sexta-feira, 1 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16256: Nota de leitura (853): Notícias da safra de 18 de Junho na Feira da Ladra (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Junho de 2016:

Queridos amigos,

Se é certo e seguro que gosto de desencantar imagens de combatentes, na procura de que fiquem registadas no mais impressionante álbum fotográfico da guerra da Guiné, que é o nosso blogue, não escondo o desconforto destas fotografias e por vezes correspondência comprada pelos feirantes às famílias dos militares desaparecidos ou rejeitados por uma separação, por exemplo.

Sei que o assunto não tem solução, o Arquivo Histórico Militar tem feito apelos à recolha deste preciosíssimo acervo mas a insensibilidade pesa muito mais.

Naquele sábado gostei muito de me reencontrar com o envelope esverdeado da Agência Militar, foi ali que acabei os meus estudos, guardo as melhores recordações da camaradagem e ainda hoje sinto arrepios quando me lembro que saía da porta principal do Banco de Portugal a segurar um malão de couro com três milhões de contos, uma pistola à cintura, o 1.º Cabo Silva com outra mala e sempre a perguntar-me o que é que devíamos fazer se houvesse assalto à mão armada...

Um abraço do
Mário


Notícias da safra de 18 de Junho na Feira da Ladra

Beja Santos


Ainda não desisti de escrever longamente sobre a minha experiência como oficial na Agência Militar. Todos os dias úteis, tinha como uma das minhas obrigações era entrar num jipe aberto, com uma cobertura de lona, acompanhado por um 1.º Cabo que pegava pelo fuste uma G3, ele que nunca tinha dado um tiro depois da instrução, trazia uma mala de couro e ia até ao Banco de Portugal buscar de mil a três milhões de contos. A Agência era o Banco do Exército, pagava religiosamente as pensões aos familiares dos combatentes que vinham à rua D. Estefânia (é hoje uma igreja com um nome estranhíssimo) desciam uma escada de madeira sobre uma rampa e traziam um subscrito igual a este que encontrei na Feira da Ladra, era sempre esta cor, a importância variava, como é óbvio, de acordo com a patente do militar. Podíamos deixar dois terços na metrópole. Vezes sem conta imaginei-me apanhado num golpe de mão com largos milhões de contos, na rua do Comércio. Estes passeios diários eram também educativos: aprendi a comprar moedas comemorativas e a visitar cambistas; e apercebi-me de que havia um desenlace trágico no nosso sistema financeiro quando a partir do último trimestre de 1973 vi uma autêntica multidão a comprar e vender ações a preços irrealistas junto do Banco Totta & Açores, a polícia bem pretendia afugentar as pessoas, sem resultado. Estavam a vender as ações das empresas que apareceram falidas a seguir ao 25 de Abril.




Dois dos meus “fornecedores” combateram na Guiné. Do Eduardo Martinho, que esteve em Bissorã, e é amigo do nosso confrade Armando Pires, já aqui falei várias vezes. Tudo quanto é revista, mapa, publicação avulsa onde apareça a palavra Guiné, é religiosamente guardado para me surpreender, em situação alguma esqueço esta elevada prova de consideração. E quando não trago na bolsa algo sobre a Guiné é muito capaz de virem estudos sobre Fernando Pessoa ou aparentados.

O outro fornecedor combateu em Encheia, prefere o anonimato, está à espera que a ex-mulher lhe devolva o seu património de combatente, quer pôr tudo por miúdos, aceitou o convite que lhe fiz para falarmos da sua comissão. Compra espólios, o mesmo é dizer que traz tudo aquilo que as famílias não querem, incluindo álbuns de fotografias, peças de vestuário, penicos, tenho visto de tudo. Mostrou-me estas duas fotografias, indignado, para ele estas imagens não são comercializáveis.

José Martins Pereira aparece em pose em Bissau, a data é de 15 de Janeiro de 1965. Escreve no verso: “Zé, Como vês, continuo a estar magro mas da maneira que estou a comer espero engordar dentro em pouco. O edifício que vês ao fundo é o mais importante do quartel-general. É o Estado-Maior, sala de operações. Não tem elevador. A pistola está aqui porque tinha chegado de uma reportagem perto de Bissau e fora de Bissau anda tudo armado”. Assina com garatujado.

Temos agora a última fotografia, alguém que se assina “Belo”. No verso escreve-se Bigene e diz-se que é uma imagem do descanso da porrada. E solta-se um palavrão.



Trata-se de uma edição da Afrontamento, Setembro de 1974, trata-se da reedição de uma publicação clandestina policopiada. Diz-se na nota introdutória: compilação de textos significativos, procurando dar uma visão de conjunto sobre o colonialismo português e as guerras coloniais, com o intuito de fornecer um instrumento de trabalha para a luta anticolonial.

Luís Moita e Nuno Teotónio Pereira são dois dos editores, o que faz supor que era uma açã clandestina os católicos de vanguarda. O leitor encontra os seguintes dossiês: a expansão colonial portuguesa com o tratamento do comércio ao longo da costa, a partilha de África e a ocupação militar e um documento sobre a evolução da escravatura aos trabalhos forçados; o segundo dossiê tem a ver com dados coligidos pelos autores sobre trabalho forçado, dados sobre a saúde na Guiné nos anos 1950 e a saúde em Angola nos anos 1960, o ensino e a cultura, o racismo, o papel da igreja católica e o sistema económico; o terceiro caderno, seguramente o maior, tem a ver com a luta pela independência em Angola, Guiné e Moçambique; o quarto prende-se com solidariedade em torno das lutas de libertação, o quinto é dedicado às vítimas de guerra, o sexto perspetiva a luta nos anos seguintes e o sétimo documento comporta anexos, desde mapa cronológico à bibliografia.

Dá relevo às fases da ocupação portuguesa na Guiné entre 1878 e 1936, cita abundantemente passos de livros de Basil Davidson, Gérard Chaliand e relatórios de Amílcar Cabral. O livro tem aspetos muito melindrosos na medida em que apresenta nomes de militares e polícias de segurança política, designadamente em Angola, associados a crimes gravíssimos, trata-se da citação de um documento clandestino que teria sido elaborado por estudantes portugueses. O mapa cronológico dos acontecimentos ligados à guerra parece bem elaborado.
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Nota do editor

Último poste da série de 27 de junho de 2016 Guiné 63/74 - P16241: Nota de leitura (852): Relendo uma obra soberba: Vindimas no Capim, por José Brás (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16255: Pré-publicação: O livro de Mário Vicente [Mário Fitas], "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra" (2.ª versão, 2010, 99 pp.) - XI Parte: VI - Por Terras de Portugal (v) : a CCAÇ 763 toma conta do subsetor de Cufar e prepara-se para fazer uma experiência única no CTIG: a utilização de cães de guerra



Foto nº 1 > O Cadete em pose



Foto nº 2 > Secção de cães da CCaç 763


Foto nº 3 > Elementos da CCaç 763 em Cufar: Mário Fitas é o 1º da direita


Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 763, "Os Lassas", Cufar, 1965/67.

Texto e fotos e legendas : © Mário Fitas (2016). Todos os direitos reservados.



[À esquerda: capa do livro (inédito) "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra", da autoria de Mário Vicente [Fitas Ralhete], mais conhecido por Mário Fitas, ex-fur mil inf op esp, CCAÇ 763, "Os Lassas", Cufar, 1965/67.]



Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra > VI - Por Terras de Portugal: Tavira, Elvas, Lamego, Oeiras, Lisboa, Bissau, Cufar> (v) (pp. 35-40)


por Mário Vicente [, foto à abaixo à direita, março de 2016, Oitavos, Guincho, Cascais]




Sinopse:

(i) Depois de Tavira (CISMI) e de Elvas (BC 8), 

(ii) o "Vagabundo" faz o curso de "ranger" em Lamego;

(iii) é mobilizado para a Guiné;

(iv) unidade mobilizadora: RI 1, Amadora, Oeiras. Companhia: CCÇ 763 ("Nobres na Paz e na Guerra"):

(v) parte para Bissau no T/T Timor, em 11 de fevereiro de 1965, no Cais da Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa.;

(vi) chegada a Bissau a 17:

e (vii) partida para Cufar, no sul, na região de Tombali, em 2 de março de 1965,



[Mério Fitas foi cofundador e é "homem grande" da Magnífica Tabanca da Linha, escritor, artesão, artista, além de nosso grã-tabanqueiro da primeira hora, alentejano de Vila Fernando, concelho de Elvas, reformado da TAP, pai de duas filhas e avô].


1. Continuação da publicação do cap VI - Por Terras de Portugal (v) (pp. 35-40) (*)....
[Fixação de textop e subitítulos: LG]
A 2 de Março de 1965, quando o 2º. Grupo de Combate aporta ao cais de Cufar, as Forças do PAIGC controlavam total­mente o sector, dispondo de um forte acampamento na mata de Cufar Nalu, de onde eram feitas flagelações ao aquartelamento. Apa­recendo aqui a primeira brincadeira, uma provocação do jogo do gato e o rato, que é a guerra de guerrilha. O corneteiro toca ao içar da bandeira e da mata, a resposta são rajadas de metralha­dora e de armas ligeiras. Há que arranjar abrigo para que o cor­neteiro se sinta seguro, e sopre na corneta com força.

