domingo, 30 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13960: Agenda cultural (367): Apresentação, pela escritora Helena Matos, do livro "Estudos Gerais Universitários de Angola. 50 anos: história e memórias" (Autores Vários; Lisboa, Colibri, 2104; prefácio de Adriano Moreira)

Título: Estudos Gerais Universitários de Angola. 50 anos: História e Memórias

Autoria: AAVV
Temas: História, Sociologia, Lusofonia, Memórias
Editora: Colibri
Local: Lisboa
Ano: 2014
Capa: mole
Tipo: Livro
N. páginas: 376
Formato: 23x16
ISBN: 978-989-689-441-2
Preço: 30,00 € 

Sinopse:

A criação dos Estudos Gerais Universitários de Angola e, também, na mesma data, de Moçambique foi antecedida de uma grande batalha e, por isso, acompanhada de um erro e de um compromisso. O erro traduziu-se no título das instituições, chamadas Estudos Gerais com o intuito de ficar afirmado que tinham a mesma intenção, dignidade e responsabilidade das mesmas instituições ocidentais usadas na Europa havia séculos. 

O compromisso teve origem na necessidade de ultrapassar as resistências, desactualizadas nos tempos e nas convicções de muitos, de que era necessário continuar a exigir e manter o ensino superior na metrópole como instrumento para assegurar a unidade prevista na Constituição de 1933. 

Neste caso tratou-se de um conflito de experiência e de concepção. Quanto à concepção, a ideia de unidade de Portugal nasceu da visão, confirmada por factos históricos, como a Restauração de 1640, de que os portugueses, emigrados pelas cinco partidas do mundo, e os descendentes manteriam essa comunidade, em primeiro lugar de afectos e, depois, de solidariedade e interdependência, que se chama Nação. 

Uma concepção que seria alargada, com expressão viva no Comandante João Belo, na esperança da assimilação que viesse a unir europeus e gentes das terras. Uma concepção ideológica contraditória com o próprio ensino universitário da época, provavelmente inspirado nas independências do continente americano, e que usava o exemplo de os filhos se separarem dos pais, o que estava em contradição evidente com a interpretação constitucional. Mas era mais relacionada com a convicção da preservação da unidade imperial o engano de que tal objectivo da unidade era melhor servido pela manutenção na metrópole do exclusivo ensino superior que, apenas, tinha excepção na Escola Médica do Estado da Índia, cujos diplomas não eram reconhecidos suficientes na metrópole. 

[do prefácio de Adriano Moreira] 

Fonte: Edições Colibri


Vídeo (14' 51''). Luís Graça (2014). Alojado em You Tube > Nhabijoes

A escritora Helena Matos, no lançamento do livro "Estudos Gerais Universitários de Angola: 50 anos, história e memórias"  (Lisboa: Edições Colibri, 2014)

Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 27/11/2014, 18h00 > Ao centro, a engª agrª Marília de Sousa, que coordenou a edição literária, e, à sua direita, o representante da editora. Mão de Ferro.




Vídeo (3' 36''). Vídeo de Luís Graça (2014). Alojado em You Tube > Nhabijoes

A jornalista Helena Matos, no uso da palavra (continuação) 




Vídeo (10' 26''). Vídeo de Luís Graça (2014). Alojado em You Tube > Nhabijoes


 Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkina > 27/11/2014, 18h > Sessão de  lançamento do livro "Estudos Gerais Universitários de Angola: 50 anos, história e memórias"  (Lisboa: Edições Colibri, 2014)

Ao centro, a minha amiga e amiga da Maria Alice Carneiro, engª agrª Marília de Sousa, que coordenou a equipa de  edição literária (6 pessoas); à  sua direita, o representante da editora, Mão de Ferro;  à esquerda , a  analista política e escritora Helena Matos, que apresentou a obra.

Helena Matos, nascida em 1961, é autora de, entre outras obras, Salazar em dois volumes (Lisboa, Temas e Debates, 2010), e Os Filhos do Zip Zip (Lisboa, A Esfera dos Livros, 2013).  Foi professora do ensino secundário. Trabalhou em seguida como jornalista.  Mais recentemente foi consultora histórica das séries Conta-me Como Foi (RTP) e Depois do Adeus (RTP). Faz ou fez comentário no Diário Económico,  na Antena 1, no Público  e no Observador.

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sábado, 29 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13959: (Ex)citações (255): A minha aventura (e da minha mulher, grávida) a bordo da BOR, numa viagem atribulada entre Bolama e Bissau (Rui Santos, ex-alf mil inf, 4ª CCAÇ, Bedanda, 1963/65)

A. Mensagem enviada ao fimd a tarde, pelo correio interno, a toda a Tabanca Grande:

Camaradas:

1. Desculpem importunar o vosso descanso de fim de semana, que deveria ser sagrado para um guerreiro... Mas esta nossa partilha de menórias não tem dia(s) nem hora(s)...E é sempre mutuamente vantajosa...

2. Há dias mandei-vos uma "charada": que raio de inscrição era aquela no cano do mais puro aço Krupp no obus 10.5 de Mansambo, 19678, onde o nosso camarada Torcato Mendonça pousou (descansou) o braço direito e posou para a eternidade, qual Napoleão, mostrando o relógio Rolls Royce Breitling de duas mila patadas, no pulso do braço direito ?... A inscrição dizia Magul 1895 [, vd. foto acima]...

Foi preciso um "brazuca", ex-artilheiro de Gadamael, o Vasco Pires, mandar, do outro lado do Atlântico, a contra-senha: Magul (8/9/1895)... foi a célebre batalha que precedeu, em 3 meses, a de Chaimite (28/12/1895), em Moçambique, quando Gungunhana, rei de Gaza, e aliado dos ingleses, é aprisionado por Mouzinho de Albuquerque... Bolas, a escolinha foi há mais de meio século!... Alguém se lembraria de Magul!...

3. O exercício deste fim de semana não é menos desafiante: a BOR, já ouviram, falar? Alguns de nós andaram nela (ou nete)... Era um pachorrento ferryboat capaz de levar a carga de uma LDG... Spínola "passeou" nele(a) no Rio Corubal, em 17/3/1969... O Torcato, o Ismael e outra malta do leste andou na BOR...Eu não tenho ideia, e como não tenho a certeza não ponho no meu currículo... Andei no Bubaque, mas na BOR não me lembro...

O nosso camarada e hoje embaixaxdor de Cabo Verde em Itália, Manuel Amante da Rosa, descreve-a nestes termos

(...) "Quanto ao BOR, como os outros, também era do Comando da Defesa Marítima. Era o que se chamava um ferryboat, para transporte de viaturas, cargas a granel, passageiros, gado e tudo o mais que houvesse, incluindo a guarnição de várias unidades militares a nível de companhias e seus apetrechos e viaturas. Tinha dois potentes e ruidosos motores, um a bombordo e outro a estibordo, que lhe permitia grande capacidade de manobra e calava pouco. Mas era lento de exasperar e desconfortável. O sol era abrasador para quem não estivesse abrigado. Levava facilmente mais de 400 passageiros e cargas.Era seguro e muito utilizado para o transporte das guarnições militares". (...)

4. Não acreditam, mas nós que já publicámos cerca de 30 mil fotos no nosso blogue, não temos uma foto da BOR!... Temos tropa na BOR, na viagem de regresso de Bambadinca a Bissau, mas não temos uma foto de corpo inteiro desta valente embarcação que fez a guerra e a paz....A foto que anexo é do Fernando Cachoupo, a quem saúdo, bato pala e tiro o quico!...

Camaradas, vasculhem osvossos álbuns e baus, mas por favor mandem-me uma foto da mítica BOR!...

