Queridos amigos,
Em dado momento deste passeio por Trevões, isto numa excursão que começou em Tabuaço, já se foi a Alijó, agora em S. João da Pesqueira, amanhã Salzedas, Pinhão, e por aí adiante, perguntei-me se terão andado também por aqui mestres Camilo Castelo Branco e Aquilino Ribeiro, andei a contemplar casas solarengas, algumas em manifesto estado de ruína, aqui tiveram preponderância, Caiados, Melos e Camelos, gente de abastança, porque nesta terra há ricas frutas, azeite, vinhos, até se instalou um jovem casal que montou empresa da amêndoa ecológica, o estado de alguns monumentos é deplorável, o monumento nacional, a igreja de Santa Marinha, cujo portal ainda mete respeito pelos tempos idos, e depois houve muito dinheiro para a imensa talha dourada e para aquele teto em caixotões que é de cortar a respiração. E gostei muito de ver esta população remar contra a maré, edificando museus que permitem contemplar glórias desaparecidas, e conservar recordações do trabalho humano, tudo instituído com tal carinho que nos faz deambular com profundo respeito por tão laboriosa imaginativa construção que resguarda a memória de tanto antanho. Por outras palavras, convido-vos a visitar Trevões.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (135):
Férias em região duriense, uma rota de aldeias vinhateiras (4)
Mário Beja Santos
O passeio começa em Trevões, aldeia vinhateira do concelho de S. J. da Pesqueira, zona de planalto, mas também zona de montanha e também com zona de escarpas montanhosas onde podemos desfrutar os típicos socalcos durienses. Já foi sede de concelho, tem um número impressionante de casas apalaçadas, ditas solares, há evidentes estados de ruína, a igreja matriz dedicada a Santa Marinha é monumento nacional, e veremos porquê, tem um Museu de Arte Sacra e um Museu Etnográfico que são um regalo para os olhos e para a memória. É pequena a superfície de Trevões, um pouco mais de 18 km2, a agricultura predomina, bem como a exploração de madeiras e, evidentemente os serviços. Um caminheiro dos mais habilitados e detentor de blogue, Alma do Viajante, Filipe Morato Gomes, veio aqui e ficou deslumbrado. Primeiro com os solares, um deles, o Solar dos Caiados, é referenciado nos manuais de arquitetura quanto a solares do Norte, houve famílias de grandes posses que aqui apostaram na agricultura e construíram casarões, daí o espanto de andar por Trevões e ver tantos sinais de um passado com riqueza e ostentação. É o que se procura mostrar a seguir.
Solar dos Caiados: edifício do século XVII, de planta longitudinal, estrutura-se em dois corpos com diferentes alturas devido à inclinação da rua onde está situado.
Solar dos Melos: também conhecido por Solar dos Caiado Ferrão, foi mandado edificar em 1671. Da construção primitiva já existia a capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição. Na segunda metade do século XVIII sofreu obras de vulto.
A Casa do Adro: mandada erguer em 1605 por Baltazar de Almeida Camelo. A fachada principal do edifício pontua 8 janelas, sendo as do andar nobre da sacada com gradeamento em ferro forjado.
Paço Episcopal: o estado em que se vê é de partir o coração. O Paço era pertença dos bispos de Lamego e foi mandado construir em 1777.
A igreja é de fundação medieval. O edifício, em excelente estado de conservação, apresenta uma fachada austera, onde se rasga grande portal de arco apontado, sobrepujado por janelão de traça setecentista. O interior é de uma imensa riqueza.
Citando Filipe Morato Gomes: “Ao observar o seu exterior, poucos imaginarão os tesouros guardados no interior da Igreja Matriz de Santa Marinha de Trevões. Lá dentro, no epicentro da aldeia de Trevões, o piso é lajeado com tampas sepulcrais; o tecto é lindíssimo e forrado a ‘caixotões de madeira pintados com motivos vegetalistas’; e o vistoso retábulo-mor de talha dourada impressiona desde o primeiro instante. E mal sabia o que se escondia para lá do retábulo…”
E daqui seguimos para dois eventos imprevistos, para grande assombro de todos os excursionistas, fomos visitar o Museu Etnográfico de Trevões e o Museu de Arte Sacra, é assunto que se abordará a seguir.
(continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 23 DE DEZEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24992: Os nossos seres, saberes e lazeres (606): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (134): Férias em região duriense, uma rota de aldeias vinhateiras (3) (Mário Beja Santos)