domingo, 17 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15624: Pré-publicação: O livro de Mário Vicente [Mário Fitas], "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra" (2ª versão, 2010, 99 pp.) - II Parte: I - Os putos (pp.7-16)



Capa do livro (inédito) "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra", da autoria de Mário Vicente [ Fitas Ralhete], o nosso querido camarada Mário Fitas, ex-fur mil inf, op esp, CCAÇ 763, "Os Lassas", Cufar, 1965/67, e cofundador e "homem grande" da Magnífica Tabanca da Linha, escritor, artesão, artista, além de nosso grã-tabanqueiro da primeira hora,  alentejano de Vila Fernando, concelho de Elvas, reformado da TAP, pai de duas filhas e avô.

Esta edição é uma segunda versão, reformulada, aumentada e melhorada,  do livro "Putos, gandulos e guerra" (edição de autor, 2000). A sua pré-publicação, no nosso blogue, em formato digital, está devidamente autorizada pelo autor.

Texto e fotos: © Mário Fitas (2016). Todos os direitos reservados.


ÍNDICE

I          Putos

II         Putos, Gandulos e o Padre

III        Metamorfose

IV        Cepa do Zé de Varche

V         Vagabundo

VI        Por Terras de Portugal

VII       Guerra 1

VIII      Brincadeira no Mato

IX        Guerra II

X         Miriam

XI        Como se  Constrói uma Capela

XII       Guerra 3

XIII      Mamadu em Férias no Hospital Militar

XIV      Regresso à Guerra

XV       Adeus à Guerra




Elvas > Vila Fernando > s/d> c. 1950 > Calças de Palanco, Marquês e Picolo (p. 10)


Texto e fotos: © Mário Fitas (2016). Todos os direitos reservados.


Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra > I PUTOS (pp. 7 - 16)

por Mário Vicente

A sideral abóbada negra com milhões de estrelas florescentes encantaram-no quando pisou a calçada. Com a forte excitação do momento, nem do medo da noite se recordou, o que seria normal a qualquer criança. Uma alegria interior dava-lhe um alento e uma curiosidade extrema para o seu temperamento calmo e introvertido. Seriam por volta das quatro da manhã! Calças de Palanco nunca se tinha levantado tão cedo.

No Rossio, em frente e por debaixo dos cedros, o rebanho ruminava deitado,  esperando o romper da aurora que, naquele dia, apareceria já com uma hora e pouco de caminho em direcção a terras do lado Norte.

Francisca, encostada na ombreira da porta, os olhos húmidos,  deixando cair uma tímida lágrima, desejou boa sorte e que tudo corresse bem.

António, com um nó na garganta, respondeu um até logo quase inaudível, e com seu filho e o companheiro Jolim dirigiram-se para o rebanho. Acossados por Jolim, o cão, os ovinos foram-se levantando e tomando rumo tocados por António e seu filho, enquanto Francisca,  agora com os olhos rasos de água,  se recolhia ao lar, rodando a chave a avançar na lingueta de segurança da fechadura.

A aurora rompeu a meia légua passada, não era longo o caminho. António embrenhado nos seus pensamentos e o miúdo sonhando com a Feira e como seriam as terras para o lado do Norte. Foram tocando o gado, incapaz de entender porque é que o seu dono os obrigara àquela caminhada a desoras.

Mas era assim!... António ia mudar de vida. Mais certo e seguro sempre seria ter um emprego do Estado do que a errante e incerta dúvida do amanhã da vida que até ali levara. Teria ainda a vantagem de estar junto da mulher, filhas e filho,  que agora saltitava radiante campo fora, rodeando os olivais que davam acesso ao recinto da Feira de Gado nas terras do lado do Norte.

Já no recinto da Feira, enquanto brincava com um pauzinho, fazendo Jolim saltar na esperança de o abocanhar, Calças de Palanco foi ouvindo atento a conversa de seu pai, com aquele sujeito de casaco de bombazina e boné aos quadrados, até que o dito homem pronun­ciou:
– Pronto! Está certo, são minhas!

Apercebeu-se então o puto que voltaria a sua casa ape­nas com o pai e o companheiro Jolim porque as “lanudas” e os cordeiros já eram propriedade de outrem. António ficou duplamente satisfeito. Tinha feito bom negócio, o seu gado ficava em boas mãos e continuaria a ser bem tratado. Últimos acertos quanto a contas e forma de pagamento.

O homem de boné aos quadrados chamou o seu pastor, que começou a encaminhar o gado para o seu novo destino, o qual não seria muito longe, conforme a conversa trocada.

António chamou o filho e com o fiel Jolim seguindo-os, dirigiram-se para a rua onde de um lado e outro se encontravam barracas de quinquilharia, e de comes e bebes. Parou na barraca das farturas e pediu dois pedaços com açúcar e canela, e dois copos de café de cevada. Encostados ao balcão, pai e filho saborearam o pitéu, tendo António de esperar pelo miúdo porque a cevada se encontrava muito quente.

Enquanto tomava o café, quase a queimar a língua, Calças de Palanco ia deitando o olho para as pessoas que iam e vinham, naquele característico movimento de terra em festa, contemplando o céu, onde, de quando em vez estalavam os foguetes anunciando o dia de festa em honra de Nossa Senhora do Paço e da respectiva Feira de Gado, este ano bastante concorrida.

Após ter terminado o improvisado pequeno-almoço, o pai tirou um lenço do bolso e, carinhosamente, limpou a boca suja de melaço gordo açucarado e os bigodes de café do seu filho. Levou-o à frente de uma barraca de brinquedos, e perguntou­-lhe:
– Então, que brinquedo queres?

Calças de Palanco ficou maravilhado e corou pela introvertida admiração e indecisão de tantos brinquedos lindos. Uns de madeira, outros de lata!... Ficou um pouco confuso, mas um ficou gravado no seu olhar encantado, enquanto atento percorria aquele mundo maravilhoso. Era aquele carrinho de lata pintada puxado por um cavalo, com cocheiro e tudo. Seria que o pai lho compraria? Mais uma segunda, e uma terceira volta de olhar mirando tudo ao pormenor, até que o pai o interrompeu no seu maravilhoso vaguear:
–  Como é, filho, não dizes nada? Querias tudo, não era? Pois!... Mas tudo não pode ser! Escolhe lá o que mais gostas!

O indicador do miúdo disparou ágil como seta, e pronunciou:
–  Aquele!

Era o carrinho do cavalo. António pagou e a mulher gorda,  de lenço castanho com flores amarelas amarrado à cabeça, agradeceu o pagamento e entre­gou o brinquedo ao contemplado.

Caminho de retorno, saltitante de alegria, o miúdo ia brincando com Jolim. Ficaram, pela primeira vez, visitadas as ter­ras para o lado do Norte, por onde mais tarde várias vezes passaria com sua mãe, quando iam visitar os primos de Fonte Clara.

Setembro passado, o Outono veio com muita água. Era Natal e ninguém podia entrar nos campos, que se encontravam completamente alaga­dos. Quando a mãe Natureza se distrai, são sempre os mesmos a sofrerem as consequências. Os lavradores mandaram os seus ga­nhões de férias sem vencimento. Claro! Que aguardassem pelo fim da invernia…

Zé do Barrocal, o filho mais velho do ti Manel, viu acabar-se-lhe o último naco de toucinho, pois já eram quatro bocas a comer e de trabalho não havia esperanças. Uma noite, resolveu fazer uma asneira e perder a honra com que era considerado em todas as abegoarias. Escondeu um saco de serapilheira debaixo do coçado casaco, e dirigiu-se sozinho ao mato, pois a vergonha não lhe permitia arranjar companhia, como outros que o mesmo faziam. Mãos geladas, por entre a erva molhada, foi apanhando bolota ou lande, azinho ou sobro, não importava, pois o impor­tante era juntar o suficiente que as costas aguentassem para carrego no regresso.

Madrugada, completamente molhado, escondeu o saco por entre as medas de lenha, dirigindo-se para casa. Tirou as botas de chumbo, com três dedos de barro verme­lho pegado, deixou a roupa enlameada no canto da chaminé e, vestindo umas ceroulas de baetilha enxutas, assim se deitou junto da mulher, que consigo tinha o filho mais pequenino para,  com seu corpo, lhe transmitir o calor e sossegado dormir. Sen­tindo o corpo gelado do marido, ajeitou as costas, até ficarem coladas com as dele, transmitindo-lhe assim um pouco de con­forto e, baixinho, segredou-lhe:
–  Tu dás cabo de ti, homem! E o pior é se te apanham! Já viste? Ai que vida esta!

Ajeitando-se melhor, colou o fraco corpo aos dois com­panheiros de cama tentando numa doação total a sua última rés­tia de calor. Mas, não havia sossego naquela cama. O filho do ti Manel dava voltas e revoltas! A cabeça, num fervilhar insano, não lhe deixava pegar no sono. Quem lhe compraria aquilo? Só quem tivesse um porco para engordar. A mulher,  não dormindo e adivinhando o atormentado pensamento do inquieto marido, como só as mulheres sabem adivinhar, voltou a segredar-lhe:
–  Oh, homem, agora descansa. Amanhã vais falar com a prima Chica, e vais ver que ela é capaz de querer a bolota!

Aí o homem esperançado acalmou e o sono tomou posse daquela mente escaldante e corpo amassado.

De manhã, na sua casa, Calças de Palanco, junto à lareira crepitante, comia uma torrada barrada de banha e polvilhada de açúcar, tomava uma caneca de café com leite, quando alguém, abrindo a porta, entrou dizendo:
–  Prima Chica, posso entrar?