Um alfabravo de camarada para camarada, de amigo para amigo. Luís Graça


B. Resposta pronta do nosso veteraníssimo Rui Santos [ex-alf mil, 4.ª CCAÇ, Bedanda, 1963/65]



Ainda há poucos dias contei, não sei onde, a minha história a bordo do Bor, minha e de minha mulher que estava pançuda e o médico disse que não devíamos ir de avião... Então vai disto ... Bor,  "bamo bora" e lá vai um jovem casal,  sentados em rolos de cabos grossos, quando começa uma tempestade daquelas que todos conhecem, os que estiveram pisando o solo da Guiné, quase à saida do Canal de Bolama...

À passagem defronte da Ilha das Cobras começa o motor a... puff, puiuff e puift mêmo,  já perto do Geba, chuva na chube noss alfer ...

Pois... e eu à rasca por causa da minha mulher que nem lhe via a cor branca da face, mas aguentou estoicamente, fui falar ao "Comandante" mas pouco, e ninguém conseguía pôr a nau Catrineta a funcionar, e eu a ver os canais do Geba e a ver duas coisas ou ficamos aqui nos baixios ou vamos a caminho do Atlântico, sem rádios sem comunicação com terra ... zero!

Não sei o que se passou...  De repente ouço os motores trabalhando e os "mecânicos" rindo,  cantando e dançando, fui para o pé da minha mulher e, passado uma hora, para mais  não para menos, eis-nos chegando ao Pidjiguiti (se não for assim, é parecido) onde estava o Capitão João Nogueira e a esposa esperando e muito apreensivos.

A aventura do Bor...


Boa noite, Rui Santos


C. E a propósito, cumpre-me lembrar e reproduzir  aqui uma outra mensagem recente,  do nosso camarada e grã-tabanqueiro de longa data, e que queremos partilhar com o resto da Tabanca Grande:


Eu, Rui Gonçalves dos Santos, alferes miliciano 
de 1963 a 1965,  prestei serviço no CTIGuiné, em rendição individual, no sudoeste desse território, Bedanda (4ª CCaç) e Bolama (CIM), passando também em Fulacunda  por uns dias, por actos praticados em cumprimento do meu dever, galadoaram-me com a Medalha de Mérito Militar de 3ª classe.

Fui ... um militar de infantaria ... das operações banais .... Hoje, 13 de Novembro de 2014,  pelas 15 horas e 30 , em Chelas, numa cerimónia singela,  a meu pedido, um sr major e um sargento ajudante colocaram-me fora do peito o que tenho e sinto com muita honra dentro dele ... Obrigado!

As fotos do acto registado por meus filhos, que foram comigo testemunhar e apoiar-me na respectiva sessão da condecoração.

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Nota do editor:

Último poste da série > 29 de novembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13958:(Ex)citações (254): quando Spínola viajou, com mais 300 homens, na BOR, em 17/3/1969, no decurso da Op Lança Afiada, em pleno Rio Corubal, da Ponta Luís Dias à Ponta do Inglês

Guiné 63/74 - P13958:(Ex)citações (254): quando Spínola viajou, com mais 300 homens, na BOR, em 17/3/1969, no decurso da Op Lança Afiada, em pleno Rio Corubal, da Ponta Luís Dias à Ponta do Inglês

  
Guiné > Rio Geba > Barco BOR > 2/5/1967 > " (...) No dia dois de maio [de 1967], a seguir ao almoço formar e seguir para as viaturas, carregar as lembranças nas respectivas viaturas destinadas a cada Pelotão e seguir para Bambadinca onde nos esperava o barco, a BOR,  que nos transportava no rio Geba até Bissau onde nos esperava o barco Uíge" (...).

[Cortesia de Fernando Chapouto, ex-fur mil op esp, CCAÇ 1426, Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, 1965/67 >  Cantinho do Fernando > As minhas mnemnórias da Guiné 65/67]

Foto: © Fernando Chapouto  (2009). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]



1. A propósito da BOR, a embarcação civil que era utilizada em 1968/69 no transporte de tropas, com ums pequena escolta de fuzileiros (*):


Excerto do relatório da Op Lança Afiada (**):


Dia D + 9 (17 de Março de 1969)

O PCV com o comandante do Agrupamento Táctico Norte sobrevoou os Dest A, B e C cerca das 07H00, verificando que estavam no local que a carta indica como sendo o “Porto” de Ponta Luís Dias. Não conseguiu entrar em contacto rádio com a FN [ Força Naval] , apesar desta força ter indicativo e frequência marcados no Anexo de Transmissões da OOP.

O PCV regressou depois a Bambadinca para se reabastecer. Cerca das 09H20 chegou a Bambadinca o heli de Sua Excia o Comandante-Chefe que deixara Sua Excia junto dos Dest A, B e C.

Aparentemente o embarque não podia ser feito onde as NT se encontravam pois via-se uma grande língua de areia. O heli levantou para escolher um local onde a língua de areia fosse mais estreita, o que ocorreu cerca de 1,5 quilómetros a Norte.

Quando a maré subiu, verificou-se que a água cobria toda a língua de areia e que as LDM [lanças de desembarque médias ] e a BOR [, embarcação civil,] podiam ter abicado no local onde as NT se encontravam inicialmente. O esforço que a estas foi exigido de caminhar quilómetro e meio pelo lodo podia ter sido poupado se a bordo do PCV tivesse ido um oficial de marinha.

Foi nessa altura que Sua Excia o Comandante-Chefe informou que, por uma questão de marés, as NT não seriam transportadas ao Xime como ficara combinado na véspera mas sim apenas a Ponta do Inglês  [, na Foz do Corubal, margem direita]. A CART 1743, no entanto, seguiria para Bissau. Os Dest A e B, desembarcados em Ponta do Inglês, seguiriam depois a pé para o Xime, o que aconteceu.

A avaria de uma das LDM obrigou a outra a ficar-lhe ao pé e levou a BOR a transportar 300, isto é, mais do que a sua lotação permite. Como o heli do COMCHEFE não chegou a tempo, Sua Excia tomou também lugar na BOR, com o Comandante da Operação e com o Delegado do QG [ Quartel General ] que viera coordenar o embarque.

Cerca do meio dia as LDM e a BOR abicaram a Ponta do Inglês.

 Sua Excia tomou o seu heli para Bissau e o Comandante da Operação [, cor inf Hélio Felgas,] tomou o das evacuações que entretanto mandar vir para fazer duas evacuações para Bambadinca.

Os Dest A e B chegaram ao Xime cerca das 15h30 depois de terem sofrido novo ataque de abelhas que, tal como em Ponta Luís Dias, de manhã, ocasionou desorganização e levou os carregadores a abandonarem material, recuperado mais tarde.

Ao compreender-se que apenas era deixado o heli de evacuações, deu-se ordem aos Dest E, F, G, H e I para se aproximarem dos respectivos aquartelamentos [ Mansambo e Xitole]. Não se podiam abandonar sem alimentação nem água garantidos.

Aliás aqueles Dest haviam saído às 03H30 da tabanca do Fiofioli onde se haviam reunido e, uns por Cancodea Balanta e por outros por Cancodea Beafada, completaram a destruição de todos os meios de vida IN da região. Encontraram vacas que mataram, levando outras consigo. Em Cancodea Beafada capturaram 2 homens, 3 mulheres e 3 crianças.

Estes Dest passaram depois por Mina e por Gã Júlio, utilizando sempre trilhos diferentes dos de ida. Quando, ao fim da tarde, foram sobrevoados pelo PCV, encontravam-se próximos da foz do Rio Bissari, tendo já percorrido nesse dia uns 30 quilómetros. Foram-lhes recomendadas todas as cautelas e autorização para prosseguirem quando quisessem pois não se poderiam reabastecer.

