nome; duas comunidades separadas por + de 4.000 kms -
I – INTRODUÇÃO
Mobilizado pela 1.ª Repartição do Estado Maior do Exércitoem 04NOV1971 – faz hoje quarenta e três anos–para substituir o BART 2917 no Sector L1, com sede em Bambadinca[nota circular n.º 4496/PM-Proc.º 18/3873], a chegadada Companhia de Comando e Serviços [CCS] do BART 3873 a esta localidade da Zona Lestesó se verificou em 28JAN1972, 6.ª feira, sob o comando do Ten.Cor.Art. António Tiago Martins (1919-1992), tendo como 2.º Comandante o Maj.Art. João Manuel Pereira do Carmo Sousa Teles e Chefe da SECOPINFO o Maj.Art. Henrique Artur Branco Jales Moreira.
Durante quarenta e cinco dias [até 14MAR1972] decorreu a fase de transição, também designada de sobreposição, processo considerado de grande importância no contexto do conflito político-militar ultramarino. A institucionalização deste princípio normativo tinha por objectivodesenvolver algumas competências operacionais, para além da natural aquisiçãode conhecimento o mais amplo possível da malha e características do seu território,por via da transmissão de experiências, factos e feitos registados anteriormente, de modo a facilitar a integração do contingente recém-chegado, preparando-o para o cumprimento das suas missões e/ou tarefas prospectivas.
O pensamento filosófico do seu líder, e concomitantemente transmitido a todo o contingente do BART 3873, projectou-se, desde logo, na intencionalidade da escolha do lema da sua missãono TO do CTIG, gravada nos ícones da Unidade e Subunidades: «NA GUERRA CONSTRUINDO A PAZ». A operacionalização global deste desiderato [Cap. II; HU]passaria pela neutralização da subversão, através duma manobra simultaneamente psicológica, social e militar.
Na manobra militar [3.ª dimensão], as responsabilidades estavam distribuídas pelas subunidades colocadas nos subsectores do Xitole [CART 3492], de Mansambo [CART 3493] e do Xime [CART 3494], reforçadas com Pel Caç Nat’s, Pel Mil e Pel Art, enquanto o subsector de Bambadinca disponha de uma Companhia de Intervenção do CAOP 2 [CCAÇ 12], Pel Rec Daimler e Pel Morteiro.
Quanto à áreapsicológica e à promoção social [1.ª e 2.ª dimensão], o método a utilizar traduzir-se-ia, objectivamente, na necessidade de ganhar confiança e intimidade com a população local, através de palavras e actos relevantes. Para este efeito, foram espalhados panfletos de propaganda nos trilhos de passagem utilizados pelo IN, no cumprimento da directiva para uma «Guiné Melhor». Foram cedidas viaturas e barcos para o transporte de pessoas e bens, assim como foi feita protecção nocturna adiferentes tabancas pelas NT. A assistência médica e medicamentosa e os contactos permanentes com as tabancas passaram a ser uma prática regular. Melhorou-se a pista de aviação de Bambadinca de molde a receber aviões T-6 [1.º fascículo; HU].
Durante o primeiro ano da missão [1972/1973] foram construídas nove escolas na área de jurisdição do Batalhão, a saber: Ganhoma, Samba Juli, Sincha Mamajã, Sansancuta, Mero, Tangali, Sincha Madiu, Afia e Demba Tacobá, desconhecendo-se se destas alguma era Posto Escolar Militar. A edificação da Escola de Mero e de Sansancuta contaram com o apoio dos Pel Mil 358 e 203, respectivamente.
Corolário das múltiplas acções desenvolvidas pelas NT no apoio às populações, e referidas anteriormente, o mês de Abril de 1973 ficou marcado por um acto público de grande significado colectivo, ao ser proposta, e depois aprovada, uma nova designação toponímica para uma recém-reconstruída/ocupada Tabanca, localizada no subsector de Bambadinca – Santa Cruz da Trapa.
II – SANTA CRUZ DA TRAPA –– ABRIL DE 1973
- NOVO TOPÓNIMO DO SUBSECTOR DE BAMBADINCA
A presente narrativa surge na sequência de uma nova incursão ao baú de memórias das minhas vivências como ex-combatente no CTIGuiné [1972-1974], em que quatro fotos tiradas no mesmo contexto me permitiu recordar outros papéis aí desempenhados. Estou-me a referir ao que foi relatado na introdução e que, muito provavelmente, a grande maioria dos operacionais do BART 3873 [subunidades] ainda hoje desconhece.
A decisão de a divulgar, recuando mais de quatro décadas, foi uma vez mais influenciada pela publicação faseada dos diferentes fascículos que a nossa «Tabanca Grande» tem vindo a fazer, documento facultado pelo nosso camarada António Duarte [ex-Fur. Mil. da CART 3493/CCAÇ 12].
Relembro, então, o que constano documento dactilografado da História da Unidade [BART 3873], no 12.º fascículo; Abril de 1973, ponto 84. «POPULAÇÃO»:
- “O Pel. Mil. 370 de SANSANCURA pediu que se fixasse na antiga tabanca abandonada, denominada SINCHA BAMBÉ. A ocupação da primitiva localidade foi rodeada por um cerimonial confraternizador e significativo, na medida em que uma povoação morta desperta para a vida da GUINÉ. Estiveram presentes o CMDT do BART 3873, COR ART ANTÓNIO TIAGO MARTINS, cujo topónimo da terra natal – STA CRUZ DA TRAPA foi atribuído à renascida povoação por sugestão dos milícias, o Régulo de BADORA, MAMADU BONCO, os chefes das tabancas vizinhas e população. Uma lápide ali colocada ficou assinalando o acontecimento” (p.52).
Fiquei a conhecer a existência da Tabanca de Santa Cruz da Trapa por mera coincidência, estava eu a comandar o efectivo militar “residente” no Destacamento da Ponte do Rio Udunduma, sito na estrada Bambadinca-Xime, desde Julho/1973 [vd. P12565 + P12586 + P12734].
Quando se casava a oportunidade com a boleia, deslocava-me à sede do BART para tratar de assuntos logísticos e, algumas vezes, recolher o correio. Aproveitando esse facto, era natural e normal uma deslocação à Messe de Sargentos, interagindo com os camaradas aí presentes, repondo os líquidos necessários, comendo umas tapas e comentando o dia-a-dia da nossa “problemática”.
No sábado, 22SET1973, viagem idêntica aconteceu e o itinerário anterior repetiu-se. Foi aí que tomei conhecimento, pela primeira vez, da existência da Tabanca de Santa Cruz da Trapa, mas não sabia que essa designação estava relacionada com uma Freguesia do Continente com o mesmo nome, uma das catorze que constituem o Município de São Pedro do Sul, Distrito de Viseu.
Porque estava programada uma deslocação a essa Tabanca para o dia seguinte, 23SET1973 - Domingo, foi-me pedida uma ajuda para reforçar a equipa nomeada para a sessão de contacto com a população, que aceitei.
Foram-me buscar à “Ponte” pela manhã, tendo-me sido sugerido que trajasse com roupa civil, que respeitei.
Eis as quatro imagens de Santa Cruz da Trapa [subsector de Bambadinca] que guardo no meu baú de memórias.
Foto 2 – Santa Cruz da Trapa; subsector de Bambadinca [23Set1973]. Viatura utilizada na deslocação.
