terça-feira, 16 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25394: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (26): um país de gente porreira - II (e última) parte

 Palácio Nacional de Mafra: uma visão romãntica, em litografia de 1853, da autoria de João MacPhail (que morreu em 1856). Fonte: Biblioteca Nacional de Portugal: http://purl.pt/12043

Imagem do domínio público, Cortesia de Wikimedia Common


Contos com mural ao fundo >  II (e última) Parte

por Luís Graça (*)


6B. Não te assustaste com o 25 de Abril.
Bem, não foi bem assim.
Não estavas a contar, deves dizê-lo.
O Ravasco também não,
e era bem mais imformado do que tu.
Tu tinhas algo a perder e, se calhar, algo mais a ganhar.
Claro, foi um desgosto para a tua mãezinha.
Para mais, o seu filho mais velho (esse é que era o "morgado",
e que também era professor  como ela),
apareceu-lhe um dia, em casa.
De barbas, cabelo comprido e cravo ao peito.
E com uma "flausina", uma namorada, de calças, e sem sutiã...
A pobre da tua mãezinha ia morrendo, de apoplexia.


A verdade se diga: ninguém a chateou por ser do Movimento Nacional Feminino, que acabou logo, dali a uns dias, por decreto da Junta de Salvação Nacional, onde estava o Spínola com quem tu, aliás,  até simpatizavas um bocado. Os outros não te diziam nada, com exceção talvez do Costa Gomes, que fora teu comandante-chefe em Angola (nunca o voste), e que também era nortenho como tu. Flaviense.

E, de resto, a tua mãezinha  já não dava aulas, tinha funções meramente burocráticas, na área da administração escolar. Logo que teve condições, isto é,  reuniu os requisitos legais, pediu a aposentação. Ainda bastante nova.  Percebeu que o seu tempo (e quiçá o seu mundo) havia acabado. 

Infelizmente ainda não tinha netos para cuidar. Mas dedicou-se ao seu jardim. Tinha uma cultura de camélias. E abriu a capela  da família, do séc. XVIII,  ao povo da freguesia. Sempre ornada de flores, camélias... Achaste um gesto bonito. E, afinal, inteligente. Democrático.  A capela até então estava vedada ao povo da aldeia, ali nos arredores de Ponte de Lima. O que era mal visto. Até para fazer um velório ou outro, as pessoas às vezes pediam-lhe e ela recusava.

Tinha muito orgulho, a tua mãezinha,  na capela onde repousavam os restos mortais de alguns dos seus queridos antepassados. Contrariando as leis de saúde dos Cabrais, ainda lá foram inumados, até tarde, até quase aos fins do séc. XIX, alguns dos teus avoengos.  

Claro que já nenhum padre lá ia  dizer missa. Os padres também aprenderam com a história passada, e, para o clero, sobretudo o mais jovem, era bom ser democrata (ou pelo menos aparentá-lo). Como o teu amigo de Mafra, mas esse já era democrata antes do 25 de Abril. Quer dizer, era do "contra".

A chatice maior que a família teve, no pós-25 de Abril,  foi com os rendeiros. "Poucos mas ingratos e velhacos", como já dizia o teu pai.  Recusaram-se a pagar a renda em géneros. Ainda se usava, e vinha desde há séculos,  o sistema da parceria agrícola (pagamento a meias ou ao terço, conforme os produtos eram da terra ou do ar). 

O teu irmão deu um jeito, resolveu o conflito. Chagou a cabeça a toda a gente da família.  Disse que "não, senhora,  minha mãe, que aquilo era senhorial, semi-feudal, pré-capitalista, que daqui a uns tempos  já se estava no ano 2000, e ainda  se lavrava a terra com os bois em Ponte de Lima!"... 

O teu mano era o "comuna" da família. Naquele tempo até dava jeito ter um "comuna" na família. Depois veio a lei do arrendamento rural e tudo se normalizou. Mas não foi preciso esperar muito para as terras ficaram sem rendeiros, nem bois, nem podadores, cobertas de mato. E a tua mãezinha voltou a ter que comprar batatas e cebolas no mercado. Mal dela se tivesse que viver das rendas dos rendeiros. E em anos ruins perdoava-lhes as rendas, depois da morte do marido. Nisso, era afinal um coração bondoso, e guerreiro, da estirpe da Maria da Fonte (que ela admirava).

O teu pai, um amanuense,  também dera a volta ao texto. Extintos os organismos corporativos, foi "reconvertido",  a nível profissional.  Os grémios da lavoura deram origem a cooperativas agrícolas. E tudo ficou como dantes. Ou quase. Não perdeu os seus hábitos, muito menos a sua tertúlia dos copos e dos petiscos. " E nunca quis mais saber da política!", confidenciou-te ele um dia. Mas morrerá cedo, coitado,  passados uns anos. 

Tu próprio também acabaste por "apanhar o barco" (ou, como se dizia na Ericeira, "surfar a onda"). Deixaste crescer o cabelo e passaste a usar uma boina basca.  Preta. Descobriste o teu lado (adormecido) de anarquista. E, confessavas, soube-te bem respirar o ar da liberdade que tu, em boa verdade, não tinhas tido quando nasceste no seio de uma família limiana tradicional.  Apesar de toda a gente ter um rótulo, tu recusaste-te  a revelar as tuas opções político-ideológicas, quer dizer, o partido em que votavas nas primeiras eleições. 

O Ravasco, muito mais à esquerda do que tu (acha que eras do PPM, o partido popular nonárquico), quis meter-te no sindicalismo, mas tu disseste-lhe  logo que "não senhor, muito obrigado, há coisas para as quais um limiano  de sangue azul como eu não tem jeito nem feitio nem vocação". Fizeras a tropa, já chegara esse tempo em que andaras "arregimentado".

A princípio, depois do 25 de Abril,  o Ravasco era o terror do "adjunto" e do "grupo das meninas", lá  na repartição  de finanças de Mafra.  Tens que o reconhecer, foi um gajo decente,  não houve saneamentos nem correu sangue, que era uma situação que tu detestarias, no caso de as coisas terem descambado para aí... Talvez por ter feito uma guerra, o Ravasco mostrou-se aos teus olhos surpreendentemente maduro e responsável.  

 A tua consideração por ele subiu mais uns pontos. Mas secretamente deu-te gozo ver aquele grupinho de sacanas baixar a bolinha. De um dia para o outro, a sorte mudara. Não vale a pena um gajo cantar de galo e montar as galinhas,  esquecendo-se que quem faz pintos também faz galuchos e garnizés. Mas não tiveste tratamento recíproco. A ti, continuaram a desprezar-te como "filho de Ansião"...

Ainda foste, com ele, no teu carro, a Peniche, ver a saída dos presos políticos, em 27 de abril. Não tinhas lá ninguém teu conhecido. Mas também não concordavas com as prisões políticas nem com a  censura à imprensa nem com os pides ... Nunca se discutia política lá em casa, mesmo que os teus pais fossem simpatisantes do Estado Novo (pelo menos votavam na União Naconal e depois na ANP, a tal Acção Nacional Popular, sem convicção, por dever de  ofício. ) 

Levaste também no teu Mini o Ravasco ao 1º de Maio, em Lisboa... Viste ao longe o Mário Soares e o Álvaro Cunhal.  Não sendo republicano, ficaste com um certo respeito por eles. Pelo menos, foram homens que lutaram pela liberdade dos outros, dando o corpo ao manifesto.  Mas nunca tinhas visto tanta gente junta, gritando palavras de ordem, de punho erguido.  Sempre tiveste a fobia das multidões. E daí nunca teres ido a desafios de futebol (nem a touradas e, muito menos, a comícios!).

Percebeste cedo que "aquela não era a tua praia", preferias a Ericeira e a Foz do Lisandro... Foi mais para fazer companhia ao Ravasco, um gajo de quem a pouco a pouco começaste, sem saber bem porquê,  a gostar como amigo, ou até talvez como o irmão que te fazia falta, a algumas centenas de quilómetros de casa... 

Foi ele que começou a tratar-te por tu, a seguir ao 25 de Abril. A princípio, custou-te, repugnava-te até, mas lá te foste habituando,  a pouco e pouco. Na família sempre houvera a norma do tratamento por você.  O respeitinho sempre fora muito bonito entre os teus. Chamava-te agora "pequeno-burguês", com hífen, qualificativo que tu nunca sabias muito bem o que queria dizer. Interpelavas o safado do Ravasco: "É por gostar das coisas boas da vida ? De gajas ? Ou ter um velho Mini com jantes especiais?"... 

Nunca to esclareceu... Sempre o achaste, nesse aspeto,  um bocado moralista. Rígido, em certas coisas. 

Em Braga irás conhecer o verão quente de 1975. Mas desse tempo não gostarias de   falar. Ficaste desgostoso com as posições radicais que alguns amigos e conhecidos teus, de um lado e do outro, tomaram, na altura do PREC.  A começar por católicos que se sentavam na missa, ao teu lado. Aí, sim, temeste que a coisa pudesse degenerar em guerra civil. 

A tua mãe, que sabia muito da História de Portugal,  falava-te dos horrores que haviam sido as guerras liberais, fratricidas. Na tua família parece que houve tanto "malhados" ou "jacobinos", partidários do Dom Pedro, como "corcundas", seguidores do Dom Miguel, estes talvez em maior número. E só se juntaram na "Patuleia", em 1847,  os "realistas" e os "setembristas" ou "progressistas", da Junta do Porto. Daí tu não te admirares de o teu mano ser "comuna do 26 de Abril". Houve muitos vira-casacas. Acontece em todas as mudanças de regime. E em todas as famílias. A tua, afinal, era como as outras.

Mais tarde voltaste a Ponte de Lima onde o teu mui amado tio-avô, materno, solteiro,  e que não tinha herdeiros diretos, te deixou em doação uma quinta. Uma pequena quinta, maneirinha, boa de se fazer. Tu eras o seu sobrinho-neto querido. Por causa da política, cortara relações com o teu mano, professor primário, esse, sim, o "senhor morgado", que ficou com as fracas terras da família, estoirando-as em pouco tempo...

Reformaste-te da função pública, no bom tempo. Fizeste uma formação em vitivinicultura. Descobriste os encantos da vida no campo.  E, para surpresa do Ravasco, não te casaste nem fizeste filhos (que tu soubesses), nem sequer escreveste um livro, mas plantaste árvores  e vinhas. E disso podes orgulhar-te.


7A. Uns tempos antes do 25 de Abril, ainda em Mafra,
o Bacelar havia-te apresentado ao padre, seu amigo,
de que espantosamente já não recordas o nome.
Simpatizaste, de imediato, com ele.
E depressa encontraste nele um homem
capaz de ouvir (e sobretudo de saber ouvir)
o relato dos teus “fantasmas” da guerra de África.