Mal o PCV saiu da área, o IN flagelou o Dest com 2 morteiradas e rajadas, de longe, procedimento este que afinal utilizou durante toda a operação e que revelou impotência [no original, importância] e falta de agressividade. (...)

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Notas do editor:

(*) Vd, postes de:

29 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13956: (Ex)citações (253): de facto sou eu, estou a preparar o embarque de um jipe Willys com destino a Bissau (devidamente canibalizado)...E aproveito para recordar a BOR, embarcação civil que fazia transporte de tropas com uma pequena escolta de fuzileiros (Ismael Augusto, ex-alf mil manut, CCS/BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70)

(...) Relativamente ao cais, em 1968, a CCS do BCAÇ 2852 chegou a Bambadinca num barco civil que fazia o transporte de tropas. Era um barco (lancha ou navio, para não ofender os nossos amigos da marinha, que fazem muita questão na destrinça entre estas designações dadas pelos menos conhecedores, o que é o caso).

Chamava-se BOR e dispunha de apoio de uma pequeno grupo de fuzileiros, que nos acompanhou a bordo durante todo o percurso. Obrigado a eles. Foi por eles que fiquei a saber da existência do macaréu que, com outra designação [, pororoca ]. tem a sua réplica no rio Amazonas, pelo menos nesse. (...) 


Ainda sobre a BOR, vd. os postes:

12 de fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2527: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339) (11): Na Bor, Rio Geba abaixo, com o Alferes Carvalho num caixão de pinho...

(...) Um dia, as más notícias correm céleres, soube-se: vítima de mina antipessoal,  faleceu o Alferes Carvalho. Na malfadada estrada para Madina do Boé ficava o amigo. Menos de três meses após a chegada àquela terra. Soube agora no Blogue a data esquecida, 17 de Abril [ de 1968] e o local onde hoje repousa (...).

Mais um nome, a juntar a tantos vitimados naquela estrada. Toda a Companhia sentiu aquela morte. A primeira sofrida pelas duas Companhias gémeas.

Voltaram-se a encontrar-se, como e porquê? Por acaso ou porque se deviam despedir ainda. Tinha que ir a Bissau, ao Hospital Militar. A curiosidade e não só levou-o a fazer a viagem na BOR – um barco com pás na proa, verde-claro, e que se habituara a ver passar nas seguranças a Mato Cão. (...)


28 de dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5555: A navegação no Rio Geba e as embarcações do meu tempo: Corubal, Formosa, BOR... (Manuel Amante da Rosa)

(...) Quanto ao BOR, como os outros, também era do Comando da Defesa Marítima. Era o que se chamava um ferryboat, para transporte de viaturas, cargas a granel, passageiros, gado e tudo o mais que houvesse, incluindo a guarnição de várias unidades militares a nível de companhias e seus apetrechos e viaturas. Tinha dois potentes e ruidosos motores, um a bombordo e outro a estibordo, que lhe permitia grande capacidade de manobra e calava pouco. Mas era lento de exasperar e desconfortável. O sol era abrasador para quem não estivesse abrigado. Levava facilmente mais de 400 passageiros e cargas.Era seguro e muito utilizado para o transporte das guarnições militares. (...) 

Guiné 63/74 - P13957: Bom ou mau tempo na bolanha (77): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (17) (Tony Borié)

Septuagésimo sexto episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.




Dia 9 de Julho de 2014

Resumo do décimo nono dia

Lavámos os vidros do Jeep, não muito bem, mas a condução já oferecia alguma segurança, era manhã. Depois de andar alguns quilómetros pela estrada número 2, seguimos pela número 3 e, depois de percorrer a cidade de Lethbridge, que dizem que é uma importante cidade da província de Alberta, sendo a terceira em área e a quarta em população e, no século passado, as suas minas de carvão, fizeram dela uma próspera cidade, onde ainda hoje é bom local para se viver.


Ainda dentro da cidade, seguimos pela estrada número 4, onde passado algum tempo, nos aparece um cenário de quintas, muitos celeiros para armazenar cereais, pastagens com muitas vacas, tudo em funcionamento, nada abandonado, que nos levou à fronteira com os USA, na povoação de Sweet Grass, onde termina a famosa auto estrada número 15, que atravessa os USA desde o México ao Canadá e cuja povoação tem um posto fronteiriço que abriu no ano de 2004, onde em tempos viveu um tal Earl W. Bascom, que era um famoso cowboy, artista, escultor, actor e inventor, que fazia as mais deliriantes “cowboyadas” num rancho que era propriedade do seu primo, em Kicking Horse Creek, muito próximo de Sweetgrass Hills.



Para nós, que entrámos pelo norte, a estrada começou onde um funcionário da alfândega nos fez quase as mesmas perguntas, continuando nós a responder que sim, levávamos ainda algumas garrafas de vinho, que tinham vindo de nossa casa, na Florida, ao que ele sorriu, levantando a mão e, com um sorriso ainda maior, desejou-nos um “Welcome Room”.

Estávamos nos USA, no estado de Montana, onde já passámos na viagem de ida, quando explicámos um pouco da sua história, no entanto podemos acrescentar, só por curiosidade, que em alguns lugares a gasolina é mais cara que o gasóleo e, contam-se centenas de histórias. Quando por volta do ano de 1850, o estado era escassamente povoado, descobriram ouro, rapidamente as pessoas afluíram, todos queriam ficar ricos, o ouro passou a ser o principal motor da economia da região, era tanto, que os empregados “chineses”, que eram os que lavavam a roupa dos mineiros, encontravam quilos de ouro nos ribeiros, onde iam buscar a água para lavar a roupa. Naquela altura, o que existia a mais em ouro, faltava em cumprimento da lei, os ditos “xerifes”, eram a lei, mas eles próprios a violavam, pois o ouro andava de mão em mão, comprava tudo, ignoravam assaltos, assassinatos, que eram frequentes na região, muitas pessoas, sentindo-se desprotegidas, decidiram tomar as leis em suas próprias mãos, surgindo assim, os ditos “vigilantes”.

Bem, já chega de história, nós seguimos pela autoestrada número 15, direcção sul, agora um trajecto que ainda não tínhamos trilhado, portanto diferente, podíamos viajar bem nesta larga e, em alguns locais deserta estrada, passámos pela cidade de Great Falls, onde não parámos, seguimos até à capital, que é a cidade de Helena, onde também não parámos, aqui desviámo-nos pela estrada número 287, que é uma estrada com cenário, onde se podem ver alguns rios, lagos, montanhas, vales e planícies extensas, com o sol refletindo no verde escuro do terreno, com alguns búfalos pastando, longe uns dos outros em algumas áreas e, pequenas manadas em outras zonas, parecendo grandes extensões de terreno de uma só propriedade, talvez animais perdidos, não sabemos, mas o cenário era encantador, convidava a parar, sentar-se numa cadeira e admirar por horas, talvez dias, anos, ou pelo resto das nossas vidas.





Nestas planícies notava-se a ausência do célebre arame farpado, que foi uma invenção que nasceu na década de 1870, permitindo ao gado viver em áreas confinadas e designadas, para evitar o pastoreio dos animais em áreas circunvizinhas, principalmente no estado do Texas. O aumento da população, no que dizia respeito aos agricultores que se dedicavam à produção e pastoreio de gado, queriam cercar as suas terras, para as fazerem individuais. Isso trouxe um drama inicial considerável para as outras pastagens. Esta invenção feita com cercas de enorme extensão, era muito mais barato do que a contratação de cowboys para lidar com o gado e mantê-lo fora das outras propriedades e, até das terras consideradas federais.