Foto 3 – Santa Cruz da Trapa; subsector de Bambadinca [23Set1973]. Foto para mais tarde recordar. Os furriéis: Jorge Araújo [CART 3494], Américo Costa [35ª CCmds] e Manuel Carvalhido [CCS - Armamento].
Foto 4 – Santa Cruz da Trapa; subsector de Bambadinca [23Set1973]. Momento de descontracção [e alguma parvoíce] com a cumplicidade de um burro de SCT. Os furriéis: Jorge Araújo [CART 3494], Edgar Soares [CCS - Op.Esp.] e Horácio Carrasqueira [CCS].
Foto 5 – Santa Cruz da Trapa; subsector de Bambadinca [23Set1973]. Idem. O J. Araújo [CART 3494] e o Marques [CCS].
III – SANTA CRUZ DA TRAPA
- FREGUESIA DE SÃO PEDRO DO SUL [VISEU]
Para enquadrar este texto, contactei recentemente um elemento do executivo da Junta de Freguesia de Santa Cruz da Trapa, Concelho de São Pedro do Sul, Distrito de Viseu, perguntando-lhe se tinha conhecimento da existência de uma comunidade na Guiné com o mesmo nome da sua Autarquia; a resposta foi negativa.
Relativamente ao Coronel António Tiago Martins, CMDT do BART 3873, soube que faleceu em 10OUT1992, com setenta e três anos. Por outro lado, a sua esposa, Idalina Carvalho Pereira Jorge Martins, faleceu em 12ABR2011, com oitenta e oito anos.
- Eis um pouco da história de Santa Cruz da Trapa
Quando D. Afonso Henriques, por volta de 1132,concedeu Carta de Couto ao recém-refundado Mosteiro de Santa Cristina de Lafões, a então chamada Villa de Sancta Cruce já existia. Chamava-se "parrochia Sancti Mamedis" de Baroso. Sabe-se que a íntima ligação dos condes de Borgonha com S. Bernardo e o apoio que este reformador de Cister obteve nas terras que viriam a ser Portugal deu lugar ao nascimento do convento cisterciense de Lafões, chamado de S. Cristóvão.Uma das terras incluídas no seu património tomara entretanto o nome de Trapa, certamente por influência dos eremitas, que aí tiveram uma pequena ermida e um cenóbio reconstruído e ampliado, ao que consta, por Cristóvão João, também cavaleiro-fidalgo. Terá portanto existido num certo espaço, um convento na Trapa, que Cristóvão João (ou Anes) encaminhou para os cónegos Regrantes de Santo Agostinho (Crúzios).
A partir da primeira metade do século Xll tanto a Vila da Trapa, com o seu couto conventual, como Paçõ (de Palatiolo, residência de um antigo proprietário rural) passaram a integrar o Couto de Cima, para sustento de S. Cristóvão de Lafões. No entanto o antigo Couto da Trapa não perdeu importância, antes passou com o tempo a ser uma espécie de sede administrativa do grande Couto de Cima.
Esta que é talvez uma das mais belas aldeias da Beira e seguramente uma das que mais terá para contar, atravessou séculos de tempo, desempenhando-se da função de sede dum concelho medieval, autónomo, criado a partir da sua situação de terra coutada, portanto em muitos aspectos, isenta da intervenção das autoridades centrais e regionais.
Para memória, deixou-nos os vestígios do edifício da Câmara, hoje já alterado, restos do pelourinho que alguém em má inspiração meteu a cabouco dum muro, restos da antiga cadeia (ali junto a uma quinta com o nome de Leira da Cadeia), e documentação (de 1823) em que se apresenta como sede dos recenseamentos da Capitania-Mor das Ordenanças.
Uma freguesia milenária esta, com uma bonita igreja do século XVIII, construída por iniciativa do ilustre pároco Dr. José de Almeida Navais, por então já com o composto nome de igreja de S. Mamede de Santa Cruz da Trapa. Nome composto, como que a pretender resumir o também complexo percurso histórico.
Santa Cruz da Trapa, até pela riqueza histórica, humana e paisagística envolvente neste lindíssimo Vale de Lafões, é todo um convite ao turismo inteligente e cultural [fotos abaixo].
Fonte: sctrapa.jfreguesia.com/historia
Eis mais um pequeno contributo para a história do BART 3873/CART 3494.
Um abraço,
Jorge Araújo.
Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494
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Nota de M.R.:
Vd. Também o último poste desta série em:
2 DE NOVEMBRO DE 2014 > Guiné 63/734 - P13839: História da CART 3494 (1): A ACTIVIDADE OPERACIONAL DA CART 3494. A OPERAÇÃO «GUARIDA 18» -XIME-03FEV1973 (Jorge Araújo)
Guiné 63/74 - P13894: Parabéns a você (816): António Inverno, ex-Alf Mil Op Esp do BART 6522 e Pel Caç Nat 60 (Guiné, 1972/74); Orlando Pinela, ex-1.º Cabo Reab Mat da CART 1614 (Guiné, 1966/68) e Pacífico dos Reis, Coronel Cav Ref, ex-Cap Cav CMDT da CCAÇ 5 (Guiné, 1968/70)
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Nota do editor
Último poste da série de 14 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13888: Parabéns a você (815): César Dias, ex-Fur Mil Sap Inf do BCAÇ 2885 (Guiné, 1969/71); Jacinto Cristina, ex-Soldado At Inf da CCAÇ 3546 e Maria Arminda Santos, ex-Tenente Enf.ª Paraquedista (1961/70)
sexta-feira, 14 de novembro de 2014
Guiné 63/74 - P13893: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXVI: O finório e o 1º sargento (José Luís Sousa, ex-fur mil, 1º pelotão)
1º encontro do pessoal da CCAÇ 2533, depois do regresso da Guiné... Foi em 1986... Foto da página do Facebook do Agostinho Gomes Evangelista, um rapaz que eu já convidei para integrar a Tabanca Grande: (i) andou na escola Escola Industrial e Comercial de Viana do Castelo; (ii) vive em Viana do Castelo; (iii) é natural da Ponte da Barca; e (iv) é Casado.
O cap Sidónio (hoje coronel reformado) é o terceiro da primeira fila, ladeado à sua direita pelos alferes mil Mota e Neto. O Evangelista é o último da penúltima fila, a contar da direita. O Nascimento não aparece na foto. Nem ele nem o Lessa.
(Foto reproduzida com a devida vénia; identificação dos camaradas feita pelo Luís Nacimento; edição: LN/LG).
1. Mensagem da Jéssica Nascimento com data de 8 do corrente:
Boa tarde Sr. Luís Graça,
Junto envio em anexo o que solicitou ao meu avô [, foto acima].
Agradeço a sua simpatia em publicar a minha fotografia e os seus comentários.
Gostei muito :)
Um alfa bravo do meu avô Luis Nascimento e um beijo desta Tabanqueira Jéssica Nascimento.
2. Continuação da publicação das "histórias da CCAÇ 2533", a partir do documento editado pelo ex-1º cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas, de fotografias). (*)
Hoje a histáoria é contada pelo ex-fur mil José Luís Simões (também do 1º pelotão): é a propósito de um pobre "finório" que seguiu o conselho da tropa, que mandava desenrascar (pp. 88/89)... Mas quem não conheceu finórios, na tropa e na guerra ?!... Havia-os de todos os tamanhos e feitios... Este, coitado, era um finório da arraia miúda. (LG)
Boa tarde Sr. Luís Graça,
Junto envio em anexo o que solicitou ao meu avô [, foto acima].