No fundo, ele acabou por ser o “confessor”, mais do que o simples confidente ou ouvinte passivo, de que tu estavas a precisar, ali, desterrado e amargurado. Na realidade, e até então, nunca falaras da guerra a ninguém, não tinhas sequer amigos íntimos com quem pudesse partilhar as tuas confusas e doridas memórias, da infância, do seminário, da guerra... A não ser, afinal, com o Bacelar.

Ao fim da tarde, antes do jantar, a meio da semana, tinhas por hábito juntarem-se, tu, o Bacelar e às vezes o padre, na tal "tasca dos jaquinzinhos" (na realidade era já um misto de tasca e  bar a virar para  modernaço)...  Tomavam a bica ou uma cerveja, davam dois dedos de conversa, comentavam as notícias dos jornais. Era uma espécie de tertúlia. Às vezes juntava-se à mesa um ou outro jovem estudante,  conhecido do grupo, ou das relações do padre. E noutras meses aparte, um ou outro cadete.

Talvez já em março de 1974, não sabes se antes ou depois do 16 de março, a revolta das Caldas, que  alvoraçou a malta do "reviralho" (incluindo o Bacelar que lá estivera uns anos antes como 1º cabo miliciano), a conversa foi parar, sem tu  dares conta, à Guiné e à guerra. Sabes que te perdeste e me abstraiste do que se passava à tua volta. Não te apercebeste sequer de quem estava na mesa do lado. 

O padre, mais velho do que tu uns anos, gostava de te ouvir e raramente te interrompia com um pedido para esclarecer este ou aquele ponto, e muito menos para manifestar a sua concordância ou discordância. Revelava, isso, sim, uma grande empatia, o que veio reforçar a confiança que ele te inspirava, logo desde o início. Em suma, sabia ouvir, o que era, quanto a ti, uma qualidade essencial num confessor. Os que tu tiveras, até perder a fé, eram mais inquisidores do que confessores….

Ficaste também com a ideia de que ele estava minimamente familiarizado com o meio castrense. Não te admiravas, estava  habituado  a lidar com a tropa numa terra como aquela. Talvez até ele tivesse sido capelão militar, antes de vir para aqui, conjeturavas tu.  Ou talvez ainda quisesse vir a sê-lo, a guerra do ultramar estava para dar e durar, pensava muito boa gente.  Estava, de resto, em idade para isso, para ser capelão. Teria cinco anos a mais do que tu, já a roçar os 30. Nunca lhe perguntaste a idade, por delicadeza. Vieste depois a saber que alguns dos seus paroquianos eram militares da EPI ou seus familiares.

Se bem recordas hoje, a quase meio século de distância, o teor da conversa (na realidade, um longo monólogo) girava à volta dos "prisioneiros" que a tropa fazia na Guiné. Ali não havia prisioneiros de guerra, garantias tu, ou se os havia não eram tratados como tal. Portugal não estava, técnica e legalmente, em guerra com nenhum país soberano, pelo que não podia haver prisioneiros de guerra. Mas tu nunca tinhas lido a Convenção de Genebra. Os guerrilheiros ou simpatisantes  do PAIGC quando aprisionados, no decurso da actividade operacional das nossas tropas, eram tratados como simples presos de delito comum. Ou seja, eram "turras". 

Sob tortura, davam informações relevantes sobre o dispositivo militar do PAIGC no setor ou região, bases ou “barracas” (acampamentos temporários), população, nome dos comandantes e dos comissários políticos, bigrupos, armamento, trilhos, depósitos de armamento, lojas do povo, locais de cambança, etc. Eram um "livro aberto"... E, claro, eram forçados a servir de guias para levarem a tropa até ao “objetivo”. 

Sempre fora assim, ainda antes do teu tempo,  e tu, como todos os outros graduados, quer do quadro, quer milicianos,  fechavam os olhos ou assobiavam para o lado. “Siga a marinha!", dizia o capitão. Nunca torturaste ninguém. Mas alguém tinha que fazer o trabalho sujo. Afinal, à guerra não era para meninos de coro.

Estavas a contar-lhes, ao padre e ao Bacelar (a tua atenta audiência),  as peripécias de uma operação em que tu comandavas a tua companhia, já com o teu capitão de baixa no hospital militar de Bissau. Havia outras forças envolvidas, e nomeadamente um pelotão de caçadores nativos e um pelotão de milícias que faziam parte do teu destacamento. 

A milícia seguia à frente a abrir caminho e  com o prisioneiro a servir de guia. Éram dois destacamentos, A e B, a avançar, numa manobra de envolvimento, “em tenaz”, para o “objetivo”, uma “barraca”, um acampamento onde estaria um bigrupo, ou menos (talvez cerca de 40 homens), situado a montante de um rio e na orla de uma mata espessa, de tipo floresta-galeria, ao longo da margem de um rio. Estavam bem armados, incluindo morteiro 81.

O prisioneiro era balanta, não falando uma única palavra de português. Era muito  jovem e bem constituído. O alferes de 2ª linha, que comandava o pelotão de milícias, mantinha com ele um difícil diálogo em crioulo. Tu seguias no seu encalce, dez metros atrás, com o teu guarda-costas, e o homem da bazuca. Percebest que o prisioneiro há mais de uma hora fazia tudo para despistar a tropa ou denunciar a sua presença, à medida que se aproximavam do objetivo.

Às tantas, foram detetados (o que era normal) por uma sentinela avançada, no alto de um bissilão,  que deu o sinal de alarme… O teu guarda-costas abateu-o, com um tiro certeiro, mas acabaram  por ser flagelados por fogo de armas pesadas.  De imediato, foram  vítimas de um brutal ataque de abelhas. 

Na confusão que logo ali se instalou, o prisioneiro ensaiou uma tentativa de fuga, mesmo algemado e preso a uma corda. O  milícia, que o conduzia foi suficientemente lesto para o impedir de se internar na mata, acabando por o alvejar no último segundo, já no fim de um dos  trilhos que levavam à “barraca”, e que ele devia conhecer, de olhos fechados.

Pelo PCV (Posto de Comando Volante), a avioneta onde estava o major de operações, receberam  ordens para abortar o assalto, uma vez gorado o efeito surpresa e o aparente desnorte das nossas tropas, dispersas pelo ataque de abelhas e a “morteirada” do inimigo. 

Reagruparam-se  na orla de uma bolanha, com o ferido a sangrar, enquanto os T-6 entraram em ação despejando bombas sobre o “objetivo”. E regressaram sob proteção do helicanhão.  

Foi nessa altura que o comandante da milícia, espumando de raiva, saltou sobre as costas do prisioneiro, como um verdadeiro felino, e rasgou-lhe a coluna vertebral de alto a baixo, com a sua faca de mato bem afiada. O prisioneiro caiu redondo no chão mas não teve morte fulminante. Ainda viste alguém, da milícia,  dar-lhe um tiro de misericórdia na nuca e cortar-lhe as orelhas, prática que, de resto, não era invulgar em circunstâncias com estas… Dizia-se que era um ritual guerreiro dos fulas, mas o Spínola deixou de achar graça, quando lhe meteram na cabeça que a guerra também se ganhava pelo charme, a "psico", o respeito pelo inimigo, blá-blá, blá-blá...


Ficaste sem pinga de sangue, nunca tinhas presenciado uma cena de guerra daquelas, nem nos filmes do faroeste onde era pressuposto os índios e os os cobóis tirarem o escalpe aos mortos. E não tiveste sequer tempo nem reflexos para impedir uma barbaridade daquelas. 

O mais grave é que, por cobardia ou para não arranjar chatices, omitiste esta cena no relatório que ajudaste a fazer com o comandante do outro destacamento, que era capitão.  Oficialmente, o prisioneiro-guia fora morto quando intentava fugir… E o alferes de 2ª linha  era um grande operacional, muito bem visto (e protegido) pelo comando do batalhão do setor. Falava-se já na sua próxima gradução em tenente, indo ao encontro da política de Spínola de "africanizar" cada vez mais a guerra. 

Estavas tu a acabar o relato deste triste episódio da tua guerra, quando da mesa ao lado salta um jovem que se dirige ao padre e diz com veemência:

 É tudo mentira, senhor padre!... Uma infâmia, uma calúnia!... Isso nunca poderia ter acontecido na nossa querida Guiné e muito menos por homens que envergam e honram a nossa farda. O senhor meu pai, oficial superior em Bissau [disse o nome, o posto , a unidade, etc.] , está lá, neste momento, rezo por ele todas s noites e  sei que ele nunca pactuaria com práticas indignas de um exército que defende a nossa pátria e os valores da nossa civilização cristã e ocidental!...

O padre, reconhecendo de imediato o jovem (ou talvez ainda adolescente)  e temendo pela tua integridade física, arrastou-o com força para um canto da sala e fez tudo para o acalmar… Não contaste os minutos, tu próprio estavas perplexo e chocado com toda aquela violência verbal, intempestiva e  gratuita… 

Passaram-se talvez uns bons vinte minutos,  foi longa (e áspera) a conversa do padre com o jovem… De copo de água na mão, o jovem parecia, no entanto,  estar a acatar a autoridade do padre, que o tentava acalmar… Por fim, lá saiu da sala, em passo estugado, mas não sem antes te voltar a fulminar com o olhar. Por certo que ficaste marcado, pensaste tu com os teus botões. Ficaste com a ideia de que, a partir daquele momento, tinhas ganho mais um inimigo naquela maldita terra.

O padre regressou à mesa, limpando o suor da testa, aliviando a pressão do cabeção no pescoço, ao mesmo tempo que pedia desculpa e tentava ensaiar uma explicação para aquele assomo de violência juvenil:


 É um paroquiano meu, excelente rapaz mas muito impulsivo. Conheço-o há uns boms anos. É filho de uma ilustre família de militares... Mas podemos considerá-lo “órfão de pai”, cresceu com o pai em África. Tem uma enorme admiração pela figura paterna e prepara-se para ingressar na Academia Militar, daqui a dois anos...

O Bacelar saiu contigo, mudo e calado. Mas incomado, tanto ou mais do que tu e o padre. Nunca mais os três falaram do  assunto.


8A. Epílogo


Infelizmente, o  Bacelar já não está cá, entre os vivos, para se poder continuar a manter esta espécie de monólogo a dois... 

 Como o tempo passou, meu Deus!

O Bacelar morreu num estúpido acidente de trator agrícola, há uns anos atrás, trinta e muitos anos depois de 1974. Numa vinha, nova, em socalco, que ele plantara e amanhara com uma paixão e um carinho que te comoveram, até às lágrimas, quando lá foste participar numa vindima, talvez por volta de 1997, se não erras, altura em que ele fez 50 anos. Tinha uma bela vinha com castas loureiro e alvarinho. "Era a menina bonita dos seus olhos"... Não tinha filhos, ficara solteiro...