Na década de 1880 ocorreram muitos conflitos, muitas vezes sem qualquer relação à propriedade da terra ou outras necessidades públicas, pois tinha que haver corredores, ou seja vias públicas, onde se pudesse passar, tais como para a passagem de pessoas e bens, que seguiam nas “diligências”, entrega de correio ou movimentação de outros tipos de animais.

Diversas leis estaduais autorizaram os “vigilantes”, que tentaram impor-se à construção das cercas do arame farpado, mas esse combate teve um sucesso variável e o arame farpado, por volta da década de 1890, foi removido em algumas áreas.

Nos estados do norte, o pastoreio de animais era em escala aberta, ou seja, era livre de fronteiras, mesmo assim, a forragem de inverno era insuficiente para o gado e a fome, especialmente durante o rigoroso inverno de 1886-1887, quando centenas de milhares de animais morreram em todo o Noroeste, levando ao colapso da indústria do gado, assim, na década de 1890, a cerca do arame farpado, também foi padrão, nas planícies do norte, principalmente protegendo as ferrovias, construídas mais perto de grandes áreas de pecuária, fazendo movimentações do gado ao longo do Texas para os terminais ferroviários em Kansas.

Sem querer já ia outra vez com a história, bem continuando a nossa jornada, rumo ao sul, já era ao anoitecer, quando chegámos ao parque de campismo de Canyon Ferry Lake, na vila de Townsend, ainda no estado de Montana, à beira de um grande lago, onde chegavam e partiam pessoas, com barcos que atracavam num cais que ali existia, alguns contentes, mostrando peixes. Aqui preparámos alguma comida e, pela madrugada, houve um vento forte, chuva e trovoada, o que nos acordou e assustou, pois a nossa caravana abanava e a chuva entrou pela janela que estava só com a rede.


Neste dia percorremos 527 milhas, com o preço da gasolina a variar entre $3.78 e $4.12 o galão, que são aproximadamente 4 litros.

Tony Borie
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Nota do editor

Último poste da série de 22 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13928: Bom ou mau tempo na bolanha (75): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (16) (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P13956: (Ex)citações (253): de facto sou eu, estou a preparar o embarque de um jipe Willys com destino a Bissau (devidamente canibalizado)...E aproveito para recordar a BOR, embarcação civil que fazia transporte de tropas com uma pequena escolta de fuzileiros (Ismael Augusto, ex-alf mil manut, CCS/BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70)


Guiné > Zona leste > Bambadinca > c. 1968/69 > Bambadinca e o seu porto fluvial...Na foto conseguimos  distinguir [, com a ajuda do Beja Santos...] o Ismael Augusto [, ex-alf mil manut, CCS/BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70].  É o primeiro à esquerda, precedido pelo chefe de posto administrativo. (*)

A partir de 24 de novembro de 1969, a administração do porto de Bambadinca passou a dispor dum autogrua mais potente, a Galion, que veio substituir a autogrua Fuchs (que se sê na foto). Na história do BCAÇ 2852, lê-se que no dia 25/11/1969, o 2.º comandante do BENG 447 visitou a sede do batalhão, visita essa que só pode estar relacionada com a entrega da autogrua Galion, permitindo melhorar as operações de carga e descarga no porto fluvial de Bambadinca.

Foto © Jaime Machado [ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70]. Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]


1. Mensagem do nosso camarada Ismael Augusto  com data de hoje, a propósito do poste P13918 e de um comentário meu, ou melhor, de uma provocação minha (*):

De facto estou a preparar não o desembarque mas o embarque de um WILLYS com destino a Bissau (devidamente canibalizado, claro, embora no caso pouco restasse) e conforme o que constava nas NEP (Normas de Execução Permanente), aqui na parte restrita do Serviço de Material.

Relativamente ao cais, em 1968,  a CCS do BCAÇ 2852 chegou a Bambadinca num barco civil que fazia o transporte de tropas. Era um barco (lancha ou navio, para não ofender os nossos amigos da marinha, que fazem muita questão na destrinça entre estas designações dadas pelos menos conhecedores, o que é o caso).  

Chamava-se BOR (**) e dispunha de apoio de uma pequeno grupo de fuzileiros, que nos acompanhou a bordo durante todo o percurso.  Obrigado a eles. Foi por eles que fiquei a saber da existência do macaréu que,  com outra designação [, pororoca ].  tem a sua réplica no rio Amazonas, pelo menos nesse.

A navegação não poderia ter lugar quando esse fenómeno se observasse, pelo que era importante saber da sua existência. Fiquei a conhecer as tabancas que marginavam o Geba e os pontos mais críticos do percurso, que naturalmente coincidiam com o inicio do Geba estreito.

A este propósito, fiz uma vez o percurso Bambadinca- Bissau, num barco de transporte de "mancarra", numa viagem de cerca de 10 horas, onde literalmente fritei, pois as sombras e o espaço eram quase inexistentes.

Tive no entanto a sorte de a partilhar com um chefe religioso (fula) e a conversa não podia ser mais interessante. Só o sol é que não colaborou. (***)

Um abraço,

Ismael Augusto (****)

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Nota do editor:

(*)  Vd. poste de 19 de novembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13918: (Ex)citações (249): Quando os barcos chegavam ao porto fluvial de Bambadinca: fotos de Jaime Machado e legendas de Beja Santos

 (...) Comentário de Luís Graça:

Quem seriam os senhores que vieram de jipe até ao cais de Bambadinca (foto nº 1A) ?

Para além do nosso engº Ismael Augusto (, a engenharia veio mais tarde, e com ela a RTP, as telecomnunicações, a TDT...), reconheço o chefe de posto de administrativo de Bambadinca, que era caboverdiano... Nunca privei com ele, nem sei como se chamava...Mas, pela farda, deveia ser ele... Quanto aos dois militares à sua frente, só poderiam ser dois militares, oficiais, da CCS/BCAÇ 2852... Convivi com este batalhão cerca de 1 ano, entre meados de 1969 e maio de 1970...

O Ismael Augusto é nosso grã-tabanqueiro, tal como o Fernando Calado, dois alferes milicianos da CCS/BCAÇ 2852, do tempo do Jaime Machado e do Beja Santos...

Ouvir aqui uma entrevista, de 2012. do Ismael Augusto na qualidade de especialista em TDT. (...)

(**) Sobre a BOR, vd. poste de 12 de fevereiro de  2008 > Guiné 63/74 - P2527: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339) (11): Na Bor, Rio Geba abaixo, com o Alferes Carvalho num caixão de pinho...

(***) Último poste da séroe 26 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13945: (Ex)citações (252): Comentário ao artigo "Guiné, Guileje e o desnorte do reino" publicado em O Adamastor (4)

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13955: Álbum fotográfico do alf mil art João Calado Lopes (BAC1, 1967/69): Bambadinca, vista do alto da antena de comunicações (Parte II)



Foto nº 28 > Bambadinca > c. 2º semestre de 1968 > Foto nº 28  >  Vista do quartel de Bambadinca, do alto da antena das comunicações (*),  na direção norteste-sudoeste (ao fundo, à esquerda,  o início da enorme  bolanha de Bambadinca, e as instalações do comando, quartos e messes de oficiais e sargentos; ao centro, a rua principal, que aatrevassa o arquelamento no sentido leste (Bafatá) - oeste (Xime) e o telhado da capela).  

Popr esta "rua" que devia o aquartelameno ao meio, passaram dezenas e dezenas de milhares de homens, ao lomgo da guerra, desembarcados em LDG no Xime (a 12 km) e em trânsito para todo leste: setor L1 (Bambadinca), setor L2 (Bafatá), setor L5 (Galomaro), setor L4 (Nova Lamego), setor L5 (Piche) e setor L6 (Pirada)... Todos tinham que passar, obrigatoriamente, por Bambadinca...