O aquartelamento resume-se às ruínas de uma antiga fábrica de descasque de arroz, onde irão funcionar todos os serviços da Companhia. O pessoal encontra-se instalado em abrigos escavados no solo e cobertos por troncos de palmeira, chapas de bidões e terra por cima. Estes abrigos circundam a velha fábrica e no seu interior, a temperatura mínima é atingida durante a madrugada, nunca baixando dos 30.0 centígrados. Dor­mir só ao relento, nas trincheiras que ligam os abrigos. 

Vagabundo tinha aprendido muito de guerra, mas ao chegar a Cufar, sente a responsabilidade de que nada sabe. A guerra no terreno é totalmente diferente da guerra a brincar e no papel. Meus amigos, Cufar é um problema muito sério e há que tratar as coisas como devem ser tratadas. Com vinte e dois anos sente a responsabilidade e vê que a sua juventude não chegou a ser vivida. Tem de se tornar adulto, mas rápido. Na Guiné depara com terrenos de características especiais e que desco­nhecia por completo. Há que aprender a atravessar pântanos, bolanhas, lalas, tarrafos, com o lodo pela cintura, pelo peito, tem de transpor rios de maré de profundidades variadas, alguns atravessados a nado, a vau ou de cordas de margem a margem. Há que preparar o pessoal para este terreno, para a natureza do clima e para as exigências do combate.


Carlos, o comandante, o líder


Primeira fase: disciplinar o pessoal. Aqui o furriel tem pleno conhecimento de que tem que ser duro e que a forma de tratar com o pessoal tem de ser diferente, para os poder defender.  Carlos, chefe máximo, é sem dúvida um grande exemplo de militar, que saberá conjugar as obrigações profissionais com o tratamento humanizado do pessoal que dirige. Corajoso, abnegado, sempre na primeira linha de combate, a CCAÇ e todos nós, em geral, como veremos lhe ficaremos a dever os êxitos que iremos ter e, graças à sua capacidade de liderança, ultrapassaremos momentos de grande perigo, onde a decisão certa será o mais importante. Inteligentemente, é o primeiro a identificar e caracterizar a situação, e não tem problemas em definir as estratégias aos alferes e sargentos. Há que dar uma volta à guerra, em termos totais, equipamento, técnica e táctica.

Aqui nasce o primeiro princípio da anti-guerrilha. Dado estar o medo ligado à preservação da vida, manifestando-se perante situações de ameaça da mesma. Sendo resultante de reacções físicas e mentais motivadas por abalo do organismo, enviando o cérebro mensagens para todo o corpo com forte descarga de adrenalina, provocando a aceleração cardíaca, são necessárias formas de inverter este sistema para não termos medo. Sejamos claros, o primordial é saber dominar essa situação causadora do medo, dado que ele existe pois só os loucos não sentem essas manifestações. É pois primordial saber dominar essa coisa invisível, sem forma, mas que senti­mos e nos deprime. É necessário não ter medo. Acertemos en­tão, que o princípio dos princípios é a autodisciplina. Vamo-nos transformar em guerrilheiros para fazermos a anti-guerrilha. Carlos é extraordinário a transmitir estas mensagens aos seus comandados, não subordinados. Terão que se sacrificar determi­nados conceitos e regras, em prole da defesa da vida dos homens que nos estão confiados e da nossa.
Agora já sabemos que temos pela frente um IN (inimigo) numeroso, bem armado e aguerrido. Os procedimentos tácticos não podem ser os da guerra convencional, há que fazer alterações profundas. Vagabundo começa a entender determina­das instruções de Lamego. Só no terreno se pode actuar. Aos srs. mandantes da guerra nos gabinetes, que querem que os soldados apanhem os invólucros das munições quando em contacto com o inimigo, há que mandá-los urgentemente para as recrutas bási­cas, e que venham tirar o curso de sargentos milicianos nas matas da Guiné. Srs. comandantes de companhia, façam como o alferes Paolo, e atirem com as boinas para cima das secretárias, nos gabinetes de Bissau. O furriel Humberto tinha razão, quando, com o seu pastor alemão atrás, passava e gritava:
–  Oh "Mula Branca," vai pró mato, malandro.

Haveria que dar muitas lições de procedimentos técnicos e tácticos a esses senhores dos gabinetes. Carlos com certeza se irá encarregar disso. Vagabundo e seus companheiros têm de se preocupar com os seus soldados. Entramos na vida dramática que não é nada fácil.

A acção subversiva internamente atingiu já a fase de criação de bases e forças regulares. Temos como adversários neste jogo, na zona do prolongamento do corredor de Guilege, os nossos amigos João Bernardo Vieira "Nino", e Joãosinho "Guade", comandantes das forças armadas revolucionárias po­pulares e responsáveis pela Zona 11, que se situa algures, na península de Cabedu, entre os rios Cacine e Cumbijã, na região do Cafal.

A CCAÇ tem de construir todas as instalações. Não pode­mos ser apanhados pela época das chuvas dentro dos buracos. Nos intervalos da actividade operacional, os soldados, em vez do merecido descanso, têm uma obra ciclópica pela frente. Fa­bricam blocos de terra (barro amassado) e, improvisando com a habilidade e necessidade adquiridas, vão construindo abrigos, refeitórios, latrinas, paióis, balneários, e reconstruindo casas destruídas. As situações mais diversas levam os soldados à in­ventiva engenharia. Não suficientemente cómodas, nem obras primas de arquitectura, o esforço e a vontade colocada nas obras são insuspeitas, e fazem delas coisas maravilhosas num esforço sobre humano. 

Não é demais frisar a heroicidade destes verda­deiros e excelentes guerreiros aqui no Sul, referido como "cu de Judas" e onde a guerra se faz taco a taco. Toda a região de Cufar se encontra "depredada," porque destruídas e desabitadas muitas tabancas. Área plana, cortada por muitas linhas de água, nela predominam as bolanhas, o tarrafo e os pântanos, o que põe sérios problemas de progressão ao pessoal. Mas devagar vamos lá chegar.

A fauna e a flora do sector de Cufar

Quando a CCAÇ tomou conta do sector de Cufar, existia uma enorme lagoa entre o aquartelamento (antiga quinta do Sr. Camacho) e a tabanca de Iusse. Era pois um ponto onde para além do gado dos moradores daquela tabanca pastoreava e se sedentava, outros clientes utilizavam este maná: gazelas, cabras do mato, javalis, porcos-espinhos e alguns predadores, como uma espécie de gato bravo, mais parecido com o nosso furão.

Quanto a répteis, desde as serpentes às mais variadas espécies de cobras, tudo por ali aparecia, até uma espécie de lagarto grande parecido com as iguanas e com qual o meu amigo Alfa Nan Cabo se banqueteava.

Mas o verdadeiro espectáculo era dado pelas aves de variadíssimas espécies que frequentavam a lagoa, sendo fáceis de identificar. Desde o grou coroado conhecido por ganga, ao pato da Berbéria conhecido como pato mudo. Grande variedade, de patos de todos os tamanhos, assim como rolas, a rola diamante, pequenina com os seus pontinhos nas asas, até às rolas gigantes incluindo pombos verdes. Havia os massorongos, conhecidos por papagaios do Senegal, e periquitos verdes, o marabu, os jagudis abutres almeidas desta terra e protegidos por lei, a passarada miúda, desde os barulhentos tecelões que faziam das árvores colmeias de ninhos, até aos pequeninos bicos de lacre, degolados e sumptuosas viúvas do paraíso, no seu lindo e ondulante esvoaçar.

Com tudo isto, a guerra foi destruindo, não sendo portanto apenas calamidade humana, mas ecológica também.

Quanto aos nossos amigos babuínos, vulgar macaco-cão o qual se dizia ser um grande pitéu, alguns problemas tivemos, resultante das suas más relações provocatórias com os nossos cães. No entanto as nossas relações eram amistosas e até por vezes nossos batedores, pois quando progredíamos por estrada, eles faziam a mesma coisa que nós progredindo à nossa frente “em fila de pirilau”, e houve pelo menos duas ocasiões que nos foram úteis. Mas nessas alturas pareceu que fizeram mais barulho que o matraquear das armas. Babuínos, embora fosse fácil encontrá-los a todo o momento nas matas, na região de Cufar existiam dois grupos bem definidos que andariam acima dos cinquenta exemplares por grupo, incluindo fêmeas, machos e é claro o manda chuva dominante, sempre no comando.

Um dos grupos, e o mais numeroso, costumava acompanhar-nos pela estrada para Catió. Desde o começo da mata, ao cimo da lala a seguir ao cruzamento de Camaiupa Cabaceira, chegando até às proximidades de Priame.  O outro grupo aparecia na estrada Catió-Cobumba, após Camaiupa já próximo da mata de Afiá.

