terça-feira, 17 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17870: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (9): 7.º Dia: Bissau, Safim, Nhacra, Jugudul, Mansoa, Mansabá e Farim (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)


1. Continuação da publicação das "Memórias Revividas" com a recente visita do nosso camarada António Acílio Azevedo (ex-Cap Mil, CMDT da 1.ª CCAV/BCAV 8320/72, Bula e da CCAÇ 17, Binar, 1973/74) à Guiné-Bissau, trabalho que relata os momentos mais importantes dessa jornada de saudade àquele país irmão.

AS MINHAS MEMÓRIAS, REVIVIDAS COM A VISITA QUE EFECTUEI À GUINÉ-BISSAU ENTRE OS DIAS 30 DE MARÇO E 7 DE ABRIL DE 2017

AS DESLOCAÇÕES PELO INTERIOR DA GUINÉ-BISSAU (9)

7.º DIA: DIA 05 DE ABRIL 2017 - BISSAU, SAFIM, NHACRA, JUGUDUL, MANSOA, MANSABÁ E FARIM


Depois de concluída a visita a terras de Bafatá e de Gabú e após uma calma viagem, regressarmos à nossa base, (Aparthotel Machado, em Bissau), para um bom necessário e refrescante banho, um bom jantar e mais uma boa dormida), acordámos no dia seguinte bem dispostos para nova aventura guineense, que neste sexto dia nos esperava.

Como pessoas conscientes que somos, não podíamos porém esquecer outros compromissos que o nosso grupo tinha assumido, antes da partida de Portugal, e que se relacionava com o já constante a folhas 10 do presente texto.

Assim e embora nos parecesse tudo já previamente combinado, e na presença dos nossos colegas Moutinho e Leite Rodrigues, o responsável da Alfândega de Bissau mandou chamar, na manhã dessa quarta-feira, dia 05 de Abril, esse tal agente (?!) que, logo de imediato apresentou a documentação em falta, afirmando que a mesma se encontrava numa das gavetas da sua secretária, mas que não tinha aparecido ninguém para levantar o contentor, o que se provou não ser verdade, porque ele próprio seria o representante legal do destinatário desse material escolar.

Antes de sairmos para mais um dia de visitas, fomos informados pelo nosso amigo, Dr. João Maria Goudiaby, médico no Hospital Padre Américo, em Penafiel e cunhado de sua Ex.ª o Senhor Presidente da República da Guiné-Bissau, Dr. José Mário Vaz, mas também amigo da maioria dos membros da Tabanca Pequena de Matosinhos, a que pertencemos e que prestaram serviço militar na Guiné-Bissau entre os anos de 1963 e 1974, que nos informou que pelas 11 horas da manhã do dia seguinte,  e em puro acto de cortesia, o Senhor Presidente da República ia ter a atenção de nos receber no seu Gabinete da Presidência, em Bissau.

Ficámos a aguardar a boa-vontade expressa pelo Senhor Presidente da República da Guiné-Bissau, em nos receber, pois para além dessa muito honrosa cortesia, nos permitiria, talvez, tentar expor a situação sobre um contentor que se encontra retido no Porto de Bissau, desde princípios de Novembro de 2016, visando a sua justa e oportuna intervenção, já que no interior do já referido contentor existem materiais e equipamentos oferecidos por entidades e muita gente anónima de Portugal, para ser entregue a escolas e outros serviços da área do ensino da Guiné-Bissau.

Assim e procurando manter o nosso programa de visitas, e com um bom pequeno almoço ingerido, cada grupo tomou lugar no seu habitual jeep, com destino às terras ou zonas que pretendiam visitar.
Neste dia e para o meu grupo de quatro colegas, no qual eu me integrava, iniciou a deslocação para a zona de Mansoa, para a partir daí seguir viagem até às localidades de Mansabá e Farim, localizadas na parte nordeste do território da Guiné- Bissau, com esta última a não ficar já não muito longe do território vizinho do Senegal.

Estrada plana, com longas rectas e um óptimo pavimento, que segundo nos informaram foi custeado pelo Senegal, visando um melhor escoamento das mercadorias produzidos naquela zona de fronteira, através do porto guineense de Bissau.

Com uma breve paragem no posto de abastecimento de Jugudul, para abastecimento de combustível, avançamos em direcção à vila de Mansabá, onde nos detivemos algum tempo antes de nos dirigirmos para Farim, pois pretendíamos ficar com uma ideia em como se encontrava esta povoação localizada num ponto importante de ligação rodoviária entre Bissau, o leste e o nordeste da Guiné-Bissau.

Ficámos muito impressionados, pela negativa, pelo aspecto de quase total abandono em que se encontra Mansabá, chamando-nos particular atenção o estado totalmente arruinado em que se encontram as instalações do nosso antigo aquartelamento sediado naquela antiga vila da Guiné, mas o mesmo se pode afirmar das habitações locais e dos próprios arruamentos que serviam a localidade, apenas escapando a esse “tornado”, a nova e boa estrada que de Mansoa se dirige a Farim e que num itinerário novo, contorna a antiga povoação.

Para uma melhor demonstração do que exponho, junto duas fotos, uma antiga e outra actual do que existia e do que agora nos ainda oferece a antiga vila de Mansabá. Sem mais comentários, porque não se compreende como as autoridades locais e nacionais deixaram cair Mansabá para um estado de quase total abandono, como tivemos oportunidade de confirmar, mas o mesmo, ou pouco melhor, se pode afirmar da antiga cidade de Farim.


Foto 94 - Mansabá (Guiné-Bissau): Antiga imagem da Vila, com as instalações militares na parte superior da fotografia 

Foto: © Carlos Vinhal  


Foto 95 - Mansabá (Guiné-Bissau): Imagem da talvez melhor rua e zona habitacional que encontramos em Mansabá http://mapio.net/pic/p-3525451/ 

Concluída a passagem por esta pobre e muito abandonada povoação, deixámos para trás a antiga vila de Mansabá, continuando a percorrer a bem asfaltada e ampla estrada que nos iria conduzir a Farim, situada na margem direita do Rio com o mesmo nome e que por inexistência de uma ponte, teríamos que atravessar a bordo de uma pequena jangada.

Durante o trajecto que liga Mansabá a Farim, despertou-nos a atenção o facto de vermos à margem da estrada e em locais mais abertos de vegetação, uns pequenos montículos que, em princípio me pareciam pequenas pedras, mas que, depois de efectuarmos uma breve paragem, constatámos serem montículos de terra, construídos pelas formigas bagabaga.

Antes de atingirmos as margens do Rio Farim e numa recta bastante grande, passamos no lugar mítico e muito perigoso, do tempo da guerra colonial, designado por K3, assim conhecido por se localizar a 3 quilómetros de Farim, e que era um local onde, além deste itinerário principal, se cruzavam outros, como era o caso do “corredor” do Olossato e Bissorã, bem como o da mata do Morés, ocupada pelo PAIGC, logo zona de interesses estratégicos comuns às duas partes envolvidas nessa guerra.

Percorridos esses três quilómetros, chegámos à margem esquerda do Rio Farim, onde aguardámos que chegasse a pequena barcaça/jangada que fazia a ligação entre as duas margens do rio, que ali tem uma largura de cerca de 150 metros, mas que apenas tem capacidade para o transporte de uma viatura de cada vez e mais ou menos 20 pessoas. Tivemos “sorte” quando ali chegámos, porque passámos para Farim logo de seguida, embora houvesse no local outros veículos para também fazerem a travessia do rio.

Como apontamento adicional, refiro que a maioria da população que faz a travessia de uma para a outra margem, utiliza pirogas que são embarcações estreitas, mas compridas e apetrechadas com motores fora de borda e com coletes de salvação, conforme o demonstra uma das fotos seguintes e que são construídas a partir de troncos de madeira, que são escavados e que têm uma capacidade entre 8 a 10 passageiros, mas que também transporta bicicletas, motorizadas e pequenas bagagens.