Do lado direito da foto, vê-se  o início de um conjunto de casernas (onde ficavam as praças da CCS, paralelas ao campo de futebol, à rede de arame farpado e da pista de aviação.




Foto nº 28  A > Bambadinca > c. 2º semestre de 1968 >   As instalações, construídas pelo BENG 447 (Bissau), em 1968,  ao tempo do BART 1904 (1967/68),  eram ainda muito recentes...Vê-se pelo tamanho das árvores, plantadas frente às instalações (, edifício em U. (messes e quartos) de oficiais e sargentos ( à esquerda)e do comando de batalhão (à direita)... 

Por aqui passaram, desde a sua construção, desde o 2º semestre de 1968 até setembro de 1974  os seguuintes cinco batalhões (**): 

(i) BART 1904 (fev-out 1968); (ii)  BCAÇ 2852 (out 1968-junho 1970); (iii) BART 2917 (mai 1970 - mar 1972); (iv) BART 3873 (dez 1971-abr 1974); e (v) BCAÇ 4616/73 (abr- set 1974)


Foto nº 28 ~B > Bambadinca > c. 2º semestre de 1968 > Do lado direito, as instalações dos sargentos (messe e quartos); do lado esquerdo, oficinas auto e a o depósito de engenharia.  Nas traseiras do depósito de engenharia e das  oficinas auto, deveria existir, na época, um abrigo ou um espaldão para a bazuca 8.9... No meu tempo, foram abertas valas ao longo de todo o vasto perímetro do aquartelamento. O aquartelanmento foi atacado em 28 de maio de 1969 por um força IN estimada em 100 homens, com 3 canhões sem recuo, 
 

Foto nº 28 C > Bambadinca > c. 2º semestre de 1968 > vista parcial do edifício em U (instalações de oficiais e sargentos), vendo-se a entrada (porta) para os quartos e messe de oficiais (lado direito): é visível a rede de arame farpado do lado sul do aquartelamento. sobranceiro à grande bolianha de Bambadinca, como o espaldão (circular) do morteiro 81... No tempo em que estive em que estive em Bambadinca (julho de 1969/março de 1971) não havia artilharia. Julgo que o autor destas fotos, o João Calado Lopes, alf muil art, BAC1, nunca esteve colocado enquanto tal, mas sim em trânsito para o leste (Piche).  O Torcato Mendonça, da CART 2339 (Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69) também não se recorda ver obuses instalados em Bambadinca. No nosso tempo havia dois pelotões do BAC1,  um em Mansambo e outro no Xime. Qualquer destes aquartelamentos também só teve obuses 105 mm, Krupp  (ou 10.5, como dizíamos).




Foto nº 28 D > Bambadinca > c. 2º semestre de 1968 >  Edifício do comando de batalhão (incluindo o gabinete de planeamento de operações)... Ao fundo, do lado direito, descortina-se algumas tabancas que pertenciam ao reordebnamento de Bambadincazinho (ou Bambadincazinha, como o Beja Santos lhe chama).,

Conferir estas imagens com as vistas aéreas de Bambadinca que temos publicado, nomeadamente as do álbum do Humberto Reis. Praticamente a totalidade das instalações e edifícios de Bambadinca da época de 1969/70 estão identificados. Conferir aqui.

Foto: © João Calado Lopes (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 28 de novembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13952: Álbum fotográfico do alf mil art João Calado Lopes (BAC1, 1967/69): Bambadinca, vista do alto da antena de comunicações (Parte I)

(**) Vd.poste de  27 de agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3151: Unidades sediadas em Bambadinca entre 1962 e 1974 (Benjamim Durães)

Guiné 63/74 - P13954: Recordações de uma ida à Feira da Ladra: 15 de Novembro (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Novembro de 2014:

Queridos amigos,
Mais tarde ou mais cedo far-se-á uma excursão de velhos combatentes até à Feira da Ladra.
Levaremos um oficial do quadro permanente para irmos almoçar à messe dos oficiais do Exército, um lindo palacete e uma bela sala de refeições, com azulejos topo de gama.
Aqui ficam recordações e remeto trabalho para outros. Por exemplo, o Zé Martins(*) que nos esclareça aonde se situava esta rua Alferes Linhares de Almeida e nos dê mais elementos sobre a sua morte em combate e a CCAÇ 1547.

Um abraço do
Mário


Recordações de uma ida à Feira da Ladra: 15 de Novembro (1)

Beja Santos

Tempo adverso, chuva intermitente, aguaceiros enervantes, feirantes e passantes descorçoados, com tanta água a escorrer de Santa Clara até à rua do Paraíso, só ficam os vendedores com toldo ou cobertas em plástico bem resistentes. Por ali se vagabundeia com chapéu aberto ou fechado, é tudo uma questão de persistência, até de desportivismo de quem anda à cata de surpresas, de agradáveis imprevistos. Já tinha abordado a D. Piedade que tem mercados singulares: azulejos, peças em tricot, molduras antigas, coisas que vieram de um negócio de adelo, compras de espólio, a família fartou-se do bricabraque que o defunto ou defunta deixou no sótão, no mobiliário, nas gavetas. Mas havia para ali umas caixas com fotografias e um atlas completo intitulado A. Nascimento – Atlas de Geografia, Livraria Franco, Lisboa, 1960.

Toca de procurar a Guiné. Como veem, é um mapa fora do tempo, onde se lê Senegâmbia deverá ler-se Senegal, onde se lê Guiné Francesa deve ler-se Guiné Conacri. A disseminação das etnias não é rigorosa: não há uma palavra sobre os Mandingas, o Leste e o Norte em peso parecem ocupados por Fulas Pretos e Futa Fulas. A toponímia é do princípio do século. Falando da região onde vivi e combati, é verdade que à entrada do Geba Estreito estava S. Belchior, povoação abandonada durante a guerra, mais abaixo havia Enxalé, povoação antiga, aqui não é referida. Mais adiante, fala-se em Sambel Nhanta, era de facto a povoação mais importante do Cuor até à rebelião de Infali Soncó, sufocada em 1908, apareceram depois Chicri, Sinchã Corubal, Madina, Canturé e Gambiel. Refere-se no mapa Caranque Cunda, foi fundada em 1908, depois da rebelião de Infali Soncó, ali estiveram acantonadas tropas durante algum tempo, os macuas e tropa metropolitana, pouco tempo depois tornou-se um sítio irrelevante. Passando para a outra margem do Geba, Fá tinha ainda bastante peso como Bambadinca e Xime, mas antes de 1960 havia já inúmeras povoações que podiam e mereciam ter referência. É necessário estudar este mapa para se perceber que não se estudava a Guiné, não se conhecia a Guiné, quase tudo o que aqui aparece em 1960 é d eturpação ou omissão. Assunto que nos devia dar que pensar. Claro está que os acontecimentos, a partir de 1963, alteraram muita coisa, apareceram destacamentos em lugares inconcebíveis, abandonaram-se povoações, mas muito do que se regista neste mapa é muito antiquado, e esse é antiquado é porque ninguém lhe dava importância, ninguém refilava, é porque a Guiné estava para lá do sol-posto.

