sexta-feira, 26 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19719: Notas de leitura (1172): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (3) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Fevereiro de 2019:

Queridos amigos,
Procura-se a sincronia com Santos Andrade, desta feita a recruta, seguir-se-á a especialidade, ele em Estremoz, como irá contar e cantar. Recruta é adaptação, a superação de temores, o primeiro degrau da camaradagem, as marchas, a carreira de tiro, a tática, a ideologia da contraguerrilha num conta-gotas, dada com a mais elementar superficialidade e indiferença. E a descoberta.
Falando por mim, já me confidenciei:
"O Tangomau maravilha-se. Acima de tudo com a ginástica, por andar, saltar, marchar, pular, até rastejar. Tem bom físico mas com aquelas aulas, aquelas marchas e caminhadas, o seu corpo está a ganhar vida, a ter mais músculo, até dorme melhor. Quando regressa do crosse da Ericeira, entra pela ala sul risonho ou bem-disposto, ganhou o dia, sente-se outro".
Em abono da verdade, sem aquela recruta, e sem a duríssima especialidade que se seguiu, não teria tido a preparação que me permitiu, meses a fio, aqueles passeios diários de 25 km entre Missirá e Mato de Cão, para cuidar da navegabilidade do Geba. Tudo ganhos da recruta, afianço-vos.

Um abraço do
Mário


Missão cumprida… e a que vamos cumprindo (3)

Beja Santos

“Missão Cumprida”, de Santos Andrade, é a história em verso do BCAV 490. Foi composto e impresso na Tipografia das Missões, Guiné Portuguesa, em julho de 1965. Idealizei a sua publicação em pequenas porções, a que se irão adicionando leituras colaterais e incidentais, sem esquecer o apelo permanente de propostas dentro da confraria, há imenso pasto para conversa de como se foi a caminho da recruta, como ela decorreu, a especialidade e a hora da mobilização, capítulo primeiro desse grande romance que foi a comissão de cada um de nós. A festa está centrada no BCAV 490, o Santos Andrade é o Homero desta Odisseia, mal o projeto foi esboçado bateu-se à porta do Armor Pires Mota, a pedir ajuda, divulgação junto dos seus pares, esta “Missão Cumprida” deve continuar, com eles a protagonizá-la, querendo.
E vamos continuar, Santos Andrade chegou a Mafra:

“Neste grande Convento
o sofrimento aumentava.
A minha sorte era o dinheiro
que minha mãe me mandava.

Havia quem me dissesse
que a tropa não era má,
mas só quem vem para cá
é que sabe o que acontece.
Muitas vezes se adoece
por causa do sofrimento.
Aqui neste aquartelamento
há sempre pouco comer.
Tenho muito que sofrer
neste grande Convento.

Dia a dia vou sofrendo.
A minha sina já está lida.
Dos martírios da minha vida
alguns eu vou escrevendo:
vão-me sempre acontecendo
coisas que eu não esperava.
Na especialidade eu pensava
que deixava de rastejar,
mas sendo grande o meu azar,
o sofrimento aumentava.

Gastava uma conta avantajada
porque a fome era tirana.
Chegava ao princípio da semana
começava a coboiada.
Comia muita linguiça assada
eu mais o meu companheiro,
porque a mãe do Torraneiro
mandava muita encomenda.
E p’ra comprar vinho na venda
a minha sorte era o dinheiro.

A sopa era ruim,
o segundo sabia-me mal.
Foram dois meses e tal
com esta vidinha assim.
Tudo isto para mim
eram coisas que eu não gramava.
Muitas vezes eu chegava
a comer só um bocado de pão
que comprava com o patacão
que a minha mãe me mandava.”

O Santos Andrade centra-se na comida, na verdade horrível. Permito-me falar do que experimentei, assim escrevi em “A Viagem do Tangomau”:
“O Tangomau não esquece que o refeitório onde jantou pela primeira vez no convento é um espaço amplo, um género de arrecadação exterior, muito próximo de garagens de viaturas, dar-lhe-ão uma sopa de manga de capote olorosa e altamente comestível, a seguir apareceram umas sardas a nadar em banhos de fritura como se trouxessem restos de carvão, e batatas cozidas, estas apetecíveis, por sinal. Por razões do pudor, preferiu nada trazer da caserna para comer à mesa. A sopa soube-lhe bem, o casqueiro era saboroso, recusou a sarda, esmagou as batatas, saboreou-as lentamente logo à primeira garfada. Cumpre dizer que em todas as refeições militares há sempre um vigilante, pois teme-se pela indisciplina ou pelo motim, que nestas coisas da tropa dá pelo nome de levantamento de rancho, uma suprema blasfémia. E nisto, comia o Tangomau placidamente as batatas esmagadas, sonhando já com um pedacinho de proteína lá no armário, de fumeiro ou em lata de conserva, quando se aproximou o oficial vigilante: ‘O nosso cadete não tirou sarda, tem de comer, isto não é casa para gente caprichosa, aqui a gente da tropa come de tudo e não refila. Ó nosso soldado, traga cá a bandeja, ponha dois pedaços de sarda no prato do nosso cadete, regue as batatas com óleo!’. O nosso cadete ainda olhou súplice para o nosso soldado em funções de criado de mesa, este dispunha do seu poder soberano que era ver o nosso cadete massacrado, de antemão agoniado, espetou-lhe com duas metades de sarda no prato, ambas com a cabeça calcinada, e ter-lhe-á dito ao ouvido: ‘o nosso cadete coma tudo, só deixe as espinhas, o nosso tenente se ficar zangado participa de si, adeus ao fim de semana!’. E comeu tudo, com o estômago revoltado, até foi ao bar dos cadetes emborcar um bagaço (aguardente chamada 1920)”.
Este Tangomau não esqueceu a caserna, daqui se parte e aqui se chega neste mundo das novas lides que metem a parada, a Tapada ou o Corredor Lacouture:
“Nesta antecâmara, aproveita-se o tempo disponível para dormir ou cabecear, ou chalacear, quem não conhecia a habitação coletiva já se resignou a tanta gente nua, ou semivestida, às sonoridades outrora íntimas, ali é espaço para desabafos, brincadeiras, anedotas pícaras, até tertúlias”.

Vamos agora regressar a “O Pé na Paisagem”, por Filipe Leandro Martins, uma referência à carreira de tiro:
“Na carreira de tiro, quando abriram os cunhetes carregados de balas brilhantes, fez-se silêncio. Agachados no chão enchemos carregadores, os cartuchos a resvalarem nos dedos suados e no metal oleado. A barulheira começou, os tiros a partirem assobiando, os espertos a acertarem, os nabos a errarem, os monitores a ensinarem aos encontrões à malta, as cápsulas saltando a ferver da câmara.
Ficámos surdos e felizes. Já tínhamos coisas importantes para contar. Durante algumas semanas muitos de nós esqueceram que teriam preferido nunca pôr as botas no quartel”.
E ainda um outro dado sobre a recruta, da mesma obra de Filipe Leandro Martins:
“Nos primeiros quinze dias da recruta, também em filas mansas nos mandaram sentar numa sala estreita, um corredor, meio nus e pacíficos, em compridos bancos de pau; esperávamos que nos fossem espetando agulhas nas omoplatas; quando o enfermeiro chegava ao fim do banco ainda o ajudante começava a exprimir a seringa, a dose de cavalo, no primeiro ombro. Depois o enfermeiro passava novamente, arrancando fora as agulhas e alguns rapazes iam rolando para o chão e outros punham-se verdes, tentando aguentar-se nas canetas. Era assim.”

