Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > c. 1970, +epoca seca > Vista aérea do Rio Geba Estreito onde a circulação de barcos civis de transporte de pessoas e mercadorias, no troço entre a foz do Corubal e Bambadinca estava mais sujeita a ataques e flagelações do IN (em especial em Ponta Varela e no Mato Cão).
Infelizmente não temos nenhuma foto da embarcação "Bubaque", uma antiga Lancha de Patrulha, LP 4, adquirida à Marinha Portuguesa em 1964, como sucata, e transformada em barco de passageiros. Muitos militares do leste, como eu, fizeram esta memorável viagem Bambadinca-Bissau ou Bissau-Bambadinca.
Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]
1. Continuação da publicação da História do BART 3873 (que esteve colocado na zona leste, no Setor L1, Bambadinca, 1972/74), a partir e cópia digitalizada da História da Unidade, em formato pdf, gentilmente disponibilizada pelo António Duarte (*)
[António Duarte, ex-fur mil da CART 3493, a Companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974; foi transferido para a CCAC 12 (em novembro de 1972, e não como voluntário, como por lapso temos indicado); economista, bancário reformado, formador; foto atual à esquerda].
O destaque do mês de junho de 1973 (pp. 57/59) vai para o ataque, à 1 hora e meia da noite, do dia 1, ao barco civil, "Bubaque" (**), no Geba Estreito, no troço entre Bambadinca e o Xime, em São Belchior, antes do Mato Cão (que nesta altuar já tem um destacamento permanente das NT); ia a bordo o proprietário e capitão do barco, o Amante da Rosa, pai do nosso camarada (e diplomata, cabo verdiano) Manuel Amante. Uma semana e tal depois, a 10 de junho, ao cair da tarde, há novo ataque, desta vez em Ponta Varela, a oeste do Xime, a um comboio de 3 barcos civis (LG).
Junho de 1973: dois ataques à navegação no Rio Geba Estreito, sendo o mais grave contra a nossa conhecida embarcação "Bubaque", propriedade do empresário Amante da Rosa
(*) Último poste da série > 15 de novembro de 2014 > Guiiné 63/74 - P13898: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XVI: maio de 1973: o IN recruta coercivamente mancebos nas tabancas sob seu controlo (Poindom, Ponta Varela, Ponta Luís Dias e Ponta do Inglês): um dos recrutas era informador das NT
(**) Vd poste de Manuel Amante da Rosa [, nosso camarada de armas (, prestou serviço no BINT, Bissau, 1973/74), cidadão cabo-verdiano, embaixador, membro da nossa Tabanca Grande desde Maio de 2007; foto à esquerda]:
12 de dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5455: Memória dos lugares (60): O Rio Geba e o navio Bubaque, do meu pai (Manuel Amante da Rosa)
Era também conhecido por Djanta Kúcia pela sua rapidez na jornada. Significava que se podia almoçar em casa e chegar ao seu destino ainda a tempo de jantar.
Fiz muitas e muitas viagens nesse navio, mais de dia que de noite, algumas com acidentes e avarias graves no percurso mas, estando a bordo, nunca fomos vítimas de ataque. Meu Pai, sim, numa madrugada em pleno Mato Cão, por erro de identificação. [Provavelmente, o autor refere-se a este ataque do dia 1 de junho de 1973, à 1h30]
Não me parece que tivesse havido alguma vez um acordo ou pagamento de passagem [, ao PAIGC]. Era sabido que só transportavámos passageiros e muitos deles seriam familiares próximos de quem estava na luta, quando não fossem mesmo guerrilheiros ou mensageiros a caminho de Bissau e vice-versa.
Transportei muitas vezes militares que demandavam e/ou outro porto. Sentiam-se seguros no Bubaque. A viagem directa Bambadinca-Bissau demorava em média de 5 a 6 horas, duas das quais na auto-estrada do Mato Cão, a parte que mais encanto me dava. A subir era sempre menos.
No Geba largo, no tempo das chuvas e tornados, a preocupação era evidente devido às vagas curtas, sempre de través e instabilidade da massa humana a fugir da chuva ou a agachar-se do vento a sotavento dele. Nessas ocasiões aproximavamo-nos da margem oposta passando por Jabadá e Enxudé até cortar directo para oeste de Cumeré, passar entre a ponte cais e o ilhéu do Rei e atracar no Pidjiguiti. No outro dia, a favor da maré, lá se iniciava uma outra jornada. (...)