Agradeço a sua simpatia em publicar a minha fotografia e os seus comentários.
Gostei muito :)
Um alfa bravo do meu avô Luis Nascimento e um beijo desta Tabanqueira Jéssica Nascimento.
Foto de Canjambari
2. Continuação da publicação das "histórias da CCAÇ 2533", a partir do documento editado pelo ex-1º cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas, de fotografias). (*)
Hoje a histáoria é contada pelo ex-fur mil José Luís Simões (também do 1º pelotão): é a propósito de um pobre "finório" que seguiu o conselho da tropa, que mandava desenrascar (pp. 88/89)... Mas quem não conheceu finórios, na tropa e na guerra ?!... Havia-os de todos os tamanhos e feitios... Este, coitado, era um finório da arraia miúda. (LG)
1
Cartão de Boas Festas, com a foto do Luís Nascimento
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Nota do editor:
Último poste da série > 6 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13854: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXV: (i) o final da comissão em Farim, com os últimos mortos e feridos na zona de Lamel;: (ii) humilhados e ofendidos: regressados á Pátria, somos obrigados a ir a Chaves, num comboio ronceiro, entregar meia dúzia de trapos desfeitos, os restos das nossas fardas ! (Agostinho Evangelista, 1º pelotão)
Último poste da série > 6 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13854: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXV: (i) o final da comissão em Farim, com os últimos mortos e feridos na zona de Lamel;: (ii) humilhados e ofendidos: regressados á Pátria, somos obrigados a ir a Chaves, num comboio ronceiro, entregar meia dúzia de trapos desfeitos, os restos das nossas fardas ! (Agostinho Evangelista, 1º pelotão)
Guiné 63/74 - P13892: (Ex)citações (247): A propósito das ajudas (suecas e outras) ao desenvolvimento... Os elefantes brancos da Guiné-Bissau (Beja Santos)
Guiné > Região de Bafatá > Xime > Um "elefante branco": um silo de mancarra (que seria depois transportada de barco, pelo Rio Geba, até ao Cumeré, onde pelo menos já em 1991 o Beja uma fábrica de descasque )... Não sabemos a proveniência do financiamento [O Rosinha diz que era gaulês...]
Foto: © Mário Beja Santos (2011). Todos os direitos reservados
1. Excerto de um texto de reportagem do Mário Beja Santos, de visita ao Xime, em finais de 2010 (*):
(...) Ninguém ignora que há elefantes brancos na Guiné, construções grandiosas e sem préstimo, projectos faraónicos que serviram para sacar financiamentos e que não trouxeram um grama de desenvolvimento.
O que se está a ver, e segundo informaram o Tangomau, é um majestoso silo da mancarra que seria descascada no Cumeré onde o Tangomau em 1991 viu uma construção gigantesca que depois terá sido vendida para a Índia, a preço de saldo.
(...) Ninguém ignora que há elefantes brancos na Guiné, construções grandiosas e sem préstimo, projectos faraónicos que serviram para sacar financiamentos e que não trouxeram um grama de desenvolvimento.
O que se está a ver, e segundo informaram o Tangomau, é um majestoso silo da mancarra que seria descascada no Cumeré onde o Tangomau em 1991 viu uma construção gigantesca que depois terá sido vendida para a Índia, a preço de saldo.
São muitos os autores que se interrogam sobre os projectos que não levam a ponto nenhum. Em Bissau, o Tangomau comprou no INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa um livro sobre a intervenção rural onde uma autoridade, Flavien Fafali Koudawo, escreve coisas como esta:
“Ao tomarem as rédeas da Guiné-Bissau independente, as novas autoridades assumiram-se portadoras de um modelo de desenvolvimento. Na ausência de uma visão clara deste modelo, e dado a inexistência de um quadro de articulação coerente das vias e meios para alcançar metas bem planeadas, o referido modelo ficou apenas um objectivo vislumbrado. Nem as orientações do terceiro congresso do PAIGC que pretenderam traçar em 1977 o quadro da reconstrução nacional, nem o primeiro plano quadrienal de desenvolvimento económico e social (1983 – 1986) conseguiram consubstanciar um verdadeiro projecto nacional, no sentido de uma projecção num futuro desejado, conscientemente escolhido e claramente delineado. Na ausência deste projecto, o modelo afogou-se na ineficaz heterogeneidade duma miríade de projectos que ilustraram sobejamente que de boas intenções o inferno está cheio”.
Não é nada agradável terminar assim o dia depois de percorrer este território onde os guerrilheiros do PAIGC se impuseram do princípio ao fim, como se estivesses absolutamente conscientes do vigor da sua causa.
Aqui, no Xime, avista-se esta construção faraónica que nunca foi usada, à sua volta há trabalhadores a cultivarem como há milhares de anos, no delta do Nilo. É uma visão da ficção científica ou de como em África há que repensar o desenvolvimento e o bem comum. E fiquemo-nos por aqui, foi um dia a valer, já nem haverá tempo de ver o pôr-do-sol no Bairro Joli. E, no regresso, ainda há uma paragem comovente em Amedalai que se contará no relato de domingo de manhã, antes do Tangomau ir às compras para a grande festa, o grande reencontro com todos quantos puderam vir. (...) (**)
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 11 de janeiro de 2011 Guiné 63/74 - P7590: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (13): Os mistérios da estrada da Ponta do Inglês
(**) Último poste da série > 5 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13850: (Ex)citações (246): Ainda o rebentamento de uma granada no meio da população de Ganturé, durante um batuque (Mário Vitorino Gaspar)
Guiné 63/74 - P13891: Agenda cultural (356): Apresentação do livro "O Corredor da Morte", dia 18 de Novembro de 2014, pelas 15h30, na Associação Apoiar, Lisboa (Mário Gaspar)
1. Em mensagem de hoje, 14 de Novembro de 2014, o nosso camarada Mário Vitorino Gaspar (ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68), solicita a divulgação da apresentação do seu livro "O Corredor da Morte", na APOIAR, no próximo dia 18 de Novembro.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 13 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13884: Agenda cultural (355): Convite para o Seminário de Estudos Internacionais dedicado ao tema "Da Guiné Portuguesa à Guiné-Bissau: Um Roteiro", de Francisco Henriques da Silva e Mário Beja Santos, dia 20 de Novembro de 2014, pelas 18h00, no Auditório B1.03 do Instituto Universitário de Lisboa (Eduardo Costa Dias)
Guiné 63/74 - P13890: Manuscrito(s) (Luís Graça) (48): Rua Cor de Rosa...
Partidas & Chegadas
por Luís Graça
Para o Zé Belo
que parte,
para Key West, na Florida,
e para o Alberto Branquinho
que fica em Lisboa,
com o Tejo por cambar. (*)
Rua Nova do Carvalho.
Agora Rua Cor de Rosa…
por Luís Graça
Para o Zé Belo
que parte,
para Key West, na Florida,
e para o Alberto Branquinho
que fica em Lisboa,
com o Tejo por cambar. (*)
Rua Nova do Carvalho.
Agora Rua Cor de Rosa…
Há um bar para cada marinheiro,
Seja branco, preto ou amarelo,
Desde que no bolso tenha dinheiro.
É um sítio de partidas e chegadas
De todas as almas penadas.
Wiking, samurai ou paspalho,
Entro no Jamaica,
Seja branco, preto ou amarelo,
Desde que no bolso tenha dinheiro.
É um sítio de partidas e chegadas
De todas as almas penadas.