Também o Tangomau tem um desabafo a fazer sobre a carreira de tiro, não é uma visão das armas, era do que ali se oferecia a comer, conta as suas impressões passadas umas semanas da recruta, escreveu assim:
“O Tangomau anda enfiado, é essa a verdade, começaram a desmontar as armas, a dar nome às peças, ao fim de pouco tempo estava baralhado com o cão e o percutor, a corrediça, o rolete de travamento, a haste do gatilho, o alojamento do amortecedor. O mundo das armas arrepia o Tangomau, é evidente que se percebe a função do tapa-chamas, mas depois é aquele horror das cavilhas, a culatra, suportes, eixos, até a chapa do coice. Limpar a arma é uma questão de higiene e segurança, requer paciência, depois há sempre um camarada prestável que dá as indicações necessárias. O Tangomau familiarizou-se com o meio, é muito próprio dele, gosta do som dos carrilhões, passeia-se pelos corredores, está a chegar o verão e empolga-se com as folhas verdes de todo o arvoredo da ala sul. Até pediu licença para entrar onde trabalham os encadernadores e olhou demoradamente a construção das lombadas em carneira, depois debruadas a ouro.
O horrível, a tal ponto que inesquecível, são aqueles caldeiros que esperam os cadetes na carreira de tiro ou nos dias de marchas. O Tangomau nunca será acreditado por quem não esteve em Mafra que houve arroz, naquele segundo curso de 1967, que vinha com patas e cabeças de galinha com bicos e olhos, foi caso extremo mas aconteceu e repetiu-se”.

(continua)
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Notas do editor

Poste anterior de19 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19697: Notas de leitura (1170): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (2) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de22 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19706: Notas de leitura (1171): Um luso-cabo-verdiano que amou desmedidamente a Guiné (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19718: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XXII: José Jerónimo Silva Cravidão, cap inf, cmdt CCAÇ 1585 (Nema e Farim, 1966/68) (Arraiolos, 1942 - Bricamal / Farim, Guiné, 1967)... Morreu, heroicamente, em combate, no dia em que fazia 25 anos... Ninguém lhe deu uma condecoração, por mais singela que fosse.





1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos 47 Oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar que morreram em combate no período 1961-1975, na guerra do ultramar ou guerra colonial (em África e na Ásia). (*)

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva [, foto atual à direita], instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972.

Foi cadete-aluno nº 45/63, do corpo de alunos da Academia Militar. É membro da nossa Tabanca Grande, com o nº 784, desde 7 do corrente.

Sobre o cap inf José Jerónimo da Silva Cravidão, ver os postes já publicados no nosso nosso blogue. (**)


Guiné > Região do Oio > Carta de Farim (1954) > Escala 1/50 mil > Detalhes: zona  de Bricama,  a leste de Farim, onde o cap inf J.J. Silva Cravidão encontrou a morte, em combate, em 4/6/1967., no dia em que fazia 25 anos. A sua morte abalou profundamente o moral do seu pessoal, por quem era muito estimado e respeitado. Nunca foi condecorado.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019)
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(**) Vd. postes de:


10 de junho de  2013 > Guiné 63/74 - P11689: Op Cacau, em 4/6/1967, em que morreu o cap inf José Jerónimo da Silva Cravidão, cmdt da CCAÇ 1585, na região de Bricama (Farim), no dia em que fazia 25 anos

quinta-feira, 25 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19717: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande (6): Estamos a um mês!... É a 25 de maio, sábado, em Monte Real... Dez razões, camarada, para não dizeres, como na canção dos "Deolinda", "vão sem mim, que eu vou lá ter"... Dez razões para vires connosco: (i) quem nunca lá foi, deve ir pelo menos uma vez na vida; (ii) quem já foi uma vez, deve ir pelo menos duas; (iii) quem já foi mais vezes e gostou, deve lá voltar; (iv) quem não gostou, deve dar o benefício da dúvida e inscrever-se este ano; (v) Monte Real é o centro geodésico de todas as tabancas; etc., etc. Lotação máxima: 200 lugares



XIV ENCONTRO NACIONAL DA TABANCA GRANDE

MONTE REAL, Leiria, Palace Hotel Monte Real


sábado, 25 DE MAIO DE 2019, a partir das 10h00

1. Não demos conta: no dia 23, anteontem, fez anos o nosso blogue. Quinze anos!... Também ninguém nos deu os parabéns... Nem estávamos à espera disso. 


O blogue é como o ar que a gente respira ou a saúde ou a paz ou a liberdade, que reconquistámos no dia 25 de Abril de 1974, há 45 anos atrás: um valor sem preço... 

Só vamos dar conta disso quando essas coisas acabarem, um dia... E, pela lógica e pela ordem natural das coisas, deverá ser o blogue, o primeiro a desaparecer... E espero que o resto nunca nos falte: o ar, a saúde, a paz, a liberdade... De qualquer modo, em relação ao blogue, aqueles que o editamos, escrevemos, comentámos, lemos...já estamos todos cansados, e velhotes...

Quinze anos é uma vida!... Pensando bem são mais anos do que aqueles todos que a guerra durou... São sete comissões na Guiné... E se foi penosa a nossa, a de cada um de nós, que em média não chegava aos dois anos... 

No dia 25 de maio próximo vamos celebrar esta "pequena" efeméride, com a realização do XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande. Em Monte Real, o centro geodésico da Tabanca Grande, que a mãe de todas as tabancas...

É preciso apontar dez razões, no mínimo,  para a gente sair de casa e ir até lá ?

(i) Quem nunca lá foi, deve ir pelo menos uma vez na vida;

(ii) Quem já lá foi uma vez, deve ir pelo menos duas;

(iii) Quem já foi mais vezes e gostou, deve lá voltar;

(iv) Quem não gostou, deve dar o benefício da dúvida e inscrever-se este ano;

(v) Monte Real é o centro geodésico da Tabanca Grande, e de todas as tabancas, equidistante do norte e do sul, do leste e do oeste, de Portugal e do resto do mundo;

(vi) A Tabanca Grande é a mãe de todas as tabancas: não basta ser-se tabanqueiro de Matosinhos, do Centro, da Linha, da Maia, dos Melros, do Porto Dinheiro, de Almada, do Algarve, da Lapónia, etc.;

(vii) O Mundo é Pequeno e a Nossa Tabanca... é Grande;

(viii) Aqui cabemos todos, com tudo o que nos une e até com aquilo que nos separa, do general ao soldado, do operacional ao não operacional, do camarada ao amigo, do periquito ao maçarico e ao checha, do crente ao não crente, do mais branco ao menos branco, do mais novo ao mais velho, do verde ao rubro...

