quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19537: Em busca de... (295): SOS, Farmácia Militar de Luanda, Delegação n.º 11, LMPQF, Angola (1971/73)... Procuro o ex-fur mil Morgado, natural da região de Santarém, partilhámos o mesmo camarote no N/M Vera Cruz, trabalhámos juntos, não nos vemos há 46 anos... (António Mário Leitão, Ponte de Lima)


Angola > Luanda > Farmácia Militar, Delegação n.º 11, Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos (LMPQF)  (1971/73) > Da esquerda para a direita, o fur mil Mário Leitão, de Ponte de Lima, e o fur mil Morgado, de Santarém.


Foto (e legenda): © Mário Leitão (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do nosso camarada António Mário Leitão



[O Mário Leitão, hoje farmacêutico reformado, foi fur mil na Farmácia Militar de Luanda, Delegação n.º 11 do Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos (LMPQF), no mil, período de 1971 a 1973; é natural de (e residente em) em Ponte de Lima, é membro da nossa Tabanca Grande, tem cerca de 3 dezenas de referências no nosso blogue;  é autor  de 3 livros publicados: "Biodiversidade das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro d´Arcos" (2012), "História do Dia do Combatente Limiano" (2017) e "Heróis Limianos da Guerra do Ultramar" (2018)].



Data - terça, 26/02, 20:00


Assunto - SOS - Laboratório Militar


Caro Luís, um grande abraço!

Preciso da tua ajuda para divulgação desta fotografia, na qual figuro ao lado do Furriel Morgado, meu camarada de comissão na farmácia Militar de Luanda (1971-1973). 

Partilhamos o mesmo camarote no N/M Vera Cruz e muitas aventuras na cidade de Luanda. Há 46 anos que nada sei dele. 

É natural da região de Santarém. Gostava de o rever e de partilhar as suas memórias num livro sobre o LMPQF, que ando a escrever.

Ofereço alvíssaras a quem me der informações! (Em alternativa, um arroz de sarrabulho em Ponte de Lima!)

Um grande abraço!

Mário Leitão (telem 967039844)


2. Resposta do editor LG:


Comandante, um pedido teu é uma ordem!... Vamos lá põr a malta da Tabanca Grande à procura do Morgado que, como dizes, deve ser ribatejano e que, esperamos, deve estar vivo e de boa saúde, é o que todos esperamos.

Acabo de vir da "catedral da lampreia", aqui no Lumiar, a Tasca do João... Lembrei-me de ti... Temos encontro a 25 de maio:é o XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande, comemorando os 15 anos do blogue... Será que este ano voltas a fazer-nos companhia ?... 

Um abração. Luís

PS - Mário, só pelo apelido, Morgado, é mais difícil de localizar o nosso camarada ribatejano... Para mais, só sabes que é(era) natural do distrito de Santarém... Mas vou o teu apelo na página do Facebook da Tabanca Grande.

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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de fevereiro de 2019 >  Guiné 61/74 - P19529: Em busca de... (294): O ex-1.º Cabo At Alberto de Aparecida Couto do Pel Caç Nat 54 procura o seu camarada José Augusto da Silva Dias, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BART 3873 que o salvou de morrer afogado no rio Geba (Sousa de Castro)

Guiné 61/74 - P19536: (D)o outro lado do combate (45): A morte de Rui Djassi - II (e última) Parte - A Op Alvor, península de Gampará, de 22 a 26 de abril de 1964 (Jorge Araújo)


Guiné (1964) - Operação militar. Foto de Manuel Parreiras (1941-2017), natural de Elvas, o 1.º da direita [Unidade desconhecida], pai da minha aluna Ana Parreiras, filha de mãe guineense, de Bafatá. (vou fazer um poste… com mais detalhes).



Mapa da península de Gampará. Território batido pelas NT durante a «Operação Alvor» onde morreu Rui Djassi (Faincam) em 24 de Abril de 1964. Fonte: Carta de Fulacunda (1955), escala 1/50 mil

Infografia: Jorge Araújo (2019)



 Jorge Alves Araújo, ex-fur mil op esp / Ranger, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue



A «OPERAÇÃO ALVOR», DE 22 A 26ABR64, NA BUSCA DO "QUARTEL-GENERAL" DE RUI DJASSI (FAINCAM) - A PRIMEIRA MISSÃO DAS NT NA PENÍNSULA DE GAMPARÁ,  15 MESES APÓS O INÍCIO DO CONFLITO ARMADO - 




1. INTRODUÇÃO


Como complemento à narrativa anterior – P19532 – onde caracterizamos algumas das vicissitudes da vida do guerrilheiro do PAIGC, Rui Demba Djassi (Faincam), primeiro cmdt da Zona 8 (região de Quinara), com particular relevância para o desconhecimento do seu paradeiro desde o início do ano de 1964, vimos hoje ao fórum dar conta como foram os últimos 'combates' da sua vida, e dos seus subordinados, travados em redor do seu "Quartel-General", algures na Península de Gampará.


2. A «OPERAÇÃO ALVOR», DE 22 A 26ABR1964


A execução da «Operação "Alvor"» foi determinada pelo Comandante Militar do CTIG, à data o Brigadeiro Fernando Louro de Sousa, através da Directiva de Operações n.º 1/64, ficando agendada para o período compreendido entre 22 e 26 de Abril desse ano, um mês depois de concluída a Operação "Tridente". A missão tinha como área de intervenção a península de Gampará, uma vez que, desde o início do conflito, esta região ainda não tinha sido percorrida por forças militares.

Para cumprir esta "Directiva de Operações", a primeira de 1964, a responsabilidade de comando foi atribuída ao BCaç 599 (Sector G), com sede em Tite, que abrangia, do ponto de vista operacional, os subsectores de Tite, S. João e Fulacunda. 

De referir que o BCaç 599, Unidade mobilizada pelo RI 15, de Tomar, era comandada pelo tenente-coronel Carlos Barroso Hipólito, sendo apenas composto de Comando e CCS, não dispondo, por isso, de subunidades operacionais orgânicas. Este Batalhão sucedeu, em 18Out1963, ao BCaç 237, dele transitando os elementos de recompletamento.


 2.1. AS FORÇAS MILITARES ENVOLVIDAS


Tendo em consideração as distâncias que havia que percorrer, os meios logísticos à disposição da Unidade de quadrícula [BCaç 599], bem como os efectivos operacionais que esta podia empregar em acções prolongadas, foi considerado que uma operação de "reconhecimento e controlo da população" na península de Gampará, só poderia ser levada a efeito com êxito por efectivos mais numerosos, com forte apoio aéreo e o concurso de meios navais, operacionais e de transporte. 

Para esse efeito, a operação mobilizou os seguintes efectivos:

● Forças do Sector G:

> Companhia de Cavalaria 353 (CCav 353) – 2 Gr Comb;

> Companhia de Artilharia 565 (CArt 565) – 2 Gr Comb.

● Reforços:

> Companhia de Artilharia 643 (CArt 643) – 3 Gr Comb;

> Destacamento de Fuzileiros Especiais (DFE 2). 

O DFE2 e as restantes Forças Navais tinham a seu cargo o transporte de pessoal, água potável e reabastecimentos com as LDM 302, 303, 304 e 305 e a fiscalização dos rios Geba e Corubal compreendidos na ZO, com especial atenção para as "cambanças" e flagelações do IN partindo de Ganjeque, Ponta do Inglês e Ponta Luís Dias.