Wiking, samurai ou paspalho,
Entro no Jamaica,
Saio no Escandinávia.
O mundo é estreito
Para tanto abraço apertado,
Ali, no Cais do Sodré.
Hei-de vir a partir pratos
No Bar dos Gregos,
Coisa sem graça.
Mas agora tomo
O mundo é estreito
Para tanto abraço apertado,
Ali, no Cais do Sodré.
Hei-de vir a partir pratos
No Bar dos Gregos,
Coisa sem graça.
Mas agora tomo
O meu último uísque marado,
No Texas,
Antes de partir para a Guiné,
No T/T Niassa.
Não há irãs,
Acocorados nos poilões.
Não há sequer poilões.
Mas em cada dia
No Texas,
Antes de partir para a Guiné,
No T/T Niassa.
Não há irãs,
Acocorados nos poilões.
Não há sequer poilões.
Mas em cada dia
Haverá novas manhãs.
Luís Graça (**)
14/11/2014, 6h30
__________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 13 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13886 Da Suécia com saudade (47): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte VII): E depois da independência e até 1994, atingiu os 2 mil milhões de dólares! (José Belo)
(**) Último poste da série > 1 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13833: Manuscrito(s) (Luís Graça) (41): Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris
__________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 13 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13886 Da Suécia com saudade (47): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte VII): E depois da independência e até 1994, atingiu os 2 mil milhões de dólares! (José Belo)
(**) Último poste da série > 1 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13833: Manuscrito(s) (Luís Graça) (41): Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris
Guiné 63/74 - P13889: Notas de leitura (650): 1 de Novembro de 2014, na Feira da Ladra (2) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Novembro de 2014:
Queridos amigos,
Já houve referência à edição de 1944 desta adaptação do “Romance da Conquista da Guiné”, não foi muito feliz, estou crente que não mobilizou muitos jovens para ler mais Zurara, o percurso das viagens está muito sincopado, devia ter sido precedido de uma explicação das diferentes viagens, comportar um mapa das mesmas, etc.
Esta edição é mais cuidada que a primeira, com o benefício dos bons desenhos de Júlio Gil. E feita esta aquisição cheguei imprevistamente a outra, um livro de António Carreira que me pôs a refletir como foi possível vender como fidedigna a doutrina da unidade entre a Guiné e Cabo Verde.
Depois falamos.
Um abraço do
Mário
1 de Novembro de 2014, na Feira da Ladra (2)
Beja Santos
Ainda não refeito do achado da fotografia em que o padre Afonso parte mantenha com o Cardeal Patriarca e da curiosa revista A Terra, número associado à 1.ª Exposição Colonial Portuguesa, que se realizou no Porto em 1934, encontrei noutra banca o Romance da Conquista da Guiné, adaptação, para rapazes da “Crónica do Descobrimento e Conquista da Guiné” por Gomes Eanes da Zurara, trabalho de Frederico Alves, ilustrações de Júlio Gil. Aqui há uns meses atrás encontrei num alfarrabista na Avenida do Uruguai, em Lisboa, a primeira edição, de 1944, editada pela Agência-Geral do Ultramar, agora esta nova edição, de 1965, foi publicada pelas Edições Panorama, do SNI. O livro terá pertencido à biblioteca de Guedes de Amorim, conforme dedicatória que aqui se mostra.
Não há muito a dizer sobre um trabalho a que se fez larga referência. É uma adaptação para um público jovem de um dos clássicos da historiografia portuguesa e um dos pilares da história luso-guineense. Limito-me a um conjunto de referências até chegarmos à Guiné, ou seja a Grande Senegâmbia, para o saber do tempo era tudo a Guiné, ou a Etiópia Menor, tais ainda as imprecisões cartográficas, e mais tarde a Senegâmbia, convém recordar que Honório Pereira Barreto, um dos cabouqueiros da Guiné atual, envia às autoridades de Lisboa uma memória da Senegâmbia.
É muito bonito o retrato que Zurara dá do Infante Dom Henrique, convém não esquecer que a crónica é o seu panegírico:
“A sua estatura era de bom tamanho, a sua carnadura grossa, os membros largos e fortes e a cabeleira levantada. A pele foi branca, primeiro; porém o sol do Algarve acabou por queimá-la. A sua presença, à primeira vista, amedrontava os tímidos. Rara lucidez de espírito e teimosia incomparável”.
Mais adiante, Zurara vai enumerado as razões pelas quais o Infante se afoitou à empreitada dos Descobrimentos: querer devassar o mistério oceânico; podia bem ser que, entre terras e povos desconhecidos, os mareantes achassem bons portos e excelentes mercadorias ignoradas dos navegadores e comerciantes do tempo; impunha-se conhecer até onde chegaria a força dos infiéis; pretendia saber se em África existiriam países cristãos dispostos a arriscar a vida pela Fé; era seu desejo chamar a Jesus todas as almas que se quisessem salvar; e cumprir o seu destino realizando altas conquistas, tudo cumprindo a prazer do seu rei.
E assim se aparelhavam as caravelas e foram contornando a costa africana, passaram pelas Canárias. Estes empreendimentos conheceram uma pausa quando houve discórdias entre os que tomaram partido pelo Infante Dom Pedro e os que se puseram ao lado de D. Afonso V. Sossegados os negócios do reino, foram retomadas as viagens, Zurara descreve como Nuno Tristão armou Antão Gonçalves cavaleiro num local que se ficou a chamar por Porto do Cavaleiro. Em 1443, Nuno Tristão chegou ao Cabo Branco, descobriu a Ilha das Garças, estava-se no bom caminho. Em dado passo, regressando as caravelas a Lagos, expuseram os prisioneiros trazidos, é um dos textos mais espantosos de Zurara e da historiografia portuguesa:
“Os outros juntaram-se no campo, coisa maravilhosa de ver, pois eram uns de alvura sem mácula e formosos, outros de cor parda, e outros ainda, negros como a noite, feios e mal-ajeitados de corpo. Meu Deus! E qual coração, por mais empedernido, se não comover diante daquele triste rebanho?
Uns, de rostos baixos, lavavam as faces com pranto, outros trocavam olhares angustiados; gemiam alguns, dolorosamente, fitando as alturas do Céu, gritando de rijo, como se rogassem ajuda ao Pai da Natureza; outros rasgavam com as unhas a pele da cara e arremessavam-se ao chão; outros, ainda, soltavam do peito um coro de lamentações à maneira dos cânticos da sua terra distante.
E como se não bastasse a condição de escravos, aproximaram-se, então, os da partilha que, para ajustarem os quinhões, muitas vezes tiveram de separar os filhos dos pais, e as mulheres dos maridos, e os irmãos entre si. O coração não mandava, mandava a sorte”.
Dinis Dias demandou a terra daqueles negros conhecidos por guinéus, estas terras na linha da costa ocidental de África eram conhecidas por Guiné. Sucedem-se as façanhas, as viagens tormentosas, em dada viagem julgou-se ter chegado ao rio Nilo e Zurara escreve:
“O Nilo é o rio das maravilhas, o rio mais nobre do mundo, e a sua grandeza foi cantada pelos sábios da Antiguidade.
Dizem alguns que ele nasce ao pé do Mar Vermelho e dali corre, para o ocidente, através de muitos acidentes. Nesta ilha, do senhorio da Etiópia, há uma cidade outrora chamada Sabá, ao tempo que o faraó do Egito lá enviou Moisés”.