Francisca, dando uma olhadela pela porta do meio, verificou quem era e respondeu:
– És tu, Zé?! Entra, assenta-te aqui ao lume, que está muito frio.
– Prima Chica, eu não me assento, queria era... nem sei como hei-de dizer! ...

Francisca olhou para o Zé do Barrocal e achou-o triste e um pouco nervoso.
– Diz lá Zé, há algum problema? Está algum miúdo mal?
– Não!... Não é isso! É que eu não tenho tido trabalho e esta noite tive de ir arranjar um saco de bolota!

Os olhos do homem estavam húmidos e uma vergonhosa lágrima rolou naquele magro rosto. O puto, no seu cantinho, gravava na mente aqueles dolorosos momentos e raciocinava:
– O primo Zé a roubar bolota para dar de comer aos filhos?! Ele tão considerado e respeitado por todos quantos consigo trabalham!...

Havia qualquer coisa que não entendia. O primo Zé está a chorar de vergonha, não por os filhos não terem de comer, mas por ter apanhado a bolota no mato, não sendo dele!

Instantes confusos. Mais tarde, retendo esta cena na mente e já com entendimento completo, compreendeu não só o problema do primo Zé mas todo o drama do povo da Planície. É que tudo isto acontecia em plena Europa, após a proclamação da Declaração Universal dos Direitos do Homem, cujo artigo 25° diz: "Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistên­cia médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invali­dez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua von­tade."

A proclamação foi assinada a 10 de Dezembro de 1948.

As coincidências do destino! Calças de Palanco comia a torrada a 17 de Dezembro do ano seguinte. Francisca acalmou o filho do ti Manel e disse:
– Não te preocupes, diz lá quanto é? Levas já, pois de certeza que te faz falta. Logo, quando vires que podes trazer o saco, trá-lo. Se tiveres de fazer o mesmo, tem cuidado, não sejas apanhado, e escusas de andar à procura de quem fique com a bolota, pois eu só mato o porco lá “p´rós” fins de Janeiro.
– Obrigado, prima Chica! Nem sabe o bem que me está a fazer.

Tinha que saber! Não era favor nenhum, era obrigação, era um dever de solidariedade. Seria um acto de revolta contra todos os que exploravam e amarfanhavam os mais honestos e melhores filhos da Planície. Infelizmente nem sempre assim foi.

Calças de Palanco analisou isto tudo mais tarde e tam­bém os olhos lhe ficaram húmidos. Talvez por vergonha, quem sabe?

Ambos se foram cedo desta vida e com grande sofrimento, apesar da grande ajuda da improvisada enfermeira, a samaritana Xan­dra que muita dor aliviou. Tanto o Zé, filho do ti Manel,  como sua mulher partiram, mas com H e M bem grandes.

O fim de Janeiro chegou, e a matança do porco teve de ser adiada para o primeiro domingo de Fevereiro, por causa do pessoal da cidade, pois era só nessa data que o trem do quartel estava disponível. Mas uma semana passava rápido, menos para Calças de Palanco que estava desejoso de rever os primos da cidade.

Chegou a véspera da matança. António avisou Francisca para nesse dia não dar comida ao porco. À noite, Calças de Palanco não dormiu e manhã cedo, dia da matança, enquanto seu pai ia afiando facas e preparando a banca e todos os apetrechos, mais era satisfeita a sua curiosidade. Saltitava no quintal para ver os preparativos e assistir à chegada dos primos, enquanto seu avô, velhote,  ia atazanando a cabeça do paciente António. Até que o trem puxado por mulas e não cavalos, coisas esquisitas as dos militares, apontou ao portão da Colónia e,  contornando o Rossio, veio parar, em frente da casa de fachada azul e porta castanha. Grande alegria entre miúdos e graúdos!

Comeram-se as fatias paridas ao pequeno-almoço e matou-se o porco. Não era tão fácil assim,  pois havia tarefas complicadas, era necessária força e saber. Teria de se colocar o animal deitado sobre a banca – uma mesa forte –   e posteriormente amarrar-lhe a boca com arame ou corda para não utilizar os fortes dentes e ferrar em alguém.  Depois seria a mão certeira e experiente para aplicar o golpe seguro de forma que o animal tivesse boa sangria para feitura dos enchidos, e não sofresse muito.

Após o porco morto, era chamuscada a pele para empolar e retirar. Interessante para a miudagem era a abertura do porco, pois era satisfeita a curiosidade de verificar os órgãos internos do animal, confirmando o ditado popular “se queres conhecer o teu corpo,  mata um porco”.

A lavagem das tripas, que seriam utilizadas nos enchidos, foi feita no tanque de três bicos no eucaliptal, um pouco abaixo da nora. Toda a miudagem foi assistir, apesar do frio intenso. Fez-se uma fogueira e, enquanto Francisca e Rosária lavavam, a malandragem brincava e corria a mata de eucaliptos, desde a nora até à ribeira.

Almoçadas as sopas de cachola, a tarde correu tão rápida que não se deu por ela. Eram horas de voltar para a cidade! António e o compadre Zé Joaquim, já com um grãozinho na asa, iam-se num despedimento que não tinha fim, enquanto o pessoal.  todo acomodado no carroça, sonhava já com a nova vinda à aldeia. Os compadres fizeram a última despedida, e o trem arrancou com o sol já posto e as velas das lanternas acesas.

Veloz é o tempo quando se brinca e não há obrigações para cumprir! A miudagem, sem dar pela passagem dos anos, viu-se envolvida na vida escolar. Foram assim reduzidas as horas de brincadeira no casão do Baixa com Nanicha, e à noite as tenta­tivas de apanhar mamíferos voadores com Faty e Kinkas levan­tando as canas e gritando:
 – “Morcego, morcego vem à cana que tem sebo!”

Sacola às costas, caderno e lousa dentro, ei-los, no novo ciclo de existência, percorrendo a fase ainda muito incompleta de putos, para tentar alcançar a graduação de gandulos.

Com a cabeça quase rapada, pelo mestre Algêncio que era exímio, um verdadeiro perito na arte de tosquiar os pequenos crânios, e primava quando se lhe pedia um corte como devia, assim circulavam. Metia o pente mais grosso na máquina, e rapava a malta que era uma beleza. Vantagens? Livrava-se a malta dos "selos" ou "caldos" da gandulagem, "cuspinhadela" na mão e uma valente cachaçada.

Assim, geralmente, se apresentava Carrulho. Naquele dia, apressou-se ele a levantar o arame farpado mesmo juntinho à acácia enraizada no valado que dava acesso à eira da Colónia Correccional.

Imediatamente a canalha passou de gatas, não havia tempo a perder, para quê dar a volta pelo portão? Depois do Pato Marreco passar o último, como era cos­tume, o batalhão formou. A malta da Aldeia tinha ganho aos do Rossio de Cima. Braços sobre os ombros uns dos outros, todos engancha­dos, fazendo dos braços cangalhas, começou a lenga lenga do festim:

"Na quero trabalhar!
Porquê na quero!
A malta d´Aldeia ganhô ò Rossio!
Por três a zero!"


Eram comandados por Alacrau, incontestado capitão e chefe de muitas aleluias, a “tradição Pascal”. Não era brincadeira! Doze voltas à Igreja correndo, finalizando com a entrada na mesma, subida até ao altar, ostentando e badalando uma manga ou outra espécie de chocalho ao pescoço, geralmente cedidos pelo Zé da Defesa para o evento.

Desceram direito ao Joaquim dos Vinagres que, como di­ria meu avô, era seu vizinho. Cada voz com seu timbre, todos queriam berrar mais alto que o companheiro, numa desafinação total, tornando o "chinfrim" maior. Por cima da algazarra, sobressaia trombeteira a voz de Alacrau, pregoeiro-mor da aldeia, também incontestado, fosse qual fosse o produto.

Torreca seguia ladeado por Carrulho e Calças de Palan­co, Alacrau por Malhado e Binito. Na segunda linha seguia uma confusão de Ramada Curta, Narciso, Pegado, Laroso, Cabeçudo, Nanicha, Papo-seco, e outros de idades diferentes. Por último Pato Marreco, como habitualmente.

Não se compreendia bem! Havia coisas que não eram entendíveis. Calças de Palanco e Torreca, sendo do Rossio (de baixo),  alinhavam pelos da aldeia. O Narciso do Rossio (de cima) gritava também pelos da aldeia.

Confuso não era!... Calças de Palanco, mais tarde no sul Guiné, já vagabundo mas não ainda maltês,  compreenderia então perfeitamente, enterrado na lama, bolanhas e tarrafo dos rios Cumbijã, Manterunga e Quaiquebam. Enrolado e cheirando a morte no emaranhado das matas de Camaiupa, Afiá, Cabolol, Cadique e Cantanhez aprenderia como os homens se tramam uns aos outros, transformando o "amai-vos uns aos outros" em "mamai-vos e matai-vos”.

Era mesmo assim! Ricos, pobres ou remediados, os homens delimitavam as suas próprias fronteiras, as relações e a vida. Eram as castas exactamente: fulas, futa-fulas, fulas-pretos, fula­-forros, mandingas, balantas, papéis, manjacos, bijagós, felupes, beafadas, nalus e mais a puta que os pariu com estas divisões todas.

Todos um dia morrerão e voltarão a ser terra. Regressemos então, aos gloriosos que aplicaram três "secos" aos do Rossio.