(ix) Pode-se comer, beber, conviver e até dormir e orar;

(x) No céu, dizem, ... não há disto!



As inscrições tem de ser feitas até 8 dias antes da realização do evento, por razões óbvias de logística hoteleira...E precisamos de garantir os 100 (!) lugares... Mas o Joaquim Mexia Alves, da comissão organizadora, é que nos vai dizer o dia e a hora em que terminam as inscrições...


PS1 - Que ninguém diga, como na canção dos "Deolinda", "vão sem mim que eu vou lá ter"... Não, amigos e camaradas da Guiné (ou de outros teatros de operações), venham connosco...Nunca ninguém ganhou guerras sozinho...

PS2 - Ah!, e podem dormir no Palace Hotel de Monte Real (4 estrelas) a preço de amigo e camarada da Guiné...



2. 
Para saber tudo sobre o encontro clicar aqui.


Inscrições:

Carlos Vinhal (Leça da Palmeira / Matosinhos):

carlos.vinhal@gmail.com 


Temos 56 inscritos até ao fim do dia 25 de abril de 2019 [, vd. lista na coluna do lado esquerdo, ao alto]. 

Palmas para estes 56 amigos e camaradas da Guiné que não esperaram pela 23ª hora para se inscreverem, à "boa maneira portuguesa"...  Alguns vêm pela primeira vez, e/ou vêm de longe. 

Contamos com a leal colaboração dos régulos das diversas tabancas para mobilizarem os seus tabanqueiros para este evento, que só se realiza uma vez por ano... 

E esperemos que este não seja o último!...


[ A propósito, recordo sempre a história do "meu pai, meu velho, meu camarada"... Foi expedicionário, na II Guerra Mundial, em Cabo Verde, Ilha de São Vicente, Mindelo... em 1941/43. Pertencia ao 1º batalhão do RI 5 (Caldas da Rainha)... Passou meio século da sua vida a ir todos os anos ao convívio da sua unidade, nas Caldas da Raínha, que até nem era longe da Lourinhã onde vivia, a uns escassos trinta e tal quilómetros... Nunca o lá levei, nem antes nem depois do 25 de Abril... Hoje percebo melhor o seu prazer e a sua necessidade de se encontrar, anualmente, com os seus velhos camaradas de armas...Um dia, já nos "entas",  ele e os seus camaradas, começaram a olhar uns para os os outros: eram seis, menos do que um secção... Nunca mais lá voltaram. E já morreram todos. Minto: ainda está vivo, e mais do que centenário, o ex-furriel miliciano António Caxaria, que lhe dava boleia... Gostava de lhe poder fazer ainda uma homenagem, aqui, no nosso blogue: já fez 103 anos!... Houve um altura que o encontrava, com alguma frequência, aos fins de semana, no restaurante Foz, da Praia da Areia Branca, com o filho, o engº de minas Carlos Caxaria... Que cabeça, que memória!...Era um gosto falar com ele...]

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Nota do editor:

Postes anteriores da série >

20 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19702: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande (5): De Nova Iorque com amor, em dia de aniversário de casamento: o João Crisóstomo é o 47º camarada a responder à chamada da mãe de todas as Tabancas... E aproveita para ir, no dia 18 de maio, ao almoço convívio da sua companhia, a CCAÇ 1439 (Enxalé, Portogole e Missirá, 1965/67)... Com ele, são já 47 os inscritos para a Operação Monte Real 2019...

12 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19671: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande (4): os melhores exemplos são os que vêm de cima... O novo grã-tabanqueiro, nº 785, o maj gen ref João Afonso Bento Soares, inscreve-se com tempo e vagar e traz com ele o José Ramos, ex-fur mil trms, chefe do posto do STM do Agrupamento de Bafatá (1968-70), um "periquito" que pede também para acomodar-se na mãe de todas as tabancas... A mês e meio do encontro, em Monte Real, há já 45 inscrições!... O normal é a malta deixar tudo para o fim...

1 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19641: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 25 de Maio de 2019 (3): A menos de dois meses, temos 'apenas' 34 inscrições... O que é que se passa, amigos e camaradas da Guiné?... Esta semana, o nosso blogue chega aos 11 milhões de visualizações, e a 23 de abril faz 15 anos de vida!...

8 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19561: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 25 de Maio de 2019 (2): Duas baixas de vulto, o David Guimarães (ex-fur mil MA, CART 2716, Xitole, 1970 / 72) e a sua esposa Lígia, um casal histórico de grã-tabanqueiros, residente em Espinho, que, pela primeira vez, desde 2006, falha à chamada!... Mas já temos as primeiras 18 inscrições..

12 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19492: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 25 de Maio de 2019 (1): Primeiras informações e abertura das inscrições (A Comissão Organizadora)

Guiné 61/74 - P19716: 15 anos a blogar, desde 23/4/2004: repescando velhos postes (1): Um dos bu..rakos em que vivemos: o destacamento do Mato Cão, na margem direita do rio Geba Estreito, entre o Xime e Bambadinca (Joaquim Mexia Alves)


Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Mato Cão >  Pel Caç Nat 52 (1973 /74) >   Vista do Rio Geba e bolanha de Nhabijões, a partir do "planalto" do Mato Cão. (*)


Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Mato Cão >  Pel Caç Nat 52 (1973 /74) >  O "nosso quartel" (**)


Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Mato Cão >  Pel Caç Nat 52 (1973 /74) >  As instalações do pessoal, ao fundo, e o comandante do destacamento verstido  de "mandinga", já "apanhado do clima"... (***)

Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 > Bambadinca > Mato Cão > O Ten Cor Polidoro Monteiro, último comandante do BART 2917, o Alf Médico Vilar e o Alf Mil Paulo Santiago, instrutor de milícias, com um crocodilo jovem  do rio Geba... (****)

Foto tirada em Novembro ou Dezembro de 1971 no Mato Cão, após ocupação da zona com vista à construção de um destacamento, encarregue de proteger a navegação no Geba Estreito e impedir as infiltrações na guerrilha no reordenamento de Nhabijões, um enorme conjunto de tabancas de população balanta e mandinga tradicionalmente "sob duplo controlo".