A Força Aérea, por outro lado, apoiava os desembarques e reembarques e a actividade das forças de superfície durante a acção; fiscalizava o rio Pedra Agulha, bem como os rios Geba e Corubal dentro da ZO impedindo "cambanças"; fazendo ainda a ligação, PCA e a evacuação sanitária. 


2.2. AS RAZÕES QUE JUSTIFICARAM A OPERAÇÃO

O facto da península de Gampará nunca ter sido percorrida por forças militares desde que se iniciou o conflito armado [23 de Janeiro de  1963], embora se soubesse que a maioria dos habitantes das tabancas limítrofes de Fulacunda as tivessem abandonado, passando a residir em locais desconhecidos, situados nos matos existentes nessa península. 

Por reconhecimentos feitos a Uaná Porto e à região marginal do rio Geba, junto à foz do rio Pedra Agulha, sabia-se que o IN se tinha revelado com fraco poder combativo. Em função dos factos anteriores, ainda não se tinham realizado contactos entre a população e as forças militares estacionadas nessa área. Acresce, por outro lado, terem sido referenciadas dez canoas na orla marítima, bem como observadas de Porto Gole, entre as 18h00 e as 20h00, luzes da outra margem. De referir, também, que em 16 de Abril de 1964, pelas 00h30 ter sido atacada uma embarcação das Forças Navais (FN) com MP [, metralhadora pesada].


2.3. A MISSÃO


i) - Percorrer os matos e as povoações de toda a área da península de Gampará, contactando com a população a fim de avaliar do seu grau de lealdade. Sempre que estas se manifestarem pacíficas procurar acalmá-las quando for caso disso, incutindo-lhes confiança e sensação de segurança pela presença das NT.

ii) - Obter, por meio de interrogatórios a PG [prisioneiros de guerra] ou civis, os elementos de informação que conduzam à detecção de elementos lN, seus acampamentos, ligações, pontos de "cambança", chefes de zona, etc.

iii) - Explorar, imediatamente, as notícias ou informações obtidas no decorrer das operações e que se refiram à localização de órgãos de apoio do IN, à identificação destes ou dos seus chefes, de elementos activos ou de simples simpatizantes.

iv) - Procurar, sempre que possível, fazer prisioneiros por necessidade e conveniência em se obterem os elementos de informação desejados, que venham a permitir avaliar-se do grau de confiança que essas populações possam merecer.

v) - Deixar intactos os géneros, a água, o gado ou outros bens pertencentes aos habitantes encontrados, desde que os seus proprietários não tenham hostilizado as NT, incluindo mesmo os daqueles que tiverem fugido quando da sua aproximação. Mas, destruir ou recuperar, conforme os casos e as possibilidades, as habitações, o gado, os géneros, os poços de água, ou outros bens ou pertences existentes nas povoações donde tenham sido hostilizadas as NT ou tenha havido reacção à presença das mesmas.

vi) - Abater ou destruir, por qualquer meio, todo o elemento IN que reaja ou actue pelo fogo contra as NT assim como todo o indivíduo armado que não entregue acto contínuo a sua arma ou que pretenda fugir, bem como ainda todas as instalações que lhe sirvam de guarida ou apoio, todas as canoas encontradas e ainda as povoações abandonadas donde tenham sido hostilizadas as nossas forças.

vii) - Explorar o sucesso, imediatamente a seguir à neutralização de núcleos do ln quer esta tenha sido levada a cabo pelas Forças de Superfície ou pela FA, por forma a tornar possível a apreensão do armamento ou a recolha e identificação dos mortos e dos feridos, do lN.

viii) - Destruir todas as casas de mato e outras instalações de fortuna, localizadas fora das áreas das povoações, permitindo-se porém aos seus proprietários a recuperação dos seus bens uma vez que não tenham mostrado hostilidade à presença das NT.


2.4. A EXECUÇÃO


Com vista ao reconhecimento da península de Gampará, a fim de permitir o controlo e a assimilação da sua população pacífica e a destruição dos núcleos de elementos do IN aí existentes, seriam realizados desembarques simultâneos na foz do Rio Agulha e em Uaná Porto, conjuntamente com as restantes forças saídas de Fulacunda e com o apoio da FA, de modo a isolar a península de Gampará e criar as condições favoráveis ao reconhecimento e à limpeza desta área segundo três eixos de progressão paralelos.




2.5. O DESENROLAR DA OPERAÇÃO


No dia 22 de Abril de 1964, quarta-feira, pelas 03h00 da madrugada, deu-se início à «Operação Alvor» na península de Gampará com desembarques simultâneos das CCav 353, CArt 565, CArt 643 e DFE 2, utilizando quatro LDM, na foz do rio Pedra Agulha e Uaná Porto, conjugados com forças progredindo de Fulacunda e com apoio aéreo, a fim de isolar essa região. 

As forças desembarcadas ocuparam posições ao longo da linha Gansambo-Uaná Porto-Uaná Beafada. A partir dessas posições executaram uma batida conjunta e simultânea na península de Gampará.

No dia 23 de Abril, quinta-feira, elementos In armados, escondidos no tarrafo, detectados pelo PCA, foram batidos pela CArt 643, com a colaboração da FA e fugiram. O DFE 2 venceu uma ligeira resistência em Canquecuta, que destruiu com o apoio da FA. O IN opôs resistência à progressão da CArt 643. Foi isolado e aprisionado um grupo da população que escondia 8 guerrilheiros. A CArt 565, emboscada pelo IN, reagiu prontamente, dispersando-o. As NT tiveram um guia auxiliar morto e dois feridos. Foram mantidos os horários de coordenação e as forças atingiram os objectivos estabelecidos para este período.

No dia 24 de Abril, sexta-feira,  também foram atingidos os objectivos determinados para o terceiro dia de operações. Foi capturado material e documentos. As NT não tiveram baixas e foram mortos três guerrilheiros [, um deles pondendo ser o Rui Djassi... ] e feitos mais de vinte prisioneiros. 

O IN estava sitiado e a operação prosseguia. Durante a noite os estacionamentos das NT foram flagelados, sendo o IN posto em fuga. Em toda a zona revelaram-se guerrilheiros isolados, alguns dos quais foram abatidos. Foram evacuados para Bissau oito prisioneiros, mulheres e crianças. O IN, cercado no extremo da península de Gampará, exerceu violenta repressão na população que pretendia apresentar-se às NT. Estas recolheram três centenas de pessoas, no mato e no rio, das quais foram evacuadas noventa, para Bissau. 

No dia 25 de Abril, sábado, o IN flagelou a CArt 565 que recolheu a Fulacunda, sem baixas. O DFE 2, em colaboração com a CCav 353, fez batidas na orla do rio. As NT acompanharam a população, na reocupação das tabancas, antes do reembarque.

No dia 26 de Abril de 164, domingo,  recolheram a quartéis todas as forças que tomaram parte na operação.



3. MAIS DUAS NOTAS DA PARTICIPAÇÃO DAS FORÇAS NAVAIS NESTA OPERAÇÃO


Para concluir o contexto sobre a «Operação Alvor", e como adenda ao modo como a mesma decorreu, importa dar conta de alguns testemunhos individuais de camaradas que nela participaram, ainda que as mesmas já tenham sido publicadas neste espaço.