A meio da rua do Monte  – assim se chamava nos tempos que a Duquesa de Bragança, dona e senhora daquelas terras, por ali passava no seu coche a caminho do Monte de Vila Fernando quando a aldeia ainda era conhecida por Conceição –, Kinkas,  por entre o postigo semiaberto, viu o pessoal passar e não resistiu a um olhar mais prolongado a Calças de Palanco. Tão embevecida estava, que nem reparou que também ele ia descalço e não só, a cabeça do dedo grande do pé direito deitada abaixo. Que impor­tava? Os do Rossio tinham levado três "secos"!...

“Na quero trabalhar!
Porquê na quero!”


A ladainha continuou até todos se abraçarem nos degraus do adro em frente ao Cruzeiro de granito, comemorativo e recordante de Guerras,  é claro, da Independência e Restauração, ali colocado em 1940.

Sentaram-se e descansaram um pouco as cordas vocais. Fez-se por momentos, silêncio apenas perturbado pelo ralhar da ti Marilopes contra aquela canalha toda.

Joaquim acabou de dar a ração às mulas. Saindo pelo portal grande do cabanão, ao passar pelo chafariz, deu uma lava­dela nas mãos e tirando o lenço das calças de bombazina casta­nha, as foi limpando, dirigindo-se para a vereda que dava aces­so ao caminho mais curto para casa. Bamboleante na sua manei­ra pesada de andar, olhou em frente e parou. Firmou bem a vista e confirmou:
– Uns sapatos! Malandragem!

Andaram aqui toda a tarde e nem se lembraram dos sapatos. Pegou neles, chegou a casa e gritou à entrada:
– Marizabel!
– Que queres, homem?

Respondeu-lhe a esposa.
–Toma lá!

Entregando os sapatos á mulher, sentou-se à chaminé, um sorriso malandro surgiu-lhe no rosto. Deve andar algum à rasca a saber deles, pensou consigo. Torreca tinha a quem sair!

Maria Isabel mirou os sapatos e reconheceu-os imediatamente. Desceu a rua cem metros e, ao chegar à casa de fachada azul e porta castanha, abriu o postigo e chamou:
– Chica! Ó prima Chica!
– Já vou! – respondeu Francisca do fundo do quintal, pedindo desculpa a Ti Catrina, pela interrupção da conversa.

Quando se aproximou da porta de entrada, Maria Isabel estendeu o braço pelo postigo mostrando os sapatos, e disse:
– Olha, toma lá que devem ser do teu, foi o meu Jaquim que os encontrou na "êra."
– Pois são, prima Marizabel! Deixa estar que ele vai levar uma sova!... Mas deixa-o andar , ele há-de aparecer descalço!

Abandonando os degraus do adro, Calças de Palanco correu até à fonte e molhou o dedo que agora lhe ardia com in­tensidade. Imediatamente lembrou-se dos sapatos e, numa cor­rida louca, voltou à eira. Os ditos cujos tinham ficado a servir de poste da baliza, mas… de sapatos nada, tinham-se evaporado!...

Já estava a ficar desorientado, quando de repente olhou para as eiras de baixo, e viu o acampamento de ciganos.
– Foram eles!

Tinha de ser! Tudo o que aparecia e acontecia de mau,  era obra de ciganos, não era?!. .. A cabeça de Calças de Palanco entrou em confusão. Porquê? Mas há coisas que aparecem feitas e não são eles?,,,
Tão estranho!.... E voltou a aflição dos sapatos:
– Como posso entrar?

Os ciganos? Não era má ideia. Mas... e se não tivessem sido eles!? Com a cabeça ardendo em louca confusão voltou ao Rossio. Sorrateiro, foi até ao pinheiro mais próximo de casa, esperou uns momentos para se certificar que a porta estava aberta e que ninguém se encontraria na sala de fora. Mal calculado! Assim que pôs os pés descalços em casa, aparecendo milagrosamente, dona Francisca gritou:
– Descalço? Então os sapatos!?

A cabeça de Calças de Palanco ficou como se lhe tivesse caído em cima um calhau do tamanho do sino da igreja. Os ombros mirraram-se-lhe num encolher ignorante, mais parecendo frango acabado de depenar. Um "glu glu" saiu-lhe da garganta como engasgamento de migalha no goto.
– Ai meu Deus! Como tens o pé filho!  – pronunciou Francisca, ao verificar o dedo do pé de seu filho. 

Oh! divina topada na pedra em vez da bola! Oh bom Deus que fizeste o milagre de plantares pedras na eira!. .. Estava assim salvo! Os sapatos passaram à história. A grande priorida­de era tratar daquele dedo. Que alívio, que sorte!

Calças de Palanco cantou de novo interiormente: 
– Não quero trabalhar, porque eu não quero!

Dona Francisca pôs no chão os sapatos que mantinha escondidos no avental, e foi procurar mercurocromo para tratar do pé de seu filho, esquecendo a sova que tinha para lhe dar. O pensamento de Calças de Palanco voou para as eiras de baixo e saiu-lhe:
– E os ciganos?
– Quais ciganos, filho?

Calou-se, viu que tinha sido injusto. Era verdade. Nem tudo era obra dos ciganos. Mais tarde compreenderia a perseguição que os seres humanos se movem uns aos outros como bárbaros. Compreenderia melhor quando seu pai lhe contou as atrocidades da guerra de Espanha por ele presenciadas. Ainda hoje, a visão do momento e palavras se mantêm intactas nos olhos, cérebro e ouvidos de Calças de Palanco.

Subiam os dois a estrada que dava acesso ao Monte do Lago, lá bem em cima no alto onde funcionava a queijaria. Cá em baixo, encoberto pelos silvados, choupos e salgueiros, corria o fio de água da ribeira das Espadas. Os contornos do Forte da Graça bem definidos, com um céu azul aveludado como pano de fundo, forneciam uma tela de beleza extraordinária. Já quase no cimo junto ao Monte, António parou! Passou docemente a mão pela cabeça do miúdo e disse:
– Olha filho, a besta humana é capaz de tudo!
– Vi-os! Mãos amarradas com arames em torniquete!
– Desses dos fardos, pai?
– Sim,  filho, desses com que vocês fazem carrinhos para brincar.
– Homens e mulheres,  até crianças como tu, mãos amarradas atrás das costas, direitos à praça de touros de Badajoz. (**)

António dizia isto e os olhos húmidos transmitiam a realidade do passado, agora bem presente. A metralha martela­va-lhe a cabeça. A Ribeira das Espadas e os seus silvados, onde escondidos, lhe distribuía as “perrumas” (pão de farelo cozido para cães), pequena dádiva por vezes para tanta gente. Uma atrevida e sentida lágrima rolou por aquele rosto seco, tisnado pelo sol.

O pensamento de António regrediu no sofrimento e na dor.  E Soledade!?... Seria viva?... E se estivesse grávida, como desconfiava!? Fizeram amor por gosto, em emaranhados de angústia.

Mais tarde, já homem, Calças de Palanco sonhou uma noite que tinha um irmão, chamado António, do outro lado da fronteira.

Voltando aos sapatos! Foram os ciganos perdoados, mas não só, a partir dessa data a maneira de pensar do puto mudou radicalmente. Prometeu a si próprio que havia de falar com ciganos, tendeiros e malteses.

Malteses!...  Gostava de ser maltês. Deveria ser bom, sem ter nin­guém a mandar e andar por montes e vales!... Ser dono dos dias e das noites, de estradas e caminhos. Que bom!...

Não seria maltês! Mas na Guiné, o seu grupo de combate seriam "Os Vagabundos" e ele próprio "O vagabundo", como que fruto de se ter armado em herói e em maluco quando andou a aprender a matar nos “Rangers”, em Lamego. Saberemos mais tarde coisas tristes desta louca história.

O tempo voava, corcel alado, eternidade para os putos, cegos na ânsia de se tomarem gandulos. Seria tarde já, quando compreenderiam que aqueles eram os tempos mais puros e belos da sua existência.

Era vê-los nos invernos: pés descalços, mãos e, por vezes, até as orelhas sangrando cheias de frieiras, por causa daquele vento leste, frio, trespassante que varre a Planície. Sem desistirem, na terra barrenta em água gelada. Aí brincavam desco­brindo as suas nascentes, dando asas à sua extraordinária engenharia, construindo barragens, albufeiras e rios.

Aos inver­nos seguiam-se os "pós de Maio" que os livrava das frieiras e lhes dava azo a iniciarem-se como predadores armando laços nos ninhos às "pardalas" e tentando meter em gaiola (prisão) quem nasceu com asas livre para sulcar os céus.

Seguindo o ciclo da mãe natureza, viria o Verão com a sua canícula. A Planície, transformada em braseiro, obrigava à procura de uma sombra amiga. Divergiam então os putos da engenharia civil para a mecânica agrícola e outras da sua universidade imagina­tiva. Tudo servia para construção das suas fabulosas máquinas. À sombra dos pinheiros do Rossio, o arame, matéria-prima mais utilizada e roubada aos fardos de palha ou de enfardadeiras exis­tentes nas proximidades, era trabalhado por hábeis mãos, de onde saíam os mais maravilhosos brinquedos. Mulas, bois, arados e charruas, tractores e respectivos atrelados, fazia-se tudo. A criação inventiva levava a tudo aproveitar: latas de conserva para atrelados e comboios; as latas de graxa dos sapa­tos davam para rodas, telefones e outros engenhos; a cortiça para carroças, rodas e barcos. O Rossio transformava-se num Instituto Superior de Sabedoria. Brincava-se ruidosamente até se ter a certeza que toda gente dormia a sesta.