Há pelejas com os mouros, morrem companheiros, morre Nuno Tristão na sua glória de bem servir. Prossegue o panegírico de Zurara:
“Aventuraram-se longe, muito longe, as caravelas do Senhor Infante. E o eco das navegações que fizeram soou até nas cortes da Noruega, Suécia e Dinamarca, onde nobres varões se deixaram tentar pelas vozes correntes e, descendo a Europa, vieram à beira do Tejo para haver em prova de que a verdade era tão grande como a fama”.
A crónica avança para o seu termo. Em 1448, D. Afonso V é rei na plenitude, aqui se põe fim à crónica, com seguintes dizeres: “e por isso que vós, mui alto e muito excelente Príncipe Dom Henrique, segundo creio o mais virtuoso entre os mortais, mandastes a mim, Gomes Eanes de Zurara, vosso criado, e por vossa mercê cavaleiro e comendador na Ordem de Cristo, que pusesse esses feitos em história, com grande razão me apraz terminar em agradecimento a vós”.
As pechinchas ainda não acabaram; ainda não refeito deste Zurara adaptado a jovens com ilustrações de Júlio Gil e dou comigo a manusear uma preciosidade de António Carreira, um conjunto de enseios editados em 1984, pela Ulmeiro, ali se fala da geografia e da demografia de Cabo Verde, as várias secas e fomes do século XX, como se organiza a sociedade cabo-verdiana, as migrações internas, a emigração e a imigração, é a primeira vez que leio algo de substancial sobre estas fomes e secas e sua interpretação: o deserto do Sara tem as suas culpas e aqueles ventos que afugentam as chuvas, a derruba e a queima de tudo quanto é mato e arvoredo; as pragas de gafanhotos que devoram e danificam culturas e pastos, a acentuada diminuição das águas subterrâneas; o crescimento explosivo da população que tudo agravou e face à qual a emigração foi útil mas insuficiente. Uma leitura atrativa, esclarecedora, Carreira, nascido na Ilha do Fogo, em 1905, e que trabalhou como administrador na Guiné, foi um dos seus historiadores mais prolíficos e probos. Daí valer a pena dedicar-lhe espaço em próximo apontamento.
(Continua)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 10 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13870: Notas de leitura (649): 1 de Novembro de 2014, na Feira da Ladra (1) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Já houve referência à edição de 1944 desta adaptação do “Romance da Conquista da Guiné”, não foi muito feliz, estou crente que não mobilizou muitos jovens para ler mais Zurara, o percurso das viagens está muito sincopado, devia ter sido precedido de uma explicação das diferentes viagens, comportar um mapa das mesmas, etc.
Esta edição é mais cuidada que a primeira, com o benefício dos bons desenhos de Júlio Gil. E feita esta aquisição cheguei imprevistamente a outra, um livro de António Carreira que me pôs a refletir como foi possível vender como fidedigna a doutrina da unidade entre a Guiné e Cabo Verde.
Depois falamos.
Um abraço do
Mário
1 de Novembro de 2014, na Feira da Ladra (2)
Beja Santos
Ainda não refeito do achado da fotografia em que o padre Afonso parte mantenha com o Cardeal Patriarca e da curiosa revista A Terra, número associado à 1.ª Exposição Colonial Portuguesa, que se realizou no Porto em 1934, encontrei noutra banca o Romance da Conquista da Guiné, adaptação, para rapazes da “Crónica do Descobrimento e Conquista da Guiné” por Gomes Eanes da Zurara, trabalho de Frederico Alves, ilustrações de Júlio Gil. Aqui há uns meses atrás encontrei num alfarrabista na Avenida do Uruguai, em Lisboa, a primeira edição, de 1944, editada pela Agência-Geral do Ultramar, agora esta nova edição, de 1965, foi publicada pelas Edições Panorama, do SNI. O livro terá pertencido à biblioteca de Guedes de Amorim, conforme dedicatória que aqui se mostra.
Não há muito a dizer sobre um trabalho a que se fez larga referência. É uma adaptação para um público jovem de um dos clássicos da historiografia portuguesa e um dos pilares da história luso-guineense. Limito-me a um conjunto de referências até chegarmos à Guiné, ou seja a Grande Senegâmbia, para o saber do tempo era tudo a Guiné, ou a Etiópia Menor, tais ainda as imprecisões cartográficas, e mais tarde a Senegâmbia, convém recordar que Honório Pereira Barreto, um dos cabouqueiros da Guiné atual, envia às autoridades de Lisboa uma memória da Senegâmbia.
É muito bonito o retrato que Zurara dá do Infante Dom Henrique, convém não esquecer que a crónica é o seu panegírico:
“A sua estatura era de bom tamanho, a sua carnadura grossa, os membros largos e fortes e a cabeleira levantada. A pele foi branca, primeiro; porém o sol do Algarve acabou por queimá-la. A sua presença, à primeira vista, amedrontava os tímidos. Rara lucidez de espírito e teimosia incomparável”.
Mais adiante, Zurara vai enumerado as razões pelas quais o Infante se afoitou à empreitada dos Descobrimentos: querer devassar o mistério oceânico; podia bem ser que, entre terras e povos desconhecidos, os mareantes achassem bons portos e excelentes mercadorias ignoradas dos navegadores e comerciantes do tempo; impunha-se conhecer até onde chegaria a força dos infiéis; pretendia saber se em África existiriam países cristãos dispostos a arriscar a vida pela Fé; era seu desejo chamar a Jesus todas as almas que se quisessem salvar; e cumprir o seu destino realizando altas conquistas, tudo cumprindo a prazer do seu rei.
E assim se aparelhavam as caravelas e foram contornando a costa africana, passaram pelas Canárias. Estes empreendimentos conheceram uma pausa quando houve discórdias entre os que tomaram partido pelo Infante Dom Pedro e os que se puseram ao lado de D. Afonso V. Sossegados os negócios do reino, foram retomadas as viagens, Zurara descreve como Nuno Tristão armou Antão Gonçalves cavaleiro num local que se ficou a chamar por Porto do Cavaleiro. Em 1443, Nuno Tristão chegou ao Cabo Branco, descobriu a Ilha das Garças, estava-se no bom caminho. Em dado passo, regressando as caravelas a Lagos, expuseram os prisioneiros trazidos, é um dos textos mais espantosos de Zurara e da historiografia portuguesa:
“Os outros juntaram-se no campo, coisa maravilhosa de ver, pois eram uns de alvura sem mácula e formosos, outros de cor parda, e outros ainda, negros como a noite, feios e mal-ajeitados de corpo. Meu Deus! E qual coração, por mais empedernido, se não comover diante daquele triste rebanho?
Uns, de rostos baixos, lavavam as faces com pranto, outros trocavam olhares angustiados; gemiam alguns, dolorosamente, fitando as alturas do Céu, gritando de rijo, como se rogassem ajuda ao Pai da Natureza; outros rasgavam com as unhas a pele da cara e arremessavam-se ao chão; outros, ainda, soltavam do peito um coro de lamentações à maneira dos cânticos da sua terra distante.
E como se não bastasse a condição de escravos, aproximaram-se, então, os da partilha que, para ajustarem os quinhões, muitas vezes tiveram de separar os filhos dos pais, e as mulheres dos maridos, e os irmãos entre si. O coração não mandava, mandava a sorte”.