Foto (e legenda): © Paulo Santiago (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 > Bambadinca > Destacamento do Mato Cão > Pel Caç Nat 52 > 1973 > O alf mil Joaquim Mexia Alves, posando com um babuíno (macaco-cão) mais o Braima Candé (em primeiro plano), tendo na segunda fila, de pé, o seu impedido, o Mamadu, ladeado pelo Manga Turé. (*****)


Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 > Bambadinca > Destacamento do Mato Cão > Pel Caç Nat 52 > 1973 > Vista parcial das modelares instalações do 'resort' turístico... (*****)


Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 > Bambadinca > Destacamento do Mato Cão > Pel Caç Nat 52 > 1973 > "A chegada à estância era sempre um momento vivido com prazer"... O sintex era a única ligação... à outra margem do Rio Geba (e nomeadamente, a Bambadina). (*****)

Fotos (e legendas): © Joaquim Mexia Alves (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Em homenagem ao Joaquim Mexia Alves, régulo da Tabanca do Centro, membro da comissão organizadora do Encontro Nacional da Tabanca Grande, desde 2010, ex-alf mil da CART 3492, (Xitole / Ponte dos Fulas), Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15, (Mansoa) (1971/73), fomos "revisitar" um dos seus muitos postes, aqui publicados, e reproduzimos alguns excertos da "deliciosa" e "bem humorada" descrição de um dos "aposentos bunkerizados" (ou "bu...rakos") em que viveu, no TO da Guiné: o destacamento de Mato Cão, no setor L1 (Bambadinca), sito na margem direita do Gebo Estreito,  no troço entre o Xime e Bambadinca. A função do destacamento era,. primordialmente, garantir a segurança do tráfego fluvial, que vinha de (e ia para Bissau)... Na época, o rio era navegável até Bafatá, mas o grosso da navegação civil fazia-se até Bambadinca, e os navios da marinha (LDG) aportavam ao Xime.

Socorremo-nos de algumas fotos suas,  do Paulo Santiago e do Luís Mourato Oliveira (, o qual foi  o último comandante do Pel Caç Nat 52 a passar pelo "bu...rako" do Mato Cão).  

(...) Chegava-se ao Mato Cão, (tiro-lhe o de), vindo de Bambadinca, pelo rio Geba, de sintex a remos, aportando aos restos de um antigo cais (?), onde se desembarcava.

(...) Logo à esquerda, e com vista para a bolanha do lado do Enxalé, ficava o complexo dos balneários, sobretudo a zona de duches. Dado o clima ameno e soalheiro, estes duches ficavam ao ar livre, e eram constituídos por um buraco no chão, que dava acesso a um poço, cheio de uma água leitosa, e que respondia inteiramente aos melhores padrões da qualidade de águas domésticas.

Os utentes colocavam-se à volta do referido buraco e, alegremente, todos nus em franca camaradagem, (nada de más interpretações!), utilizavam uma espécie de terrina da sopa, em alumínio da tropa, presa por umas cordas, e que, trazida à superfície cheia de água, era a mesma retirada da referida terrina com umas estéticas latas de pêssego em calda, derramando depois os militares a água sobre as suas cabeças para procederem aos seus banhos de limpeza.

Para se chegar ao destacamento propriamente dito, subia-se então uma ladeira íngreme, (o burrinho da água só a conseguia subir em marcha atrás), acedendo-se então à parada à volta da qual, mais coisa menos coisa, se desenvolvia todo o complexo militar.

À esquerda, salvo o erro, ficavam os espaldões de dois morteiros 81 e respectivas instalações, dormitórios do pessoal do pelotão de morteiros. Um pouco mais à frente e do lado direito ficava o bar e a sala de banquetes, toda forrada a chapas de zinco e assim também coberta, sendo aberta do lado da frente para o exterior, como convém a instalações de férias em climas tropicais.

A arca a pitrol refrescava as cervejas que o pessoal ia com todo o prazer consumindo. Fazia também algum gelo para dar mais alegria aos uísques emborcados, sobretudo ao fim da tarde.

(...) Os quartos de dormir eram todos situados abaixo do chão, cavados na terra, para que assim não se perdesse o calor que tanta falta fazia nas longas noites de Inverno da Guiné!

Por cima, o telhado, de chapas de zinco, era sustentado normalmente em paus de cibo, que assentavam em graciosos bidões cheios de uma massa de cimento e terra. Lembro-me de como era agradável o jogo que então fazia, quando deitado na cama, os ratos, de quando em vez, passeavam por cima do mosquiteiro, e com pancadas secas os projectava contra o tecto, voltando depois a cair sobre o mosquiteiro. (...)

No espaço central deste planalto, (porque o Mato Cão era um pequeno planalto), erguiam-se as tabancas do pessoal africano do Bando do 52.

Tudo estava rodeado de umas incompreensíveis valas sobretudo para o lado Sinchã Corubal, Madina, Belel, junto à qual, se a memória não me atraiçoa, estava uma guarita térrea com uma metralhadora Breda.

Ao fim da tarde, e na esplanada do bar e sala de banquetes, bebendo umas cervejas e uns uísques, o pessoal esperava ansioso o ligar da iluminação pública, o que curiosamente nunca acontecia, talvez pelo facto de não haver gerador no Mato Cão.

Bem, o Mato Cão era um verdadeiro Bu…rako, tendo apenas a vantagem, valha-nos isso, do pessoal amigo do PAIGC não ter incomodado muito durante a minha estadia. (...)

Ah,… uma coisa boa… tinha um lindíssimo Pôr-do-Sol! (*****)


Guiné > Região de Bafatá > Carta de Bambadinca (1955) > Escala de 1/50 mil > Detalhes: posição relativa de Bambadinca, Nhabijões, Mato Cão, Missirá, Sancorlá e Salá. O PAIGC só mandava (alguma coisa), a partir de Salá... tendo "barracas", mas a noroeste, na zona de Madina / Belel). Já no OIo havia a "base central" de Sara Sarauol... O destacamento, mais a norte de Bambadinca, no setor L1. era Missirá,  guarnecido por um Pel Caç Nat (52 ou 63, em diferentes períodos) e um pelotão de milícias... Vários camaradas nossos, membros da Tabanca Grande, andaram por outros sítios, "pouco recomendáveis"...  A Madina/ Belel (que já não vem neste excerto do mapa) ia-se uma vez por ano, na época seca...para dar e levar porrada.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 10 de novembro de  novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16706: De Cufar a Mato Cão, histórias de Luís Mourato Oliveira, o último cmdt do Pel Caç Nat 52 (2) - Experiências gastronómicas (Parte II): Restaurante do Mato Cão: sugestões de canibalismo ("iscas de fígado de 'bandido' com elas"), "pãezinhos crocantes com chouriço" e... "macaco cão [babuíno] no forno com batatas a murro"!...