Foto 96 - Estrada Mansoa–Mansabá (Guiné Bissau): Terrenos junto à estrada, onde se vêm pequenos montes de terra, construídos pelas formigas bagabaga pretas (termiteiras em cogumelo)  

Foto: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7x9ez6L5Tkuyh5C8qWPmJbxzxLPU2uPDWxLnbwZWFhiomOHMJ4KfhwARKvJua1pncy2d7ap2AnK08XUGTkOPus6Sc5aOz2KMwUIL-Q1_zEum5LTCBqZu3DuAdUVJwQ_a8x1twXw/s1600/Guine_2006_Mansaba_HC_12+189.jpg 


Foto 97 - Farim (Guiné-Bissau): Os colegas Barbosa, Monteiro e Angelino na zona do famoso K3, que comigo estavam a aguardar embarque de jangada para Farim



Foto 98 - Farim (Guiné-Bissau): Piroga, transporte típico na travessia do Rio Farim entre K3 e Farim, que até motorizadas leva


Foto 99 - Farim (Guiné-Bissau): Chefe da Alfândega de Farim 


Foto 100 - Farim (Guiné-Bissau): Travessia em jangada de Farim para o K3, vendo-se o nosso jeep a meu lado 

Desembarcados em Farim, ficámos de imediato decepcionados com a degradação que a antiga cidade do leste da Guiné apresentava, pois além das ruas se apresentarem sem sinais de asfalto, todas em terra, poeirentas e cheias de buracos, mostrava um conjunto de antigos edifícios coloniais, todos eles muito degradados, que nos mostravam uma realidade de pobreza e abandono, daquela gente que ali vive.

A pé percorremos algumas dessas ruas, começando por atravessar o antigo parque público, onde ainda são ainda visíveis bancos em cimento para descanso das pessoas e vestígios do que terá sido um belo jardim, com diversos canteiros onde terão existido bonitas flores e pequenos arbustos que o embelezavam.

Vimos um espaço cimentado e ainda, em parte, vedado, que terá sido um local onde se terão praticado algumas modalidades desportivas, como o futsal, naquele tempo designado por futebol de cinco, o voleibol, o andebol e o ténis, mas que actualmente são apenas vestígios de equipamentos de uma época, que as autoridades de Farim e/ou os seus habitantes, não conseguiram conservar e manter.
Um edifício ao lado deste parque mostra-se ainda o que terá sido um hotel e onde é também bem visível uma antiga piscina, completamente abandonada.

Não vimos um único restaurante e lojas comerciais, apenas nos foi despertada a atenção para um edifício, relativamente moderno, onde funciona um talho e duas pequenas lojas de comércio local. No largo central e nas ruas que para lá convergem, ainda tivemos oportunidade de verificar a existência de pequenos armazéns e de algumas lojas destinadas à alfaiataria e à reparação e venda de bicicletas e respectivos acessórios, muito pouco para uma cidade que na época colonial chegou a viver com algum conforto, em que os habitantes se sentiam bem e onde havia espaços de divertimento e de lazer, mas tudo mudou e para pior.

Algumas ruas largas, tipo avenidas e com postes de iluminação na sua zona central, mas que, ao que nos disseram, não dão luz há muitos anos, são outros pontos que referenciam, pela negativa, a cidade de Farim, levando ao ponto de alguns dos actuais residentes nos afirmarem, com toda a convicção, que estão muito piores agora do que quando estavam lá as tropas portuguesas.


Foto 101 - Farim (Guiné-Bissau): Foto antiga da marginal da cidade, vendo-se à direita da imagem o tal antigo parque público de lazer e passeio e onde nos anos 70, se passeava e praticava desporto 

Foto: http://trip-suggest.com/guinea-bissau/guinea-bissau-general/bissilao/ 


Foto 102 - Farim (Guiné-Bissau): A travessia na jangada, com a actual Farim já ali próxima  

Foto: http://www.odemocratagb.com/duas-novas-pontes-e-estrada-para-sul-sao-prioridade-do-governo-da-guine-bissau/ 


Foto 103 - Farim (Guiné-Bissau): Antiga foto do parque público, vendo-se, a meio, o recinto desportivo e por trás dele o edifício do cinema, com a piscina a localizar-se entre estes dois espaços 


Foto 104 - Farim (Guiné-Bissau): Foto actual do monumento colonial, alusivo ao V Centenário da morte do Infante D. Henrique e que ainda se apresenta em bom estado de conservação. Ao lado e espalhados pelo antigo parque público, podem ver-se, pintados de azul, alguns dos bancos de cimento, ainda ali existentes 

Foto: © Fernando Inácio (2007). Direitos reservados. 


Foto 105 - Farim (Guiné-Bissau): Embora designada como Rua dos Alfaiates, nela só encontramos esta pequena amostra 

Foto: © Patrício Ribeiro (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


Foto 106 - Farim (Guiné-Bissau): Imagem actual das instalações do nosso antigo quartel

Embora tivéssemos connosco o jeep que nos havia transportado até Farim, decidimos fazer um passeio a pé por algumas das ruas desta pobre cidade, ficando com a desagradável sensação de sentir as carências da sua população, apoiado no meu conhecimento que tinha sobre Farim, há cerca de 43/44 anos, e das realidades que agora se observavam e sentiam.

Passámos pelo pequeno edifício da Alfândega local, onde encontramos à porta o responsável daquele posto aduaneiro e com o qual eu troquei alguns minutos de conversa, sobretudo inquirindo sobre o movimento de mercadorias que actualmente são ali controladas.

Talvez não esperando a questão que apresentei, este responsável defendeu-se o melhor que pôde, procurando explicar-me que faziam o controlo das mercadorias que vinham do vizinho Senegal, para serem exportadas pelo porto de Bissau.

Foi evidente um certo nervosismo quando, de seguida, também lhe perguntei:
- Mas se não existe aqui nenhuma ponte para atravessar o rio e a jangada ser pequena e só levar uma viatura ligeira em cada travessia, como é possível dar resposta a esse movimento de mercadorias que me fala?!

Riu-se e não fez qualquer comentário.

Como não víamos qualquer local para almoçarmos, decidimos telefonar aos colegas de outros dois jeeps que tinham ficado pela zona de Mansoa, a fim de algum deles num indicar uma casa para esse fim.

Em boa hora telefonámos, porque esse grupo que se fazia acompanhar do senhor Djalló, proprietário da empresa dos jeeps em que andávamos, encontrava-se num Hotel Rural, na localidade de Uaque, próximo de Mansoa, onde iriam almoçar e convidaram-nos para esse mesmo almoço.

Estávamos porém a cerca de 120 quilómetros para leste de Mansoa, mas mesmo assim e como a estrada entre Farim e Mansoa era sempre plana e se apresentava com bom piso, decidimos vir para Uaque, onde chegámos cerca das 13,30 horas, mas ainda a tempo de participarmos na churrascada que tinham mandado preparar e que depois comemos à sombra de um redondel coberto com paus e ramos de palmeira.

Terminada a refeição, tivemos oportunidade de efectuarmos uma visita pelo espaço, onde além dos edifícios tradicionais também ali se localizavam salas de jantar e bares, existindo no exterior e isoladas umas das outras, cerca de 15 construções redondas, do tipo “bungalows”, cada um com duas camas e casa de banho privativa.

Na zona central do empreendimento, num grande edifício, funciona a zona da recepção, mas também possui áreas para a realização de conferências e seminários, tudo isto envolvido numa grande mancha verde de vegetação, com muitas palmeiras e outras árvores.