No primeiro caso, cito uma passagem do livro "Homem  Ferro - memórias de um combatente", da autoria de Manuel Pires da Silva [SMor Grad FZE (Ref) do DFE 2] – P11521: "Notas de Leitura", de Mário Beja Santos, onde se pode ler:


"Tudo se agrava no rio Corubal, as embarcações são constantemente alvo de emboscadas, atacam navegação na Ponta do Inglês, e mesmo no canal do Geba. Volta-se à península de Gampará, vão com o apoio de forças terrestres, conclui-se que o inimigo não estava até então implantado no terreno. E depois atacam Cafal Balanta, Cafal Nalu e Santa Clara, há fogo do inimigo que só deixa de reagir quando chegam os T6. E no mês de Junho [1964] acabou a guerra para o DFE 2". 


No segundo caso, a narrativa está ligada à "LDM 302", recurso logístico utilizado na "Operação Alvor", e que é contada em livro de A. Vassalo, em BD, Edições Culturais da Marinha, 2011, com o título "A Epopeia da LDM 302".

No P15003, de novo em "Notas de Leitura", de Mário Beja Santos, retiramos a seguinte passagem: 


"Em 22 de Abril [1964, a LDM 302] conheceu o baptismo de fogo. Frente a Jabadá quando, em conjunto com mais três LDM [303, 304 e 305] procedia a um desembarque de fuzileiros [DFE 2], o inimigo tentou opor-se com fogo de armas ligeiras, mas não conseguiu evitar o desembarque".


Também no P10084 – "A Vida e morte da gloriosa LDM 302", o marinheiro fogueiro Ludgero Henriques de Oliveira [, lourinhanense, vizinho, amigo de infância,  e colega de escola primária do nosso editor e camarada Luís Graça, nascido em 1947 e falecido em 2011, ]  que pertenceu à guarnição desta Lancha de Desembarque Média, atribuída ao DFE 2, em 18 de Março de 1964, para fiscalização da zona do Rio Geba, conta-nos alguns dos aspectos mais relevantes da sua existência. 




A LDM 302 no rio Cacheu onde viria a ser violentamente atacada e afundada por duas vezes com baixas pessoais dramáticas, com mortos, feridos graves e feridos ligeiros. Fonte: Cortesia do blogue Reserva Naval, do Manuel Lema Santos [1.º Tenente da Reserva Naval, Imediato no NRP Orion, Guiné, 1966/68]


4. A OCUPAÇÃO [?] DE GAMPARÁ PELAS NT

Por último, depois de consultada a bibliografia a que tivemos acesso, nada encontrámos para satisfazer a curiosidade relacionada com a instalação das NT em Gampará (e em Ganjauará)  Apenas temos, como referência, o Monumento ali existente, onde constam as diferentes Unidades de quadrícula que por lá passaram, conforme imagem abaixo (vd. P12247).



Guiné > Zona Leste > COP 7 (Bafatá) > Margem esquerda do Rio Corubal > Península de Gampará > Gampará > 1972 > Monumento da CART 3417 (Magalas de Gampará), assinalando a passagem por Gampará (e Ganjauará) da 38ª CCmds e de outras tropas especiais.

Vê-se que por ali também passaram, ao serviço do COP 7 (Bafatá), vários DFE - Destacamentos de Fuzileiros Especiais (4, 8, 13, 21, 22), a CCP 121/BCP 12, a 2ª CCA - Companhia de Comandos Africanos, o 29º Pel Art e o Pel Mil 331.

A última Unidade que aí esteve instalada, até à independência, foi a CCAÇ 4142 (1972/1974) "Herdeiros de Gampará".

Foto (e legenda): © Amilcar Mendes (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Fontes consultadas:

«Operação Alvor» (texto adaptado): Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro I; 1.ª edição, Lisboa (2014); pp 252/257.

Outras: as referidas em cada caso.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

26Fev2019.

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P19535: Historiografia da presença portuguesa em África (152): Relatório do Delegado de Saúde da vila de Bissau, o médico de 2.ª classe Damasceno Isaac da Costa, referente a 1884 (4) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Junho de 2018:

Queridos amigos,

Não hesito em classificar o relatório do Dr. Damasceno Isaac da Costa como de leitura obrigatória para quem pretenda saber qual o estado da Guiné e como se processava a presença portuguesa nos primeiros anos da autónoma Província da Guiné. Há pontos do maior interesse no seu documento: veja-se o que escreve sobre o Geba e a referência que faz ao ponto extremo da nossa presença, Bafatá. Referirá nas considerações finais que espera que as negociações luso-francesas não nos retirem a influência secular nos territórios do Casamansa e do rio Nuno, este médico ainda vivia numa mítica Senegâmbia Portuguesa.

Um abraço do
Mário


Relatório do Delegado de Saúde da vila de Bissau, o médico de 2.ª classe Damasceno Isaac da Costa, referente a 1884 (4)

Beja Santos

Este relatório consta dos Reservados da Sociedade de Geografia de Lisboa e foi oferecido pelo seu filho Pedro Isaac da Costa ao antigo administrador de Bissau, António Pereira Cardoso, autor de um conjunto apreciável de documentos, muitos deles de leitura indispensável para conhecer a vida administrativa da Guiné, sobretudo entre as décadas de 1930 e 1950.

Este relatório, como se verifica pelo seu fecho, foi copiado pelo filho do autor. E diz-se que é de estranhar que tendo sido escrito em 1884 se refere a factos de 1888.

Chamou-se a atenção para o acervo de olhares sobre a fortaleza de S. José de Bissau, a vila, o Geba e a vila do mesmo nome, tudo meticulosamente comentado. Chega agora a vez do médico se debruçar sobre higiene e salubridade.

Começa pela sanidade marítima, dizendo o seguinte:

“Durante o ano, quando se vê no mapa do movimento marítimo, demandaram o porto doze navios de vela de longo curso, 25 a vapor e 244 de capotagem. Aqueles foram regular e pontualmente por mim visitados, sendo os últimos pela Alfândega, por o porto de procedência estar limpo. Foram submetidas a cinco dias de observação uma chalupa procedente da Goreia, um brigue americano e uma lancha procedentes de Carabane, visto serem considerados suspeitos de Colera morbus os portos do Senegal. Em nenhum destes navios se manifestou moléstia alguma.

O ilhéu de Bandim, ou de Bourbon, como o denominam os franceses, é o que até aqui tem servido para se proceder às quarentenas de observação. O ilhéu tem pouca extensão e é habitado unicamente pelos pássaros e pelos répteis. No preamar um extenso banco que se descobre torna fácil a passagem para a aldeia de Bandim onde residem o régulo e os principais balobeiros e se refugiam os criminosos para se livrarem das perseguições da Justiça”.

Após estes considerandos, desvia a sua atenção para a higiene pública, sem contemplações nem rendilhados:

“A vida de Bissau está cercada de pântano. Ao sul, a vila é limitada pela praia que na baixa-mar se descobre numa grande extensão e deixa exalar um cheiro infecto devido à decomposição e putrefação de limos, plantas, animais, lixo e várias imundícies intimamente misturadas com a lama.
Vários produtos, tais como o couro, borracha, amêndoa de palma, armazenados nas próprias habitações dos negociantes, exalam um cheiro infecto. Os poços e nascentes que existem na povoação contêm águas estagnadas, as quais repetidas vezes são utilizadas pelos habitantes da vila para usos culinários, devido ao desleixo das autoridades competentes. Finalmente, encontra-se por toda a parte, tanto intra como extramuros, depósitos de lixo. 

