domingo, 24 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24997: Boas Festas 2023/24 (12): Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887; José Valério de Sousa, ex-Fur Mil TRMS TSF e Carlos Silva, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2548 / BCAÇ 2879


1. Mensagem natalícia, em forma de poema, do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68):

ANTIDEUTERONOMIO II

adão cruz

No tempo em que as sardinheiras das varandas dos pobres
faziam parte dos nossos sonhos
florindo em poemas de sol e de cor
no tempo em que as andorinhas
teciam grinaldas de vida nos beirais
no tempo em que os rios bordavam a terra de areia branca
no tempo em que a brisa sussurrava
por entre as flores
e as fontes murmuravam seus amores
a aurora da nossa inquietação tinha o cheiro a maçãs
e o pulsar das coisas vivas
e o levíssimo sorriso dos jardins do paraíso.
Tudo amávamos em nobre sentimento de exaltação
o mundo era transparente e fácil de amar
e cheirava a feno
a razão ondulava a frágil seara
em suave alento na quietude universal da liberdade
como harmoniosa mulher suspirando ao vento.
Tão inocente amor
tanta alegria
quem pensaria que os rios de pranto
haveriam de chegar um dia
em negra nuvem de calado voo.
Não podemos deixar que a nuvem negra
se abata sobre nós e o pensamento…
e o pensamento nos agarre no desértico silêncio
sentados ao vento
no falso sol da varanda da ilusão
e da erosão da consciência adormecida.
Não podemos deixar que a todos nos transforme
em filhos da morte
filhos de nenhum lugar e de toda a parte
figuras do vale das sombras
esgueirando-se nas sombras de outras sombras
sonâmbulos fantasmas
sem gestos de vida que nos façam acordar.
E quando for dia de sol bem alto
porque haverá sempre um dia
a rasgar a deuteronómica nuvem negra
que ameaça os campos do futuro
e o sereno assombro das pedras
e os peixes verdes dos poemas
e os rubros sorrisos que cheiram a mar
e os passos dos que aprendem a andar
e os rios que correm nos olhos de uma criança
e a memória sem tempo
jamais a exaltação da santidade
estará na morte e nas cinzas da cidade.
E não haverá espinhos nos olhos
e aguilhões nos flancos da vida…
E não haverá armas de destruição maciça
no coração das mães dos filhos exterminados.
Na diáfana manhã de um novo dia
apenas a plangente harmonia de um Stabat Mater.


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2. Mensagem do nosso camarada Hélder Valério de Sousa, ex-Fur Mil TRMS, TSF  (Piche e Bissau, 1970/72):

Meus amigos
Estamos em plena época de "Festas Felizes", "Boas Festas", "Feliz Natal", "Bom Ano Novo", etc., coisas do mesmo género, que se costuma ouvir muito por estes tempos.
São expressões sentidas?
São expressões vazias de sentido?
O que leva as pessoas a repeti-las, ano após ano, na maior parte das vezes sem darem conta do que podem realmente significar?
Repetem por simples impulso automático? Por hábito? Por convenção social?

Os meus amigos mais antigos já sabem que eu, por estas alturas, fico sempre um pouco menos sensível a esses tipos de manifestações.
Por isso, sinto-me menos propenso a veicular, a verbalizar (de viva voz, ou por escrito), tais desejos de aparente bondade, piedade, até de solidariedade.

Então, por tal, peço que me desculpem de não ser um "contributor da moda" e não interagir assim tanto nesse sentido, sendo que não tomo a iniciativa de desejar "Feliz Natal" e limitando-se a agradecer o que me enviam.

Com votos de boa saúde, para vós e familiares, e de um melhor Ano Novo, que se avizinha e que seja de facto um Novo Ano.

Saúdo-vos com um "Festas Felizes"
Hélder Sousa


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3. Mensagem do nosso camarada Carlos Silva, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (Jumbembem, 1969/71):

Meus Caros Amigos e Camaradas
Tabanqueiro Mor Luís e Carlos Vinhal

2023 - É Natal - A todos os meus amigos e camaradas da Tabanca Grande e seus familiares desejo um Feliz Natal e um Ano Novo 2024 com paz e saúde

Com um grande abraço
Carlos Silva

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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE DEZEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24994: Boas Festas 2023/24 (11): José Câmara, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56; Eduardo Estrela, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 14 e João Rodrigues Lobo, ex-Alf Mil do BENG 447

Guiné 61/74 - P24996: Capas da Ilustração Portuguesa - Parte I: Talvez a mais icónica foto do Joshua Benoliel (1873-1932): fevereiro de 1917, a despedida dos militares do CEP que embarcam no cais de Alcântara para França

Legenda: "A caminho do dever: um adeus carinhoso. "Cliché" Benoliel".



Ilustração Portuguesa, II Série, nº 573, Lisboa, 12 de fevereiro de 1917. Diretor: J. J. da Silva Graça; Propriedade: J.J. da Silva Graça, Lda; Ed lit. José Joubert Chaves. 