Mapa da Província da Guiné. Escala 1:2.000.000
Clicar na imagem para ampliar

O mapa já passou para as minhas mãos, guardei-o em dois sacos de plástico, não é propriamente uma preciosidade mas não gosto de papel encharcado. E agora dobro a cerviz, já me acocorei, a ver se acontece mais uma pepita guineense. E acontece mesmo, há para ali uma chusma de fotografias que diz Foto Iris, Bissau. Mexo e remexo, não encontro fio condutor, terá sido seguramente alguém que andou entre a Guiné e Cabo Verde, encontrei fotografias do porto de Mindelo, S. Vicente, bem bonitas por sinal. Não chove, pus mais um plástico e ali ponho os joelhos, para contemplar demoradamente as fotografias. Escolho três de que gostei muito, não sei explicar porquê. Talvez no Google encontrasse referências a esta CCAÇ 1547, a que pertenceu o alferes Linhares de Almeida, morto em combate em 1 de Abril de 1967. O Zé Martins que descalce a bota, ele é que é o estudioso e conte como foi. Outro bico-de-obra é saber onde é que estava esta rua, num muro enegrecido de onde brota capim: será Bissau? Quem se recordar faça o favor de me explicar aonde estava esta rua.


A fotografia seguinte não levantou dúvidas, jangada em João Landim, o Mansoa espraia-se, temos a vegetação ao fundo. Os cinco turistas não identificáveis, a roupinha é da década de 1960, a menina já tem saia curta, podemos até perguntar se o jovem do meio não é militar e vão todos em festa, fazer um repasto em Mansoa. Conjeturas, nada mais do que conjeturas.


Por último, encheu-me as medidas este jogo de luz que atravessa a lala e pode ir até a um braço da ria, a vegetação é frondosa, o contraste entre a claridade e o negrume da vegetação é um achado feliz. Não sei quem tirou a fotografia, creio que ninguém irá identificar o local mas é uma bela imagem dessa zona tropical seca onde vivemos entre água e vegetação luxuriante. Só por esta fotografia dei por bem empregado a vinda à Feira da Ladra.


Subo em direção ao mercado de Santa Clara, começou a chuviscar, abrigo-me na tenda do meu amigo Eduardo Martinho, recebe-me com um sorriso. Combateu na Guiné, conhece o nosso blogue, foi com ele que regateei o livro dedicado a Mário Pinto Andrade. Vai buscar o livro e autoriza que eu reproduza o que achar de mais interessante.
Trata-se de uma edição de 2009, Edições Chá de Caxinde, Luanda, Mário Pinto de Andrade, um olhar íntimo, a coordenação é da filha mais velha, Henda Pinto de Andrade, na dedicatória, em primeiro lugar, veio o nome de Iva Cabral, a filha mais velha de Amílcar Cabral, nome certamente escolhido por lembrança de Iva Pinhel Évora, assim se chamava a mãe de Amílcar Cabral. Por diferentes títulos, Mário Pinto de Andrade tem a ver com as lutas de libertação e com a Guiné. Nos finais dos anos de 1940, vemo-lo com Amílcar Cabral, Agostinho Neto, Eduardo Mondlane, Marcelino dos Santos e Francisco José Tenreiro em atividades culturais, designadamente mais tarde, em 1951, no Centro de Estudos Africanos. Foi presidente do MPLA de 1960 a 1962 e coordenador da Conferência das Organizações Nacionalistas nas Colónias Africanas. Recorde-se que o MPLA foi também criado com a colaboração de Amílcar Cabral. Foi encarregue pelo Comité Executivo do PAIGC para organizar a apresentação dos textos políticos de Amílcar Cabral. Foi coordenador geral do departamento da cultura da República da Guiné-Bissau, de 1976 a 1978 e ministro de Estado da informação e cultura de Outubro de 1978 a 14 de Novembro de 1980. Após o golpe de Estado saiu da Guiné-Bissau e dedicou-se à investigação. Faleceu em 1990. Este olhar íntimo faz-nos conhecer um escritor epistolar de altíssima craveira. Veremos estas qualidades no apontamento que se segue.
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Nota do editor

(*) Vd. poste de 24 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13938: Consultório militar, de José Martins (11): Quem foi o alf mil Linhares de Almeida, da CCAÇ 1547, morto em combate em 1/4/1967, e condecorado, a título póstumo, com a cruz de guerra de 2ª classe?

Guiné 63/74 - P13953: Agenda cultural (366): Apresentação do livro "Nós Enfermeiras Paraquedistas", coordenação de Rosa Serra, cerimónia que decorreu no passado dia 26 de Novembro no Estado-Maior da Força Aérea

1. Com a devida vénia à Tabanca do Centro e ao nosso camarada Miguel Pessoa, publicamos aqui a reportagem do lançamento do livro "Nós, Enfermeiras Paraquedistas", com coordenação da Enf.ª Rosa Serra, levado a efeito no passado dia 26 de Novembro no Estádo-Maior da Força Aérea.


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Nota do editor

Último poste da série de 27 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13951: Agenda cultural (365): Dia 29 do corrente, sábado, 15h30, na Biblioteca Municipal de Oeiras: sessão de apresentação (e debate): "Militares e Política: o 25 de abril", livro de Luísa Tiago de Oliveira (ed. lit)

Guiné 63/74 - P13952: Álbum fotográfico do alf mil art João Calado Lopes (BAC1, 1967/69): Bambadinca, vista do alto da antena de comunicações (Parte I)


Foto nº 31 > Bambadinca > c. 2º semestre de 1968 > Vista na direção norte-sul (ao fundo a bolanha, e as instalações do comando, quartos e messes de oficiais e sargentos; ao centro a parada e a capela de Bambadinca)


Foto nº 31 A > Bambadinca > c. 2º semestre de 1968 > Vista na direção norte-sul (ao fundo a bolanha, e  em primeiro plano as instalações do comando ( à direita) ew quartos e messes de oficiais e sargentos (edifício em U, à esquerda)



Foto nº 31 B >  Bambadinca > c. 2º semestre de 1968 >  Em primeiro plano, o refeitório das praças; ao fundo, a parada e o edifício do comando



Foto nº 31 C > Bambadinca > c. 2º semestre de 1968 > Do lado direito, a capela e anexa à capela a secretaria da CCAÇ 12 (a partir de julho de 1969); do lado esquerdo, as oficinas de rádio e em frente as oficinas auto, paralelas à messe e quartos dos sargentos (ala esquerda do edífício em U).

Conferir estas imagens com as vistas aéreas de Bambadinca que temos publicado, nomeadamente as do álbum do Humberto Reis. Praticamente a totalidade das instalações e edifícios de Bambadinca da época de 1969/70 estão identificados. Conferir aqui.


Foto: © João Calado Lopes (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]






Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > c. 1970 > Fotos aéreas do quartel e posto adminidtrativo de Bambadinca, tiradas de heli AL III, do lado da pista... Ao fundo, a sul, vê-se uma parte da extensa bolonha de Bambadinca. Delimitámos, a amarelo, o perímetro a norte e a oeste do quartel. Nesta última foto aparece em primeiro plano a antena de rádio mais alta de Bambadinca. Foi dela que o João Calado Lopes, alf mil art, do BAC 1, tirou as fotos que publicamos acima (fotos nº 31)

Foto do arquivo de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)
Fotos: © Humberto Reis (2007). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]



1. Mensagem do João Calado Lopes, com data de 22 do corrente, enviada ao seu colega de liceu João Martins:

Caro camarada João Martins

Antes de mais muito te agradeço as mensagens que me enviaste.

Ao saber que também tinhas estado em Bambadinca e ao tomar conhecimento do blogue  Luís Graça & Camaradas da Guiné,  lembrei-me que tenho slides de Bambadinca.

Para fazer estes slides trepei até ao topo da torre das antenas de comunicações!!! Bons tempos... foi preciso pernas e uma boa dose de inconsciência!!!

Anexo essas imagens.

Podes partilhar com o Luis Graça e ele pode usar as imagens no blogue,  se assim o entender.