Tais são, em resumo, as poderosas causas geradoras de tantas e tão variadas moléstias que se manifestam na vila. A influência desses poderosos factores, auxiliado pelo clima, é assaz sensível aos recém-chegados. Os tripulantes dos navios de longo curso que demandam o porto de Bissau é raro que durante a sua permanência de 15 a 20 dias fiquem incólumes da perniciosa influência das emanações do porto, pois apesar de cheios de vida e rubor nas faces, apresentam-se profundamente anémicos, sendo preciso, quase sempre, baixarem ao hospital. É o que repetidas vezes tenho observado desde 1879”.

Seguidamente, os seus comentários direcionam-se para fábricas e depósitos de substâncias alteradas, nos seguintes termos:

“Há duas fábricas para clarificar a cera situadas nos extremos da vila, as quais amiudadas vezes foram por mim visitadas. Uma dessas fábricas, na data em que escrevo o presente relatório, foi removida para outro ponto afastado.

O comércio da ilha consiste principalmente na cera, couro, amêndoa de palma, arroz, borracha, etc. Estes produtos são acondicionados pelos seus proprietários em quartos contíguos ou nos armazéns sitos no pavimento inferior das habitações. O couro, a borracha e a amêndoa de palma, algum tempo depois de armazenados, exalam um cheiro nauseabundo. Se a pólvora é removida para o paiol da fortaleza para evitar a explosão e os desastres que ela pode causar, por que razão não se pratica o mesmo com os produtos acima apontados, especialmente com os couros e borracha, que pelas suas exalações produzem constantes explosões perniciosas sobre a salubridade dos habitantes da vila?”.

Os próximos comentários vão incidir sobre o mercado e o açougue:

“Há dois lugares onde se notam quotidianamente ajuntamentos do povo com variados produtos à venda a que se dá a denominação de mercado ou feira.

Um destes mercados é destinado exclusivamente aos Bijagós e tem lugar ao Norte e o outro aos Papéis, a Sul e extramuros. Nestes dois mercados permuta-se o arroz, feijão, carne de porco ou de vaca, leite, galinhas, lenha, mandioca, milho, batata e vários outros produtos cuja aparição na feira está dependente da estação apropriada. Não havendo vigilância alguma sobre a higiene destes dois lugares, apresentam-se eles frequentes vezes imundos.

Quanto ao açougue, para o consumo público foram abatidos durante o ano 118 cabeças de gado vacum e 404 de suínos, não tendo sido nenhuma inutilizada por serem de boa qualidade mas a Câmara Municipal não possui casa para este fim e permite que em qualquer porta ou rua se exponha a carne à venda. Urge, pois, que se proceda à construção de uma casa destinada a açougue”.

Não menos importante é o que o Dr. Damasceno Isaac da Costa nos diz sobre as habitações:

“Na vila, as casas correm de norte a sul e são todas cobertas de telha de barro; na maioria térreas, há algumas assobradadas; os pavimentos inferiores destas últimas servem ordinariamente para armazenar couros, arroz, amêndoa de palma, amendoim e outros produtos, cujas exalações são altamente nocivas à salubridade pública. À excepção de algumas, na maioria as casas são mal divididas e ventiladas, húmidas e algumas vezes até imundas por servirem de pocilgas aos porcos e outros animais domésticos que vivem com confraternidade com os racionais.

Ruas propriamente não existem, à excepção da central denominada S. José; as que porém têm tais denominações não passam de becos.

As cubatas dos grumetes que vivem extramuros são todas construídas de taipa e cobertas de colmo e conquanto algumas são espaçosas não possuem se não duas portas sem nenhuma outra abertura para a entrada de luz e ventilação. O colmo, porém, cobre mal algumas destas casas ao que dá lugar a que os abrasadores raios de sol tropical penetrem nelas e as iluminem. Em torno destas habitações existem grandes depósitos de lixo e imundícies. As cubatas dos Papéis que servem na ilha são arredondadas; as suas paredes construídas de taipa têm a altura de 1,5 metros e o tecto é composto de paus de mangue e a coberta de colmo é piramidal, cuja base repousando sob as paredes fica o vértice olhando para o céu.

A capacidade da cubata assim construída pode ser calculada em 4 metros de diâmetro; é dividida em 4 a 5 compartimentos para a residência de 8 a 10 pessoas.

A reunião destas cubatas constitui o que no país se denomina morança.”

Como se vê, é bem estimulante a leitura deste relatório. Vão seguir-se outros aspetos bem impressivos como a alimentação, a limpeza das ruas e dos cemitérios, o estado dos hospitais e apresenta-se mesmo uma relação das plantas medicinais. E pede-se ao leitor que esteja atento às considerações gerais por ele tecidas.

(Continua)


Aguarela de Edgar Silva, datada de 1994, a sede do BNU na Rua Augusta
Por amável deferência do Arquivo Histórico do BNU.


Homenagem em casa do Dr. Vieira Machado pelos corpos diretivos do BNU, 1972
Imagem cedida pelo Arquivo Histórico do BNU, agradece-se a deferência. 

Francisco Vieira Machado foi figura determinante do BNU mas foi igualmente um esteio da política colonial.

Em 1934, então Subsecretário de Estado das Colónias, ao prefaciar o catálogo da 1.ª Exposição Colonial Portuguesa, não se escusou a um claro ponto de vista ideológico:

“Há através da História de Portugal uma Ideia, ou antes, um Ideal, que decerto enraíza na própria essência da alma e no carácter dos portugueses, tal é o vigor com que se formou a persistência com que renasce: o Ideal da formação dos Impérios.

Esboçado e vago na organização do Infante, mais preciso sob a ambiciosa vontade de D. João II, ganha a primeira expressão real e perfeitamente enformada com Afonso de Albuquerque. E o primeiro esforço imperial da parte portuguesa despende-se no sonho de formação de um grande Império Asiático com guardas vigilantes em Aden, Ormuz e Malaca.

Desfeito com a morte do grande político e guerreiro, o plano tão audaz e inteligentemente iniciado, logo outro grande português – e esse tão desconhecido, tão caluniado, tão incompreendido por mais de três séculos de História, D. João III ! – nos lança para a formação do Império Sul-Africano. E o novo sonho, do novo rumo que o Ideal português procura, nasce esse portentoso Brasil, descoberto, colonizado, povoado e engrandecido por gente portuguesa.

Num vale escuso da História, invadidos nas organizações políticas e nas almas, pelas ideologias de 1789, aleados do sentido da nossa grandeza e da nossa missão pelo falso esplendor de novas ideias, perdemos o Brasil e o rumo imperial da nossa nação nas Colónias.

Passam-se longas dezenas de anos – quase um século.

Uma geração de escola, que em si guardava as mais ricas virtudes de Portugal, levanta de novo a ideia colonial, lança-se para África, ocupação pacífica, e refaz e fixa as novas fronteiras imperiais.
Depois deles outros seguiram o seu esforço heróico.