Era uma edição semanal do jornal "O Século". Custava 10 centavos o número avulso (600 réis em todo o Brasil). A assinatura anual era de 4$80 centavos (Portugal, colónias portuguesas e Espanha). Recorde-se que, com a proclamação da República (em 5 de outubro de 1910), o escudo (=mil réis) passou a ser a nova moeda. Estava divido em 100 centavos. 10 centavos eram portanto 100 réis. O escudo irá sofrer uma grande desvalorização com I Grande Guerra.




(Cortesia de Hemeroteca Digital de Lisboa. Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)


1. Esta é porventura a foto portuguesa mais icónica da I Granda Guerra. É da autoria do pai do fotojornalismo português, Joshua Benoliel (1873-1932). Retrata a despedida dos militares do CEP que embaracavam, em fevereiro de 1917, no cais de Alcântara, para Brest, na Bretanha, França.

A primeira partida de forças do CEP foi  em 30 de janeiro de 1917, de noite quase às escondidas. Seguiram-se muitas outras até outubro desse ano, num total de 60 mil homens. As despedidas e os embarques dos militares foram obsessivamente noticiadas (e em muitos casos documentados) pela imprensa da época, com destaque para a "Ilustração Portuguesa", e por grandes fotógrafos como o Joshua Benoliel (que era de origem judia).

É a inevitável a pergunta: quem era este militar que se aqui se despede presumivelmenmte da esposa? Alguém já o conseguiu identificar?  E será que voltou da guerra, "são e salvo"?

Guiné 61/74 - P24995: Parabéns a você (2236): Fernando de Jesus Sousa, DFA, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 6 (Bedanda, 1970/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 23 de Dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24990: Parabéns a você (2235): Albano Costa, ex- 1.º Cabo At Inf da CCAÇ 4150/73 (Bigene e Guidaje, 1973/74); Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS do STM/QG/CTIG (Bissau, 1968/70) e Felismina Costa, Amiga Grã-Tabanqueira, poetisa e declamadora

sábado, 23 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24994: Boas Festas 2023/24 (11): José Câmara, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56; Eduardo Estrela, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 14 e João Rodrigues Lobo, ex-Alf Mil do BENG 447

1. Mensagem natalícia do nosso camarada José Câmara, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 (Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73):

Caro amigo,
Nos Açores que me viram nascer e crescer, o Natal era a Festa do Menino Jesus. Para a pequenada de então, era Ele que metia uns figos passados e uma corneta do Galo de Barcelos debaixo da travesseira.
Aqui e ali, lá deixava aos pés da cama um parde sapatos ou uma camisa domingueira. A verdade é que ninguém o via, pois chegava sempre depois da missa da meia-noite.
De manhã os pedrados das ruas enchiam com a alegria dos meninos e meninas felizes com as ofertas recebidas e também com o choro daqueles que o Menino, na ânsia de chegar a todos, havia esquecido.

Hoje, com a família e os meus amigos no coração, o meu Menino Jesus continua a ser o mesmo de então. A Natividade é a Força e o Pão da Vida!
Que o Menino Jesus seja muito generoso na distribuição de muita saúde para toda a família e na ajuda aos projectos de vida.

Haja Boas Festas, Bons Anos e muita Paz (que bem precisamos).
JC


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2. Mensagem natalícia do nosso camarada Eduardo Estrela, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 14 (Cuntima e Farim, 1969/71):

Camarada e companheiro!
Para ti e para os que te estão mais próximos e que te têm acompanhado ao longo das jornadas passadas, um bom e feliz Natal e um 2024 repleto de coisas boas.
Votos igualmente extensivos aos outros editores do blogue e suas famílias e a todos os companheiros que connosco percorreram os caminhos duma malfadada guerra, como afinal são todas.

Abraço fraterno
Eduardo Estrela


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3. Mensagem natalícia do nosso camarada João Rodrigues Lobo, ex-Alf Mil, CMDT do Pelotão de Transportes Especiais (BENG 447, 1968/71):

Bom dia,
Acho que tinha preparado um mail com estas fotos para o Luís Graça, mas não o descobri nos mails enviados.
Agora vou ver se segue.
Estas fotos são para nos recordarmos, nesta cassete que julgo ser uma preciosidade , das músicas do nosso Natal de 1969 (e dos nossos artistas do BENG 447)

Grande abraço
João Rodrigues Lobo
BENG 447 - Natal de 1969 - Preparando o palco
BENG 447 - Natal de 1969
BENG 447 - Programa da Festa de Natal de 1969
BENG 447 - Cassete

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Nota do editor

Último poste da série de 22 DE DEZEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24989: Boas Festas 2023/24 (10): Renato Brito, voluntário que integra um projecto de construção de uma escola na aldeia de Sincha Alfa - Guiné-Bissau

Guiné 61/74 - P24993: As nossas geografias emocionais (20): Quinta de Candoz, "aguarelas" natalícias, com votos de Boas Festas (Luís Graça)

 




Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz> Quinta de Candoz > 21 de dezembro de 2023 > "Aguarelas" natalícias... No fundo do vale passa a linha do Douro (que liga Ermesinde ao Pocinho, numa extensão de 160 km)... O comboio é nosso vizinho, e funciona como sucedâneo do relógio da torre sineira da igreja que não há aqui em redor... Quando ele passa, apita e "dá as horas"... 