“Contra todas as probabilidades”, como dizia ele, os dois ficaram  amigos para o resto da vida. E, no entanto, só conviveram em Mafra, menos de dois anos, separando-se já no final do verão de 1974, talvez em outubro.  Conseguiram a tão almejada transferência, tu para a Repartição Central do Imposto Complementar, em Lisboa, na Rua Braamcamp, e ele, para mais perto de casa, na cidade dos arcebispos e, mais tarde, para a sua terra.

Acabaste por tirar o curso de direito, em Lisboa, graças ao teu estatuto de trabalhador-estudante e beneficiando igualmente das regalias de antigo combatente. Cinco ou seis anos depois, no início dos anos 80, concorreste a um lugar de técnico superior de 2ª classe no Ministério do Trabalho e Segurança Social. Foste para uma área de que gostavas, e tinha a ver com as condições de trabalho, incluindo a higiene e segurança e matérias afins. Ajudaste  a elaborar diversos materiais de divulgação e sensibilização, fichas técnicas, brochuras, cartazes, etc. Interessaste-te, em especial, por sectores de elevada sinistralidade como as minas e pedreiras, a construção e obras pública, a agricultura e pescas, a metalomecânica.

Era um trabalho de algum modo pioneiro em Portugal, acabaste mais tarde por ir parar, com as sucessivas reestruturações do Ministério, sito na Praça de Londres, a um instituto que antecedeu a atual ACT – Autoridade para as Condições de Trabalho.

Do sindicalismo das contribuições e impostos, já não tinhas saudades nenhumas. Ainda ajudaras a criar e a alimentar um boletim, "A Forja", que era tirado a "stencil". Aquilo acabou por descambar num sindicalismo corporativo, populista,  que é o que há hoje em Portugal, ainda com alguma força reivindicativa, dos professores aos magistrados, dos estivadores aos condutores de longo curso, maquinistas de comboios, pilotos da TAP, polícias e quejandos... São essas corporações, algo mafiosas (como os gajos da estiva),  que podem parar um país... Podem usar a bomba atómica, é certo, que é a greve e  a paralização de sectores-chave da economia, mas também têm que saber muito bem calcular e prevenir os seus efeitos de "boomerang"...

Com o tempo de tropa, e os 36 anos de função pública,  reformaste-te. E passste a  dedicar-te aos cães e aos netos. Tinhas um pequeno monte, não longe da terra onde foste parido, na freguesia de São João dos Caldeireiros, lá no cu de Judas, no "país profundo", com diziam os gajos politicamente corretos, e que tu não sabias o que queria dizer... Devia ser a forma eufemística ou cínica de chamar-lhe a periferia das periferias, onde só havia coutadas,  de meia dúzia de granjolas, e onde já chegara o pré-Saara, o deserto...que nos há de cobrir a todos.

Tens pena, hoje,  de nunca ter feito o estágio de advocacia, de modo a teres podido exercer a profissão a tempo inteiro. Entraste para a função pública, tramaste-te, não quiseste trocar o certo pelo incerto, tu que chamavas "pequeno-burguês" ao pobre diabo do Bacelar.  Mas, pelo que vês hoje, a profissão de advogado já não é o que era. São os grandes escritórios que fazem a lei... E o idealismo de outrora desvaneceu-se. Como tudo, de quando eu eras jovem e ainda sonhavas com um mundo totalmente diferente daquele em que nasceras, tu que eras filho de mineiro e neto de ganhão. 

Só esperas que não te dê tão cedo o badagaio. Querias morrer lúcido, em paz contigo e, se possível, com os outros, o que se calhar é pedir demais. Vais ter que negociar com o teu gestor de conta do além.

Não, não casaste com a rapariga de Beja, que estava à tua espera. Fartou-se de esperar e fez ela muito bem. Um dia encontrou na rua, ao virar da esquina, o primeiro namorado, do tempo de escola, e lá juntaram os trapinhos. Nada como a primeira grande paixão,  sempre ouviste dizer.  Só esperas que ela tenha sido mais feliz do que tu foste.

Já do Bacelar não sabias tantos pormenores do resto da  sua história de vida. Andou atrelado a uma francesa, no verão de 1974. Chegou a levá-la à sua terra, para escândalo da mãezinha. 

Aliás, andaram atrelados, os dois. Ela tinha uma amiga ou irmã,já não não te lembras bem. Despacharam os “copains”, que vinham com elas, e que foram atrás das portuguesinhas de Lisboa. Vieram, num “dois cavalos”, ver a “révolution des oeillets”, a revolução dos cravos, ao vivo e a cores. Portugal, país liliputiano,  que não cabia na geografia do mundo, passou a ser, nesse tempo,  uma espécie de jardim zoológico da Europa. Chegaram cá fotógrafos famosos, tiraram umas chapas e depois esqueceram Portugal e os portugueses por mais umas boas dezenas de anos.

O Bacelar, esse,  acabou por dar um salto até aos Alpes Franceses, já em setembro de 1974, na “rentrée”. As raparigas eram da região de Grenoble. Foi uma espécie de “summer school”, completa, mas sem direito a certificado em papel timbrado, com o “Capital” do Karl Marx, o “Kama Sutra”, os maços de cigarros “Gitanes”, e a garrafa de vinho do Porto Ferreirinha, enrolados nos lençóis encardidos. 

As tipas, finalistas de liceu, eram muito mais politizadas e "sabidas"  do que ambos. O Bacelar era obrigado a recitar o “livrinho vermelho”, a bíblia do maoísmo, antes de ir para a cama com a sua “copine”. A que te calhou na rifa era mais dada à poesia e à música de contestação, o Brel, Moustaki, o Leo Ferré… Nada de Dassin ou Bécaud, que eram pirosos, mas os únicos que o Bacelar e tu conheciam … 

Enfim, melhoraste substancialmente o teu francês de praia nesse tardio verão de 1974. Mas não acompanhaste o Bacelar nas aventuras em França, país de resto que tu já conhecias, do trabalho duro, de sol a sol nas vinhas de Bordéus… Trabalho de escravo branco, diga-se de passagem.

O argumento era o do costume, e fez-te recuar até à Guiné: 

− Bacelar, alguém tem de ter a cabeça fresca e  ir trabalhar… 

Na realidade, tu sentias-te mal por andarem os dois  com miúdas muito mais novas. Caiste na realidade. Aquilo não tinha nada a ver contigo. E lá foram os três no Mini! O "dom Juan" do Bacelar e as catraias... Não sabes como o Bacelar conseguiu a proeza, de ir e vir… num Mini já com muitos milhares de quilómetros no contador…

O “açoriano”, o chefe, levantou-lhe um processo disciplinar por faltas injustificadas. Nesse tempo ainda havia livro de ponto. Intercedeste pelo teu “amigo improvável”, usando (e talvez abusando de) as tuas funções, 
na altura, de delegado sindical, "eleito democraticamente", em lista única, de braço no ar (e com três ou quatro votos contra, como seria de esperar). E sobretudo fartaste-me de esgalhar para compensar o trabalho em falta do Bacelar. 

O tio-avô dele, já reformadíssimo, arranjou-lhe um atestado médico. E, com a “boa vontade de todos”, o caso foi abafado e a “ficha” do Bacelar voltou a ficar limpinha… 

O Portugal do pós-25 de Abril era  um país de gente porreira… Perguntas-te hoje por que razão é que o fizeste, por um tipo que afinal tinha poucas afinidades contigo… 

És capaz de responder que foi simplesmente por amizade (e quiçá por camaradagem), que veio na sequência da situação de “companheiros de infortúnio”,  quando colocados como "mangas da alpaca" na repartição de finanças de Mafra… Afinal, a política, a religião, a ideologia... não eram tudo na vida, foi a conclusão a que tu chegaste, da tua vivência desses tempos.

Nesse final de verão de 1974, ou já princícpio de outono,  descobriste de repente que, ao despedirem-se,  tinhas ganho um amigo, na realidade o primeiro amigo do peito que ganhavas em vida… Despediram-se com um valente  "quebra-costelas"  e uma indisfarçável lágrima ao canto do olho... Prometeram visitar-se um ao outro,  em próxima oportunidade. O que só viria a acontecer em 1977, três anos depois, por ocasião do seu (e dele) 30º aniversário natalício. Ele veio até Lisboa, dessa vez.

Entretanto, em 1974, depois do 25 de Abril, o  "grupinho do adjunto e das meninas" andava de crista murcha, mas não escondia a sua hostilidade crescente para com o “sindicalista”, que eras tu. O Bacelar apanhava por tabela, apenas por ser teu amigo...  

Disseram-te depois que, a partir do verão de 1975, voltaram a sentir-se de novo em casa, com a baiuca por sua conta. A paz voltou a reinar no convento, se bem que as alegres noitadas de da última sexta feira de cada mês já não se voltaram a repetir, tal como as "ceias de Natal do fisco"… A "madama" sumiu-se, os empresários tinham mais com que se preocupar...

Com o início da informatização das contribuições e impostos e da modernização administrativa, incluindo uma nova gestão de recursos  humanos, começou a imperar uma certa moralidade, rigor e transparência... 

Entretanto o “açoriano” fora promovido e regressara à sua ilha natal.   O jovem candidato  à Academia Militar  não sabes se chegou a concorrer e  a entrar, já com a "guerra de África" arrumada.  E do padre, teu amigo e do Bacelar,  também não nunca mais soubeste nada. E a história deste país, já quase com 900 anos,  lá seguiu o seu curso a caminho do novo milénio.

Em Mafra, não deixaste amigos, infelizmente, mas queres aqui reconhecer que era terra de boa gente, e sobretudo trabalhadora. Embora tu nunca te tenhas reconciliado com a "Máfrica", mas isso é outra história.

O mais triste de tudo  foi  a perda, afinal, de um grande amigo, morto estupidamente debaixo de um tractor que ele comprara, em segunda mão  e, por ironia, não obedecia às normas nacionais e europeias de segurança, faltando-lhe por exemplo as estruturas de segurança (nomeadamemte, o arco de segurança, rebatível)...

E tu que, da única vez que lá foste, à sua casa nos arredores de Ponte de Lima, a chamar-lhe a atenção: "Oh!, Bacelar, olha que um dia destes ainda cais de um socalco e ficas debaixo do trator!"... 

Meu dito, meu feito!... Tal como ao do teu pai, não foste ao seu funeral... Só soubeste da triste notícia uns largos tempos depois. Por um mero acaso. Quando passaste por Ponte de Lima e lembraste-te de perguntar a alguém por ele.


© Luís Graça (2021). Revisto em 15 de abril de 2024.


Nota do autor: Neste conto, os nomes (de pessoas e lugares) são fictícios, mas os factos são verdadeiros. Acontece que este país é demasiado pequeno.