E novamente o sonho do Império – desta vez o Império africano – ganha forma e encontra o velho Ideal português.

Estamos novamente no caminho do Império”.
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19511: Historiografia da presença portuguesa em África (150): Relatório do Delegado de Saúde da vila de Bissau, o médico de 2.ª classe Damasceno Isaac da Costa, referente a 1884 (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19534: Parabéns a você (1581): Luís R. Moreira, ex-Alf Mil Sapador do BART 2917 e BENG 447 (Guiné, 1970/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 26 de Fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19531: Parabéns a você (1580): João Carlos Silva, ex-1.º Cabo Especialista MMA da FAP (1979/82)

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19533: Memórias de Gabú (José Saúde) (78): O paludismo. (José Saúde)

1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem. 

Falemos de uma doença conhecida pelos camaradas

O paludismo

Neste incessante vaguear por caminhos já estreitos que a mente, por enquanto, vai sendo benévola para que possamos escalpelizar a nossa passagem pela Guiné, acontece, agora, falar sobre o paludismo. Um tema que, aliás, nos foi comum.

O paludismo é tão-somente uma doença provocada ao ser humano através de picadelas de uma determinada variedade de mosquitos que por terras guineenses eram “mato”. Julgo que numa triagem que porventura ousemos efetuar ao enormíssimo contingente militar que pisou aquele solo, raro terá sido o camarada que não conheceu a enfadada moléstia, ou porque o paludismo lhes fustigou o físico, ou porque camaradas que viviam por perto terão sido atacados com tal malazenga.

A doença, em si, é também conhecida como malária. As causas que o paludismo provoca interferem com febres altas, dores de cabeça, vómitos, fraqueza muscular, tosse, problemas renais e hepáticos, alteração do sistema nervoso central de entre outros problemas, assim como a implícita chancela de gravidade que pode levar à morte.

As estatísticas são explícitas quando referem que milhares de pessoas morrem por ano tendo como causa principal o paludismo. Aliás, acrescesse que a maioria das mortes ocorridas são de crianças que vivem no continente africano.

Mas será que existem mecanismos para abreviar a propagação da doença? Claro que os há! Basta, por exemplo, tratar a água estancada em pântanos que se constituem como os locais ideais para o seu habitat natural e onde estes insetos proliferam.

Sabe-se, por outro lado, que existem vacinas que visam prevenção no desenvolvimento do mal. Não sendo especialista na matéria, isto é, sou leigo, e humildemente confesso, diz-se que uma vacina considerada capital para o aniquilar o paludismo estará ainda por descobrir. Por conseguinte, a definitiva cura para a maleita persiste.

A cédula pessoal deste velho combatente regista dois casos de paludismo: o primeiro contraído em Gabu; o segundo em Beja em finais de 1970. Este último foi-me diagnosticado por um médico amigo que me visitou quando me encontrava acamado no leito da minha cama e logo me pôs ao corrente do meu estado de saúde.

Neste contexto, sinto-me minimamente à-vontade para debitar narrativa sobre as condicionalidades que o conhecido paludismo me provocou. Sei que vi a coisa preta. Os arrepios de frio e o mal estar geral deixaram-me o corpo quase inerte. Depois, com uma santa paciência lá me ergui e prossegui o meu caminho. Ficou, porém, a malvadez da experiência.

Na Guiné a ansiedade do “mal” deixava o combatente de rastos. Presenciei camaradas entregues a uma luta corporal que impunha apertadas restrições. O “mal” não era fácil combater e um dia, tal como atrás referi, calhou-me conhecer essa efémera e tenebrosa doença.

Asseguram os especialistas na matéria, que o paludismo, vulgo malária, é uma doença transmitida pela picada de mosquitos pertencentes ao gênero Anopheles.

Recorrendo a dados da Organização Mundial de Saúde, observa-se que cerca de 200 milhões de criaturas foram detetadas como portadores da doença e que derrapa, infelizmente, para cerca de 700.000 mortes por ano. A praga é de tal modo agressiva que os médicos travam árduas lutas para minorar as estratégias de contaminação.

Recordo a nossa espontânea deliberação para protegermos a “carcaça” da praga de mosquitos que nos nossos “poisos” não davam tréguas ao combatente que requeria o merecido descanso, isto é, dormir sob a proteção dos famosos mosquiteiros que, em princípio, salvaguardavam inesperadas picadelas destes inoportunos “terroristas”.

Uma curiosidade: quando cheguei à Guiné e me fixei nas exíguas instalações do Quartel General (QG ), “Biafra” como a malta apelidava o pomposo alojamento, vi, desde logo, que muitas das camas das camaratas eram dotadas com os pomposos mosquiteiros.

Lembremos, então, a guerrilha travada com estes inusitados inimigos, leia-se insetos, que não davam pausas a homens cujo propósito era, naturalmente, salvaguardar o corpo de outros ferrões maiores que o IN, sempre à espreitava, impunha no terreno.

E assim vamos dissecando memórias de uma guerra onde conhecemos variadíssimas situações de calamidades, e de pânicos, sendo o paludismo uma “arma de arremesso” que visava um ataque cirúrgico a camaradas que caíam numa emboscada desses proféticos “bicharocos”.



Um abraço camaradas,
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

19 DE FEVEREIRO DE 2019 > Guiné 61/74 - P19509: Memórias de Gabú (José Saúde) (77): Pequena biografia da Guiné-Bissau. Viagem pela história. (José Saúde) 

Guiné 61/74 - P19532: (D)o outro lado do combate (44): A morte de Rui Djassi - Parte I (Jorge Araújo)


 Imagem nº 2 > Ilha do Como (Jan1964) - «Operação Tridente». Desembarque das forças do BCAV 490.


Imagem nº 3 > Ilha do Como (1964) – Embarque de vário material de regresso a Bissau.

Fotos do camarada Armor Pires Mota, ex-Alf Mil Cav da CCAV 498 (1963/1965) - P12386, com a devida vénia.


Imagem nº 1 > Infogravura da «Operação Tridente», com a indicação do desenrolar das acções iniciadas em 15 de Janeiro de 1964, 4.ª feira. In. Guerra Colonial: Angola - Guiné - Moçambique, edição do Diário de Notícias, p.73, com a devida vénia. 


Jorge Alves Araújo, ex-fur mil op esp / Ranger, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue



GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE > OS RETIROS RESERVADOS DE RUI DJASSI (FAINCAM), NAS MATAS DE GAMPARÁ, DESCOBERTOS PELA CART 643, NA «OPERAÇÃO ALVOR», EM 24ABR64, DATA DA SUA MORTE... "HERÓI DA PÁTRIA", TEM HOJE NOME DE RUA EM BISSAU 



1. INTRODUÇÃO

Mantendo o interesse em encontrar respostas fiáveis às dúvidas suscitadas nas narrativas anteriores, partilhadas no fórum nos P19433, P19437 e P19471, onde se colocava a questão relacionada com o desconhecimento do paradeiro do cmdt da Zona 8 (região de Quinara), Rui Djassi (Faincam), de quem Amílcar Cabral recebera as últimas notícias em finais de 1963, identificamos novas pistas que indiciam termos chegado ao fim desta incógnita e, por conseguinte, deste tema.