(**) Vd. poste de  7 de dezembro de  2016 > Guiné 63/74 - P16808: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (5): o destacamento de Mato Cão - Parte I

(***) Vd. poste de  9 de janeiro de  2017 > Guiné 61/74 - P16936: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (8): o comandante do destacamento de Mato Cão "travestido" de... mandinga

(****) Vd. poste de 11 de maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4321: Os Bu...rakos em que vivemos (9): No Mato Cão, com o Ten-Cor Polidoro Monteiro, em finais de 1971 (Paulo Santiago)

(*****) Vs. poste de 11 de maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4317: Os Bu...rakos em que vivemos (8): Estância de férias Mato de Cão, junto ao Rio Geba (J. Mexia Alves)

quarta-feira, 24 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19715: Armamento (7): Granada de mão e dilagrama (Luís Dias)



A granada defensiva M26A1 M/63 (**)


Luís Dias, hoje
1. Excerto de um texto, já antigo,  do nosso camarada Luís Dias, ex-alf mil at inf, CCAÇ 3491/BCAÇ 3872 (Dulombi e Galomaro, 1971/74),  sobre armamento das NT, com destaque para o controverso dilagrama que, indevidamente manejada,  também matou e feriu gravemente alguns dos nossos camaradas (*)


AS GRANADAS DE MÃO E O DILAGRAMA, USADOS PELAS NT (**)

por Luís Dias


Luís Dias, ontem- Tem c. 75 referências
no nosso blogue
 As tropas portuguesas usavam, essencialmente, dois tipos de granadas de mão: as ofensivas e as defensivas. Eram também usuais as granadas de fumo (cores vivas) para assinalar locais no mato para aterragem urgente de hélios e para identificar a zona onde se encontravam as nossas forças, quando se solicitava ataque aéreo. Muito raramente se utilizavam as incendiárias.

As granadas ofensivas eram de fraco raio de acção, essencialmente actuando por sopro e choque, podendo ser empregues quando as tropas que as lançavam estão a descoberto, dado que os seus poucos estilhaços, normalmente, não tinham alcances superiores a 15 m.

As granadas defensivas eram de um raio de acção superior a 100 m, embora o raio de acção de eficácia fosse de 15/20 m, actuando por meio de fragmentação em estilhaços do seu próprio corpo e da espiral existente no seu interior. Destinam-se a ser empregues quando as forças que as lançam estão abrigadas, protegidas da acção dos efeitos da própria granada.

Outra utilização para as granadas defensivas era o seu arremesso, através de um dispositivo colocado na G3, com recurso à utilização de uma munição especial, para distâncias superiores aos atingidos pelo lançamento manual - este conjunto chamava-se dilagrama.

Características da Granada Ofensiva M/62

TIPO: 
Arma de arremesso, destinada ao combate próximo, podendo bater ângulos mortos
PESO: 
310 g
CARGA: 
190 g TNT

RAIO DE ACÇÂO: 
10 a 15 m
ALCANCE: 
Dependente da potência do braço do lançador

ESPOLETA: 
De tempos, de percussão prévia automática. Duração de combustão do misto retardador – 4 a 5 segundos.

FUNCIONAMENTO: 
Após ser retirada a cavilha de segurança, puxada pela argola existente na cabeça da granada, largando em seguida a alavanca de segurança, o percutor acciona a combustão do misto retardador e posteriormente atingindo o detonador, este acciona a carga ignidora e em seguida a carga base, dando-se a explosão.

Características da Granada Defensiva M/963 
(M26 ou M26A1)

TIPO: 
Arma de arremesso, destinada ao combate próximo, podendo bater ângulos mortos
ORIGEM: 
EUA
PESO:
455 g
CARGA: 
165 g de Composição B
RAIO DE ACÇÃO EFICAZ: 
20/30 m
RAIO DE ACÇÃO PERIGOSO: 
185 m
ALCANCE: 
Dependente da potência do braço do lançador

ESPOLETA: 
De tempos, de percussão prévia automática. Duração de combustão do misto retardador – 4 a 5 segundos

FRAGMENTAÇÃO: 
Através de uma espiral em aço em forma de barril, existente no interior do corpo. Mola fragmentada
FUNCIONAMENTO: 
Após ser retirada a cavilha de segurança, puxada pela argola existente na cabeça da granada, largando em seguida a alavanca de segurança, o percutor acciona a combustão do misto retardador e posteriormente atingindo o detonador, este acciona a carga ignidora e em seguida a carga base, dando-se a explosão.



O dilagrama M26A1 (**)
O Dilagrama

O Dilagrama era um dispositivo que, conjuntamente com a granada de mão defensiva M/63, ao qual era fixado, aplicado na espingarda automática G3, permitia-nos obter alcances superiores aos conseguidos pelo arremesso manual da granada, reduzindo os riscos para as nossas tropas na sua utilização. O Dilagrama permitia bater ângulos mortos, sendo possível o seu emprego contra elementos IN abrigados.

O Dilagrama era constituído por:

(i) um adaptador da granada;
(ii) um tubo em forma cilíndrica;
(iii) uma empenagem;
(iv) a granada defensiva M/63;
(v)  e um cartucho especial propulsor.

Retirada a cavilha da granada, a alavanca de segurança ficava presa pelo retentor. Quando se premia o gatilho da arma e o cartucho era percutido, a acção de gases que se seguia impulsionava o conjunto, lançando-o pelo ar e pela acção da inércia o grampo de armar recuava, partindo o retentor, soltando-se, então, a alavanca de segurança da granada, iniciando-se a combustão do misto retardador e consequentemente a explosão, com fragmentação de todo o conjunto.

Normalmente, a granada atirada por este dispositivo, rebentava acima do solo. Num disparo a 45º, verificávamos que, efectuando uma contagem rápida de 1 a 15, o rebentamento se dava, por norma, nesta altura.

O disparo deste dispositivo dava um forte coice, em especial no dedo que dava ao gatilho, por isso, os soldados eram instruídos para efectuarem o disparo como se dedilhassem uma guitarra (só usando a ponta do dedo) e dispararem a arma apoiada no chão, prendendo-se com um dos pés a bandoleira e colocando a arma no ângulo pretendido. 

No entanto, em acção, a maior parte dos atiradores que me acompanhavam e que utilizavam o dilagrama, efectuaram os disparos do mesmo ao ombro, sem quaisquer problemas.


Dilagrama M26A1

Características desta arma:

TIPO: 
Dispositivo de lançamento de granada defensiva através de uma espingarda
ORIGEM: EUAPESO: 455 g

EXPLOSIVO: 
Composição B

FRAGMENTAÇÃO: 
Espiral de aço em forma de barril no interior da granada, bem como o restante conjunto, fabricado em metal.

CAPACIDADE: 
Acção efectiva nos 15 m em redor do local da explosão.

ALCANCE MÀXIMO: 
160 m
Durante o ano de 1973, surgiu outro tipo de dispositivo (ao que creio, o FRG-RFL 40BT, de origem belga), em que a granada não era acoplada, mas fazia parte integrante do conjunto (tipo bola), no calibre de 40 mm, rebentando por impacto e, dado ser um conjunto mais leve que o conjunto anterior (355 g), o seu alcance era sensivelmente o dobro (350 m), lançando cerca de 300 fragmentos, em 30 m em volta do local da explosão. (***)


PS  - No caso dos dilagramas e no meu tempo, os nossos Gr Comb usavam-no muito porque percebemos que os rebentamentos eram mais eficazes numa reacção a uma emboscada do que propriamente os tiros de G3.

Os elementos que transportavam os dilagramas usavam um carregador só com munições apropriadas, devidamente identificado com uma fita de cor berrante (amarelo ou vermelho) e nunca, nunca, usavam só uma munição para atirar um dila e depois tinham a seguir bala real.