[Seleção, itálido, bold e realce a amarelo: LG]
__________________
Vd também os postes de:
23 de outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7164: Meu pai, meu velho, meu camarada (24): Bijagós, memórias de menino e moço (Manuel Amante)
12 de dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5453: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917. Dez 69/Mai 71) (5): O grande Rio Geba
27 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1787: Embaixador Manuel Amante (Cabo Verde): Por esse Rio Geba acima...
1. Continuação da publicação da História do BART 3873 (que esteve colocado na zona leste, no Setor L1, Bambadinca, 1972/74), a partir e cópia digitalizada da História da Unidade, em formato pdf, gentilmente disponibilizada pelo António Duarte (*)
[António Duarte, ex-fur mil da CART 3493, a Companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974; foi transferido para a CCAC 12 (em novembro de 1972, e não como voluntário, como por lapso temos indicado); economista, bancário reformado, formador; foto atual à esquerda].
O destaque do mês de junho de 1973 (pp. 57/59) vai para o ataque, à 1 hora e meia da noite, do dia 1, ao barco civil, "Bubaque" (**), no Geba Estreito, no troço entre Bambadinca e o Xime, em São Belchior, antes do Mato Cão (que nesta altuar já tem um destacamento permanente das NT); ia a bordo o proprietário e capitão do barco, o Amante da Rosa, pai do nosso camarada (e diplomata, cabo verdiano) Manuel Amante. Uma semana e tal depois, a 10 de junho, ao cair da tarde, há novo ataque, desta vez em Ponta Varela, a oeste do Xime, a um comboio de 3 barcos civis (LG).
Junho de 1973: dois ataques à navegação no Rio Geba Estreito, sendo o mais grave contra a nossa conhecida embarcação "Bubaque", propriedade do empresário Amante da Rosa
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Notas do editor:
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 15 de novembro de 2014 > Guiiné 63/74 - P13898: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XVI: maio de 1973: o IN recruta coercivamente mancebos nas tabancas sob seu controlo (Poindom, Ponta Varela, Ponta Luís Dias e Ponta do Inglês): um dos recrutas era informador das NT
(**) Vd poste de Manuel Amante da Rosa [, nosso camarada de armas (, prestou serviço no BINT, Bissau, 1973/74), cidadão cabo-verdiano, embaixador, membro da nossa Tabanca Grande desde Maio de 2007; foto à esquerda]:
12 de dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5455: Memória dos lugares (60): O Rio Geba e o navio Bubaque, do meu pai (Manuel Amante da Rosa)
(...) deveremos ter saído do sempre atulhado e improvisado cais de Bambadinca às 11 da manhã. Uma a duas horas antes da vazante. Factor regular (horário das marés) que muito nos preocupava para não ficarmos em seco no meio do Mato Cão.
(...) O Bubaque era do meu Pai que o adquirira à Marinha Portuguesa e o transformara em barco de passageiro com capacidade para 140 ou 180 passageiros, após ter sido abatido à carga. Teria sido antes uma traineira algarvia que foi transformada ainda em Portugal em Lancha Patrulha (o LP4) com uma pesada casamata blindada, em ferro, a meia nau e enviada para a Guiné em princípios de 1960. Muito patrulhou os rios da Guiné, tendo inclusivamente participado na batalha do Como.
(...) O Bubaque era do meu Pai que o adquirira à Marinha Portuguesa e o transformara em barco de passageiro com capacidade para 140 ou 180 passageiros, após ter sido abatido à carga. Teria sido antes uma traineira algarvia que foi transformada ainda em Portugal em Lancha Patrulha (o LP4) com uma pesada casamata blindada, em ferro, a meia nau e enviada para a Guiné em princípios de 1960. Muito patrulhou os rios da Guiné, tendo inclusivamente participado na batalha do Como.
Com a chegada regular das LDM e LDP as 4 LP tornaram-se absoletas e foram abatidas por Decreto do Ministro da Marinha {[. vd. recordte do Diário da Repúblcia, de 25 de março de 1964]. . Eram robustas, aguentavam bem o mar e todas possuiam bons motores.
O Bubaque era muito conhecido na região do Leste. Era a carreira mais regular entre Bissau e Bambadinca e exclusivamente destinada ao transporte de passageiros e suas cargas.