___________

Nota do editor:

(*) Poste anterior da série > 15 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25391: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (25): Um país de gente porreira - Parte I

Guiné 61/74 - P25393: Efemérides (433): Ainda a recente homenagem em Nova Iorque a dois grandes humanistas lusofónos, diplomatas da II Guerra Mundial, que faleceram há 70 anos, neste mês de abril, o português Aristides de Sousa Mendes (a 3) e o brasileiro Luís Martins de Sousa Dantas (a 16) (João Crisóstomo)



Nova Iorque > Igreja Eslovena de São Ciro > Homenagem a dois grandes humanistas lusófonos > 7 de abril de 2024 >    Aspeto parcial da assistência


Nova Iorque >  Igreja Eslovena de São Ciro > Homenagem a dois grandes humanistas lusófonos > 7 de abril de 2024 >    Vilma e João Crisóstomo,  padre franciscano frei Krisolog,  embaixadora Ana Paula Zacarias e dom Gabriele Caccia.


Nova Iorque > Igreja Eslovena de São Ciro > Homenagem a dois grandes humanistas lusófonos  > 7 de abril de 2024 >  Arcebispo dom Gabriele Caccia e padre franciscano frei Krisolog durante a Missa.


Nova Iorque >  Igreja Eslovena de São Ciro >  Homenagem a dois grandes humanistas lusófonos >   7 de abril de 2024 >  João Crisóstomo, do Day of Consciense Committee, um dos promotores do evento


Fotos (e legendas): © João Crisóstomo  (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Mensagem do nosso amigo e camarada João Crisóstomo (Nova Iorque):

Data - 14/04/2024 23:15
Assunto - Ainda a homenagem a dois humanistas em Nova Iorque


Caro Luís Graça,

Obrigado pela cobertura que fizeste antes de 7 de Abril e depois ainda sobre a mensagem enviada para a ocasião pelo Senhor Presidente Marcelo Rebelo de Sousa.(*)

Permito-me fazer um follow-up (ou o que lhe quiserem chamar) para os que tiverem algum interesse no assunto. Já sabes que não sei ser sucinto do que peço desculpa. Se achares que vale a pena um outro post sobre isto, talvez queiras cortar o que achares menos pertinente, para ser menos tedioso.

A razão deste follow-up é sobretudo para falar sobre o outro humanista homenageado, o brasileiro Luís Martins de Sousa Dantas, cuja morte lembramos depois de amanhã , dia 16 de Abril .

Quando em 2004 com a ajuda da IRWF,   organizei a celebração do 50º aniversário da morte de Aristides de Sousa Mendes, vim a ter conhecimento dum outro grande humanista . E com grande surpresa verifiquei que eles pareciam gémeos. 

Reparem: 

  • são ambos de língua portuguesa;
  • ambos diplomatas servindo os seus países em França durante a II Guerra Mundial; 
  • ambos se encontram na mesma posição de terem de atender a refugiados fugindo dos nazis e de morte certa em camaras de gaz e fornos de incineração nos campos de concentração ; ambos decidiram ajudar estes refugiados; 
  • ambos agiram contra as ordens de seus governos que os proibiam de ajudar refugiados especialmente judeus; 
  • ambos foram acusados em tribunal e condenados ; 
  • ambos, talvez nem se conhecessem, explicaram ter agido assim porque tinham de seguir a sua consciência de cristãos;
  •  depois da sua morte foram ambos reconhecidos por Yad Vashem ; 
  • e como se carimbados com um selo de comum destino vieram a morrer a escassos dias um do outro, ambos em Abril do mesmo ano de 1954.

Decidi então que quando falasse de Aristides de Sousa Mendes não iria esquecer o outro humanista brasileiro Luís Martins de Sousa Dantas. E nos acontecimentos sobre o “Dia da Consciêcia” comecei a falar sempre dos dois.

O evento, dito para celebrar o 70º aniversario da morte de Aristides de Sousa Mendes e de Luís Martins de Sousa Dantas que ocorreu no dia 7,    correu muito bem. A Igreja e salão onde o evento teve lugar são pequenos, que a comunidade eslovena em Nova Iorque também é pequena. Mas era o suficiente para receber acima de 110 pessoas , representando 24 organizações que se fizeram representar. 

Como constava do convite o evento foi na verdade um triplo evento. 

A primeira parte foi uma Missa celebrada pelo Senhor Arcebispo Dom Gabriele Caccia, representante do Vaticano na ONU.

Depois seguiu-se um receção no salão onde o orador principal foi a Sra. Embaixadora Ana Paula Zacarias , nossa represenetnate diplomática  nas Nações Unidas.

Falaram também:
  • Embaixador Noberto Moretti, representando o Brasil e ainda o professor luso-americano Paulo Pereira, Presidente da Camara da cidade de Mineola;
  • Sandra Mendonça Pires representava o nosso embaixador nos US; 
  • Portugal US Chamber of Commerce;
  • All4Integrity;
  • Lions Club;
  • Sousa Mendes Foundation, US;
  • IRWF ( International Raoul Wallenberg Foundation:
  • Columbia University;
  • NYpalc (Associação de clubes de Nova Iorque);
  • Academias de Bacalhau de Nova Iorque e de Long Island;
  • Várias escolas e clubes de Nova Iorque e New Jersey,
... e ainda diversas outras associações num total de 24, enchiam o salão, onde além de bar eram servidos canapés passados em travessas.

A terceira parte foi a projeção do filme “O Consul de Bordeús” (Portugal, 2011). 

O seu sucesso era evidente pelo número de pessoas que não podiam esconder a sua emoção, enquanto outros teimavam em esconder teimosas lágrimas, e dezenas de pessoas , incluindo vários dignitários presentes me perguntavam onde podiam encontrar uma cópia do filme que acabávamos de ver. O evento foi objecto de cobertura pela SIC internacional e por outros jornalistas aí presentes.

Têm-me perguntado por vezes a razão porque continuo a lembrar e organizar eventos sobre Aristides de Sousa Mendes. O nosso grande humanista, argumentam , já deixou de ser um ilustre desconhecido , como atestam a sua introdução no Panteão Nacional e o seu reconhecimento pelo Papa Fancisco, que dele e do “Dia da Consciência” falou em Junho de 2020.

É que a memória humana parece ser por vezes de muito curta duração. Quando em 1996 ouvi falar de Aristides pela primeira vez, para logo decidir apresentá-lo ao mundo, dada a grande figura que descobri, em toda a Nova Iorque, de grandes jornais a rabinos e muitos simples indivíduos que contactei, ninguém ,salvo Elie Wiesel e Baruch Tenembaum, sabia quem ele era. 

 Depois da grande exibição nas Nações Unidas em que consegui que ele fosse homenageado com grande destaque, não deixei mais que ele voltasse ao esquecimento, organizando eventos nos Estados Unidos, em Portugal e outros países. E constatei com muita satisfação que o meu esforço era igualado por alguns membros da sua família e outras pessoas mundo fora como foram Jacques Riviere e Manuel Dias em França, Paulo Martins no Brasil enquanto Rui Afonso publicava o livro ‘Um Homem bom “ e Diana Andriga e outros da media se debruçavam sobre ele.

É importante que ele e outros não voltem a ser ignorados e esquecidos. Mas o mais importante é que lembrando-o, nós lembremos a sua consciência e a sua coragem em fazer o que devia ser feito. E, de que hoje, mesmo que isso exija esforço e sacrifício da nossa parte, temos de ter a mesma coragem para fazer o que precisa de ser feito, especialmente quando se trata de ajudar pessoas necessitadas e outras que, sem culpa deles e apesar de esforços, ainda precisam da nossa ajuda. Essa é a razão principal porque devemos continuar a lembrar Aristides de Sousa Mendes.

Um grande abraço
joão

PS - Espero que as fotos, que junto,   ajudem a visualizar o que foi este evento.
 
____________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 7 abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25353: Efemérides (432): Há 70 anos que morreu Aristides de Sousa Mendes (em Lisboa, 3 de abril de 1954): O Presidente da República Portuguesa associou-se à homenagem do dia 7, hoje, em Nova Iorque, na Igreja Eslovena de São Ciro

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25392: Consultório Militar do José Martins (79): Dia 16 de Março de 1974 - Parte IV - O dia


Parte IV de "Dia 16 de Março de 1974", um trabalho da autoria do nosso camarada José Martins (ex-Fur Mil TRMS, CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), enviado ao Blog em 10 de Abril de 2024. Neste dia ensaiou-se a primeira tentativa de derrube do regime vigente, conhecida por Levantamento ou Golpe das Caldas, por ter sido protagonizada por militares do antigo RI 5 das Caldas da Rainha.


Dia 16 de Março de 1974 - Parte IV

Porta de Armas do extinto RI5
Foto com a devida vénia a heportugal

O dia

06:00
● Óscar Cardoso, inspector da PIDE/DGS, revista a casa do Major Manuel Soares Monge, às 6 horas, durante a ausência deste. [JM]

● O Comandante do Regimento de Infantaria n.º 7 transmite ao Major que ia constituir o Posto de Comando Avançado RI 7, ao Capitão Comandante da Companhia de Caçadores e a todos os oficiais da mesma, que a missão era o cerco ao aquartelamento do Regimento de Infantaria n.º 5 e, disse, que deveriam fazer todos os esforços para se não disparar contra os insurrectos. O tiro só seria desencadeado à ordem, sendo absolutamente proibido abrir fogo sem ordem, mesmo como resposta a tiros vindos do aquartelamento. Eventuais tiros de aviso seriam disparados apenas por graduados. Não existiam no Regimento de Infantaria n.º 7 rações de combate, por estarem armazenadas na Delegação da Manutenção Militar. Para não atrasar a saída da coluna, foi distribuído a todo o pessoal pão do rancho geral, sendo as rações distribuídas mais tarde. A coluna saiu e a Unidade ficou em dispositivo de alarme, com todo o pessoal bem mentalizado e decidido. [RI7]

● No relatório do Batalhão n.º 2 da GNR, consta que lhe foi transmitido pelo Comandante da GNR de Caldas da Rainha, ter encontrado o Capitão Novo acompanhado de dois Aspirantes de cor, quando este regressava do Regimento de Infantaria n.º 5, ou para ali se dirigia, cerca da meia-noite. Igualmente, uma praça, daquele Posto, contactou com um Cabo do Regimento de Infantaria n.º 5, que lhe disse não o terem deixado entrar naquela Unidade, quando ali regressava à 01:00 e, posteriormente, às 05H30. Soube ainda, por um seu amigo da guarda de policia àquele quartel, que dali saíra uma Companhia, às 01:30 e que em todo o perímetro se encontravam colocadas metralhadoras. [B2g]