Esse seria o momento de lançar o golpe dos putos, uma escapadela até à Ribeira Velha para dar uns mergulhos no pego Salgueiro. Isto se o Sombra Negra não andasse por perto, pois, caso contrário, lá teria a malta de enrolar a trouxa debaixo do braço e todos nus, fugirem como setas pelo eucaliptal direito à nora ou ribeira acima até à ponte, conforme ele aparecesse e não fosse o gajo soltar o “Alsácia Andaluz”.

No Rossio a ciência tomava-se livre. Era a pura liberda­de! Liberdade?!... Quem falou nisso?  Risco azul imediato sobre essa palavra.  A palavra liberdade nem lhes era comunicada, não fossem mais tarde fazerem uso dela e trazer perigo para a Ordem e Progresso do (velho) Estado Novo. Era uma causa gravíssima,  esta da Liberdade, constando-se até que tal palavra não era conhecida pela própria Guarda Republicana, por não constar nos dicioná­rios existentes nos respectivos Postos.

Puto, mas gostando de ouvir o que as pessoas mais velhas diziam, Calças de Palanco ouviu um dia comentar ao tio Catorze aquele caso bastante falado de proibirem as mulheres de cantar quando, madrugada bem escura, seguiam para as ceifas. E foi triste este verdadeiro acontecimento!...

Madrugada fora, as manageiras de porta em porta, iam chamando o pessoal. Batida na porta e a normal pergunta e resposta:
– Quinita? Sim! Vá, rapariga, vamos lá!...

Alzira, Amélia, Catrina, Antónia, Felizbela, Chica Rosa, Elvirica, etc. etc etc.  Assim, sucessivamente, Chica ou Cipriana ou outras, todas as madrugadas funcionavam como despertadores humanos, até se ter o rancho todo avisado, e que começava a juntar-se à esquina do Vinagre ou da Requêta ou outro local, conforme fosse o destino.

Como seria este sistema doloroso aliviado? Como?
– Olha, mulheres, vamos mas é cantar!

Rouxinóis da madrugada. Elvirica, voz certinha e bem timbrada, dava o tom e todo o rancho começava a subir a ladeira cantando as "Saias":

“Mesmo agora aqui cheguei,
Mais cedo não pude vir,
Ainda cheguei a horas
Da tua linda voz ouvir.

Oh, lua não dês luar
Na campa da minha amada,
Não vá ela acordar
Na sua triste morada.

Adeus, ó Vila Fernando,
Colónia Correccional,
Prenderam o meu amor
C'uma fita cardinal."



Nunca ficou definido o sentido deste último verso. Alguns diziam por ser da fita cardinal, que era de cor vermelha; outros opinavam ser por incomodar uma excelência que passava as manhãs na cama. O certo é que um dia, ainda madruga­da, o cabo e uma praça da Guarda Republicana interromperam a alegria daquelas mulheres escravas, cujo crime era única e sim­plesmente cantar para suas tristezas afastar.
– Ficam avisadas que daqui p'rá frente acabou a cantoria, e não há mais avisos, senão for com multa, vai com prisão.

Palavras certas as do tio Catorze a bailarem na cabeça de Calças de Palanco:
– É um crime! Até o canto tiram ao Povo!
– E o padre?

Nestes assuntos não se metia ele! Falaremos ainda do padre e dos problemas existentes, à sua vol­ta, com os putos, gandulos e não só.

Quando Abril abriu, da terra prenhe deste Alentejo brota­ram as mais lindas e belas cantigas. Mulheres e homens alente­janos voltaram a sentir a força da sua terra,  cantando-a. Vitorino, Janita, Paco, "Oh, Elvas, Oh, Elvas". Quantas vezes me cruzei e falei desta bela cidade com meu irmão Picolo!

Havia agitação nos putos. D. Maria Alice aos rapazes e D. Maria Amélia às raparigas, já tinham avisado a data das provas de passagem e dos exames. Estes seriam na Direcção Escolar na sede do Concelho. Haveria explicações extras para as provas de admissão dos que continuassem a estudar. Grandes senhoras estas, que bem souberam fazer a esta terra!... Graças a elas muitos miúdos de então virão a ser homens e mulheres de muito saber. A outras, ou outros que, antes ou depois delas, tive­ram o mesmo comportamento, o meu agradecimento pela sua obra e desculpa por os não nomear, apenas por desconheci­mento.

Como ia dizendo, os putos da agitação passaram às dores de barriga dos exames. Estava prestes a primeira separação,  tendo só o tempo suficiente para, sentados nas pedras à sombra da mimosa na esquina da Requêta, ouvir as histórias do ti Russo.

Pequeno, cabelo aloirado (daí a alcunha).  olho azul, um já coberto de névoa catarata que não definia a cor, ar ladino, grande contador de histórias e “cascarrilhos”, lá ia desfiando o que a malta mais gostava.

Na sua voz calma começava então:
–Naquele dia o Arronches ia a atravessar a ribeira quando lhe apareceu o diabo.
– Pára lá!

Disse o diabo ao Arronches.
– Só passas se me deres um cigarro dos fortes!

O Arronches era homem sem medo! Ia dizendo, olhando e mirando com ar maroto, a reacção dos putos. Mas o diabo sempre era o diabo! Lembrou-se então o Arronches que levava a espingarda e gritou para o diabo:
– Ó diabo, abre lá a boca!

O diabo abriu a boca, o Arronches  puxou da escopeta, dedo no gatilho, e pum! Uma chumbada em cheio na boca do diabo!

Com a sua calma habitual o ti Russo continuava:
– O diabo engoliu o chumbo, deu um arroto, deitou uma fumarada pelas ventas e disse: "Ó Arronches podes passar, este é do forte, é do bom!!"

Assim passava as horas o velhote, contando histórias, mudando o tema conforme a reacção provocada nos putos. Seguia-se a do Ti Cagaporras, no tempo em que os homens se procuravam como os bois para lutar. Depois lá vinha mais uma de bruxas e lobisomens, etc. etc. etc...

Passaram as férias, as últimas da instrução primária. Para alguns, o tempo de criança acabaria aqui, pois rumariam para os campos onde já buliam irmãos e pais. Outros, mais afortunados,  bafejados pela sorte e sacrifício dos pais, continuariam tentando subir mais um degrau na vida.

Calças de Palanco rumou à cidade onde encetou nova etapa, agora na companhia de seus primos irmãos Auta, Picolo e Marquês. Aos fins-de-semana regressava à sua aldeia para a compa­nhia de seus pais e irmãs Adelaide e Amália.
______________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 10 de janeiro de  2016 >  Guiné 63/74 - P15603: Pré-publicação: O livro de Mário Vicente [Mário Fitas], "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra" (2ª versão, 2010, 99 pp.) - Parte I: capa, dedicatória, introdução e prefácio (, este com a assinatura de António Graça de Abreu)

(**) Vd. Fundação Mário Soares > Guerra Civil de Espanha > Mário Neves e a guerra civil de Espanha > A chacina de Badajoz

(...) Quando Mário Neves [, 1912-1999], com apenas 24 anos, e ainda estudante de Direito, foi incumbido da sua primeira e derradeira prova como repórter do Diário de Lisboa, nunca iria imaginar as repercussões internacionais que iria ter o seu testemunho da tomada violenta de Badajoz por parte das tropas nacionalistas. (...)

(...) A “Matança de Badajoz” foi presenciada em primeira mão por três jornalistas: Reynolds Packard, da United Press, Jacques Berthet, do Temps, acompanhados por Mário Neves. Estes jornalistas, e mais tarde Jay Allen, correspondente do Chicago Tribune, foram os primeiros a denunciar a violência e a “inflexível justiça militar” realizada pelo Exército de África, comandado pelo tenente-coronel Yagüe. (...)

sábado, 16 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15623: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (41): o que foi mais devastador para o PAIGC foi precisamente a campanha psicológica spinolista por uma "Guiné Melhor"

Dois comentários (*) de António Rosinha: 

[, foto à direita: emigrou para Angola nos anos 50, foi fur mil em 1961/62; saiu de Angola com a independência, emigrou para o Brasil e finalmente foi topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979/93; é um "ex-colon e retornado", como ele gosta de dizer com a sabedoria, bonomia e o sentido de humor de quem tem várias vidas para contar; é membro sénior da Tabanca Grande]: 


1. O impacto destes panfletos eram de uma ingenuidade tremenda, cujos efeitos pretendidos seria mínimo (*).

Talvez em conjunto com a política de Spínola da "Guiné melhor" ajudasse um pouquinho, nas cidades e vilas. Quem sabia ler no mato em português? Alguns chefes do PAIGC. Daí a tradução era ao gosto de cada um.

Em Angola havia uma comunicação oral multilingue através de rádio, comerciantes, administrativos, fazendeiros e mesmo militares brancos que já tinham sido nados e criados nos muceques e junto de sanzalas onde se falava africanês.

Daí o insucesso político e social redundante do MPLA, UPA e UNITA, só lá foram a ferro e fogo (30 anos).

Também os cabo-verdianos do PAIGC com o crioulo se perderam naquele labirinto étnico.
Amílcar Cabral ganhou em todos os campos, mesmo em Lisboa, mas não ganhou na terra dele.
Para mal dos guineenses, e dos angolanos de quem também era fundador do MPLA. Para mal, porque a guerra continua, é uma babilónia custa a entenderem-se.
...E parecia tudo tão fácil, em 1960!