Uma experiência única no TO da Guiné: a utilização de cães de guerra

De qualquer forma estas maravilhas da natureza, não nos deixava esquecer que o grande problema era a guerra, e daí a ideia de Carlos, Comandante da CCAÇ 763 introduzir a experiência que se julga única na Guiné, da utilização de cães de guerra que vale a pena recordar:

Para nos rever, e ter fundamentos para esta experiência de introdução de cães de guerra na contra guerrilha em terras da Guiné, há que remontar a formação e criação da Secção de Cães de Guerra, composta pelo Chefe de Secção e oito tratadores que eram responsáveis pelos seguintes animais:

CADETE – macho, nascido em 15/09/1959

PUNCH DE BOANE – macho, nascido em 06/12/1962

FADO – macho, nascido em 29/04/1964

SOVA – macho, nascido em 30/08/1964

GUINÉ – macho, nascido em 29/02/1964

BISSAU – macho, nascido em 25/07/1964

CARHEN – Fêmea, nascida em 03/03/1963

LISBOA – Fêmea, nascida em 28/2/64

Eram propriedade de Carlos, Comandante da 763, o Cadete, o Punch de Boane e a Carhen sendo os restantes adquiridos pela CCAÇ. Conhecedor da mais valia que o cão de guerra poderia dar às Forças Armadas quando devidamente treinado, em termos ao seu emprego, em patrulhas, guarda, sentinela, esclarecedores no terreno, ataque e combate, decidiu Carlos, particular e por conta própria, formar uma secção de cães.

Porquê a escolha da raça pastor alemão? Por reunir as melhores condições para o cão de guerra, pelas razões que se descrevem:

– Aprende e pensa rapidamente;

–  Ouvido mais apurado do que qualquer outra raça;

–  O seu faro é melhor que qualquer outra raça do mesmo tipo:

– Ser extraordinariamente ágil e rápido;

–  Come pouco em relação ao seu tamanho;

–  O seu pelo confere-lhe protecção contra o calor ou frio,  picadas de insectos e mordeduras de outros animais;

– De elevado moral sobre desordeiros;

– Dominar com facilidade quem se lhe oponha.

Carlos, tendo consciência que este seu projecto implicaria custos não só na aquisição de animais, bem como em todo o equipamento necessário (trelas, coleiras, açaimes, material de limpeza e cirúrgico/veterinário de laboratório, para além de material de treino) não dispondo de qualquer dotação para alimentação e outros gastos, mesmo assim resolveu avançar com a formação da secção em várias etapas.

1ª. Fase:  Selecção do graduado que ficaria com a responsabilidade de administrar a formação e que ficaria como comandante da secção.

2ª. Fase: Formação dada ao comandante da secção através de fichas e práticas, utilizando para o efeito demonstrações com o Cadete, Carhen e Punch.

3ª. Fase: Selecção dos tratadores, os quais deveriam possuir as seguintes qualidades:  Ser amigo de cães, paciente, perseverante, inteligente, expedito e desembaraçado, imaginação, coordenação física/mental e resistência física.

4ª. Fase:  Treino dos cães em equipa já com os respectivos tratadores.

Treino de Obediência – com aprendizagem da voz do comando: neste período, o animal aprende a colocar-se junto ao tratador, a deitar-se,  pôr de pé, a ladrar, a estar quieto, condução de objectos, a rastejar,   progressão, interrupção de marcha, acção de busca, ataque, etc.

Físico – (obstáculos);
Básico;
Específico patrulha, guarda, sentinela, busca e pisteiro.




Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 1972 >  Babuíno (em cativeiro) e cão (doméstico). Foto do nosso camarada Herlander Simões, fur mil, que passou pelo CTIG entre maio de 72 e janeiro de 74. Destinado à CCAÇ 16 (onde nunca chegou a ser colocado) foi primeiro para os "Duros" de Nova Sintra (CART 2771, onde esteve seis meses) e posteriormente para os "Gringos" de Guileje (CCAÇ 3477, 1971/73), entretanto já sediados em Nhacra.

Foto : © Herlânder Simões  (2008). Todos os direitos reservados.



Atividade operacional:  vantagens e desvantagens do cão de guerra no CTIG (**)

Falemos agora da acção operacional na zona de Cufar. Algumas dificuldades surgiram, na actuação dos cães no teatro de guerra da Guiné, e que levaram a alterações na utilização do cão de guerra e que se especificam:

A existência de abundantes bandos de macacos-cães que pela sua extrema  agressividade enfrentavam os cães com tal alvoroço e agitação, o que permitia a fácil detecção das nossas forças pelo IN.

Surgiram várias infecções nas patas dos cães, que se verificou serem causadas pela existência de vasta vegetação arbórea constituída por espécies com espinhos.

Isto reduziu a utilização dos cães em operações, cuja natureza era de grande surpresa, principalmente em assaltos a acampamentos IN.

A redução da utilização do cão patrulha, levou a que o treino e utilização fosse  intensificado na utilização como cão pisteiro e sentinela.

Como cão sentinela, a sua prestação foi extraordinária, dando a possibilidade de  poupança de meios humanos, e melhor garantia de alerta pela grande capacidade de faro e audição. Foi de reconhecido mérito, a sua utilização, quando na pista de Cufar por qualquer motivo teria de pernoitar qualquer aeronave.

Como cão pisteiro, teve uma grande prestação no controlo das populações a  sul de Cufar, não só na detecção de material, bem como de pessoas, que escondendo-se, tentavam fugir à vigilância das nossas tropas. Aqui pode referir-se, a captura de guerrilheiros e controleiros do PAIGC.

Refira-se também a utilização do cão como guarda de prisioneiros.

Poder-se-iam narrar casos isolados: por exemplo o “Punch” rastejar junto ao seu  tratador numa emboscada. A descoberta de munições e pessoas escondidas em depósitos de arroz ou telhados de moranças etc. etc… Seria fastidioso, e possivelmente sem importância de maior.

Considerando embora os contratempos descritos e que impediram a utilização  plena do Cão de Guerra, pode afirmar-se que foi uma experiência bastante positiva levada a efeito pela CCAÇ  763 o que permitiu ser conhecida na região, para além dos “Lassas” como “Companhia dos Cães”.

Poderemos considerar que a CCAÇ 763 contou com mais oito elementos de  grande valia, estes extraordinários animais. Um testemunho, que os grupos armados do PAIGC que operavam no sector nessa altura, poderiam dar.

Foi-nos comunicado por testemunha idónea que, em 1999, trinta e quatro anos  depois, ao passar pela zona de Cufar, ouviu referenciar a companhia dos Cães.

Por tudo isto que se passou:

–   Meus Vagabundos! Eu, mísero furriel e vosso chefe, reconheço a vossa rusticidade, a vossa abnegação, os vossos feitos notáveis mas que parecem ser naturais, pelo que permane­cerão esquecidos para sempre. Aquilo a que se convencionou que se chamasse Pátria, como tem acontecido com alguma fre­quência ao longo da nossa História, não se mostrará convosco muito generosa, é verdade! Independentemente da razão ou falta dela, a dignidade e a forma como vos bateis, só confirma que o «Olhai a Pátria que a Pátria vos contempla», foi das maiores hipocrisias e falsidades que enlamearam a nossa História. Todas as guerras são iguais, mas cada povo faz a guerra com a sua herança cultural. Vós, soldados portugueses, vindos dos mais recônditos confins do velho Portugal, fazeis a guerra com gene­rosidade, suor, lágrimas e sangue, caldeados por séculos de His­tória. Só vós conseguisteis os prodígios de adaptação e dádiva necessária para vos manterdes nestas inconcebíveis circunstân­cias.  Rapazes, já que aqui nos puseram, entraremos pelo inferno dentro que já sabemos, existe nas matas de Cufar Nalu, Ca­maiupa, Cachaque e Cabolol. E quando chegar a vez de termos de atravessar o Cumbijã e o inferno for já o Cantanhez, que este­jamos preparados para a vida e sobretudo para a morte.

(Continua)

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Notas do editor:


(**) Vd. poste de 18 de março de 2008 > Guiné 63/74 - P2664: Os Cães de Guerra (Mário Fitas e Carlos Filipe, ex-Fur Mil, CCaç 763, Cufar, 1965/66)

Guiné 63/74 - P16254: Parabéns a você (1104): Silvério Lobo, ex-Soldado Mec Auto do BCAÇ 3852 (Guiné, 1971/73)

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Nota do editor

Último poste da série de 30 de Junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16250: Parabéns a você (1103 ): Manuel Maia, ex-Fur Mil Inf do BCAÇ 4610 (Guiné, 1972/74)

quinta-feira, 30 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16253: In Memoriam (261): Joaquim Vidal Saraiva (1936-2015), um adeus, emocionado, do "Tigre de Missirá"



Foto nº 116 A


Foto nº 116 B



Foto nº 117 A



Fotyo nº 118 A


Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > CCS/ BCAÇ 2852 (1968/70) > 1970 > Destacamento de Nhabijões > 
O alf mil médico Joaquim Vidal Saraiva, de 33 anos,  prestando assistência médica à população do reordenamento de Nhabijões, maioritariamente de etnia balanta (e com "parentes no mato", tanto a norte do Cuor como ao longo da margem direita do Rio Corubal, nos subsetores do Xime e do Xitole). À sua  vesquerda  tinha um intérprete. Na foto nº 117 A, vê-se. sentado, por detrás do médico, o major op inf Herberto Alfredo do Amaral Sampaio,  responsável pelo grande reordenamento de Nhabijões, talvez o maior ou um dos maiores da Guiné, na época, com c. de 3 centenas de moranças e diversos equipamentos (escola,  posto sanitário, etc.).
De seu nome completo, Joaquim António Pinheiro Vidal Saraiva, (i) nasceu em 26 de Junho de 1936; (ii) .fez a licenciatura em medicina e cirurgia na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto para a qual entrou no ano escolar  de 1957/58;  (iii) foi alf mil med na Guiné (1969/71), tendo passado por Guileje, Bambadinca e Bissau (HM 241); (iv) era especialista em cirurgia geral; (v).trabalhou. no Hospital de São João, no Porto e no Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia / Espinho, EPE; (vi) residia em São Félix da Marinha, V. N. Gaia; (vi) foi a um único encintro do pessoal de Bambadinmca, em 2004,em Ferreira do Zézere; (vii) soubemos agora da triste notícia da sua morte, ocorrida há um ano, em 21/6/2015; (viii) está sepultado em Valadares, V.N. Gaia. 