● No relatório do Comando-Geral da GNR, consta que o Serviço de Saúde, em viatura civil, equipada com emissor/receptor reconhece a coluna do Regimento de Infantaria n.º 5 na Auto-Estrada do Norte. Informa que a mesma é constituída por 12/14 viaturas e que está parada seis quilómetros a Sul de Vila Franca de Xira. A Companhia do Batalhão n.º 1 da GNR, que com se ela se cruzou, estava parada à entrada de Vila Franca de Xira. [CGg]

● Como não se sabia qual seria o itinerário seguido pelas forças sublevadas, as subunidades que cada regimento dispunha, às ordens do Comandante da Região Militar de Lisboa, receberam as missões de:
► As forças estavam sob comando do Chefe do Estado-Maior do Exército, General João Paiva Brandão.
► Na zona Oeste: patrulhamento, pelas forças da Escola Prática de Infantaria (Mafra), das vias que davam acesso a Lisboa; colocação no acesso a Lisboa, na zona de Ponte de Frielas, Loures, de forças da Escola Prática de Administração Militar (Lumiar).
► Zona de Sacavém (final do lanço da auto-estrada A1): foram colocadas forças do exército: Policia Militar e Regimento de Cavalaria n.º 7 (Ajuda), Batalhão de Caçadores n.º 5 (Campolide), Regimento de Infantaria n.º 1 (Amadora), Regimento de Artilharia Ligeira n.º 1 (Moscavide) e Escola Prática do Serviço de Material (Sacavém).
► Força da Policia de Segurança Pública e Guarda Nacional Republicana (Infantaria e Esquadrão de Reconhecimento), além de elementos, à civil, da Direcção Geral de Segurança (Pide) e da Legião Portuguesa. [JM]

● Como no Relatório consultado não tem hora de saída, regista-se à hora referida para o arranque de todas as unidades, à ordem do Quartel-General da Região Militar de Lisboa: O Comandante da Escola Prática de Administração Militar Coronel do SAM Francisco Aníbal das Caldas Fidalgo, mandou marchar uma companhia com o objectivo de ocupar a Ponte de Frielas, e deter a Unidade proveniente das Caldas da Rainha, caso esta por ali progredisse. Esta Companhia foi comandada pelo Capitão do SAM Teófilo da Silva Bento, o qual antes de marchar, para o lugar indicado, combinou com o Capitão do SAM Carlos Joaquim Gaspar, que no caso da Unidade proveniente das Caldas da Rainha viesse a circular por aquele eixo de aproximação, estas forças juntar-se-lhe-iam. [AdM]

● O Relatório, do Batalhão de Caçadores n.º 5, não tem “Fita do Tempo”, mas deve ter avançado à hora das outras unidades. O comandante interino mandou avançar a Companhia do Batalhão de Caçadores n.º 5, sob o Comando do Capitão Beatriz mas o Major Vinhas iria acompanhar esta força, a pedido do mesmo. Como não sabiam a posição desse major sobre o Movimento das Forças Armadas, poderia vir a não permitir a adesão à força sublevada, caso se confirmasse uma movimentação mais generalizada. No entanto manter-se-ia em comunicação rádio, com o quartel, onde outros oficiais aguardariam. [BC5]

06:15
● O Comandante do Regimento de Infantaria n.º 5 informa que o Oficial de Transmissões da Escola Prática de Cavalaria quis contactar com o Oficial de Transmissões do Regimento de Infantaria n.º 5 mas não conseguiu. Mais informou mais que continuava preso no gabinete com o 2º Comandante, Major Vages e Tenente Lourenço, Oficial de Segurança. [RMT]

● De Leiria sai a Companhia de Caçadores do Regimento de Infantaria n.º 7, na direcção a Caldas da Rainha, com a missão de cercar o Regimento de Infantaria n.º 5 não permitindo que, seja quem for, entre ou saia do Quartel. [RI7a]

06:20
● Foi recebida, no Posto da GNR de Caldas da Rainha, a comunicação da vinda para esta cidade de uma Companhia do Regimento de Infantaria n.º 7. Foi determinado que fosse fornecida uma patrulha para conduzi-la, o mais perto possível, da Unidade sublevada. [PCR]

06:25
● Que os Majores Monroy e Serrano quiseram entrar no quartel, mas não deixaram e que só podiam entrar às 07:30. Um dos Capitães, dos que ficou no aquartelamento, disse que tinha sido enviado mensagem para a coluna regressar mas até agora tal não aconteceu. [RMT]

06:30
● O Ministro (do Exército?), contactou o Quartel-General da Região Militar de Tomar, dizendo que a GNR o informara não haver movimentações militares para Sul, e queria saber o que, de facto, se passava. [RMT]

● O Comandante da Região Militar de Tomar propõe, ao Chefe do Estado-Maior do Exército que, o Brigadeiro Serrano com o apoio de Esquadrão de Reconhecimento da Escola Prática de Cavalaria, fosse fazer um reconhecimento junto do quartel do Regimento de Infantaria n.º 5, para avaliar a situação. [RMT]

● Do Posto da GNR de Caldas da Rainha sai uma patrulha com destino à EN 8, para contactar a coluna que saiu de Leiria, para a conduzir ao objectivo. [PCR]

06:35
● O relatório do Quartel-General da Região Militar de Tomar refere que, o Capitão Batista da Silva da GNR de Santarém recebeu informação do Comandante do Batalhão n.º 1 da GNR, que recebeu noticias doutra fonte, que tinham passado na Ota, pelas 06H05, várias viaturas militares, em direcção a Sul. [RMT]

● O Batalhão n.º 2 da GNR, refere a saída da Escola Prática de Infantaria, de uma viatura Unimog, com pessoal armado e equipado. [B2g]

06:50
● No Relatório, a Região Militar de Tomar reporta que, o General Pinto Bessa, Director da Arma de Cavalaria, telefonou para aquele Quartel-General, dizendo que no Regimento de Cavalaria n.º 8 (Castelo Branco), foi recebido um telefonema de alguém que se intitulou ser da ANI (Agência Nacional de Informação), para saber o que se estava a passar, uma vez que, as agências estrangeiras, estavam dando notícias alarmantes. Foi aconselhado a contactar a Repartição do Gabinete do Ministro do Exército. [RMT]

● O Comandante-Geral da GNR indica que, a coluna sublevada, se encontra parada a 3 quilómetros da Portagem de Sacavém. Por outro lado, uma viatura militar foi avistada a circular no sentido do Cacém para Sintra. [CGg]

07:00
● O Quartel-General da Região Militar de Tomar reporta que a Companhia de Caçadores do Regimento de Infantaria n.º 7, já se encontra a caminho do objectivo. [RMT]

07:10
● No Posto da GNR de Caldas da Rainha, foi recebida e transmitida ao Chefe do Estado-Maior da GNR a informação de que, na parada do Comando do Regimento de Infantaria n.º 5, se encontravam cerca de 40 a 50 homens armados. Seguidamente foi indicado, ao soldado 139, que se deslocasse para junto da patrulha de intercepção à coluna do Regimento de Infantaria n.º 7, para informar o seu Comandante da situação no Regimento de Infantaria n.º 5. [PCR]

07:15
● Junto ao rio Trancão, os Majores Luís Casanova Ferreira e Manuel Soares Monge, que se deslocavam para as Caldas da Rainha, avisaram que a coluna tinha de regressar à base, por ser a única unidade que tinha saído, e que se encontrava um dispositivo militar preparado, para a defrontar, à entrada de Lisboa. [JM]

07:15
● Em Lisboa, dois pelotões do Batalhão n.º 1 da GNR (Santa Bárbara) seguem pela Avenida do Brasil, para Encarnação, enquanto um pelotão do 2.º Esquadrão de Reconhecimento da GNR (Cabeço de Bola) se desloca para o mesmo local, pela Avenida Gago Coutinho para Encarnação. [CGg]

● O Batalhão n.º 2 da GNR reporta que, dois jeeps da Escola Prática de Infantaria, foram localizados na estrada que liga a localidade de Paz a Torres Vedras. [B2g]

07:20
● O Comando-Geral da GNR, reporta que foi efectuado o levantamento do cerco à Academia Militar. [CGg]

● O Batalhão n.º 2 da GNR recebe a informação, da Companhia da GNR de Leiria, de ter saído uma coluna auto do Regimento de Infantaria n.º 7, sob o comando de um oficial superior, com destino a Caldas da Rainha. [B2g]

07:30
● O Comandante do Regimento de Infantaria n.º 7, contacta telefonicamente o Comandante Militar de Leiria e o Comandante do Regimento de Artilharia Ligeira n.º 4, para os inteirar da situação e do empenhamento da Companhia de Caçadores do Regimento de Infantaria n.º 7. Constatou que nada sabiam deste facto. [RI7]

07:40
● O Posto da GNR de Óbidos informou o Posto da GNR de Caldas da Rainha que, uma praça do Regimento de Infantaria n.º 5, tinha dito à praça da GNR que se encontrava de vigilância à EN 8 que, ao pretender entrar na sua Unidade, pouco tempo antes, foi informado por uma sentinela à Porta de Armas que ali a situação era muito má, pois já tinham sido presos o Comandante e o 2.º Comandante e que a Companhia de Caçadores saíra às 01:30. Esta informação foi transmitida ao Chefe do Estado-Maior da GNR. [PCR]

● O Batalhão n.º 2 da GNR reporta que, num dos jeeps, mencionados em 07:15 da Escola Prática de Infantaria, transportava o Coronel Freitas, seguindo na direcção de Ramalhal. [B2g]

07:45
● O Comando-Geral da GNR reporta a passagem, em Alcobaça, da coluna auto do Regimento de Infantaria n.º 7. [CGg]

● O Batalhão n.º 2 da GNR reporta que, a patrulha de vigilância do Posto da GNR de Alcobaça, informou a passagem do Regimento de Infantaria n.º 7 com seis viaturas, seguindo um Capitão na primeira e um Furriel na segunda, levando um morteiro e pessoal com espingardas automáticas G3. Informa que forças da Região Militar de Lisboa, seguiram pela Auto-Estrada do Norte. [B2g]

07:50
● O Quartel-General da Região Militar de Tomar recebeu ordem, do Ministro (do Exército?), para neutralizar a coluna do Regimento de Infantaria n.º 5 sublevada. A coluna chegou à portagem e retrocedeu. [RMT]

● O Comando-Geral da GNR reporta que a Companhia do Batalhão n.º 1 da GNR chegou à portagem e informou não ter encontrado a força IN (inimiga). No mesmo relato informa, também que, o pelotão do 2.º Esquadrão de Reconhecimento da GNR, contactou com forças amigas. [CGg]

07:55
● O Comandante do Quartel-General da Região Militar de Tomar recebeu a informação, pelo Ministro do Exercito, do recuo da coluna sublevada dos oficiais das Caldas da Rainha. [RMT]