A ponte da Quebradas entre a estação do Juncal (concelho de Marco de Canaveses) e a de Mosteiró (concelho de Baião)  é visível numa das "aguarelas" aqui reproduzidas... A seguir é a Estação de Tormes, no lugar de Aregos, onde começa o Caminho de Jacinto até â Quinta de Tormes... do outro lado da serra (que vemos daqui de Candoz). 

Estamos em plena paisagem que Eça de Queiroz descreveu  tão magistralmemte no seu último romance "A Cidade e As Serras" (publicado postumamemente em 1901, e só parcialamente revisto pelo autor). 

É um dos meus livros de cabeceira, quando cá venho. E desta vez para celebrar antecipadamente o Natal, hoje, 23 de dezembro. (Não o celebramos amanhã porque ainda estamos de luto, por aquela que foi durante 40 anos a rainha de Candoz.

Éramos, entre adultos e canalha, perto de 3 dezenas de comensais, à volta de uma grande mesa em L: não faltaram o bacalhau lascudo, as batatas, as pencas, o ovo cozido, o pão de milho, o espesso molho de azeite, vinagre e alho,  o tinto maduro e o viçoso verde branco (já deste ano)... E, claro, os nossos bons queijos (que são dos melhores do mundo...) e a doçaria (que veio diretamente do céu)...  

Enfim, algumas das pequenas grandes razões para  há 130 anos o principe Jacinto ter trocado o palacete do número 202 dos Campos Elísios em Paris (a Cidade, a Civilização, a Europa) pela Quinta de Tormes (as Serras, a Ruralidade, o Portugal, puro e bruto ).

Caros amigos e camaradas, anónimos leitores: a Tabanca de Candoz deixa-vos aqui os votos de um Bom Natal de 2023 e de um Melhor Ano de 2024. 

Foto (e legenda): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Nota do editor:

Ultimo poste da série > 20 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24980: As nossas geografias emocionais (19): Lisboa: Do Passeio Público à Avenida da Liberdade...

Guiné 61/74 - P24992: Os nossos seres, saberes e lazeres (606): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (134): Férias em região duriense, uma rota de aldeias vinhateiras (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Outubro de 2023:

Queridos amigos,
Favaios é moscatel e lembranças do passado, aqui pontificaram os marqueses de Távora até 1759, o Marquês de Pombal deu-lhes cabo da vida e dos proventos. Foi sede de concelho até à Regeneração, anexados depois a Alijó; o que mais apreciei, e não voltei a ver em nenhuma outra aldeia vinhateira com tal intensidade são os campos de vinha a intrometerem-se por todos os caminhos, dominam o casario, apanhámos a hora de ponta das viaturas bem carregadas a levarem a licorosa matéria-prima ao ponto de transformação, prédicas não faltaram a exaltar este dom concedido por Deus, à uva moscatel galega e ao tropel de operações até que o moscatel do Porto parta para o país estrangeiro.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (134):
Férias em região duriense, uma rota de aldeias vinhateiras (3)


Mário Beja Santos

Excursão é excursão, tem os seus próprios protocolos, perguntei à assistente se iriamos ver em Favaios a igreja matriz, é de influência neoclássica, tem relativa monumentalidade, mas com pouco interesse artístico, mas não havia tempo, o programa é a rota das aldeias vinhateiras, elas dão pelo nome de Barcos, Provesende, Trevões, Favaios, Salzedas, Ucanha, haverá ainda passeios no Douro, estamos no concelho de Alijó, aqui dá-se uma uva muito especial, a moscatel galega, a terra ganha fama por esta bebida um tanto licorosa e adocicada, que pode ser usada como aperitivo, o passeio tem a sua singeleza, estamos no Núcleo Museológico de Favaios, Pão e Vinho, aproveitou-se uma casa apalaçada, a museografia é bem interessante, fotografias expressivas e luminosas, outras que nos reportam a velhas fainas, velhos rótulos e apresentações, há mesmo a possibilidade de testar aromas, preparar o moscatel de Favaios tem preceitos rigorosos, iremos depois até ao processamento do pão, mas o que tocou mais, como, aliás irá acontecer no passeio até à cooperativa vitivinícola é o esplendor dos vinhedos, dominam a paisagem, estamos aqui a cerca de 500 metros do nível do mar, isto é mesmo Alto Douro.