Fotos: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados . [Edição: complementar: LG]



1. Comentário de Mário Beja Santas, "Tigre de Missirá",  ao poste P16251 (*)

[Foto à esquerda: Bambadinca, 1970: Mério Beja Santos, ex-alf mil inf, Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70, junto ao edifício do comando e instalações de oficiais, ao tempo da CCS/BCAÇ 2852; foto do arquivo do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Queridos camaradas, 
Não sei por onde começar, acresce que tenho que me manter muito contido, não abrir a porta às emoções. 
O Joaquim Vidal Saraiva desembarcou em Bissalanca e não chegou a entrar em Bissau, uma avioneta levou-o diretamente para Guileje. Aí permaneceu alguns meses, pedia encarecidamente que nunca o questionássemos sobre o que viu, ouviu e o que tratou, mas vinha bem marcado. 
Era um camarada sempre a transparecer vivacidade, pronto para os acepipes e sempre capaz de entrar nos quartos a desoras exigindo-nos livros do tio Patinhas, a pressão era tão forte que o Abel Rodrigues, o Magalhães Moreira e eu, os três locatários daquele habitáculo, nos combinámos em comprar em Bafatá vários livros para o sossegar naquelas noites de turvação, em que lhe faltava o lenitivo literário. 
Ficará na minha vida como alguém que me tratou fisicamente e que deu suporte, sempre com a sua solicitude maravilhosa, à minha tropa. Recordo particularmente o estúpido acidente de 1 de Janeiro de 1970 em que Quebá Sissé disparou sobre o Uam Sambu e este caiu no colo dizendo: alfero, mim muri! 
O Vidal Saraiva, na enfermaria de Bambadinca, tudo fez para lhe estancar as golfadas de sangue, chegou morto a Bissau, o Vidal andou dias deprimido e gemia: "Anda aqui um gajo a dar o coirão sem conseguir safar estes desgraçados, que merda de profissão a minha!". 
O Vidal Saraiva é autor de uma frase única, uma exclamação que ainda não consta no dicionário da Academia das Ciências, algo sinónimo a caramba, "é o caralho feito vaca!". Jogava à lerpa com comentários desbragados, que o digam o Zé Luís Vacas de Carvalho, o Ismael Augusto, o Fernando Calado. 
Tinha as suas extravagâncias, quando lhe comunquei que ia casar a Bissau foi prontamente falar com o comandante, Jovelino Sá Moniz Pampolona Corte-Real: "O meu comandante fica a saber que vou a Bissau tratar de trazer equipamento médico e aproveito para assisitir ao casamento do Tigre".
O mínimo dos mínimos que me ocorre dizer, e continuo a procurar estar contido, é que perdi, e muitos de nós perdemos, um meteoro que nos aliviava a alma, um compincha das nossas pequenas estúrdias, um zelador da saúde dos nossos homens. 
Durante anos ainda liguei para o Hospital da Gaia e marcávamos encontros imaginários. Escrevo com um mágoa sem limites, há momentos em que parece que caminho num campo de batalha do tipo da I Guerra Mundial em que vejo petardos a fazer desaparecer a malta da minha trincheira, é um desnorte terrível, sentimos que o trilho se estreita e que, irremediavelmente, nunca mais exprimiremos face a face a gratidão profunda por aqueles gestos que praticámos há quase 50 anos, e que restam grudados na retina e no coração. 
Curvo-me respeitosamente diante de si, meu caro Vidal Saraiva, é mesmo tudo tão extraordinário que posso escrever pela sua bocaé mesmo o caralho feito vaca, lá nas nuvens receba um abraço do Tigre.
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Guiné 63/74 - P16252: Agenda cultural (494): Mercado oitocentista e recriação histórica da batalha do Vimeiro (1808): Lourinhã, Vimeiro, 15-17 de julho de 2016 (Eduardo Jorge Ferreira, sargento do RI 19, Vimeiro, 1808; ex-alf mil, PA, BA 12, Bissalanca, 1973/74)





O nosso grã-tabanqueiro Eduardo Jorge Ferreira,
que na reconstituição histórica da batalha do Vimeiro
é sargento do exército português.
Começou como 1º cabo, do RI 19,
Com a genica e o entusiasmo que ele tem tido ,
nestas andanças,
muito rapidamente chegará  ao generalato.
Foto: LG (2015)
1. Informação enviada, em 24 do corrente, pelo  nosso amigo, camarada e grã-tabanqueiro, Eduardo Jorge Ferreira [ex-alf mil, PA, BA 12, Bissalanca, 1973/74,  presidente da assembleia geral da Associação para a Memória da Batalha do Vimeiro]


Caros(as) amigos(as)

Junto envio em anexo o programa do evento que terá lugar no fim de semana de 15, 16 e 17 de julho próximo, Se puderem deem um saltinho até cá, motivos não faltam e é sempre um grande prazer cumprimentar os meus amigos(as). Há tb programas especiais para crianças.
Abraços e bjinhos do  Eduardo




História > Batalha do Vimeiro (1808)

A Batalha do Vimeiro foi travada no dia 21 de agosto de 1808 entre o Exército Francês, comandado por Junot, e o Exército Anglo-Luso, sob o comando de Sir Arthur Wellesley, futuro Duque de Wellington.

Após os combates na Roliça no dia 17 de agosto, Sir Arthur marcha para a zona do Vimeiro a fim de fazer o desembarque de reforços na Praia de Porto Novo.

As tropas anglo-lusas mantiveram uma posição defensiva no Vimeiro, aproveitando a geografia do terreno. Os franceses, reunidos em Torres Vedras, decidiram tomar a ofensiva, chegando à Carrasqueira na manhã de 21 de agosto. A partir desse ponto, Junot deu ordem de marcha para a batalha.



Sem conhecimento da situação do flanco esquerdo, duas brigadas francesas confrontaram os britânicos nos altos da Ventosa. Uma vez mais, os franceses viram-se forçados a recuar.

A Batalha do Vimeiro foi uma vitória inegável do Exército Anglo-Luso sobre as forças da França Imperial, pondo termo à Primeira Invasão Francesa. Junot perdeu cerca de 2000 homens, entre mortos, feridos e prisioneiros e o exército anglo-luso cerca de 700.

Esta batalha foi decisiva visto que colocou termo à Primeira Invasão Francesa de Portugal.

(Cortesia da página ofcial do evento)

Guiné 63/74 - P16251: In Memoriam (260): Joaquim [António Pinheiro] Vidal Saraiva (1936-2015), especialista em Cirurgia Geral, ex-alf mil med CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, nov 1969/jun 1970) e HM 241 (Bissau, 1970)... Está sepultado em Valadares, V. N. Gaia. Passa a ser o nosso grã-tabanqueiro nº 720, a título póstumo.


Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > CCS/ BCAÇ 2852 (1968/70) > 1970 > Destacamento de Nhabijões > Assistência médica à população do reordenamento de Nhabijões, maioritariamente de etnia balanta (e com "parentes no mato", tanto a norte do Cuor como ao longo da margem direita do Rio Corubal, nos subsetores do Xime e do Xitole). Como se vê, a consulta médica era muito pouco privada... Além disso, o médico tinha que utilizar os serviços de um intérprete (, que está de pé, ao lado do paciente, que veio diretamente do trabalho, na bolanha). Ao canto superior esquerdo, há um tabuleta em madeira onde se lê: "Por favor não deitar lixo para o chão".

Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados . [Edição e legendagem complementar: LG]


1. Na foto, vemos quatro oficiais, só um dos quais é do Quadro Permanente (o major op inf Herberto Alfredo do Amaral Sampaio); os restantes oficiais são milicianos:

(i) o alf mil cav J. L. Vacas de Carvalho (de calções, sentado), comandante do Pel Rec Daimler 2206 (que tinha chegado ao Sector L1  em jan/fev de 1970, e que é membro do nosso blogue);

(ii) o alf mil médico Joaquim Vidal Saraiva (, chefado à CCS, em novembro de 1969, vindo de Guileje);

e (iii) ainda um outro alf mil, de pé, de camuflado, que era um adjunto do major: foi ele próprio, em comentário, de 19 de junho de 2010, ao poste P6596, quem se apresentou aos nossos leitores:

"Sou eu, João António Leitão Simões Santos, natural do Cartaxo, nascido a 19/07/1948, residente no Cartaxo. Era alf mil na CCS do BCAÇ 2852 e tinha a especialidade de Reconhecimento e Informação. Fui eu que fiz o levantamento topográfico e acompanhei parte da construção dos Nhabijões. Quando da vinda do BCAÇ 2852, para a Metrópole [em 8 junho de 1970], fiquei no BENG 447, na Secção de Reordenamentos, fazendo serviço no BENG 447 e no QG, na Amura, coordenando o envio de materiais de construção para os reordenamentos".