● O Quartel-General da Região Militar de Tomar dá instruções ao Comandante do Regimento de Infantaria n.º 15 (Tomar), para aprontar a sua Companhia de Caçadores, e aguardar ordens. [RMT]
A coluna do RI 5 em movimento
Foto: Com a devida vénia ao DN

08:00
● O Comandante do Regimento de Infantaria n.º 7 é contactado pelo Tenente-Coronel Piloto Aviador Velhinho, 2.º Comandante da Base Aérea 5 (Monte Real), que procurava inteirar-se do que se passava. Foi sugerido que se deslocasse para a sua unidade e contactasse a Secretaria de Estado da Aeronáutica. [RI7]

● O Comandante da Região Militar de Tomar dá ordem, à Escola Prática de Cavalaria, para fazer sair o Esquadrão Auto e o Pelotão de Reconhecimento, para Rio Maior e, aí, aguardar a chegada do 2.º Comandante da Região Militar de Tomar, Brigadeiro Serrano. [RMT]

08:05
● O Comandante da Região Militar de Tomar dá instruções ao Comandante de Regimento de Cavalaria n.º 4 (Santa Margarida) para colocar em estado de prontidão um Esquadrão Auto e um Pelotão de Reconhecimento. [RMT]

● O Comando-Geral da GNR confirma a marcha de forças de Tomar em direcção a Rio Maior. Por outro lado, informa que foi localizada a viatura MG-63-23, da Região Militar de Lisboa, com pessoal armado, é localizada em Tercena deslocando-se de Sintra para Cacém. [CGg] Seria o regresso da mesma viatura referida pelo Comando-Geral da GNR às 06:50? [JM]

08:15
● A “Fita do Tempo”, anexa ao Relatório do Regimento de Infantaria n.º 7, reporta a chegada da Companhia de Caçadores à Tornada, a 5 quilómetros de Caldas da Rainha. Reunião do oficial superior que acompanha a força, com os oficiais, para decidir a atitude a tomar e para ser confirmada ao Comandante de Companhia a missão que lhes foi atribuída. Tentativa de contacto rádio com o Regimento de Infantaria n.º 7, que resultou infrutífera. [RI7a]

● O relatório do Comando-Geral da GNR, reporta a passagem de uma viatura no sentido Lisboa para Vila Franca de Xira, transportando o Oficial da Marinha (Vicente Manuel de Moura Coutinho de) Almeida d'Eça, Comandante do Grupo N.º 1 de Escolas da Armada. [CGg]

08:20
● A Companhia de Caçadores do Regimento de Infantaria n.º 7 contacta, em Tornada, com dois militares do Posto da GNR de Caldas da Rainha, que informaram que uma Companhia de Caçadores do Regimento de Infantaria n.º 5 tinha saído em direcção a Lisboa, auto transportada cerca das 01:30. Dentro do Quartel tudo se mantinha calmo, parecendo que os postos de defesa eram os normais. O Major Guimarães resolveu enviar o Aspirante Seca, vestido com um fato de macaco civil, que lhe foi fornecido por um dos guardas que trajava também civilmente, para fazer o reconhecimento do Quartel do Regimento de Infantaria n.º 5, aproveitando o disfarce. [RI7a]

● O Quartel-General de Tomar, reporta a saída das forças Escola Prática de Cavalaria, para Rio Maior. [RMT]

● O Comandante da GNR de Caldas da Rainha informado da chegada, a Tornada, da coluna do Regimento de Infantaria n.º 7, transmite superiormente essa informação. [PCR]

08:30
● O relatório do Quartel-General da GNR reporta que a coluna do Regimento de Infantaria n.º 5, quando já tinha invertido a marcha, foi interceptada em Vila Franca de Xira por um efectivo da GNR, comandado por um tenente que, ao dirigir-se ao comandante que exibia galões de Major, este lhe disse "tenho uma missão a cumprir e do Norte vem uma unidade de cavalaria com o General Spínola". De uma das viaturas foi feito um disparo, que pareceu inopinado e sem consequências. [CGg]

● Foi reportado no relatório do Regimento de Infantaria n.º 7 que, o Capitão Garcia, do Regimento de Infantaria n.º 5, telefonou para o Oficial de Dia procurando saber se os Capitães do Regimento estavam revoltados, e o que estava ou iria fazer a coluna auto que tinha saído daquela unidade. Nada foi respondido pelo Oficial de Dia, que só informou o seu comandante, posteriormente. [RI7] 

● O Quartel-General da Região Militar de Tomar, reporta a saída do 2.º Comandante, o Brigadeiro Pedro Serrano, o Tenente Couto (Oficial de Transmissões) e o Alferes Martinho (Ajudante de Campo do 2.º Comandante da RMT), em direcção a Rio Maior. Que, por sua solicitação, foram cortadas, ao Regimento de Infantaria n.º 5, as comunicações telefónicas. [RMT] 

● A Escola Prática de Cavalaria, informa a saída da sua força, em direcção a Rio Maior, de acordo com as ordens recebidas. [EPC] 08:35

● O Batalhão n.º 2 da GNR refere que o Comandante do Forte de Peniche informou ter tomado todas as disposições aconselháveis e que naquele estabelecimento, tudo ali decorria normalmente. [B2g] 08:40

● A Companhia do Batalhão n.º 1 da GNR reporta que se encontra parada, em Alverca, com uma viatura avariada. [CGg] 

08:45
● No Comando do Regimento de Infantaria n.º 7, é recebido um telefonema, do Tenente-Coronel Velhinho, informando que a Base Aérea n.º 5 se encontra sem comunicações, pelo que não conseguia contactar a Secretaria de Estado da Aeronáutica, sendo esta informação passada para o Quartel-General da Região Militar de Tomar para, desta situação, ser dado conhecimento a Lisboa. [RI7] 

● O Comandante do Posto da GNR de Caldas da Rainha, informa que ainda não chegou a coluna militar vinda de Leiria. [CGg] 

● O Batalhão n.º 2 da GNR, refere que o Coronel Freitas passou novamente em Torres Vedras, regressando à Escola Prática de Infantaria, comunicando o levantamento do "Destacamento de Cadetes do Curso de Oficiais Milicianos" instalado numa quinta em Pai-Correia, Ramalhal, e que, devido a carência de viaturas o retorno se processaria por fases e a partir das 10H30. Mais solicitou que o informassem de quaisquer outros movimentos de tropas, naquela área, que se não relacionassem com aquela Escola. [B2g] 

08:55
● O Comando-Geral da GNR reporta que o “IN”, coluna sublevada, passou por Alenquer, em direcção à localidade da Ota. [CGg]

09:00
 
● O Comandante da Região Militar de Tomar informa o Comandante do Regimento de Infantaria n.º 7, que a coluna do Regimento de Infantaria n.º 5, que saíra em direcção a Lisboa, retrocedia para Caldas da Rainha seguida, à distância, por uma força da GNR. O Comandante do Regimento de Infantaria n.º 7, já informado pelo Oficial de Dia do telefonema recebido do quartel do Regimento de Infantaria n.º 5, sugere o corte das comunicações telefónicas do Regimento sublevado, para evitar a recolha de notícias ou acções de aliciamento do tipo da verificada minutos antes. [RI7] 

● O Batalhão n.º 2 da GNR, refere que das entidades que se reuniram no Comando da 1.ª Região Aérea, em Monsanto/Lisboa, se retirou o Presidente do Concelho. Pouco tempo depois, chegaria o Ministro do Exército. [B2g] 

09:10
● O Comando da Região Militar de Tomar reporta que, da coluna da Escola Prática de Cavalaria, confirmam que a coluna do Regimento de Infantaria n.º 5, passou em Alenquer. [RMT] 

09:15
● Apresentou-se, ao Major Guimarães do Regimento de Infantaria n.º 7, o Tenente José Augusto Pascoal Pires, Comandante da GNR de Caldas da Rainha, que se colocou à disposição deste Oficial, para o que fosse necessário. Informado da missão da Companhia de Caçadores do Regimento de Infantaria n.º 7, disse que esta missão, no que diz respeito à vigilância da Porta de Armas, seria muito difícil de cumprir, dado o domínio de toda a estrada de Lisboa - Caldas, por parte do pessoal do Regimento de Infantaria n.º 5, que facilmente bateria com os seus fogos as imediações da referida Porta de Armas. Em face da inoperância do posto de rádio foi solicitado, ao Comandante da GNR de Caldas da Rainha, que fosse permitido utilizar o seu gabinete e os seus telefones para contactos com o exterior. Imediatamente foi acedido o pedido, seguindo no seu próprio carro para Caldas da Rainha, sendo dando ordem à Companhia de Caçadores do Regimento de Infantaria n.º 7 para iniciar a montagem do cerco pelo lado Sul e Oeste do Quartel. Entretanto tinha regressado do seu reconhecimento o Aspirante Seca que confirmou as informações dadas pela GNR, quanto ao estado do pessoal dentro do Quartel. [RI7a] 

● O Comando-Geral da GNR refere que IN, coluna sublevada, se encontra a 8 quilómetros de Espinheira, na bifurcação para Caldas da Rainha, a 36 Quilómetros. A 3 Quilómetros a Sul de Vila Franca de Xira, está abandonada uma viatura do Regimento de Infantaria n.º 5, com dois pneus furados. [CGg] 

09:20
● O Comandante, da Região Militar de Tomar, mantém a missão inicial da Companhia de Caçadores do Regimento de Infantaria n.º 7, ordena, no entretanto, que esta adoptasse as disposições convenientes face ao regresso ao quartel da coluna revoltada. Informou o Comandante do Regimento de Infantaria n.º 7, de que o Brigadeiro Pedro Serrano, 2.º Comandante da Quartel-General da Região Militar de Tomar, marchava para as Caldas da Rainha com as forças da Escola Prática de Cavalaria (EPC - Santarém), para dirigir localmente a acção. [RI7] 

● Por determinação do Chefe do Estado-Maior da GNR, o Comandante da GNR de Caldas da Rainha contactou com o Comandante da coluna Regimento de Infantaria n.º 7, Major Guimarães, e informou-o da situação no local. O Major acompanhou o Tenente Pires para, via telefone, entrar em contacto com a sua Unidade. Esta informação foi transmitida ao Chefe do Estado-Maior da GNR. [PCR] 

09:25
● O Comando-Geral da GNR regista que, o Comandante da GNR Caldas da Rainha informou que a chegada da coluna do Regimento de Infantaria n.º 7, foi às 09:10, e que o Major Guimarães, solicitou a utilização do telefone do posto, para contactar o seu comandante em Leiria. [CGg] 