Foto 107 - Hotel Rural “Uaque”: Espaço turístico, localizado entre Mansoa e Jugudul, onde almoçámos, no regresso a Bissau. Começando pelo Djalló, proprietário dos jeeps, vêm-se, sentados à mesa, os colegas Barbosa, Angelino, Leite Rodrigues Rebola, Isidro e Ferreira


Foto 108 - Hotel Rural “Uaque” (Guiné-Bissau): Outra foto do mesmo local onde almoçámos, em que apareço eu, vendo-se de frente o Djalló e de costas os colegas Samouco e Vitorino e um pouco da careca do Moutinho


Foto 109 - Hotel Rural “Uaque” (Guiné-Bissau): Outra foto do almoço, onde à direita aparece o Isidro, o Rebola, o Leite Rodrigues, o Barbosa, o Djalló e ao fundo eu e o Moutinho e do lado esquerdo, o Cancela e o Rodrigo


Foto 110 - Hotel Rural “Uaque” (Guiné-Bissau): “Bungalows” existentes no interior do espaço do empreendimento

Depois de uma manhã bem preenchida por terras do interior leste da Guiné-Bissau, que apesar da evidente pobreza que verificámos existir, principalmente em Mansabá e Farim, gostámos de visitar, a manhã terminou com um bom almoço e um salutar convívio no empreendimento turístico Hotel Rural de Uaque, onde depois passámos uma parte da tarde, conversando, descansando e protegendo-nos um pouco do forte calor que se fazia sentir a esta hora do dia, não sem que antes de partir em direcção a Bissau, fizéssemos uma visita guiada às óptimas instalações deste novo empreendimento, que, pelo que vimos continua a expandir-se.

No decorrer da conversa, ficamos a saber que a sociedade que explora este espaço é também proprietária do agradável complexo da Pousada do Saltinho, situado junto à ponte com o mesmo nome, construída sobre o Rio Corubal, já a caminho da fronteira sul com a Guiné-Conakry, local que desta vez não me foi possível visitar por falta de tempo, e que desenvolve diversas actividades de entretenimento, como jornadas dedicadas à caça e à pesca, bem como caminhadas.

Ficará para uma próxima oportunidade, já que é um lugar muito bonito e aprazível, referenciado positivamente pelas designadas “corredeiras”, que mais não são que pequenas quedas de água existentes junto à ponte sobre o Rio Corubal, mas que toda a gente conhece como os “Rápidos do Saltinho“, nome este que tem origem no facto de as diferenças entre os diversos níveis de água serem pequenas, e que é um local onde, mesmo no tempo da guerra colonial, o pessoal militar gostava de tomar umas boas banhocas, já que apesar da corrente do rio, a profundidade das águas, é relativamente baixa.

Pelo que eu conheci e pelo que me transmitiram os colegas que agora lá foram, o Saltinho continua a ser um lugar paradisíaco, com o mesmo encanto, sendo um espaço que valerá bem a pena visitar.

Passados estes mais que 40 anos, a sensação de o visitar é naturalmente bem diferente, a segurança é total e sentimo-nos perfeitamente à vontade aqui, como em qualquer outra zona da Guiné-Bissau, onde como já foi por mim referido, fomos sempre bem acolhidos.

Depois de um dia bem passado e já com o final da tarde a aproximar-se, regressámos à nossa base em Bissau, sediada no Aparthotel Machado, para tomarmos um refrescante duche e depois jantarmos, desta vez com a companhia das 5 médicas e a enfermeira italianas, que “desenrascámos” dias antes na Praia Varela e que tinham mostrado vontade em vir confraternizar connosco.


Foto 111 - Saltinho (Guiné-Bissau): Uma das imagens de marca de quem se desloca ao Saltinho e aproveita este espectacular cenário para tomar uma banhoca, nas águas do Rio Corubal. Para mim, a visita ficará para uma próxima oportunidade, já que é um lugar lindo e encantador 

Foto: © Hugo Costa / Albano Costa (2006). Todos os direitos reservados


Foto 112 - Saltinho (Guiné-Bissau): Como lembrança do local, cá fica uma bela imagem da ponte em betão sobre o Rio Corubal  

Foto: http://www.povonalu.com/gbterradeoportunidades/


Foto 113 - Saltinho (Guiné-Bissau): Foto dum local já mais perigoso dos “Rápidos do Saltinho”, pois a corrente era mais forte  

Foto: https://www.youtube.com/watch?v=J_nfDEPhOBE


Foto 114 - Bissau: Sentados à mesa do Aparthotel Machado, ao fim da tarde, e bebendo umas cervejas, encontra-se o Azevedo, o Vitorino, o Barbosa, o Angelino, o Rodrigo, o Isidro e de costas o Samouco


Foto 115 - Bissau: À mesa do Restaurante do Aparthotel Machado, no início do jantar com as cinco médicas italianas de Udine, que se encontravam a fazer voluntariado numa clínica hospitalar de Bissau. Recordo que as encontrámos e safámos de ficar com a carrinha Toyota em que se faziam transportar, presas nas areias da Praia Varela

Fotos: © A. Acílio Azevedo, excepto as cujos autores e proveniência foram devidamente indicados

(Continua)
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Nota do editor CV

Último poste da série de 12 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17855: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (8): 6.º Dia: Bissau, Safim, Nhacra, Jugudul, Bambadinca, Bafatá e Gabu (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)

Guiné 61/74 - P17869: Agenda cultural (592): Colóquio Internacional "O Ano de 1917", Universidade de Coimbra, Faculdade de Letras, 4ª feira, dia 18, das 10h00 às 18h30... Um ano que mudou o mundo, da revolução russa às aparições de Fátima e ao envio do 1º corpo expedicionário português para a Flandres, na I Grande Guerra...







1. Cartaz promocional do Colóquio Internacional "O Ano de 1917", Faculdade de Letras da Universidade denCoimbra, Anfiteatro II, 4º piso, amanhã, 4ª feira, dia 18 de outubro de 2018, das 10 às 18h30.

Organização de Clara Isabel Serrano e Sérgio Neto, do CEIS20/UC (Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX)

Conferencistas:

Nicolas Werth (IHTP/CNRS) 
Josep Cervelló (DHHA/URV) 
Manuel Loff (FLUP e IHC/FCSH/UNL) 
Francisco Assis (PE) 
Fernando Pimenta (CEIS20/UC) 
Sérgio Branco (IFILNOVA/FCSH/UNL, CEIS20/UC) 
João Madeira (IHC/FCSH/UNL) 

A conferência de abertura estará a cargo de Nicolas Worth (IHTP/CNRS), historiador francês especialista na história da União Soviética, que proferirá a conferência “Débats et controverses historiographiques autour de 1917”. 

No mesmo painel, moderado por João Paulo Avelãs Nunes, intervirá Josep Cervelló, historiador espanhol, já nosso conhecido, com o tema “De Barcelona a Fátima passando por Madrid”.

Recorde-se que em 2017, celebram-se vários primeiros centenários, desde a revolução russa às aparições de Fátima... Em 1917, é de lembrar, Portugal entrava na I Grande Guerra, com o envio de um corpo expedicionário para a Flandres. Mutos dos acontecimentos desse ano são desconhecidos dos nossos leitores. Por exemplo, em novembro de 1917,  "colunas militares alemãs, comandadas pelo general von Lettow, penetram profundamente no território de Moçambique, a partir da fronteira norte.",,, A 25 de novembro de 1917, em Negomano, morre o herói das "campanhas de pacificação" na  Guiné (1913-1915), Teixeira Pinto:

Domingo, 25 de Novembro de 1917 > Combate de Negomano, Moçambique

"Os portugueses são surpreendidos pelas forças alemãs em Negomano, Cabo Delgado, Moçambique. O resultado é um verdadeiro desatre para os portugueses. O ataque alemão fez vários mortos, oficiais, soldados europeus e africanos e o comandante Teixeira Pinto, abatido a tiro. Foram, ainda, feitos prisioneiros."..
.

É também de finais de 1917, o triunfo do sidonismo e o início da grave crise que levará, em 1926, ao derrube da I República, com a instauração da Ditadura Militar e depois a institucionalização do Estado Novo...