Entrada do Núcleo Museológico
O que imediatamente atrai é o labor e o engenho, o engaste das vides, o belo contraste conseguido pelo fotógrafo entre o acinzentado da estacaria e a cor de cobre das videiras.
Agora vêm as viaturas de caixa aberta, segue-se o teste da graduação alcoólica, o resto é mecanizado, viaturas em fila, um odor aromático por toda a parte; no passado eram carros de bois e aquele bruto trabalho braçal de ir inclinando a dorna para o lagar – tempos que já lá vão.
Foi assim a publicidade ao moscatel da região, as regras do mercado tudo alteram, mas deve haver aqui muito orgulho em recordar às gentes que moscatel do Porto é só o de Favaios
Uma imagem vale por mil palavras, há também o golpe de sorte na luminosidade, como é que esta maquineta num smartphone consegue apanhar o encadeado daqueles montes que até parecem pintados?
Favaios foi vila e sede do concelho desde 1211, com foral dado por D. Afonso II, sucessivamente confirmado por D. Afonso III e D. Dinis, reformulado por D. Manuel I em 1514. Foram senhores de Favaios até 1759, os Marqueses de Távora, em 1853 perdeu autonomia enquanto concelho, ficou anexa a Alijó. Este edifício camarário teve funções multiusos, além de Câmara, teve prisão, repartições, muito presumivelmente, atenda-se ao pau de bandeira, é sede de freguesia. A monarquia constitucional, e fundamentalmente no período da Regeneração, eliminou muitos concelhos, criando anexações, já vimos o que se passou em Barcos. Iremos ver depois em Trevões o mesmo.
Uma capela com brasão de armas, é que houve nobreza em Favaios, e não só os marqueses de Távora
Estamos a caminho da cooperativa, e deparam-se-nos esta antiga escola, edifício do tempo em que os sexos estavam demarcados, ficou por resolver a questão se ainda é posto de correio e se aqueles editais e regulamentos têm a ver com a junta de freguesia – outra obra do passado, a aguardar restauro.
Aqui se confirma que Favaios tem uma íntima ligação, entre a matéria-prima que faz lustrar a sua economia e os lugares de morada, o diálogo é permanente.
Que o leitor fique sabendo que mal chegasse à cooperativa tivemos que nos recolher a um telheiro, caiu uma carga de água das antigas, até fumegava a calçada, a única consolação era ver desfilar sem tréguas as viaturas de caixa aberta que traziam néctar até à produção. Vieram as tréguas, os excursionistas entraram de roldão nas adegas, mas antes contaram com a benevolência de quem zelava pelos cachos de uvas, provámos uns bons bagos, e, regalados, apanhámos uma nova prédica sobre a uva moscatel galega e depois uma prova e depois quem quis comprou Favaios como recordação, estava na hora do regresso, a terra cheira intensamente depois desta grande chuvada, subitamente desponta o sol e de Favaios regressamos a Tabuaço. Aqui se notifica que amanhã de manhã vamos a outra aldeia, Trevões, outra grande surpresa.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 16 DE DEZEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24963: Os nossos seres, saberes e lazeres (605): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (133): Férias em região duriense, uma rota de aldeias vinhateiras (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24991: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XL: Morte do irmão Braima Djaló,da 3ª C/BCmds, na Caboiana, em setembro de 1973


Guiné > Região de Cacheu > Carta de Cacheu / São Domingos (1953) > Escala 1/50 mil > Pormenor dos rios Cacheu e seus afluentes: Pequeno de São Domingos (margem norte); Caboi, Caboiana  e Churro (margem sul), a montante da vila de Cacheu.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015).

1. Continuação da publicação das memórias do Amadu Djaló (Bafatá, 1940-Lisboa, 2015), a partir do manuscrito, digitalizado, do seu livro "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada) (*).

O nosso  camarada e amigo Virgínio Briote, o editor literário ou "copydesk" desta obra,  facultou-nos uma cópia digital. O Amadu Djaló, membro da Tabanca Grande, desde 2010, tem mais de nove dezenas de referências no nosso blogue. Tinha um 2º volume em preparação, que a doença e a morte não  lhe permitaram ultimar.



Capa do livro do Amadu Bailo Djaló,
"Guineense, Comando, Português: I Volume:
Comandos Africanos, 1964 - 1974",
Lisboa, Associação de Comandos,
2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada.



O autor, em Bafatá, sua terra natal,
por volta de meados de 1966.
(Foto reproduzida no livro, na pág. 149)

Síntese das partes anteriores:

(i) o autor, nascido em Bafatá, de pais oriundos da Guiné-Conacri, começou a recruta, como voluntário, em 4 de janeiro de 1962, no Centro de Instrução Militar (CIM) de Bolama;

(ii) esteve depois no CICA/BAC, em Bissau, onde tirou a especialidade de soldado condutor autorrodas;

(iii) passou por Bedanda, 4ª CCaç (futura CCAÇ 6), e depois Farim, 1ª CCAÇ (futura CCAÇ 3), como sold cond auto;

(iv) regressou entretanto à CCS/QG, e alistou-se no Gr Cmds "Os Fantasmas", comandado pelo alf mil 'cmd' Maurício Saraiva, de outubro de 1964 a maio de 1965;