2. O alf mil méd Joaquim Vidal Saraiva foi identificado, nesta foto do Arlindo T. Roda,  por dois camaradas nossos,  o ex-1º cabo cripto Gabriel Gonçalves, da CCAÇ 12 (1969/71) e o ex-alf mil cav, José Luís Vacas de Carvalho, comandante do Pel Rec Daimler 2206 (1970/71). O Zé Luis gostava de acompanhar os médicos da CCS porque "queria ir para medicina"... O Zé Luís também identificou o major Sampaio.

O Vidal Saraiva, lembro-me bem dele, eu e o Fernando Sousa, o nosso 1º cabo aux enf:  ficou retido um dia no mato, connosco, CCAÇ 12,  Pel Caç Nat 52 e outros, na Op Tigre Vadio, em março de 1970.

De seu nome completo, Joaquim [António Pinheiro] Vidal Saraiva, nascido em 26 de Junho de 1936, trabalhou. no Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia / Espinho, EPE. Terá também trabalhado antes do Hospital de São João, no Porto, segundo o Fernando Sousa, que vive na Trofa e que um dia o viu lá. Fez a licenciatura em medicina e cirurgia na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, para a qual entrou no ano letivo de 1957/58.

Estava inscrito na Ordem dos Médicos, Secção Regional do Norte,  como especialista em Cirurgia Geral.  Residia em S. Félix da Marinha, Vila Nova de Gaia... Deve-se ter reformado antes dos  70 anos.


Capa do Anuário da Universidade do Porto, ano escolar de 1957/58, donde consta o nome de Joaquim Manuel Pinheiro Vidal Saraiva, como aluno  do 1º ano da licenciatuira de medicina e cirurgia. (Imagem reproduzido com a devida vénia...).

O Fernando Andrade Sousa, da Trofa, deu-me a triste, há umas semanas atrás: o dr. Vidal Saraiva, o nosso médico de Bambadinca,  havia já morrido, no ano passado, em 21/6/2015, fez agora um ano. Está sepultado em Valadares, Vila Nova de Gaia. O Fernando leu a notícia necrológica no JN - Jornal de Notícias,e  guardou o recorte, com a fotografia dele. A última vez que o viu, "já bastante acabado", foi num encontro do pessoal de  Bambadinca, em 2004, em Ferreira do Zêzere.

O nosso camarada não chegou, portanto,  a completar os 80 anos (que faria a 26 de junho de 2016). Com ele morreu também algo de nós que convivemos com ele, seis ous ete meses em Bambadinca...


3. O Zé Luís Vacas de Carvalho, que foi comandante, em Bambadinca, do Pelotão Daimler 2206,  lembra-se bem do Vidal Saraiva:

"Estivémos com ele em 2004, em Ferreira do Zêzere.  Era médico  em Gaia. Lembro-me uma vez que o Piça [, 2º sargento da CCAÇ 12,] entornou um jipe cheio de gaiatos e, como eu queria ir para medicina, estive a ajudá-lo a fazer curativos" (...).

Esta cena, com o Piça, pensava eu que se teria passado em janeiro ou fevereiro de 1971, já no final da nossa comissão, quando já esperávamos os "periquitos"... E andávamos completamente "apanhados pelo clima"... Mas. não, deve ter isdo antes... Felizmente, não morreu nenhum puto, E o Vidal Saraiva foi, mais uma vez, inexcedível, juntamente  com o nosso fur mil enf,  o João Carreiro Martins, da CCAÇ 12. Sim, deve ter sido um ano antes, quando o Vidal Saraiva ainda estava em Bambadinca.

 Não, não podia ter sido em janeiro ou fevereiro de 1971.  O Benjamin Durães não o cita como um dos quatro  médicos do seu tempo, ou seja,  do tempo da CCS/ BART 2917...Lembro-me bem do alf mil médico. Mário Gonçalves Ferreira, que esteve na sede do Batalhão em Bambadinca, de 27 de maio de 1970 a 25 de janeiro de 1971, data em que foi transferido para o HM 241, em Bissau.

Segundo informação do Beja Santos, o Vidal Saraiva terá vindo de Guileje, por volta de outubro ou novembro de 1969, vindo substituir o David Payne, na CCS/BCAÇ 2852. O David Payne Rodrigues Pereira, que já morreu, fez mais tarde a especialidade de  psiquiatra (ou já era especialista em 1968/70, não sei exatamente). Nessa altura quem estava em, Guileje era a CART 2410, " Os Dráculas" (junho 1969/março 1970). A CART 2410, além de Guileje, também esteve em Gadamael e Ganturé,

Pelo menos dois membros da nossa Tabanca Grande pertencerama  esta companhia e é possível que se lembrem do Vidal Saraiva: (i) o fur  mil Luís Guerreiro [da CART 2410, e do Pel Caç Nat 65 (Piche, Buruntuma e Bajocunda], e que vive em Monterreal, Canadá; e (ii) o alf mil  José Barros Rocha, de Penafiel.

Tenho ideia  de que os nossos médicos passavam uns escassos meses nas CCS dos batalhões, sendo solicitados para aqui e para acolá (e nomeadamente para o HM 241, em Bissau), sobretudo os cirurgiões, de que havia muita falta. Foi o caso do Vidal Saraiva que acabou o resto da comissão no HM 241, na  cirurgia, de acordo com o testemunho do seu colega (e  nosso camarada) José  Pardete Ferreira (que esteve no CAOP1, Teixeira Pinto, e no HM 241, Bissau, 1969/71). O J. Pardete Ferreiat esteve no HM 241 com o J. Vidal Saraiva. Não sabemos quando este terminou a sua comissão: talvez já em 1971...

Mas o Vidal Saraiva nem sequer vem na lista dos oficiais médicos que constam da História do BCAÇ 2852...  Deve ter ido para Bissau em meados de 1970,  talvez no início de junho, altura em que o BART 2917 (1970/72) tomou conta do Sector L1, rendendo o BCAÇ 2852 (1968/70). Foi nessa altura que chegou o Mário Gonçalves Ferreira.

Na Op Tigre Vadio (*), a uma das bases do PAIGC na região de Madina / Belel, a norte do Rio Geba, no limite do Sector L1, em março de 1970, o Saraiva veio no helicóptero de reabastecimento com o Beja Santos, depois do ataque às instalações do IN, para prestar assistência médica aos casos mais graves de intoxicação (devido ao ataque de abelhas), de desidratação e de ferimentos por fogo do IN...

Acabou por ficar em terra uma vez o que o helicóptero, danificado (por "fogo amigo", ao que parece, na versão do Beja Santos), já não voltou... Deixou o Beja Santos no Xime e zarpou para Bissau...

O dr. Vidal Saraiva acabou por aguentar, de pé firme, o resto do dia e toda a noite e toda a manhã, acompanhando-nos e socorrendo os mais combalidos, sempre auxiliado pelo valente Fernando Sousa (que estava em todas, um herói da CCAÇ 12!),  na nossa extremamente penosa,  dramática e inesquecível viagem de regresso, até ao aquartelamento do Enxalé.

Um pesadelo, camaradas!... É daquelas situações de guerra que nos fica gravadas, na memória, toda a vida, para sempre!

O nosso camarada Gabriel Gonçalves, ex-1º cabo cripto da CCAÇ 12, tem também uma grata recordação deste oficial médico:

"O dr. Saraiva, safou-me quando estive muito doente. Por isso é que me lembro bem dele. É um excelente ser humano. Não sei se te lembras, de um filme rodado na enfermaria, de uma operação ao 'corte do freio', efectuada com todos os requisitos! O nosso furriel enfermeiro, o "Bolha-d'água", assistiu o dr. Saraiva nessa operação! Já não me lembro quem era o paciente, mas que foi um sucesso, lá isso foi".

O Jaime Machado e o Beja conheceram-no muito bem ... e os dois têm ainda bem presentes,  na memória,  o desastre que vitimou o Uam Sambu, no dia de ano novo de 1970. Apesar dos primeiros socorros prestados em Bambadinca pelo Vidal Saraivba e a sua equipa. o pobre do  Sambu não sobreviveu (**).



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > 1 de janeiro de 1970 >  Porrmenor dos primeiros socorros que foram prestados ao Uam Sambu antes de ser evacuado. Era médico do batalhão o Vidal Saraiva que se vê na foto,  de óculos escuros, assinalado a amarelo. O Beja Santos está de costas, com o camuflado encharcado de sangue, tendo transportado o Sambu
as costas até ao quartel. À esquerda do Beja Santos, sob a asa da DO 27, com a mão direita à cintura, em pose expectante, está o fur mil enf da CCAÇ 12, o meu amigo João Carreiro Martins, de quem não tenho notícias há uns anos. E do lado direito, em calções e sem camisa estou eu.  Ainda não conseguimos identificar a enfermeira paraquedista, em fernte do dr. Vidal Saraiva. Recorde-se que na manhã de 1/1/1970, à saída da Missão do Sono, em Bambadincazinho, o Uam Sambu, do Pelç Caç Nat 52,  foi vitíma de um grave acidente com arma de fogo que lhe custou a vida. Morreu, na DO 27. a caminho do HM 241.

Foto: © Jaime Machado (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]


Convívio do pessoal de Bambadinca (1968/71)> Ferreia do Zêzere > 31/5/2003 > O Fernando Sousa em primeiro plano e por detrás o dr. Vidal Saraiva, com 67 anos.