2. Mensagem, com data de 15 do corrente, de Sérgio Neto, historiador, autor de
"Do Minho ao Mandovi: um estudo do pensamento colonial de Norton de Matos" (Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2016) (*)



Caro Luís Graça

Espero que esteja tudo bem. Vinha por este meio convidá-lo a estar presente no Colóquio "O Ano de 1917", sobre as revoluções russas (com uma comunicação versando a questão colonial portuguesa), que se vai realizar no próximo dia 18 de Outubro, pelas 10.00, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

Envio o cartaz e o folheto contendo o programa. Pedia, se estiver de acordo, a publicitação no vosso blog.(**)

Melhores cumprimentos
S. Neto

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Notas do editor

(*) Vd. poste de 6 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17213: Agenda cultural (552): Lançamento do livro de Sérgio Neto, "Do Minho ao Mandovi: um estudo do pensamento colonial de Norton de Matos" (Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2016): 10 de abril, 2ª feira, às 17h00, Casa Municipal da Cultura, Coimbra. Apresentação: professores doutores Luís Reis Torgal e Armando Malheiro da Silva

Guiné 61/74 - P17868: O nosso livro de visitas (195): José Claudino da Silva, ex-1º cabo condutor auto, 3ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74, autor do livro de ficção "Desertor 6520" (Lisboa, Chiado Editora, 2016, 418 pp.)


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CCAÇ / BART 6520/72 (1972/74) > O 1º cabo condutor auto José Claudino da Silva, junto a um memorial de uma companhia que passou por ali em 1966/68. (Tudo indica que seja a CCAÇ 1624 que, segundo a ficha da unidade,  esteve em Fulacunda, Catió, Fulacunda, Bolama, Mejo, Porto Gole, Fulacunda, entre novembro de 1966 e agosto de 1968: vd. verso do memorial, na foto a seguir, de 2015).

Foto (e legenda): © José Claudino da Silva (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Região de Quínara > Fulacunda > 24 de outubro de 2015 >  O que resta do memorial da CCAÇ 1624 / BART 1896, assinalando a morte de dois militares portugueses: sold nº 17765, Saliu Djassi, natural de Fulacunda,  morto em combate, em 13/1/67, sepultado em Bissau; e sold nº 9028766, Guilherme [Alberto] Moreira, natural de Mirandela, morto em combate, em 21/1/68, sepultado em Milhais, Mirandela.... Ambos pertenciam *a CCAÇ 1624.

Sobre o sítio escreveu a nossa amiga Adelaide Barata Carrêlo, turista acidental que passou por aqui a caminho de Bafatá: " (...) Fulacunda, local inóspito onde a Guiné é mais dela, o tempo parou, as crianças quase não existem e... os mais velhos falam dos portugueses de outros tempos"...

Foto (e legenda): © Adelaide Barata Carrêlo (2016), Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. M
ensagem de José Claudino da Silva com data de 3 do corrente:

Sou o ex-combatente, 1º cabo condutor, José Claudino da Silva.

Em 2016 publiquei um romance de ficção, com partes reais da Guerra Colonial. Em homenagem ao meu Batalhão dei-lhe o titulo "DESERTOR 6520" [Lisboa, Chiado Editora, 2016, 418 pp.].

Durante os cerca de dois anos que permaneci em Fulacunda, escrevi todos os dias. Penso ter em meu poder cerca de meio milhão de palavras escritas à minha namorada, que se transformou em minha esposa e que guardamos até hoje.

Após 45 anos, decidi reler o que escrevi e honestamente, parece-me que a minha guerra, não teve nada a ver com as variadíssimas histórias de guerra, que li escritas por camaradas nossos.

Não quero publicar a minha visão da guerra aos 22/ 23/24 anos, sem ter o aval de alguém,  como o senhor,  que penso ser das pessoas mais esclarecidas pelas publicações que tenho lido. Por isso o meu apelo, é se estaria disposto a dar-me a sua opinião,  mesmo antes das correcções que terei de fazer no texto a publicar.

Nesse sentido,  se concordar, enviarei o texto original para este mail,  informo que terá cerca de 30.000 palavras.

Um abraço. José Claudino da Silva


2. Resposta do nosso editor, na volta do correiro:

Camarada, teremos muito gosto em ler o teu manuscrito e dar-te a nossa opinião de amigos e camaradas mas também de críticos literários...

Conta com a nossa boa vontade, colaboração ativa e sigilo... Poderás, depois, se assim o entenderes, publicar alguns excertos no nosso blogue...Ficas desde já convidado para integrar a nossa Tabanca Grande: somos já 755 camaradas e amigos da Guiné...

Uma dúvida... És do BART 6520/72 ou do BART 6520/73 ?

Um abraço do Luís Graça

3. O José Claudino mandou-me 2 textos para apreciação, a título confidencial, do seu manuscrito, correspondente a dois pequenos capítulos: 40º. 16 horas no mato;  44º. O Fnado. E respondeu aos meus pedidos de esclarecimento, em mensagem de 4 do corrente:

Obrigado pelo vossa resposta.

Envio dois capítulos para terem uma ideia do meu estilo de escrita. O que está entre aspas, foi o que escrevi na Guiné há 45 anos Em breve enviarei o texto completo.

Pertenci ao BART 6520/72 (que tinha a CCS em Tite, a 1ª Cart em Jabaadá; e 2ª Cart em Nova Sintra. e nós, 3ª Cart,  em Fulacunda entre 1972/74).

A companhia que fomos render foi a CART 2772,  conhecida como "Os Capicuas".

Terei gosto em colaborar no blogue.

Retribuo o abraço,  José Claudino


4. Resposta do editor, no mesmo dia:

José, pela amostra, temos escrita e escritor, tens garra, o que escreves e escreveste tem interesse documental... Falas sobre ti e a nossa geração, sacrificada e desprezada... Depois dirás o que publicar (ou não) no blogue... A tua ideia é publicar em livro ? É isso ? E,  se sim, já tens contactos com editoras ?

Acho que não vale a pena hoje fazer "autocensura"... Sei que há temas delicados, como a nossa sexualidade (, porra, tínhamos 21/22 anos, e as esposas ou as namoradas ficaram longe, a milhares de quilómetros!)... Por outro lado, há questões sobre as quais estávamos mal informados: caso da Mutilação Genital Feminina, a poligamia, o casamento, as diferenças étnicas e linguísticas... Atenção, o "fanado" é mais antigo que o Islão e a islamização...

Acho intelectualmenet honesto, da tua parte, discriminares os textos de há 45 anos e os textos de hoje... Quanto às fotos, deves legendá-las e atribuir-lhes os respetivos créditos autorais (no caso de não serem tuas)...

Diz-me onde moras... tens aqui o meu nº de telemóvel (...) 

Um Alfabravo (ABraço)... Luís Graça

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segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17867: (Ex)citações (324): os memoriais de Buruntuma (CART 1742, 1967/69) e Ponte Caium (3º Gr Comb, CCAÇ 3546, Piche, 1972/74): Abel Santos, António Rosinha, Carlos Alexandre e Valdemar Queiroz



Guiné > Região de Gabu > Buruntuma > CART 1742, "Os Panteras" (1967/69) > Guiné > Região de Gabu > Buruntuma > Memorial, sob a forma de lua em quarto crescente, desenhado por João Fernando Lemos dos Santos, ex-Soldado Condutor Auto> "Que os vivos mereçam os nossos mortos"... Ao fundo, à esquerda a capelinha, cujo desenho é da  autoria do José Mota Tavares, ex-alferes mil capelão, CCS/BCAÇ 1856, Nova Lamego, 1965/67) (*)

Foto (e legenda): © Abel Santos (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Gabú > Piche > Destacamento de Caium > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > 1973: monumento construído pelo pessoal destacado na ponte, do 3º Gr Comb, localizado no tabuleiro da ponte, no lado esquerdo, no sentido Piche-Buruntuma. O desenho é da autoria de Carlos Alexandre e, originalmente, tinha a forma de lua em quarto minguante.