Dinis Dias demandou a terra daqueles negros conhecidos por guinéus, estas terras na linha da costa ocidental de África eram conhecidas por Guiné. Sucedem-se as façanhas, as viagens tormentosas, em dada viagem julgou-se ter chegado ao rio Nilo e Zurara escreve:
“O Nilo é o rio das maravilhas, o rio mais nobre do mundo, e a sua grandeza foi cantada pelos sábios da Antiguidade.
Dizem alguns que ele nasce ao pé do Mar Vermelho e dali corre, para o ocidente, através de muitos acidentes. Nesta ilha, do senhorio da Etiópia, há uma cidade outrora chamada Sabá, ao tempo que o faraó do Egito lá enviou Moisés”.
Há pelejas com os mouros, morrem companheiros, morre Nuno Tristão na sua glória de bem servir. Prossegue o panegírico de Zurara:
“Aventuraram-se longe, muito longe, as caravelas do Senhor Infante. E o eco das navegações que fizeram soou até nas cortes da Noruega, Suécia e Dinamarca, onde nobres varões se deixaram tentar pelas vozes correntes e, descendo a Europa, vieram à beira do Tejo para haver em prova de que a verdade era tão grande como a fama”.
A crónica avança para o seu termo. Em 1448, D. Afonso V é rei na plenitude, aqui se põe fim à crónica, com seguintes dizeres: “e por isso que vós, mui alto e muito excelente Príncipe Dom Henrique, segundo creio o mais virtuoso entre os mortais, mandastes a mim, Gomes Eanes de Zurara, vosso criado, e por vossa mercê cavaleiro e comendador na Ordem de Cristo, que pusesse esses feitos em história, com grande razão me apraz terminar em agradecimento a vós”.
As pechinchas ainda não acabaram; ainda não refeito deste Zurara adaptado a jovens com ilustrações de Júlio Gil e dou comigo a manusear uma preciosidade de António Carreira, um conjunto de enseios editados em 1984, pela Ulmeiro, ali se fala da geografia e da demografia de Cabo Verde, as várias secas e fomes do século XX, como se organiza a sociedade cabo-verdiana, as migrações internas, a emigração e a imigração, é a primeira vez que leio algo de substancial sobre estas fomes e secas e sua interpretação: o deserto do Sara tem as suas culpas e aqueles ventos que afugentam as chuvas, a derruba e a queima de tudo quanto é mato e arvoredo; as pragas de gafanhotos que devoram e danificam culturas e pastos, a acentuada diminuição das águas subterrâneas; o crescimento explosivo da população que tudo agravou e face à qual a emigração foi útil mas insuficiente. Uma leitura atrativa, esclarecedora, Carreira, nascido na Ilha do Fogo, em 1905, e que trabalhou como administrador na Guiné, foi um dos seus historiadores mais prolíficos e probos. Daí valer a pena dedicar-lhe espaço em próximo apontamento.
(Continua)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 10 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13870: Notas de leitura (649): 1 de Novembro de 2014, na Feira da Ladra (1) (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P13888: Parabéns a você (815): César Dias, ex-Fur Mil Sap Inf do BCAÇ 2885 (Guiné, 1969/71); Jacinto Cristina, ex-Soldado At Inf da CCAÇ 3546 e Maria Arminda Santos, ex-Tenente Enf.ª Paraquedista (1961/70)
____________
Nota do editor
Último poste da série de Guiné 63/74 - P13880: Parabéns a você (814): José Manuel Lopes, ex-Fur Mil Art da CART 6250 (Guiné, 1972/74)
quinta-feira, 13 de novembro de 2014
Guiné 63/74 - P13887: In Memoriam (207): Faleceu hoje o ex-Alf Mil Manuel Alcides André Rocha, que pertenceu à CCAÇ 3461/BCAÇ 3863 e à CCAÇ 16 (Carenque e Bachile, 1971/73) (Ricardo Figueiredo)
1. Mensagem do nosso camarada Ricardo Figueiredo (ex-Fur Mil da 2.ª CART/BART 6523, Cabuca, 1973/74), com data de hoje, 13 de Novembro de 2014:
Boa tarde Carlos,
Para conhecimento do blogue, participo-te que faleceu hoje, 13 de Novembro de 2014, o nosso camarada MANUEL ALCIDES ANDRÉ ROCHA, ex-Alferes Miliciano que pertenceu à CCAÇ 3461 / BCAÇ 3863 e à CCAÇ 16.
O corpo do nosso já saudoso camarada está em Câmara Ardente na Igreja de S. Mamede de Infesta - Matosinhos até amanhã às 10h00, quando sairá para inumar no Cemitério local.
Um abraço,
Ricardo Figueiredo
************
2. Nota dos editores:
Nesta hora de dor, em nome da Tertúlia deste Blogue, deixamos à família enlutada os nossos mais sentidos pêsames.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 13 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13881: In Memoriam (206) Nuno da Costa Tavares Machado, alf mil art, CART 1613, morto em Guileje, em 28/12/1967, e condecoado com a cruz de guerra, de 3ª classe, a título póstumo
Boa tarde Carlos,
Para conhecimento do blogue, participo-te que faleceu hoje, 13 de Novembro de 2014, o nosso camarada MANUEL ALCIDES ANDRÉ ROCHA, ex-Alferes Miliciano que pertenceu à CCAÇ 3461 / BCAÇ 3863 e à CCAÇ 16.
O corpo do nosso já saudoso camarada está em Câmara Ardente na Igreja de S. Mamede de Infesta - Matosinhos até amanhã às 10h00, quando sairá para inumar no Cemitério local.
Um abraço,
Ricardo Figueiredo
Em primeiro plano e à direita da foto, o nosso malogrado camarada Manuel Alcides André Rocha.
************
2. Nota dos editores:
Nesta hora de dor, em nome da Tertúlia deste Blogue, deixamos à família enlutada os nossos mais sentidos pêsames.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 13 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13881: In Memoriam (206) Nuno da Costa Tavares Machado, alf mil art, CART 1613, morto em Guileje, em 28/12/1967, e condecoado com a cruz de guerra, de 3ª classe, a título póstumo
Guiné 63/74 - P13886 Da Suécia com saudade (47): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte VII): E depois da independência e até 1994, atingiu os 2 mil milhões de dólares! (José Belo)
Foto nº 15 > Quem disse que em tempo de guerra não se limpavam armas ? [Legenda original: "15 Soldiers in the liberated areas in Guinea Bissau"]
Foto nº 6 > Isto não é uma picada, é uma autoestrada... [ Legenda original: "Soldiers marching in the liberated areas in Guinea Bissau"]
Foto nº 23 > Mezinhas para o povo... [Legenda original: "Medical examination in the liberated areas in Guinea Bissau"]
Foto nº 22 > O trabalho da menino é pouco mas quem não o aproveita é louco... [Não, não é a apologia do trabalho infantil, é um ditado popular português...[Legenda original: "Harvesting rice in the liberated areas in Guinea Bissau. The rice was stored in the little house with straw roof in the background"]
Foto nº 5 > Uma visão idílica da guerra de guerrilha por parte dos escandinavos... [Legenda original: "In a boat on the river in the liberated areas in Guinea Bissau.]
Foto nº 31 >
Guiné-Bissau (ou Guné-Conacri) > PAIGC > s/l> Novembro de 1970 > Algures, na Guiné Conacri ou nas "áreas libertadas" (sic) da Guiné-Bissau, fotos do fotógrafo norueguês Knut Andreasson, por ocasião de um visita de uma delegação sueca.