Foto: © Fernando Sousa (2018). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Vidal Saraiba no reordenamento de Nhabijões (1970).
Foto de Arlindo Roda (2010)
4. Tenho ainda,  também, bem presente, uma história envolveu o nosso Vidal Saraiva: 

Estávamos numa "farra", que metia copos e bailação, na extensão de Bambadinca do Bataclã de Bafatá (, bairro da Rocha,) , e que acabou dramaticamente, às tantas da manhã, com a tentativa de reanimar, no posto médico, no quartel, uma criança, filha de uma das nossas amigas coloridas, acometida de um grave (e fatal) problema de insuficiência cardiorrespiratória...Possivelmente, seria um caso de morte súbita durante o sono...

Ainda não tive arranjar tempo (nem muito menos coragem) para reconstituir este trágico episódio... Precisava que os meus camaradas, presentes nessa noite, me ajudassem a refrescar a memória... Há pormenores a rever. O médico de serviço, esse, lembro-me bem dele, também estava presente, tentando divertir-se: era o alf mil med Joaquim Vidal Saraiva, da CCS/BART 2917, mais velho do que nós, furriéis e alferes milicianos, pelo menos uns 10 anos...

Soleimatu, Ana Maria, Helena...Havia também em Bambadinca, na tabanca de Bambadinca, logo a seguir ao quartel, quando se descia rampa, uma morança que era de uma delas (?) ou era de um azeiteiro qualquer, proxeneta (da tropa ou civil ?)... Já não me recordo. Sei que fazíamos lá farras... Era o Sempre em Festa, o Bataclã de Bambadinca...

Um dia, a filha, pequena, de um delas ( talvez da Soleimatu), adoeceu subitamente, a farra acabou na enfermaria de Bambadinca com o médico, o Saraiva, a tentar salvá-la, com os escassos meios que tínhamos... Foi uma noite de pesadelo, de encarniçamento terapêutico, fizemos tudo que sabíamos e podíamos para a salvar.... Também fui um dos que segurei a miúda que devia ter um ano e tal.... Morreu às cinco da manhã...

Fiquei muito impressionado. Fizemos uma coleta para ajudar a mãe, amiga da Helena, a famosa e dengosa Helena de Bafatá... Talvez fosse a Soleimatu (?).... (O sexo em tempo de guerra, a nossa miséria sexual, o drama destas jovens mulheres, algumas já com filhos!)...

Pois é, camaradas.. Apesar de todos os esforços (e sobretudo do nosso Pastilhas, o fur mil enf João Martins, da CCAÇ 12,  e do dr. Vidal Saraiva), a criança morreu nas nossas mãos, já no posto médico de Bambadinca... Ou já vinha morta, da morança onde a malta dançava...Sei que o baile acabou, com grande consternação de todos e todas...   

Quem é que se lembra deste trágico episódio, no "Bataclã" de Bambadinca, uma improvisada "boite" que ficava na tabanca de Bambadinca, fora portanto do perímetro do arame farpado ? Talvez o Tony Levezinho, o Humberto Reis, o Joaquim Fernandes, o Luciano, o Gabriel Gonçalves, o Zé Luís Vacas de Carvalho... Dançava-se (e bebia-se) ao som de música de gira-disco... Já não me lembro quem era o "empresário da noite", seria seguramente alguém que tinha jeito para o negócio...

Sei que isto se passa nos primeiros meses de 1970, ainda antes do Vidal Saraiva partir para o HM 241... Morreu, de morte súbita durante o sono, uma criança, bebé, talves ainda de meses, filha de uma das nossas "amigas de Bafatá"... Tentámos tudo para a reanimar...

Fazer um baile na tabanca de Bambadinca, sem segurança, perguntarão alguns se não seria temerário... A resposta é não. Todos os nossos 100 soldados africanos, fulas, fidelíssimos, dormiam na tabanca... Mais: eram todos desarranchados e tinham mulheres e filhos em Bambadinca, misturados com gente vária (, incluindo simpatisantes do PAIGC)... Havia 2 grandes tabancas em Bambadinca: Bambadincazinho, a oeste do aquartelamento e posto admnistrativo (com escola, correios, igreja...), e Bambadinca p. d. a leste...




JN -Jornal de Notícias, 21/6/2015. Recorte de imprensa gentilmente enviado pelo nosso amigo e camarada Fernando Sousa



O Vidal Saraiva foi um grande médico e um grande camarada. Em vida, tentei em vão contactá-lo pelo o seu nº de telefone, de casa e da clínica. Onde quer que ele esteja, provavelmente no Olimpo da Medicina, ao lado do seu mestre Hipócrates, mando-lhe um abraço tentacular de saudade, camaradagem e homenagem. O que me diria, se fosse vivo, hoje, aos 80 anos ? Repetir-me-ia o famoso aforismo de Hipócrates, traduzindo 25 séculos de sabedoria: "A vida é curta, a arte é longa, a oportunidade é fugaz, a experiência enganosa, o julgamento difícil.” .

Era muito raro um médico ir para o mato. O mesmo acontecendo com os furriéis enfermeiros... Depois da Op Tigre Vadio, o seu prestígio aumentou aos meus olhos, Por tudo isto, ele merece um lugar de destaque, aqui,  à sombra do poilão da nossa Tabanca Grande, por sugestão minha e com o apoio do Fernando Sousa, o ex-1º cabo aux enf da CCAÇ 12, membro recente da nossa Tabanca Grande, e que nos triouxe a funesta notícia, a da morte do dr. Vidal Saraiva... E com o apoaio, também, seguramente dos camaradas que, no TO da Guiné, tiveram o privilégio de o conhecer e de com ele conviver.

Vidal Saraiva, presente!.,..Serás, a título póstumo, o nosso grã-tabanqueiro nº 720. (***)  (LG)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 8 de junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8388: A minha CCAÇ 12 (18): Tugas, poucos, mas loucos...30 de Março-1 de Abril de 1970, a dramática e temerária Op Tigre Vadio (Luís Graça)

(**) Vd. poste de 29 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14806: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte III: O grave acidente com arma de fogo que vitimou o Uam Sambu, do Pel Caç Nat 52, na manhã de 1/1/1970

(***) Último poste da série > 31 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16150: In Memoriam (259): José Manuel P. Quadrado (1947-2016): mais um bravo do 1º pelotão da CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71) que nos deixa, 47 anos depois de desembarcarmos em Bissau; vivia na Moita, foi 1º cabo apontador de dilagrama, e comandante de secçcão: vai simbolicamente repousar sob o poilão da Tabanca Grande... Que a terra da tua Pátria te seja leve, camarada!

Guiné 63/74 - P16250: Parabéns a você (1103 ): Manuel Maia, ex-Fur Mil Inf do BCAÇ 4610 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 29 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16245: Parabéns a você (1102): José Firmino, ex-Soldado At Inf da CCAÇ 2585 (Guiné, 1969/71) e Santos Oliveira, ex-2.º Sarg Mil do Pel Mort Ind 912 (Guiné, 1964/66)

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16249: Agenda cultural (493): Apresentação do livro do escritor e investigador da história do Barreiro, Armando Sousa Teixeira, "Antigamente da Bela Vista Viam-se os Barcos da Muleta", Casa do Alentejo, Lisboa, sexta feira, 1/7/2016, 16h00.





1. Convite enviado pelo nosso leitor, Armando Sousa Teixeira, escritor e investigador da história do Barreiro, autor ou coautor de obras como "A CUF no Barreiro, Realidades, Mitos e Contradições", "Guerra Colonial, a Memória Maior que o Pensamento”, “A Rua Direita e a Ganilha do Lado da Praia” e “Barreiro, Roteiro das Memórias da Resistência, do Trabalho e da Luta”:


Data: 26 de junho de 2016 às 03:26

Assunto: Apresentação do livro "Antigamente da Bela Vitsa viam-se os barcos da Muleta - Sexta feira, 1/7/16, 16h00, Casa do  Alentejo, Lisboa....


Caros amigos, companheiros, senhores

Por que razão depois de 300 anos de pesca épica no mar que começa onde o rio acaba, desapareceram os Barcos da Muleta com Redes da Tartaranha, sem serem substituídos no Barreiro (e no Seixal) por outros barcos oceânicos?

Porquê as tradições culturais ligadas ao meio piscatório (Queima do Judas, Cegadas, Fado Operário/Vadio), se foram perdendo até só restarem memórias indocumentadas de traços fundamentais de identidade barreirense?

O processo de implantação e de evolução do sistema capitalista nos inícios do século XX, os fenómenos migratórios associados, as movimentações sociais à volta da grande indústria, a socialização desequilibrada e reprimida nas grandes metrópoles da bacia do Tejo, estão no âmago do romance que agora se apresenta na margem direita do grande berço civilizacional, estrada de águas calmas que nos une mas por vezes também afasta.

Estaremos na Casa do Alentejo, a lindíssima e fresca casa solidária que mais uma vez nos apoia, na Sexta-Feira, dia 1/7/16, a partir das 16.00h, para apresentar o livro "ANTIGAMENTE DA BELA VISTA VIAM-SE OS BARCOS DA MULETA". [Editora Página a Página, 2016].


Haverá animação cultural com Teatro, Dança, Fado operário/vadio, Cegada e Cante Alentejano. 