Para situar o contexto historiográfico e cronológico das ocorrências, recorda-se que os últimos contactos de Rui Djassi (Faincam) tinham sido duas cartas enviadas ao secretário-geral, datadas de 26 e 30 de Dezembro de 1963. Este, como resposta, manifesta-lhe um duplo desagrado, para o qual utilizei a metáfora "puxão de orelhas", o primeiro por insuficiente comunicação, o segundo por um comportamento pouco cuidado, rigoroso e muito permissivo na "zona 8", enquanto principal responsável operacional na região de Quinara, que facilitou um bloqueio da fronteira Sul por parte das NT, inviabilizando o cumprimento da estratégia logística no «Corredor de Guileje» [P19433].

Certamente, consequência desse laxismo, o seu nome/pessoa deixou de contar para a nova estrutura político-militar do PAIGC decidida no I Congresso, realizado em Cassacá, entre 13 e 17Fev1964, onde foram nomeados os líderes do 1.º Corpo de Exército Popular. Já nessa ocasião Amílcar Cabral (1924-1973) dava conta do agravamento da situação naquela região (Zona 8 - Quinara) por via do desaparecimento do seu responsável – Rui Demba Djassi (1937-1964) – cujo paradeiro ninguém conhecia embora, para ele, existisse a convicção de que estaria vivo [P19433].


2. OPERAÇÃO "TRIDENTE" – DE 15JAN64 A 24MAR64

Tendo por objectivo recuperar o controlo das ilhas de Caiar, Como e Catunco, antes ocupadas pelos guerrilheiros do PAIGC sob a liderança de 'Nino' Vieira (1939-2009) [Marga, nome de guerra], no sentido a garantir a segurança dos abastecimentos marítimos na costa sul da Guiné, foi realizada a «Operação Tridente», a qual teve uma duração de dois meses e meio, entre 15 de Janeiro e 24 de Março de 1964 [Vd. imagem nº 1, acima].

De referir que durante a realização do 1.º Congresso do PAIGC já a componente terrestre dessa operação contabilizava um mês de intensa actividade operacional, sob o comando do Tenente-Coronel Fernando José Marques Cavaleiro (1917-2012), que, para além do envolvimento do seu Batalhão de Cavalaria 490 [BCAV 490], de Estremoz, contava, também, com a participação conjunta de outras unidades militares dos três ramos das Forças Armadas, num contingente superior a um milhar de elementos. [Vd. imagenns nºs 2 e 3, acima].

Entretanto, após concluída a reunião de quadros do PAIGC, em Cassacá [, na pensínsula de Quitafine], onde 'Nino' Vieira viu reforçada a sua liderança, enquanto principal responsável operacional da guerrilha naquela região sul, este seguiu, naturalmente, para essa frente de luta tendente a assumir o controlo da situação e, concomitantemente, dos diferentes combates.

Em função das dificuldades observadas no terreno, tomou a iniciativa de escrever uma carta aos seus camaradas «Faincam» e «Kant», nomes de guerra de 'Rui Djassi' e 'Domingos Ramos', respectivamente, implorando ajuda em recursos humanos (guerrilheiros) para fazer face à situação militar difícil que estava a viver [, na Ilha do Como].

Este pedido de apoio, expresso na referida carta, não teria nada de anormal, digo eu, para a construção desta narrativa, se não tivesse encontrado duas versões divergentes quanto à génese dos factos narrados. Ainda assim, as divergências encontradas não nos impediram de perseguir com o aprofundamento da investigação, cujos resultados aproveito para partilhar convosco.

2.1. CARTA DE 'NINO' VEIRA ENVIADA A RUI DJASSI [FAINCAM] E DOMINGOS RAMOS [KANT] NO INÍCIO DE MARÇO DE 1964

De acordo com o acima exposto, é de relevar que as duas versões, ainda que o conteúdo da carta [texto] seja igual, entre elas existem diferenças quanto ao contexto como foram obtidas.

No primeiro caso, o acesso à carta está plasmada no livro «Os Anos da Guerra Colonial (1961-1974)», no sítio: [http://batalhaocacadores2885.blogspot.com/2009/08/as-grandes-operacoes.html].

Diz a carta: […]

"Ao fim de 48 dias de combates na região do Como (ou seja, em 3 de Março de 1964, 3.ª feira), as
tropas portuguesas interceptaram um estafeta com uma carta de Nino Vieira, escrita à máquina, para outros chefes da guerrilha. Os destinatários eram os comandantes Faincam e Kant".

O exemplar da carta dactilografada, que se apresenta na figura ao lado, pela sua qualidade, não nos permite decifrar, com nitidez, o que nela consta. Apenas tivemos acesso ao seu conteúdo no texto que a enquadra, publicado na obra acima citada. [Imagem nº 4].

No segundo caso, a referência à carta em apreço consta do livro do Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974) – Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro I; 1.ª edição, Lisboa (2014). 

Dele se retira, para o presente propósito e com a devida vénia, a seguinte passagem: 

"Sobre a operação "Tridente" junta-se uma carta atribuída a João Bernardo Vieira "Nino", capturada em Maio [Abril] de 1964, na operação "Alvor". […] Na realidade, a carta de João Bernardo Vieira "Nino", esclarece a situação aflitiva dos guerrilheiros nas referidas ilhas perante a acção das NT. O original da carta figurava entre os documentos capturados por forças da CArt 643 na "Operação Alvor", realizada na península de Gampará, de 22 a 26Abr64, quando atingiram o "Quartel-General" do chefe da região Sul, Rui Demba Djassi (op.cit., pp 218/219).

Eis a transcrição do seu conteúdo:

"Camaradas Faincam e Kant

Para que esta vos encontre continuando uma boa saúde, junto dos vossos camaradas. Eu e os meus vamos indo razoavelmente bons.

Camaradas, achei obrigado a dirigir-vos estas linhas, porque sei que já não tenho nenhuma safa a não ser que dirigir-me a vós. Como sabem estou muito afrontado, porque as tropas ainda continuam a praticar bárbaros massacres no I. Como. Hoje [3 de Março de 1964] já se faz 48 dias que os n/ [nossos] camaradas estão enfrentando corajosamente as forças inimigas. Queria que os camaradas retirassem juntamente com a população conforme era a solução tomada pelo n/ [nosso] Secretário Geral. Mas o que certo é impossível, porque não temos caminho de fazê-los sair. Por isso agradecia-vos que me mandassem reforço vindo de todas as partes. Mesmo se por acaso será possível podem enviar no mínimo 150 a 200 camaradas, porque senão os portugueses vão-me dar cabo da população.

Camaradas, tenham paciência porque não tenho uma outra safa a não ser o vosso auxílio.

Tenho encontrado numa situação muito grave. As tropas estão aumentando cada vez mais as suas forças, tanto como terrestres, aviação e também por meios marítimos.
Camaradas, não tenho mais nada a dizer-vos. Somente posso dizer-vos que dum dia para outro vamos ficar sem a população e sem n/ [nossos] guerrilheiros aí. Já estamos a contar com a baixa de 23 camaradas n/ [nossos] durante todos estes dias dos ataques. Portanto termino desejando-vos maiores sucessos, junto dos vossos camaradas e do povo em geral.