Na foto, vê-se em primeiro plano, sentado na base do monumento, o Teixeira, de barbas; em segundo plano, e da esquerda para a direita, o Florimundo Rocha (condutor, natural da Praia da Rocha, Portimão); o Carlos Alexandre (radiotelefonista, natural de Peniche, que estava e está ligado à construção naval, com a profissão de carpinteiro naval), do qual só se vê a cara; e o Manuel da Conceição Sobral (natural de Cercal do Alentejo, Santiago do Cacém, ajudante de padeiro do Jacinto Cristina no destacamento). Ao lado do Rocha, à sua esquerda, vê-se o pequeno oratório tendo, na sua base, inscrita a legenda "Nem só de pão vive o homem"...

Foto (e legenda): © Carlos Alexandre (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]. 



Guiné-Bissau > Região de Gabú  > Ponte Caium > Abril de 2010 > Monumento de homenagem aos bravos de Caium, os mortos do 3º Gr Comb da CCAÇ 3546 (1972/74): "Honra e Glória: Fur Mil Cardoso, 1º Cabo Torrão, Sold Gonçalves, Fernandes, Santos, Sold Ap Can [Apontador de Canhão s/r ] Silva. 3º Gr Comb, Fantasmas do Leste, Guiné, 72/74".

É espantoso como, 37 anos depois, o nosso camarada Eduardo Campos, ao passar por lá, tenha conseguido captar esta imagem do memorial ainda quase intacto (falta-lhe a cruz que o encimava) e em razoável estado de conservação... Noutros sítios, estes monumentos funerários deixados pelas tropa portuguesa foram vandalizados ou destruídos (pela ação humana, incúria, inclemência do tempo, etc.).

O memorial da Ponte Caium é mais recente (1973) do que o de Buruntuma, da CART 1742 (1967/69). À primeira vista, parece haver  algumas semelhanças na forma e elementos decorativos (a meia lua, o sol...) dos dois monumentos. Não sabemos se o Carlos Alexandre, que desenhou o monumento da ponte de Caium,  conhecia o de Buruntuma, de visita ou de fotografia. É um pormenor um dia a esclarecer por ele. O de Buruntuma é seguramente mais antigo, são quatro anos de diferença.

Em tempos o Carlos Alexandre deu-nos a seguinte a informação sobre o desenho e a construção do memorial: 

 "O monumento foi desenhado e realizado com a participação de quase todo o grupo [,3º  Gr Comb, da CCç 3546, sediada em Piche] e todo ele foi construído com areia, cimento e ferro. Foi desenhado e recortado no chão, forrado a papel para não colar e cheio de cimento, ferro e pedras. Ao ser levado para o sítio onde ainda hoje está, partiu-se a ponta que fazia o seguimento da meia lua. Como não podia ser reparado, optamos por fazer uma pequena escadaria e uma cruz." (**)

Foto (e legenda): © Eduardo Campos (2010) .Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].




Guiné > Zona Leste > Região de Gabú > Setor de Piche > Carta de Piche > Localização (assinalada a amarelo) da Ponte do Rio Caium, na estrada Piche (a sudoeste)-Buruntuma (a nordeste, junto à fronteira com a Guiné-Conacri), sensivelmente a meio entre as duas localidades. O Rio Caium corre para sul, sendo um afluente do Rio Coli (que separa os dois países, num largo troço da fronteira leste).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015)

1. Comentários ao poste P17862 (***)

(i) Abel Santos:

O memorial da Ponte Caium terá sido a peça "mais artística" que nós deixámos na Guiné, de homenagem aos nossos mortos ?

Há uma mais acima da Ponte Caium, em Buruntuma, que é uma peça arquitectónica que pede meças com qualquer outra deixada por nós na Guiné Portuguesa.

(ii) António Rosinha:

Já se passaram vários anos, palmilhei de jipe, pelo menos duas vezes, aquele percurso desértico da Ponde Caium até Buruntuma [, na fronteira,]  e lembro-me que os restos das instalações lá continuavam e não estavam totalmente abandonadas.

Tenho ideia que nalguma das instalações ou ao redor delas, fazia-se a feira à maneira dos muçulmanos...tabaco, limões, mancarra, óleo, etc.

Corri aquilo tudo numa altura em que não era nadinha simpático, aos olhos de Luís Cabral e de 'Nino' Vieira, andar de máquina a tiracolo,  de maneira que tudo o que guardo, é de memória.

No meio daquela tristeza de terras e gente semi-abandonadas, por volta de 1991/92/93, até davam nas vistas aqueles restos de instalações junto à fronteira, mas não me lembro que o que restava, chamasse tanto atenção como a ponte de Caium.


(iii) Valdemar Queiroz:

Só de ouvir falar, neste caso de ler, sobre a Ponte Caium me arrepio todo. Vejam as várias fotos publicadas no nosso blogue. É de arrepiar.

Um quartel, ou um destacamento edificado em cima de uma ponte não lembra ao diabo. O meu Pelotão, agora não me lembro quando e porquê, foi ao destacamento da Ponte Caium, talvez levar mantimentos e munições.

Julgo que seriam mais ou menos 40 homens dentro duns pequenos casebres de bidões com brita nos lados laterais da Ponte e em todo o seu comprimento. Quase todos em tronco nu, com um olhar turvo, magros e com cara e corpo de cor amarelada. Quase todos tinham este aspecto. Fiquei muito impressionado e nunca mais me vou esquecer.

Este memorial é duma grande nota artística e felizmente que ainda permanece em pé e de boa saúde. Valha-nos isso, todos aqueles homens que estiveram destacados na Ponte Caium bem o merecem. (****)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16049: Na festa dos 12 anos, "manga de tempo", do nosso blogue (8): A bonita e original capelinha de Buruntuma, de estética modernista (José Mota Tavares, ex-alferes mil capelão, CCS/BCAÇ 1856, Nova Lamego, 1965/67)


Guiné 61/74 - P17866: Estórias do Juvenal Amado (58): A minha avó Deolinda Sacadura, uma mulher do 5 de Outubro

Avó Deolina Sacadura

1. Em mensagem do dia 9 de Outubro de 2017, o nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), presta homenagem à sua avó Deolinda, uma mulher que viveu nos duros tempos da transição do século XIX para o século XX, que como tantas daquele tempo, criou um rancho de filhos, como se dizia então, muitas vezes sem a presença por perto dos maridos.


HISTÓRIAS DO JUVENAL AMADO

57 - UMA MULHER E O 5 OUTUBRO

Não basta olharmos para alguém para descortinarmos a sua história. Os afectos, os seus momentos maus, possivelmente julgamos ver sua felicidade ou tristeza, se elas forem genuínas e transparecerem como água pura e límpida.
Essas pessoas por vezes enchem-nos com as suas palavras e esvaziam-nos com os seus silêncios. A minha avó Deolinda era assim. Calma, segura, de saúde débil, para além das suas enfermidades guardava no seu corpo velho e curvado todo o saber de uma vida de luta. Mulher que a idade fez pequena em altura, mas só ela metia na ordem os nove filhos e filhas, que teve como única herança do meu avô. Todos se calavam quando ela falava, todos apertavam as mãos e na sua presença, todos escondiam as desavenças, os litígios nem que fosse só naquele momento.

O respeito que lhe deviam ditava as atitudes e não era gente fácil, porque não há famílias perfeitas e a dela também o não era. Criou-me até certa altura, uma vez que a minha irmã nasceu logo a seguir a mim, e lembro-me dela sempre com carinho. Recordo que me contava episódios da sua vida, falava sobre o meu avô lhe aparecer embrulhado num cobertor, depois de nada saber dele durante semanas e como ele desaparecia novamente para o sonho que lhe incendiava dias e as noites. Falava sobre a implantação da República e a sua esperança em novos tempos. Também ela foi uma heroína discreta da implantação da Republica.