Sobre o livro trocaremos algumas ideias ao entardecer com o escritor Modesto Navarro e com o militar de Abril e prefaciador, almirante Martins Guerreiro.

Serás bem recebido e não darás o tempo por mal empregado se apareceres. E traz outro amigo também! O convite-programa segue em anexo com um abraço do autor.

Armando Sousa Teixeira

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Nota do editor:

Último poste da série > 22 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16225: Agenda cultural (485): Inauguração da Biblioteca Central da UAC - Universidade Amílcar Cabral, Bissau, 5ª feira, 23 de junho, 10h00... Doação de livros do prof Russel Hamilton, especialista norte-americano em literatura africana de expressão portuguesa, falecido em 27/2/2016

Guiné 63/74 - P16248: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (18): Resposta ao Manuel Luís Lomba

 
 1. Em mensagem de 28 de Junho de 2016, o nosso camarada António José Pereira da Costa, Coronel de Art.ª Ref (ex-Alferes de Art.ª da CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74), enviou-nos a sua apreciação/resposta ao texto do camarada Manuel Luís Lomba publicado no Poste 16243 para integrar a sua série: "A Minha Guerra a Petróleo".



A Minha Guerra Petróleo (18)

“Resposta ao Manuel Luís Lomba”

Começo por informar que não li o livro do Cor. Golias. As considerações que vou fazer têm unicamente que ver com as afirmações do Luís Lomba no post 16243.

Recordo ao camarada que a História demonstra que Portugal teve sempre dificuldade em se afirmar a no seu espaço geoestratégico e, por consequência, não é verdade que tenha descido da “glória legada pela gente de rija têmpera de outras eras, a protectorado dos seus principais credores internacionais e que estes sobrepuseram a sua “troika” à governação nacional”. Basta recordar, entre outras, as sucessivas intervenções britânicas ao longo dos tempos, as invasões francesas, etc.

Em qualquer apreciação que se faça é irrelevante que “Portugal seja o segundo país mais antigo da Europa, terceiro mais antigo do Mundo, todas as suas instituições creditadas de Direito e acreditadas em todas as instâncias internacionais”. Entre países, tamanho não é qualidade e idade não é posto. Recordaria também que se “de facto, nem o regime nem o governo eram sancionados pelo povo” haveria que fazer qualquer coisa… especialmente ao fim de 13 anos de “guerra”. Não sei, ainda hoje, o que seja a “corporação militar nacional, acusando a sua usura nas guerras de África, destituíra-os, com economia de sangue, de desordens, sem a vacatura nas nossas instâncias supremas e restabelecera de imediato a cadeia de comando das nossas FA”. O texto parece-me confuso e gostava de ser esclarecido neste ponto…

Ignoro a existência de um plano B, mas sempre considerei que se fosse realizada uma tentativa de cessar-fogo entre os beligerantes no terreno, as coisas iriam esclarecer-se a nível internacional, primeiro, e nacional, depois. Já disse, noutro local, que as conversações directas Spínola-Cabral poderiam ter poupado muitas vidas e recursos. Não concordo, portanto, com a ideia do PAIGC de só negociar com o governo português. Admito que eu não seja um português “de rija têmpera”, mas não vale a pena continuarmos no campo das hipóteses. De qualquer modo, há que ter em conta que o país era só um e que havia os antecedentes da revolta da Madeira/Guiné/Cabo Verde que seria uma hipótese a não descartar. Ignoro, mas admito que o sob o “impulso da arma de Transmissões da Guiné, os primeiros militares a tomar conhecimento do sucesso total, o MFA de Bissau executou esse golpe por conta própria, na manhã do dia 26, decapitando o alto comando militar, secando a sua fonte de informações, pela dissolução da PIDE/DGS, à revelia da orientação do MFA central e das ordens do seu supremo comando”. Para mim, o decapitar do comando militar, lá como cá, era intuitivo. Quanto à PIDE, não creio que ela tivesse campo político para tomar qualquer atitude de oposição, por falta de apoios no local, assim como também não estou a vê-la a pesquisar activamente informações junto do In ou ex-In e a ir diligentemente fornecê-las ao MFA.

O favorecimento do IN surgiria, mais tarde ou mais cedo com a independência – e não havia outra solução – a menos que as unidades estacionadas na PU pretendessem, pelo menos em grande parte, continuar com a luta. Não creio que as NT admitissem tal hipótese, não vejo a finalidade, nem as possibilidades de êxito, mas o camarada lá saberá no que se fundamenta.

É lapidar afirmar que “a quebra do moral e da disciplina são recompensas ao IN e foi desde sempre comum ao soldado, profissional ou do contingente geral e que um golpe daquela natureza, em tão sensível teatro de guerra, seguramente não buscava o contrário”. Nem outra coisa era de esperar! Tem sido sempre assim em todos os países e guerras do mundo. Já afirmei que a tal “Descolonização Exemplar” foi a que foi possível no contexto nacional e internacional (este mais preponderante). Em política, como na guerra, faz-se o que se pode e os outros agentes envolvidos deixam e não o que queremos fazer. Treinadores de bancada, só à noite, na BolaTV. No que respeita à “desgraça dos povos colonizados, com os quais Portugal levava 500 anos de compromissos” quero recordar que a expressão colonizados fala por si e que não há ”compromissos” estabelecidos com aqueles a quem colonizamos. A colonização não assenta em compromissos, mas no domínio efectivo de outro povo. A situação actual do nosso país não é de compromisso, mas de domínio. O “empobrecimento de todos, em favorecimento de terceiros, que nunca derramaram uma lágrima, uma gota de sangue ou de suor, nem pelas gentes nem por aquelas terras africanas” não é para mim, uma preocupação. É uma questão que diz respeito aos guineenses. Com efeito, se combatemos os movimentos independentistas era porque não queríamos “aquela” solução, ou alguém levou a que não a quiséssemos, porventura de modo fraudulento, o que é grave. Não tendo tido força para impor – especialmente a nível local e internacional – o nosso ponto de vista, só temos que aceitar os acontecimentos e actuar em conformidade.

Claro que nos (e a todos nós, penso eu) “assiste o direito de o “escrutinar(?)” como uma desobediência grave aos seus supremos superiores hierárquicos, o Presidente da República e o Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, já então legitimados pela circunstância, pelo seu afã de obstar que a Descolonização da Guiné, e, por extensão, a do restante Ultramar”. É uma opinião como outra qualquer. Os “partidos armados” eram, como é natural, os únicos merecedores de tentar a “satisfação das utopias que povoavam a cabeça de minorias e das ideologias em moda”. Neste ponto, considero uma injustiça que os que se expuseram e esforçaram para atingir um objectivo (fosse ele qual fosse) tivessem de ser sujeitos a um sufrágio. Gerido e vigiado por quem? Nunca por Portugal que era parte interessada e cujas FA estavam cansadas da situação. Ou ainda haveria portugueses de “rija têmpera” prontos para essa tarefa? Uma tal solução é dar aos que nada fizeram, a possibilidade de participar em qualquer coisa que se obteve com esforço. Depois, com o evoluir da situação interna da Guiné, logo se veria. As maiorias raramente realizaram algo, em momentos difíceis de qualquer país, antes pelo contrário. Quanto à “realidade concreta”, se calhar, se bem observada, seria surpreendentemente diferente da que nos vendiam. A caixa de Pandora abrir-se-ia sempre e não colou a “imagem de “república das bananas a Portugal”. Se a Guiné-Bissau “se transubstanciou em Estado falhado” não é da nossa responsabilidade. Se calhar “as maiorias”, mas de lá, têm uma palavra a dizer… Mas não os portugueses.

“São as nações que fazem os exércitos e não os exércitos que fazem nações. E, na realização dessa “Descolonização exemplar”, o MFA de Bissau apenas só teve ouvidos para os tiros e para os que os disparavam”. Mais duas verdades incontroversas. Uma é um tema vasto que nos levaria longe. Basta perguntar para onde queria ir a Nação Portuguesa com o Exército que ia produzindo, dia a dia. Quanto à segunda, basta recordar as razões porque estávamos ali. Se nunca tivesse havido tiros e quem os disparasse teríamos ficado cá, julgo eu. Não penso que se mobilizassem unidades militares para ir desenvolver o “TO daquela PU” ou doutra.

“Em 1974, o exército do PAIGC tinha tantos anos de vida (10) como de errância, indigente de massa territorial, e ousava-o disputar com o Exército Português, com os seus 900 anos de existência e de gloriosas armas, o seu currículo de conquistas territoriais e de gentes, à dimensão das margens do Atlântico e do Índico, que transformara num “lago português”. Calma, camarada! Estes arroubos de patriotismo carecem de fundamento. Se falamos de conquistas (territoriais e de gentes) estamos a admitir que atacámos e subjugámos e, nesse caso, seria bom sabermos porquê e para quê. Claro que há os contextos históricos, por isso uma certa moderação impõe-se especialmente nas margens dos oceanos… Se calhar, não foi bem assim. A História não é um desafio de futebol a contar para a “Taça dos Países com Guerra”. Os fenómenos são complexos e quando nos são apresentados assim devemos desconfiar. Quanto à tal “errância, indigente de massa territorial” recordo que a vida de guerrilheiro é mesmo assim e, normalmente, só envereda por ela quem quer.