Do vosso camarada Marga – Nino"

2.2. Segue-se a reprodução da carta manuscrita por 'Nino' Vieira [Imagem nº 5].



Imagem nº 5


Imagem nº 6 > Bilhete-Postal (s/d) da Rua Dr. Oliveira Salazar, em Bissau [hoje, Rua Rui Djassi], da Colecção "Guiné Portuguesa, 135". (edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte, Sarl.) - P6625, com a devida vénia.



Imagem nº 5 > Localização da Rua Rui Djassi, em Bissau. 


3. RUI DEMBA DJASSI [FAINCAM] – HERÓI DA PÁTRIA

Depois da independência o corpo de Rui Djassi ('Faincam') foi transladado [teria sido o seu corpo?] para Bissau, encontrando-se sepultado no Memorial dos Heróis da Pátria da Guiné-Bissau, na Fortaleza de São José de Amura, no centro da cidade.

Hoje, o seu nome faz parte da toponímia de "Bissau-Antigo", substituindo a designação anterior que era a do Dr. Oliveira Salazar (1889-1970).

Continua…
Nota:

Em função da extensão da presente narrativa, considerámos ser de interesse colectivo dar conta, em novo poste, ao modo como se desenrolou a «Operação Alvor», de que resultou a morte de Rui Djassi (Faincam), na medida em que sobre ela nada consta no puzzle historiográfico da «Tabanca».

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

18Fev2019.
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P19531: Parabéns a você (1580): João Carlos Silva, ex-1.º Cabo Especialista MMA da FAP (1979/82)

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Nota do editor

Último poste da série de 25 de Fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19525: Parabéns a você (1579): Gumerzindo da Silva, ex-Soldado Condutor da CART 3331 (Guiné, 1970/72)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19530: Manuscrito(s) (Luís Graça) (152): Parabéns ao meu mano Tó, o ex-1º cabo magarefe, António Ferreira Carneiro, o "Brasileiro", que, em Tete, Moçambique, no Destacamento Avançado Móvel de Intendência nº 664, levou um tiro de Uzi no bucho... Ficou com uma cicatriz tipo 'fecho éclair', de alto a baixo, do peito à barriga, já teve vários AVC, e chega hoje aos 80 anos, rodeado de uma bela família de filhas e netos




Moçambique > Tete > 25 de fevereiro de 1964 > Pessoal do Destacamento Avançado Móvel de Intendência nº 664 (Tete, 1964/66) > Almoço do 25º aniversário do António Ferreira Carneiro, 1º cabo magarefe, natural da Ribeira, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses... Este destacamento chegou a Moçambique uns meses antes do inícío oficial da guerra colonial em Moçambique. As primeiras ações armadas da FRELIMO datam de agosto de 1964. Havia dois no destacamento. O outro cabo, além dele, era minhoto: chamavam-lhe o Cabinho... O camarada que está defronte dele, na foto, era um alentejano... de que também não sabe o nome. São mais de 50 anos passados...

O António é o nosso  "mais velho", na Tabanca de Candoz. Nasceu precisamenre há 80 anos, no dia 25 de fevereiro de 1939, seis meses   antes do início da II Guerra Mundial. Depois de regressar do Brasil, aos 24 anos, teve de cumprir o serviço militar. Estamos em meados dos anos sessenta. Com a especialidade de Magarefe, da Manutenção Militar, foi mobilizado para Moçambique. m Tete, o António sofreu um grave acidente com uma pistola-metralhadora ligeira, uma UZI, disparada acidentalmente por um camarada... Milagrosamente salvou-se. Hoje é um DFA - Deficiente das Forças Armadas (com cerca de 2/3 de incapacidade). E como  se isso não bastasse, já teve vários AVC... Mas é um otimista, "quase profissional"... Aos 80 anos, diz-me que já não conta os anos mas os dias... Mas a verdade é que "os 80 anos já cá cantam"...

Uma análise da foto acima  (, digitalizada, a partir de um original de formato reduzido,) mostra-nos doze jovens, em tronco nu, à volta de um mesa comprida, comendo e bebendo na festa dos 25 anos do "Brasileiro". Há, para além de um garrafão, 15 garrafas de cerveja, das grandes, da marca Mac Mahon, uma das bebidas produzidas em Moçambiquem, na época... Também era conhecida pela 2 M. A marca rival era a Laurentina. (Recorde-se que, em Angola, eram as marcas Cuca e Nogal).


Foto (e legenda): © António Carneiro (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Maia > Restaurante Quinta das Raparigas > 23 de fevereiro de 2019 > Almoço dos 80 anos do António Carneiro (n. 24/2/1939) > Aqui com a esposa, à esquerda, e as quatro filhas, que são superdivertidas ... O nosso "Brasileiro" tem dois netos e quatro netos... O mais velho com 25 anos...



Maia > Restaurante Quinta das Raparigas > 23 de fevereiro de 2019 >  Almoço dos 80 anos do António Carneiro (n. 24/2/1939) >  A surpresa a meio da tarde: cinco sobrinhos, grandes foliões, que apareceram, quatro,  "travestidos de putas da via Norte" eu m quinto, o último, à esquerda, mascarado de "azeiteiro" (leia-se: chulo)... Como já estamos no Carnaval, ninguém levou a mal... E ao "sangue, suor e lágrimas", juntaran-se as "barrigadas de riso"... Que, para a reinação, o folguedo, a risota, não há gente como esta... É uma grande família, divertida...e solidária. E, afinal, esta vida são dois dias, e o Carnaval são três, diz o nosso "Brasileiro"!

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Finalmente, ao fim de estes anos todos (oito anos!), apareceu um camarada, que vive em Braga, que conseguiu localizar o "Brasileiro", o António Ferreira Carneiro, meu cunhado, irmão mais velho da Alice... Afinal, o  Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande! (*)....  

Esse camarada, o tal minhoto, que também era 1º cabo, no Destacamento Avançado Móvel de Intendência nº 664 (Tete, 1964/66), foi testemunha do acidente que ia matando o  nosso "morgado", o filho mais velho de José Carneiro e Maria Ferreira: ele transmitiu ao António a sua versão dos acontecimentos, que é diferente da oficial ou oficiosa, mas que não interessa aqui para o caso... Na tropa encobria-se "muita merda" com  papel selado...

Para o mano Tó, foi  uma grande alegria poder abraçar este camarada., que penso que é "caixeiro viajante" ou coisa parecida, e vive em Braga, e que há uns meses atrás foi bater à sua porta, em Custóias. Telefonou-lhe primeiro, através do número de telemóvel que divulgámos no blogue.

 O António Carneiro não pertence à Tabanca Grande, não tem de resto endereço de email, página no Facebook e outros "modernices"... É um homem do seu tempo...  Mas pertence à... Tabanca de Candoz...

É o mano mais velho de seis irmãos, três rapazes e três raparigas, uma das quais a Alice Carneiro, nossa grã-tabanqueira. Esteve imigrado no Brasil entre 1957 e 1963, para grande desgosto do seu pai, que era um proprietário rural e industrial de construção de ramadas, conceituado na sua terra e região. Só os "rendeiros" e os "cabaneiros", os "proves" [pobres]  é que iam para o Brasil, tentar a sua sorte... Creio que o pai nunca lhe perdoou essa "desonra"... Mas o rapaz era teimoso, não tinha jeito nem físico para trabalhar na arte de ramadeiro... E depois, aos 18 anos, é difícil resistir aos apelos da laventura e da iberdade...  Aproveitou a "boleia" de um tio materno, com quem irá aprender a arte de magarefe...