(v) em junho de 1965, fez a escola de cabos em Bissau, foi promovido a 1º cabo condutor, em 2 de janeiro de 1966;

(vi) voltou aos Comandos do CTIG, integrando-se desta vez no Gr Cmds "Os Centuriões", do alf mil 'cmd' Luís Rainha e do 1º cabo 'cmd' Júlio Costa Abreu (que vive atualmente em Amesterdão);

(vii) depois da última saída do Grupo, Op Virgínia, 24/25 de abril de 1966, na fronteira do Senegal, Amadu foi transferido, a seu pedido, por razões familitares, para Bafatá, sua terra natal, para o BCAV 757;

(viii) ficou em Bafatá até final de 1969, altura em que foi selecionado para integrar a 1ª CCmds Africanos, que será comandada pelo seu amigo João Bacar Djaló (Cacine, Catió, 1929 - Tite, 1971)

(ix) depois da formação da companhia (que terminou em meados de 1970), o Amadu Djaló, com 30 anos, integra uma das unidades de elite do CTIG; a 1ª CCmds Africanos, em julho, vai para a região de Gabu, Bajocunda e Pirada, fazendo incursões no Senegal e em setembro anda por Paunca: aqui ouve as previsões agoirentas de um adivinho;

(x) em finais de outubro de 1970, começam os preparativos da invasão anfíbia de Conacri (Op Mar Verde, 22 de novembro de 1970), na qual ele participaçou, com toda 1ª CCmds, sob o comando do cap graduado comando João Bacar Jaló (pp. 168-183);

(xi) a narrativa é retomada depois do regresso de Conacri, por pouco tempo, a Fá Mandinga, em dezembro de 1970; a companhia é destacada para Cacine [3 pelotões para reforço temporário das guarnições de Gandembel e Guileje, entre dez 1970 e jan 1971]; Amadu Djaló estava de licença de casamento (15 dias), para logo a seguir ser ferido em Jababá Biafada, sector de Tite, em fevereiro de 1971;

(xii) supersticioso, ouve a "profecia" de um velho adivinho que tem "um recado de Deus (...) para dar ao capitão João Bacar Jaló"; este sonha com a sua própria morte, que vai ocorrer no sector de Tite, perto da tabanca de Jufá, em 16 de abril de 1971 (versão contada ao autor pelo soldado 'comando' Abdulai Djaló Cula, texto em itálico no livro, pp.192-195) ,

(xiii) é entretanto transferido para a 2ª CCmds Africanos, agora em formação; 1ª fase de instrução, em Fá Mandinga , sector L1, de 24 de abril a fins de julho de 1971.

(xiv) o final da instrução realizou.se no subsector do Xitole, regulado do Corunal, cim uma incursão ao mítico Galo Corubal.

(xv) com a 2ª CCmds, comandada por Zacarias Saiegh, participa, em outubro e novembro de 1971, participa em duas acções, uma na zona de Bissum Naga e outra na área de Farim;

(xvi) em novembro de 1971, participa na ocupação da península de Gampará (Op  Satélite Dourado, de 11 a 15, e Pérola Amarela, de 24 a 28);

(xvii) 21-24 dezembro de 1971: Op Safira Solitária: "ronco" e "desastre" no coração do Morés, com as 1ª e 2ª CCmds Africanos  (8 morts e 15 feridos graves);

(xviii) Morés, sempre o Morés... 7 de fevereiro de 1972, Op Juventude III;

(xix) o jogo do rato e do gato: de Caboiana a Madina do Boé, por volta de abril de 1972;

(xx)  tem um estranho sonho em Gandembel, onde está emboscado très dias: mais do que um sonho, um pesadelo: é "apanhado por balantas do PAIGC";

(xxi) saída para o subsetor de Mansoa, onde o alf cmd graduado Bubacar Jaló, da 2ª CCmds Africanos, é mortalmente ferido em 16/2/1973 (Op Esmeralda Negra)M

(xxii) assalto ao Irã de Caboiana, com a 1ª CCmds Africanos, e o cap cav 'cmd' Carlos Matos Gomes como supervisor;

(xxiii) vamos vê-lo a dar instrução a futuros 'comandos' no CIM de Mansabá, na região do Oio, no primeiros meses do ano de 1973, e a fazer algumas "saídas" extras (e bem pagas) com o grupo do Marcelino, ao serviço do COE (Comando de Operações Especiais), que era então comandado pelo major Bruno de Almeida; mas não nos diz uma única sobre essas secretas missões; ao fim de 12 anos de tropa, é 2º sargento e confessa que está cansado;

(xxiv) antes de ir para CCAÇ 21, como sede em Bambadinca, como alferes 'graduado" (e sob o comando do tenente graduado Abdulai Jamanca, ainda irá participar na dramática Op Ametista Real, contra a base do PAIGC, Cumbamori, no Senegal, em 19 de maio de 1973;  esta parte do seu  livro de memórias  (pp. 248-260) já aqui foi transcrita no poste P23625;

(xxv) no leste, começa por atuar no subsetor do Xime, em meados de 1973;

(xxvi) em setembro de 1973, quando estava em Piche, já na CCAÇ 21, recebe a terrível notícia da morte do seu querido irmão mais novo, Braima Djaló, da 3ª CCmds.


 Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XL:

Morreu em combate o Braima Djaló, da 3ª C/BCmds, meu irmão (pp. 263/264) 

O Braima, meu irmão mais novo, frequentou o curso de comandos de 1972, em Fá Mandinga.

Estivemos juntos nos Comandos, quase perto de um ano. Uma vez, íamos efetuar um assalto com helicópteros a oeste de Madina do Boé. O assalto era para ser desencadeado depois do bombardeamento da aviação. Quando era assim, tínhamos que sair dos helicópteros com o dedo no gatilho.

Calhou o meu irmão ir no meu grupo e, quando chegámos à BA 12, em Bissalanca  eu só tinha olhos para o meu irmão. Cada vez que levantava a cara só o via a ele. Então, pedi ao capitão Folques para mandar o meu irmão para outro grupo, para que ele fosse numa situação menos perigosa. O capitão aceitou o pedido e trocou-o.

Realizámos o assalto, sem problemas do nosso lado. O bombardeamento causou vítimas ao PAIGC, apoderámo-nos de vários materiais e regressámos a Bissau, de helicóptero também.

Depois, em 5 de junho de 1973, eu e mais oito oficiais fomos transferidos para a CCaç 21. A nossa companhia ficou  com sede em Bambadinca e passámos a atuar na zona leste.

Em setembro estávamos em Piche. A coluna regressava nesse dia, vinha trazer géneros. Eu estava sentado no posto da administração, a conversar com os funcionários, quando chegou um soldado europeu.

- Meu alferes, o nosso tenente-coronel  mandou-o chamar.

No caminho, o militar perguntou-me se eu tinha algum irmão nos Comandos. Sim, tenho, respondi.

- Morreu! Mas o meu alferes não diga nada ao nosso tenente-coronel.

Fiquei sem ter nada para dizer. Quando cheguei, à sala de operações, o tenente-coronel (##) disse-me:

- Djaló, o teu irmão morreu (#). A coluna já partiu para Bambadinca, mas tens aí uma viatura para te levar e depois a viatura regressa com a coluna.

Não esperei mais nada. Tomei o lugar no carro, rumo a Bafatá.

Quando cheguei a minha casa, encontrei lá muita gente. O condutor parou, dei-lhe dinheiro para almoçar no restaurante, e disse-lhe que aguardasse, ao pé da estrada, pela coluna de regresso.

O meu irmão, Braima Djaló, morreu na Caboiana, numa operação da 3ª Companhia de Comandos. Nesse dia perdi o meu irmão mais amigo.

A morte do meu irmão trouxe consequências. A minha mãe já era idosa e estava muito fraca. Toda a minha família se juntou e quiseram fazer uma reunião comigo.

Um tio meu disse-me que eu já tinha mais de onze anos de serviço militar. Que, com a morte do meu irmão, a família achava que eu devia deixar a tropa ou então deixar de ser operacional. Insistiram muito, tanto que eu contactei o major Folques quando me desloquei a Bissau para recolher a bagagem do meu irmão. Coloquei-lhe a questão, ele ouviu-me atentamente e respondeu-me:

- Na próxima 4ª feira vamos encontrar-nos no CAOP do Gabu, CAOP2, e vamos falar com o nosso coronel.

Na 4ª feira seguinte aluguei uma carrinha em Bafatá para transportar a minha mãe e desloquei-me na minha motorizada. Mas o major não apareceu. O coronel ainda me disse para aguardar, mas soubemos que o major Folques estava impossibilitado de sair de Bissau.

O coronel perguntou-me de que assunto se tratava. E eu disse-lhe qual era. Perguntou-me se eu, deixando de ser operacional, concordava em ser desgraduado para 1.º sargento.

Uma proposta injusta,  foi o que lhe respondi. Há onze anos, praticamente seguidos, sempre a percorrer o território e vir agora ser tratado assim numa secretaria do Gabu!

Acabei por lhe dizer, sabe Deus como, que concordava e perguntei-lhe se também podia sair da tropa e passar à disponibilidade.

- E,  se passares à disponibilidade, como é que vais viver?

- Há muita gente que está a viver e nunca foi tropa - foi assim que respondi.

- Onde vais viver?

- Meu coronel, já cumpri serviço durante mais de onze anos! Posso viver em qualquer parte do mundo.

- Mas como? Para onde?

As perguntas não acabavam e as minhas respostas eram sempre as mesmas, tinha cumprido muito mais que a minha obrigação e se quisesse sair podia ir ou ficar no lugar que eu encontrar-se para viver, Bafatá, Senegal, Gâmbia, Guiné-Conacri.