A retirada de Guileje, “decidida sob a responsabilidade e comando de um oficial superior”, já foi aqui dissecada. Naquela posição havia apenas um obus de 14 cm operacional, e não 14,5 cm, com o alcance que o construtor britânico lhe deu e inferior ao das peças do inimigo. Para trás tinha ficado o Pel. Fox de Guileje e agora havia apenas uma viatura blindada. O camarada saberá como se reage com “morteiros de 81, canhões s/r 10,7”, ao fogo da artilharia do In, de alcance superior ao nosso. Por mim, confesso a minha ignorância. Os “abrigos de betão armado, resistentes a granadas perfurantes, poderiam constituir “uma espécie de Termópilas para a sua guarnição, no entanto longe de idêntico e funéreo”. Não sei o que os que lá estiveram acham disto. Por mim, acho pobre uma comparação romântica e inútil o conceito táctico, uma vez que o importante é que uma missão é uma ou mais tarefas com uma ou mais finalidades. Ou seja, é importante o que se faz, mas mais importante para que se faz e o que vai fazer depois. Nunca participei nas “colunas de reabastecimento de ida e volta a Gadamael” e sempre achei absurdo que se fizessem “colunas de ida e volta à água, a 4 km de distância”. Acho uma impiedade o comentário feito, mesmo que por alguém muito valente.

A “nomadização” é um tipo de operação de infantaria característica da guerra subversiva e que nada tem que ver com o abastecimento de água que se insere na área da Engenharia. É óbvio que “a população preferiu acompanhar a retirada da tropa e ficar ao seu lado, à libertação oferecida pelo PAIGC, não obstante patrocinada por todo o mundo - ONU, Organização da Unidade Africana, Blocos Ocidental, Comunista e Não-Alinhados...” Como o camarada sabe, em certos locais a separação das populações estava feita de tal modo que, quem não estava por nós (ou por eles) era contra nós (ou contra eles). Como reagiriam as NT se a população preferisse ficar? E como reagiria o In ao entrar no quartel e ver a população calmamente entregue às suas tarefas quotidianas ou arvorando bandeiras do Partido?

A crise de Gadamael, “sequela da retirada de Guileje” também foi já bastamente discutida. Não acredito nos 30 “portugueses de rija têmpera” num universo de 400. Não estive lá e por isso acho que devo abster-me de comentários desagradáveis e avaliações abusivas. Tenho muita consideração por quem lá esteve e estarei disposto a ouvi-los, se alguma vez encontrar algum. Não sou capaz de criticar o “esmorecimento moral com sentido a derrota e a contagiante quebra da disciplina” dos que ficaram. Julgo que só os que lá estiveram poderão fazê-lo, entre si. Do mesmo modo não me pronuncio sobre a crise de Guidaje. Vi passar a 38.ª de Comandos, a coluna Bissau-Farim carregada de munições e torpedos bengalórios para abrir caminho a partir de Farim. Vi passar o Nord-Atlas, à vertical da estrada, carregado de munições para reabastecer os cercados e tive conhecimento de que a coluna de reabastecimento que foi montada não chegou ao objectivo e acabou bombardeada pela FAP. Não sei, por isso, se esta batalha foi a “mãe de todas as batalhas” ou se teve com elas outro grau de parentesco. Talvez avó…

Não sei a que Guiné nos estamos a referir ao falar da obra “que os nossos antepassados realizaram em 500 anos”. A nossa observação à chegada e os factos históricos que têm vindo a ser divulgados e estudados não corroboram esta tese. A História regista a “Descolonização da Guiné”, com o seu efeito sistémico no restante Ultramar, como seria lógico. Obtida a independência pelo PAIGC, como visualizamos a situação nos outros TO? Será que as tropas estacionadas em Angola e Moçambique tinham um ataque de patriotismo e valentia e ganhavam a guerra em três tempos? Ou também optariam por “um acto de irreverência com ou sem o apoio de um grupo de jovens oficiais, uns mais e outros menos contaminados pela ideologia em moda?” Nunca o saberemos, mas eu creio mais na segunda hipótese.

Estive na Guiné e não encontrei os tais “tão seculares “compromissos” assumidos entre portugueses e guineenses”. Guineenses? Portugueses? Então não era tudo o mesmo país? Não vejo quais poderiam ser os diálogos mais “alargados e abrangentes”, e com quem, para além dos “monólogos impositivos dos camaradas José Araújo, Pedro Pires e até do Juvêncio Gomes”, tendo em conta a situação acumulada desde 1973.

Os “indicadores estatísticos referidos às situações militar, económica, sociológica e histórica da Guiné” demonstram, quer se queira, quer se não queira, “a iminência da nossa derrota no campo de batalha”, propalada pelos nossos militares profissionais, não desde 1974, mas em consequência de uma análise constante da situação. Esta análise não “configura menos respeito pelos que deram a vida em combate e algo de menosprezo pelas centenas de milhares de portugueses que se entregaram ao serviço militar do seu país, sem nada pedir e sem perguntar se o país lhe daria alguma coisa”. Antes pelo contrário. O que fazer para parar com uma fenómeno sociológico que ninguém queria? Prolongar o sacrifício em nome de quê ou de quem? Infelizmente as coisas são como são e não como gostaríamos que fossem.

Na sua reincarnação(?) como idealistas pela autodeterminação e pela democracia dos povos em vias de colonização, o que é que os nossos corifeus do MFA/Descolonização viram de semelhante a esse ideal, na prática dos chamados Movimentos de libertação, para além de partidos-armadas, e não viram nos movimentos e correntes de opinião, que perseguiam os mesmo fins, mas sem derramamento de sangue - porque a civilização e a moral lhes ensinara que os fins não justificam os meios -, que justificasse o apressado abandono de territórios e gentes? Compadrio ideológico ou medo dos seus tiros? Eles eram formados, formatados, municiados, alimentados e patrocinados pelos países do Bloco Comunista e do Terceiro Mundo, plenos de ditaduras e de aversão aos direitos humanos. Duas perguntas longas e profundas! Por mim, não “reincarnei” em nada, nem em ninguém e já atrás falei sobre estes temas.

Os povos estavam colonizados e não em vias disso. Nunca tive ocasião de encontrar nenhum movimento ou corrente de opinião, que perseguia os mesmos fins dos movimentos guerrilheiros, mas sem derramamento de sangue e muito menos na Guiné. O camarada saberá melhor que eu o que fizeram, onde e quando.

Desconheço o compadrio ideológico a que o camarada se refere e quem foi formado, formatado, municiado, alimentado e patrocinado pelos países do Bloco Comunista e do Terceiro Mundo, plenos de ditaduras e de aversão aos direitos humanos. Não encontrei esta tendência num número significativo de portugueses.

Pois claro! O que o que havia a fazer era “consultar o Zé Povinho” que saberia discernir o que havia a fazer. Nunca tinha discernido, mas agora iria discernir. Ou prolongar a guerra ou a conceder a independência ou uma terceira solução: talvez a independência concedida aos bocadinhos… Não sei o que seria discernido, mas… era uma hipótese académica de trabalho.

Aparte a referência à idade dos países, sugiro ao camarada que verifique se Portugal foi “fundador da ONU e da NATO e de todas as suas instituições reconhecidas pela Comunidade internacional”, e das condições em que tal se verificou.

A autocrítica pública do General Spínola só a ele diz respeito, mas sei que o Brig. Spínola de 1968 não era o Gen. Spínola de 1973 e creio que o camarada deveria pensar nisto. É que as mentalidades mudam os modos de ver alteram-se e essa mudança é que é sinal de inteligência.

E sendo um “ex-combatente amador da Guerra da Guiné, faço uma achega à “profissional”: Não obstante os seus picos, com a crise dos 3 Gs, Canquelifá, Pirada, etc., a gradação da Guerra da Guiné não ultrapassou a fasquia da “baixa densidade”. Esclareço que os conflitos são de baixa intensidade e não de menor densidade. E, mesmo assim, não quer dizer que se ganhem, ou melhor que se resolvam com maior facilidade. Está mais que dito e redito quais eram as características deste conflito de baixa intensidade.

À sua afirmação de que “desde 1128 que o Exército Português vinha sendo glorioso em guerras de “média e alta densidade”… quero recordar que em 1128 não havia Portugal, que conviria que desse uma volta pela História de Portugal para saber exactamente o que se ganhou e onde e o que se perdeu e porquê. Regresse ao passado fique-se e fixe-se nele, sem ideias feitas e com a necessária abertura para reconhecer onde estivemos bem, menos bem e até mal ou muito mal, sendo certo que as causas em História são remotas, próximas e pretexto para a ocorrência dos factos.

“O comunismo e o seu bloco implodiram, mas Portugal preservou-se(?) comunista, pela partilha da sua Língua com os povos que beneficiaram/sofreram a sua Colonização”. Sobre a língua portuguesa falada pelos tais povos de que o camarada fala recordo os longos diálogos de português camiliano que eu tive com as minhas lavadeiras e os debates literários que sustentei com os militares do recrutamento local. E, ainda hoje, ao entrar num comboio da linha de Sintra, fico pasmado com a fluidez do diálogo em português literário dos fulas que por aqui habitam. Que riqueza de vocabulário! Que exactidão nas expressões!

As minhas desculpas e um Abraço ao Camarada Manuel Luís Lomba
António J. P. Costa
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15809: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (17): O Moral das Tropas é Bom!