Um abraço do
João Calado Lopes

2. Mensagem anterior, mas do mesmo dia, enviada pelo João Martins ao João Calado Lopes:


Caro camarada João Calado Lopes

Pensando na nossa conversa de ontem, passo a explicar os diversos passos que dei na composição das minhas memórias.
Foi um tio meu que esteve em Catió, João Gabriel Sacôto Martins Fernandes, cunhado da Lena, que me levou a optar pela fotografia slide em vez da convencional, e, também, me deu a conhecer o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné  de que já te enviei uma página com fotografias do encontro da "Magnífica Tabanca da Linha", onde, por hábito, estamos presentes. 

Foi esse blogue que me incentivou a escrever as minhas memórias a que juntei as fotografias, slides digitalizados por uma loja Kodak do Centro Comercial do Lumiar e as gravou num CD. Do CD passei para o computador.

Também coloquei as memórias no Facebook e enviei-as para o  UtramarTerraweb  que lhes deu um certo tratamento e me permite partilhá-las com os amigos do Facebook. Alguém as colocou no Google, onde as poderás encontrar em "João José de Lima Alves Martins".

Como me disseste que estavas a tratar de as deixar para os teus descendentes e para a posteridade, penso que este é um caminho alternativo.

A propósito, indica-me o teu nome de Facebook e pede-me amizade para "João José Alves Martins", e eu dar-te-ei mais pormenores.
Grande abraço
João Martins

3. Mensagem, do editor LG,  remetida no mesmo dia ao João Calado Lopes com conhecimento ao João Martins:


 João Calado:

Magníficas fotos!...E tiradas de um posição temerária!...Não lembraria ao diabo!... Vou dar-lhes o melhor tratamento e enquadramento...
~
Diz.-me quando estivestes em Bambadinca, e qual era a tua unidade, posto e especialidade...

Faz todo o sentido sentares-te  aqui, à sombra do poilão da nossa Tabanca Grande!... Somos já quase 700, de A a Z... Quero o teu nome nos J, ao lado do João Martins... Também temos uma página no Facebook, mas o blogue tem outra lógica... Já existimos há mais de 10 anos... 

Na coluna do lado esquerdo podes ver os nossos mais de 3 mil marcadores...Bambadinca é um  deles... Mas pelo Google Imagens apanhas muito mais coisas, a grande maioria nossas.. Já devemos ter publicado cerca de 30 mil fotos...e cerca de 14 mil postes. Vamos a caminho dos 7 milhões de visualizações de páginas, 55 mil comentários.,..

Tens aqui os meus contactos relef´´onicos para podermos falar mais  à vontade... Ou manda-me o teu nº, que eu ligo.

Obrigado ao João Martins. Um abraço para ti. Luis

4. Mensagem do João Martins, enviada para ambos;

 Fico muito feliz por constatar que um antigo colega de turma do Liceu Nacional de Oeiras e amigo, além de ser da mesma unidade na Guiné, a BAC 1, se juntar a nós nestas andanças em que procuramos que aquelas horas difíceis e dolorosas por que passámos não sejam esquecidas.

Grande abraço e até à próxima
João Martins. 

5. Resposta pronta do João Calado Lopes [, de que aguardamos as duas fotos da praxe para a apresentação formal, regulamentar, á Tabanca Grande]:
Viva

Obrigado pela tua mensagem. Eu fui Alferes Miliciano de Artilharia, tal como o João Martins. Pertencemos à Bateria de Artilharia de campanha nº 1, BAC 1 (unidade da Guiné).

Em Bambadinca comandei um pelotão de obuses 10,5. Não sei exactamente quando estive lá, mas foi no 2º semestre de 1968. Para saber com rigor tenho que ir ver a correspondência que troquei com a família. 

Não estive lá muito tempo pois o meu pelotão foi logo destacado para Piche.

Curioso é que recentemente comprei um scanner que dá para digitalizar slides (na altura era o que preferia) e tenho-me entretido aos serões a digitalizar tudo o que tenho. Pois foi precisamente nesta altura que o João José Martins, de quem não sabia há mais de 40 anos, entrou em contacto comigo através de pessoa amiga de ambos.

Ainda não percebi bem como me inscrevo no blogue mas certamente não é difícil. Logo que o faça ponho mais fotos.

Um abraço

João Luis Calado Lopes

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13951: Agenda cultural (361): Dia 29 do corrente, sábado, 15h30, na Biblioteca Municipal de Oeiras: sessão de apresentação (e debate): "Militares e Política: o 25 de abril", livro de Luísa Tiago de Oliveira (ed. lit)

1. Mensagem de Luisa Tiago de Oliveira, com data de 22 do corrente:

Assunto - Livro "Militares e Política: o 25 de Abril" (organizado por Luísa Tiago de Oliveira, CEHC-IUL - Centro de Estudos de História Contemporânea, ISCTE-IUL

Sessão no dia 29 de Novembro, sábado, às 15h30, na Biblioteca Municipal de Oeiras

Venho convidar-vos para uma sessão sobre um livro que organizei e cujo índice é o seguinte:

Militares e Política: o 25 de Abril
Introdução - Luísa Tiago de Oliveira
Abertura: Grândola Vila Morena. Cinco instantes para uma canção - Carlos de Almada Contreiras

Parte I - Ramos Militares e 25 de Abril
Capítulo 1: Caracterização sociológica do Movimento dos Capitães (Exército) - Aniceto Afonso
Capítulo 2: A Marinha e o dia 25 de Abril de 1974 - Pedro Lauret
Capítulo 3: Força Aérea Portuguesa: uma realidade militar e sociológica - Luís Alves de Fraga

Parte II - Rupturas iniciais com o Estado Novo
Capítulo 4: O fim da PIDE/DGS e a libertação dos presos políticos - Luísa Tiago de Oliveira
Capítulo 5: A descolonização: libertação dos presos políticos e fim da PIDE/DGS nas colónias de África - Ana Mouta Faria

Biografias dos autores
Índice onomástico


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Guiné 63/74 - P13950: Efemérides (179): Deixem-me celebrar o dia de Ação de Graças, o Thanksgiving Day, no meio de vós, nos dois lados do Atlântico (José da Câmara, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56)



1. Mensagem dirigida à Tertúlia do nosso camarada José da Câmara (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73), com data de hoje, 27 de Novembro de 2014:

Meus queridos amigos,
Amanhã, Quinta-Feira, irei celebrar o Dia de Acção de Graças nos Estados Unidos da América.

Eu e muitos de nós escolhemos este grande País americano para nossa segunda Pátria. Aqui fizemos as nossas vidas, formámos e vimos crescer as nossas famílias, realizámos muitos dos nossos sonhos. 
De uma maneira geral fomos recebidos sem reservas pelos EUA. Em troca apenas nos pediram que compreendêssemos e respeitássemos as suas instituições. Na verdade, pediram muito pouco para aquilo que recebemos em troca.

Sou agradecido e penso que a maioria dos que aqui vivem me acompanham nesse sentimento. Também celebro com estes. Lá longe, onde a Europa acaba e a América começa vivem muitos familiares, companheiros e amigos da escola, da minha juventude, do trabalho, do desporto.

Do serviço militar reconheço os camaradas que ao longo dos anos viveram as mesmas horas de aflição, os mesmos sacrifícios e também os grandes momentos de alegria e camaradagem, que também os houve, que só a guerra do Ultramar poderia proporcionar.
Se me permitem, deixem-me também celebrar o dia de Ação de Graças, o Thanksgiving Day, no meio de vós, nos dois lados do Atlântico.

Com um abraço,
JC


2. Comentário do editor

Caro amigo, camarada e irmão José
Em nome da tertúlia muito obrigado por te lembrares dos teus camaradas e amigos, neste Dia de Acção de Graças, festividade com muita tradição nesse país onde a comunidade portuguesa foi integrada e é reconhecida como gente de bem, e que, como dizes, pouco pediu em troca.

