Guiné > Região de Cacheu > Carta de Cacheu / São Domingos (1953) > Escala 1/50 mil > Pormenor dos rios Cacheu e seus afluentes: Pequeno de São Domingos (margem norte); Caboi, Caboiana e Churro (margem sul), a montante da vila de Cacheu.
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015).
1. Continuação da publicação das memórias do Amadu Djaló (Bafatá, 1940-Lisboa, 2015), a partir do manuscrito, digitalizado, do seu livro "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada) (*).
O nosso camarada e amigo Virgínio Briote, o editor literário ou "copydesk" desta obra, facultou-nos uma cópia digital. O Amadu Djaló, membro da Tabanca Grande, desde 2010, tem mais de nove dezenas de referências no nosso blogue. Tinha um 2º volume em preparação, que a doença e a morte não lhe permitaram ultimar.
Capa do livro do Amadu Bailo Djaló,
"Guineense, Comando, Português: I Volume:
Comandos Africanos, 1964 - 1974",
Lisboa, Associação de Comandos,
2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada.
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O autor, em Bafatá, sua terra natal, por volta de meados de 1966. (Foto reproduzida no livro, na pág. 149) |
Síntese das partes anteriores:
(i) o autor, nascido em Bafatá, de pais oriundos da Guiné-Conacri, começou a recruta, como voluntário, em 4 de janeiro de 1962, no Centro de Instrução Militar (CIM) de Bolama;
(ii) esteve depois no CICA/BAC, em Bissau, onde tirou a especialidade de soldado condutor autorrodas;
(iii) passou por Bedanda, 4ª CCaç (futura CCAÇ 6), e depois Farim, 1ª CCAÇ (futura CCAÇ 3), como sold cond auto;
(iv) regressou entretanto à CCS/QG, e alistou-se no Gr Cmds "Os Fantasmas", comandado pelo alf mil 'cmd' Maurício Saraiva, de outubro de 1964 a maio de 1965;
(v) em junho de 1965, fez a escola de cabos em Bissau, foi promovido a 1º cabo condutor, em 2 de janeiro de 1966;
(vi) voltou aos Comandos do CTIG, integrando-se desta vez no Gr Cmds "Os Centuriões", do alf mil 'cmd' Luís Rainha e do 1º cabo 'cmd' Júlio Costa Abreu (que vive atualmente em Amesterdão);
(vii) depois da última saída do Grupo, Op Virgínia, 24/25 de abril de 1966, na fronteira do Senegal, Amadu foi transferido, a seu pedido, por razões familitares, para Bafatá, sua terra natal, para o BCAV 757;
(viii) ficou em Bafatá até final de 1969, altura em que foi selecionado para integrar a 1ª CCmds Africanos, que será comandada pelo seu amigo João Bacar Djaló (Cacine, Catió, 1929 - Tite, 1971)
(ix) depois da formação da companhia (que terminou em meados de 1970), o Amadu Djaló, com 30 anos, integra uma das unidades de elite do CTIG; a 1ª CCmds Africanos, em julho, vai para a região de Gabu, Bajocunda e Pirada, fazendo incursões no Senegal e em setembro anda por Paunca: aqui ouve as previsões agoirentas de um adivinho;
(x) em finais de outubro de 1970, começam os preparativos da invasão anfíbia de Conacri (Op Mar Verde, 22 de novembro de 1970), na qual ele participaçou, com toda 1ª CCmds, sob o comando do cap graduado comando João Bacar Jaló (pp. 168-183);
(xi) a narrativa é retomada depois do regresso de Conacri, por pouco tempo, a Fá Mandinga, em dezembro de 1970; a companhia é destacada para Cacine [3 pelotões para reforço temporário das guarnições de Gandembel e Guileje, entre dez 1970 e jan 1971]; Amadu Djaló estava de licença de casamento (15 dias), para logo a seguir ser ferido em Jababá Biafada, sector de Tite, em fevereiro de 1971;
(xii) supersticioso, ouve a "profecia" de um velho adivinho que tem "um recado de Deus (...) para dar ao capitão João Bacar Jaló"; este sonha com a sua própria morte, que vai ocorrer no sector de Tite, perto da tabanca de Jufá, em 16 de abril de 1971 (versão contada ao autor pelo soldado 'comando' Abdulai Djaló Cula, texto em itálico no livro, pp.192-195) ,
(xiii) é entretanto transferido para a 2ª CCmds Africanos, agora em formação; 1ª fase de instrução, em Fá Mandinga , sector L1, de 24 de abril a fins de julho de 1971.