- Está bem, a gente vai tratar disso - rematou.

Quinze dias depois, um soldado de Bambadinca veio à minha procura dizendo que um tenente responsável pelas informações do batalhão de Bambadinca queria falar comigo.

Era meu conhecido e encontrei-o num gabinete do batalhão, com um placard na porta “informações”. Passou-me o meu processo para as mãos e pediu-me para ir para junto da janela, abrir bem os olhos e só depois assinar.

Era um dossiê. Li apenas a primeira página.

- Eu, meu tenente, não assino este documento. Quem vai tratar deste assunto vai ser o major Folques, que é o meu comandante.

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Nota do editor LG:

(#) Tenho indicação que a morte em combate terá ocorrido nesta acção:

Ver. CECA (2015):

Acção - 24 a 27Set73

As 1ªe 3ª/BCmds da Guiné levaram a efeito missões de patrulhamento e montagem de emboscadas na região de Caboiana, 06. Na área de S. Domingos, as NT sofreram 3 mortos, 5 feridos e 6 desaparecidos em vários contactos pelo fogo. O inimigo sofreu 1 morto e outras baixas prováveis. 

Fonte: Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 6º volume:  aspectos da actividade operacionaç Tomo II: Guiné, Livro III,  Lisboa: 2015, pág. 344

(##) Deveria tratar-se do comandante do BART 6523/73 (Nova Lamego, 1973/74).

[ Seleção / adaptação / revisão / fixação de texto / negritos, para efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]
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Nota do editor LG:

Último pposte da série > 2 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24906: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXXIX: alferes graduado na CCAÇ 21, combatendo no Leste (pp. 261-263)

Guiné 61/74 - P24990: Parabéns a você (2235): Albano Costa, ex- 1.º Cabo At Inf da CCAÇ 4150/73 (Bigene e Guidaje, 1973/74); Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS do STM/QG/CTIG (Bissau, 1968/70) e Felismina Costa, Amiga Grã-Tabanqueira, poetisa e declamadora



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Nota do editor

Último poste da série de 20 de Dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24977: Parabéns a você (2234): José Botelho Colaço, ex-Soldado TRMS da CCAÇ 557 (Cachil e Bafatá, 1963/65) e José Casimiro Carvalho, ex-Fur Mil Op Especiais da CCAV 8350/72 e CCAÇ 11 (Guileje, Gadamael e Paunca, 1972/74)

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24989: Boas Festas 2023/24 (10): Renato Brito, voluntário que integra um projecto de construção de uma escola na aldeia de Sincha Alfa - Guiné-Bissau

1. Mensagem com data de 21 de Dezembro de 2023, enviada ao nosso Blogue por Renato Brito, voluntário, que na Guiné-Bissau integra um projecto de construção de uma escola na aldeia de Sincha Alfa:

Boa tarde Carlos Vinhal,
Espero que esteja tudo bem consigo.

Agradecendo o contributo em divulgar a aventura de tentar construir uma escola na Guiné-Bissau, aproveito para lhe enviar as últimas notícias:
Mais uma vez fui falar com crianças de duas escolas primárias (Alessandro Manzoni em Bolzano e Giovanni XXIII em Sinigo) a pedir ajuda para construir uma escola na Guiné-Bissau. Pedia um objecto e ofereceram um saco cheio de presentes.
Envio-lhe algumas imagens.

Como a maquete da escola foi construída a partir de uma caixa de madeira para fruta resolvi participar num concurso organizado pela “rilegno”. Mando-lhe a versão em português.
Se tiver curiosidade encontra aqui o regulamento:
https://contest.rilegno.org/bando/

A associação Italiana “Mani Tese” publicou no seu site um estudo com o objetivo de compreender a cadeia produtiva do caju e os seus impactos ambientais e sociais.
Envio-lhe em anexo este interessante estudo, infelizmente apenas em Italiano.
Publicazione - Anacardi, aperitivo a spese della biodiversità (e dei contadini).
https://www.manitese.it/anacardi-aperitivo-a-spese-della-biodiversita-e-dei-contadini

Ainda uma pequena actualização do puzzle das cartas militares da Guiné-Bissau.
Encontrei o mapa 49 – São João

Cumprimentos e Boas Festas.
Renato


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CARTOLINAS
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ESCOLA NA GUINÉ-BISSAU - PROJECTO E SITUAÇÃO ACTUAL
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PRENDAS DAS CRIANÇAS DE DUAS ESCOLAS PRIMÁRIAS (ALESSANDRO MANZONI, EM BOLZANO E GIOVANNI XXIII, EM SINIGO)
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de Dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24985: Boas Festas 2023/24 (9): Joaquim Fernandes Alves, ex-Fur Mil da CART 1659 e Associação Afectos com Letras, ONGD

Guiné 61/74 - P24988: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (43): Arroz de moiras com grelos ("Chef" Alice)


Marco de Canveses > Paredes de Viadores > Candoz  > Quinta de Candoz > 21 de dezembro de 2023 >  O arroz de moiras com grelos,à moda da "Chef" Alice...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. A tropa e a guerra roubaram-nos pelo menos dois, três ou quatro Natais nas nossas vidas... Por isso, que os nossos leitores nos perdoem estas recordações profanas em tempo tão sagrado como esta quadra festiva em que comemoramos o nascimento, em Belém,  do deus feito homem dos cristãos... Há dois mil anos... Em que tanto a terra do Menino Jesus como a dos nossos antepassados lusitanos eram uma colónia ou província do Império Romano... (Na verdade, a gente não sabe o que eles comiam nem que língua falavam, herdámos e adaptámos a língua dos colonialistas romanos.)