Os lançamentos eram efectuados ao ombro, com arma a 45%, e depois do disparo, contando rapidamente até 12/15, dava-se o rebentamento. (****)
___________

Notas do editor:



(...) No dia 15 de Julho de 1972 fui nadar e comer ostras para Quinhamel. À noite escrevi:

“No meu Batalhão e pertencentes à CCS,  quando procediam ao lançamento de um Dilagrama (Dispositivo de lançar granadas de mão com a G 3) a mesma rebentou e morreram um Alferes e um Soldado. Disseram-me que o Alferes quando viu a granada se atirou para cima dela se não teriam morrido muitos mais. Lamento muito dar-te notícias destas”.

Nem há um mês estava em solo guineense. Começavam as tragédias com o meu batalhão. (...)

Guiné 61/74 - P19714: Memórias de Gabú (José Saúde) (82): Recordando (José Saúde)


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.


Memórias de Gabu
Recordando

O tempo passava por cuidados intensivos. Sair para o mato impunha precaução, quer a missão passasse por mais uma patrulha às tabancas onde a finalidade era efetuar a inevitável incumbência pela então chamada “psicó”, ou para a proteção de uma coluna, ou para mais uma noite passada no mato a contar as estrelinhas, sendo a guerra feita pelos zumbidos dos mosquitos que não davam tréguas ao sossego do militar prontinho a dormir mas… acordado. 

Usufrui de profícuos conhecimentos obtidos em Penude, Lamego, Curso de Operações Especiais/Ranger, aquando a minha mobilização para a guerra acontecesse certamente jamais abdicaria do que me fora ensinado em pleno sopé da Serra das Meadas, a "bíblia sagrada" de todos os ranger’s. 

O curso como instruendo fora, para todos, literalmente penoso, sendo que na condição de instrutor readquiri uma outra bagagem, esta acrescida como fundamental no momento áureo em que a guerra era uma verdade indesmentível. Estávamos, digamos, no auge de uma peleja que não dava descanso e as nossas mobilizações invariavelmente assumidas como certezas absolutas. 

Havia preceitos, ordens e princípios básicos que impunham regras de autodefesa. Em Gabu conheci a realidade da guerrilha e aos poucos consegui introduzir no grupo a noção da responsabilidade. Uma veracidade que passava, naturalmente, pela preparação da saída. Nada de “baldas” e nem de facilitismos.

Ao cimo da parada do quartel em Nova Lamego, era comum o pessoal juntar-se de fronte a um casario com destinos diversos. O armazém do material de guerra ficava mesmo em frente. Ali o pessoal formava, distribuíam-se munições de entre outro material que porventura pudesse ser utilizado, organizavam-se as incumbências de cada militar, dirigiam-se umas palavras aos camaradas e lá partíamos para a forjada “paz” de um IN que não descurava um pequeno descuido do pessoal.

Um belo dia preparei a rapaziada, nada de gozos e nem tão-pouco falta de respeito, para um momento de todo impensável. Estávamos de partida para mais uma ida para o mato e por perto passava o capitão Rijo, comandante a nossa companhia, que esboçou a sua admiração com a inesperada postura do furriel.

Com o grupo formado e com o capitão Rijo a olhar a malta de soslaio, eis que solto um grito à ranger que se propagou exaustivamente por todo o recinto: dois passos em frente, bem trabalhados, os calcanhares e as solas dos pés a emitirem um som enorme, corpo hirto uma magistral paulada e do interior das minhas cordas vocais lá entoei “Vossa Excelência meu capitão dá-me licença que mande avançar o grupo!”.

Reparei que a sua primeira atitude foi de espanto. Ele que era capitão oriundo da GNR jamais lhe terá passado pela cabeça uma atitude tão autoritária de um mero furriel que entretanto levou o oficial a lisonjear-se com a bem-aventurada situação.

Lembro que a sua resposta à minha solicitação não foi imediata. Meditou e num curto espaço de segundos a sua resposta ao devolver-me a continência foi com a singela palavra “pode”.

A malta, sempre traquina, divertiu-se depois à fartazana com a “peça” que o furriel tinha feito ao capitão. Mas a “marca” estava dada para, em situações futuras, o capitão responder atempadamente ao monograma colorido de um ranger que se via a comandar um pelotão de valentes soldados.

Ali não existiam distinções, todos bebiam pelo mesmo cálice e comiam do mesmo prato. Um por todos, todos por um. Era assim a mensagem que diariamente proponha a uma rapaziada que ainda recordo com um respeito imenso.

Histórias avulsas, e sobretudo alegres, empreendidas no interior do arame farpado, mas com o devastador palco de guerra ali por perto.


Um abraço, camaradas 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
___________

Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 61/74 - P19713: Fotos à procura de... uma legenda (115): os nossos aposentos "bunkerizados"... com "climatizadores de pesadelos"!


Foto nº 1 > Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > O alf mil at art Torcato Mendonça, ao centro, num dos abrigos subterrâneos do aquartelamento, onde as fotos das estrelas de cinema (,, "mulheres fatais" como Catherine Deneuve, por exemplo) ajudavam os jovens, nos seus verdes anos, a alimentar e a sublimar o ardente desejo... de viver (e sobreviver)!... Com Lisboa e o Porto, tão longe... e Bissau pelo meio, mas só para alguns privilegiados. Ah|, e ainda ficava longe, Mansambo, a 80 km, das garotas do Bataclã de Bafatá!... (*)

Foto (e legenda): © Torcato Mendonça (2006).  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça  & Camaradas da Guiné]


Foto nº 2 > Guiné > Região de Gabu > Nova La,mego > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > O alf mil SAM Virgílio Teixeira escrevendo uma carta à namorada, a Manuela, sua futura esposa e mãe dos seus filhos (, vd. retrato em cima da mesa de cabeceira, à esquerda)  no seu quarto, cuja decoração era igual a tantas outras naquele tempo e lugar... A G3 ficava em cima, pendurada na parede, ou ao lado da cama. 

Foto (e legenda): ©  Virgílio Teixeira (2019).  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça  & Camaradas da Guiné]


Foto nº 3 > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (1972/74) > A estante do quarto (, de 3 x 2 m,) dos "Mórmones de Fulacunda": o Dino, o Omar, o Meira e o Lee. à esquerda e à direita, dois beliches (quatro camas). Foto do  álbum do José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) (**)

Foto (e legenda): © José Claudino da Silva (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 4 > Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 > 1973 > "Uma farra das NT"... O fotógrafo, o alf mil at inf Luís Mourato Oliveira,  é o segundo, a contar da esquerda para a direita

Foto (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Qual a diferença entre as duas primeiras fotos de cima, tiradas a cerca de 140 quilómetros de distância uma da outra, mas sensivelmente na mesma época  (1968)? Mansambo ficava a sul de Bambadinca, a meio caminho, na estrada Bambadinca - Xitole - Saltinho (c. 60 km).  O "campo fortificado de Mansambo", como lhe chamava a "Maria Turra"... Foi construído de raiz, a pá e pica, pelos bravos "Viriato" da CART 2339.