2. Eu quando digo que em Angola tínhamos a "arma do domínio das línguas tribais", sei que na Guiné não havia essa arma.

José Câmara e Torcato Mendonça, na Guiné não havia essa arma nem nas mãos do "colon" metropolitano nem do "colon" cabo-verdiano (aí o maior fracasso de Amílcar Cabral e Luís Cabral, que de uma maneira ou outra não alcançaram o objectivo pessoal a tal UNIDADE Guiné-Cabo Verde).

Devido à "invenção" do crioulo, ninguém queria saber das línguas étnicas, muitas, e com reduzido número de falantes cada uma.
O que não acontecia em Angola, onde havia muitos milhares de falantes em etnias do tamanho de meio Portugal ou mesmo do tamanho de Portugal (bailundos)
E onde muitos brancos e mestiços nascidos ou residentes tinham que assumir naturalmente essas línguas, há muitos anos.

Ainda após a independência, na Guiné é necessário frequentemente tradutores/intérpretes para transmitir os discursos e palestras dos governantes em cada região.

Em Angola qualquer chefe de posto, comerciante, fazendeiro e muitos tropas, falavam uma e mais línguas.

Tive colegas de profissão, brancos e mestiços, que falavam corretamente duas e mais línguas, o que não era comum acontecer com os próprios chamados indígenas que só falavam a própria língua.

Claro que contra os canhões e morteiros russos e cubanos não há diálogo que funcione nem em balanta nem crioulo nem francês nem bailundo.

Mas para dissuadir naquele tempo as populações, fosse na Guiné ou em Angola, a melhor arma era usar a língua dessa população.

E essa arma das línguas foi usada em Angola em todas as frentes, governadores de distrito, comerciantes, pide e chefes de posto e militares, testemunhei ao vivo.

Mas também testemunhei na Guiné, pela boca do povo, que o que foi mais devastador para o PAIGC foi precisamente a campanha psicológica spinolista por uma "Guiné Melhor". Ou seja,  o tal diálogo (e obras) com o povo, em crioulo/português, que se fosse nas línguas nativas, digo eu, o efeito desmultiplicava-se indefinidamente.

Era surpreendente a empatia das populações indígenas do interior de Angola quando contactadas por estranhos, na sua própria língua.

Era como se houvesse um efeito hipnótico, é a melhor maneira que tenho para explicar situações que vi.
E, em surdina para o PAIGC não ouvir, ouvi em Bissau, guineenses falarem de Spínola como se fosse alguém por quem podiam dar a vida.

Ainda haverá um dia algum guineense, escritor que escreva livremente, sem complexos aquilo que se passou do lado deles, sobre todos os pontos de vista, porque do nosso lado (ex-metrópole) já está ficando tudo bem esmiuçado para quem venha historiar. (**)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 14 de janeiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15619: Álbum fotográfico de Alfredo Reis (ex-alf mil, CART 1690, Geba, 1967/69) (5): Os nossos cartazes de propaganda

Guiné 63/74 - P15622: Inquérito 'on line' (28): "A tropa fez de mim um homem"?... Nem sim nem não, metade da malta (12 em 24) responde "nim", "nem verdadeiro nem falso"... Inquérito em curso até 5ª feira...



Alcobaça > Motoqueiros > 1965

Foto: © Juvenal Amado (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


Sabugal > "Briosos mancebos inspeccionados em 1968, com saudosismo do passado. Foto tirada no dia da inspecção, no Sabugal, junto ao antigo edifício camarário onde teve lugar a inspecção. É também visível o edifício da antiga prisão"... É um texto de antologia, o que o José Corceiro, natural do Sabugal, aqui escreveu  em 2011 sobre o dia, tão especial, de ir às sortes (*).

Foto (e legenda): © José Corceiro  (2011). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


A. INQUÉRITO DE OPINIÃO: "SIM, A TROPA FEZ DE MIM UM HOMEM"

1. Totalmente verdadeiro > 1 (4%)

2. Verdadeiro  > 6 (25%)

3. Nem verdadeiro nem falso  > 12 (50%)

4. Falso  > 2 (8%)

5. Totalmente falso  > 3 (12%)

6. Não sei responder  > 0 (0%)

Votos apurados >  24  (100,0%)


Dias que restam para votar: 5 | Termina a 21 de janeiro de 2016, 5ª feira, às 10h06


B. Camaradas: o que é que vamos responder aos nossos filhos e netos, se eles nos fizerem a pergunta: "Pai, avô, a tropa fez de ti um  homem?"...  O pretexto é o título do livro do Juvenal Amado ("A tropa vai fazer de ti um homem", Lisboa, Chiado Editora, 2015)  que vai ser lançado em Lisboa (dia 23, sábado) e em Monte Real, na Tabanca do Centro (dia 29, sexta-feira)...

Claro que eles, os nossos filhos e netos,  não vão fazer a pergunta porque uma grande parte deles não sabe o que é isso da tropa... E, muito menos, felizmente, o que é a guerra, a não ser a dos jogos eletrónicos... Hoje já ninguém vai às sortes, nem há  serviço militar obrigatório.

Antes de 1961, antes da guerra do ultramar/guerra colonial, ir às sortes e ficar apurada, era uma honra para qualquer mancebo deste país, a avaliar pelo testemunho de alguns camaradas nossos que já escreveram sobre este assunto, com destaque para o José Corceiro (*).

Não vamos discutir aqui se havia ou não nesse tempo uma "ideologia do marialvismo"... A verdade é que em todas sociedades há "ritos de passagem", ligados ao ciclo de vida... É evidente que tinha um enorme significado no passado, para um "mancebo" (**), a ida à inspeção militar, o apuramento, a recruta, o juramento de bandeira e, em caso de guerra, a partida para a guerra... Havia o mito de que a tropa era uma "fábrica de homens"... Mas este acontecimento (um mancebo ficar apurado para a tropa) também queria significar "emancipar-se", "atingir a maioridade", "libertar-se" do pai-patrão, sair de casa...

O que pensamos, hoje, sobre isso? A pergunta é complexa, pode até provocar algum  incómodo e desconforto, não sendo portanto de resposta fácil (sim ou não)... No inquérito "on line" desta semana,  sobre este tema, já temos 24 respostas... E metade dos respondentes (n=12) optou por responder "Nim", nem sim  nem não, "nem verdadeiro nem falso"...

A resposta, em direto, "on line", deve ser feita no blogue, no canto superior esquerdo, até 5.ª feira, dia 21, às 10h00...
____________

Notas do editor:


(...) Para muitos dos jovens, o dia da inspecção seria também a primeira vez que iriam estrear um fato novo, composto por calças, casaco e colete (terno), pois até ao presente não tinham tido a possibilidades de comprar o tecido e mandá-lo confeccionar no alfaiate da terra, visto ser escasso o suporte económico da família. Era também provável que a partir dessa data, o jovem pudesse começar a amealhar um pezinho de meia, fruto de algum trabalho que executasse com direito a remuneração, jornal ou a passar contrabando, pois até esta altura tudo o que tinha ganho reverteu a favor do agregado familiar. (...)

(...) O cavalo, adereçado com os seus melhores arreios estava pronto e à espera. Ricamente aparelhado. A sela, a cinta, o cabresto, as rédeas e o freio foram diligentemente limpos e engraxados, as fivelas e os estribos foram polidos até ficarem a brilhar, sem esquecer as patas do equídeo que foram aparadas, limadas e convenientemente ferradas, pois há mais de 30 quilómetros para calcorrear, ida e regresso, com o mancebo sempre montado e a espicaçar, e quiçá poderá surgir algum amigo mais íntimo que o queira apadrinhar e arrisque a boleia no lugar da garupa, e o ritmo tem que ser constantemente a trotear. (...)

(**) Do Dicionário Houaiss  da Língua Portuguesa:

"Mancebo", adj./subs., "que ou aquele que está na juventude; jovem, moço"... Etimologia, do latim manceps, mancipis, termo técnico do direito, "o que toma em mão (alguma coisa para dela se tornar o adquirente ou reivindicar-lhe a posse); relacionado com manu, mão.  O mancebo, de mancipiu(m) era aquele que, no tempo da antiguidade clássica,  era agarrado à mão, feito escravo, na guerra, e levado para casa, para os trabalhos agrícolas... Ou ainda manus + cibus, homem que é cevado à mão, escravo,,,  

Mas há outros significados... Veja-se aqui Língua Portuguesa, o blog de Aldo Bizzochi > Mancebo, mancebia, amancebar-se

(...) O que ocorreu de fato é que mancebo derivou de amancebar, e não o contrário. Esse verbo amancebar (...), na verdade, provém por evolução fonética regular do latim emancipare, "emancipar, libertar, deixar de tutelar", que significava, dentre outras coisas, "conceder a um filho poderes civis quando este completasse a maioridade". Portanto, manceps e emancipatus queriam dizer "maior de idade". (No direito civil brasileiro temos o mesmo termo emancipado para designar o indivíduo que atingiu a maioridade ou a quem, sendo menor, a justiça concedeu as prerrogativas de cidadão adulto.) (...)

(***) Último poste da série > 11 de janeiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15606: Inquérito 'on line' (27): "Em 2016 prometo enviar mais fotos e/ou textos para o blogue"... Sim, respondem cerca de 20 a 25 num total (magro) de 57 respondentes...

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15621: Notas de leitura (797): "Motorizadas portuguesas de 50 cc", de Pedro Pinto, edição dos CTT, 2015 (José Colaço)









“Motorizadas Portuguesas 50cc", de Pedro Pinto. Edição dos CTT, Lisboa, 2015.  Reprodução, com a devida vénia, da capa e das páginas 18,19, e 20.