09:30
● O Relatório, do Comandante do Regimento de Infantaria n.º 7, reporta que conseguiu contacto telefónico com o Major Guimarães que, depois de dar ordens para montagem do cerco ao quartel do Regimento de Infantaria n.º 5, instalou o seu Posto de Comando Avançado/RI 7 no edifício do Posto da GNR, onde dispunha de comunicações rápidas com o Comando do Regimento de Infantaria n.º 7 e onde podia colher notícias, não só deste posto, como da Direcção Geral de Segurança e da Legião Portuguesa. O Comando do Regimento de Infantaria n.º 7 concorda com a decisão de utilizar o Posto da GNR como Posto de Comando Avançado/RI 7 e informa que não deve abandonar esse local, pois teria de receber ordens enquanto não chegasse, às Caldas da Rainha, o Brigadeiro Pedro Serrano, 2.º Comandante do Quartel-General da Região Militar de Tomar que iria tomar o comando local de todas as forças. [RI7] 

● Com o Posto de Comando Avançado/RI 7, instalado no Posto da GNR de Caldas da Rainha, e estabelecido contacto com o Comandante do Regimento de Infantaria n.º 7, confirmando a saída das tropas do Regimento de Infantaria n.º 5, em direcção a Lisboa, cerca das 01h30 e informando-o que era muito difícil à Companhia de Caçadores do Regimento de Infantaria n.º 7 estabelecer a barragem na entrada principal do quartel. O Comandante do Regimento de Infantaria n.º 7 mandou aguardar. [RI7a] 

● O Chefe do Estado-Maior da GNR informa o Comandante da GNR de Caldas da Rainha, de que a coluna sublevada tinha voltado para trás e que se devia encontrar a cerca de 26 quilómetros da cidade. Esta informação foi divulgada ao Major Guimarães e Comandante PSP da Caldas da Rainha. [PCR] 

● O Comando-Geral da GNR reporta que, na zona Oeste foi detectada uma coluna de viaturas militares, passando em frente ao Posto da GNR da Malveira, em direcção a Loures. [CGg] 

● Entretanto chegou às instalações da 1.ª Região Aérea o Ministro do Exército. O Posto da GNR da Malveira informou da passagem, naquela localidade, de uma coluna militar composta de 6 viaturas pesadas e 2 jeeps, transportando pessoal armado sob o comando de um oficial superior. O Comandante da GNR das Caldas da Rainha, comunicou ter contactado, localmente, com Major Guimarães, comandante da coluna do Regimento de Infantaria n.º 7. [B2g] 

09:40
● O Comandante da Região Militar de Tomar ordenou que, a Companhia de Caçadores do Regimento de Infantaria n.º 7, barrasse a entrada no quartel das forças revoltosas que regressavam às Caldas da Rainha, ordem esta transmitida ao Major Guimarães. O Comandante do Regimento de Infantaria n.º 7 reporta que, dada a dificuldade de obter contacto telefónico com o Posto de Comando Avançado/RI 7 falou com um seu antigo colega de Liceu, e agora responsável pelo serviço telefónico nos Correios, Telegrafo e Telefones, de Leiria, que conseguiu prioridade para a transmissão desta ordem. [RI7] 

● A Companhia de Caçadores, do Regimento de Infantaria n.º 7, já chegou a Caldas da Rainha. Verifica que o efectivo é insuficiente para cercar o quartel do Regimento de Infantaria n.º 5. Foi-lhe ordenado que devia concentrar a sua atenção à fachada e entrada principal e a parte Sul, para impedir a coluna de entrar. [RMT] 

● O General Paiva Brandão comunica ter sido nomeado Comandante-Geral da Segurança Interna (CGSI), substituindo o General Costa Gomes, exonerado do cargo no dia 14, transacto. O Comandante Brigada de Transito da GNR informa que a coluna, do Regimento de Infantaria n.º 5, foi sobrevoada por um avião militar. [CGg] 09:45

● A ordem para a Companhia de Caçadores, do Regimento de Infantaria n.º 7, era que vigiasse as saídas e entradas do Regimento de Infantaria n.º 5, onde já se encontrava, mantendo a vigilância da estrada principal. No entanto devia cortar a estrada evitando, a todo o custo, a possibilidade da coluna sublevada entrar no Quartel. Esta ordem foi imediatamente transmitida ao Capitão Crespo. Foi informada a chegada do Brigadeiro Pedro Serrano, 2.º Comandante da Região Militar de Tomar. [RI7a] 

● O Quartel-General da Região Militar de Tomar, informa a saída da Companhia de Caçadores, do Regimento de Infantaria n.º 15, em direcção a Caldas da Rainha. [RMT] 

● O Comando-Geral da GNR recebe informação do Comandante do Batalhão n.º 4 da GNR, aquartelado no Porto, de que a situação é normal em toda a cidade. [CGg] 

09:50
● O Batalhão n.º 2 da GNR informa que passou, no lugar de Palhoça, a coluna rebelde com 12 viaturas pesadas e um Jeep, seguindo na direcção de Caldas da Rainha, tendo este movimento sido comunicado ao Major Guimarães do Regimento de Infantaria n.º 7. Pousou, nas instalações da 1.ª Região Aérea em Monsanto/Lisboa, um helicóptero, que ali estacionou. Ali continuaram reunidas as entidades anteriormente reportadas. [B2g] 

09:56
● O Comando-Geral da GNR reporta que, de acordo com informação dada pelo Comandante Batalhão n.º 2 da GNR que, às 09:50, 12 viaturas pesadas e um jeep passaram em Palhoças (Cercal), em direcção a Caldas da Rainha. [CGg]

10:00
● No Posto de Comando Avançado/RI 7, apresentou-se um senhor que disse ser Comandante de Lança do Quartel-General da Legião Portuguesa que, depois de identificado e em virtude do seu oferecimento, e com a possibilidade de, facilmente poder circular em qualquer parte visto se encontrar à paisana, foi-lhe solicitado que fosse informando o que se passava na zona em que se encontra o quartel militar. [RI7a] 

● A Escola Prática de Cavalaria reporta a sua chegada a Rio Maior e que, devido ao mau funcionamento de viaturas, a deslocação levou mais tempo. [EPC] 

● Pelo Comandante/GNR de Caldas da Rainha, foi recebida e transmitida ao Chefe do Estado-Maior da GNR, a informação de que a coluna sublevada regressou à sua Unidade, tendo, à sua entrada, sido ouvidas 2 ou 3 detonações. A PSP, no local, confirma a entrada de 6 ou 7 viaturas, incluindo uma cozinha rodada. [PCR] 

● O Comandante do Batalhão n.º 1/GNR, informa que a sua companhia passou em Alenquer, às 09:50. O Ministro do Exército é informado da situação. O Comandante da Brigada de Transito/GNR informa que, 15 a 20 viaturas da Escola Prática de Cavalaria (EPC - Santarém) passaram em direcção a Rio Maior. [CGg] 

10:10 ●
Saiu, do Regimento de Infantaria n.º 7, uma viatura pesada transportando rações de combate para a Companhia de Caçadores do Regimento de Infantaria n.º 7, comandada pelo Tenente Lapão, Chefe da Contabilidade do Conselho Administrativo do Regimento, oficial muito desembaraçado, escolhido para este transporte, que poderia vir a ter problemas, dada a fluidez da situação. [RI7] 

● Em telefonema para o Quartel-General da Região Militar de Tomar, o Ministro (do Exército?), dá nota de que a unidade rebelde tem de ser neutralizada e, que se não chegam as forças no terreno, avançará a Aviação. [RMT] 

10:12
● O Quartel-General da Região Militar de Tomar reporta que, as forças da Escola Prática de Cavalaria chegaram, às 10:00, ao ponto de encontro em Rio Maior. [RMT] 

10:15
● Ao oficial da Legião Portuguesa, que se apresentou no Posto de Comando Avançado/RI 7, foi solicitado que tentasse obter informações, pela estrada Caldas da Rainha - Lisboa, informando em primeiro lugar o Capitão Crespo, e depois o Posto de Comando Avançado/RI 7. Este informador foi portador de salvo-conduto, para ser presente ao Capitão Crespo, para que não houvesse dúvida quanto à sua identidade. [RI7a] 

● O Quartel-General da Região Militar de Tomar pediu, ao Comandante da Força da Escola Prática de Cavalaria que informe Brigadeiro Serrano da nova missão da Companhia de Caçadores do Regimento de Infantaria n.º 7, que era a de barrar a entrada da coluna do Regimento de Infantaria n.º 5. A Coluna da Escola Prática de Cavalaria deveria seguir pela Estrada Velha. [RMT] 

● O Comandante da Brigada de Trânsito da GNR comunica, ao Comandante-Geral da GNR que, a coluna da Escola Prática de Cavalaria é constituída por 4 jeeps, 6 a 7 viaturas pesadas abertas e 5 a 6 auto metralhadoras. Pessoal está armado e equipado. [CGg] 

10:17
● O Comandante do Batalhão n.º 2 da GNR informa o seu Comando-Geral que, a coluna militar da Escola Prática de Infantaria (EPI – Mafra) chegou a Venda do Pinheiro e tomou a direcção Bucelas/Loures. [CGg] 

10:20
● O Comando-Geral da GNR pergunta ao Comandante-Geral da Segurança Interna (CGSI), quem comanda o dispositivo na Encarnação. Este informa que o dispositivo é da competência da Quartel-General da Região Militar de Lisboa (QG da RML). [CGg] 

10:22
● O Comando-Geral da GNR pergunta, ao Quartel-General da Região Militar de Lisboa, se mantêm as forças e o dispositivo na Rotunda da Encarnação. Informam que a força do Batalhão de Caçadores n.º 5 (BC 5) já retiraram e mantêm-se as forças do Regimento de Artilharia Ligeira n.º 1 (RAL 1). [CGg] 

10:25
● O Comandante da Região Militar de Tomar transmite ordem, ao Comandante do Regimento de Cavalaria n.º 4 (Castelo Branco), para fazer seguir para Leiria, onde aguardará novas ordens, o Esquadrão Auto mandado aprontar. [RMT] 

● O Chefe do Estado-Maior da GNR informa Comandante do Regimento de Cavalaria da GNR, que deve mandar recolher as forças que tem na Encarnação, devendo Comandante do Pelotão informar o Coronel Frazão. De seguida, às 10:27, ordem idêntica é transmitida ao Comandante do Batalhão n.º 1 da GNR. [CGg] 

10:29
● O Comandante da Brigada de Trânsito da GNR informa estar um Brigadeiro a falar com o Comandante da coluna da Escola Prática de Cavalaria, em Rio Maior. O Chefe do Estado-Maior da GNR dá instruções para que a patrulha da GNR, da Espinheira, entre em contacto com a Companhia do Batalhão n.º 1 da GNR, e informe o Comando-Geral da GNR da sua posição. [CGg] 

10:30
● O Comandante da GNR de Caldas da Rainha informa o Chefe do Estado-Maior da GNR de que tinha sido avistada uma avioneta - tipo Dornier - que sobrevoou o quartel e a cidade. [PCR] 