Em 1957, com 18 anos, o António obteve dispensa do serviço militar para se fixar, a título definitivo, no Brasil. Pagou, em Viseu, no RI 14, duzentos escudos de emolumentos, em selos, pela sua dispensa militar (, o equivalente hoje a cerca de 90 euros.)

Era pressuposto ficar pelo Novo Mundo, até porque em 1961 "rebenta a guerra de Angola"... Acabou por ter de regressar, por razões obscuras... Há quem diga que era um rabo de saias... Enfim, voltou a apanhar a boleia do tio,  em 1963, então de de regresso a casa, no Alto, em Paredes de Viadores,  Marco de Canaveses,. onde tinha mulher e filhos...

Está-se mesmo a ver a cena seguinte: no aeroporto, em Lisboa, o  passaporte do Tó levou logo com o "carimbo da PIDE"....  É notificado de que deverá regularizar de imediato a sua situação militar. Faz a recruta, aos 24 anos, e é de seguida mobilizado para Moçambique. Viaja no T/T Niassa. Chega a Tete, em janeiro de 1964, integrado numa subunidade de intendência, o Destacamento Avançado Móvel de Intendência nº 664.

A sua experiência profissional (era magarefe no Brasil) é devidamente aproveitada pela tropa. Um mês depois celebra o seu 25º aniversário, como se podes ver na foto acima...

Seis ou sete meses depois de chegar a Tete, sofreu em julho de 1964 um grave acidente com uma pistola-metralhadora ligeira, uma UZI, uma arma de fabrico israelita,  disparada acidentalmente por um camarada que acaba de "fazer o seu serviço de sentinela" (versão oficial, ou oficiosa)...

O 1º cabo Carneiro irá estar mais de um mês em estado de coma. Só um milagre o salvou. Hoje tem uma enorme cicatriz, um autêntico fecho "éclair",  de alto a abaixo, do peito à barriga... O tiro perfurou-lhe sete órgãos. É um DFA - Deficiente das Forças Armadas (com cerca de 2/3 de incapacidade)...

O António Ferreira Carneiro, na altura conhecido como o "Brasileiro",  pertencia, como dissemos,   ao Destacamento Avançado Móvel de Intendência nº 664, sendo o seu comandante o alf mil Patrício (, que nunca mais viu). O 1º Sargento era o Anmtónio Teles Touguinha, já falecido, que se veio a revelar grande amigo da família. Era natural de Vila do Conde.

Havia ainda dois furriéis açorianos, de que o António já não se lembra o nome. Ao todo, eram cerca de 25 militares, viviam numa vivenda em Tete, em plena cidade. Os graduados eram apenas 2 cabos, 2 furriéis e 1 alferes.

O "Brasileiro"  foi ferido em julho de 1964 e transferido para o HMP - Hospital Militar Principal, em Lisboa, em Dezembro desse ano. No HMP passou cerca de oito meses.  Regressou à vida civil em agosto de 1965, tendo casado depois. Vive em Custóias, Matosinhos, há mais de meio século. Tem 4 filhas, e seis netos.

Durante anos e anos,  procurou malta da sua subunidade bem como o médico que o operou em Tete ("Era a maior alegria que me podiam dar, saber do paradeiro dos meus camaradas de Intendência bem como do médico que me salvou").

Afetado por um AVC, por volta de 2013,  foi tratado no Hospital Militar do Porto. Teve outros pequenos AVC posteriormnete. Ficou com alguns sequelas. Emociona-se com facilidade... Mas faz a sua vida "quase normal", e adora andar de comboio. Dantes vinha de propósito a Lisboa, visitar a mana... Agora mete-se no comboio da Linha do Douro e vai até ao "Calça Curta", um conhecido restaurante na Foz do Tua... Um dia não são dias, e no céu não há as iguarias cá da terra...

 Depois do seu regresso do Hospital Militar Principal, em Lisboa, a família recebeu a  visita desse 1º  sargento, o Touguinha, que foi para o António um verdadeiro anjo da guarda. Sem a a acção dele, provavelmente o nosso mano não se teria salvo.


2. Ontem fiz 800 km para dar um abraço fraterno ao mano (e meu camarada) Tó. E desejar-lhe a saúde possível... Fizeram-lhe uma bonita festa, as filhas, netos, manos, sobrinhos... Onde não faltaram os foliões de Carnaval,  alguns sobrinhos machos "travestido" de "putas da Via Norte"... (Imagens, feiizmente, do passado,  uma vez que já não há... esse triste espetáculo  das "putas da Via Norte", segundo me garante o nosso especialista Zé Ferreira, o autor das "Memórias Boas da Minha Guerra"... De resto, de vez em quando passo por lá, e também confirmo que a informação).

A pedido de várias das respeitáveis famílias da Tabanca Grande, publicamos duas fotos da festa, mesmo que uma vá com... bolinha.

E eu escrevi-lhe, em nome de todos os irmãos/irmãs e cunhadas/os,  um soneto, enquanto ia na autoestrada, com a minha "chofera" a conduzir... Aqui fica, para "memória futura"... Só hoje lhe dei os parabéns, no próprio dia, antes dá azar, como é crença corrente aqui no Norte... (**)


Para ti, mano, que fazes 80 anos,
a melhor prenda que os teus manos te gostariam de dar...


A melhor prenda para ti, mano Tó,
É uma que não te podemos dar,
Não serve para nada, é tão só
Um bem sem preço, não dá para trocar.

Adivinha que prenda será esta,
Não serve para comer nem beber,
Mas sem ela não és feliz, nem há festa,
Nem tempo p'ra os bisnetos ver nascer.

Chegaste hoje a uma bonita idade,
Tens sido um grande resistente,´
Mano querido da nossa irmandade.

Essa prenda de que aqui falamos,
É... a saúde, é não estar doente,
È a melhor que nós hoje te desejamos.



Maia, Restaurante Quinta das Raparigas,
almoço de 80º aniversário do Tó Carneiro,
Os manos Alice e Luís, Nitas e Gusto, Rosa e Quim, Zé e Teresa, Manel e Mi.
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Guiné 61/74 - P19529: Em busca de... (294): O ex-1.º Cabo At Alberto de Aparecida Couto do Pel Caç Nat 54 procura o seu camarada José Augusto da Silva Dias, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BART 3873 que o salvou de morrer afogado no rio Geba (Sousa de Castro)

1. Em mensagem do dia 22 de Fevereiro de 2019, o nosso camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74) enviou-nos para publicação este apelo do ex-1.º Cabo Atirador Alberto de Aparecida Couto que procura o Soldado José Augusto da Silva Dias da CCS do BART 3873.

Boa noite, 
Caros camaradas, em anexo um apelo que gostaria ver publicado no nosso Blogue. 

Saudações veteranas, 
Sousa de Castro 
CART 3494 - Guiné


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Nota do editor

Último poste da série de 27 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19445: Em busca de... (293): O sobrinho do Marinheiro Radarista Ademar da Silva, natural de Matosinhos, pede que o ajudem a esclarecer as circunstâncias do desaparecimento de seu tio, em 24 de Junho de 1968, assim como do 2.º Sargento Ricardo Manuel Serpa Bettencourt, natural de Angra do Heroísmo (Artur Santos)