Duas fotos do lançamento do livro, em 23 de junho de 2015, no palácio Sousa Lela, onde esteve presente o nosso camarada José Colaço, a convite dos CTT e em representação do nosso blogue. Em cima o autor, Pedro Pinto.


O Zé Colaço,  os seus 17 anos e a sua Zundapp Mavic (*)


Fotos (e legendas): © José Colaço (2015). Todos os direitos reservados

1. Lembram-se de termos aqui falado de motorizadas ? Tudo começou com um pedido dos CTT que queria publicar um livro sobre as motorizadas portuguesas de 50 cc... Alguns de nós tiveram, antes da tropa, a sua motorizada de 50 cc... E têm boas (e más) recordações dela, essa "primeira namorada" de duas rodas... Um deles é o Zé Colaço a quem pedimos que representasse o blogue na sessão de lançamento do livro, em junho do ano passado... 

Pedimos-lhe também que escrevesse duas linhas, com umas rápidas notinhas de leitura do livro para publicar, juntamente com estas fotos que ele entretanto mandou...  Embora o  assunto possa parecer um pouco marginal ao nosso blogue, nós colaborámos, e o Zé Colaço  em especial, nesta edição dos CTT... E não foi pela primeira vez...  Na altura, o interesse passou e as notas e as fotos do Zé Colaço não foram publicadas. São-no agora, e vêm, a propósito também de um texto do Juvenal Amado sobre o assunto (**).


[Foto à esquerda, José Colaço (ex-Soldado TRMS da CCAÇ 557, Cachil,Bissau eBafatá, 1963/65)]

2.  Mensagem do José Colaço, com data de 22 de julho de 2015


Recebi hoje o livro do Motorizadas Portuguesas de 50 cc,  do autor Pedro Pinto, pela minha simples participação de uma foto de eu e minha motorizada Zundap Mavico anos 60, um livro que aconselho aos amantes das motorizadas portuguesas, para conhecimento da evolução dos motores auxiliares aos 50 cc.

É um livro com encadernação de capa dura,  com muitas fotos a cores de alta qualidade e também fotos desse tempo a preto e branco que nada deixam a desejar aos tempos de hoje, é um trabalho exaustivo de muita qualidade que só os amantes do sistema conseguem. A edição (limitada a 4000 exemplares) é dos CTT. Deste livro constam 4 selos e 1 bloco filatélico, da emissão Motos, de 2007.

Envio em anexo foto da frente capa e das páginas 18,19, e 20 que dá para adoçar a boca no que foi a nossa indústria portuguesa motorizadas de 50 cc dos anos 60, hoje praticamente nula.

O 25 de Abril de 1974 deu-nos a liberdade, mas os novos políticos deixarem morrer todos estes embriões,  não dá para um leigo entender ?!...

Parece-me que também é uma interrogação o porquê destas motorizadas portuguesas não terem chegado à Guiné, que foi creio eu invadida pelos ciclomotores nipónicos. (***)

Guiné 63/74 - P15620: Notas de leitura (796): “Les grands”, por Sylvain Prudhomme, Éditions Gallimard, 2014 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Abril de 2015:

Queridos amigos,
Temos aqui um livro soberbo, uma grande surpresa de um escritor promessa francês.
Pegando na história de um grupo musical guineense conceituado, Super Mama Djombo, vamos vaguear pelos tempos febris da pós-independência, em que a música guineense percorria continentes e era aclamada pelo ardor das promessas. A sua cantora-ícone acaba de morrer, e Couto, o guitarrista, agora um velho desencantado, percorre Bissau enquanto os militares se preparam para sufocar as instituições democráticas.
Primorosamente escrito, e com um achado de enredo, é um livro que merecia fazer parte tendencial dos interesses lusófonos. Que haja um editor que dê à estampa este livro invulgar, e tão bem urdido.

Um abraço do
Mário


Os Grandes, por Sylvain Prudhomme 
(ou a Guiné-Bissau da euforia revolucionária à deceção)

Beja Santos

O teor da contracapa deste livro elucida-nos quanto ao tema principal: Guiné-Bissau, 2012, Couto, guitarrista de um grupo famoso dos anos 1970, Super Mama Djombo (um sério competidor do Cobiana Jazz, do grande José Carlos Schwarz), vive presentemente de expedientes. Enquanto se prepara um golpe de Estado sob égide militar, ele toma conhecimento da morte de Dulce, a famosa cantora do grupo, e que foi o seu primeiro amor. A noite estende o seu manto sobre a capital, há o sussurro das ruas, Couto deambula, anda de bar em bar, entre amigos. Mais de trinta anos da sua vida correm velozmente, sente recordações da mulher amada, lembra-se da guerrilha, todos aqueles anos fastos do Super Mama Djonko assaltam-lhe à lembrança, percorreram as sete partidas do mundo com uma música nova, portadora do entusiasmo e do orgulho de um país. Na cidade, homens e mulheres continuam entregues às suas ocupações, indiferentes às manobras militares, até que de repente se começam a ouvir os canhões e as rajadas de metralhadoras. Para homenagear Dulce, Couto e os outros elementos do velho grupo acordaram dar um concerto no Chiringuitó.

“Les grands”, por Sylvain Prudhomme, Éditions Gallimard, 2014, é um romance surpreendente de uma promessa literária (Sylvain Prudhomme recebeu o prémio Louis Guilloux 2012 pelo seu anterior romance), trata-se de uma ficção com personagens de carne e osso em que a maior parte dos factos são manifestamente imaginários. O Super Mama Djombo é um grupo que ainda existe, a personagem de Dulce é imaginária, e não se confunde com Dulce Neves, que continua a cantar. O autor recorda mesmo o nome dos músicos do Super Mama Djombo dos anos 1977-1981 e que andam muito próximos dos nomes que ele utiliza no seu romance. Trata-se pois de uma construção habilidosa em que se manipula a realidade até mesmo a do golpe de 12 de Abril de 2012 em que a poucos dias da segunda volta da eleição presidencial que levaria seguramente ao poder o candidato Carlos Gomes Júnior, militares insurretos e associados ao narcotráfico sufocaram as instituições democráticas.

O anúncio da morte de Dulce faz despertar Couto da sua vida em torpor, é logo assaltado por lembranças daquela sua voz deslumbrante e dos êxitos triunfais do conjunto musical. Couto vive de pequenos trabalhos e a sua companheira, Esperança trabalha num restaurante, leva uma vida modestíssima. Couto sai de casa, vai trôpego, ensimesmado na sua tristeza, ele que foi o homem de Dulce, a Kantadura, a cantora. Entra em pequenos bares, as recordações são vibrantes, assoladoras, têm a ver com todos aqueles locais onde eles obtiveram triunfos, pois foi a partir de Bissau que conheceram êxitos estrondosos na África Ocidental, na Europa, em Cuba. Toda a história da criação da originalidade do grupo lhe enche a memória, bem como os anos da guerrilha, Couto estava subordinado na região do Morés a Gomes, uma figura lendária do PAIGC, será ele que irá arrebatar Dulce, será ele que chefiará o golpe de 2012.

O brilhantismo desta arquitetura romanesca passa exatamente pelo entrosamento dos tempos (pretérito ao presente “real”), enquanto Couto deambula à procura da sua gente, entram no romance todas as personagens, da guerrilha aos delírios de popularidade do Super Mama Djombo, à decisão de Dulce o abandonar para se casar com o prestigioso Gomes, cerimónia para a qual o grupo musical é convidado e onde o romancista modela páginas arrebatadoras, numa atmosfera de tragicomédia. Mas o ponto fulcral deste livro admirável são as décadas entre o sonho e a amargura do país à deriva. Com oportunidade, Sylvain Prudhomme vai buscar uma entrevista de Vasco Cabral, então o promissor ministro da Economia, em Outubro de 1973, dada à revista Afrique-Asie, em que fala dos inúmeros recursos do país, cita os fosfatos, o calcário, a possibilidade de haver petróleo, as jazidas de bauxite, as potencialidades para o desenvolvimento da energia hidroelétrica, as riquezas da pesca, as florestas, as espécies fruteiras, enfim, parecia que o país iria ser desbravado e com aquele regime político a partilha de riquezas seria a melhor homenagem que se podia fazer aos sonhos de Amílcar Cabral.

Vamos acompanhar a evolução de Dulce, a grande estrela da canção abandonou tudo para se tornar na hospitaleira mulher do general Gomes, é uma mulher triste, fica no povo como uma saudade. O grupo musical recompõe-se, mas sem Dulce será outra coisa, muitos dos seus membros partiram para a diáspora e a crença revolucionária desvaneceu-se. Agora que Dulce morreu, estes homens grandes, desiludidos, preparam febrilmente a grande homenagem, enquanto em Bissau rodam as viaturas para sufocar as liberdades, numa casa de espetáculos, e de acordo com os anúncios existentes na rádio, os grandes êxitos de Super Mama Djombo com Dulce vão ser relembrados. Caminhamos para o final, Couto percorre Bissau como um sonâmbulo, uma Bissau corroída, sombria, esburacada, na sua cabeça acorrem sons, conversas, letras de canções, Couto vai permanentemente sacudido por toda a melancolia daquele seu grande amor. Entra em casa do general Gomes, onde os insurretos estão ainda em reunião. Couto presta homenagem à sua amada, Gomes reaparece e mostra-se polido, ele é conhecedor daquela paixão que conseguiu tripudiar. Couto sabe que Esperança o ama, mas é outra coisa. Continua a deambular, ouvem-se os acordes de Guiné-Cabral, a canção mágica do grupo. No Chiringuito, começa a homenagem a Dulce. Couto, o dutur di biola, o grande doutor da guitarra, lança-se novamente na noite de Bissau, já percorreu todos aqueles espaços onde o grupo conheceu a glória, cresce a sua amargura, já está na Avenida Amílcar Cabral, caminha para o Pidjiquiti, é aí que as sombras da cidade são mais espectrais. Estala a fuzilaria. Estranhamente, naquele ponto outrora cheio de vida, onde o rio segue vasto e silencioso, tudo está calmo, avista-se um barco que se encaminha para o Ilhéu do Rei. Nada mais há a dizer. Os homens grandes estão reduzidos à insignificância, são os últimos portadores de um passado da guerrilha que pôs a Guiné nos noticiários do mundo, agora só têm lembranças. E Dulce morreu, muito pouco mais resta.