Retribuímos, desejando um dia muito feliz para toda a família Câmara.

Um grande abraço do camarada, amigo e irmão
Carlos Vinhal
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Nota do editor:

Último poste da série de 18 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13910: Efemérides (178): Evocação do Centenário da I Grande Guerra na cidade de Vila do Conde (Núcleo de Matosinhos da LC / Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P13949: Manuscrito(s) (Luís Graça) (53): O Mundo é Pequeno e o Alentejo... é Grande: pois que viva o Cante, que já cá canta... e agora para todo o mundo!


1. "O cante do Alentejo já é património mundial: Portugal passa agora a ter três bens que fazem parte da herança imaterial da humanidade." (Público, 27 nov 214, 10h17)

A UNESCO, Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, acaba de integrar o cante alentejano na lista do património imaterial da humanidade. Eram 10 e picos   em Lisboa!

Depois do fado e da dieta mediterrânica, classificados em 2011 e 2013, respectivamente. Portugal passa a ter o cante alentejano na Lista do Património Cultural Imaterial da Humanidade... Uma candidatura absolutamente irrepreensível, exemplar, que tinha dado entrada  formalmente  a 28 de março de 2013 no comité internacional da UNESCO. As expetativas eram muito altas, mas o nervoso também era miudinho...

2. A adoção provocou emoção em todos os que seguiram os trabalhos, em direto (em áudio, como eu), mas também no representante do Governo brasileiro que fazia parte do comité internacional (aliás, o único país lusófono presente)... Imagino a alegria dos membros do Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa que viajaram até Paris, bem como nos demais elementos ligados à candidatura.

"A partir deste momento, esta forma tão singular de cantar ligada às jornadas de trabalho e de convívio do Alentejo, não é apenas uma tradição do sul do país – é do mundo. O mesmo mundo que fica agora a saber que, em Portugal, há uma região que canta como os homens do Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa, que fizeram 1800 quilómetros para brindar os delegados da UNESCO em Paris com a moda Alentejo, Alentejo." (Fonte: Público)

O cante alentejano tem um sítio oficial, Casa do Cante, em Serpa, de que é diretor o antropólogo Paulo Lima, e coordenador da candidatura. Mas a festa faz-se, no Alentejo, em Portugal e em toda a diáspora lusitana onde haja portugueses, alentejanos ou não,  que cantam (e emocionam-se a cantar ou simplesmente a ouvir) o cante alentejano.

“É de salientar a importância destas duas candidaturas, a do fado e esta”, disse ao Público o cantor Vitorino, presente na sede da UNESCO, em Paris. “O fado é muito solitário e individual. O cante é uma expressão colectiva – ele implica entre 18 e 30 vozes. É inclusiva. É muito atenta ao movimento social.” O cantor, que tem inscrito o cante no seu trabalho musical, acredita que o reconhecimento do mesmo como património da humanidade “vai eternizá-lo”.

Parabéns à Antena 1 que acompanhou esta candidatura e ao nosso camarada da Guiné, antigo locutor do PFA, em Bissau, Armando Carvalhêda, um grande profissional da rádio, que realiza e apresenta esse excecional programa da Antena 1 que é "Viva a Música"  (no ar desde 1996), e que nos foi dando notícias desde Paris sobre o andamento dos trabalhos da UNESCO...

Que o Cante seja um crescente fator de coesão social, de solidariedade intergeracional e de identidade cultural para todos os que, dentro e fora do Alentejo, o praticam, são os meus votos. Um qucbra-costelas para os camaradas e amigos da Guiné que se reveem nesta manifestação cultural da nossa terra.  O Mundo é Pequeno e o Alentejo... é Grande!... Que viva o Cante! (LG)
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Nota do editor:

Último poste da série > 27 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13948: Manuscrito(s) (Luís Graça) (52): O Mundo é Pequeno e o Alentejo... é Grande: pois que viva o Cante, Património Cultural Imaterial da Humanidade

Guiné 63/74 - P13948: Manuscrito(s) (Luís Graça) (52): O Mundo é Pequeno e o Alentejo... é Grande: pois que viva o Cante, Património Cultural Imaterial da Humanidade




Vídeo (2' 46''). Alojado em You Tube / Nhabijoes

Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 > Sessão de lançamento do livro do  nosso camarada, amigo e grã-tabanqueiro José Saúde ["Guiné-Bissau, as minhas memórias de Gabu, 1973/74" (Beja: CCA - Cooperativa Editorial Alentejana, 170 pp. + c. 50 fotos) (Preço de capa: 10 €)] (**)


1. Atuação do grupo musical "Os Alentejanos", de Serpa. Um homenagem sentida a um combatente da terra, o José Romeiro Saúde, nascido em Vila Nova de São Bento (em 23/11/1950), mas que foi cedo para Beja, a sua segunda terra, onde ainda hoje vive e onde nasceram as suas duas filhas. Os dois concelhos viram sacrificados no "altar da Pátria", 69 dos seus filhos, durante a guerra do ultramar/guerra colonial: 35, de Beja; 34, de Serpa...

Isto não é "cante", mas tem as suas raízes na música tradicional alentejana.  No cante não se usam instrumentos musicais. A voz é o único (e grande) instrumento do cante, música do trabalho e do lazer, cantada nos campos, na rua e na taberna... Em grupo, sempre em grupo..  Homens e mulheres, se bem que os grupos corais femininos só tenham começado a aparecer há 3 décadas, por razões socioculturais... Mas as mulheres sempre cantaram, em grupo, com os homens no duro trabalho agrícola... Em grupo, num coro polifónico que não deixam indiferente... Um alentejano (do Baixo Alentejo) nunca conta(va) sozinho (*)...

A "moda" que acima se reproduz evoca esses duros tempos em que os mancebos partiam para o Ultramar, India, Angola, Guiné, Moçambique ... Ver, mais abaixo, a respetiva letra que começa assim: "É tão triste ver partir / Um barco do Continente, / Para Angola ou Moçambique / Lá lai outro contingente"...(LG)

Lá vai uma embarcação

É tão triste ver partir
Um barco do Continente,
Para Angola ou Moçambique
Lá lai outro contingente.

Tanta lágrima perdida,
Quando o barco larga o cais,
Adeus, minha mãe querida,
Não sei se voltarei mais.

Lá vai uma embarcação
Por esses mares fora,
Por aqueles que lá vão
Há muita gente que chora.

Há muita gente que chora,
Com mágoas no coração,
Por esse mares fora
Lá vai uma embarcação.

É tão triste ver partir
Um barco do Continente,
Para Angola ou Moçambique
Lá lai outro contingente.

Tanta lágrima perdida,
Quando o barco larga o cais,
Adeus, minha mãe querida,
Não sei se voltarei mais.

Lá vai uma embarcação
Por esses mares fora,
Por aqueles que lá vão
Há muita gente que chora.

Há muita gente que chora
Com mágoas no coração,
Por esse mares a fora
Lá vai uma embarcação.
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Letra: Reproduzida, com a devida vénia, do sítio Joraga Net > O Cante do Cante: Grupos Corais Alentejanos, página criada e mantida por José Rabaça Gaspar.

[Obrigatório visitar esta página, que contem um repositório riquíssimo de dezenas de "modas" da músicas tradicional Alentejana. Letras e músicas recolhidas e gravadas por Francisco Baião e Manuel Aleixo, São Matias, Beja, 2011]

Contacto de "Os Alentejanos", música tradicional Alentejana,
Serpa, Telem: 962 766 339 / 938 527 595. Email: joaocataluna@gmail.com

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Notas do editor

(*) Último poste da série > 25 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13941: Manuscrito(s) (Luís Graça) (51) O Mundo é Pequeno e o Alentejo... é Grande: pois que viva o Cante!