Em geral, os alferes milicianos partilhavam um quarto a três, os furriéis a cinco ou seis, nas sedes de Batalhão (Bambadinca, por exemplo, onde só os oficiais superiores e os capitães tinham direito a "quarto privativo")... O "povo", esse, dormia a granel...

Nas unidades de quadrícula, uns viviam em "bunkers" (ou melhor, "bu...rakos"), em abrigos subterrâneos (caso de Mansambo). Mas a decoração não variava muito: fotos de "garotas", "pinups", modelos fotográficos, artistas de cinema, em poses mais ou menos ousadas, tanto quanto a moral e os bons costumes o permitiam nessa época... Eróticas q.b., mas não nunca pornográficas (sexo explícito)... 

A foto nº 3  tem já cinco/seis anos de diferença, bem mais próximas do fim da guerra, c. 1973/74... Já o puritanismo de Salazar & Cerejeira estava a passar à História...  É do quarto (partilhado) do nosso camarada José Claudino da Silva, um dos quatro "mórmones de Fulacunda"... Surpreendentemente, era um aposentotado, minúsculo (, d e 3 x 2 m),  austero, puritano,  com dois  beliche (4 camas ), e um espécie de móvel encostado à parede, a servir de mesa de cabeceira  e estante, e onde ao que parece, só entravam as fotos... das castas... namoradas dos "mórmones" (**).

A foto nº 4 faz parte de um conjunto a que o fotógrafo chamou "farra das NT",   muito reveladores do universo concentracionário em que se vivia na Guiné, nos aquartelamentos e destacamentos das NT. "É a caserna na sua intimidade"...

A  CCAÇ 4740, era constituída por pessoal açoriano.  Centena e meia de homens, machos, na flor da idade, cheios de testosterona, partilhavam espaços reduzidos, geralmente sob a forma de toscos "bunkers", semi-enterrados, construídos de troncos de palmeira, chapa, bidões, terra e argamassa, e onde coabitavam com os bichos (mosquitos e demais insector, roedores, répteis) e a atmosfera era muitas vezes irrespirável, devido à multiciplicidade de cheiros,  à humidade, ao calor, à semi-obscuridade, à sujidade, ao pó ou à lama (conforme a estação do ano: época das chuvas ou época seca)... Noutros casos, eram verdadeiros "armazéns de depósito de material humano", com cobertura de chapa de zinco, onde era quase impossível permanecer durante o dia, devido à temperatura e humidade tropicais...

A ventoinha  era um luxo, só para alguns, e só durante escassas horas da noite, quando se ligava o gerador... Nestas "casernas do mato", os homens viviam, conviviam, comiam e dormiam quase sempre em tronco nu, de calções e chanatas.. O álcool, o tabaco e as cantorias, além das jogatanas de cartas, eram dos poucos escapes que a malta tinha nas "horas vagas"... Os dias sucediam-se aos dias, perdia-se a noção do tempo... Deixa-se crescer o bigode, contra os regulamentos, para se parecer mais bravo e macho.

No meio de toda esta promiscuidade, salvava-se a amizade, a solidariedade, a camaradagem... E cada companhia que chegava procurava melhorar, para si e para os vindouros, as condições de vida que encontrava... Se a guerra tivesse durado 100 anos, como alguns queriam, estou ciente que em Cufar já haveria hoje painéis solares, ar condicionado,   bar aberto e umas "ervas"... (E claro, militares de ambos os sexos, se bem que em aposentos separados; no nosso tempo, as únicas camaradas que tínhamos eram as enfermeiras paraquedistas, que causavam sempre algum alvoroço sempre que  vinham a "terra", isto é, à sede de algum batalhão, presenciei isso em Bambadinca...).

Temos, no nosso blogue, uma série sobre "Os Bu...rakos em que vivemos" que pode ser revisitada e que queremos retomar... Na realidade, não eram "bunkers" de cimento armado à prova de canhão s/r ou morteiro 120 (com raras exceções, como era o caso de Gandembel e de Guileje), mas verdadeiros "bu...rakos" a que  chamávamos pomposamente... "abrigos"... De Cafal Balanta a Mato Cão, de Mampatá a Banjara, da Ponte do rio Udunduma a Ponte Caium, de Sare Banda a Missirá, de Madina do Boé a Copá..., a Guiné era, toda ela, uma terra "es...bu...ra...ka...da". 

Os "posters" / cartazes / capas de revistas com "meninas" mais ou menos "despidas" ajudavam-nos, ao menos,  a "climatizar" os nossos pesadelos (***)..

Vá lá, caros/as leitores/as, arranjem as vossas legendas para estas fotos... dos nossos verdes anos, passados lá na Guiné, quando ela ainda era "verde e rubra. Tínhamos, muitos de nós, "aposentos bunkerizados", daí o necessário  recurso aos "climatizadores de pesadelos" (****)... LG
_________________


Guiné 61/74 - P19712: Historiografia da presença portuguesa em África (160): Relatório para o Sr. Governador da Guiné, assinado em Buba, em 6 de dezembro de 1882, pelo Capitão Caetano Filipe de Sousa (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Agosto de 2018:

Queridos amigos,

Trata-se de uma documentação de valor histórico apreciável. Em diferentes peças, o leitor ficará ciente de que chegara a hora da decadência de Buba e a perda de influência do Rio Grande, guerras étnicas devastam o Forreá, captura-se gente, levam-se reféns. O secretário do Governo envia instruções a Caetano Filipe de Sousa para proceder a um diagnóstico da situação, importa a todo o transe abrir o eixo comercial entre Buba e a região do Futa, estabelecer tratados de paz, fazer retirar os Fulas-Pretos para o Corubal, atrair os chefes do Futa, tratar com deferência o chefe Mamadu Paté, dar presentes, entre outras questões de grande pertinência.

Em termos historiográficos, são peças singulares que dão conta de que no momento em que a colónia da Guiné se autonomiza o Forreá revela uma grande instabilidade, a que não é alheia a pressão dos franceses, eles estão altamente interessados em comprimir o território da colónia, como o comprovará a Convecção Luso-Francesa em 1886. O testemunho de Caetano Filipe de Sousa fala por si.

Um abraço do
Mário


Relatório para o Sr. Governador da Guiné, assinado em Buba, em 6 de dezembro de 1882, pelo Capitão Caetano Filipe de Sousa (3)

Beja Santos

Vamos hoje concluir o resumo do relatório de Caetano Filipe de Sousa, capitão e antigo administrador de Buba, escrito em Buba, em 25 de novembro de 1882 e que está depositado nos Reservados da Sociedade de Geografia de Lisboa. Depois de uma longa dissertação sobre os Fulas-Forros e os Fulas-Pretos, prossegue o seu historial do seguinte modo:

“O primeiro chefe a quem os Fulas-Forros tiveram chamava-se Sambali. Todo o chão de Bolola, até 1869, era habitado pelos Beafadas, alguns Fulas-Pretos, antigos aliados dos Fulas-Forros e a pequena tribo Fula-Forro com os seus novos escravos. Um dos chefes dos Beafadas declarou guerra ao seu chefe principal e para o ajudar chamou Sambali. O chefe rebelde venceu a questão, porém, o seu partido entre os Beafadas era pequeníssimo, e Sambali aproveitou esta circunstância, declarou então guerra ao único chefe dos Beafadas que havia em Bolola, isto é, o chão que então era habitado pelos cativos, segundo as suas tradições ficavam entregues aos Forros. Sambali, logo que se estabeleceu, mostrou desejo de estar em boas relações com o Governo Português, realizando-se entre ele e o Governador um convénio que teve lugar no cais de Bolola, no Rio Grande, em 1869, e para cujo fim ali foi a escuna Bissau, havendo a seu bordo, além do Governador do distrito, os principais negociantes portugueses de Bolama e Rio Grande. Este convénio foi realizado com grande pompa que ainda hoje entre gentios e civilizados dá pelo nome de A Paz de Bolola.