Indiscutivelmente, “Les grands”, de Sylvain Prudhomme, é uma obra a requerer toda a nossa atenção, é bom que nomes sonantes da escrita francesa ainda se lembrem da Guiné-Bissau, do seu fado e das suas esperanças.
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15605: Notas de leitura (795): “Dois Tiros e Uma Gargalhada”, de Abdulai Sila; Ku Si Mon Editora, 2013 (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15619: Álbum fotográfico de Alfredo Reis (ex-alf mil, CART 1690, Geba, 1967/69) (5): Os nossos cartazes de propaganda

















Guiné > Zona leste > Geba > CART 1690 (1967/69) >  Cartazes da propaganda das NT



Fotos: © Alfredo Reis (2007). Todos os direitos reservados.


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do alf mil Alfredo Reis, que nos foi disponibilizado pelo seu amigo e camarada A. Marques Reis.

O Alfredo Reis é veterinário, reformado, vivendo em Santarém. A seleção, a legendagem e a organização temática do álbum (cerac de 170 fotos) são do A. Marques Lopes. (*)

[ Na foto, à esquerda,  o Alfredi Reis e ao seu lado o Domingos Maçarico, em 2010]

2. Comentário dos editores:

Já agora, caros leitores, confiram estas imagens com as que já publicámos em tempos: trata-se da coleção de cartazes de propaganda do Fernando Hipólito,  um camarada que passou pelo CISMI, Quartel da Atalaia, Tavira, 3º turno, 1968, antes de ser mobilizado para Angola. Foi fur mil, CCAÇ 2544, 1969/71. Esteve a maior parte do tempo no leste de Angola, em Lumege. Está reformado da sua atividade de vendedor numa empresa de tintas de impressão.

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Nota do editor:


Postes anteriores:

Guiné 63/74 - P15618: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (14): O Prisioneiro da Ilha das Galinhas

1. Ainda em mensagem do dia 8 de Dezembro de 2015, o nosso camarada Abílio Magro (ex-Fur Mil Amanuense da CSJD/QG/CTIG, 1973/74), traz-nos desta vez a história de um prisioneiro da Ilha das Galinhas, que se fazia acompanhar de um símio que parece ter tido um fim trágico.


Um Amanuense em terras de Kako Baldé

(Para quem não sabe, Kako Baldé era o nome por que era conhecido, entre a tropa, o General Spínola. Kako – (caco) lente que o General metia no olho. Baldé – Nome muito comum na Guiné)


14 - O Prisioneiro da Ilha das Galinhas

A azáfama fazia lembrar uma tarde de fim de feira numa qualquer terra do interior de Portugal, onde as embalagens vazias de cartão se amontoam ao lado de cada tenda e os feirantes se apressam a recolher os artefactos e produtos não transacionados para, na madrugada seguinte, regressarem à estrada e ocupar novamente as “montras” numa outra feira qualquer.

Estávamos em finais de Setembro de 1974 e o recinto da “feira” era a pequena “parada” defronte do edifício do QG/CTIG.

Com efeito, havia muita movimentação de pessoas e bens e o asseio parecia ter sido algo descurado. Notava-se algum nervosismo e pressa em fazer malas. Lembrava o términos de um qualquer período de férias de Agosto no Algarve em que havia necessidade de andar lesto, a fim de se evitar as longas filas de trânsito das estradas algarvias daqueles tempos.

As entradas e saídas do Quartel-General eram constantes e respirava-se, efectivamente, um fim de feira com desfazer de tendas. A grande maioria das Unidades Militares que tinham estado sediadas no interior do território, já tinha regressado à Metrópole e era agora chegado o momento dos últimos “moicanos”, nomeadamente os militares metropolitanos que se encontravam presos na Ilha das Galinhas.
A pequena Ilha das Galinhas, com apenas 50 km² de área é uma das oitenta e oito ilhas que compõem o Arquipélago de Bijagós.

Durante o período colonial funcionou nesta ilha uma prisão, designada por "Colónia Penal e Agrícola da Ilha das Galinhas".
Esta colónia estava destinada, essencialmente, a presos políticos, incluindo elementos do PAIGC, alguns dos quais ali estariam em trânsito para a prisão do Tarrafal (Ilha de Santiago - Cabo Verde).

Os prisioneiros andavam soltos pela ilha e a maioria trabalhava na bolanha (cultivo de arroz) e nas plantações de ananás e mancarra (amendoim) que havia pelo campo.

Nos finais de Setembro de 1974, um desses prisioneiros, militar metropolitano, andava por ali no recinto da “feira” do QG/CTIG a aguardar não se sabia muito bem o quê.
Fazia-se acompanhar por um corpulento macaco-cão que segurava por uma trela de corrente de aço.
Este “prisioneiro à solta” apresentava uma tez bastante avermelhada, indiciando excesso de sol recente (ou algum excesso de aguardente) e trajava de um modo demasiadamente informal para um militar naquele local; camisa, calções e sapatos de ténis militares. Na cabeça, sempre descoberta, ostentava uma farta cabeleira arruivada e encaracolada e, nas pernas e coxas, várias tatuagens “pornográficas” a necessitarem de “bolinha vermelha”.

Era de poucas falas e parecia andar por ali apenas com o intuito de desafiar “altas patentes”, digo eu.

Com efeito, dava-me um certo gozo ver majores, ten-coronéis, coronéis, etc., que entravam ou a saíam do QG, depararem-se com aquela figura acompanhada do “seu animalzinho de estimação” e, pasmados, fitando o “moicano”, receberem em troca um olhar ostensivamente desafiador que os desarmava por completo e os “aconselhava” a prosseguir o seu caminho, o que faziam sem pestanejar.

Com muito custo lá conseguimos chegar à fala com o “moicano” e, segundo recordo, ele aguardava autorização para trazer o “companheiro” para a Metrópole, mas, confrontado com a nossa convicção de que isso não seria possível, logo afirmou que: “então cortava o pescoço ao símio!”

Eram dias de muita rebaldaria e, lá fora, na estrada que passava em frente ao QG/CTIG, era constante o movimento de negros alombando para suas tabancas “troféus de guerra” diversos, tais como: colchões, frigoríficos, aparelhos de ar condicionado, etc.
Alguns capitães conduziam jipes bastante “mal-tratados” que avariavam constantemente e era vê-los a empurrar a “sucata” com a ajuda de um ou outro militar…, imagens vivas do fim do Império Colonial Português.

Uns dias depois é chegada a hora do meu regresso a casa e lá estava no aeroporto de Bissalanca o “moicano”, sem macaco.

Viajou connosco e disse-nos que o tinha matado (??).
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15593: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (13): Um Herói à Minha Porta

Guiné 63/74 - P15617: História de vida (43): As motorizadas dos nossos sonhos de antes da guerra... Mas “lá irás para onde o pagues”, ou “a tropa é que vai fazer de ti um homem”, ameaçavam-nos os mais velhos (Juvenal Amado)


A foto é de um grupo de "motoqueiros" de 1965,  talvez tenham servido de inspiração a Dennis Hopper, Peter Fonda e Jack Nicholson no filme de culto Easy Rider que estreou em 1969.


LÁ IRÁS PARA ONDE O PAGUES
Capa do livro do Juvenal Amado
(Chiado Editora, Lisbopa, 2'015)
que vai ser lançado
no próximo dia 23, sábado, às 16h30 (*)



por Juvenal Amado

Na década de sessenta com a guerra ainda em expansão, nós, os miúdos, olhávamos para ela como coisa longínqua. Na verdade ela ia atingindo as famílias de tal forma que só tornava importante quando sabíamos que alguém perto de nós tinha sido mobilizado.

Aceitávamos como um assunto para nos preocuparmos na devida altura.

Eu tinha dezasseis anos quando o meu irmão foi mobilizado para Moçambique e a guerra ficou mais próxima. Até demais.

Mas isso não impediu de grande parte dos jovens desse tempo continuassem a viver sem se preocupar em demasia com o assunto e só sofríamos um sobressalto,
quando se sabia que tinha morrido fulano, sicrano, beltrano, ou filho de...

Na grande maioria tinham ido trabalhar mal fizeram a quarta classe, pois o rendimento das famílias era pequeno e seguir os estudos não era para todos, ou direi melhor, era para bem poucos.

Próprio da idade, a que podíamos chamar irreverência da juventude, (hoje na maioria das vezes chamamos parvoíces) cometíamos toda a casta de imprudências, fazíamos tábua rasa das advertências e arriscávamos as nossas vidas gratuitamente em toda série de disparates.