(xiv) o final da instrução realizou.se no subsector do Xitole, regulado do Corunal, cim uma incursão ao mítico Galo Corubal.
(xv) com a 2ª CCmds, comandada por Zacarias Saiegh, participa, em outubro e novembro de 1971, participa em duas acções, uma na zona de Bissum Naga e outra na área de Farim;
(xvi) em novembro de 1971, participa na ocupação da península de Gampará (Op Satélite Dourado, de 11 a 15, e Pérola Amarela, de 24 a 28);
(xvii) 21-24 dezembro de 1971: Op Safira Solitária: "ronco" e "desastre" no coração do Morés, com as 1ª e 2ª CCmds Africanos (8 morts e 15 feridos graves);
(xviii) Morés, sempre o Morés... 7 de fevereiro de 1972, Op Juventude III;
(xix) o jogo do rato e do gato: de Caboiana a Madina do Boé, por volta de abril de 1972;
(xx) tem um estranho sonho em Gandembel, onde está emboscado très dias: mais do que um sonho, um pesadelo: é "apanhado por balantas do PAIGC";
(xxi) saída para o subsetor de Mansoa, onde o alf cmd graduado Bubacar Jaló, da 2ª CCmds Africanos, é mortalmente ferido em 16/2/1973 (Op Esmeralda Negra)M
(xxii) assalto ao Irã de Caboiana, com a 1ª CCmds Africanos, e o cap cav 'cmd' Carlos Matos Gomes como supervisor;
(xxiii) vamos vê-lo a dar instrução a futuros 'comandos' no CIM de Mansabá, na região do Oio, no primeiros meses do ano de 1973, e a fazer algumas "saídas" extras (e bem pagas) com o grupo do Marcelino, ao serviço do COE (Comando de Operações Especiais), que era então comandado pelo major Bruno de Almeida; mas não nos diz uma única sobre essas secretas missões; ao fim de 12 anos de tropa, é 2º sargento e confessa que está cansado;
(xxiv) antes de ir para CCAÇ 21, como sede em Bambadinca, como alferes 'graduado" (e sob o comando do tenente graduado Abdulai Jamanca, ainda irá participar na dramática Op Ametista Real, contra a base do PAIGC, Cumbamori, no Senegal, em 19 de maio de 1973; esta parte do seu livro de memórias (pp. 248-260) já aqui foi transcrita no poste P23625;
(xxv) no leste, começa por atuar no subsetor do Xime, em meados de 1973;
(xxvi) em setembro de 1973, quando estava em Piche, já na CCAÇ 21, recebe a terrível notícia da morte do seu querido irmão mais novo, Braima Djaló, da 3ª CCmds.
Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XL:
Morreu em combate o Braima Djaló, da 3ª C/BCmds, meu irmão (pp. 263/264)
O Braima,
meu irmão mais novo, frequentou o curso de comandos de 1972, em Fá Mandinga.
Estivemos
juntos nos Comandos, quase perto de um ano. Uma vez, íamos efetuar um assalto
com helicópteros a oeste de Madina do Boé. O assalto era para ser desencadeado
depois do bombardeamento da aviação. Quando era assim, tínhamos que sair dos
helicópteros com o dedo no gatilho.
Calhou o meu
irmão ir no meu grupo e, quando chegámos à BA 12, em Bissalanca eu só tinha olhos para o meu irmão. Cada vez
que levantava a cara só o via a ele. Então, pedi ao capitão Folques para mandar
o meu irmão para outro grupo, para que ele fosse numa situação menos perigosa.
O capitão aceitou o pedido e trocou-o.
Realizámos o
assalto, sem problemas do nosso lado. O bombardeamento causou vítimas ao PAIGC,
apoderámo-nos de vários materiais e regressámos a Bissau, de helicóptero
também.
Depois, em 5
de junho de 1973, eu e mais oito oficiais fomos transferidos para a CCaç 21. A
nossa companhia ficou com sede em
Bambadinca e passámos a atuar na zona leste.
Em setembro
estávamos em Piche. A coluna regressava nesse dia, vinha trazer géneros. Eu
estava sentado no posto da administração, a conversar com os funcionários,
quando chegou um soldado europeu.
- Meu
alferes, o nosso tenente-coronel
mandou-o chamar.
No caminho,
o militar perguntou-me se eu tinha algum irmão nos Comandos. Sim, tenho,
respondi.
- Morreu!
Mas o meu alferes não diga nada ao nosso tenente-coronel.