Algumas destas foto foram publicadas no livro Guinea-Bissau : rapport om ett land och en befrielserörelse, da autoria de Knut Andreassen, Birgitta Dahl (Stockholm : Prisma, 1971, 216 pp.). [Título traduzido para português: Guiné-Bissau: relatório sobre um país e um movimento de libertação].
A chefe da delegação, a controversa deputada socialdemocrata e antiga presidente do parlamento sueco, Birgitta Dahl, fez um relatório desta missão, em sueco, e que infelizmente não está disponível na Net: a visita foi à Guiné-Conacri e às "áreas libertadas" da Guiné-Bissau, no período de 6 de novembro a 7 de dezembro de 1970 [”Rapport från studieresa till Republiken Guinea och de befriade områdena i Guinea-Bissau, 6 november–7 december 1970” (”Relatório da viagem de estudo à República da Guiné e às zonas libertadas da Guiné-Bissau, 6 de Novembro–7 de Dezembro de 1970”), Uppsala, Janeiro de 1971 (SDA)].
Fonte: Nordic Documentation on the Liberation Struggle on Southern Africa [Com a devida vénia] [Seleção, edição e legendaqgem livre: LG]
[As fotos podem ser usadas, devendo ser informado o Nordic Africa Institute (NAI) e o fotógrafo, quando for caso disso. Este espólio fotográfico de Knut Andreasson (, relativo à visita ao PAIGC na Guiné-Conacri e, alegadamente, às áreas sob o seu controlo na Guiné-Bissau, em novembro de 1970, de uma delegação sueca) foi doado pela viúva ao NAI.]
1. Última parte da publicação de alguns dados e notas de contextualização, sobre a ajuda sueca ao PAIGC, a partir de 1969, e depois à Guiné-Bissau, a seguir à independência e até 1994, da autoria do nosso camarada José Belo (na Suécia há quase 4 décadas, e a quem a gente chama carinhosamente o "régulo da Tabanca da Lapónia") (*)
Data: 6 de Novembro de 2014 às 20:27
Assunto: Auxílio Sueco à Guiné (pós independência)
Caro Luís Graca.
A partir do dia 12 parto para os States por um bom período de tempo. Aproveitarei para umas longas férias "blogueiras" em todos os azimutes.
Um abraco, José Belo
[O blogue do Zé Belo, Lapland Near Key West tinha a seguinte inscrição à porta do iglô, às 19h00 ontem, de Lisboa: "Sorry, we 're closed for vacation" ( Desculpem, estamos fechados para férias).] (LG)
2. Depois da independência a Suécia continuou a ser o maior fornecedor de assistência à Guiné (*).
O auxílio estatal era dado pela Swedish International Development Cooperation Agency (SIDA) e pela Swedish Agency for Research and Cooperation with Developing Countries (SAREC), para além de Organizações näo Governamentais (ONG) como por exemplo a Save the Children/Sweden (Rädda Barnen).
O auxílio estatal entre 1974 e 1993 foi de 2 mil milhões (!) de dólares (USA),
De entre projectos financiados pela SIDA [, A Agência Sueca Para o Desenvolvimento e Cooperação Internacionais] salientam-se:
(i) Programa de Desenvolvimento Rural Integrado (PDRI) administrado desde o Centro Olof Palme, em Bula:
(x) Financiamento e assistência ao INEP-Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa.(Assstência e apoio ás publicações, projectos de pesquisa, conferências académicas, grupos de estudos, bolsas académicas).
Em 1994 uma avaliação muito crítica(!) aos resultados da assistência desde 1974 recomendou uma redução substancial da mesma por, entre outros motivos...menos diplomáticos..."O auxílio dado à Guiné-Bissau durante 20 anos ter resultado num crescimento económico muito limitado".
Cinco anos mais tarde, na sequência da destrutiva guerra civiil de 1998-1999 a embaixada sueca em Bissau foi encerrada.
José Belo
A política seguida pela SIDA até essa data foi a de permitir ao Governo da Guiné a formulação das suas prioridades e solicitar auxílios de acordo com as mesmas. A seu modo auxílios... "requisitados".
Os resultados?
De qualquer modo é interessante o aumento dos números quanto aos milhões de coroas suecas fornecidas de ano para ano.
1988-1989...3 milhões.
1989-1990...6 milhões.
1990-1991...28 milhões
Um abraço do José Belo
PS - 1 Euro = 9,2691 Coroas Suecas (SEK); 1 SEK = 0,10787 €, em 13/11/2014 (LG)
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(*) Últimos postes desta série:
3 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13842: Da Suécia com saudade (40): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte I)... à Guiné-Bissau, de 1974 a 1995, foi de quase 270 milhões de euros... Depois os suecos fecharam a torneira... (José Belo)
4 de movembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13847: Da Suécia com saudade (41): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte II)... Um apoio estritamente civil, humanitário, não-militar, apesar das pressões a que estavam sujeitos os sociais-democratas, então no poder (José Belo)
5 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13849: Da Suécia com saudade (42): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte III)... Pragmatismos de Amílcar Cabral e do Governo Sueco, de Olaf Palme, que só reconheceu a Guiné-Bissau em 9 de agosto de 1974 (José Belo)
6 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13853: Da Suécia com saudade (43): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte IV): Rússia e Suécia, vizinhos e inimigos fidalgais, foram os dois países que mais auxiliaram o partido de Amílcar Cabral (José Belo)
7 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13859: Da Suécia com saudade (44): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte V)Quando se discutia, item a item, o que era ou não era ajuda humanitária: catanas, canetas, latas de sardinha de conserva... (José Belo)
9 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13859: Da Suécia com saudade (45): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte VI): Para além de meios de transporte automóvel (camiões e outras viaturas Volvo, Gaz, Unimog, Land Rover, Peugeot, etc.), até uma estação de rádio completa, móvel, foi fornecida ao movimento de Amílcar Cabral, sempre para fins "não-militares"... (José Belo)
11 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13874: Da Suécia com saudade (46): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte VII): Não deveria ter ficado surpreendido, com algumas reações... (José Belo)
A chefe da delegação, a controversa deputada socialdemocrata e antiga presidente do parlamento sueco, Birgitta Dahl, fez um relatório desta missão, em sueco, e que infelizmente não está disponível na Net: a visita foi à Guiné-Conacri e às "áreas libertadas" da Guiné-Bissau, no período de 6 de novembro a 7 de dezembro de 1970 [”Rapport från studieresa till Republiken Guinea och de befriade områdena i Guinea-Bissau, 6 november–7 december 1970” (”Relatório da viagem de estudo à República da Guiné e às zonas libertadas da Guiné-Bissau, 6 de Novembro–7 de Dezembro de 1970”), Uppsala, Janeiro de 1971 (SDA)].
Fonte: Nordic Documentation on the Liberation Struggle on Southern Africa [Com a devida vénia] [Seleção, edição e legendaqgem livre: LG]
[As fotos podem ser usadas, devendo ser informado o Nordic Africa Institute (NAI) e o fotógrafo, quando for caso disso. Este espólio fotográfico de Knut Andreasson (, relativo à visita ao PAIGC na Guiné-Conacri e, alegadamente, às áreas sob o seu controlo na Guiné-Bissau, em novembro de 1970, de uma delegação sueca) foi doado pela viúva ao NAI.]