Também me recordo da sua mágoa, quanto aos resultado dos vários falhanços, que desembocaram num regime triste, cinzento e sufocante. Não tinha sido para isto que tanto português tinha dado o seu sangue. Na sua casa juntava os netos, que com pouca coisa se entretinham. Autocarros construídos com as cadeiras das sala de fora, brincávamos com idas para a Nazaré ou até em voos mais largos viagens até Lisboa. Ela simplesmente gozava a nossa companhia, cozendo ou escrevendo algo quase encostado ao nariz tal, era a miopia de que padecia. Fazia-nos o lanche, fazia-nos desarmar o “autocarro” para comermos à volta da mesa o pão com manteiga polvilhado de açúcar, canela e café de cevada.

Eu fui criado por ela até aos cinco ou seis anos anos mas fui sempre estar com ela nos anos seguintes, sempre que podia e assim, beneficiei das suas histórias sobre o meu avô e companheiros na sua luta pela instauração da República. Falava-me da prima dela, Sara, a qual estava no grande retrato ao estilo 1900 na sala de jantar, emoldurado num belo caixilho em arte nova. Contava-me ela tinha morrido muito jovem de tuberculose e que tinha um problema pois não podia olhar para um relógio, que o parava logo. Não sei se era ela a brincar comigo, se tinha sido verdade, uma coisa era certa, ela era muito bonita mas eu não entrava na referida sala sozinho, por nada deste Mundo.

O retrato emoldurado da prima Sara

De manhã cedo apreciava a minha avó no seu ritual de molhar o pente em álcool e pentear os seus longos cabelos, que depois manipulava habilmente numa trança que de seguida enrolava na parte de trás da cabeça e prendia com longos ganchos de tartaruga. Sempre vestida de preto, só saía sozinha para tratar das galinhas e mesmo assim, o cão e eu fazíamos-lhe companhia pelo longo e escuro corredor que dava acesso ao pátio.

De vez enquanto passávamos pelo vizinho de baixo, que tinha combatido na 1.ª Grande Guerra. Eu tinha especial medo dele, pois quando estava mais atacado, escondia-se nos umbrais das portas acendendo fósforos e atirando com eles ao ar. Julgou eu hoje que ele na sua demência alcoolizada, fazia dos fósforos very-light e recriava na sua cabeça as situações por que passou. Morreu vítima dos gases, do vinho, do tabaco, do esquecimento e pobreza não só física como de espírito. Viu três netos serem mobilizados.


A minha avó Deolinda morreu depois de longa e penosa doença em 1973 quando eu estava na Guiné . A data nunca soube ao certo, uma vez que a minha mãe assim o entendeu e nunca me mandaram dizer. Talvez porque deixei de receber correio da minha mãe e da minha tia durante um período, eu tenha mais tarde relacionado com a altura da sua morte.

Quem a via, nada sabia da sua força, do seu conhecimento, da sua esmerada educação. Ela encheu-nos com as suas palavras e esvaziou-nos com o seu silêncio. Não me viu regressar, não conheceu a minha mulher nem filha, não assistiu a nada da minha vida, não viu em que homem me tornei, nem sabe do carinho que nós netos temos pela sua memória.

Neste 5 de Outubro, data que lhe era cara e nos ensinou a respeitar, lembrei-me dela das suas costas arqueadas, das suas pernas inchadas, dos seus óculos de lentes grossíssimas, mas acima de tudo recordei a sua sabedoria e prazer que tinha da sua companhia.

Um abraço
Juvenal Amado
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17763: Estórias do Juvenal Amado (56): Lisboa aqui tão perto... da "Ginjinha" do Rossio ao fórum Tivoli, onde fui assistir ao lançamento do novo livro do José Saúde, "AVC - Recuperação do guerreiro da liberdade"

Guiné 61/74 - P17865: Notas de leitura (1005): “AVC Recuperação do Guerreiro da Liberdade, Uma vitória no mundo dos silêncios”, por José Saúde, Chiado Editora, 2017 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Outubro de 2017:

Queridos amigos,

Temos aqui o testemunho de um confrade nosso cuja vida foi brutalmente flagelada por um AVC, tinha ele 55 anos. É uma narrativa de alguém que nunca aceitou desistir e que hoje, apesar de limitações, se sente autodeterminado, tem carro adaptado, convive, escreve, não pára de sonhar, quer ser útil.
É um testemunho muito sentido, minucioso, um confronto entre um inesperado pesadelo e a subida íngreme para a autonomia, apesar de tudo.
Este livro é um hino à vontade de viver.

Um abraço do
Mário


José Saúde e um AVC contado na primeira pessoa

Beja Santos

José Saúde

O livro intitula-se “AVC, Recuperação do Guerreiro da Liberdade, Uma vitória no mundo dos silêncios”, por José Saúde, Chiado Editora, 2017. A substância do testemunho é um AVC que deixou aos 55 anos o nosso confrade José Saúde entre a vida e a morte. É uma descrição detalhada, que não escusa o íntimo, desses momentos de descalabro em que não se sabe contabilizar o volume das perdas até à recuperação em que se reganha a dignidade e autonomia, graças a uma resiliência inabalável.

Tudo começou na madrugada de 27 de Julho de 2006. A vontade superou as marcas físicas e reversíveis, o acidentado tornou-se uma pessoa motivada, dispõe de um carro adaptado às suas deficiências, move-se a pé pelas ruas da cidade de Beja, e faz um apelo genuíno a quem sofreu de um abalo tão demolidor: “As nossas mazelas, sendo evidentes, não podem, tão-pouco devem, servir de obstáculos a uma vivência rica em experiências inolvidáveis. O nosso ego propõe-nos conquistas num território armadilhado mas incansavelmente superadas”.

O que ele testemunha é que se considera um homem livre, que rejeita o coitadinho, a despeito das sequelas a nível dos membros, superior e inferior, do lado direito. “A minha mão não mais mexeu e a perna mostrou sinais de vitalidade mas de acordo com a extensão do dano. O membro inferior superou o possível e permitiu-me, em certa ocasião, deixar a cadeira de rodas, depois a bengala, apetrechos que muito ajudaram a ultrapassar uma condição considerada deprimente”. Teve alta em 11 de Agosto de 2006, saiu do hospital em cadeira de rodas. Começou o processo da recuperação. Logo a fala, não conseguia emitir sons percetíveis, começou um trabalho insano. Fazia frequentemente análises clínicas. Vivia inquieto: que será feito de mim, qual o meu futuro, será que voltarei a conviver com os meus amigos, como será a minha reintegração no processo familiar, será que vou sair da cadeira de rodas?

E disserta sobre o AVC e depois a fisioterapia, o uso do standing frame, um aparelho que proporciona uma alternativa posicional a quem está sentado numa cadeira de rodas, aprendeu tarefas conducentes a uma maior autonomia, a fazer a sua higiene, a respeitar escrupulosamente os alertas. Passou a olhar para o mundo de modo diferente, aprendeu com as limitações físicas e a reconhecer como é bom saudar a vida com prazer. E faz novo apelo: “Lembro, para ajudar alguém que é portador de um acidente vascular cerebral, tem primeiramente que recolher informações concisas sobre a forma de como lidar com o prejuízo que nos subjuga”. Adaptar é a palavra de ordem, toda a casa, a adesão à fisioterapia, o ganhar paulatinamente, deixando a cadeira de rodas, contando com a bengala, ganhando lutas com as pedras da calçada, a dominar a ansiedade, e assim se chega ao que é hoje: “Tomo banho, desfaço a barba, visto-me e calço-me, abotoo os botões, faço máquinas de roupa, estendo-a e apanho-a, passo-a a ferro, tomo o meu café, almoço a janto, trabalho no meu computador, passeio, convivo com os amigos. Ajudas, só em caso de extrema necessidade. Abdico da faca pela inércia da mão direita. Em casos pontuais solicito auxílio".

Superou o desapontamento quando um médico lhe disse que não podia voltar a conduzir, lutou e obteve um atestado médico, abriu nova porta de liberdade. Conta histórias dos altos e baixos, caso das injeções de botox, havia promessas de melhorar os músculos afetados, José Saúde entendeu desistir do medicamento e escolheu ser internado no Centro de Medicina e Reabilitação do Sul, em S. Brás de Alportel, sentiu-se compensado.