 Mas eu pergunto-me também: será que os habitantes da cidade galaico-romana de  Tongóbriga, no Freixo, Marco de Cansveses, a escassos quilómetros da nossa Quinta de Candoz, já conheciam esta delícia da gastronomia da nossa terra, que é o arroz de moiras com grelos ? 

A resposta é não: ainda o arroz, oriundo do Extremo Oriente, não tinha chegado à Lusitània... Nem muito menos as moiras (e os mouros)...

O termo "moira" é usado aqui, na região duriense (ou do Baixo Douro) para designar uma "chouriça feita de sangue fresco e  carne de porco, temperos e vinho tinto verde"... Indispensável no cozido à portuguesa e, com mais razão, no arroz de moiras com grelos ou arroz de grelos com moiras (depende das quantidades)..Há mutas receitas na Net. É um prato típico aqui na nossa regiáo, Marco de Canaveses e Baião. Ceme-swe todo o ano, e agora é que sabe bem com o frio de rachar.

2. Em Tormes, que fica em Santa Cruz do Douro, Baião, também aqui perto de Candoz, ao alcance de um tiro de obus 10.5,  nem o Jacinto nem o seu criador, o Eça de Queiroz, alguma vez terão provado o "arroz de moiras com grelos"... 

Ou talvez, sim,  o Eça era um "gourmet"... Se tivesse comido, em vez das favas, teria feito o elogio do divinal arroz de moiras com grelos... Recorde-se aqui a antológica descrição (ou uma parte dela) da primeira refeição, no solar de Tormes,  do princípe Jacinto e do seu amigo Zé Fernandes em "A Cidade e as Serras":

(...) Uma formidável moça, de enormes peitos que lhe tremiam dentro das ramagens do lenço cruzado, ainda suada e  esbraseada  do calor da lareira, entrou esmagando o soalho, com uma terrina a fumegar. E o Melchior, que seguia erguendo a infusa do vinho, esperava que Suas Incelências lhe perdoassem porque faltara tempo para o caldinho apurar (...).

[Jacinto], desconfiado, provou o caldo, que era de galinha e rescendia. (...) Tornou a sorver uma colherada mais cheia, mais considerada. E sorriu, com espanto: 
-
−  Está bom!

Estava precioso: tinha fígado e tinha moela: o seu perfume enternecia: três vezes, fervorosamente, ataquei aquele caldo.

 − Também lá volto!   −  exclamava Jacinto com uma convicção imensa.   − É que estou com uma fome... Santo Deus! Há anos que não sinto esta fome.

Foi ele que rapou avaramente a sopeira. E já espreitava a porta, esperando a portadora dos pitéus, a rija rapariga de peitos trementes, que enfim surgiu, mais esbraseada, abalando o sobrado - e pousou sobre a mesa uma travessa a transbordar de arroz com favas. Que desconsolo! Jacinto, em Paris, sempre abominara favas!... Tentou todavia uma garfada tímida - e de novo aqueles seus olhos, que o pessimismo enevoara, luziram, procurando os meus. Outra larga garfada, concentrada, com uma lentidão de frade que se regala. Depois um brado:

 - Ótimo!... Ah, destas favas, sim! Oh que fava! Que delícia! 

E por esta santa gula louvava a serra, a arte perfeita das mulheres palreiras que em baixo remexiam as panelas, o Melchior que presidia ao bródio...

- Deste arroz com fava nem em Paris, Melchior amigo! 

O homem óptimo sorria, inteiramente desanuviado: 

- Pois é cá a comidinha dos rapaz da quinta! E cada pratada, que até Suas Incelências se riam... Mas agora, aqui, o Sr. D. Jacinto, também vai engordar e enrijar!

O bom caseiro sinceramente cria que, perdido nesses remotos Parises, o senhor de Tormes, longe da fartura de Tormes, padecia fome e mingava... E o meu Príncipe, na verdade, parecia saciar uma velhíssima fome e uma longa saudade da abundância, rompendo assim, a cada travessa, em louvores mais copiosos.  (...)

In: Excertos de: Queiroz, Eça de -  A Cidade e as Serras". Livros do Brasil, 2016, pp. 153/153 (Obras de Eça de Queiro, 8) (Fixação do tcxto e notas de Helena Cidade Moura).