1. Última parte da publicação de alguns dados e notas de contextualização, sobre a ajuda sueca ao PAIGC, a partir de 1969, e depois à Guiné-Bissau, a seguir à independência e até 1994, da autoria do nosso camarada José Belo (na Suécia há quase 4 décadas, e a quem a gente chama carinhosamente o "régulo da Tabanca da Lapónia") (*)
Data: 6 de Novembro de 2014 às 20:27
Assunto: Auxílio Sueco à Guiné (pós independência)
Caro Luís Graca.
A partir do dia 12 parto para os States por um bom período de tempo. Aproveitarei para umas longas férias "blogueiras" em todos os azimutes.
Um abraco, José Belo
[O blogue do Zé Belo, Lapland Near Key West tinha a seguinte inscrição à porta do iglô, às 19h00 ontem, de Lisboa: "Sorry, we 're closed for vacation" ( Desculpem, estamos fechados para férias).] (LG)
2. Depois da independência a Suécia continuou a ser o maior fornecedor de assistência à Guiné (*).
O auxílio estatal era dado pela Swedish International Development Cooperation Agency (SIDA) e pela Swedish Agency for Research and Cooperation with Developing Countries (SAREC), para além de Organizações näo Governamentais (ONG) como por exemplo a Save the Children/Sweden (Rädda Barnen).
O auxílio estatal entre 1974 e 1993 foi de 2 mil milhões (!) de dólares (USA),
De entre projectos financiados pela SIDA [, A Agência Sueca Para o Desenvolvimento e Cooperação Internacionais] salientam-se:
(i) Programa de Desenvolvimento Rural Integrado (PDRI) administrado desde o Centro Olof Palme, em Bula:
(ii) Fábrica de Blocos e Tijolos em Bafatá;
(iii) Estaleiros de reparação GUINAVE em Bissau;
(iv) Oficinas mecânicas GUIMETAL em Bissau;
(v) Companhia de madeiras SOCOTRAM que operava 3 serrações, uma fábrica de mobílias,e uma fábrica de revestimentos de madeira para construção civil:
(vi) Uma rede telefónica automática:
(vii) Oficinas Volvo de reparação e manutenção;
(viii) A PESCARTE - Direcäo Nacional da Pesca Artesanal
(ix) Laboratório Nacional de Saúde Pública e apoio em especialistas e material hospitalar para o diagonóstico e tratamento do HIV/SIDA
Dos projectos financiados pela SAREC - Swedish Agency for Research and Cooperation with Developing Countries, salienta-se:
Dos projectos financiados pela SAREC - Swedish Agency for Research and Cooperation with Developing Countries, salienta-se:
(x) Financiamento e assistência ao INEP-Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa.(Assstência e apoio ás publicações, projectos de pesquisa, conferências académicas, grupos de estudos, bolsas académicas).
Em 1994 uma avaliação muito crítica(!) aos resultados da assistência desde 1974 recomendou uma redução substancial da mesma por, entre outros motivos...menos diplomáticos..."O auxílio dado à Guiné-Bissau durante 20 anos ter resultado num crescimento económico muito limitado".
Cinco anos mais tarde, na sequência da destrutiva guerra civiil de 1998-1999 a embaixada sueca em Bissau foi encerrada.
José Belo
[ ex-alf mil inf da CCAÇ 2381,Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70; cap inf ref, é jurista, vive Suécia há quase 4 décadas, e onde formou família: e, ultiimamente, reparte o seu tempo com os EUA, aonde família tem negócios].
3. Mail do José Belo, recebido ainda hoje de manhã, por volta das 10h30:
Caro Luís Graça.
3. Mail do José Belo, recebido ainda hoje de manhã, por volta das 10h30:
Caro Luís Graça.
Aproveito já estar na minha casa em Estocolmo a aguardar o voo de amanhã para os States, para enviar sugestão quanto à interessante leitura do documento de um dos estudos sobre os auxílios da Agência Estatal Sueca SIDA à Guiné, Moçambique, Nicarágua e Vietname, na época os países que maior auxílio sueco recebiam: (i) "Aid and Macroeconomics", de Stefan Vylder; (ii) "An evaluation of Swedish Import Support to Guinea-Bissau, Mozambique, Nicaragua and Vietnam".
É interessante a Suécia ter mantido um perfil muito discreto nos diálogos políticos com as autoridades de Bissau sobre os programas de ajustamentos estruturais. No relatório de estudo e análise, mais ou menos crítica, de 1993, constata-se não ter tido a Agência Estatal Sueca-SIDA uma influência nas políticas económicas do governo da Guiné, compatível com a realidade de ser de longe a dadora do maior auxílio económico e dispondo de especialistas nesta área com mais vasta experiência do que a de outros países envolvidos.
É interessante a Suécia ter mantido um perfil muito discreto nos diálogos políticos com as autoridades de Bissau sobre os programas de ajustamentos estruturais. No relatório de estudo e análise, mais ou menos crítica, de 1993, constata-se não ter tido a Agência Estatal Sueca-SIDA uma influência nas políticas económicas do governo da Guiné, compatível com a realidade de ser de longe a dadora do maior auxílio económico e dispondo de especialistas nesta área com mais vasta experiência do que a de outros países envolvidos.
A política seguida pela SIDA até essa data foi a de permitir ao Governo da Guiné a formulação das suas prioridades e solicitar auxílios de acordo com as mesmas. A seu modo auxílios... "requisitados".
Esta política (diferente de a seguida por outros países que têm sempre procurado estabelecer condições formais para fornecimentos de auxílios bilaterais) tem feito com que o governo local olhe a SIDA como um dador "soft", a ser encarado como amigo(!).....
Os resultados?
De qualquer modo é interessante o aumento dos números quanto aos milhões de coroas suecas fornecidas de ano para ano.
1988-1989...3 milhões.
1989-1990...6 milhões.
1990-1991...28 milhões
Um abraço do José Belo
PS - 1 Euro = 9,2691 Coroas Suecas (SEK); 1 SEK = 0,10787 €, em 13/11/2014 (LG)
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Nota do editor:
3 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13842: Da Suécia com saudade (40): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte I)... à Guiné-Bissau, de 1974 a 1995, foi de quase 270 milhões de euros... Depois os suecos fecharam a torneira... (José Belo)
4 de movembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13847: Da Suécia com saudade (41): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte II)... Um apoio estritamente civil, humanitário, não-militar, apesar das pressões a que estavam sujeitos os sociais-democratas, então no poder (José Belo)
5 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13849: Da Suécia com saudade (42): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte III)... Pragmatismos de Amílcar Cabral e do Governo Sueco, de Olaf Palme, que só reconheceu a Guiné-Bissau em 9 de agosto de 1974 (José Belo)
6 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13853: Da Suécia com saudade (43): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte IV): Rússia e Suécia, vizinhos e inimigos fidalgais, foram os dois países que mais auxiliaram o partido de Amílcar Cabral (José Belo)
7 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13859: Da Suécia com saudade (44): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte V)Quando se discutia, item a item, o que era ou não era ajuda humanitária: catanas, canetas, latas de sardinha de conserva... (José Belo)
9 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13859: Da Suécia com saudade (45): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte VI): Para além de meios de transporte automóvel (camiões e outras viaturas Volvo, Gaz, Unimog, Land Rover, Peugeot, etc.), até uma estação de rádio completa, móvel, foi fornecida ao movimento de Amílcar Cabral, sempre para fins "não-militares"... (José Belo)
11 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13874: Da Suécia com saudade (46): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte VII): Não deveria ter ficado surpreendido, com algumas reações... (José Belo)
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