● O Batalhão n.º 2 da GNR informa que começaram a abandonar as instalações da 1.ª Região Aérea, em Monsanto/Lisboa, as entidades que ali se tinham recolhido, permanecendo o Secretário de Estado da Aeronáutica. [B2g] 

10:35
● O Comandante da GNR de Caldas da Rainha informa o Comando-Geral da GNR que entraram no quartel do Regimento de Infantaria n.º 5, seis viaturas com uma cozinha rodada. Foi-lhe pedido para averiguar a origem das viaturas. Pelas 10:43, informa que as viaturas são as da coluna que saiu daquele quartel. Mais informa que a força vinda de Leiria, já se encontra junto ao quartel militar da cidade. [CGg] 

10:45
● O Major Guimarães, do Posto de Comando Avançado/RI 7, no Posto da GNR local, informa que a coluna revoltada, aproveitando a remodelação em curso do dispositivo da Companhia de Caçadores do Regimento de Infantaria n.º 7, conseguira entrar no quartel. [RI7] 

● O Comandante da GNR de Caldas da Rainha, recebeu informações de um observador, colocado nas imediações do Quartel, que tinha entrado naquele momento um jeep e 6 a 7 viaturas, incluindo uma cozinha rodada, da Companhia que tinha saído de madrugada do Quartel. [RI7a] 

● O Quartel-General da Região Militar de Tomar dá instruções ao Comandante do Regimento de Infantaria n.º 2 (Abrantes), para mandar aprontar a sua Companhia de Caçadores, ficando a aguardar instruções. De seguida é solicitado, telefonicamente, ao Presidente da Câmara Municipal de Caldas da Rainha, o corte de água e electricidade, ao quartel do Regimento de Infantaria n.º 5. Foi recebido no Quartel-General da Região Militar de Tomar um telefonema do Alferes Martinho, que o Brigadeiro Pedro Serrano já tinha seguido. [RMT] 

10:48
● O Comando-Geral da GNR informa o Ministério do Interior de que o Comandante da 1.ª Região Aérea, lhe comunicou terem sido retirados das instalações de Monsanto/Lisboa, as entidades ali recolhidas. [CGg] 

10:50
● O Comando-Geral da GNR reporta que a coluna da Escola Prática de Cavalaria saiu de Rio Maior, dirigindo-se para Caldas da Rainha. E, de seguida, informa o Comando-Geral de Segurança Interna (CGSI)), de que já entraram no quartel, 5 a 6 viaturas da coluna sublevada. [CGg] 

10:53
● O Comandante Batalhão 3 da GNR, instalado em Évora, é informado da situação pelo Chefe do Estado-Maior da GNR. [CGg] 

10:54
● O Comandante do Batalhão n.º 2 da GNR informa que, às 10:30, aterrou um helicóptero em Monsanto/Lisboa para recolha das entidades. [CGg] 

10:55
● Um informador da GNR, telefonicamente, diz que a Companhia de Caçadores do Regimento de Infantaria n.º 7 está instalada fazendo barragem na estrada Lisboa - Caldas e que esta instalação ficou pronta cerca das 10h45. [RI7a] 

10:58
● O Comando-Geral da GNR reporta que a Companhia Batalhão n.º 1 da GNR está a 8 km da Espinheira, na bifurcação para Caldas da Rainha. [CGg]

11:00
● Apresentou-se um Chefe de Brigada da DGS, que ficou à disposição do Posto de Comando Avançado/RI 7, como informador. Contactado, telefonicamente, o Subdirector da DGS em Lisboa, pediu para ser informado sobre o desenrolar dos acontecimentos. [RI7a] 

● O Major que acompanha a Companhia de Caçadores do Regimento de Infantaria n.º 15, veio ao Quartel-General buscar o megafone. Marcou o ponto de encontro em Paialvo. Veio a notícia de que o Major não encontrou a Companhia de Caçadores do Regimento de Infantaria n.º 15. Actuou-se para saber o seu paradeiro nos itinerários. [RMT] 

11:05
● Contactado, telefonicamente, o 2.º Comandante da Legião Portuguesa, em Lisboa, deu todo o apoio do seu elemento, que se encontrava junto do Posto de Comando Avançado/RI 7. [RI7a] 

11:09
● Comando-Geral da GNR pergunta ao Comandante da Região Aérea se, a Companhia da GNR pode regressar de Monsanto/Lisboa. A Secretaria de Estado da Aeronáutica informa que é de manter, enquanto durar situação de prevenção rigorosa. [CGg] 

11:10
● Um dos observadores da GNR informou que a coluna, da Companhia de Caçadores do Regimento de Infantaria n.º 5, é constituída por um jeep e 11 viaturas pesadas, o que nunca foi confirmado. Foram confirmados, sim, 1 jeep e 5 a 6 viaturas. [RI7a] 

● Telefonou o Presidente da Câmara de Caldas da Rainha dizendo que dera ordem para cortar a água e luz ao quartel do Regimento de Infantaria n.º 5. Ficou de confirmar quando fosse efectuada. [RMT] 

11:11
● O Comandante Batalhão n.º 2 da GNR informa que o Comandante da Força, do Regimento de Infantaria n.º 7, pede à GNR que corte o trânsito junto ao quartel Regimento de Infantaria n.º 5. [CGg] 

11:15
● O Quartel-General, da Região Militar de Tomar, deu instruções à Sucursal da Manutenção Militar, para ir buscar o pão à estação dos Caminhos de Ferro da Caldas da Rainha, destinado ao Regimento de Infantaria n.º 5, e que cancelasse o fornecimento de pão para a 2.ª feira seguinte. [RMT] 

11:17
● Comunicado, do Quartel-General da Região Militar de Tomar, ao Quartel-General de Coimbra, para suspender a ida do Director do Hospital Militar Regional n.º 3, para o teatro de operações. [RMT] 

11:18
● Em telefonema ao Quartel-General, da Região Militar de Tomar, o Presidente da Câmara de Caldas da Rainha, a perguntar se o corte da água e luz era ao Quartel do Regimento de Infantaria n.º 5, ou na cidade toda. Foi comunicado que era só ao quartel. [RMT] 

11:20
● O Comandante da GNR de Caldas da Rainha informou o Chefe do Estado-Maior da GNR de que foi ouvida uma detonação, quando a avioneta acima referida sobrevoava o quartel. [PCR] 

11:24
● O Major, da Sucursal da Manutenção Militar do Entroncamento, informa o Quartel-General da Região Militar de Tomar, de que as instruções sobre o fornecimento de pão ao quartel do Regimento de Infantaria n.º 5, deve ser feito directamente à Manutenção Militar de Lisboa, quer o retorno do pão já enviado quer o cancelamento de fornecimento de pão. [RMT] 

11:25
● O Quartel-General, da Região Militar de Lisboa, informa já terem entrado, no quartel do Regimento de Infantaria n.º 5, todas as viaturas da coluna revoltada, segundo informação do Comandante do Regimento. Pede confirmação da notícia. [CGg] 

11:28
● Comandante do Batalhão n.º 2 da GNR informa que se ouviram 3 tiros de dentro do quartel do Regimento de Infantaria n.º 5, quando era sobrevoado por uma DO. Posteriormente foi feito mais um tiro. [CGg] 

11:30
● O Chefe do Estado-Maior da GNR transmite, ao Quartel-General da Região Militar de Lisboa, os disparos ouvidos e as circunstancias em que se verificaram. [CGg] 

● Quando a coluna de Santarém, chegou ao entroncamento da estrada Lisboa - Porto, já se encontrava, junto do quartel, a Companhia de Caçadores do Regimento de Infantaria n.º 7, que informou que a coluna do Regimento de Infantaria n.º 5, já tinha recolhido ao Quartel, não se sabendo se tinha sido a totalidade da mesma. [EPC] 

● O Batalhão n.º 2 da GNR informa que, dentro do quartel do Regimento de Infantaria n.º 5 foram ouvidos 4 tiros, sendo os 3 primeiros na ocasião em que ali reentrou a coluna rebelde, e o último, quando a mesma unidade foi sobrevoada por uma avioneta. [B2g] 

11:35
● Um avião ligeiro não identificado sobrevoou o Quartel do Regimento de Infantaria n.º 5. Foram ouvidos dentro do Quartel 4 tiros, desconhecendo-se o motivo. Estes factos foram comunicados ao Comandante do Regimento de Infantaria n.º 7. [RI7a] 

11:40
● O Ministro (do Exército?) comunica ao Quartel-General da Região Militar de Tomar que a coluna do Regimento de Infantaria n.º 5 já tinha entrado no Quartel do Regimento de Infantaria n.º 5, e que a Companhia de Caçadores, do Regimento de Infantaria n.º 7, estava emboscada nas árvores. [RMT] 

● Um Brigadeiro contactou com uma coluna auto da Escola Prática de Cavalaria a cerca de 3 km de Caldas da Rainha. [B2g] 

11:43
● O Comandante, da Região Militar de Tomar, pede ao Posto da GNR de Caldas da Rainha, para mandar alguém contactar o Brigadeiro Serrano para poder receber algumas indicações, pelo que devia entrar em contacto com o Comandante. [RMT] 

● O Presidente da Câmara de Caldas da Rainha informa o Quartel-General da Região Militar de Tomar que a água está cortada ao Quartel, mas que estes dispõem, nos depósitos interiores, de 150 m³. [RMT] 

11:46
● O Tenente-Coronel Soares do Regimento de Infantaria n.º 15, informa, o Quartel-General da RML, que coluna seguiu integrada e comandada pelo Major Correia. [RMT] 

11:50
● A Companhia de Caçadores do Regimento de Infantaria n.º 7 informa, o Quartel-General de Tomar, que entrarem 6 viaturas e em seguida ouviram-se 4 tiros. Não se sabe das restantes viaturas. [RMT] 

● A Coluna da Escola Prática de Cavalaria toma posição a 3 quilómetros de Caldas da Rainha. O Brigadeiro Pedro Serrano e 2 Oficiais dessa coluna, dirigem-se para o quartel do Regimento de Infantaria n.º 5. A Companhia Batalhão n.º 1 da GNR está a 5 quilómetros de Caldas da Rainha. [CGg] 

● Reportado, pelo Batalhão n.º 2 da GNR, que a coluna auto referenciada às 09:30 na Malveira, foi vista a um quilómetro da Venda do Pinheiro, prosseguindo na direcção de Bucelas/Loures. [B2g] 

11:54
● Em comunicação, do Quartel-General da Região Militar de Tomar com o Presidente Câmara de Caldas da Rainha, foi pedido o corte de luz só dentro do Quartel do Regimento de Infantaria n.º 5, o qual disse ir tentar. [RMT]

(continua)

____________

Nota do editor

Post anterior de 14 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25385: Consultório Militar do José Martins (78): Dia 16 de Março de 1974 - Parte III - O dia