Com o tempo, voltou à praia, apreciou sentir a aranha macia, retomou a vida social, retomou o gosto da escrita, em 2013 publicou um livro sobre as suas memórias da Guiné-Bissau, chamou à atenção para os “filhos do vento”, aqueles frutos de amores espúrios entre militares e mulheres guineenses. Sente hoje muito mais força anímica contratando pessoas. Continua vigilante: “Dissecando a doença que atormenta, e não entrando exclusivamente por saberes dos técnicos de saúde, o meu problema, embora estável, não é seguro. Assumo essa inevitável certeza”.

Também para ajudar os outros acidentados pelo AVC, recorda o papel da mente na recuperação, a descoberta das imensas capacidades que mantemos ocultas, como, pela inversa, não devemos ignorar as taxas de insucesso, um terço das pessoas que sofreram um AVC ficaram incapacitadas. Apelando a que ninguém desanime, lança-lhe uma consigna: “Tropece e erga-se de imediato”.

Para os leigos, explica que há dois tipos de AVC, o isquémico e o hemorrágico, quais os tratamentos e a recuperação, bem como as sequelas. Depois do AVC, muitas coisas mudam na vida e os cuidados para a alimentação ganham prioridade. Testemunhando na primeira pessoa explica como supera os engasgos, as vantagens da natação, a recuperação da afazia. Leva mais de dez anos depois do AVC, conseguiu a autodeterminação, integrou-se na vida familiar, com maior pujança, alinha, a título de aviso que há comportamentos que têm que mudar. O médico fisiatra de José Saúde compraz-se com a alegria de viver que ele transmite, a alegria como sistema de vida, como esquema tático, bola para a frente e fé em Deus, prognósticos só no fim do jogo e esse ainda vem longe.

Um muito bonito testemunho de quem saiu vitorioso do mundo dos silêncios.
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17861: Notas de leitura (1004): “Casa dos Estudantes do Império, Subsídios para a História do seu período mais decisivo (1953 a 1961)”, por Hélder Martins; Editorial Caminho, 2017 (Mário Beja Santos)

domingo, 15 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17864: O nosso livro de visitas (194): António Fernando Rouqueiro Ramalho, ex-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71)....Será possível saber do paradeiro da menina Helga dos Reis que eu e o cabo enfermeiro do meu pelotão ajudámos a vir ao mundo, em 6 de janeiro de 1971, na tabanca de Ponta Consolação (Nhinte) ? A estar viva, terá hoje 46 anos

1. Mensagem do nosso leitor e camarada António Ramalho:

Data: 15 de outubro de 2017 às 11:00

Assunto: Guiné 1969/1971

Caro camarada Luís Graça.

Na apresentação do livro  "As Mulheres e a Guerra Colonial", de Sofia Branco,  foi-me sugerido a consulta do seu blogue que apreciei, e onde está o seu endereço,  além de outros contactos.

Por sugestão da autora e sobre um tema que lhe apresentei, sugeriu-me que o contactasse.

Fiz parte da CCAV 2639 (independente de qualquer Batalhão, sob o comando do Com-Chefe) desde outubro de 1969 até setembro de 1971, na zona de Bula, Binar, Bissorã (Bissum), substituída pela 2748 (?),  comandada por Salgueiro Maia.  [O cap cav Salgueiro Maia foi comandante da CCAV 3420, Bula, 1971/73 (LG)]

Já fui convidado para lá voltar, o que recusei pois não quero presenciar a destruição de tudo aquilo que fizemos em prol das populações, nossos compatriotas na altura.

Além da parte operacional, fizemos o reordenamento das tabancas de Capunga, Pete e Ponta Consolação (Nhinte).

Nesta última assisti ao parto,  acompanhado pelo cabo enfermeiro do meu Pelotão.  no dia 6 de
janeiro de 1971, de uma menina que logo a baptizamos como Helga dos Reis.

A tabanca era chefiada por um cidadão chamado Eusébio. Esta menina terá hoje 46 anos, será possível saber do seu paradeiro, estará em Portugal?

Apresento-lhe os meus mais respeitosos cumprimentos.

António Fernando Rouqueiro Ramalho

2. Mensagem posterior do António Ramalho:

Nasci a 3 de Janeiro de 1948, em Vila Fernando, Elvas, mas não sou médico, se tem havido tempo teria sido agrónomo ou veterinário!  ( "O Mirante", semanário regional de Santarém, há anos que mantém esta "gralha" por inúmeras vezes tentei corrigi-la mas pelos vistos ainda se mantéa: não confundir a minha pessoa com um tal António Fernando Rouqueiro Ramalho, de 69 anos, também feitos em 3 de janeiro de 2017, médico, ex-diretor do Centro de Saúde de Azambuja).

Estive nas Contribuições e Impostos de passagem, era muito trabalho para pouco salário! Toda a minha vida estive ligado à indústria agro-alimentar, já na Guiné comíamos frangos com a "minha patente"!... Era a empresa guineense A.M. Correia de Paiva que os importava, lembram-se?

Estive na Guiné como Furriel Miliciano, distinto atirador de Cavalaria,com fraca pontaria!
Obrigado por me ter corrigido o nº da CCAV. do Salgueiro Maio, que foi meu instrutor em Santarém e quis o destino que nos fosse substituir à Guiné.

Envio então a foto que corresponde ao meu nome, muito mais bonita que a anterior!...
Um forte abraço para todos os que consultam o Blogue.

Se o tempo o permitir conto estar na Casa do Alentejo no próximo dia 21/10 [, na apresentação do livro do José Saúde].

3. Nota do editor:

Caro António Ramalho, vejo que és da terra do Mário Fitas. um dos membros séniores ds Tabanca Grande,

Por outro lado, constato que fomos contemporâneos na Guiné, com uma diferença de cinco meses... Eu cheguei à Guiné em finais de maio de 1969, integradao na CCAÇ 2590, futura CCAÇ 12. E regressei a casa em março de 1971.

A Sofia Branco é nossa amiga, e contou com o apoio do nosso blogue  na elaboração do seu livro "As mulheres e a guerra colonial" (Lisboa, A Esfera do Livro, 2015).

Sobre a CCAV 2639 tínhamos até agora 13 referências e dois representantes na nossa Tabanca Grande, o Victor Garcia, ex-1º Cabo Atirador, e o Mário [Jorge Figueiredo] Lourenço, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista. [Esta companhia esteve adida ao BCAV 2868, Bula, 1969/70].

Seria interessante tu,  António Ramalho, pudesses (e quisesses) juntar-se a nós: somos, desde 2004,  uma Tabanca Grande, já com 755 amigos e camaradas da Guiné... A nossa única missão é partilhar memórias (e afetos) daquele tempo em que lá estivemos fazendo a guerra e... a paz.

Espero poder conhecer-te ao vivo, no próximo sábado, na Casa do Alentejo

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Nota do editor:

Último poste da série >  1 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17717: O nosso livro de visitas (193): Daniel dos Santos, nascido na Praia, Cabo Verde, autor de "Amílcar Cabral: um outro olhar" (Lisboa, Chiado Editora, 2014, 604 pp.)

Guiné 61/74 - P17863: Blogpoesia (533): "São verdes e negras..."; "Mais um pouco..." e "Língua materna", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


São verdes e negras…

São verdes as folhas que brotam da seiva da terra.
As capas e mantas que cobrem as serras e vales.
Os fundos imensos na obscuridade dos mares, coberta de limos e algas.
São negros os fumos das fábricas que devoram os ares.
A metralha mortífera que jorra dos castelos da força.
Os ditames tiranos das leis do dinheiro que manietam as almas e aprisionam os sonhos.
Secaram as fontes que jorravam amor do ventre da terra.
Soam gemidos e gritos pelos quadrantes do mundo, clamando justiça e paz.
Desfeita de dor, agoniza a esperança, aquele sopro divino aceso na alma dos povos.