Era também conhecido por Djanta Kúcia pela sua rapidez na jornada. Significava que se podia almoçar em casa e chegar ao seu destino ainda a tempo de jantar.
Fiz muitas e muitas viagens nesse navio, mais de dia que de noite, algumas com acidentes e avarias graves no percurso mas, estando a bordo, nunca fomos vítimas de ataque. Meu Pai, sim, numa madrugada em pleno Mato Cão, por erro de identificação. [Provavelmente, o autor refere-se a este ataque do dia 1 de junho de 1973, à 1h30]
Não me parece que tivesse havido alguma vez um acordo ou pagamento de passagem [, ao PAIGC]. Era sabido que só transportavámos passageiros e muitos deles seriam familiares próximos de quem estava na luta, quando não fossem mesmo guerrilheiros ou mensageiros a caminho de Bissau e vice-versa.
Transportei muitas vezes militares que demandavam e/ou outro porto. Sentiam-se seguros no Bubaque. A viagem directa Bambadinca-Bissau demorava em média de 5 a 6 horas, duas das quais na auto-estrada do Mato Cão, a parte que mais encanto me dava. A subir era sempre menos.
No Geba largo, no tempo das chuvas e tornados, a preocupação era evidente devido às vagas curtas, sempre de través e instabilidade da massa humana a fugir da chuva ou a agachar-se do vento a sotavento dele. Nessas ocasiões aproximavamo-nos da margem oposta passando por Jabadá e Enxudé até cortar directo para oeste de Cumeré, passar entre a ponte cais e o ilhéu do Rei e atracar no Pidjiguiti. No outro dia, a favor da maré, lá se iniciava uma outra jornada. (...)
[Seleção, itálido, bold e realce a amarelo: LG]
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Vd também os postes de:
23 de outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7164: Meu pai, meu velho, meu camarada (24): Bijagós, memórias de menino e moço (Manuel Amante)
12 de dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5453: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917. Dez 69/Mai 71) (5): O grande Rio Geba
27 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1787: Embaixador Manuel Amante (Cabo Verde): Por esse Rio Geba acima...
(...) Na minha infância e adolescência fiz muitas viagens pelo interior da Guiné-Bissau durante a luta de libertação. Mas o que mais me encantava (70/73), pelas paisagens e desafios, era subir o Rio Geba, nas férias ou mesmo nos fins de semana, num dos barcos de passageiros do meu Pai [o Bubaque] (...)
A jornada começava com a enchente da maré, passando por Portogole, Ponta Varela, Xime e daqui para a frente quase sempre a rasar as margens, ora de um lado ora de outro, ver passar o Mato Cão e Nhabijões até chegar ao pequeno mas movimentado porto de Bambadinca, onde sempre havia lanchas e batelões.
Não raras vezes, no regresso, saíamos de noite de Bambadinca rezando, tripulantes e passageiros, para que nada acontecesse até passarmos o Mato Cão. Salvo raras ocasiões as preces foram escutadas. O encanto era absorvente em noites de luar a descer o Geba a favor da maré, com o maquinista a ficar satisfeito, em termos de rotações do motor, só quando via faíscas e fumo espesso a sair da chaminé. Parecia que andávamos numa estrada cheia de curvas tal a velocidade com que descíamos o rio.
A jornada começava com a enchente da maré, passando por Portogole, Ponta Varela, Xime e daqui para a frente quase sempre a rasar as margens, ora de um lado ora de outro, ver passar o Mato Cão e Nhabijões até chegar ao pequeno mas movimentado porto de Bambadinca, onde sempre havia lanchas e batelões.
Não raras vezes, no regresso, saíamos de noite de Bambadinca rezando, tripulantes e passageiros, para que nada acontecesse até passarmos o Mato Cão. Salvo raras ocasiões as preces foram escutadas. O encanto era absorvente em noites de luar a descer o Geba a favor da maré, com o maquinista a ficar satisfeito, em termos de rotações do motor, só quando via faíscas e fumo espesso a sair da chaminé. Parecia que andávamos numa estrada cheia de curvas tal a velocidade com que descíamos o rio.
As apreensões só desapareciam, na última curva, quando víamos as luzes do quartel do Xime. De noite Ponta Varela não constituía perigo. Passávamos a uma razoável distância. (...)