Beber uns copos, noitadas, deixar crescer o cabelo assim que conseguíamos rodear as ordens dadas no barbeiro para termos sempre à nossa disposição, um corte de cabelo à “inglesa curta”. Mas em lugar cimeiro estavam as motorizadas, quem não tinha babava-se e tinha pena de não ter.

 Compradas a muito custo para possibilitar trabalhar mais longe de casa, serviam depois para ir aos bailaricos e para toda a espécie de gincanas junto das moças. Não eram poucas vezes que essas exibições não resultavam de quedas aparatosas e na assistência haver manifestações de regozijo por as “habilidades“ nas duas rodas, terem resultado em malhanço com o nariz no chão.

Regozijar-nos com o mal dos outros, não deve ser só uma atitude portuguesa, mas também por vezes escondia uma disfarçada inveja pelo o tipo de “máquina” que o fulano tinha, a quem responsabilizávamos pelo maior sucesso que ele tinha junto do sexo feminino.

Assim o improvisado “artista” mal caía, levantava-se logo como se tivesse molas e mesmo perdido de dores, sorria para a multidão como se nada se tivesse passado e acelerava a 50 centímetros cúbicos, Famel ou Zundapp,  casos mais raros uma Honda ou V5. Depois aparecia no café no mesmo dia ou dias depois, consoante a pancada.

Os mais velhos diziam, então, que a tropa nos estava a fazer falta e que lá iam fazer de nós uns homens.

Nasce então o termo que soava a ameaça, desejo ou premonição, “lá irás para onde o pagues”, ou “a tropa é que vai fazer de ti um homem”.
Não sei se foi isso resultou comigo, mas como saber ? (**)

Um abraço para todos
Juvenal Amado


Texto e foto: © Juvenal Amado  (2016). Todos os direitos reservados.
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quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15616: Ser solidário (193): A Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA), distinguida com o Prémio Direitos Humanos 2015, "pelo seu papel notável de 41 anos de apoio aos ex-combatentes vítimas da guerra colonial"

Lisboa > Assembleia da República > Sala do Senado > 10 de dezembro de 2015 > José Arruda, Presidente da Direção Nacional da ADFA, recebe, das mãos do Presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, o Prémio Direitos Humanos 2015.

Lisboa > Assembleia da República > Sala do Senado > 10 de dezembro de 2015 > José Arruda, Presidente da Direção Nacional da ADFA, no uso da palavra,

Fotos: cortesia do  portal da ADFA


Notícia - Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA) distinguida com Prémio Direitos Humanos 2015

No passado dia 10 de dezembro, José Arruda, Presidente da Direção Nacional da ADFA, recebeu, das mãos do Presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, o Prémio Direitos Humanos 2015.

O prémio foi entregue na Sala do Senado, na Assembleia da República – Palácio de São Bento, em Lisboa. No decurso da cerimónia comemorativa do Dia Nacional dos Direitos Humanos, José Arruda congratulou-se pela distinção, dizendo na ocasião que “os nossos 41 anos de experiência, na defesa de todos os deficientes militares e dos valores da Liberdade e da Cidadania, são desta forma reconhecidos”.

O galardão foi atribuído à ADFA pela Assembleia da República, por decisão do Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, e sob proposta do Júri do Prémio Direitos Humanos, constituído no âmbito da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias,  "pelo seu papel notável de 41 anos de apoio aos ex-combatentes vítimas da Guerra Colonial".

O Prémio Direitos Humanos 2015 foi também atribuído ex-aequo à Plataforma Global de Assistência Académica de Emergência a Estudantes Sírios, "pela resposta que, em tempo real, ofereceu, logo no início da atual crise dos refugiados, aos jovens sírios".

O Prémio Direitos Humanos “destina-se a reconhecer e distinguir o alto mérito da atividade de organizações não-governamentais ou original de trabalho literário, histórico, científico, jornalístico, televisivo ou radiofónico, divulgados em Portugal entre 1 de julho do ano anterior e 30 de junho do ano da atribuição, que contribuam para a divulgação ou o respeito dos direitos humanos, ou ainda para a denúncia da sua violação, no País ou no exterior, da autoria individual ou coletiva de cidadãos portugueses ou estrangeiros”.

Fonte: Texto e fotos: adaptados do portal da ADFA, com a devida vénia,
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Guiné 63/74 - P15615: Os nossos seres, saberes e lazeres (135): Horácio Dantas, artesão oleiro de Barcelos, autor da réplica do Farol de Leça, oferecida aos presentes no Convívio dos Panteras da CART 1742, levado a efeito em Maio de 2014, em Leça da Palmeira (Abel Santos)

 
1. Em mensagem do dia 7 de Janeiro de 2016, o nosso camarada Abel Santos (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), enviou-nos duas fotos referentes ao Convívio dos Panteras, realizado no ido dia 31 de Maio de 2014, levado a efeito em Leça da Palmeira. 
Os camaradas participantes, além do respectivo certificado de presença, foram presenteados com uma réplica do Farol de Leça, em barro, da autoria do artesão oleiro Horácio Dantas, de Barcelos, também ele um dos bravos Panteras.




Peça em barro, trabalhada manualmente pelo camarada oleiro Horácio Dantas, representando o Farol de Leça da Palmeira, ícone da Freguesia, oferecida aos camaradas da CART 1742 aquando do 10.º convívio.

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2. Comentário do editor CV:

Não é meu costume comentar directamente nos postes que publico mas quero que fique aqui bem visível a minha discordância com os camaradas, e são muitos, que dizem terem sido combatentes na Guiné-Bissau.
Na verdade, o país com esta designação apenas existe, de jure, desde Setembro de 1974.
Os militares portugueses cumpriram as suas comissões de serviço na então Guiné Portuguesa, não sendo portanto tropas invasoras.
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de Janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15613: Os nossos seres, saberes e lazeres (134): Bruxelas sempre muito amada, e a pensar na Anatólia (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P15614: Álbum fotográfico de Armando Costa, ex-fur mil mec auto, CCAV 3366 / BCAÇ 3846 (Susana, 1917/73): Parte II: Chegada a Bissau e ao Cumeré


Foto nº 1 >  Guiné > Bissau > A zona portuária vista do convés do T/T Angra do Heroísmo, à chegada da em 9/3/1971 (1)


Foto nº 2 > Guiné > Bissau > A zona portuária vista do convés do T/T Angra do Heroísmo, à chegada, em 9/3/1971 (2)


Foto nº 3 > Guiné > Bissau > A zona portuária vista do convés do T/T Angra do Heroísmo, à chegada da em 9/3/1971 (3)


Foto nº 4 > Guiné > Bissau > Abril de 1971 > Avenida marginal


Foto nº 5 > [Sem indicação de fonte, não sendo do autor, trata-se de um bilhete postaol:] Guiné > Vista aérea parcial e Ilhéu do Rei. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 142". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte - Publicações e Artes Gráficas, SARL).




Foto no 6 > Guiné > Bissau > Cumeré > Abril de 1971 > A CCAV 3366 fez aqui a IAO (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional).

Fotos (e legendas): © Armando Costa (2016). Todos os direitos reservados.



1. Segunda parte da publicação de fotos do álbum do Armando Costa, ex-fur mil mec auto, CCAV 3366 / BCAV 3846, Susana, 1971/73) (*) [, foto atual à direita[.


Recorde-se que ele partiu para a Guiné em 3 de março de 1971,  num navio da carreira Lisboa-Madeira-Açores, o Angra do Heroísmo, fretado ao Exército para transporte de tropas e material.

O BCAV 3846, além da CCAV 3366 (Susana, Cumeré), era composta pelas CCAV 3364 (Ingoré, Cumeré) e CCAV 3365 (S. Domingos, Cumeré),

A unidade mobilizadora foi o RC 3. O Comando e a CCS ficara m em Ingoré; o comandante do Batalhão era ten cor cav António Lobato de Oliveira Guimarães.

O pessoal deste Batalhão regressou a casa em 8/3/1973, exceto o da CCAV 3365 que embarcou mais tarde (17/3/1973).

Não sabemos quanto tempo a CCAV 3386 esteve no Cumeré. Provavelmente só de passagem, ou pelo menos até abril de 1971 (fotos nº 4 e 6). Fez aqui a IAO (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional). Em junho de 1971 já há fotos de Susana e Varela,. no álbum do nosso camarada Armando Costa, membro nº 707 da Tabanca Grande.

2. Comentário dos editores:

Armando: começámos a publicar as tuas fotos... É pena terem pouca "resolução"...Tivemos que as ampliar para o dobro (200%). As próximas que mandares vê se as podes mandar com pelo menos 300/400 Kb, as que mandaste têm à volta de 30/40 kb... Estes parâmetros têm que ser definidos na digitalização... De qualquer modo, o nosso muito obrigado. Manda sempre as legendas.


Guiné > Mapa geral da província (1961) > Escala 1/ 500 mil > Posição relativa do Cumeré, a nordeste de Bissau, abaixo de Nhacra, ma margem direita do estuário do Rio Geba.

Infogravura: Blogue Luís Grça & Camaradas da Guiné (2016)

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Nota do editor:

(*) Vd. poste anterior  da série > 11 de janeiro de  2016 > Guiné 63/74 - P15607: Álbum fotográfico de Armando Costa, ex-fur mil mec auto, CCAV 3366 / BCAÇ 3846 (Susana, 1917/73): Parte I: A caminho de CTIG, de 3 a 9/4/1971, no navio "insular" Angra do Heroísmo, fretado nesse ano ao Exército para transporte de tropas