Ouvindo Sibellius
Berlim, 13 de Outubro de 2017
6h3m
Jlmg

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Mais um pouco...

Não me sai da cabeça este tema.
Não sei se já o li nem onde, nem de quem.
Vou segui-lo e ver onde me leva.
Pelo meu pé.
Mais um pouco e serei astro.
Sem ser estrela.
Diadema dum rei ou dum herói.
Serei mar ou só um rio.
Já fui pobre. Agora rico.
Vivi na sombra. Um deserdado.
Sempre acesa a minha chama.
Bem desperto. Muito atento.
Guardando o belo e o bom.
Na hora certa, a porta abriu.
A luz entrou.
Que mar azul.
Seara verde.
Jardim em flor.
Árvores com fruto.
Quase a cair.
Foi só colher.
Enchi os cestos.
Chamei amigos.
Ofereci ao mundo.
Nada sobrou.
Sejam doces e façam bem.
Mais um pouco e será tudo...

ouvindo Dulce Pontes
Berlim, 15 de Outubro de 2017
9h9m
Jlmg

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Língua materna

Tinha tremas e acentos breves o falar doce que meus pais me deram.
Eram quentes as suas sílabas.
E as palavras que me diziam calaram tão fundo, nunca mais esqueci.
Brilhante a luz para um mundo lindo.
Há tanto ano,
Tinham calor,
Ainda hoje brilham.
Que suave o timbre da voz que tinham.
Tão bem diziam.
A melhor escola que me deu a vida.
Tudo aprendi.
Tudo me deu.
Nunca mais a esqueço.
Sou como sou.
Dela nasci.

Berlim, 9 de Outubro de 2017
8h5m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17836: Blogpoesia (532): "Oração ao mar..."; "Levitação das pedras" e "Através das frestas...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P17862: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (52): Das pequenas recordações dos vários quartéis a mais artística que ficou lá a "apodrecer", foi o memorial na ponte de Caium


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Ponte Caium > Abril de 2010 > Dois monumentos de homenagem aos bravos de Caium, constituídos por: (i) Memorial aos mortos da CCAÇ 3546 (1972/74): "Honra e Glória: Fur Mil Cardoso, 1º Cabo Torrão, Sold Gonçalves, Fernandes, Santos, Sold Ap Can [Apontador de Canhão s/r ]Silva. 3º Gr Comb, Fantasmas do Leste. Guiné- 72/74"; (ii) Pequeno oratório com a legenda "Nem só de pão vive o homem. Guiné, 1972-1974". A foto é do Eduardo Campos que por lá passou em Abril de 2010.

Na altura (em novembro de 2010), escrevemos  o seguinte:

 "É espantoso como, 37 anos depois, o memorial p.d. esteja ainda quase intacto (falta-lhe a cruz que o encimava) e em razoável estado de conservação... Noutros sítios, estes monumentos deixados pelas tropa portuguesa foram vandalizados ou pura e simplesmente destruídos. Hoje, pelo contrário, há uma tentativa para os recuperar. Estamos no nordeste, em pleno chão fula, próximo da fronteira com a Guiné-Conacri, a meio caminho entre Piche e Buruntuma".

Foto: © Eduardo Campos (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Comentário de Antº Rosinha (*), a propósito do memorial aos mortos da CART 1525 (Bissorá, 1966/67), entretanto "canibalizado" em data recente (enter 2011 e 2017):

[António Rosinha, foto à esquerda, Angola, 1961

(i) beirão, tem acaba mais de 100 referência no nosso blogue, 

(ii) é um dos nossos 'mais velhos' e continua ativo, com maior ou menor regularidade, a participar no nosso blogue, como autor e comentador;

(iii) andou por Angola, nas décadas de 50/60/70, do século passado;

(iv) fez o serviço militar em Angola, foi fur mil, em 1961/62;

(v) diz que foi 'colon' até 1974 e continua a considerar-se um impenitente 'reacionário';;

(vi) 'retornado', andou por aí (, com passagem pelo Brasil), até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência';

(vii) o seu patrão, o dono da TECNIL, era o velho africanista Ramiro Sobral;

(viii) é colunista do nosso blogue com a série 'Caderno de notas de um mais velho'';

(ix) pelo seu bom senso, sensibilidade, perspicácia, cultura e memória africanistas, é merecedor do apreço e elogio de muitos camaradas nossos, é profundamente estimado e respeitado na nossa Tabanca Grande, fazendo gala de ser 'politicamente incorreto' e de 0chamar os bois pelos cornos';

(x) Ao Antº Rosinha poderá aplicar-se o provérbio africano, há tempos aqui citado pelo Cherno Baldé, o "menino e moço de Fajonquito": "Aquilo que uma criança consegue ver de longe, empoleirado em cima de um poilão, o velho já o sabia, sentado em baixo da árvore a fumar o seu cachimbo". ] (**)


Tenho que emitir a opinião daquilo que vi e senti e pressenti sobre o assunto.

Ou seja, porque ficou mais ou menos tudo intocado e abandonado, ou aproveitado para qualquer utilidade das poucas coisas que restaram da presença das tropas que foram da metrópole para as ex-colónias?

Não sei se sabem que todos os quarteis de Bissau foram aproveitados na integra, e com os mesmos nomes:Artilharia, Força Aérea, Engenharia, etc,

Em Gabu, Catió, Cufar e noutros lugares ou para quarteis ou para armazens ou para moranças, fez-s algum aproveitamento, deixando tudo intocado até o pau da bandeira foi aproveitado.

Apenas as estátuas foram derrubadas, e porque foi Luís Cabral a ordenar, caso contrário ainda hoje estariam lá com capim à volta e criar musgo e verdete.

Para mim, reacionário, quase tanto como muitos velhos régulos que foram fuzilados, a apatia e o negativismo e a decepção que aquela "vitória" do PAIGC trouxe à Guiné foi tão grande, que toda a gente ficou anos e anos de braços caídos sem energia para fazer qualquer coisa daquelas lembranças coloniais, ou ao menos faze-las desaparecer de vez.

Até porque para fazer qualquer coisa monumental ou não, era preciso "patacon" e para isso os suecos, os soviéticos e cubanos, ou mesmo alguns kamaradas lusos, para essas coisas não havia peditório.

A muito custo lá foram as estátuas para o forte de Cacheu, talvez alguem da velha metrópole terá aguentado os custos.

Em Luanda porque havia dinheiro, foi destruir e fazer à maneira do MPLA, não à vontade dos angolanos ou de outros partidos.

Das pequenas recordações dos vários quarteis a mais artística que ficou lá a "apodrecer", foi o memorial na ponte de Caium, que já mis que uma vez apareceu em foto neste blog. (***=
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 12 de outubro de 2017 >  Guiné 61/74 - P17856: (De) Caras (98): os três antigos bravos comandantes de pelotão da Companhia de Milícias nº 17, de apelido Camará, o Quebá, o Sitafá e o Bacai, recordados no memorial aos mortos da CART 1525, Bissorã, 1966/67 (Rogério Freire / Adrião Mateus)

(**) Último poste da série > 17 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17056: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (51): Pelo mundo, ninguém aprecia os nossos Generais, só os nossos Santos... (A propósito do bisavô materno do escritor e nosso camarada Antónioo Lobo Antunes, o gen José Joaquim Machado, 1847-1925)

(***) Vd. poste de  1 de novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7203: Memória dos lugares (108): A Ponte Caium e o monumento, construído por nós, e dedicado aos nossos mortos: Cardoso, Torrão, Gonçalves, Fernandes, Santos, Silva (Carlos Alexandre, radiotelefonista, natural de Peniche, 3º Gr Comb, CCAÇ 3546, 1972/74)

Vd. também  postes de:

3 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 – P9438: Memória dos lugares (173): Ponte Caium e o seu monumento, em ruínas (Pepito / Magalhães Ribeiro)