Pelo meio, morreu um amigo que me era muito querido, o psiquiatra Álvaro Andrade de Carvalho (*). Uma morte "anunciada", mas sempre dolorosa para a família e amigos. Estivemos, eu e a Alice, com ele ainda no dia 19 de dezembro, no Hospital do Mar. O seu exemplo de coragem e dignidade na doença também nos reconforta. Mas, como soi dizer-se, a vida continua para os que cá ficam...
Muitos de vós mandaram-me, por email e telemóvel mensagens de boas festas na quadra festiva que agora finda. Alguns inclusive tiveram a gentileza de me telefonar. Não consigo agradecer a todos/as de maneira personalizada.
Algumas das mensagens enviadas para a caixa do correio do blogue deram inclusive lugar a postes publicados na série "Feliz Natal 2017 e Melhor Ano Novo 2018"
A todos/as, agradeço, em meu nome, em nome da minha família e em nome de toda a Tabanca Grande. A pensar em todos/as vós, deixo-vos uma "prendinha", esquecida no meu "sapato"... Espero que ainda possa ser útil e sobretudo inspiradora a leitura deste "manuscrito"...
2. Feliz Natal de 2017 e Melhor Ano Novo 2018 para todos os amigos e camaradas da Guiné
O Natal é tempo de "regressão"... Já não digo no sentido de querermos voltar, simbolicamente, ao seio materno (, numa arremedo de leitura freudiana), mas pelo menos de retorno à infância, às memórias da infância, às cores e sabores do tempo em que éramos crianças (... e éramos felizes, diria o Fernando Pessoa), no tempo em que o Pai Natal ainda não tinha 'assassinado' o Menino Jesus…
E repare-se: o que é "magia" (e continua a ser, de acordo com a nossa cultura judaico-cristã) é a "estrela" que guia os reis magos até à gruta de Belém... E a "magia" da estrelinha que veio do Oriente, guiando os reis magos, acaba por ofuscar o acontecimento central, que é o "milagre do nascimento" de um menino, feito deus, pobrezinho, entre palhinhas, rodeado de uma mulher, que o deu à luz, de um homem, pai adotivo, de uma vaca e de um burro que o aquecem ...
A “magia” não é propriamente o "milagre" do nascimento do menino Jesus… O que hoje nos "ofusca" é a "indústria da festa" (o brilho e o ruído mediáticos, as “luzes da ribalta”...) e não a festa... O que nos atrai, como borboleta tonta, é a “estrela”, e não a história maravilhosa de um deus que se fez homem para nos salvar, a todos nós, homens, independentemente da cor ("raça"), sexo (homem ou mulher), nacionalidade (judeu ou estrangeiro), condição (livre ou escravo)...
O que nos fascina, dois mil a anos depois, ainda é a “estrela”... A "estrela" (as luzes, as iluminações de ruas, o "glamour" das grandes superfícies comerciais, o consumo, a fama, o sucesso, a glória como sucedâneos da eternidade...) é o que nos "cega”, a nós, putos e graúdos... Já é não a “inocência”, o maravilhoso dos contos da nossa infância, o nascimento de um deus que se fez homem para nos salvar... E o que nos deprime, logo no dia 2 de janeiro, é que o raio da humanidade é mesmo "suicidária", não se quer nem se deixa "salvar"... nem “curar”, nem aceita que “cuidem de si”…
Amigos/as, camaradas:
Que o ano de 2018 seja um bom ano,
se não puder ser o melhor,
para cada um e para todos vós.
Na vida e no trabalho, no amor e na amizade,
não precisamos de seguir a “estrela" dos outros,
precisamos sobretudo de ser autolíderes.
As escolas e os gurus da gestão andaram décadas,
desde o Século das Luzes,
a tentar ensinar-nos que que é preciso seguir a “estrela”,
o “líder” (aquele que vai à frente , mostrando o caminho),
e que só pode ser um “iluminado”…
Não há “iluminados”…
Sigam a vossa luz interior,
não deixem apagar a vossa luz (dos talentos, das emoções, dos afetos, das memórias…).
Afinal, hoje sabemos que não há “ciência”... sem “sapiência” (sabedoria)… (**)
Foto (e legenda): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
O Natal das crianças que já fomos (e somos)…
Em todos os Natais nasce a esperança
De que p’ró ano o mundo seja melhor,
E de qu’haverá um novo portador
Da mágica mensagem de… mudança.
E a gente senta-se à mesa, na crença,
De que já nasceu o novo salvador,
Com ele a cura para toda a doença,
Tudo rimando com paz… e amor.
Qu’importa se a gente não lê a História,
E, se a lê, p’lo Natal faz a limpeza
Desta nossa seletiva memória.
Deixemos, pois, à solta, essas crianças,
Que já fomos, e co’elas a luz, acesa,
Das nossas melhores e doces… lembranças!
Lisboa, 19/12/2017
_____________
Notas de leitura:
(*) Vd. poste de 5 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18177: In Memoriam (310): Álvaro Andrade de Carvalho (Lourinhã, 14/8/1948 - Lisboa, 4/1/2018): médico, psiquiatra, gestor de saúde, meu conterrâneo, meu condiscípulo, meu amigo de infância, meu amigo para sempre... O funeral é no sábado, às 14h00, na sua terra natal (Luís Graça)
(**) Último poste da série > 1 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18162: Manuscrito(s) (Luís Graça) (135): Bons augúrios para 2018!
O Natal das crianças que já fomos (e somos)…
por Luís Graça
De que p’ró ano o mundo seja melhor,
E de qu’haverá um novo portador
Da mágica mensagem de… mudança.
E a gente senta-se à mesa, na crença,
De que já nasceu o novo salvador,
Com ele a cura para toda a doença,
Tudo rimando com paz… e amor.
Qu’importa se a gente não lê a História,
E, se a lê, p’lo Natal faz a limpeza
Desta nossa seletiva memória.
Deixemos, pois, à solta, essas crianças,
Que já fomos, e co’elas a luz, acesa,
Das nossas melhores e doces… lembranças!
Lisboa, 19/12/2017
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Notas de leitura:
(*) Vd. poste de 5 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18177: In Memoriam (310): Álvaro Andrade de Carvalho (Lourinhã, 14/8/1948 - Lisboa, 4/1/2018): médico, psiquiatra, gestor de saúde, meu conterrâneo, meu condiscípulo, meu amigo de infância, meu amigo para sempre... O funeral é no sábado, às 14h00, na sua terra natal (Luís Graça)
(**) Último poste da série > 1 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18162: Manuscrito(s) (Luís Graça) (135): Bons augúrios para 2018!