Os Fulas-Pretos que habitavam no Forreá julgaram-se tributários dos Forros e assim estiveram sem se incomodar até 1879, data da primeira guerra entre eles. Os Fulas-Pretos julgaram-se com direito a possuir o Forreá porque o seu chefe descende por parte do pai do chefe principal dos Beafadas, e que tendo este perdido o Forreá, eles o pretendem como sua legítima. Há já três anos que esta guerra existe e eu estou convicto que ela não acaba tão depressa, e até mesmo creio que, à hora em que estou escrevendo este pequeno relatório, estão-se preparando nos limites do Forreá e Cadi grandes massas de homens para se baterem uns contra os outros.

O chefe Mamadu Paté recebeu toda a sua família, excepto um sobrinho de 10 anos de idade, que, por enquanto, não se sabe para onde foi levado; mostrou-se satisfeito e agradecido ao Governo o ter-lhe restituído a sua família, estabeleceu de novo a sua tabanca em Bolola.

O Bacari Quidali, que ainda está na praça, promete fazer encaminhar o comércio do Futa, Timbo e Labé para esta praça logo que os Fulas-Pretos retirem do Forreá.

Neste espírito também se me oferece dizer alguma coisa: o Bacari Quidali chamou em tempo gente do Futa para o ajudar numa guerra que tentava fazer contra os Fulas-Pretos no Corubal, Badora e Firdu, esta gente está a caminho do Forreá, isto é, está reunida em Cadé sobre as ordens do chefe do Futa. Os portadores deste chefe precisam da sua ordem para cumprimentar o Bacari Quidali na sua tabanca, porém, eu, sabedor disto, mandei ali portadores meus a comunicar-lhes para que venham a Buba, quero orientá-los num tratado de paz que acaba de ser realizado entre o Governo e os Fulas-Forros; depois, avisá-los e aconselhá-los a que não prossigam no seu propósito de guerrear os Fulas-Pretos, mas creio nada conseguir porquanto o chefe do Futa chamou para o seu partido a gente do chefe de Timbo, e este mandou o seu próprio filho, de modo que o chefe do Futa não desistirá para não o acusarem de cobarde, como entre eles é costume.

O Bacari Quidali, estou certo, não andou nisto de má-fé, todavia, achava-se já comprometido com o chefe do Futa e agora não sabe o modo de sair desse compromisso, por esta forma os caminhos do Futa para Buba continuarão a estar fechados e apresto-me a dizer a V. Ex.ª que teremos de nos limitar, por enquanto, ao comércio do Forreá, que é do cuidado de não se ofender directa ou indirectamente o Bacari Quidali, cujo melindre é bastante apurado.

Em Buba, não vejo mais que uma pessoa que deseja ir a Futa (pondo de parte o meu nome) e este indivíduo chama-se Pedro Lopes e reside nesta praça. Pela sua ida pede mil réis, acho porém que este sujeito não pode servir para ser representante do Governo aos chefes de Futa e Timbo.

Os Mandingas residentes na praça vivem bem com os Fulas-Pretos e Fulas-Forros, porém, outro tanto não sucede com os Futa-Fulas por serem inimigos, noto mesmo que sempre que lhes falo deles prometem ser implacáveis.

Finalmente diria a V. Ex.ª que me parece que o meio mais pronto para fazer chegar ao mercado de rua o comércio do Futa está em manter as melhores relações de amizade com o chefe daquela tribo. Este chefe é bastante moderado, pouco exigente e mostra simpatia pelos brancos (as pessoas civilizadas, seja qual for a sua cor, são designados pelo gentio pelo nome de Brancos).

Para conseguirmos a sua amizade, é necessário presentes anualmente e mesmo em épocas em que ele venha à praça. Calculo, para estes presentes, a soma 1.200$000 e nesta importância é incluído também o presente que costumamos dar ao Bacari Quidali. Estes presentes, bem entendido, não é para que nos não ataquem a praça de Buba, porque se o tentassem sentiriam os efeitos, Buba propriamente dita está bem defendida”.

Após a descrição dos efetivos na praça e a possibilidade de proteger qualquer feitoria do Rio Grande e depois ter dado informações que no Porto de Buba há uma lancha a vapor ao serviço da praça e do Rio Grande, despede-se nos seguintes termos:

“Com estes elementos, as feitorias têm mais alguma confiança na protecção do Governo, garantem que os chefes do Futa e Forreá façam com que o comércio dali se dirija a Buba e a seguir com que os caminhos do Forreá estejam abertos aos negociantes do Futa, sem que estes receiem perder as suas mercadorias. É este o exemplo que nos é dado pelo Governo Francês, é assim que pratica para com as tribos do rio Nuñes e para com a praça de Timbo”.

Procede a uma larga referência às taxas e impostos municipais e despede-se com a saudação: Deus guarde a Vossa Excelência, Buba, 25 de Novembro de 1882, assina e adiante pode ler-se que está conforme, e temos a data de Bolama, 4 de maio de 1883, Caetano Filipe de Sousa.



Imagens do relatório de Caetano Filipe de Sousa, constante dos Reservados da Sociedade de Geografia de Lisboa, com a devida vénia.


Antigo Palácio do Governador, Ilha de Bubaque

Fotografia de Francisco Nogueira, retirada do livro “Bijagós Património Arquitetónico”, Edições Tinta-da-China, 2016, com a devida vénia.
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Nota do editor

Postes anteriores de:

10 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19665: Historiografia da presença portuguesa em África (157): Relatório para o Sr. Governador da Guiné, assinado em Buba, em 6 de dezembro de 1882, pelo Capitão Caetano Filipe de Sousa (1) (Mário Beja Santos)
e
17 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19688: Historiografia da presença portuguesa em África (158): Relatório para o Sr. Governador da Guiné, assinado em Buba, em 6 de dezembro de 1882, pelo Capitão Caetano Filipe de Sousa (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19711: Parabéns a você (1609): David Guimarães, ex-Fur Mil Art MA da CART 2716 (Guiné, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 21 de Abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19703: Parabéns a você (1608): António Branquinho, ex-Fur Mil Inf do Pel Caç Nat 63 (Guiné, 1969/71)