Fiquei sem
ter nada para dizer. Quando cheguei, à sala de operações, o tenente-coronel (##) disse-me:
- Djaló, o
teu irmão morreu (#). A coluna já partiu para Bambadinca, mas tens aí uma viatura
para te levar e depois a viatura regressa com a coluna.
Não esperei
mais nada. Tomei o lugar no carro, rumo a Bafatá.
Quando
cheguei a minha casa, encontrei lá muita gente. O condutor parou, dei-lhe
dinheiro para almoçar no restaurante, e disse-lhe que aguardasse, ao pé da
estrada, pela coluna de regresso.
O meu irmão,
Braima Djaló, morreu na Caboiana, numa operação da 3ª Companhia de Comandos.
Nesse dia perdi o meu irmão mais amigo.
A morte do
meu irmão trouxe consequências. A minha mãe já era idosa e estava muito fraca.
Toda a minha família se juntou e quiseram fazer uma reunião comigo.
Um tio meu
disse-me que eu já tinha mais de onze anos de serviço militar. Que, com a morte
do meu irmão, a família achava que eu devia deixar a tropa ou então deixar de
ser operacional. Insistiram muito, tanto que eu contactei o major Folques
quando me desloquei a Bissau para recolher a bagagem do meu irmão. Coloquei-lhe
a questão, ele ouviu-me atentamente e respondeu-me:
- Na próxima
4ª feira vamos encontrar-nos no CAOP do Gabu, CAOP2, e vamos falar com o nosso
coronel.
Na 4ª feira
seguinte aluguei uma carrinha em Bafatá para transportar a minha mãe e
desloquei-me na minha motorizada. Mas o major não apareceu. O coronel ainda me
disse para aguardar, mas soubemos que o major Folques estava impossibilitado de
sair de Bissau.
O coronel
perguntou-me de que assunto se tratava. E eu disse-lhe qual era. Perguntou-me
se eu, deixando de ser operacional, concordava em ser desgraduado para 1.º sargento.
Uma proposta
injusta, foi o que lhe respondi. Há onze anos, praticamente seguidos, sempre a
percorrer o território e vir agora ser tratado assim numa secretaria do Gabu!
Acabei por
lhe dizer, sabe Deus como, que concordava e perguntei-lhe se também podia sair
da tropa e passar à disponibilidade.
-
E, se passares à disponibilidade, como é
que vais viver?
- Há muita
gente que está a viver e nunca foi tropa - foi assim que respondi.
- Onde vais
viver?
- Meu
coronel, já cumpri serviço durante mais de onze anos! Posso viver em qualquer
parte do mundo.
- Mas como?
Para onde?
As perguntas
não acabavam e as minhas respostas eram sempre as mesmas, tinha cumprido muito
mais que a minha obrigação e se quisesse sair podia ir ou ficar no lugar que eu
encontrar-se para viver, Bafatá, Senegal, Gâmbia, Guiné-Conacri.
- Está bem,
a gente vai tratar disso - rematou.
Quinze dias
depois, um soldado de Bambadinca veio à minha procura dizendo que um tenente
responsável pelas informações do batalhão de Bambadinca queria falar comigo.
Era meu
conhecido e encontrei-o num gabinete do batalhão, com um placard na porta
“informações”. Passou-me o meu processo para as mãos e pediu-me para ir para
junto da janela, abrir bem os olhos e só depois assinar.
Era um dossiê.
Li apenas a primeira página.
- Eu, meu tenente,
não assino este documento. Quem vai tratar deste assunto vai ser o major
Folques, que é o meu comandante.
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Nota do editor LG:
(#) Tenho indicação que a morte em combate terá ocorrido nesta acção:
Ver. CECA (2015):
Acção - 24
a 27Set73
As 1ªe 3ª/BCmds da Guiné levaram a efeito missões de patrulhamento e montagem de emboscadas na região de Caboiana, 06. Na área de S. Domingos, as NT sofreram 3 mortos, 5 feridos e 6 desaparecidos em vários contactos pelo fogo. O inimigo sofreu 1 morto e outras baixas prováveis.
Fonte: Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 6º volume: aspectos da actividade operacionaç Tomo II: Guiné, Livro III, Lisboa: 2015, pág. 344
(##) Deveria tratar-se do comandante do BART 6523/73 (Nova Lamego, 1973/74).
[ Seleção / adaptação / revisão / fixação de texto / negritos, para efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]
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Nota do editor LG:
Último pposte da série > 2 de dezembro de 2023 >
Guiné 61/74 - P24906: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXXIX: alferes graduado na CCAÇ 21, combatendo no Leste (pp. 261-263)